Diretor-geral da PF dá detalhes estarrecedores dos ataques a delegados e a Moraes no X

Em encontro com empresários, Andrei Rodrigues contou como a plataforma foi usada para ameaçar autoridades.

O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, compartilhou com um grupo de empresários, durante uma reunião realizada na quinta-feira (12) em São Paulo, detalhes preocupantes sobre o uso da plataforma X (antigo Twitter) para ameaçar autoridades envolvidas em investigações de grande relevância. O encontro, organizado pelo grupo Esfera Brasil, foi marcado pela defesa enfática de Rodrigues em favor do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que recentemente determinou a suspensão do X no Brasil após a rede social não cumprir ordens judiciais.

Segundo Andrei Rodrigues, um dos episódios mais graves aconteceu quando o senador Marcos do Val (Podemos-ES) publicou, na plataforma, fotos da filha de 5 anos e da esposa de um delegado da Polícia Federal, que fazia parte da equipe responsável por investigar o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados. A postagem trazia a legenda “Procura-se vivo ou morto”, o que gerou uma série de comentários ameaçadores, com usuários sugerindo valores pela morte da criança e de sua mãe. “Imaginem, uma criança de 5 anos. Isso gerou reações do tipo: ‘Morto vale quanto?'”, disse o diretor da PF aos empresários, destacando o impacto emocional e psicológico dessas ameaças. A esposa do delegado, segundo ele, segue em tratamento até hoje devido ao trauma causado pela situação, segundo informa a jornalista Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo.

Rodrigues ainda afirmou que a Polícia Federal, diante da gravidade do caso, solicitou ao ministro Alexandre de Moraes que a postagem fosse retirada do ar. O magistrado, em resposta, determinou que a plataforma removesse imediatamente o conteúdo e impôs uma multa diária de R$ 50 mil caso a ordem não fosse cumprida. No entanto, a rede social ignorou tanto a ordem de exclusão quanto o pagamento da multa.

Ao descrever a postura da plataforma, Rodrigues mencionou que o X, além de não remover a postagem, sinalizou que poderia encerrar suas operações no Brasil, de forma a evitar o cumprimento de futuras ordens judiciais. “Eles disseram que iriam tirar o escritório do Brasil para que as autoridades não tivessem com quem falar”, relatou o diretor da PF. Essa sequência de desobediências culminou na decisão de Moraes de suspender o funcionamento da plataforma em todo o território nacional, medida que entrou em vigor no dia 30 de agosto.

Durante a reunião, Rodrigues questionou os empresários presentes: “Coloquem-se na posição do meu colega e de Moraes: o que fariam diante de uma situação dessas?”. Segundo relatos de pessoas presentes, a reação do público foi de indignação e perplexidade com os detalhes compartilhados pelo diretor da PF.

O bloqueio do X no Brasil ocorreu dentro do contexto de uma série de investigações conduzidas pela Polícia Federal envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores, que são alvo de inquéritos sobre o financiamento de atos antidemocráticos e a disseminação de informações falsas nas redes sociais. Além disso, a suspensão do X foi precedida por outra decisão de Moraes, na qual o ministro determinou a prisão de uma representante da plataforma no Brasil caso as ordens judiciais não fossem cumpridas.

A reunião foi concluída com Andrei Rodrigues reforçando a necessidade de cooperação entre as empresas de tecnologia e as autoridades, sobretudo em um momento em que plataformas digitais têm sido utilizadas para ameaçar e intimidar pessoas envolvidas em investigações criminais.

Incêndios florestais se intensificam e já atingem áreas urbanas de cidades como Rio e Niterói

Morros do Tabajaras e Dona Marta e vegetação da área de acesso a praias no Recreio são focos.

Em meio a um período de temperaturas altas, em pleno inverno, e baixa umidade do ar, os incêndios se intensificam no Rio e, nos últimos dias, estão atingindo áreas urbanas tanto da capital quanto de cidades como Niterói. O estado teve, na última quinta-feira 460 focos, recorde de 2024, o que levou o Corpo de Bombeiros a instaurar um gabinete de crise. Desde o início do ano, foram mais de 16 mil ocorrências de incêndios em matas, um aumento de mais de 90% no território fluminense em relação ao mesmo período de 2023.

