“As coisas se conectam: Abin paralela e milícias digitais”, diz um investigador da Polícia Federal.
Nas próximas semanas, os holofotes se voltarão, segundo Robson Bonin, da revista Veja, para Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro e filho de Jair Bolsonaro (PL). Ele é alvo de investigações no Supremo Tribunal Federal (STF) em duas frentes principais: seu suposto envolvimento com milícias digitais e sua participação em uma estrutura clandestina apelidada de “Abin paralela”. Estas investigações são conduzidas pela Polícia Federal (PF).
A “Abin paralela” refere-se a um esquema clandestino de monitoramento, alegadamente organizado durante o governo de Jair Bolsonaro na Agência Brasileira de Inteligência. Este esquema teria utilizado recursos do serviço secreto brasileiro para espionar autoridades públicas, adversários políticos e outras figuras de interesse do Planalto, tudo sem a devida autorização judicial.
O relatório da PF sobre esse esquema está em fase final de revisão e será encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes no STF em breve. Um investigador da PF afirmou com segurança: “pegamos ele”, em referência às provas que ligariam Carlos Bolsonaro ao esquema.
Carlos Bolsonaro é também acusado de ter envolvimento com milícias digitais — grupos organizados que utilizam a internet para espalhar desinformação e atacar adversários políticos. De acordo com a PF, há uma interconexão clara entre a operação das milícias digitais e a “Abin paralela”. “As coisas se conectam: Abin paralela e milícias digitais”, comentou o investigador.
Em janeiro deste ano, Carlos Bolsonaro foi alvo de mandados de busca. Com a comprovação de seu possível envolvimento com o uso indevido de ferramentas de geolocalização para espionagem ilegal, o vereador poderá enfrentar uma série de acusações criminais
Segundo as investigações, ex-presidente foi comunicado da operação comercial e deu aval para parte dela.
A Polícia Federal vai incluir no relatório final do inquérito das joias provas que demonstram que Jair Bolsonaro tinha conhecimento das operação ilegal de venda e recompra nos Estados Unidos de joias que ele recebeu quando era presidente, informa a colunista Bela Megale, do jornal O GLOBO.
O material mostrará que Bolsonaro foi comunicado da operação comercial e deu o aval para parte dela. O caso será encerrado nos próximos dias e o ex-presidente será indiciado. Além dele, integrantes do núcleo duro do ex-presidente devem ser indiciados, incluindo assistentes e advogados.
Após esse passo, a Procuradoria-Geral da República vai avaliar o material e decidir se apresenta denúncia contra Bolsonaro e os demais acusados.
As últimas diligências desta investigação foram realizadas em maio, nos Estado Unidos. Na ocasião, os investigadores conseguiram imagens inéditas e entrevistas que confirmam detalhes sobre a venda e recompra ilegais das joias que compunham o chamado “kit ouro branco”. O “kit ouro branco“, conjunto de joias recebido por Bolsonaro durante sua visita oficial à Arábia Saudita, em outubro de 2019, contém anel, caneta, abotoaduras e um rosário islâmico (“masbaha”), todas peças cravejadas de diamantes.
O Tribunal de Contas da União decidiu que as joias comercializadas pela assessores de Bolsonaro com seu aval pertenciam ao acervo da Presidência e não ao capitão reformado. Com isso, a operação foi ilegal. Em meio às investigações do caso, assistentes do ex-presidente retornaram aos EUA para recomprar os itens vendidos.
O inquérito do golpe também está em fase final. A investigação, que é considerada a mais grave contra Bolsonaro, deve ter o relatório final apresentado em julho ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Responsável pelas investigações relacionadas a Jair Bolsonaro (PL), o subprocurador Carlos Frederico Santos disse que não segue a metodologia da Lava Jato e classificou as informações da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, como “narrativas”.
“Eu investigo para comprovar. Não posso partir de ilações. Isso foi o jogo da Lava Jato. Eu não trabalho como o pessoal da Lava Jato. Eu trabalho com provas concretas para que as pessoas sejam denunciadas com provas irrefutáveis”, disse Santos ao jornal O Estado de S. Paulo.
Carlos Frederico é o responsável por acompanhar os processos no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os ataques terroristas do dia 8 de janeiro e o esquema de apropriação ilegal de joias que deveriam ser incorporadas ao patrimônio do Estado brasileiro, mas que Bolsonaro tentou se apropriar.
A delação de Mauro Cid, aceita pela Polícia Federal com o aval do ministro do STF Alexandre de Moraes, é considerada frágil por Carlos Frederico. Ele aponta a ausência de detalhes como localidade e espaço-tempo dos crimes delatados e ressalta a necessidade de corroborar as informações. “Isso aí tem que ser corroborado. Pedi uma série de diligências que estão em curso”, afirmou o subprocurador na entrevista.
“Eu só posso dizer que há um indicativo quando eu tiver provas concretas. Aí pode ser Pedro, José, Jair (os responsáveis), não importa. Para mim não importa quem seja, preciso de provas concretas a respeito disso. Para saber quem fomentou esses atos todos. A pessoa e o grupo de pessoas que despertaram o 8 de janeiro”, destacou Santos.
A Polícia Federal estabeleceu como objetivo apresentar os relatórios finais até dezembro deste ano.
