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O golpe da Câmara dos Deputados

O plenário da Câmara dos Deputados aprovou na noite desta quarta-feira (7) um projeto que suspende a ação penal contra o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), com brecha para tentar atingir todo o processo relativo à trama golpista de 2022 e beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A medida confronta o STF (Supremo Tribunal Federal), porque vai na contramão do entendimento de que o instrumento deve ficar restrito aos atos cometidos pelo parlamentar após sua diplomação.

Da forma como foi aprovado o relatório do deputado bolsonarista Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), o texto está abrangente e suspende a ação por completo, beneficiando outros réus, como Bolsonaro.

No plenário da Casa, o projeto teve o apoio de 315 deputados, e 143 foram contra.

O resultado representou uma derrota também ao governo Lula (PT), cujos aliados tentaram evitar a aprovação na Casa.

Há uma expectativa entre parlamentares de que o caso deve ser judicializado, e a corte dará seu parecer num entendimento mais restritivo da medida. Com isso, porém, teria o desgaste de ter de se posicionar sobre o tema mais uma vez. Há a possibilidade ainda que a própria Primeira Turma do STF delibere sobre isso na própria ação penal.

Ministros do STF ouvidos sob reserva pela reportagem confirmam que a tentativa de beneficiar outros réus não deve prosperar na corte. Segundo eles, há um entendimento majoritário de que o movimento dos parlamentares é inconstitucional.

https://www.instagram.com/reel/DJXzk9LJvdO/?utm_source=ig_web_copy_link&igsh=MzRlODBiNWFlZA==

Outro ponto levantado por esses ministros, incluindo integrante do colegiado responsável pela tramitação e julgamento do processo sobre a trama golpista do fim do governo Bolsonaro, é que a palavra sobre o tema será do presidente da Primeira Turma, Cristiano Zanin.

Em ofício enviado a Motta, Zanin afirmou que a Casa só tinha competência para sustar crimes de deputados imputados após a diplomação. Isso limitaria a sustação a dano qualificado ao patrimônio e deterioração do patrimônio tombado.

Outros três crimes -associação criminosa armada, golpe de Estado e abolição do Estado democrático de direito- pelos quais Ramagem é acusado, que teriam sido cometidos antes da diplomação, não seriam abrangidos, no entendimento de Zanin.

Câmara

STF deve decidir contra a Câmara
Uma avaliação de técnicos da Câmara é de que, apesar do entendimento do STF, ela pôde aprovar o texto da forma como estava porque a Constituição atribui a decisão da suspensão às Casas do Congresso, não à corte. Desta forma, a extensão da prerrogativa caberia aos parlamentares, segundo o ICL.

Já o entendimento na oposição é de que, tecnicamente, a suspensão só pode dizer respeito ao deputado Ramagem em si. Em outra frente, num argumento político, dizem que seria um desrespeito à corte, que começou o julgamento da ação penal neste ano, com a transformação de acusados em réus.

Deputados também se queixaram da velocidade na discussão da medida, que foi aprovada na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) nesta tarde e encaminhada à noite ao plenário. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), não acatou os pedidos para adiar a discussão no plenário.

Como mostrou a coluna Painel, da Folha de S.Paulo, antes mesmo da aprovação do relatório na CCJ, a base do governo já se preparava para contestar a aprovação do relatório no STF. Até mesmo deputados aliados de Ramagem acreditam que o entendimento da Câmara será revertido pelos ministros da corte, mas com isso jogam o desgaste para o STF.

Durante a sessão da CCJ, Ramagem criticou o STF e disse aos parlamentares que o que chamou de perseguição do Judiciário pode atingir também os políticos de esquerda.

“Não é apenas ativismo judicial exacerbado, há clara usurpação das nossas competências legislativas. (…) Estou servindo hoje de joguete casuístico do STF”, declarou. “Se fazem comigo, podem fazer isso com vocês algum dia, inclusive colegas de esquerda.”

Na avaliação de juristas ouvidos pela reportagem, caso confirmada, a suspensão de toda a ação penal poderia ser questionada pela PGR (Procuradoria-Geral da República), abrindo caminho para que o Supremo derrubasse a medida.