Nesta sexta-feira, até 17h30, os Bombeiros haviam sido chamados para combater 64 focos. A vegetação do Morro dos Tabajaras, por exemplo, pegou fogo nas faces voltadas para Copacabana e Botafogo. E chamas eram vistas na mata que dá para Laranjeiras do Morro Dona Marta, atrás da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Mesmo cenário da Pedra da Gávea, no Alto da Boa Vista.

Uma área de vegetação de acesso à Prainha e a Grumari, no Recreio dos Bandeirantes, também foi consumida. Na capital, foi preciso ainda combater o fogo em Vargem Grande, Irajá e Campo Grande, entre outros bairros.

Em Niterói, um incêndio no Morro das Andorinhas, em Itaipu, assusta os moradores da Região Oceânica desde a noite de quarta-feira. Nesta sexta-feira, os Bombeiros voltaram a ser chamados para combater focos em Itaipu. Na Baixada, houve registros em Nova Iguaçu, Caxias, Mesquita e Japeri.

— Mais de 95% desses incêndios florestais possuem causa humana, ou seja, acidental ou proposital. Por isso, é fundamental ficar atento a alguns cuidados que todos devem ter. Primeiro, muito cuidado ao descartar as guimbas de cigarro próximos de estradas e em áreas verdes também. Além disso, evitar realizar fogueiras, seja em acampamento ou até mesmo em locais próximos da sua residência. Jamais realizar queimadas, seja de lixo ou até mesmo para abrir algum outro tipo de cultivo na sua região. Lembrar também que é crime soltar balões e também não soltar os fogos de artifício — afirma o porta-voz do Corpo de Bombeiros RJ, major Fábio Contreiras.

Nem quilombo escapa
O interior do estado também arde em chamas. Parte da mata do Quilombo Santa Justina e Santa Izabel, em Mangaratiba, na Costa Verde, foi atingida. Moradores temem que as chamas cheguem ao bananal que é uma das bases da economia da comunidade.

Fogo atinge mata em quilombo de Mangaratiba; chamas são combatidas por quilombolas — Foto: Reprodução redes sociais
Fogo atinge mata em quilombo de Mangaratiba; chamas são combatidas por quilombolas — Foto: Reprodução redes sociais
É a segunda vez esta semana que as labaredas tomam a região do Quilombo. De acordo Edevaldo Felipe da Conceição, uma das lideranças locais, a primeira queimada havia começado na segunda-feira e só foi controlada no fim da quarta-feira, pelos próprios quilombolas. O município está em situação de emergência.

Fogo atinge mata em quilombo de Mangaratiba; chamas são combatidas por quilombolas — Foto: Reprodução redes sociais

Os focos controlados ficavam numa área de difícil acesso, na subida da Serra do Piloto, onde estão localizadas algumas das principais nascentes de Mangaratiba. Já o incêndio iniciado na manhã desta sexta-feira lambia a vegetação próxima à BR-101 (Rio-Santos), no caminho para Angra dos Reis e Paraty.

— Desta vez, o local do fogo é de mais fácil acesso para os bombeiros — disse Edevaldo.

Unidades de conservação são atingidas
Localizado a quase 60 km de distância do Parque Estadual Serra da Concórdia, o Monumento Natural Estadual da Serra da Beleza, em Valença, é mais um local atingido. O tamanho da área de proteção ambiental afetada ainda não foi mensurada. Mas moradores do distrito afirmam que o local está parecendo um “campo de devastação”.

Incêndio florestal de grande dimensão atinge a Serra da Beleza, em Valença — Foto: Thiago Moreira/Divulgação

Com o apoio de uma aeronave, equipes de guarda-parques do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) estão atuando para debelar focos em seis unidades de conservação: além da Serra da Concórdia, combatem as chamas na região de Secretário, em Petrópolis; no Parque do Desengano, em São Fidélis; na APA Macaé de Cima, em Nova Friburgo; no Parque estadual Cunhambebe, em Mangaratiba; e na APA Guandu

Na Serra da Concórdia, no município de Valença, guarda-parques identificaram focos de incêndio em locais distintos, realizando o combate direto e indireto às chamas, com o apoio de aeronave e do Corpo de Bombeiros. Também foram registrados focos de incêndio florestal na APA Guandu, no bairro Sá Freire, em Seropédica.

Ontem, 59 dos 92 municípios fluminenses estavam com risco muito alto de incêndio florestal, segundo o Centro Estadual de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden RJ).