A investigação conduzida pela Polícia Federal está se aproximando de uma etapa decisiva no caso que implica o ex-presidente Jair Bolsonaro em uma alegada organização criminosa, segundo informa a jornalista Bela Megale, no Globo. As evidências coletadas até agora reforçam a suspeita de que esse grupo atuou em várias frentes, desde a ameaça à democracia até a obtenção indevida de benefícios através do aparato governamental, diz o 247.
Nesta quinta-feira, um marco significativo será alcançado com os depoimentos simultâneos de oito investigados, incluindo Jair Bolsonaro e sua esposa, Michelle Bolsonaro. O objetivo desses interrogatórios é elucidar o papel desempenhado por cada indivíduo nessa organização criminosa e esclarecer os crimes cometidos, de acordo com fontes próximas à investigação.
De acordo com informações vindas da Polícia Federal, há provas sólidas que indicam que esse mesmo grupo criminoso operava de maneira coordenada, com funções claramente definidas em todos os casos sob investigação. Um dos principais colaboradores desse núcleo é Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que está prestando seu terceiro depoimento em seis dias, fornecendo informações cruciais aos investigadores. A Polícia Federal estabeleceu como objetivo apresentar os relatórios finais dos inquéritos envolvendo Bolsonaro e seu círculo íntimo até dezembro deste ano.
O corregedor nacional de Justiça, Luis Felipe Salomão, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) o compartilhamento das provas da Vaza Jato para utilizar o material na inspeção que a Corregedoria Nacional de Justiça (CNJ) realiza na 13ª Vara Federal de Curitiba e no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
Ambos eram os responsáveis por processos da Lava-Jato. O TRF-4 ficou conhecido por referendar praticamente todas as decisões de Curitiba. As informações são da colunista Bela Megale, do GLOBO,
O material da Vaza Jato inclui as mensagens obtidas por hackers trocadas entre procuradores da operação e também Sergio Moro, quando foi juiz. Salomão solicitou, ainda, acesso a uma reclamação relacionada ao operador financeiro Tacla Duran.
O próprio corregedor nacional irá pessoalmente para Curitiba, na próxima sexta-feira, para colher depoimentos. Toda documentação será usada na correição que fiscaliza a 13a Vara e o TRF-4.
Em março, ao prestar depoimento ao juiz Eduardo Appio, hoje afastado da 13ª Vara Federal de Curitiba, Tacla Duran afirmou ter sido vítima de um suposto esquema de extorsão envolvendo Moro e mencionou o ex-procurador Deltan Dallagnol.
Em abril, uma decisão do desembargador Marcelo Malucelli acabou por restabelecer uma ordem de prisão preventiva contra Tacla Duran. A medida foi suspensa pelo STF. Malucelli é pai do advogado João Eduardo Malucelli, sócio do ex-juiz da Lava-Jato no escritório Wolff & Moro Sociedade de Advogados. Posteriormente, o desembargador pediu afastamento de ações ligadas a Tacla Duran.
Malucelli faz parte da Oitava Turma do TRF-4, alvo da inspeção. O colegiado é composto por magistrados que condenaram Lula e envolvidos da Lava Jato. Além de Malucelli, a turma é formada por Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz e Loraci Flores de Lima.
Na semana passada, envolvidos na correição estiveram na sede da 13a Vara de Curitiba, quanto no TRF-4, em Porto Alegre, onde ouviram três desembargadores. Também foram acessados sistemas e movimentações relativas a fases de processos da Lava-Jato.
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AS PROVAS QUE LIGAM MICHELLE BOLSONARO AO CAIXA 2 DA PRESIDÊNCIA
EX-PRIMEIRA-DAMA É SUSPEITA DE SE BENEFICIAR DE “RACHADINHA”
AS CONFUSÕES QUE FIZERAM FILHOS DE BOLSONARO SEREM EXPULSOS DO PALÁCIO
O MISTERIOSO SUMIÇO DAS PICANHAS E DAS “MOEDAS DA SORTE” DA RESIDÊNCIA OFICIAL
FUNCIONÁRIOS DENUNCIAM ASSÉDIO E PERSEGUIÇÃO COM AVAL DOS BOLSONAROS
Rodrigo Rangel E Sarah Teófilo*
As infiltrações no teto, os móveis terrivelmente deteriorados e o piso de jacarandá esburacado e sem manutenção são só a face aparente de uma fase do Palácio da Alvorada que, embora não tenha nada de áurea ou épica, a história não poderá jamais esquecer.
Para além dos já conhecidos estragos deixados para trás, nos quatro anos em que esteve à disposição de Jair e Michelle Bolsonaro, o prédio projetado por Oscar Niemeyer para ser a principal residência da Presidência da República do Brasil foi lugar de confusões barulhentas, assédio moral a funcionários e de transações financeiras pouco usuais que vão ao encontro das suspeitas de caixa 2 reveladas há duas semanas pela coluna e que, neste momento, estão sob investigação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Relatos de quem viveu o cotidiano do palácio nos últimos anos, documentos e outros registros inéditos, como gravações e mensagens de WhatsApp, revelam segredos do período em que a residência oficial foi ocupada pelos Bolsonaros e escancaram a diferença abissal entre o discurso público do ex-casal presidencial e o comportamento adotado longe dos holofotes, por detrás das vidraças do Alvorada.