Outro caminho poderia ser uma contestação de um partido diretamente a Zanin, que levaria a discussão ao STF.

A CCJ começou a discutir o relatório na última quarta-feira (30), mas a votação foi adiada após um pedido de vistas (mais tempo para analisar o caso). Na ocasião, a presidência da comissão indicou concordar com a possibilidade do travamento de toda a ação.

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Vídeo: Paulo Pimenta deu a letra, do pescoço para riba é tudo canela. A esquerda tem que cair dentro e fazer o mesmo

Impecável!

Essa é a minha avaliação da atitude do trator Paulo Pimenta esmagando o tal Gilvan da Federal.

Foi um massacre a lá MMA.

O sujeito não sabe de onde veio o bonde que o atropelou,

Paulo Pimenta, sem freios, é de fato um matador dentro da área parlamentar. Tratora sem piedade os vigaristas, como tem que ser feito.

A esquerda tem que sair da zona do bom-mocismo e se inspirar em Pimenta, em Glauber e outros grandes parlamentares que vão para cima dos vigaristas do baixo clero bolsonarista.

A direita não mais existe. Só sobrou seu esgoto chamado bolsonarismo. E esgoto se trata com limpeza, com aniquilação total dos resíduos de excrementos.

Foi isso que Pimenta fez com o sujeito nessa quarta (7) na Câmara.
Curto, grosso e certeiro, abateu o sujeito sem dó nem piedade.

Pimenta fez o que tem que ser feito com aspirantes de fascistas.
Humilhou o cretino chamando-o de “covarde” na cara dele e apontando que o deputado só levanta a voz para mulheres no parlamento.

A narrativa dos posts nas redes reforça essa minha descrição de um massacre fulminante a lá MMA.

Pimenta usou sua cancha parlamentar e faca afiada para destroçar e desossar Gilvan que, por sua vez, ficou sem argumentos, mudo, trêmulo e desestabilizado.

Todo borrado!.

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A nova fake de Nikolas Ferreira tem que ser comemorada pela esquerda

Ora, Níkolas fez um vídeo que, segundo os “entendidos”, chegou há 10 bilhões de visualizações?

Poxa, mas ele, junto com Bolsonaro e Malafaia e outras traças da direita, convocou os fanáticos bolsonaristas para a manifestação desta quarta-feira, mas só compareceram 4,500 bolsoneiros?

Ué, cadê os trilhões de Bolsonaristas que viram o vídeo do Nikolas?

Não foram ao ato pela anistia de Bolsonaro no dia 7, por quê?

Fux, Ciro Gomes e outras figuraças, que apoiam Bolsonaro, não foram capazes de mobilizar nem as pulgas para engrossar aquela tripa que Bolsonaro conseguiu reunir?

A direita está num mato sem cachorro.

O segredo primitivo do bolsonarismo é a brutalidade burra.

Conclusão óbvia: a “viralização do vídeo de Nikolas Ferreira” mostra a “força da direita” nas redes via algoritmos e big techs como bacamarte espalha chumbo, mas o engajamento online não se converte em presença nas ruas. Ou seja, algorítimo não ganha jogo, não vota e não vai para as ruas defender bandido genocida.

Anabolizante digital nasce e morre digital.

Esse é o caso do vídeo do anão moral Nikolas Ferreira.

Trocando em miúdos, a desconexão entre redes e ruas pode ser explicada por fatores como a natureza volátil do engajamento digital que muitas vezes se limita a interações rápidas (curtidas, compartilhamentos), e a falta de um sentimento nacional unificado fora das bolhas virtuais.

Enquanto Nikolas se consolida como um porta-voz da direita radical, a conversão de sua influência digital em ação concreta enfrenta limites claramente estreitos, especialmente em pautas polarizantes como a anistia.

Não só isso. A estratégia de Nikolas, com tom religioso, conservador e uso de hashtags como #família e #fé, não amplifica o alcance, atraindo engajamento orgânico.

