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O capitalismo como fábula, não cabe no capitalismo como ele é

Foi essa a mensagem que saiu das urnas numa eleição em que a atenção nacional foi dominada por São Paulo.
Qual candidato fez uma proposta de direita em SP? Nenhum.

Nunes prometeu mais presença do Estado pra fazer hospitais, creches e etc.

Marçal nem falou em mercado. Mesmo em suas viagens circenses, o Estado é que bancaria sua fanfarronice. Pra quem arrota o milionaríssimo caminho das pedras em seus livros e palestras, o sujeito não quis criar complicações para explicar o inexplicável que os tolos compram. Uma coisa é falar com gente cega de ambição. Outra é falar com o grosso da sociedade que não sonha com riquezas funestas que ele vende para os trouxas.

Quem apenas quer viver com dignidade, o coach que promete chuva de dinheiro aos incautos, nem da bola para o idiota que se coloca como o próprio bezerro de ouro.

A sociedade não quer saber de mercado, mas de serviços públicos qualificados, com investimento em modernidade para a melhoria dos serviços. O mais importante para a massa, é a vida como ela é. Por isso o serviço publico foi a vedete dos debates e até o bolostrô das “boas notícias” da riqueza fácil, teve que dobrar os joelhos e inventar o troço qualquer que os cofres públicos bancariam.

Se tem uma coisa que o povo brasileiro já aprendeu é que, o capitalismo como fábula, não cabe no capitalismo como ele é.

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Política

Publicidade e capitalismo

Beneficiando-se dos recursos da Big Tech para manipular o desejo das pessoas, as corporações capitalistas conquistaram não esse ou aquele setor, mas o mundo; em vez de uma coluna semanal, o próprio controle dos meios de comunicação.

Por Luiz Marques

A publicidade interpelava a necessidade (“esse produto é o melhor”); buscava o convencimento no ideal de eu (“esse produto deixa você mais atraente”); ora se beneficia dos recursos da Big Tech para manipular o desejo das pessoas. As corporações capitalistas conquistaram não esse ou aquele setor, mas o mundo; em vez de um depósito com excedentes, a sociedade; em vez de uma coluna semanal, o próprio controle dos meios de comunicação. A história poderia recuar ao papiro de Tebas, há três mil anos, que anunciava uma recompensa pelo escravo fugitivo, ou às circulares em pilastras do Fórum de Roma. Optou-se pela aventura na Idade Moderna.

No século XVII, newsbooks tinham a função de difundir as notícias. Em Londres, a Catedral de Saint Paul foi o centro de divulgação que, no crescendo, se expandiu com as publicações impressas. Recomendações eram feitas de forma direta, como a que data de 1658: “A bebida chinesa excelente e aprovada por todos os médicos, chamada Tcha, e em outras nações Tay ou Tee, é vendida no Sultaness Head Cophee-House”. A menção aos médicos apela à óbvia autoridade dos especialistas, mais chamados a opinar do que os filósofos nos países de língua inglesa, diferente da França. Na sequência do progresso advieram a sutileza da linguagem e a imagética. Como diz João Cabral de Melo Neto, num belo poema: “A pele do silêncio / pouca coisa arrepia”.

Hoje a publicidade é “um sistema organizado de persuasão e satisfação, funcionalmente similar aos sistemas mágicos em sociedades mais simples, mas estranhamente coexistindo com uma tecnologia científica avançada”, lê-se no ensaio “Publicidade: o sistema mágico”, in: Cultura e materialismo, de Raymond Willians. A magia supre a falta de respostas negociadas com a morte, a solidão, a frustração, a crise de identidade. O estatuto de “cidadão” cede ao de “consumidor”, que substitui o de “usuário”. Somos os canais de escoação do produzido para o mercado. Condição que subsiste ao protesto por bens coletivos (escolas, hospitais). Temas que mostram autonomia do poder econômico e do poder político para uma tomada de deliberações na sociedade.

Arte e ciência

Custou arrumar a bagunça. O estilo usual era o dos “classificados”. O charlatanismo para combater o coronavírus equivaleu aos “estimulantes reais contra o ar infecto”, na epidemia de peste bubônica (1665-1666), na Inglaterra. Propagandas sobre dentifrícios que “usados, os usuários não são jamais acometidos por dores de dente”, trezentos anos atrás, permaneciam ainda nos anúncios televisivos da British Dental Association, à época em que os Beatles aprendiam os acordes. As entidades de publicitários selaram a transição da publicidade para uma profissão, aproximando-a da psicologia, da sociologia e do marketing. A publicidade se descobre uma arte e ciência.