Para esta reportagem, ao longo das últimas semanas entrevistamos vários funcionários do palácio, incluindo militares. Alguns aceitaram gravar depoimentos, desde que não tivessem suas identidades reveladas. Outros concordaram apenas em contar o que viram, sem registro em vídeo.
De cima a baixo na hierarquia do Alvorada, do restrito staff que servia à família até, literalmente, a turma que cuida dos gramados onde passeiam as emas, há histórias ilustrativas de um lado do poder que destoa – e destoa bastante – daquele que é exibido costumeiramente ao distinto público.
Histórias como as do pastor evangélico amigo de Michelle presenteado com o cargo de administrador do palácio que esculhambava os subordinados e ameaçava até suspender o lanche de quem ousasse questioná-lo — tudo, segundo ele próprio disse em uma reunião gravada às escondidas, com aval da então primeira-dama.
Há mais. Michelle, com alguma frequência, protagonizava brigas colossais com Carlos e Jair Renan, os filhos 02 e 04 de Jair Bolsonaro. Numa dessas confusões, na frente dos empregados, o 04 precisou ser contido pelo pescoço por um segurança.
Bolsonaro, em um dia de fúria, arrombou a adega do palácio – sim, o então presidente da República pôs abaixo, com o pé, a porta do cômodo onde fica guardado o estoque de vinhos da residência oficial.
Já nos estertores do governo, funcionários da confiança de Bolsonaro e de Michelle levaram embora caixas e mais caixas de picanha, camarão e bacalhau comprados com dinheiro público que estavam armazenadas na câmara frigorífica anexa à cozinha.
Ainda nos últimos dias de 2022, moedas jogadas por turistas no espelho d’água que enfeita a entrada do Alvorada foram “pescadas” e carregadas pelo “síndico” do palácio, também com autorização de Michelle – supostamente para serem doadas a uma igreja.
Alguns dos episódios, ainda que relevantes, são quase pitorescos. Mas há outros graves – ou gravíssimos. Os funcionários relatam como se dava o fluxo de dinheiro – dinheiro vivo – entre o Palácio do Planalto e o Alvorada para bancar despesas privadas da primeira-dama e de seus parentes.
Com regularidade, várias vezes por mês, a equipe encarregada de auxiliar Michelle recebia a incumbência de passar no Planalto para pegar os recursos, em espécie, na sala do tenente-coronel do Exército Mauro Cesar Cid, o agora notório ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Cid, que após a reportagem publicada aqui no último dia 20 tornou-se o pivô da queda do comandante do Exército, é investigado, entre outras coisas, pela suspeita de gerenciar o caixa 2 palaciano com verbas que tinham como origem, inclusive, saques feitos na boca do caixa com cartões corporativos do governo.
Mensagens obtidas com exclusividade pela coluna mostram que bastava um pedido de Michelle para que Cid autorizasse os assessores da primeira-dama a retirarem o dinheiro, no Planalto, com algum dos militares que integravam seu time na ajudância de ordens do então presidente da República. Também era ele quem providenciava depósitos, igualmente em dinheiro vivo, na conta pessoal da mulher de Jair Bolsonaro.
Há evidências, ainda, de que Michelle, primeira-dama do Brasil até 31 de dezembro passado, recebia com regularidade, no Alvorada, envelopes de dinheiro enviados por Rosimary Cardoso Cordeiro, amiga íntima que no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro viu seu salário de assessora no gabinete de um senador governista ser quase triplicado.
Os indícios, que poderão ser esquadrinhados minuciosamente na investigação em curso no STF, apontam para mais uma “rachadinha” no ex-clã presidencial.
Áudios e outros registros aos quais a coluna teve acesso comprovam que assessores de Michelle no Palácio da Alvorada tinham por tarefa pegar com Rosi – seja no prédio dela, no Riacho Fundo, região administrativa do DF, seja em um ponto de encontro entre o Planalto e o Congresso Nacional — os envelopes recheados de notas de reais.
Michelle e o “pastor-capeta”
Se para o público externo a ex-primeira-dama tentava se mostrar sempre afável e sorridente, quem convivia com ela na intimidade do Alvorada relata uma rotina bem diferente, cheia de sobressaltos.
Descrita como uma pessoa temperamental, de humores que mudavam de supetão, Michelle costumava destratar a equipe de funcionários escalada para auxiliá-la. Algumas assessoras chegaram a pedir para deixar o trabalho, queixando-se da maneira como eram tratadas.
Pelo menos uma delas cogitou processar a então primeira-dama por assédio. Acabou desistindo do plano por entender que não teria força para levar adiante uma querela judicial contra alguém que, àquela altura, estava no topo do poder. Outra assessora foi embora sem ouvir nem sequer um obrigado.
O relacionamento difícil de Michelle com o staff que a atendia mais proximamente se refletia nas demais relações de trabalho dentro do palácio, inclusive naquelas que envolviam pessoas simples, como jardineiros e funcionários da limpeza.
O Alvorada está num terreno que equivale a 50 campos de futebol, à beira do Lago Paranoá. De área construída, o edifício inaugurado em 1958 tem 7 mil metros quadrados, distribuídos em três pavimentos. Para funcionar, a megaestrutura palaciana conta com uma tropa de empregados, civis e militares. São cerca de duas centenas de pessoas, que cuidam do atendimento mais direto aos inquilinos de momento – há maître, garçons, cozinheiros, camareiros, motoristas – e dos serviços de manutenção predial e dos jardins.
