De Buenos Aires à Cidade do México, mulheres ao redor das maiores cidades da América Latina foram às ruas no Dia Internacional da Mulher, neste domingo (8), estimuladas por crescentes demandas em relação à desigualdade, feminicídio e rígido controle de abortos.
À medida que eventos do Dia das Mulheres se desenvolvem em todo o mundo, as marchas na América Latina acontecem em um contexto de agitação social mais ampla na região.
Milhares de manifestantes reuniram-se na capital Santiago e em outros locais do Chile. A polícia afirmou que 1.700 oficiais estavam de prontidão para controlar a multidão ao redor do país. Muitos carregaram cartazes pedindo acesso a aborto e o fim da violência contra a mulher.
“Estou tão feliz com o que está acontecendo”, afirmou uma manifestante, que pediu para ser identificada como Patricia V.
“O Chile precisa de mulheres para aumentar o poder delas na vida pública, pelo bem de todos os homens e mulheres. Precisamos de mais igualdade, não apenas social, mas também econômica e política.”
As marchas no Chile podem acabar sendo gigantes, na esteira de protestos mais amplos contra a desigualdade social que começaram em outubro e, no auge, incluíram mais de um milhão de pessoas.
Nos últimos dias, senadores chilenos aprovaram uma lei que busca dar às mulheres a mesma voz na construção de uma nova constituição, enquanto o presidente reforçou a punição ao feminicídio, ou assassinato de mulheres por causa do seu gênero.
Na Colômbia, mulheres em Bogotá planejam comemorar a primeira mulher prefeita, e também se espera protestos contra a recente decisão da Justiça de manter limitações ao aborto.
O Dia das Mulheres na Argentina acontece com pouco mais de três meses do novo governo, que anunciou planos de criar um ministério para mulheres e apoiar uma nova tentativa de legalizar o aborto, após a anterior ser derrotada no Congresso.
Luis Fernando Veríssimo foi entrevistado na edição especial do Brasil de Fato Humor, realizado em parceria com a Grafar.
Por que o maior cronista brasileiro vivo aceitou esta entrevista? Não oferecemos grana nem glória – que glória, aliás, poderíamos oferecer a quem acaba de ter o romance O Clube dos Anjos traduzido para o mandarim? Aceitou pelo combate, o melhor deles, o combate à estupidez. Aí, deu no que deu: Luis Fernando Verissimo concedeu sua maior entrevista, tanto em número de perguntas como de respostas – para quem fala pouco, o homem fala pra chuchu. De quebra driblou, com brilho, não apenas o Bolsonaro como a malícia dos entrevistadores. Enfim, todos saímos ganhando, exceto o governo. Governo? Pobre palavra, como tantas outras, nas mãos dos brilhantes ustras da incomunicação.
Ayrton Centeno – Lembro que, lá na virada do milênio, no auge do neoliberalismo, você disse que estávamos entrando em um novo século só não se sabia qual. E agora, já descobriu?
Luis Fernando Verissimo – A gente só conhece o futuro quando ele chega, e aí não é mais futuro, é presente, e irreversível. Quem diria que o século em que estávamos entrando, no Brasil, era o 19?
Ernani Ssó – Quando Bolsonaro disse I love you ao Trump não deveria estar vestido de rosa, conforme orientação da ministra Damares?
Verissimo – Dizem que o mais constrangedor foi o Bolsonaro pedir uma mecha do cabelo do Trump e oferecer, em troca, a Petrobras.
Centeno – Além do amor trumpiano, não lhe parece contraditório que o presidente, um homofóbico explícito, insista em tiradas como aquela quando disse querer “continuar transando” com o Alexandre Frota ou declare que “casou errado” com o vice Mourão e deveria ter “casado” com o príncipe?
Verissimo – O presidente estava obviamente usando linguagem figurada, como quando afirmou que mataria um filho que aparecesse namorando um bigodudo, ou o mandaria para um exílio na nossa embaixada em Washington. Só não ficou claro o que o presidente tem contra bigodudos.
Ernani – A propósito, é verdade que o Carlucho se tratou com o Analista de Bagé? O senhor teve acesso ao diagnóstico?
Verissimo – O Analista aceitou analisar o Carlucho e o recebeu com um joelhaço, causando inveja em grande parte da população.