O curioso é que raros produtos de origem fabril se valeram da publicidade, no início. Esta demorou a ser acolhida com suas galerias artísticas (os bunners). O gosto e as urgências da comercialização andavam em lados opostos. A publicidade contemporânea nasce na volumosa campanha publicitária da Imperial Tobacco Company que, em 1901, ofereceu uma soma fabulosa por oito páginas do The Star. O periódico aceitou entregar quatro, um “recorde mundial”, para imprimir “o anúncio mais caro, colossal e convincente nunca publicado em jornal, em todo o mundo”. O volume de entradas desde então se converteu na lição elementar de campanhas publicitárias.

Para chamar a atenção, se utilizava nos cartazes a letra cursiva, o negrito e o asterisco, mais tarde as ilustrações da espuma milagrosa que servia para afiar a lâmina de barbear. Anunciantes recorriam a trapaças e a mentiras. Pós-revolução industrial, a poluição visual das cidades cobriu as ruas com as estampas do livre mercado. Porções, sabonetes e itens do quilate coloriram a paisagem urbana. E a luz de neon, the sound of silence, padronizou as noites de Norte a Sul.

Dissimulação

Durante a Primeira Guerra havia propagandas “Papai o que Você fez na Grande Guerra”. Um poster dizia que o homem que desapontasse o seu país desapontaria igualmente sua namorada ou esposa. Pressões do campo de batalhas e da economia enfatizavam as angústias. O existencialismo captou o espírito do tempo filosoficamente. Na versão autoritária havia que controlar e reprimir a liberdade dos indivíduos para fazer escolhas. Chantagens e falsas promessas receberam uma maquiagem, com ares de modernismo. A subjetivação da interlocução e a decodificação das emoções com vistas a uma potencialização dos lucros estendia os seus tentáculos sobre as almas.

O que não mudou na travessia entre os séculos foi o método de vender as ilusões. Exceto que, agora, se vende de uma bebida a um partido político. O empresariado aderiu à lógica dissimuladora. À medida que a sociedade adapta-se totalmente às massas, a publicidade pede que integremo-nos totalmente nela. A reciprocidade é falsificada. Nesse sentido, o fetichismo da mercadoria, que é um atributo do valor de troca, não de uso, foi superado pelo valor do sígnico.

“Da informação, a publicidade passou à persuasão, depois à persuasão clandestina, visando agora o consumo dirigido, amedrontando-nos com a ameaça de consumo totalitário. O discurso publicitário dissuade e persuade, daí parecer que o consumidor é senão imunizado, livre da sedutora mensagem publicitária”. Com efeito, “se a publicidade não persuade o consumidor sobre a marca, o faz sobre coisa mais fundamental à ordem da sociedade inteira”, observa Jean Baudrillard em “Significação da publicidade”, in: Teoria da cultura de massas, organizado por Luiz Costa Lima. A reflexão, é dos anos 1970; algoritmos da inteligência artificial reinventaram as regras do jogo.

Consciências

No Brasil, a campanha presidencial de 1989 é a primeira no sistema nacional de telecomunicações. A vitória do parceiro da famosa emissora de TV, em Alagoas, não surpreende. O país é permeado pela propaganda política em novelas, nos noticiários, nas jornadas esportivas. Aqui, firmou-se uma aliança entre publicitários, jornalistas, difusores ditos independentes e donos da opinião pública – o “coronelismo eletrônico”. Na atual legislatura, vinte deputados federais e seis senadores possuem ligações midiáticas diretas, outros têm relações familiares. A publicidade se desenvolveu vendendo bens na economia, modernamente vende pessoas na cultura mercadológica. Fez-se indissociável do modo de produção no capitalismo. Os objetos não se bastam; provam-no as reiteradas associações com predicados de beleza, de virilidade, de sensualidade e de status social.