Em fevereiro de 2021, a tarefa de comandar a máquina do Alvorada foi confiada por Michelle ao pastor Francisco de Assis Castelo Branco, próximo da família desde os tempos em que ela e Bolsonaro moravam no Rio. Francisco, ou Chico, como era chamado na intimidade do clã, é marido de Elizângela Castelo Branco, intérprete de Libras que, de tão íntima da ex-primeira-dama, chegou a acompanhá-la na viagem de fim de ano à Flórida. Ainda no Rio, Michelle, Elizângela e Francisco integravam um núcleo da Igreja Batista Atitude voltado à comunidade surda.
Com a vitória de Bolsonaro nas eleições de 2018, o casal se mudou para Brasília e foi empregado no governo. Francisco ganhou primeiro um cargo no Planalto, com salário de R$ 5,6 mil. Depois, foi transferido para o Alvorada ganhando quase o dobro. Na função de coordenador do palácio, ganhou dos empregados o epíteto de “pastor-capeta” pelo rigor com que tratava os subordinados. A fama de mau não demorou a vir, graças à maneira como lidava com empregados e às sucessivas demissões que promoveu. Teve gente que foi mandada embora porque levou para casa algumas mangas do pomar do palácio – o que antes da chegada dele era algo corriqueiro. “Ele assediava as pessoas e ameaça de demissão o tempo todo. E dizia que a primeira-dama tinha conhecimento de tudo e autorizava essa postura”, afirma um dos funcionários que aceitaram dar entrevista (assista, a seguir, a um dos depoimentos).
No ano passado, o pastor convocou uma reunião com os empregados da empreiteira contratada pelo governo para cuidar da jardinagem do Alvorada. O motivo: ele queria chamar a atenção de funcionários que haviam se queixado porque estavam sendo obrigados a limpar um banheiro de serviço – como eram contratados para cuidar do jardim, alguns alegavam que estavam em desvio de função. Sobrou para todos. Em 25 minutos de monólogo, Francisco desfilou a arrogância que lhe rendeu o apelido indesejado. “Quem não pode limpar o banheiro não pode nem cagar. Caga no mato, então, caga em casa. Entendeu? Usa aquela bolsa. Porque é sacanagem isso”, estrilou. Ele ameaçou cortar o lanche que era oferecido diariamente ao grupo. O pastor ainda explicou, do seu modo, sem papas na língua, por que empregados da Novacap, a companhia urbanizadora de Brasília, haviam sido cortados do Alvorada: além de “velhos”, disse, eram “preguiçosos”. O tom de ameaça era explícito (ouça a seguir os principais trechos da reunião).
A decisão de proibir os funcionários de escalão mais baixo de entrar na área do palácio portando telefones celulares gerou situações desagradáveis. Uma senhora passou o dia sem saber que um parente havia morrido, relata um ex-empregado. Ela só recebeu a notícia ao final do expediente porque o administrador não havia nem sequer deixado um telefone por meio do qual os funcionários poderiam ser acionados por familiares em caso de emergência. “Ele destratava os empregados, especialmente os mais humildes”, diz um militar que lidava com frequência com o pastor.
O sumiço da picanha e das “moedas da sorte”
O pastor Francisco também é personagem de dois episódios ocorridos no Alvorada já nos derradeiros dias do governo Bolsonaro e que, até agora, eram conhecidos apenas por quem vive os bastidores do palácio.
Na primeira visita que fez à residência após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, a atual primeira-dama, Janja da Silva, e seus auxiliares disseram que não teriam interesse nos mantimentos perecíveis – comprados com dinheiro público – que os Bolsonaro deixariam na despensa. Janja, então, autorizou os funcionários a dividirem o farnel entre si. Ocorre que foram poucos, ou pouquíssimos, os que se beneficiaram.
Funcionários relatam que os itens de maior valor, como carnes nobres – peças de picanha e filé mignon, por exemplo – e fardos de camarão e bacalhau, simplesmente desapareceram. Testemunhas dizem que um grupo restrito de funcionários ligados à administração fez a limpa na despensa, sem compartilhar com os demais.
Numa adaptação para os trópicos de um costume típico de atrações como a Fontana di Trevi, em Roma, turistas que visitam o Alvorada jogam moedas no espelho d’água que decora a frente do palácio presidencial. É um gesto que, diz a crença popular, traz sorte. Pouco antes de os Bolsonaro deixarem o palácio, funcionários receberam uma ordem para esvaziar o fosso e juntar as milhares de moedas acumuladas ali. Pastor Francisco – de novo ele – foi quem tomou a frente. Disse que o pedido havia sido feito por Michelle Bolsonaro.
A “pescaria” rendeu um balde cheio – não se sabe exatamente quanto havia. Funcionários dizem que Francisco levou as moedas embora, dizendo que as doaria para uma igreja. “Se ele doou ou não, não sei, mas ele falou que era a mando da Michelle”, relata um empregado do palácio. O pastor Francisco, a despeito da amizade íntima com o casal Bolsonaro, até se movimentou para ficar no Alvorada de Lula. Não conseguiu. Foi exonerado no último dia 5 de janeiro.
Bolsonaro e o arrombamento da adega do palácio
Imagine um presidente da República, em um lance de fúria, dando um chute e derrubando uma porta a pontapés dentro do palácio presidencial. Pois isso aconteceu.