Fraga – Pra fazer arminha, Bozo usa um marco evolutivo, o polegar opositor, e o indicador, o dedo mais acusatório de todos. Como o Analista de Bagé interpretaria esse gesto?
Verissimo – O dr. Freud diria que tem alguma coisa a ver com a tal inveja do pênis.
Santiago – No embalo em que vamos, achas que chegaremos a um estado teocrático evangélico com obrigatoriedade de saias maria-mijona para mulheres e proibição de Darwin nas escolas?
Verissimo – Deus criou o mundo em seis dias e aproveitou a folga do sétimo para calcular quanto as igrejas lucrariam não tendo que pagar impostos, não lhe sobrando tempo para fazer a Terra redonda em vez de plana, como era no projeto original. Se você não acredita nisso prepare-se porque a Inquisição vem aí.
Fraga – Bozonaro morre (eba!) e, por engano qualquer na passagem da alma pro além, ele vai pro céu. Imagine o seguinte: como Ele receberia ele? O que Bozonaro ouviria de Deus?
Verissimo – Deus cobraria do presidente: “Que ministério é esse, seu Bolsonaro? Assim, nem Eu posso ajudar, o que dirá o dr. Olavo”.
Celso Schröder – Se o aquecimento global é marxista podemos deduzir que o período glacial tenha sido um momento weberiano da história?
Verissimo – Todo o mundo sabe que a Era Glacial teve inspiração comunista e os vulcões são controlados pelo Greenpeace. E que o óleo que deu nas praias grã-finas era um claro episódio da luta de classes.
Ernani – Que medidas podemos tomar para que o reino miliciano-evangélico saia do Velho Testamento e chegue, pelo menos, ao Novo?
Verissimo – Não sei qual seria a vantagem. O Velho Testamento tem pelo menos personagens mais interessantes e variados. O Novo é só Jesus, Jesus, Jesus… Enjoa.
Fraga – Vamos supor o clássico clichê com o Bozonaro: que um dia ele fosse, de espontânea vontade, pruma ilha deserta. Que livros, discos e filmes tu achas que o deprimente da república levaria?
Verissimo – Gibis do Capitão América.
Ernani – Por falar em clichê, digamos que você, num desses acasos tão comuns nas anedotas, está em um elevador com o Bolsonaro, o Moro e o Guedes e a joça tranca entre dois andares. Você daria uma bolacha em cada um e depois alegaria escusável medo, surpresa ou violenta emoção?
Verissimo – O difícil seria decidir em quem bater primeiro. O Guedes não porque só ele sabe como fazer o elevador funcionar, ou diz que sabe mas não conta? O Moro porque nem registraria o golpe, continuaria com a mesma cara de “o que é que eu estou fazendo aqui?” e saudade de Curitiba? Ou o Bolsonaro por qualquer razão?
Centeno – Como um amante da natureza, você também segue aquela incrível receita presidencial – um dia sim, outro não – para preservar o meio-ambiente?
Verissimo – Dias intercalados para fazer amor, é essa a receita para preservar a natureza? Se der para acumular os dias de abstinência da semana para dar seis seguidas no sábado, sou a favor. E ainda dizem que este governo não tem ideias!
Schröder – No teu entendimento, qual o ministro realiza melhor o projeto de gestão intelectual e técnica anunciada pelo Bolsonaro?
Verissimo – A competição entre ministros e secretários de governo é grande e fica difícil escolher o pior. No momento a liderança está entre o novo chefe da Funarte, segundo o qual o rock leva ao satanismo, e a conselheira cultural que disse que dois minuto de sexo bastam para impregnar uma mulher e mais do que isso causa dependência e socialismo.
Centeno – Paulo Guedes declarou que os pobres não sabem poupar. Como mais da metade da população vive com até R$ 413 mensais, parece que o ministro da economia fez faculdade sempre colando na prova de matemática. Ou não?
Verissimo – Guedes tem razão. Se todos os pobres do Brasil poupassem seu dinheiro nossos problemas estariam resolvidos, sem necessidade de um ministro da Economia. Mas os pobres insistem em gastar seu dinheiro em supérfluos, como comida. Assim não dá.
Ernani – Li que só nos primeiros 271 dias de governo, Bolsonaro, enquanto repetia o versículo bíblico de que devemos saber a verdade porque a verdade nos libertará, deu 360 declarações falsas ou inconsistentes. Se Bolsonaro fosse o Pinóquio, quantos metros de nariz teria?
