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Estudo identifica 142 empresários do agronegócio envolvidos em tentativa de golpe

Dossiê do De Olho nos Ruralistas, “Agrogolpistas” consolida listas de fazendeiros e sócios de empresas indiciadas por bloqueio de rodovias, acampamentos e o 8 de janeiro; impunes, sojicultores de MT, GO e BA têm contratos com BTG Pactual e Syngenta

Por Alceu Luís Castilho e Bruno Stankevicius Bassi

Quem é o “pessoal do agro”? Quais os nomes dos empresários do agronegócio que financiaram a intentona golpista liderada por Jair Bolsonaro?

Agrogolpistas: relatório inédito consolida 142 nomes de empresários do agronegócio que apoiaram tentativa de golpe
Essas perguntas pairam desde 21 de novembro de 2024, quando a Polícia Federal (PF) indiciou o ex-presidente e outras 36 pessoas por tentativa de golpe de Estado. O relatório publicado naquele dia revelou a existência do plano Punhal Verde e Amarelo: uma trama de homicídio orquestrada por membros da Forças Armadas e do alto escalão do governo. O objetivo? Decretar um regime de exceção e assassinar o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, seu vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

A participação do agronegócio no plano foi detalhada após a prisão do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Em depoimento à Procuradoria-Geral da República, ele afirma ter recebido cerca de R$ 100 mil em espécie. Com notas entregues em uma sacola de vinho pelo general Walter Braga Netto, que contou a Cid sobre a origem do valor: “O general Braga Netto entregou e comentou que era alguém do agro que tinha dado, mas eu não sei o nome de quem foi que passou pra ele”.

Quem é esse “pessoal do agro” sem rosto, sem nome e impune?

Para responder a essa pergunta, De Olho nos Ruralistas lança nessa quarta-feira (25) o relatório “Agrogolpistas“, que identifica 142 empresários do setor que atuaram no suporte logístico ou financeiro a atos golpistas entre o segundo semestre de 2022 e o fatídico 8 de janeiro de 2023.

Os agrogolpistas não são apenas fazendeiros caricaturais, com chapelão e botas, nos rincões do país. Ao longo de 89 páginas, é possível encontrar o nome de bancos e multinacionais diretamente ligadas aos empresários que financiaram o terror. Eles recebem financiamento de instituições como Santander, Rabobank e John Deere. E possuem contratos de fornecimento e parceiras com gigantes como BTG Pactual e Syngenta — esta última, parte da cadeia de financiamento da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

O dado mais alarmante diz respeito à responsabilização: salvo aqueles (poucos) que foram flagrados nos atos terroristas de 8 de janeiro, nenhum dos nomes respondeu juridicamente pelo fomento ao golpe de Estado.

OBSERVATÓRIO ANALISOU 1.452 NOMES PARA TRAÇAR RELAÇÃO COM AGRONEGÓCIO
Durante quatro meses, o núcleo de pesquisas do observatório percorreu listas de pessoas físicas e jurídicas investigadas por contratar a infraestrutura dos acampamentos golpistas — geradores, tendas, banheiros químicos, alimentos — e por viabilizar o trancamento de rodovias de norte a sul do país.

A base de dados de financiadores de atos antidemocráticos — 551 nomes, ao todo — foi complementada pela relação dos 898 réus responsabilizados criminalmente em inquéritos do STF relativos ao 8 de janeiro e pela lista de indiciados da Operação Lesa Pátria, da PF. Por último, incluímos na análise os nomes de três fazendeiros paraenses investigados por fornecer apoio aos terroristas George Washington de Oliveira Sousa e Alan Diego dos Santos Rodrigues, responsáveis pela tentativa de atentado à bomba no aeroporto de Brasília, na véspera do Natal de 2022.

A partir desses dados, nossa equipe procurou identificar relações diretas com o agronegócio: propriedade de imóveis rurais registradas no cadastro do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) ou no Cadastro Ambiental Rural (CAR); sociedade em empresas agropecuárias registradas na Receita Federal; e o registro de beneficiários do seguro rural pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. No caso das empresas privadas indiciadas, a pesquisa foi estendida para seus sócios.

Ao todo, constatamos que 142 fazendeiros e empresários do agronegócio foram implicados por sua participação em atos antidemocráticos.