Jair Bolsonaro recebia um visitante no Alvorada quando teve a ideia de presenteá-lo com uma garrafa de vinho. Os dois foram, então, até a adega, instalada em um dos cômodos do subsolo do palácio, perto da cozinha.
Ao chegar lá, o então presidente encontrou a porta trancada e pediu aos empregados de plantão que lhe trouxessem a chave. Foi avisado de que havia uma ordem expressa de Michelle para que a adega não fosse aberta para absolutamente ninguém – nem mesmo para ele.
Para frear a farra do garoto, seu desafeto, a saída foi mandar trancar a adega e baixar a determinação, que passou a ser cumprida a ferro e fogo.
Os funcionários tinham mais medo da primeira-dama do que do próprio Bolsonaro. Muitas vezes, dentro do palácio, aquele personagem autoritário e machista que era conhecido à larga pelos brasileiros assumia outra versão, a de um marido obediente e resignado. Era quase sempre assim. Mas havia exceções e o capitão mandão e abrutalhado voltava à cena.
Até chegar na adega, Bolsonaro não sabia da ordem de Michelle. Descobriu quando passou pelo constrangimento de, na frente do convidado, ouvir dos funcionários que a porta simplesmente não poderia ser aberta. Enfurecido, diante da visita e dos serviçais, arrombou a adega e pegou a garrafa de vinho que queria dar de presente. Não sem antes se queixar da situação. A porta passou dias quebrada (veja o relato no vídeo a seguir).
A guerra de Michelle com Carluxo e Jair Renan
A relação de Michelle Bolsonaro com os filhos dos casamentos anteriores de Jair Bolsonaro nunca foi das melhores. As rusgas eram comuns. Flávio e Eduardo Bolsonaro, o 01 e o 03, ainda se esforçavam para manter alguma proximidade. Com Carlos Bolsonaro e Jair Renan, o 02 e o 04, porém, era guerra quase permanente. No período em que Bolsonaro e Michelle ocuparam o Alvorada, o palácio foi palco de várias brigas estrepitosas da dupla com a então primeira-dama. Uma delas se deu no dia do debate presidencial em que Bolsonaro e Lula se enfrentaram pela última vez antes do segundo turno da eleição.
Os funcionários contam que Carlos chegou ao palácio acompanhado dos seguranças de sua escolta e foi impedido de entrar. Ordens de Michelle. Seguiu-se um barulhento bate-boca entre ele e o administrador da residência, o pastor Francisco Castelo Branco, encarregado pela então primeira-dama de fazer valer a proibição. Carluxo ainda tentou insistir, mas não houve jeito. Chorando e gritando pelo estacionamento do palácio, ele foi obrigado a ir embora.
Bolsonaro, que tinha passado as horas anteriores se preparando para o confronto com Lula, foi avisado da contenda. No meio do fogo cruzado, ficou enfurecido, mas não houve muito o que fazer. Corroborando os relatos dos funcionários, assessores próximos do ex-presidente relataram à coluna que a briga o abalou e fez com que ele chegasse nervoso para o debate.
Bolsonaro se queixava do tratamento que Michelle dispensava a Carlos e Jair Renan. Por mais de uma vez, desabafou sobre o assunto com empregados, com os quais tomava café com alguma frequência. Dizia que, enquanto seus filhos eram proibidos de ir ao palácio, a família de Michelle tratava o Alvorada como extensão da própria casa. “Ele reclamava dizendo que, principalmente nos finais de semana, a Ceilândia estava em peso lá. E isso era verdade”, afirma um funcionário. “A Ceilândia” era a maneira como Bolsonaro se referia aos parentes de Michelle que moram na cidade-satélite de Brasília.
As comparações entre os dois lados com o outro eram inevitáveis. Entre os funcionários era sabido que os parentes de Michelle tinham acesso livre a itens da despensa e aos serviços da cozinha do palácio. Dona Helena, a tia da primeira-dama que trabalhava como babá de Laura, a filha do então casal presidencial, levava para casa com certa frequência pacotes de comida preparados especialmente para ela pelos cozinheiros da residência oficial com autorização de Michelle.
Jair Renan, por um período, gozou de mordomia parecida. No período em que morou no apartamento que o pai mantém no Sudoeste, bairro nobre da capital, ele não só passava regularmente no depósito de alimentos do Alvorada para recolher itens e abastecer a própria despensa como era servido, diariamente, com comida fresca preparada na cozinha do palácio que os motoristas da Presidência eram incumbidos de entregar, a bordo de carros oficiais. Até que veio um dos entreveros com Michelle e uma das regalias foi cortada sumariamente.
A suspensão da “entrega de marmita” para o 04 – era assim que os servidores se referiam à tarefa – se deu após uma apimentada intriga palaciana. Os funcionários avisaram Michelle de que, a certa altura, Jair Renan passou a pedir comida não só para si, mas também para uma segunda pessoa. Não demorou para que alguns funcionários do staff envenenassem a primeira-dama dizendo que a tal “segunda marmita” era para a mãe do 04, Ana Cristina Valle. A ex de Jair Bolsonaro e Michelle são inimigas declaradas. A primeira-dama, então, ordenou que as entregas pela equipe do Alvorada, uma espécie de iFood oficial, à custa dos cofres públicos, fossem cortadas de vez.