O “cenário de representação política é construído na e pela mídia e vai muito além das campanhas eleitorais, no que se refere à duração e ao conteúdo”, sublinha Venício A. Lima, no artigo sobre “A propaganda eleitoral e partidária e as eleições”, in: Mídia, eleições e democracia, coordenado por Heloiza Matos. O consolo é que na semiótica corporal Lula da Silva evoluiu bastante. No debate final da candidatura debutante, editado capciosamente pela Rede Globo, o ex-metalúrgico relevou os ataques baixos do oponente e estendeu o braço para cumprimentá-lo (erro); o corpo denunciou o colonizado. Desta vez, recusou ficar perto do colonizador ao debater (bingo).

Concluindo. Primeiro, o problema da publicidade não é a má qualidade dos anúncios, ao contrário do que sugerem os aristocratas que subestimam o talento das agências. Segundo, a publicidade retrata um fracasso social em achar informações confiáveis e espaços de participação e decisão, no Estado de direito democrático. Terceiro, os anúncios que fantasiam a sociedade de consumo e a vinculam aos princípios da felicidade e da solidariedade reforçam as desigualdades realmente existentes. Quarto, a publicidade é estratégica para as ações educacionais (respeito às leis do trânsito, aviso sobre catástrofes climáticas) e sanitárias (calendário com locais de vacinação, infantil e adulta); mas desorganiza as consciências para mudanças estruturais, o que só é possível através da práxis política com base num programa transformador para desalienar a vida privada e transcender a mercantilização de tudo e todos. Aí, contam os partidos e movimentos sociais.

Formulações políticas que congelam a democracia no estágio formal-procedimental são reles peças publicitárias do regime de injustiças distópicas. A luta ideológica contra-hegemônica por uma nova sociedade não se encerrou com a derrota do neofascismo, em 8 de janeiro.

Luiz Marques é docente de Ciência Política na UFRGS, ex-Secretário de Estado da Cultura no Rio Grande do Sul

*Forum 21

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Quase 14 mil vidas perdidas e Bolsonaro quer o suor dos trabalhadores pobres, suas mortes não interessam

Os dados da OMS apontam que, dos 193 países membros da organização, 81 gastam mais com Saúde do que o Brasil, proporcionalmente ao orçamento público.

A pandemia escancarou a crueldade desse capitalismo de Paulo Guedes e Bolsonaro que se declara desobrigado do destino dos pobres.

A concentração de renda no Brasil é uma coisa estúpida.

Com a chegada de Bolsonaro ao poder, isso ficou ainda mais estúpido.

Bolsonaro fez do isolamento social batalha política que, agora, ele chama de guerra.

A precariedade dos serviços públicos de saúde não interessa a ele. O colapso nos hospitais e as mortes em consequência disso, menos ainda.

Brasil teve na últimas 24 horas mais 844 mortes pela COVID-19 e óbitos já chegam a quase 14 mil.

Quase 14 mil vidas perdidas e Bolsonaro quer o suor dos trabalhadores pobres, suas mortes não interessam.

o Brasil registra até agora 202.918 casos confirmados, um crescimento de 13.944 novos casos em 24 horas.

Trata-se do recorde de confirmações em 24 horas, superando a marca de quarta-feira (13), quando foram registrados 11.385 novos casos.

Presidente da Mercedes Benz para Brasil e América Latina, Philip Schiemer, afirma que o Brasil perdeu a credibilidade e que alta do dólar é reflexo disso, pois não há explicação econômica. ‘Falta alguém que pense no Brasil’, lamenta o dirigente.

 

*Da redação

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José Dirceu: Os desafios da esquerda no pós-pandemia

Os desafios para a esquerda socialista são derrubar a velha ordem, reler o Brasil e o mundo de hoje para formular uma teoria revolucionária que atenda às demandas econômicas, sociais e culturais atuais. Paralelamente, temos que levar a luta diária, em todas as frentes, contra o bolsonarismo e as classes sociais e políticas que o apoiam e temos que disputar com a oposição liberal os rumos do país.

Em seu pronunciamento no 1º de Maio, Lula, mencionando o que vem sendo dito pelos principais jornais econômicos – que o capitalismo está moribundo -, afirmou que “está mãos dos trabalhadores a tarefa de construir esse novo mundo que vem aí”.