Com o aumento expressivo no número de ocorrência de incêndios florestais agravados pela estiagem, a Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade e o Instituto Estadual do Ambiente convocam a população a denunciar casos de fogo em vegetação para que os responsáveis sejam identificados e punidos.

Silas Malafaia, o Profeta do Fogo

Florestan Fernandes Jr.

Depois da tempestade no sul do país, não veio a bonança. O dito popular não se concretizou e o que vemos hoje é uma seca pior do que a do deserto do Saara. As queimadas estão por todos os lados, são mais de 8 mil focos de incêndio em boa parte do território nacional.

Verdadeiros paraísos ecológicos estão sendo consumidos pelas chamas.

Incêndios, criminosos ou não, avançam sobre o cerrado, o segundo maior bioma do país. Imagens chocantes captadas por satélites revelam o fogo se alastrando por cerca de 500 km de extensão na floresta amazônica. As mudanças climáticas no Brasil estão eliminando biomas e transformando extensas áreas verdes em verdadeiros desertos. Nas últimas quatro décadas, o cerrado perdeu 27% da sua vegetação nativa.

O descaso das autoridades, a ganância do agronegócio e a imbecilidade humana de negacionistas ligados ao fanatismo ideológico de extrema-direita, estão colocando em risco a vida em nosso planeta.

Estamos ultrapassando a passos largos a linha do não retorno.

Quando falo do fanatismo de idiotas, não exagero. Quem se esqueceu do ‘Dia do Fogo’, ocorrido em agosto de 2019, quando fazendeiros, empresários e produtores rurais decidiram organizar uma manifestação criminosa em apoio às políticas de desmonte ambiental do governo Bolsonaro. Investigações da Polícia Federal confirmaram, na época, que esses “empresários” rurais combinaram e realizaram as queimadas em áreas de conservação da floresta amazônica no Pará. Ao todo, foram 1.457 focos de incêndio. Três grupos de extrema-direita foram identificados pela PF.

Alguma dúvida que o mesmo método está sendo utilizado nas queimadas que ocorrem hoje?

Em entrevista ao Boa Noite 247, o ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc explicou os diversos tipos de queimada que convergem neste mesmo momento. Existem aquelas produzidas por pessoas que colocam fogo no meio da estiagem e do vento, para queimar lixo ou para preparar a terra. Mas segundo Minc, “tem um fogo que é conspiração, que é golpista, bolsonarista. Isso está aliado à impunidade. Daqueles 23 que foram flagrados pela Polícia Federal no Dia do Fogo em 2019, quantos foram presos ou condenados? Nenhum! Então, isso não é Marina e nem Lula. É o judiciário que deu mole pra quem planejou o crime ambiental.”

Essa impunidade acaba incentivando os crimes continuados.

Na campanha de mobilização de bolsonarista no 7 de Setembro passado, o empresário da fé, Silas Malafaia, “conselheiro espiritual” de Jair Bolsonaro, disse em alto e bom som: “No dia sete o Brasil vai pegar fogo! Dias depois, sua profecia se realizou. O fogo estava queimando em vários estados do país, inclusive no estado de São Paulo, onde não é comum incêndio de grandes proporções em áreas de plantio.

No auge das queimadas, o estado governado pelo bolsonarista Tarcísio de Freitas contabilizou mais de 380 focos de incêndio em dezenas de municípios. Imagens de satélite mostraram que o fogo se iniciou em várias regiões do estado no mesmo dia e praticamente no mesmo horário. Imagens feitas em reportagens de televisão e por internautas mostram homens ateando fogo em canaviais, sem qualquer constrangimento, em plena luz do dia. Tudo dentro de um esquema muito bem orquestrado.

Na última quarta-feira (11/9), o fogo começou a consumir parques florestais dentro de grandes cidades como Campinas, Osasco, Barueri e São Paulo. Muito suspeito isso ocorrer no mesmo dia e em regiões diferentes do estado. Na capital paulista, de agosto até a primeira semana de setembro, a Secretaria Municipal de Saúde registrou 1.523 casos de síndrome respiratória aguda grave, piorado pela poluição, e 76 óbitos decorrentes de problemas respiratórios.