As visitas em que 04 fazia da despensa do Alvorada seu mercado particular costumavam ocorrer quando o pai dele estava no palácio. Em uma das ocasiões, Bolsonaro estava fora e Jair Renan foi mesmo assim. Michelle foi avisada e foi ao encontro dele. Logo estava armado mais um barraco presidencial. Houve dedos em riste e xingamentos de parte a parte, na frente dos funcionários. Jair Renan chegou a avançar na direção dela e precisou ser contido pelo segurança que o acompanhava.
A suspeita de “rachadinha” com a amiga
Na reportagem publicada pela coluna no último dia 20, mostramos que Michelle Bolsonaro usava um cartão de crédito adicional de Rosimary Cardoso Cordeiro, uma amiga de mais de 15 anos que conheceu quando ambas trabalhavam em gabinetes da Câmara dos Deputados.
Investigações conduzidas pela Polícia Federal sob o comando do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, descobriram que as faturas do cartão eram pagas com dinheiro em espécie administrado pelo tenente-coronel Mauro Cesar Cid, ajudante de ordens e um dos principais homens de confiança de Jair Bolsonaro até 31 de dezembro.
A relação insólita já havia despertado a curiosidade dos investigadores. Por que, afinal, a primeira-dama do Brasil usava um cartão de uma terceira pessoa, e os boletos eram pagos sempre em espécie pelo militar suspeito de administrar uma espécie de caixa 2 dentro da Presidência em que se misturavam recursos públicos e privados, inclusive de saques de cartões corporativos oficiais?
Novos elementos obtidos pela coluna atestam que a desconfiança dos policiais não era sem razão. Eles mostram que a relação entre as duas amigas ia bem além do cartão emprestado.
A carreira de Rosi, antes uma assessora parlamentar ordinária remunerada com salários relativamente baixos, teve um salto meteórico que coincide com a ascensão de Michelle Bolsonaro ao posto de primeira-dama.
Assessora do senador bolsonarista Roberto Rocha, do PTB do Maranhão, cujo mandato terminou na última terça-feira, ela ganhava pouco mais de R$ 6 mil até os primeiros meses do governo Bolsonaro. Por ser amiga íntima de Michelle e representar uma oportunidade de estreitar laços entre o parlamentar e o novo governo por suas relações com a família presidencial, logo ela foi promovida. Passou a ganhar quase R$ 17 mil.
A promoção coincide com um movimento que a investigação de Moraes e da PF será capaz de esquadrinhar à perfeição. Com salário novo e vitaminado, Rosi passou a enviar para a primeira-dama “encomendas” regulares – muitas vezes, envelopes cujo conteúdo era possível identificar no tato: dinheiro em espécie.
Funcionários do Palácio do Alvorada tinham autorização permanente para realizar a operação de busca-e-traz, a bordo de carros oficiais da Presidência. Pegavam as tais encomendas com Rosi nas proximidades do Congresso Nacional ou no prédio dela, no Riacho Fundo. Levavam para o Alvorada.
A tarefa, regular, era conhecida das pessoas que integram o staff de confiança de Michelle. Há registros em profusão dessas operações. Entre os funcionários, havia quase uma certeza: a de que
Rosi repassava a Michelle uma parte do salário que ganhava no Senado – algo que a simples quebra do sigilo bancário da amiga poderá demonstrar.
Cabia à própria Rosi, tratada na intimidade do palácio pelo apelido carinhoso de Chuchu, acionar os auxiliares de Michelle, como mostra este áudio, em que ela pede para buscar a “encomenda da Mi”:
Na quarta-feira, Rosimary escoltou Michelle Bolsonaro na visita que a agora ex-primeira-dama fez ao Senado para pedir votos em favor do senador Rogério Marinho, candidato do bolsonarismo à presidência da casa, que seria derrotado horas depois por Rodrigo Pacheco. Sem emprego após o término do mandato de Rocha, está tudo certo para Rosi ser nomeada nos próximos dias como assessora do gabinete de Damares Alves, outra amiga do peito da ex-primeira-dama.
“O salário que ela tinha lá eu não vou manter, não tenho condições. Vai ser menos. (…) Mas entre ela ficar desempregada e ficar lá comigo, neste momento ela vai ficar comigo. Pelo menos o básico é garantido”, disse Damares à coluna nesta sexta-feira.
O caixa 2 e a “cliente vip”
As investigações do STF que miram o tenente-coronel Cid por suas transações financeiras com dinheiro em espécie no gabinete de Jair Bolsonaro trarão Michelle como uma espécie de cliente vip dos serviços do militar.
Mensagens e outros documentos aos quais a coluna teve acesso mostram que, a cada vez que precisava de algum dinheiro, a primeira-dama mandava que seus auxiliares passassem no Planalto para buscar dinheiro com Cid. As operações, invariavelmente, envolviam recursos em espécie. Dinheiro vivo mesmo.
Um time da confiança do tenente-coronel, formado por pelo menos outros três oficiais, estava sempre de prontidão e em condições atender, seja para fazer depósitos solicitados por Michelle, seja para entregar valores que eram usados pelos próprios auxiliares da então primeira-dama para pagar boletos e outras despesas de ordem particular, dela ou de familiares dela.