Essa é a diferença fundamental do plano do PL entre o engajamento online como fábula e a materialização pífia nas ruas.

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A manifestação chulé dos bolsonaristas por anistia foi de dar pena

Se Bolsonaro contou com manifestações massivas para se salvar da prisão, está morto.

Detalhes do evento: fracassado!

Público : Estimativas variações, mas postagens no X sugerem cerca de 4 mil participantes, significativamente menos que atos anteriores, como os 44,9 mil em Paulista (06/04/2025) ou 18,3 mil em Copacabana (16/03/2025).

Parlamentares bolsonaristas justificaram a adesão chulé como um evento para “manter a pauta em evidência”

Nem o Fux foi.

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Ofícios mostram que Exército pediu apoio logístico ao acampamento golpista desde os primeiros dias

Documentos obtidos com exclusividade pela reportagem mostram que o Comando Militar do Planalto não apenas tolerou a permanência do acampamento bolsonarista em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, como atuou ativamente para sua manutenção e organização. Os ofícios, e-mails e registros internos, todos classificados como “urgentíssimos”, registram uma sequência de pedidos do Exército à Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) e a órgãos como o DF Legal, o Serviço de Limpeza Urbana (SLU) e o DETRAN, solicitando apoio para gestão, suporte e controle do que o próprio Exército descreve como “manifestações diárias em frente ao QG”.

Esses pedidos foram feitos justamente entre os dias 3 e 4 de novembro de 2022 — período em que o acampamento golpista montado no Setor Militar Urbano ganhava força e visibilidade. Após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno (30/10), bolsonaristas inconformados com o resultado migraram dos bloqueios rodoviários — desmobilizados por decisão do STF — para concentrações em frente a quartéis. O QGEx, em Brasília, rapidamente se tornou o mais simbólico e numeroso.

Entre os dias 4 e 6 de novembro, caravanas de apoiadores chegavam de diversas regiões. Barracas, caminhões de som, banheiros químicos, distribuição de alimentos e discursos antidemocráticos passaram a compor o cotidiano da praça. Os apelos por golpe vinham disfarçados em frases como “intervenção federal com base no artigo 142”, tese já descartada por especialistas em direito constitucional. No domingo (6), milhares de pessoas se reuniram no local. O acampamento passou a funcionar com estrutura e organização que dependiam diretamente do apoio logístico solicitado pelo próprio Exército.

Ofícios mostram que Exército recorreu à Secretaria de Segurança do DF
Ofícios datados de 3 e 4 de novembro de 2022, como os de número 285 e 286, revelam que o Exército recorreu formalmente à SSP/DF com pedidos para mobilizar serviços essenciais, controlar o trânsito, fiscalizar ambulantes, prover limpeza urbana e organizar a circulação e estacionamento de caminhões utilizados pelos manifestantes. Essas solicitações, enviadas com caráter de “urgência”, foram registradas em documentos com timbre oficial e assinaturas do alto escalão militar.

O Ofício nº 286-COp/CMP, de 4 de novembro, é categórico ao autorizar a entrada de um carro de som no Setor Militar Urbano (SMU) “exclusivamente neste final de semana”. Apesar da aparente restrição temporal, o documento demonstra permissividade com as manifestações e explicita a articulação ativa do Exército com os demais órgãos do governo local. O texto indica que, diante da aglomeração de pessoas e da continuidade das manifestações, o CMP solicitava à SSP a proibição da entrada de novos trios elétricos, mas ao mesmo tempo requisitava suporte regular de diversas estruturas civis para garantir a permanência e funcionalidade do acampamento.

Entre os pedidos formais enviados pelo Comando Militar estavam:

  • Atuação da DF Legal para fiscalização de ambulantes e barracas.
  • Limpeza constante e organizada pela SLU (Serviço de Limpeza Urbana).
  • Apoio do DETRAN-DF e do BPTran para autuação e reboque de veículos.
  • Reforço de policiamento ostensivo pela PMDF.
  • Disponibilização de ambulâncias do CBMDF ou SAMU para atendimento aos manifestantes.