Verissimo – O nariz do nosso Pinóquio estaria dando a volta na quadra.
Centeno – Agora, falando mais sério: você algum dia na sua vida imaginou que o Brasil se transformaria nisso daí?
Verissimo – Sou otimista. Ainda acredito que acordaremos e descobriremos que foi tudo um sonho ruim, e estamos na Dinamarca.
Santiago – Tu achas, como eu, historicamente imperdoável as lideranças democráticas do centro até a esquerda não terem se unido e criado um frentão-alternativa para evitar a evidente eleição do monstro? Quer dizer, não aprenderam nada com a história da Alemanha de 1930 nem com a tentativa do Le Pen ser presidente na França…
Verissimo – A história da esquerda no Brasil é uma história de oportunidades perdidas. A desunião permitiu que a direita vendesse a ficção da esquerda como culpada de um atraso que ela mesma criou, em sucessivas derrotas de qualquer alternativa progressista a uma elite inconsciente, desde o Descobrimento. Em resumo.
Centeno – Tem gente que acha que Bolsonaro e sua trupe nos prestaram um serviço: destamparam a face mais estúpida, sórdida e violenta do país que nunca havia aflorado até então. Você acha que devemos dizer “Obrigado” para ele?
Verissimo – A estupidez não é novidade no Brasil, temos uma história de ódio e violência que vai longe. A novidade é a estupidez com acesso às redes sociais.
Fraga – Faz de conta que dá pra fazer um amigo secreto com o povo todo e tu, por imenso azar, é sorteado com o nome do Bozonaro. Considerando o clima natalino, que presente tu escolherias pra ele? E por que justamente esse?
Verissimo – Um presente de amigo secreto para o Bolsonaro? Se o preço não for empecilho, uma passagem de ida. Para onde? Se a passagem for só de ida, quem se interessa?
Centeno – A sociedade brasileira está, como nunca, polarizada. Amigos rompem relações, famílias se dividem. Pior é que pessoas que você pensava que conhecia, de repente, aparecem falando em terra plana e votando em Bolsonaro. Você viveu esta experiência?
Verissimo – Sei que já tem gente usando faixas na testa com os dizeres “Estou com o Bolsonaro”, “Sou contra o Bolsonaro” e “Não quero falar de política”, sem as quais nenhum tipo de vida social será possível.
Centeno – Voltando àquela outra questão: lembra daquele clássico B de ficção científica, Invasores de corpos, do Don Siegel? Aquele onde as pessoas, ao dormirem, são substituídas por vagens vindas do espaço e se transformam em cópias sem empatia alguma. Não lembra algo familiar?
Verissimo – Estamos nos transformando em vagens. Hmmm… De certa maneira é um futuro menos assustador do que a reeleição do Bolsonaro com o Alexandre Frota como vice.
Ernani – Se o governo Bolsonaro tem razão e a Terra é mesmo plana, o que será dos antípodas?
Verissimo – Pois é. E não explicam como os ursos brancos do Norte e os pinguins do Sul ainda não se encontraram no vortex da Terra plana, para confraternizar.
Schröder – Para ti, o centro da bandeira brasileira está composto por uma esfera azul representando o universo ou um disco azul como a terra plana representando o Olavo de Carvalho?
Verissimo – Não devemos fazer pouco do dr. Olavo, que pode nos desintegrar com uma descarga do seu bastão energizado por emanações de Júpiter. Com certas coisas não se deve brincar, gente.
Centeno – Durante muito tempo, nossas elites sentiram-se afrontadas por Marx, homem do século 19. Hoje, parece que se sentem afrontadas por Copérnico, homem do século 16, que comprovou que nosso planeta gira em torno do Sol. Qual será a próxima conclusão secular da ciência que iremos afrontar?
Verissimo – Dizem que Copérnico, Galileu, Darwin e todos os opositores do criacionismo serão banidos dos livros escolares brasileiros e substituídos pela nova teoria do evolucionismo militar, segundo a qual toda a raça humana começou como soldados rasos e foi subindo de grau.
Santiago – Alguns humoristas da Alemanha avaliaram, no pós-Segunda Guerra Mundial, que as críticas mais folclorizaram o führer do que diminuíram sua imagem junto ao povão. Corremos também esse risco?