Uma das despesas regulares pagas dessa forma era a mensalidade do curso de arquitetura de uma meia-irmã da primeira-dama, Geovanna Kathleen:
Por vezes, Michelle pedia que Cid entregasse a seus funcionários recursos que, na sequência, eram entregues em mãos a seus parentes, na Ceilândia. Em outras ocasiões. Tudo era tratado, quase sempre, por meio de mensagens de WhatsApp, o que está facilitando enormemente o trabalho dos investigadores a serviço de Alexandre de Moraes.
Na própria nuvem de dados de Cid há um conjunto de mensagens que dão o caminho. Como esta, em que um assessor da então primeira diz ao militar que “dona Michelle” havia pedido para “fazer um saque” para pagar um boleto de parcos R$ 584,60. Cid responde prontamente: “Só peça dinheiro a mando dela!!!”. “Eu estou indo pra rua agora qualquer coisa eu passo no planalto e pego”, escreve na sequência o assessor de Michelle.
Em algumas oportunidades, os valores solicitados eram maiores. Em 11 de janeiro de 2021, por exemplo, um assessor do Alvorada diz a Cid que Michelle pediu para transferir R$ 3 mil na conta dela.
Quando tinha que atender pedidos para destinar recursos à conta pessoal da primeira-dama, a equipe de Cid fazia depósitos em espécie, na boca do caixa, como mostra o comprovante abaixo.
Os segredos do Alvorada da era Bolsonaro ainda têm muito o que render.
*Metrópoles
Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00
Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação e reflexão de qualidade e independência.
Empresas dizem que cumpriram a lei e apontam erros em relatório encomendado pela campanha do presidente.
Os dados do relatório encaminhado pela coligação de Jair Bolsonaro (PL) ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com alegações de supressão de inserções da eleitorais do presidente em estados do Nordeste são contestados por ao menos 3 das 8 rádios citadas pela campanha.
As rádios apontam divergências entre o número e os horários das inserções identificados pela auditoria Audiency, contratada pela campanha de Bolsonaro, e o que foi realmente veiculado. Alegam que possuem as gravações dos dias citados pela auditoria e que estão à disposição das autoridades.
Segundo a Folha, lista de inconsistências inclui inserções que, segundo a auditoria, teriam sido veiculadas entre 7h e 7h20. Este horário é destinado à propaganda em bloco do horário eleitoral gratuito, portanto, não tem previsão de inserções comerciais.
Também há uma rádio entre as que foram citadas que não funciona na frequência apontada pela auditora.
Conforme apontado pela Folha, o material sobre rádios enviado pela campanha de Bolsonaro não comprova a alegação de prejuízo ao presidente nas inserções da propaganda eleitoral no rádio. A fragilidade se deve principalmente à forma de análise da programação, que considera a transmissão via internet.
A rádio Integração FM, com sede em Surubim (PE), informou que fez um levantamento de todas as inserções de Lula e Jair Bolsonaro na programação da rádio e confrontou com a gravação da programação dos dias apontados pela auditoria Audiency, identificando divergência entre o que a auditoria apresenta e o que foi veiculado.
Citou como o exemplo o fato da Audiency informar que, no dia 10 de outubro de 2022, a rádio Integração teria veiculado uma inserção do PL às 7h05 da manhã. Acontece que, neste horário, todas as emissoras estão exibindo o horário eleitoral gratuito e era exatamente o que estava sendo transmitido pela rádio.
A rádio Integração ainda informou que tem a gravação para comprovar que, neste dia e horário, estava transmitindo o horário eleitoral. Também informou que essa é apenas uma das divergências encontradas.
“Todo o material veiculado pela emissora está arquivado para apresentar como prova de que trabalhamos com seriedade e não infringimos a lei. […] Lamentamos ter o nome da empresa envolvido nesse episódio e reiteramos o nosso compromisso com a verdade”, informou a nota assinada pelo diretor-geral da rádio Fábio Barbosa.
Outra citada pela campanha de Bolsonaro, a rádio Hits, do Recife, também aponta inconsistências no relatório da Audiency e destacou que empresa auditora contratada pela coligação de Jair Bolsonaro capta via internet o áudio transmitido pelas emissoras de rádio.
Em nota, destacou a afirmação da Audiency de que, no dia 7 de outubro, a emissora veiculou apenas 23 das 25 inserções da coligação de Bolsonaro. No entanto, a emissora diz ter averiguado em seu software, o Pulsar, que as 25 inserções foram veiculadas.
O mesmo aconteceu em 14 de outubro, data em que a empresa Audiency afirma que a emissora veiculou apenas 21 das 25 inserções, mas o mesmo software indica que todas foram veiculadas.
Em 7 de outubro, o mapa de inserções e spots para veiculação no dia seguinte foi enviado após o horário limite designado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco.
Desta forma, a emissora diz que ficaria isenta da obrigatoriedade de cumprir as inserções. Mesmo assim, iniciou as transmissões às 11h32 de 08 de outubro, veiculando 16 das 25 inserções diárias.
Em nota, a diretora da rádio, June Cristina Melo, manifestou repúdio “ao vazamento de dados pela empresa Audiency Brasil Tecnologia, de forma nunca vista por nenhuma auditora musical ou comercial, sem a autorização ou checagem prévia da emissora em questão.”
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Presidente do TSE pede documentos, sob pena de determinar apuração de crime eleitoral.