A documentação também registra que o Exército assumiu a coordenação da área com autoridade própria, decidindo sobre logística, ocupação e permanência de participantes. A via entre a Avenida do Exército e a Avenida Guararapes, próxima à sede da Poupex, foi oficialmente reservada para o estacionamento de caminhoneiros que apoiavam as manifestações. Em caso de ocupação total da pista, a orientação do Exército era que os órgãos de trânsito organizassem os caminhões na Via N1 ou os deslocassem para outro local “fora do SMU”. Essas decisões mostram que, na prática, o Comando Militar do Planalto operava como uma instância de regulação do espaço urbano, exercendo controle sobre infraestrutura civil mesmo sem respaldo legal para tal papel.

Um dia antes, em 3 de novembro, o Ofício nº 285-COp/CMP já indicava que o Comando do Planalto compreendia as manifestações como permanentes e sem previsão de encerramento. O documento é ainda mais direto ao solicitar que a SSP impedisse a entrada de veículos com som automotivo e reiterar a necessidade de “ações diárias” dos órgãos distritais no apoio à manutenção do protesto. Esses pedidos incluíam gestões junto ao DF Legal, à SLU, ao DETRAN e ao BPTran, reforçando que a estrutura montada pelo Exército dependia diretamente de uma cadeia de apoio operada pelos poderes civis locais.

*Cleber Lourenço/ICL

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Líderes governistas preparam dossiê ligando governo Bolsonaro a descontos fraudulentos

A oposição decidiu adiar para a próxima semana o protocolo de criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre as fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), também chamada de “CPMI do INSS”.

Enquanto isso, líderes governistas estão preparando um dossiê ligando o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro a descontos fraudados (entenda mais abaixo).

Segundo documentos levantados por técnicos de líderes governistas, o governo Bolsonaro permitiu que as associações não fizessem as validações dos descontos, deixando que essa checagem ficasse para 2023.

🔎Dessa forma, isso acabou mantendo as fraudes no sistema dos benefícios de aposentados e pensionistas.

O dossiê já tem inclusive um organograma conectando assessores do governo Bolsonaro da Secretaria de Previdência Social à criação de associações que hoje estão sob investigação da Polícia Federal.

Segundo os dados levantados, assessores tanto da Secretaria de Previdência como do INSS facilitaram a criação de entidades como a Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec), que está sendo apontada como umas das que praticavam fraudes nos descontos de contribuições.

A Ambec tinha três filiados quando fez o acordo de cooperação com o INSS em 2021. Logo depois, passa para mais de 600 mil, pulando de um faturamento de R$ 135 para R$ 30 milhões por mês. A entidade nega irregularidades, mas está na lista das investigadas pela PF.

Organograma da PF mostra suposto esquema intricado de repasses ilegais no INSS — Foto: Polícia Federal/Reprodução

Organograma
O organograma elaborado por técnicos de líderes governistas tem no centro o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, chamado de “careca do INSS”, que teria começado a atuar na intermediação entre as associações e o INSS ainda no governo Bolsonaro.

A PF apreendeu no escritório do lobista um caderno com anotações que os investigadores acreditam ser uma planilha do pagamento de propinas. A maior parte das associações criadas no período do governo anterior seria fantasma, diz Valdo Cruz, g1.

O dossiê seria usado numa eventual CPMI do INSS, mas o governo espera conseguir evitar a sua instalação retirando nomes de deputados que já assinaram o documento.

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No Brasil, informalidade recua ao menor nível desde a pandemia

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), provenientes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), revelam a consolidação da formalização do trabalho no Brasil, evidenciada pelo aumento de vagas com carteira assinada. A pesquisa aponta que a informalidade atingiu o menor índice da sua série histórica, desconsiderando os dados atípicos de 2020.

Especialistas notam que o crescimento do emprego formal superou as expectativas, levando a uma revisão das projeções de geração de vagas, mesmo com a previsão de desaceleração da economia no segundo trimestre. A taxa de desocupação ficou em 7% no trimestre encerrado em março, um aumento em relação aos 6,6% do trimestre anterior. Contudo, ajustada sazonalmente, a taxa caiu para 6,5%. Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, sublinha que a redução do desemprego tem um impacto positivo na formalização do trabalho.