Verissimo – Há esse perigo. Não dou duas gerações para que “bolsonaro” vire adjetivo, como elogio ou danação, dependendo de quem o usar e da memória de cada um.
Ernani – Todo governo mente, claro, mas o caso do reinado Bolsonaro é especial: os mentirosos não apenas mentem como parecem, eles próprios, acreditar nas mentiras que dizem…
Verissimo – No caso do Bolsonaro o rei não só está nu como desfila com uma radiografia computadorizada do seu interior, e mesmo assim poucos, curiosamente, gritam “Ele está nu!”
Fraga – Bozonaro tem uma fraquejada e pede aos cidadãos cartas com sugestões pra melhorar seu modo de governar o Brasil. Tu também fraquejas e atende ao pedido. Quais enviarias?
Verissimo – “Renuncia!”
Katia Marko – Não tem um momento em que a gente olha ao redor e pensa que virou personagem de um novo gênero literário, a comédia de horror?
Verissimo – É verdade. E o pior é que ninguém nos perguntou se queríamos estar no elenco.
Ernani – Como se explica que o anticomunismo tenha sobrevivido ao comunismo?
Verissimo – Vê-se tão poucos comunistas hoje em dia porque estão todos embaixo das camas dos anticomunistas, como urinóis esquecidos.
Centeno – “Agora é guerra” você escreveu recentemente sobre a loucura que estamos vivendo. O problema é que, do outro lado, estão as milícias…
Verissimo – O nosso lado está com a razão mas o lado deles está com os AK 154, certo. Mas lembrem-se que o David não precisou de mais do que um estilingue.
Fraga – Dá pra imaginar como são as reuniões do condomínio do Bozo, com ele presente? Qual seria uma pauta típica?
Verissimo – Discutiriam, certamente, a contratação de porteiros mais confiáveis.
Edgar Vasques – Será que a sala de reuniões lá no condomínio do capitão tem detector de metais?
Verissimo – Além de detector de metais e câmeras, a sala de reuniões do condomínio deve estar cheia de gravadores, esperando a hora de serem ouvidos na hipotética comissão que um dia investigará tudo isto, ao menos em sonho.
Santiago – Millôr disse que nós, humoristas, somos muito importantes para sermos presos, porém não tão importantes para que nos soltem. E então?
Verissimo – Humoristas presos e humoristas soltos são uma tradição no Brasil desde o Barão de Itararé. Infelizmente, humoristas, jornalistas e intelectuais presos e mortos também são uma tradição, menor mas não menos lamentável. Entre presos e soltos ninguém deveria estar nessa estatística tétrica num país civilizado.
Fraga – Quando o Bozo chega tarde em casa, por causa de um dia problemático no palácio, que tipo de desculpas ele daria pra Michele? Ou ele contaria tudo que se passa lá?
Verissimo – “O Congresso me sacaneando de novo, a imprensa não largando meu pé, e você pergunta se o meu dia foi bom, Michele? Você anda vendo seriado da TV americana demais, querida”.
Schröder – Entre o Cabo Anselmo, o Tenente Bolsonaro e o General da Banda, quem representa melhor a tradição militar brasileira?
Verissimo – Sem dúvida o General da Banda, que nos impede de desesperar por completo dos nossos militares.
Ernani – Naquela velha comédia One, two, three (no Brasil, como sempre, ganhou um título “criativo”: Cupido não tem bandeira) do Billy Wilder, um jovem acha justo que a humanidade seja varrida da terra. Então, o personagem do James Cagney responde: “Não se saiu tão mal uma espécie que deu o Taj Mahal, Shakespeare e a pasta de dentes com listinhas”. Bom, Bolsonaro não criou a estupidez que se vê do Oiapoque ao Chuí, apenas levou as pessoas a ostentarem ela na rua e baterem no peito com orgulho. A pergunta é: depois disso a espécie tem alguma defesa, apesar da pasta de dente com listinha?
Verissimo – Além de Shakespeare, do Taj Mahal e da pasta de dente com listinha eu teria uma enorme relação de justificativas para a passagem do homem sobre Terra, começando pelo pudim de laranja e terminando pelo Charlie Parker. A espécie não é culpada pelos seus dementes e torturadores.
Edgar Vasques – Como imagina que os historiadores descreverão este período que enfrentamos? Que começou em 2016 e virou demência em 2018. E qual o papel da mídia na abertura das portas do inferno?