A polícia do governo estadual chegou a prender uma dezena de incendiários, que foram soltos sem nada ser esclarecido. Talvez porque no último dia sete, na avenida Paulista, o próprio governador estava no carro de som ao lado de Bolsonaro e do Profeta do Fogo, Silas Malafaia. Pelo jeito, a extrema-direita não se contenta apenas em destruir a praça dos três Poderes, quer também incendiar o país.

Cabe ao governo federal, com a urgência necessária, promover um planejamento junto com estados e municípios para conter as queimadas.

Importante que se tragam a público as investigações da Polícia Federal sobre os “Demônios do Fogo”, assim que estiverem concluídas. O Secretário Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Mário Sarrubbo, disse nesta quinta-feira (12/09) que os responsáveis pelas queimadas devem indenizar a população e restaurar os biomas afetados.

Em meio a esse inferno, eu, que de profeta não tenho nada, digo amém. Que assim seja.

*247

Apuração arquivada contra Carlos ignorou diligências que levaram a Flávio

MP não analisou transações imobiliárias de Carlos Bolsonaro nem origem do dinheiro para compra de imóveis.

A investigação arquivada contra o vereador Carlos Bolsonaro (PL) não contou com diligências que levaram à denúncia contra o senador Flávio Bolsonaro (PL), posteriormente arquivada após anulação de provas.

O Ministério Público encerrou a apuração contra o vereador sem analisar as transações imobiliárias dele, bem como não questionou sobre como foram quitados boletos do planos de saúde. Essas informações foram cruciais para identificar parte da lavagem de dinheiro atribuída ao senador.

Dados da quebra de sigilo mostraram que as movimentações financeiras de Carlos e Flávio eram diferentes.

O vereador sacou quase 90% do salário, enquanto o senador fez poucas retiradas. A prática dificulta a identificação de possíveis desvios, já que o filho “02” do ex-presidente Jair Bolsonaro possuía lastro para transações em espécie.

O promotor Alexandre Graça, responsável pelo procedimento, afirmou que “as diligências que se fizeram necessárias foram realizadas”. Disse também que “o questionamento feito é fruto do desconhecimento da investigação”.

Carlos declarou, em nota, que recebeu com tranquilidade a informação sobre o arquivamento. Manifestou também indignação com a acusação contra integrantes de seu gabinete.

Graça apresentou nesta quarta-feira (11) denúncia contra sete funcionários de Carlos sob acusação de integrarem um esquema de “rachadinha” liderado por Jorge Fernandes, chefe de gabinete do vereador. A apuração contra o filho do ex-presidente foi arquivada sob a justificativa de que não foi identificada irregularidade na movimentação financeira dele.

Nesta quinta-feira (12), o juiz Thales Braga devolveu a investigação para o Ministério Público, apontando inconsistência na apuração, na denúncia, e no arquivamento das suspeitas contra Carlos.

Transações imobiliárias de Carlos
A investigação, por exemplo, não avançou sobre as transações imobiliárias do vereador. Ele adquiriu dois apartamentos no período sob investigação (2005 a 2021). Relatório da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI) do MP-RJ levantou suspeitas sobre ambas.

A escritura de compra e venda de um apartamento comprado em 2009 em Copacabana diz que os R$ 70 mil pagos pela transação foram quitados por meio de transferência bancária. Os técnicos do MP-RJ, porém, afirmam não ter localizado a operação na quebra de sigilo bancário do vereador. Eles encontraram apenas um pagamento de R$ 60 mil ao antigo proprietário.

O documento ressalta ainda o fato de Carlos ter acessado, no mesmo dia da transação, o cofre que mantinha numa agência do Banco do Brasil no centro do Rio de Janeiro. Ele também recebeu um depósito em espécie de R$ 10 mil na conta dias antes da operação.

Outro indício apontado no relatório é o fato de o valor da compra do apartamento em Copacabana ter sido 70% abaixo da avaliação feita pela prefeitura para a cobrança do ITBI (Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis). O município costuma usar critérios de mercado para definir o cálculo do tributo.

O documento aponta ainda que a compra de um imóvel no centro em 2012 por R$ 180 mil provocou uma evolução patrimonial sem lastro na renda auferida pelo vereador naquele ano.

Flávio e o depósito em dinheiro vivo
Na investigação contra Flávio, o extinto Gaecc (Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção) pediu a quebra de sigilo bancário de todas as pessoas que venderam imóveis ao senador no período sob análise.