Num primeiro momento, notei, em seu discurso, omissões importantes: não mencionou a crise política institucional, o Fora Bolsonaro, o impeachment, a luta política. Logo depois me dei conta de que Lula estava nos convocando a pensar o pós-pandemia e a enfrentar uma tarefa postergada por nós, petistas e socialistas: qual a alternativa ao capitalismo como ele realmente é hoje, no mundo e no Brasil?

A primeira lembrança que me veio foi da lição que aprendi nos bancos escolares na juventude, lutando contra a ditadura: sem uma teoria revolucionária não há revolução e o dever de todo revolucionário é fazer a revolução. Sempre me guiei pela realidade, pelos fatos. Minha geração cresceu sob o signo da revolução cubana e da imagem do Che e Fidel, da agressão criminosa e genocida do império norte-americano contra o povo vietnamita, das revoltas estudantis e operárias na Europa e no Brasil, da luta pelos direitos civis dos negros estadunidenses em plena segunda metade do século XX.

Se 1968 foi o ano da rebeldia e da luta contra o autoritarismo, o racismo, o militarismo, também foi o da invasão da Tchecoslováquia, do começo da crise do então chamado campo socialista e do próprio socialismo – ainda em sua infância, se comparado com o capitalismo.

Globalização e crise

Nos últimos cem anos vivemos crises, depressões, duas grandes guerras mundiais e dezenas de guerras pela independência e civis, grandes catástrofes e desastres naturais e o capitalismo sobreviveu e se fortaleceu. A globalização parecia um deus invisível e onipotente, devastou as conquistas sociais de décadas de lutas dos trabalhadores, o chamado estado de bem estar social, suas organizações e, o mais grave, suas ideias, ideais e cultura.

Parecia o fim de uma época, a das revoluções sociais, mas o tempo provou o contrário. Nunca houve tanta instabilidade política e social, tantas guerras de agressão e ocupação, tanta pobreza e miséria. A desigualdade cresceu inclusive nos países centrais do capitalismo, destaque para os próprios Estados Unidos. Incapaz de resolver suas contradições, o capitalismo revelou suas entranhas e natureza com o crescimento do nacionalismo, do autoritarismo, do racismo, dezenas ou no máximo centenas de ricos passaram a controlar a riqueza mundial.

A pandemia da Covid-19 apenas veio expor as misérias e a ideologia do capitalismo, sua falta total de compromisso com suas próprias ideias, seja porque elas eram falsas ou porque sua natureza o leva à barbárie para sobreviver como nos ensina as experiências do colonialismo e do nazismo.

No Brasil também as radicais mudanças no mundo do trabalho provocadas pelo avanço tecnológico e pela reorganização da produção serviram de pretexto para a agressão aos direitos sociais e às conquistas dos trabalhadores. Mais uma vez o custo da crise do capitalismo recaiu sobre a classe e a submeteu, como nunca, ao fantasma do desemprego, impondo a falsa opção de trocar o emprego pela redução dos direitos, ou seja, da cidadania em benefício das empresas e, principalmente, dos bancos e do capital financeiro.
Desmonte do Estado

O ataque ao Estado como indutor do crescimento e ao Estado de Bem Estar Social chegou junto com ideias totalitárias envoltas em uma retórica nacionalista e religiosa — destruir para construir foi a máxima do presidente eleito.

Não vivemos mais sob o capitalismo dos anos 1980/1990. Mudou o modo de produção, mudaram as classes sociais, mudou o mercado de trabalho sob o impacto das inovações tecnológicas e da hegemonia do rentismo. Todo e qualquer projeto de desenvolvimento nacional foi banido e o país perdeu a autonomia sobre sua moeda, câmbio e capitais.

O ciclo político e histórico que nos deu origem não existe mais, com o agravante de que mesmo as grandes empresas de capital nacional abandonaram todo e qualquer projeto de autonomia e independência, já que a maior parte das elites sempre foi entreguista. E as Forças Armadas, que desde a redemocratização vinham observando seu papel constitucional, viram o campo aberto para abraçar o autoritarismo político-militar agora casado com o fundamentalismo religioso e o alinhamento com os Estados Unidos.

As experiências históricas de socialismo no mundo e o que vivemos em nosso país — as reformas de base no governo Jango e os programas sociais nos governos do PT — devem ser reavaliados. Devemos retomar o fio da nossa história. Não haverá soberania e autonomia sem controle da nossa moeda e câmbio, dos capitais.