Verissimo – A História terá dificuldade em entender o fenômeno Bolsonaro, mas talvez desenvolva uma lógica para explicá-lo. Para a História, o tempo acaba explicando até o ilógico. Quanto ao papel da mídia, não existe uma mídia só. Entre coniventes, subservientes, bem e mal-intencionados, heroicos e bandidos, tivemos de tudo. Acho que com o tempo a História também nos compreenderá.
Centeno – A propósito, o jornalista H. L. Mencken tinha uma definição implacável do jornal médio dos EUA. Diz que tinha “a inteligência de um carola caipira, a coragem de um rato, a imparcialidade de um fundamentalista, a informação de um porteiro de ginásio, o gosto de um criador de flores artificiais e a honra de um advogado de porta de cadeia”. E os nossos?
Verissimo – Mencken era um misantropo genial. O que ele pensava da espécie humana se multiplicava quando comentava a imprensa do seu país. Não sei se a nossa imprensa merece um rancor parecido. Ou talvez não mereça outra coisa.
Ernani – Bolsonaro quer transformar todas as escolas em escolas militares. Mas, considerando o nível intelectual do general Heleno, do general Mourão e do próprio Bolsonaro, não é de se pensar que a inteligência militar é uma contradição em termos, como dizia Gore Vidal?
Verissimo – Escolas militarizadas são a consequência natural do espírito que se instalou no país, com a eleição do Bolsonaro. Vamos ver qual será a primeira a receber o nome Coronel Ustra.
Centeno – Admitindo-se a hipótese criacionista – o que parece ser questão de tempo nas escolas públicas ou não – onde Deus errou ao criar o Brasil?
Verissimo – Deus criou um paradoxo, um país gigantesco e menor ao mesmo tempo.
Edição: Katia Marko, Ayrton Centeno, Fraga e Schröder
Mulheres chilenas viralizaram nas redes sociais com a performance feminista “Un Violador en Tu Camino”, em português “Um estuprador em seu caminho”. O protesto foi realizado pelo Coletivo LasTesis, em ação pelo Dia do Combate à Violência Contra a Mulher, em 25 de novembro. Centenas de mulheres se reuniram na Plaza de Armas, em Santiago.
O vídeo com o flash mob denuncia o machismo, o patriarcado e a cultura do estupro. Com vendas pretas nos olhos, as mulheres reproduzem uma coreografia ensaiada e entoam frases como “o estuprador é você”. No refrão, o grito de protesto é ainda mais claro e afirma “o Estado opressor é um macho estuprador”.
A manifestação acontece em meio a crise que implodiu no Chile desde o último mês. Segundo informações da Revista Fórum, foram registrados cerca de 70 casos de abusos sexuais cometidos por policiais contra mulheres detidas.
No instagram, o Coletivo LasTesis divulga novas convocatórias para que mulheres se reúnam em diversos locais no Chile.
O patriarcado é um juiz Que nos castiga por nascer E nosso castigo É a violência que você não vê
O patriarcado é um juiz Que nos castiga por nascer E nosso castigo É a violência que você não vê
É o feminicídio Impunidade para o assassino É a desaparição É o estupro
E a culpa não era minha, nem de onde eu estava, nem de como me vestia E a culpa não era minha, nem de onde eu estava, nem de como me vestia E a culpa não era minha, nem de onde eu estava, nem de como me vestia E a culpa não era minha, nem de onde eu estava, nem de como me vestia
O estuprador era você O estuprador é você São os pacos [policiais militarizados] Os juízes O Estado O presidente
O Estado opressor é um macho estuprador
O Estado opressor é um macho estuprador
O estuprador era você O estuprador é você
Dorme tranquila Menina inocente Sem se preocupar com o bandoleiro Que o seu sonho Doce e sorridente Será velado por um amante policial
O estuprador é você O estuprador é você O estuprador é você O estuprador é você
Piñera pede a ministros que ponham cargos à disposição e avisa que pode retirar estado de emergência anunciando o fim do toque de recolher para algumas regiões.
SANTIAGO – Em resposta à grande marcha que tomou as ruas do Chile nesta sexta-feira, o presidente Sebastián Piñera pediu aos ministros que coloquem seus cargos à disposição. Ele também anunciou o fim do toque de recolher para algumas regiões e a retirada da classificação de estado de emergência de várias localidades, a partir de domingo.