Foi a partir dessa medida que os promotores identificaram depósito de R$ 638 mil em dinheiro vivo na conta do norte-americano Glenn Dillard no mesmo dia em que ele vendeu dois imóveis para Flávio. O valor oficial da transação foi de R$ 310 mil, correspondente às transferências bancárias realizadas pelo senador.

O Gaecc afirmou na denúncia contra Flávio que o dinheiro vivo que entrou nas contas de Dillard tinha como origem o esquema de “rachadinha” no antigo gabinete do senador na Assembleia Legislativa. A acusação foi arquivada após as provas serem anuladas.

Na investigação contra Carlos, não houve quebra de sigilo contra os antigos proprietários dos imóveis.
Os autos da investigação mostram que Graça também não seguiu recomendação da coordenadoria de inteligência do MP-RJ de solicitar informações às operadoras de saúde Qualicorp e Unimed, com as quais Carlos informou à Receita ter mantido vínculos contratuais.

O relatório técnico afirma ter identificado a quitação de apenas um boleto, embora ele tenha declarado manter vínculos com os planos de saúde entre 2011 e 2020.

Foi por meio de pedidos de informação feitos ao plano de saúde e à escola das filhas de Flávio que o Gaecc conseguiu identificar o uso de dinheiro vivo para quitação dos boletos, segundo o ICL

No caso do senador, a informação tinha força porque ele não fazia saques em valores correspondentes aos gastos. O vereador, por sua vez, tinha lastro para operações em dinheiro vivo por sacar 87% do salário no período investigado, gerando R$ 1,98 milhão em espécie.

‘Patrimônio a descoberto’
Dados sobre os gastos pessoais, contudo, poderiam dar mais clareza ao padrão de gastos do vereador. O relatório da coordenadoria de inteligência do MP-RJ, por exemplo, identificou que Carlos apresentou aumento patrimonial sem origem clara nos rendimentos em 2010 e 2012.

“Ao apresentar ‘patrimônio a descoberto’, o saldo de caixa fica negativo, ou seja, sua renda líquida mensal fica insuficiente para arcar com suas despesas mensais declaradas. Isso sem contar que não se consideram nesta análise as despesas pessoais e de manutenção de seus bens, o que aumentaria ainda mais a insuficiência de caixa”, diz o relatório.

Em 2010, geraram o patrimônio a descoberto a aquisição de um carro e uma doação de R$ 70 mil para Flávio. Em 2012, o principal motivo de descompasso entre renda e aumento patrimonial foi a aquisição de outro imóvel, no centro, por R$ 180 mil.

Bolsonaro é irrelevante nos maiores colégios eleitorais do país

O levantamento foi feito pelo jornal GGN

Se em anos anteriores, o apadrinhamento de Jair Bolsonaro foi decisivo, neste é irrelevante, mostra balanço do GGN com pesquisas eleitorais

O apoio de Jair Bolsonaro nas eleições municipais deste ano não terá o mesmo impacto de pleitos passados e, para alguns casos, será irrelevante. É o que revelam as últimas pesquisas dos comandos das capitais dos 4 maiores colégios eleitorais do país: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Recife.

O fenômeno ocorreu logo após Nunes se distanciar do apoio direto de Jair Bolsonaro e se aproximar do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), ao mesmo tempo que Marçal fez um amplo esforço de aproximação com o ex-presidente e o eleitorado bolsonarista.

Também em Minas Gerais, a capital Belo Horizonte – que além de ser a terceira maior potência econômica do país, é do segundo estado no ranking de quantidade de eleitores -, o candidato de Jair Bolsonaro, Bruno Engler (PL), está em terceiro lugar nas pesquisas.

Levantamento da Quaest divulgado nesta quarta (11) mostrou Mauro Tramonte (Republicanos), liderando com 27% das intenções, seguido do atual prefeito Fuad Noman (PSD), com 20% e, depois, Engler com 16%. Ou seja, se as eleições fossem esta semana, o apadrinhado de Bolsonaro não disputaria o segundo turno da capital mineira.

As poucas chances motivaram, inclusive, um comício do PL no início do mês, com a presença da própria família Bolsonaro em peso: o ex-mandatário, a esposa Michele Bolsonaro e o filho, senador Flávio Bolsonaro (PL), além de outros nomes de peso da ultra-direita, como o popular e polêmico deputado Nikolas Ferreira (PL).