A experiência trágica do coronavírus provou como nosso país está desarmado e exposto à dependência externa em áreas estratégicas e mesmo de segurança nacional. Será necessário rever nossas inserção nas cadeias globais de valores e restaurar nossa soberania em áreas estratégicas como a de fármacos para dar um exemplo.

Nossas tarefas

Devemos restaurar o papel do Estado como indutor e condutor do desenvolvimento nacional mais ainda na pós-pandemia. Os bancos públicos e as empresas estatais no setor de energia, petróleo e gás são decisivas para a retomada do crescimento.

Nosso país tem grandes vantagens comparativas na agroindústria e na produção de energia, um dos maiores mercados internos do mundo e uma demanda de infraestrutura social e econômica. Mas o subconsumo, produto da concentração de renda e riqueza, impede o crescimento. Para reverter este quadro, será necessária uma mudança radical na política monetária e fiscal do país, com a redução dos juros a níveis internacionais hoje negativos (nossa taxa média real de juros é de 32% para uma inflação e uma taxa Selic de menos de 4%). Para grande parte da nossa dívida interna ainda pagamos juros de 10%, o que além de um escândalo é praticamente uma expropriação da renda nacional de famílias e empresas.

 

 

*José Dirceu/Nocaute

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Mundo

A Nova York que choca o mundo pelo recorde de mortes com a Covid-19 e a crueldade com os pobres

A cidade de Nova York encabeça a lista das cidades com maior quantidade de bilionários no mundo e com o maior número de vítimas do coronavírus.

84 bilionários, cujo patrimônio líquido combinado de US$ 469,7 bilhões, é maior do que o PIB da Áustria.

É o mesmo lugar em que o mundo, perplexo, assiste ao enterro de pobres em enormes valas comuns, mostrando que a barbárie capitalista e o conceito de civilização estão cada dia mais distantes, separados pela ganância e pelo egoísmo doentio.

A maior cidade dos EUA é sede das duas maiores bolsas de valores do mundo e abriga a maioria dos bilionários nos últimos cinco anos e tem uma das piores políticas de segregação social que a selvageria liberal pode produzir.

Sem assistência médica, por falta de um sistema público de saúde, os EUA, mas sobretudo Nova York, escancaram a incapacidade do sistema financeiro em conviver com quem está fora de seu mecanismo desumano.

É louco, porque o homem criou um sistema em que o próprio ser humano passou a não ter importância nenhuma e sim o mercado, ou seja, tudo para o mercado e pelo mercado.

Aquilo é um campo de extermínio de quem não tem dinheiro e, portanto, merece morrer da forma mais desumana e bárbara.

Isso é o capitalismo e seus costumes mostrando que, do fanatismo capitalista à barbárie, não há mais do que um passo, e a barbárie sempre terá mais força.

A capital mundial da “liberdade”, com a pandemia do coronavírus, revela que ela só existe como slogan. Quem não tem dinheiro, não tem liberdade nenhuma. Ao contrário, Nova York é brutal com os pobres. Seu fundamentalismo é o consumo e nada deve sobreviver se não for para impulsioná-lo.

Na verdade, o consumo é uma superstição mais forte do que a religião e seu fundamentalismo justifica todas as barbáries em nome do deus mercado.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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No Brasil, não são as chuvas que causam tragédias, mas a pobreza com a maior concentração de renda do mundo

Nossos parasitas são mais vorazes que os parasitas dos outros.

Foi essa a conclusão que chegaram as jornalistas internacionais que debateram o enredo do premiadíssimo filme Sul-coreano “Parasita”.

A elite brasileira, em nome da ganância, parece ter perdido completamente a vergonha, deu um bico nos biombos cordiais e, hoje, nem a filantropia dos sábados, a burguesia quer mais praticar tal a mentalidade selvagem adotada pela casta tropical. Tudo rigorosamente abonado pelas famosas instituições que “estão funcionando”, capturadas por privilégios e balangandãs que a elite, através de seus comandados dentro dos corredores políticos lhe oferece, sobretudo militares da alta patente e os mais graduados togados do aparelho judiciário do Estado brasileiro.

O que se viu depois do golpe em Dilma foi um acelerado processo de decomposição de um mínimo de civilidade que o Brasil mantinha por conta das políticas sociais de Lula e Dilma, que herdaram um país ainda pautado pela visão civilizatória da escravidão.