Segundo a Folha, o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, afirmou nesta segunda-feira (24) que não há provas sérias na tese apresentada pela campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) de que rádios do Norte e Nordeste estariam privilegiando a propaganda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Moraes abriu prazo de 24 horas para os advogados de Bolsonaro mostrarem os documentos que comprovam a suposta fraude, sob pena de determinar a apuração de crime eleitoral por parte da campanha do chefe do Executivo.
Bolsonaro havia pedido ao TSE, horas antes, a suspensão da propaganda eleitoral de Lula em rádios de todo o país sob argumento de que emissoras estariam deixando de veicular as inserções da campanha à reeleição do chefe do Executivo.
Bolsonaro tem histórico de questionar o sistema eleitoral e insinuar em tom golpista que pode não aceitar resultado diferente da própria vitória.
“Os fatos narrados na petição inicial não foram acompanhados de qualquer prova e/ou documento sério, limitando-se o representante a juntar um suposto e apócrifo ‘relatório de veiculações em rádio’, que teria sido gerado pela empresa ‘Audiency Brasil Tecnologia'”, afirma Moraes na decisão tomada na noite desta segunda.
O ministro diz ainda que o pedido de Bolsonaro e o relatório “apócrifo” não indicam as “rádios, dias ou horários em que não teriam sido veiculadas as inserções de rádio” do presidente. “Nem tampouco [há] a indicação de metodologia ou fundamentação de como se chegou à determinada conclusão.
“Tal fato é extremamente grave, pois a coligação requerente aponta suposta fraude eleitoral sem base documental alguma, o que, em tese, poderá caracterizar crime eleitoral dos autores, se constatada a motivação de tumultuar o pleito eleitoral em sua última semana”, disse Moraes.
O anúncio da entrega do relatório foi feito pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, em entrevista a jornalistas no Palácio da Alvorada. O titular da pasta havia divulgado em suas redes sociais que faria a “exposição de um fato grave”.
O pedido apresentado ao TSE diz que a suposta fraude tem potencial de “assentar a ilegitimidade do pleito”, se não for corrigida “imediatamente”.
A campanha de Bolsonaro pede a suspensão da propaganda de Lula no rádio em todo o país “até que se atinja o número de inserções usurpadas da Coligação peticionária”. Também requer apuração administrativa do caso, “com vistas à responsabilização dos envolvidos”.
Os advogados do presidente apresentaram um relatório feito pela empresa Audiency Brasil Tecnologia, sediada em Florianópolis (SC), para sustentar o argumento da fraude. A empresa afirma em seu site que faz a “distribuição, gerenciamento e acompanhamento de veiculações das campanhas de mídias offline (rádio) em tempo real”, e oferece serviços a anunciantes, artistas musicais e emissoras.
Moraes já chamou de mentiroso e fraudulento um parecer do PL, partido de Bolsonaro, que levantava dúvidas sobre a segurança das eleições dias antes do primeiro turno. Também disse que os militares parecem querer agradar o chefe do Executivo no trabalho de auditoria do pleito realizado pelas Forças Armadas.
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Investigação realizada em conjunto com a Controladoria-Geral da União cumpre 41 mandados de busca e apreensão no DF, em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Segundo o Correio Braziliense, a operação da Polícia Federal investiga superfaturamento de R$ 130 milhões em contratos com empresas gráficas realizados entre os anos de 2010 e 2018 para a impressão das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A operação Bancarrota, deflagrada na manhã desta terça-feira (7/12), cumpriu mandados no DF, em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Ao todo, foram cumpridos 41 mandados de busca e apreensão, além de ter sido determinado pela Justiça Federal o sequestro de R$ 130 milhões das empresas e pessoas físicas envolvidas. As irregularidades foram identificadas após uma auditoria realizada pela Controladoria-Geral da União (CGU) em 2019.
Os contratos do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) com uma empresa responsável pela impressão dos exames, incluindo as provas do Enem, entre os anos de 2010 e 2018, alcançam o valor aproximado de R$728 milhões.
Em 2019, a empresa entrou com pedido de falência e o Inep realizou um novo pregão eletrônico, resultando na contratação de empresa classificada em terceiro lugar no certamente, após a desclassificação das duas primeiras. As investigações revelaram a atuação de diretores e servidores do Instituto, juntamente com consultores das gráficas contratadas, no direcionamento da contratação das empresas para impressão das provas.
Os contratos sob investigação totalizaram pagamentos, desde 2010, de aproximadamente R$ 880 milhões, dos quais R$ 130 milhões estariam superfaturados. Os envolvidos são suspeitos de organização criminosa, corrupção ativa e passiva, crimes da Lei de Licitações e lavagem de dinheiro, com penas que ultrapassam 20 anos de reclusão. As investigações contam com a atuação de 127 policiais federais e 13 servidores da CGU.
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Bolsonaro, seguindo a cartilha de Steve Bannon, cria uma mentira de hora em hora. Antes ele prometia mostrar as provas das acusações absurdas que fazia, mas depois que prometeu provar que as urnas foram fraudadas na eleição de 2018 e chegou na hora H disse que não tinha qualquer prova, ele agora mudou de tática. Antes de falar a mentira, já diz que não tem prova, ou seja, já avisa que é mentira, porque, afinal de contas, o que o gado bolsonarista mais gosta é ouvir as mentiras de Bolsonaro e reproduzi-las, mesmo sabendo que são mentiras, porque o gado consegue ser pior que ele.
Assista:
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