Honorato observa que houve estímulos significativos do governo federal e dos governos estaduais e municipais, que impulsionaram a atividade econômica. À medida que o nível de desemprego diminui, a formalização do trabalho tende a aumentar, pois chega a uma parte da população ativa que só consegue ser empregada com ofertas melhores do que aquelas do trabalho informal.

Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram a criação de 71,5 mil empregos formais em março. Apesar do número estar abaixo das expectativas, é considerado compensatório diante dos 431 mil novos postos gerados em fevereiro. O mercado de trabalho formal apresenta um crescimento ininterrupto por 16 meses, enquanto a ocupação informal continua a declinar pelo quinto mês consecutivo.

Analistas associam esse panorama a fatores estruturais, como a reforma trabalhista de 2017, cuja influência se tornou mais evidente com o aquecimento econômico. Segundo Honorato, o verdadeiro teste do impacto da reforma seria em um ciclo de forte crescimento, e a pandemia coincidiu com esse momento, dificultando a análise completa dos efeitos daquela legislação.

Alessandra Ribeiro, diretora da consultoria Tendências, ressaltou que a reforma trabalhista ajudou a diminuir a judicialização das demissões e aumentou a previsibilidade jurídica para as empresas. Embora o número total de ações trabalhistas tenha ultrapassado 2 milhões em 2024, a proporção destas em relação à população ocupada continua inferior ao que era antes da reforma.

Bruno Imaizumi, economista da LCA 4Intelligence, destacou que a legislação atual favorece a contratação formal em modalidades como trabalho intermitente e temporário, que já representam cerca de 11% das admissões com carteira assinada no Caged.

Entre os fatores que impulsionam a formalização estão o aumento da escolaridade e a digitalização na intermediação de vagas. O percentual de brasileiros com ensino superior triplicou entre 2000 e 2022, ampliando o acesso a empregos formais. Ribeiro também mencionou o papel das plataformas digitais que, ao reduzirem os custos de intermediação entre empregadores e empregados, facilitam contratações.

O crescimento do número de microempreendedores individuais (MEIs) contribui para os índices de formalidade; em fevereiro de 2025, havia 6,7 milhões de MEIs registrados. Muitos utilizam aplicativos para prestar serviços, mas uma parcela significativa opta pela formalização para acessar benefícios como crédito, previdência e proteção social.

A projeção da LCA 4Intelligence para a taxa de desemprego em 2025 é de estabilidade em 6,6%, com uma previsão de geração de 1,4 milhão de empregos com carteira assinada, superando a estimativa anterior de 1,1 milhão. A Tendências Consultoria, por sua vez, revisou suas expectativas de criação líquida de vagas formais, passando de 1 milhão para 1,5 milhão.

A combinação de estímulos das políticas públicas, os efeitos de reformas passadas e fatores estruturais no mercado de trabalho são cruciais para a trajetória atual da formalização, enquanto o primeiro trimestre de 2025 representa um período de consolidação desse processo, mesmo em um cenário de crescimento econômico mais modesto nos próximos meses.

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Empresa israelense do software que Lava Jato e governo Bolsonaro negociaram, terá que indenizar o Whatsapp por espionagem

A NSO Group, empresa israelense criadora do software espião Pegasus, foi condenada a pagar US$ 167 milhões ao WhatsApp por invadir ilegalmente 1,4 mil contas em 2019. A decisão, anunciada por um júri nos Estados Unidos, marca a primeira vez que uma desenvolvedora de spyware é responsabilizada judicialmente por explorar falhas de segurança em plataformas digitais. Além da multa principal, a NSO deverá indenizar a Meta, proprietária do WhatsApp, em outros US$ 444 mil por danos adicionais.