Pedi a todos os ministros que disponibilizassem seus cargos para poder estruturar um novo gabinete para enfrentar essas novas demandas e cuidar dos novos tempos – disse Piñera, referindo-se à onda de protestos e embates que já causaram 19 mortes.
O líder também avaliou que “o Chile está diferente de uma semana atrás” e classificou a última manifestação como “exemplar”.
– Vimos uma mensagem muito presente na alma dos chilenos, pois eles a expressaram com uma eloquência que chegou a todos nós. A marcha de ontem foi uma mensagem forte. Uma mensagem da grande maioria dos chilenos pedindo um Chile mais justo e solidário. Todos ouvimos essa mensagem. Todos mudamos e estamos com uma nova atitude. É como uma agitação – disse ele, que também fez um minuto de silêncio pelos mortos nos protestos e enfatizou a necessidade de se ter “capacidade de dialogar e saber ouvir”.
Piñera se reuniu, também neste sábado, com ministros e representantes de vários grupos sociais, no Palácio de La Moneda, sede do governo. Na ocasião, disse:
Queríamos convocar vocês para nos ajudar a criar uma metodologia que nos permita ouvir os chilenos, não apenas no nível da academia, da sociedade civil, dos sindicatos, do próprio governo, mas uma metodologia que venha a surgir desta e de outras reuniões e seja dirigida e coordenada pelo ministro Sebastián Sichel, com a colaboração de todos vocês, e nos permita satisfazer a uma enorme demanda.
Depois do encontro, foi anunciado o fim do toque de recolher para Santiago, Valparaíso, Biobío, Coquimbo e La Serena. Piñera disse que sua intenção é suspender os estados de emergência em todas as regiões, se as circunstâncias permitirem, a partir do próximo domingo.
– Depois de conversar com as Forças Armadas, quero anunciar que, se as circunstâncias permitirem, vou suspender todos os estados de emergência a partir de domingo para a normalização que todos os chilenos desejam.
Enquanto isso, algumas lojas comerciais seguem operando em horário limitado.
Piñera já tinha dito, na sexta-feira, que “todos escutaram o recado” sobre as desigualdades sociais no país. “A grande, alegre e pacífica passeata de hoje, onde os chilenos pedem um Chile mais justo e solidário, abre grandes caminhos de futuro e esperança”, escreveu Piñera no Twitter sobre o protesto que reuniu cerca de 1 milhão de pessoas em Santiago.
A multidão ocupou o centro da capital para exigir reformas em um sistema econômico que consideram desigual, e para denunciar o governo pelo emprego dos militares contra a pior revolta social em três décadas no Chile.
O protesto estudantil, iniciado há uma semana contra o aumento na tarifa do metrô, provocou uma grave crise social, onde manifestantes continuam nas ruas para exigir uma fatia maior da prosperidade que transformou o país em um dos mais estáveis da América Latina.
Incidentes isolados ocorreram em meio à gigantesca passeata, como diante do Palácio de La Moneda, sede do governo, onde as forças de segurança dispararam jatos d’água, bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar os manifestantes.
Depois de longa miséria da classe operária no Chile, provocada pelo naufragado neoliberalismo, parece que todos os seres humanos hoje estão no Chile, presencialmente ou de coração.
Não há quem não se envolva numa manifestação tão linda contra a brutalidade e a crueldade de Sebastián Piñera que comanda um banho de sangue, tortura e mortes contra seu próprio povo, repetindo os tempos da ditadura de Pinochet.
Vale a pena assistir a essa condensada manifestação dos chilenos que somam mais de um milhão somente no centro de Santiago. Somando a outros três milhões de manifestantes por todo o Chile.
Que o Brasil siga o exemplo contra o neoliberalismo.
Más de un millón de personas han llegado a la plaza Italia en Santiago de Chile y se espera que la cifra aumente, informó la Intendencia#LaMarchaMasGrandeDeChile registra asistencia histórica en protesta contra el gobierno de Sebastián Piñera pic.twitter.com/v48ya7bSsu
Pessoas do Flamengo asseguraram que o clube não convidou Jair Bolsonaro para acompanhar a final da Copa Libertadores, dia 23 de novembro, a priori em Santiago.