É certo que o que Lula fez na história recente do país foi absolutamente revolucionário, pois não só incluiu os pobres no orçamento do governo, como expôs ao mundo o tamanho da miséria que o Brasil ostentava até 2002.

É bom lembrar a estrondosa histeria das classes dominantes com a primeira entrevista de Zé Dirceu no Canal Livre, na Bandeirantes, quando expôs um projeto de poder de 20 anos do PT em que se pretendia zerar o déficit habitacional dos mais pobres, erradicar a miséria e a fome, chegar ao pleno emprego, valorizar os salários, entre outras medidas de transferência de renda para dar um mínimo possível de equilíbrio ao país.

Ali ficou claro, pelo ódio das palavras contra Zé Dirceu que a tragédia da miséria no país é um projeto da elite, não um acaso.

A elite brasileira nunca foi sequer liberal como se classifica. A nossa história mostra que o capitalismo brasileiro sempre foi patrimonialista, ou seja, sempre se apoderou do Estado e de sua arrecadação, sempre foi extrativista e, principalmente especulativo, como vemos agora.

Quando a elite fala em desenvolvimento do Brasil, o faz de forma lacônica e não desenvolve qualquer raciocínio no sentido do aumento das atividades produtivas. Ela passa a vida inteira choramingando impostos que normalmente surrupia do erário. Impostos pagos, na maioria das vezes, pelo povo através do consumo cotidiano.

O resultado das imagens trágicas que nos aparecem com as chuvas, mostram que 99,9% dos atingidos pelos desastres são pobres, miseráveis, subcidadãos que, como tal, sobrevivem de um trabalho precarizado, tendo que morar em lugares de extremo risco, sem a menor estrutura para a sobrevivência de um ser humano, o que revela que as tragédias trazidas pelas chuvas, que não atingem as classes média e alta, são, na verdade, promovidas pela ganância e pelo desprezo humano.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Vídeo: Depois dos nossos militares serem chacota na França, The Guardian ridiculariza submissão de Bolsonaro a Trump

O jornal britânico The Guardian ridicularizou, em sua edição deste sábado (8), o fato do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) publicar um vídeo de si mesmo assistindo ao discurso do presidente americano Donald Trump.

De acordo com o jornal, “mais de 4.000 milhas ao Sul, no coração do próprio pântano político do Brasil, Bolsonaro se sentou para assistir – filmando-se vendo o discurso de Trump durante uma hora e oferecendo comentários ocasionais para a câmera, saudando seu herói norte-americano ou repreendendo inimigos na política e na imprensa”.

O jornal cita que críticos, tanto de direita quanto de esquerda “ridicularizaram as transmissões Trumpianas de Bolsonaro – que duraram 73 minutos – como um desperdício de tempo presidencial”.

Veja trechos da reportagem abaixo:

Ele há muito se autodenomina um Trump tropical – um duro trabalhador encarando a carnificina brasileira.

Mas, nas últimas semanas, o presidente de extrema direita do Brasil, Jair Bolsonaro, elevou sua fixação com o líder dos EUA a um novo ponto, fazendo uma transmissão ao vivo dele mesmo no Facebook enquanto assistia ao seu ídolo político em ação.

A mais recente aparição foi nesta quinta-feira enquanto Trump celebrava sua absolvição pelo Senado no processo de impeachment com um malicioso e vulgar discurso à nação.

Mais de 4 mil milhas ao sul, no coração do Brasil, Bolsonaro se sentou e filmou a si próprio assistindo à íntegra do discurso de uma hora feito por Trump, fazendo alguns comentários para a câmera, saudando seu herói norte-americano ou repreendendo inimigos na política e na imprensa.

Os críticos ridicularizaram as transmissões Trumpianas de Bolsonaro – a última das quais durou 73 minutos – como um desperdício de tempo presidencial.

O senador Humberto Costa (PT-PE) alertou que os brasileiros pagariam um preço alto pela adoração de Bolsonaro. “Não basta ser um capacho. É preciso mostrar-se um capacho ”, twittou Costa.

Mas Brian Winter, editor-chefe do Americas Quarterly, viu método no que muitos chamam de reverência.