O Pegasus é uma ferramenta que permite o acesso remoto a celulares, capturando microfones, câmeras e outras funcionalidades sem o consentimento do usuário. A empresa vendeu este programa a governos autoritários, que o utilizaram para espionar jornalistas, ativistas, políticos e membros de famílias reais árabes. Durante o governo de Jair Bolsonaro, houve tentativas de aquisição do Pegasus, impulsionadas por Carlos Bolsonaro, dentro de uma estratégia de monitoramento mais abrangente, gerando críticas de organizações civis e de direitos humanos. As negociações foram reveladas por jornais brasileiros e internacionais.

O caso traz à tona o envolvimento da Operação Lava Jato, que negociou, assim como o governo Bolsonaro, o software, em discussões sobre ferramentas de espionagem cibernética, conforme relatado pela defesa do presidente Lula, que mencionou, em petição ao Supremo Tribunal Federal, que a operação teve acesso a diversas tecnologias de espionagem, incluindo o Pegasus. O documento foi assinado por Valeska Teixeira Martins e Cristiano Zanin, que atualmente é ministro do STF.

Esta condenação e os eventos relacionados ao Pegasus levantam questões sobre privacidade, direitos humanos e o uso ético de tecnologias de vigilância. O desfecho do caso representa um marco significativo na responsabilização de empresas que desenvolvem software espião no cenário global.

A Meta celebrou uma importante decisão judicial contra o uso ilegal de spyware, destacando que a condenação da NSO Group envia um alerta para a indústria maliciosa que ataca empresas norte-americanas. O WhatsApp chamou essa decisão de “primeira vitória” no combate ao desenvolvimento e uso ilegal de spyware. Em contrapartida, a NSO Group declarou que revisará atentamente os detalhes do veredicto e considerará recorrer judicialmente. A empresa defende que seu software Pegasus é destinado unicamente a autoridades autorizadas para investigação de crimes graves e terrorismo, embora essa justificativa tenha sido amplamente contestada.

O escândalo relacionado ao Pegasus ganhou notoriedade em 2021, após o vazamento de uma lista com mais de 50 mil números de telefone que supostamente foram alvos de espionagem. Essa lista incluía presidentes, diplomatas, executivos, ativistas e mais de 180 jornalistas. Investigações conduzidas pelo Citizen Lab, grupo canadense, indicaram que até membros do governo britânico, incluindo autoridades do gabinete do primeiro-ministro e do Ministério das Relações Exteriores, foram hackeados.

Entre as figuras mais notórias espionadas estão o presidente francês, Emmanuel Macron, e pessoas associadas ao jornalista saudita Jamal Khashoggi, assassinado em 2018 no consulado saudita em Istambul.

A decisão judicial recente intensifica a pressão jurídica e política sobre a NSO Group, possibilitando que outras grandes empresas de tecnologia, que também foram vítimas do Pegasus, busquem reparações legais. Essa situação destaca a crescente importância de estabelecer limites claros e regulamentações para o uso de ferramentas de vigilância invasivas, especialmente em um cenário onde a privacidade e a segurança digital se tornam cada vez mais cruciais.

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Reforma de Bolsonaro já endureceu Previdência além do limite e ignora a Constituição

Para Eduardo Fagnani, nova reforma aprofundaria exclusão de trabalhadores informais e idosos vulneráveis.

O escândalo recente envolvendo fraudes no pagamento de benefícios do INSS trouxe de volta ao debate público a sustentabilidade da Previdência Social e a possibilidade de uma nova reforma no sistema. Para o economista Eduardo Fagnani, professor da Unicamp, o problema não está nos direitos dos aposentados, mas na forma como o sistema vem sendo gerido e desmontado nos últimos anos, sobretudo após a reforma de 2019, durante o governo Bolsonaro.

Em entrevista ao programa Conexão BDF, da Rádio Brasil de Fato, Fagnani afirmou que a devolução dos valores subtraídos aos pensionistas, estimados em R$ 6 bilhões, não deve comprometer o orçamento da Previdência, cujo montante ultrapassa os R$ 800 bilhões anuais. “Não vejo nenhum problema em ter o remanejamento nas próprias verbas da Previdência Social ou de algum outro algum outro órgão do governo”, afirmou.