E, asseguram, não planejam fazê-lo, diz Mauro Cezar em seu Blog.
Nos bastidores, crescem rumores de que a decisão possa mudar de local, em virtude do clima de tensão no Chile.
Mais cedo, o jornal O Globo publicou que o Presidente da República recebera convite do clube para comparecer ao estádio no cortejo diante do River Plate.
O que seria um absurdo completo, além de uma falta de respeito com o povo chileno,, que em maioria repele admiradores do ex-ditador Augusto Pinochet.
Bolsonaro já o elogiou publicamente, como a outros personagens semelhantes da história, caso do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos grandes representantes da repressão que marcou a ditadura militar no Brasil. Ele vai além, chega a se referir ao torturador condenado como “herói nacional”.
O Estádio Nacional de Santiago, palco da decisão, preserva velha arquibancada dos tempos em que a ditadura de Pinochet o utilizava como prisão. Lá, por cerca de dois meses, 20 mil pessoas ficaram aprisionadas.
No local, o regime torturava e matava opositores. E naquele setor, de madeira, se lê a frase “Um povo sem memória é um povo sem futuro”. É uma forma de evitar que esse trecho macabro da história seja esquecido.
Bolsonaro é admirador de personagens como sanguinário militar que atuou como ditador no Chile de 1973 a 1990.
Tê-lo como convidado seria muita falta de noção, e de respeito, ao povo chileno. Soaria como uma afronta, um deboche, puro escárnio. Uma patética provocação depois que o brasileiro insultou o pai da ex-presidente chilena e comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, torturado e morto pela ditadura militar.
Em meio aos protestos cercados por violência no país, convidar Bolsonaro para comparecer a Santiago seria como se o Flamengo dissesse ao povo do Chile algo forte o bastante para despertar antipatia e ódio pelo clube. Era só o que faltava, depois de tanto bajular o Presidente da República e políticos de seu partido, cartolas do clube cometerem tamanha tolice, insultando o Chile, sua gente e sua história. Ainda mais em momento tão tenso.
Além de 18 mortos, 2,6 mil pessoas estão detidas em todo o país desde o dia 18, entre elas quase 300 crianças e adolescentes. Do total de 584 pessoas feridas, 245 foram por armas de fogo.
De acordo com uma das 31 reclamações judiciais abertas pelo Instituto Nacional de Direitos Humanos (INDH) do Chile, três homens e um menor de idade de 14 anos teriam sido presos pelos policiais e “‘crucificados’ na estrutura metálica da antena” da delegacia da região de Peñalolén, bairro de Santiago, segundo documento adquirido pela imprensa chilena.
A instituição dos Carabineros (nome dado à Polícia militar chilena) confirmou ao Estadão a existência da investigação, mas disse que não poderia se manifestar e nem “confirmar algo que está sendo investigado, até que saia o resultado”.
Uma outra investigação em aberto se refere às acusações feitas ainda na terça-feira de que a estação de metrô Plaza Baquedano, em Santiago, desativada desde o início dos protestos, está sendo utilizada pela polícia como centro de tortura e agressões físicas.
O INDH também denunciou em reclamações formais nove casos de violência sexual praticada por policiais em detidos, incluindo em um menino que estava acompanhado do tio.
Nem os funcionários do próprio instituto ficaram ilesos de ataques da polícia, que disparou jatos d’água e bombas de gás lacrimogêneo contra um grupo de três observadores do instituto, ainda no fim de semana. De acordo com o INDH, eles estavam devidamente equipados, com coletes e capacetes amarelos que levam o nome do instituto.
Após sessão na Comissão de Direitos Humanos do Senado nesta quinta-feira, o Diretor Geral dos Carabineros, Mario Rozas, garantiu que há “protocolos de atuação”. Ele também negou o uso da palavra “repressão”, reiterando que a polícia utiliza o termo “controle da ordem pública” para justificar sua atuação na contenção dos protestos, incluindo o uso de balas de borracha contra manifestantes, que faz parte de um protocolo padrão.
No último balanço divulgado na tarde de quinta-feira pelo INDH, 2,6 mil pessoas estão detidas em todo o país desde o dia 18, entre elas quase 300 crianças e adolescentes. Do total de 584 pessoas feridas, 245 foram por armas de fogo. O instituto abriu 59 ações judiciais, sendo cinco delas por casos de homicídios cometidos pelas forças policiais e do Exército chileno, que também trabalha nas ruas desde o decreto de estado de emergência em diversas regiões do país.