*GGN

Tal qual uma barata tonta, Bolsonaro não sabe direito o que fazer

De volta ao colo de Ricardo Nunes

É cedo para se dizer que o torniquete aplicado em Pablo Marçal (PRTB) pelos demais candidatos a prefeito de São Paulo o impedirá de ir para o segundo turno da eleição, seja contra Ricardo Nunes (MDB), seja contra Guilherme Boulos. De certo, é que ele aparentemente parou de crescer.

Digo aparentemente porque – com as desculpas pela concessão ao clichê -, pesquisas de intenção de voto são um retrato enevoado do momento. E quando publicadas, o momento já passou. Cada instituto tem seu método de assuntar a opinião dos leitores. Daí nem sempre coincidem. No país do “se a eleição fosse hoje…”

Em primeiro turno, a eleição será em 6 de outubro próximo, daqui, portanto, a 23 dias. É tempo suficiente para que os candidatos corrijam erros cometidos e aprimorem acertos. O acaso jamais deve ser desprezado, mas como é acaso… Bolsonaro, em 2028, beneficiou-se da facada que levou a um mês da eleição.

Não fosse a facada, teria sido eleito? Talvez sim. A única certeza que temos é que a facada compensou largamente o quase nenhum tempo que ele tinha de propaganda eleitoral no rádio e na televisão. Diz-se que ele venceu porque era o rei das redes sociais. No caso de São Paulo, hoje, o rei seria Marçal.

O X, ex-Twitter, fora do ar deve estar prejudicando muito Marçal. Quem mais lucra com isso é Nunes, apoiado por 12 partidos, o dono de 65% do tempo de propaganda – o maior tempo que um candidato já teve na história das eleições para prefeito de São Paulo. Nunes provavelmente terá lugar no segundo turno.

Dizia-se que era Boulos quem tinha lugar assegurado. Por enquanto, Nunes é de longe o favorito para derrotar Boulos ou Marçal em um eventual segundo turno. Tabata Amaral (PSB) e Luiz Datena (PSDB) foram rebaixados à condição de figurantes. Mais à frente, por conta do voto útil, os dois irão murchar.

Tal qual uma barata tonta, Bolsonaro ora vai para um lado, ora para o outro, ora se esconde. No início da campanha, ele ofereceu apoio a Nunes. Com a ascensão de Marçal, deu sinais de que marchariam juntos. Agora, ao ver que Nunes avança com consistência, volta a namorá-lo como fez ontem à noite.

Foi durante um jantar promovido pela comunidade libanesa no clube Monte Líbano, em São Paulo, para homenagear Nunes. Ao vivo, em uma transmissão de vídeo, Bolsonaro elogiou o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) “pelo apoio a Nunes.”; mandou um abraço para o prefeito e emendou:

“Torço por você [Nunes], tenho certeza que haverá segundo turno e seremos vitoriosos no segundo turno.”

*Noblat

Lula diz que empresários brasileiros não têm ‘inteligência suficiente’ para entender importância de investir em cultura

A democracia é a única forma de a cultura não ser enxergada como um gasto.

Em evento de reinauguração do Armazém da Utopia, na zona portuária do Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que empresários brasileiros não “têm inteligência” para entender a importância de se investir em cultura.

— Eu acho que, se o sistema financeiro soubesse disso (retorno do investimento em cultura), ele baixava os juros para não receber as dívidas e aplicava em cultura. Eu acho que os empresários brasileiros ainda não conquistaram a inteligência suficiente para saber que o investimento na cultura não só traz retorno financeiro, mas também político, ao provocar a evolução da sociedade — disse Lula na noite desta quinta-feira.

Na cerimônia, o presidente também afirmou que a democracia é a única forma de se criar condições da cultura não ser enxergada como um gasto.

— Muitos presidentes não gostam de cultura, até podem ir a Paris ver uma peça, mas não gostam de conversar com artista, porque artista é chato ideologicamente, está sempre cobrando. A cultura é o jeito da gente contrariar o que é o pensamento dominante de uma sociedade, propondo coisas novas — complementou o presidente.

Construído em 1910, o novo armazém se transformará em um porto aberto para coletivos artísticos de trabalho continuado do Brasil, da América Latina, da África e de todo o mundo. Com investimento total de R$ 36 milhões, sendo R$ 12 milhões do BNDES, a restauração do armazém teve duração de um ano.