“Na verdade, acho que são mensagens políticas sérias e eficazes. Ouvir Trump envia uma forte mensagem simbólica à base de Bolsonaro de que ele também está afastando o país do socialismo.

“Muitos brasileiros olham para isso e veem traição à soberania nacional. Mas pelo menos um terço do país analisa e entende o que ele quer dizer e está muito feliz com isso ”, acrescentou Winter.

“Na mente dos seguidores de Bolsonaro, os EUA significam capitalismo, prosperidade e segurança pública – a capacidade de ter uma arma, uma economia em crescimento. Eu acho que é realmente eficaz com a base dele.”

 

 

*Com informações da Forum

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O odor da fúria contra o capitalismo mostra o colapso do sistema

Incêndios em Santiago, Quito, Barcelona ou Paris. Milhares de pessoas tomando as ruas de Londres, Bagdad, o centro de Argel ou as praças de Hong Kong.

Visualmente, os manifestantes não se parecem. Uns são brancos de olhos azuis. Outros, indígenas, árabes ou asiáticos. Mas em castelhano, em inglês, em árabe ou em catalão, surpreende a semelhança dos cartazes, das palavras de ordem.

Acima de tudo, surpreende o fato de que todos esses locais estarem vivenciando o mesmo fenômeno: a fúria de seus cidadãos contra as autoridades, algumas delas legitimamente estabelecidas.

Nos últimos dias e semanas, protestos se proliferaram pelo mundo. Não foi algo organizado na Internet ou no Whatsapp. Nem convocado por alguma adolescente escandinava. Certamente, cada uma dessas cidades tem sua história, seu motivo para protestar, seu jogo de poder e manipulação nos bastidores de cada fogo.

Mas seja qual for a base da eclosão quase simultânea dessa ira, está na hora de se perguntar: o que tem levado milhares de pessoas a tomar as ruas de forma, algumas de maneira tão violenta?

Uma pista pode estar na suspeita cada vez mais clara de que ainda estamos vivendo as consequências da pior crise do capitalismo e o colapso do sistema financeiro de 2008. Unidos, os países do G-20 estabeleceram um plano e resgataram a economia internacional. Para isso, injetaram ao longo de anos um total de US$ 10 trilhões.

Governos explicaram aos seus cidadãos que era o momento de fazer esforços. De trabalhar mais, de pagar mais impostos, de reduzir os sonhos e de adiar de forma indefinida planos. A promessa: o resultado seria positivo para todos.

Mas, uma década depois, a história mostra que não foi bem assim. Os banqueiros voltaram a ganhar, os bancos voltaram a ter lucros, a elite econômica voltou a ver resultados e as bolsas voltaram a festejar.

Policial usa bastão para deter manifestante pelo pescoço durante protestos em Concepción, no Chile - Juan Gonzalez/Reuters

Enquanto isso, a desigualdade social explodiu. Os ricos ficaram mais ricos. E os pobres foram avisados de que terão de aguardar gerações para subir na escala social.

De forma cada vez mais constante, instituições que por anos monitoraram a evolução econômica do mundo estão chegando à constatação de que o resgate organizado pelos bancos centrais aprofundou o mal-estar nas democracias. A última a chegar a essa conclusão não foi o Foro de São Paulo. Mas o oráculo do capitalismo: o Fórum Econômico Mundial que, a cada ano, reúne a elite mundial em Davos.

Em sucessivas eleições, a esperança era de que o novo grupo no poder dera um basta nessa trajetória. Todos fracassaram: esquerda e direita.

Agora, governos descobrem que o copo transbordou. Algumas dessas autoridades sabem que a fatiga imposta sobre os cidadãos é uma das maiores ameaças em anos. Outros, parecem que ainda não despertaram. No Chile, o presidente Sebastian Piñera foi flagrado numa pizzaria, enquanto um estado de emergência era decretado. A surdez não será perdoada.

No Chile ou na França, na Espanha ou no Equador, o que está em jogo não é a elevação de um ou outro imposto e nem a sobrevivência de um ou outro governo.

Denunciar a suposta irracionalidade da violência – certamente condenável – de grupos mais radicais pode ajudar a apagar o fogo. Mas o odor da fúria continuará. E essa fúria manda um recado explícito: o atual sistema não é sustentável.

 

 

*JamilChade/Uol