Segundo dados oficiais, os embates já deixaram 18 mortos, mas de acordo com o INDH, há casos subnotificados de mortes provocadas pelos agentes.
O aumento das denúncias e o apelo feito a ex-presidente do Chile e alta-comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, inclusive em forma de convite do presidente Sebastián Piñera, fez com que a ONU enviasse na quinta-feira uma missão ao país para investigar os casos.
Arte é arte. Seu poder é indestrutível. Por isso, idiotas como Osmar Terra, Ministro da Cidadania aqui no Brasil quer calar a arte em nome de um governo fascista.
A superioridade moral da arte e suas luzes esclarecedoras é a parte mais rica da paisagem humana. E foi num canto lírico febril que os moradores de um bairro de Santiago, em plena sombra da noite de um país sitiado pelos fascistas do neoliberalismo, explodiram de felicidade, deslumbrados com a voz magnífica de uma mulher cantando Violeta Parra.
Vale a pena ouvir e assistir, à exaustão, a esse maravilhoso momento para entender também porque o governo Bolsonaro quer banir a arte do cotidiano dos brasileiros.
Centenas de milhares de pessoas ocuparam as principais ruas de Santiago nesta quarta-feira (23) na greve geral contra o governo neoliberal de Sebastián Piñera. Manifestação está sendo considerada a maior desde o fim da ditadura e pede a renúncia de Piñera, mesmo após ele recuar e anunciar pacote de medidas sociais.
O Chile registra nesta quarta-feira (23) uma gigantesca manifestação popular contra o governo do presidente Sebastián Piñera e suas políticas neoliberais.
São centenas de milhares de chilenos que ocupam as ruas principais do centro da capital Santiago na greve geral convocada por sindicatos e movimentos sociais, aprofundando os protestos que acontecem há seis dias.
Eles criticam a decisão de Piñera de colocar o país em estado de emergência e ordenar toque de recolher, além de recorrer às Forças Armadas para controlar as manifestações, incêndios e saques registrados em Santiago e dezenas de cidades que deixaram 18 mortos, incluindo uma criança de 4 anos, na mais grave onda de violência no Chile em três décadas.
Os chilenos pedem a renúncia de Sebastián Piñera, um dia depois dele pedir desculpas por sua falta de visão para antecipar a crise que atinge seu governo, e ter anunciado uma série de medidas sociais.
Alguns vídeos apresentam imagens fortes:
O Chile está o unido contra o neoliberalismo. Neste momento, todos na rua lutando contra Sebastián Piñera. pic.twitter.com/YmeoU6R01N
COMO SE PUEDE SER TAN HIJO DE PUTA WEON!!! QUE CHUCHA LES PASA EN LAS MENTESS!!#renunciapiñera!! DIFUNDA ESTO PASÓ EN SAN PEDRO DE LA PAZ. pic.twitter.com/wJKDKDweZd
Os chilenos estão em assembleia permanente nas ruas mesmo q não deem a isso esse nome.Agora imagine se houvesse uma frente progressista;se houvesse um projeto crível de país; se esse projeto fosse discutido e sufragado nas praças;se isso acontecesse,AL seria a esperança do mundo https://t.co/5tNduDw0iC
Um incêndio de grandes proporções atingiu o prédio da companhia elétrica do Chile, Enel, e, ao se espalhar, chegou até o 12º andar. De acordo com o corpo de bombeiros local, o imóvel fica na região central da capital, Santiago.
O fogo começou no mesmo local onde acontecia uma onda de protestos no país, mas as autoridades ainda não sabem se os episódios têm relação. Nesta sexta (18), o metrô de Santiago foi alvo de protestos contra o aumento da passagem. Por conta disso, a empresa responsável precisou suspender as atividades.
“Toda a rede de Metrô se encontra fechada por distúrbios e destroços que impedem contar com as condições mínimas de segurança para passageiros e trabalhadores”, anunciou a ferroviária metropolitana por meio de uma mensagem no Twitter.
A medida é uma prevenção contra um grupo de milhares de pessoas que planejavam derrubar os portões das estações, destruir as catracas e passar pelos controles de acesso para protestar contra o aumento de 3,75% nos bilhetes.