Críticas ao Congresso
Mais cedo, Lula aproveitou a cerimônia de retorno do manto Tupinambá ao Brasil para criticar o Congresso pela derrubada de seu veto sobre o Marco Temporal. No fim do ano passado, em derrota para o governo, os parlamentares devolveram validade a um trecho de projeto de lei que define que somente Terra Indígenas já ocupadas na época da promulgação da Constituição de 1988 podem ser demarcadas.

Ao discursar durante o evento na Quinta da Boa Vista, na Zona Norte da capital fluminense, Lula frisou que “fez questão de vetar esse atentado aos povos indígenas”. O petista afirmou ainda que “imaginou que o Congresso não teria coragem de derrubar” sua decisão.

— Da mesma forma que vocês, eu também sou contra a tese do Marco Temporal. Fiz questão de vetar esse atentado aos povos indígenas. Mas o Congresso Nacional derrubou o meu veto. Às vezes as coisas são mais fáceis de falar do que fazer. Olhem a dificuldade de eleger um indígena deputado. Quando eu vetei o Marco Temporal, eu imaginei que o Congresso não teria coragem de derrubar o meu veto, e ele teve. A maioria dos congressistas não tem compromisso com os povos indígenas. O compromisso deles é com as grandes fazendas — pontuou Lula.

Mais à frente, porém, o presidente defendeu que é preciso “cumprir a Constituição e a regra do jogo”, mas negou que exista “subserviência para ficar no poder”. Ele lembrou que o governo não conta com maioria no Congresso e que, por isso, deve-se “conversar com quem não gosta de mim”.

— Aqui não tem subserviência para ficar no poder. O que se tem é inteligência política. Tenho um partido com 70 deputados em 513. Tenho nove senadores em 81. Para aprovar as coisas, eu sou obrigado a conversar com quem não gosta de mim. Se tem uma coisa que tenho muito orgulho (é isso). O presidente não pode só fazer discurso. Tem que cumprir a Constituição e a regra do jogo. Tem que respeitar as decisões do Congresso e da Justiça, e ao mesmo tempo preservar e luta — disse.

‘Um novo começo para os povos indígenas e o Brasil’, diz Lula sobre retorno do manto Tupinambá

Presidente participou da celebração do retorno do manto sagrado Tupinambá ao Brasil, no Rio.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva celebrou nesta quinta-feira (12) o retorno, após séculos, do manto sagrado Tupinambá, que estava na Dinamarca, ao Brasil, afirmando que o momento é crucial para refletir sobre o drama que atinge a população indígena brasileira desde os anos 1500.

Durante a celebração do retorno do manto sagrado Tupinambá ao Brasil, no Rio de Janeiro (RJ), Lula lamentou a escravização dos povos indígenas pelos colonizadores e afirmou que a chegada do objeto representa um “momento especial não só para os indígenas, mas para a história de todos os brasileiros e brasileiras”.

“O retorno do manto sagrado Tupinambá é um marco e um começo de uma nova história de conquista dos povos indígenas”, afirmou Lula.

O evento ocorreu sob críticas, com os indígenas reclamando do fato de não terem acompanhado o processo de chegada do objeto ao Brasil. Em seu discurso, o presidente Lula ressaltou a importância das críticas e afirmou que seu governo busca representar os povos indígenas, ao contrário do governo anterior.

O manto sagrado Tupinambá foi devolvido ao Brasil após 300 anos na Dinamarca. Cada um dos mantos é um tesouro inestimável. Eles são feitos de penas brilhantes, e são considerados um dos artefatos mais preciosos já produzidos pelos povos indígenas das Américas. A peça foi doada ao Museu Nacional, no Rio de Janeiro. As negociações pela repatriação envolveram a embaixada brasileira em Copenhague, o Museu Nacional do Brasil e o Museu Nacional da Dinamarca.

No entanto, o presidente também afirmou que gostaria que o manto ficasse na Bahia, e pediu ao governador Jerônimo Rodrigues que criasse um espaço onde ele possa ser exibido e preservado.