Mais do que os recursos em si, Fagnani aponta uma distorção histórica na maneira como a Previdência Social é tratada. Ele relembra que a Constituição de 1988 instituiu o sistema de seguridade social, que inclui saúde, assistência e previdência, com fontes de financiamento específicas, como a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

“Essas duas receitas foram criadas para financiar os novos direitos sociais, e os governos nunca utilizaram essas fontes como parte das receitas da Previdência. Eles capturaram esses recursos [para outras finalidades]. Está escrito nos artigos 194 e 195 da Constituição”, denuncia.

Segundo o economista, essa omissão distorce o diagnóstico fiscal e alimenta a narrativa de que a Previdência está sempre “quebrando”, o que justificaria reformas sucessivas, com cortes de direitos.

‘Nova reforma? Só se for matar os velhos’
Ao comentar a possibilidade de uma nova reforma, Fagnani ironizou. “Uma nova reforma da Previdência hoje só tem uma alternativa: mandar matar os velhos.” A fala provocativa critica o modelo adotado no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que já tornou a aposentadoria inacessível para grande parte da população, especialmente os trabalhadores informais.

A reforma de 2019, segundo ele, adotou regras semelhantes às de países desenvolvidos, ignorando a realidade do mercado de trabalho brasileiro. O economista lembra que hoje cerca de metade da população economicamente ativa está na informalidade e dificilmente conseguirá cumprir os 20 ou 35 anos de contribuição exigidos para aposentadoria integral.

“A pessoa que está no mercado informal vai ter dificuldade de comprovar 20 anos de de de contribuição e, se conseguir, há várias restrições. […] Hoje em dia a pessoa passa pouco tempo na CLT, faz bicos, trabalhos temporários… É muito difícil”, afirma.

Ele alerta que, se nada mudar, o Brasil pode voltar a ver idosos em situação de rua nas próximas décadas. “Hoje em dia, por conta da Constituição de 88, dificilmente vemos um idoso pedindo esmola na rua porque 80% têm aposentadoria. Mas veremos isso nos próximos 10, 20, 30 anos.”

Para o economista, o combate à informalidade passa, em primeiro lugar, pelo crescimento econômico e pela reindustrialização do país. “O que faz a economia crescer é a indústria, porque é ela que cria os empregos de melhor qualidade. Essa questão da ‘pejotização‘, do empreendedorismo, é um autoengano, uma lavagem cerebral que o neoliberalismo fez, de que vale mais o indivíduo na nossa sociedade, contra o Estado. Isso é um engano da classe trabalhadora. Quando se der conta disso, já vai ser tarde”, alerta.

Ainda na entrevista, ele criticou a falta de ação do atual governo diante dos problemas do INSS. Fagnani coordenou o grupo de transição da Previdência no início do governo Lula e lamenta que sugestões fundamentais não tenham sido levadas adiante, como a reabertura dos postos físicos, que geram a “exclusão social de idosos de baixa renda”, e a realização de uma conferência nacional com participação de trabalhadores, empresários e especialistas.

*BdF

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Para manter palanque golpista, Comando Militar do Planalto agiu como autoridade civil paralela

Uma série de ofícios obtidos pelo ICL Notícias revela que o Comando Militar do Planalto (CMP) assumiu, na prática, o controle administrativo e normativo da região do Setor Militar Urbano (SMU), em Brasília, durante os dois meses de ocupação golpista em frente ao Quartel-General do Exército (QGEx). Em documentos oficiais enviados a órgãos do GDF e a civis, o CMP determinava quem podia ou não permanecer na área, como deveria ser feito o controle de veículos, som e barracas, e tomava decisões semelhantes às de uma prefeitura. Essa postura configurou, na prática, uma gestão militarizada de um espaço público, sem qualquer base legal civil para tais determinações.

O acampamento em frente ao QG se consolidou não apenas como ponto de encontro de manifestantes, mas como um palanque permanente de discursos contra o resultado da eleição presidencial, sem qualquer tentativa do Exército de coibir sua continuidade. Ao contrário: o que mostram os documentos é que a área sob jurisdição militar passou a ser gerida com regras próprias. Tudo isso sem qualquer menção a riscos à ordem constitucional, mesmo com alertas reiterados de autoridades civis.

