Com custo médio de R$ 1 milhão, igrejas abertas pelo pastor já são o dobro de 2018 e 2019 somados.
Enquanto apresentava a primeira filial de sua Advec (Assembleia de Deus Vitória em Cristo) em Taboão da Serra (na Grande São Paulo), no dia 22 de julho, Silas Malafaia antecipava o que esperar de outro lançamento marcado para dali a dois dias, em outra cidade paulista.
O templo de Sorocaba, dizia o pastor carioca, ficava na “casa de festas mais top de Sorocaba”. Era uma vez uma casa de festas, porque a antiga sede da Soriá Eventos, que abrigou o Saúde e Bem-Estar com Óleos Essenciais e outros 3.628 eventos corporativos, mais uma penca de casamentos e festas de debutante, virou igreja.
Mais uma da safra Advec, que neste um ano e meio da pandemia da Covid-19 inaugurou o dobro dos nove espaços abertos em 2018 e 2019 somados. Ao menos outras três estão previstas para abrir até o fim do ano, fora a ampliação de outras que já existem.
Um investimento que, como o próprio contou aos fiéis em Taboão da Serra, demanda “dindim forte”, porque ele não quer “fazer coisa esculhambada para Deus”. Malafaia calcula gastar uma média de R$ 1 milhão por inauguração, tendo inclusive reaproveitado templos de outras igrejas que encerraram as atividades durante a crise sanitária. Ou seja, só em 2020 e 2021, seriam mais de R$ 20 milhões em jogo.
“Não vou dizer todos para não pensarem que eu me acho a última Coca-Cola do deserto, mas a maioria dos pastores pararam e devolveram propriedades”, diz. Os pastores que mais penaram com a perda de receitas de março de 2020 para cá, diz, são os que não tinham a cultura de ofertas eletrônicas.
“Nossa expansão se deu pelo medo de muitos. E também, não vou aqui dar uma de falso humilde, a gente tem credibilidade. Tenho uma rede social [somando Instagram, Facebook e Twitter] com mais de 8 milhões de pessoas.” É também um dos pastores mais alinhados ao presidente Jair Bolsonaro.
A fama do pastor vem dos tempos de televangelista (foi um dos pioneiros na TV) e, hoje em dia, sobretudo das redes sociais.
O “dindim forte” precisa vir de algum lugar. A sede da Advec, na zona norte do Rio de Janeiro, tem 120 máquinas para passar cartão de crédito ou débito, já largamente usadas por fiéis em vez de dinheiro vivo.
Quando os cultos presenciais estavam vetados, ou mesmo quando foram autorizados mas com capacidade limitada, o repasse virtual de dinheiro já estava consolidado. Durante o período do lockdown, os dízimos (10% dos proventos) e ofertas (quantias dadas espontaneamente) não caíram muito porque, segundo Malafaia, 85% da arrecadação é feita por via eletrônica.
O Pix, modalidade online de transferência que estreou em novembro, já com a pandemia em curso, também ajudou a manter o fluxo financeiro.
A abertura de novas igrejas, a maioria no interior de São Paulo e do Rio, é uma amostra bem-sucedida do império religioso de Malafaia. Há outras menos exitosas. Em 2019, a Central Gospel, empresa de Malafaia e sua esposa, a também pastora Elizete, entrou com um pedido de recuperação judicial no valor de quase R$ 16 milhões.
Na época, ele culpou a crise financeira “causada pelo PT” pela situação. Diz agora que fechou acordo com os credores e “vai quitar [o que deve] e sair disso, se Deus quiser”.
Para abastecer o caixa para novos templos, o pastor conta que três vezes por ano, “geralmente em abril, agosto e dezembro”, promove uma campanha de recursos extras para as obras.
Malafaia diz que as pessoas entregam seu dinheiro porque sabem aonde ele vai parar. “Esse negócio [de falar] que evangélico é um monte de babaca que faz o que pastor manda… A igreja hoje tem todas as classes sociais. Tenho pobre, classe média, rico, professor universitário, semianalfabeto”, afirma.
Dificilmente ergue um prédio do zero. A praxe é alugar imóveis e reformá-los para que eles acomodem uma Advec. “O que gasto numa igreja, com todo o respeito, dava para fazer umas quatro da Mundial, umas quatro da Universal”, afirma Malafaia, citando duas concorrentes de linhagem neopentecostal, a Igreja Mundial do Poder de Deus e a Igreja Universal do Reino de Deus.
“Se eu fizesse igreja nesse sistema da Mundial, ‘tem lá uma salinha do pastor, uma da tesouraria e acabou’… Ah, minha filha, eu teria aberto umas 500, 600 igrejas.”
Abriu algumas dezenas, de médio a grande porte. A Advec existe desde 1959, mas sua expansão começou pra valer quando Malafaia chegou à liderança, posto herdado do sogro, o pastor José Santos, morto em 2010. A marca evangélica conta hoje com 150 templos, 2% dos 8.000 que ele diz querer abrir no Brasil.
Malafaia prefere casas maiores, para pelo menos 400 pessoas. “Naquela época [a do sogro] se fazia igrejas pequenas com cadeira de plástico, ventilador, som de quinta categoria. Cheguei com ar condicionado, telas de Led, som importado. Isso é muito dinheiro.”
Como disse naquela noite em Taboão, a ideia é povoar o Brasil com as “noivas de Cristo”, uma definição teológica para as igrejas, suas “agências do céu na Terra”. Haja dindim.
*Anna Virginia Balloussier/Folha
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