Marçal é o mais rejeitado pelo eleitor paulistano: 44% não votariam nele de jeito nenhum

Boulos é rejeitado por 37%, seguido por Datena (32%)

A nova pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta-feira (12), revela que o influenciador Pablo Marçal (PRTB) é o candidato mais rejeitado na corrida pela Prefeitura de São Paulo. Segundo o levantamento, 44% dos eleitores afirmam que não votariam de jeito nenhum em Marçal, um aumento de seis pontos percentuais em relação ao índice de 38% registrado na pesquisa anterior, realizada entre 3 e 4 de setembro.

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) segue como o segundo candidato mais rejeitado, com 37% dos eleitores afirmando que não votariam nele. O apresentador José Luiz Datena (PSDB) ocupa a terceira posição com 32% de rejeição, mantendo-se estável desde o último levantamento.

Rejeição de Nunes caiu de 21% para 19%

Por outro lado, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem 19% de rejeição, uma leve diminuição em relação aos 21% registrados na pesquisa anterior. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais, para mais ou para menos, com um nível de confiança de 95%. O Datafolha ouviu 1.204 pessoas entre os dias 10 e 12 de setembro.

Marçal: alvo preferencial de ataques dos adversários

A rejeição a Marçal pode estar relacionada a um aumento na intensidade dos ataques de seus adversários. Durante o último mês, os concorrentes, incluindo Boulos, Nunes e a deputada Tabata Amaral (PSB), têm explorado a condenação de Marçal em 2010 por furto qualificado e suspeitas de vínculos de seu partido com a facção criminosa PCC.

A rejeição ao candidato é mais alta entre pessoas com ensino superior e aquelas que ganham mais de cinco salários mínimos, chegando a 55% em ambos os grupos.

Em relação a Boulos, a rejeição é mais significativa entre homens (42%) do que entre mulheres (32%), e é maior entre aqueles com ensino superior (41%) e que recebem entre dois e cinco salários mínimos (42%).

Grupo lança manifesto contra cassação de Glauber Braga: “lembra momentos da ditadura militar”

“Estamos diante de um precedente perigosíssimo. Outros parlamentares poderão ser as próximas vítimas”, diz a nota.

Um grupo de políticos e professores lançou na última segunda-feira (9) um manifesto em defesa do deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ), que corre o risco de ter seu mandato cassado por ter expulsado um militante do Movimento Brasil Livre (MBL) da Câmara dos Deputados. Na última quarta-feira (11), o Conselho de Ética da Câmara decidiu manter o processo disciplinar que pode levar à cassação de Braga.

O texto, publicado na Folha de S. Paulo, é assinado pela deputada federal Luiza Erundina (Psol-SP), pelo ex-deputado federal José Genoíno (PT-SP), pelo vice-governador de Alagoas, Ronaldo Lessa, e pelo ex-ministro de Ciência e Tecnologia Roberto Amaral. Também assinam o manifesto o criminalista Antônio Claudio Mariz de Oliveira, o advogado Pedro Dallari, professor titular da Faculdade de Direito da USP, e Maria Vitoria Benevides, professora emérita da Faculdade de Educação da USP.

Na publicação, eles exaltam a trajetória política de Glauber Braga e as bandeiras que defende em seu mandato na Câmara dos Deputados. “As bandeiras da atividade parlamentar de Glauber compreendem as dimensões fundamentais da boa política e a preocupação com os trabalhadores, junto dos quais sua voz e sua solidariedade se fazem sempre presentes. Essa preocupação se articula com as grandes questões nacionais e globais, o que enriquece a qualidade de seus mandatos”, diz o texto.

Segundo o manifesto, Glauber está sendo vítima de uma articulação orquestrada por “bolsões do atraso da política brasileira”. Os autores lembram que a atitude do deputado em expulsar o manifestante do MBL veio após o provocador insultar a memória de sua mãe, que viria a falecer poucos dias depois do acontecimento.

O manifesto compara a cassação de Glauber a momentos da ditadura militar, e que abre um precedente perigoso para outros parlamentares. “É a espada de Dâmocles sobre a cabeça do deputado, numa clara ameaça a um mandato exemplar, outorgado pelo voto popular. Caso não seja impedida essa violência inominável, ela roubará de nossa cena política um de seus melhores quadros, num ataque à democracia e aos milhares de eleitores de Glauber Braga. Estamos diante de um precedente perigosíssimo, que lembra momentos da ditadura militar. Se ele for aberto, outros parlamentares poderão ser as próximas vítimas. E, com isso, não só eles: também a democracia”.