No Ofício nº 2114, de 7 de dezembro de 2022, o CMP responde a um comerciante que solicitava autorização para vender produtos na região da Praça dos Cristais, no SMU. O documento é direto: “Informo que tal permanência não está autorizada, bem como todos os demais comerciantes que desenvolvem comércio irregular na região do Setor Militar Urbano”. No mesmo texto, o Comando Militar do Planalto alerta que o material do solicitante poderia ser apreendido a qualquer momento e que medidas administrativas seriam tomadas. A resposta demonstra que o Exército agia como instância fiscalizatória sem qualquer delegação legal externa, definindo o que era ou não permitido dentro de um espaço público ocupado.

Planalto

Dias antes, em 6 de dezembro, o Ofício nº 2113 solicitava a atuação da Secretaria DF Legal para remover ambulantes e estruturas comerciais irregulares. O mesmo ofício pede a retirada de ligações de energia, água e internet feitas sem autorização formal, que estavam sendo utilizadas para sustentar a estrutura montada pelos manifestantes. Apesar disso, não há qualquer indício de que o Exército tenha efetivamente interditado ou impedido o funcionamento do acampamento com base nesses abusos. A solicitação de retirada parece ter tido caráter mais simbólico do que efetivo, dado que os acampamentos seguiram operando com toda a estrutura necessária nos dias seguintes.

No Ofício nº 2115, de 12 de dezembro, um civil solicita o cadastramento de um veículo com caixas de som, estacionado na Praça dos Cristais. A resposta do Exército é semelhante: não autoriza a permanência, mas também não informa que houve remoção. Com isso, evidencia-se que o Comando fazia uma distinção entre os usos “permitidos” do espaço, com base em critérios não divulgados, mas alinhados com a tolerância ao movimento golpista. Nenhum dos documentos deixa claro o critério objetivo utilizado para diferenciar ocupantes, o que reforça a percepção de seletividade institucional.

Comando Militar do Planalto geriu a ocupação golpista
As comunicações oficiais analisadas pela reportagem demonstram que o Exército brasileiro, por meio do Comando Militar do Planalto, não apenas tolerou a ocupação golpista em frente ao QG, mas a geriu de forma ativa e seletiva. Ao definir regras de convivência, restringir atividades econômicas e determinar usos específicos para o espaço urbano militarizado, o Exército ultrapassou sua função constitucional e assumiu papel semelhante ao de um ente civil regulador. Isso gerou uma situação anômala, em que o Estado brasileiro, através de uma instituição armada, exerceu poder regulatório sobre um ambiente cívico-político, sem base em qualquer instrumento jurídico democrático.

Enquanto barrava comerciantes e estruturas independentes, o Comando mantinha intacta a estrutura simbólica do acampamento, que incluiu tendas, caminhões, equipamentos de som e discursos abertamente contrários à democracia. O palanque político funcionava com visibilidade, acesso e proteção, amparado por normas que garantiam sua continuidade, mesmo diante de alertas do Ministério Público, da Justiça e da imprensa. Além disso, a presença constante de militares no entorno do QG servia como escudo simbólico e tático contra qualquer tentativa de desmobilização externa, criando uma espécie de bolha de proteção institucional.

O uso do Quartel-General do Exército como centro político informal durante dois meses, sem qualquer ação para sua desativação, representa um marco na relação entre Forças Armadas e radicalização política no Brasil. Ao assumir o papel de gestão do espaço e legitimar o discurso golpista pela omissão ou pela seleção de quem poderia ser reprimido, ou expulso, o Comando Militar do Planalto atuou como agente ativo de um processo de ruptura com os limites institucionais estabelecidos pela Constituição. Essa atuação, ao não ser responsabilizada interna ou externamente, contribui para um perigoso precedente de uso militar de espaços para fins políticos e de ruptura.

*Cleber LOurenço/ICL