Eles correspondem a 10% de todos os nomes analisados ao longo da pesquisa. Esses dados podem — e provavelmente estão — subestimados, uma vez que são comuns os casos de pessoas físicas com homônimos e, devido à Lei Geral de Proteção de Dados, tanto as bases fundiárias do Incra quanto as da Receita Federal deixaram de exibir o número do CPF.

Só foram listados neste relatório os casos em que houve confirmação absoluta de relação com o agronegócio.

“ARCO DA SOJA” CONCENTRA 71% DOS AGROGOLPISTAS
Dos 142 fazendeiros e sócios de empresas identificados no levantamento, 74 estão baseados em Mato Grosso, 17 em Goiás e 13 na Bahia. Os três estados respondem por 71% dos nomes consolidados pelo observatório. A relação com o agronegócio é escancarada: juntos, eles compõem o principal corredor produtivo da soja no país, responsável por 47% da safra nacional.

Argino Bedin lidera clã que mais contribuiu com envio de caminhões ao QG do Exército, em Brasília. (Foto: Alan Santos/PR)
Foi justamente desse eixo de onde saiu a maior parte dos caminhões identificados pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) entre os veículos estacionados em frente ao Quartel General (QG) do Exército em Brasília: 56 dos 234 caminhões enviados ao acampamento golpista tinham origem em Sorriso (MT), o maior polo produtor de soja do mundo.

Desse total, 28 pertencem a duas famílias que se interligam. Com dez nomes na lista, o clã Bedin enviou quinze caminhões para a capital federal. Unidos aos Bedin pelos negócios e pelo casamento, os Lermen enviaram treze veículos para o QG golpista.

O grupo é liderado pelo pioneiro Argino Bedin, o “pai da soja” de Sorriso. O mesmo empresário que se calou diante da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, no Senado. Quando retornou a Sorriso, quatro dias após seu depoimento, Argino foi ovacionado em um evento de gala organizado por políticos e expoentes do agronegócio mato-grossense.

O caminho que liga o Arco da Soja às movimentações golpistas passa ainda pelas organizações de representação do agronegócio: seis empresários investigados em processos relativos ao 8 de janeiro e aos acampamentos golpistas são dirigentes da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), uma das organizações fundadoras do Instituto Pensar Agro (IPA), o braço logístico da bancada ruralista no Congresso.

Entre eles, Christiano da Silva Bortolotto, ex-presidente da Aprosoja de Mato Grosso do Sul e do Sindicato Rural de Amambai (MS), onde protagoniza um conflito histórico contra o povo Guarani-Kaiowá do Tekohá Kurusu Ambá.

Confira abaixo o mapa com a origem dos agrogolpistas:

*De Olho nos Ruralistas


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PF descobriu elo de grupo de extermínio com tentativa de golpe de Bolsonaro

Execução de advogado, que está na origem do caso, foi acertada por bolsonarista radical com coronel colega de Bolsonaro, que comanda o grupo de caça aos comunistas, em ato de “patriotas” que acampavam em frente a quartel general do Exército.

A execução do Roberto Zampieri, de 57 anos, dentro do próprio carro com 10 tiros em uma emboscada armada em frente ao escritório em Cuiabá (MT) no dia 5 de dezembro de 2023 foi apenas a ponta do iceberg, agora investigado pela Polícia Federal, de um grande esquema de vendas de sentenças no Tribunal de Justiça do Mato Grosso (TJ-MT) e no Superior Tribunal de Justiça.

No entanto, além desse grande esquema de vendas de sentenças, a operação Sisamnes – referência ao juiz que aceitava subornos para proferir sentenças injustas na mitologia persa – em sua 7ª etapa, desencadeada nesta quarta-feira (28), descobriu o elo entre um grupo de extermínio que se autodenominava “Comando C4”, sigla para “Comando de Caça a Comunistas, Corruptos e Criminosos”, que tem ligação estreita com o bolsonarismo a tentativa de golpe conduzida por Jair Bolsonaro (PL), que culminou no 8 de Janeiro de 2023.

O grupo, cujo nome faz referência à organização paramilitar de extrema direita que atuava como braço direito da Ditadura, foi contratado, segundo a PF, pelo ruralista Aníbal Manoel Laurindo, um bolsonarista radical, para assassinar Roberto Zampieri que advogava para um adversário e venceu uma disputa judicial por duas fazendas em Paranatinga, a 411 km de Cuiabá, avaliadas em cerca de R$ 100 milhões.

O bolsonarista acreditava que o advogado fazia parte do esquema de sentenças. Na verdade, o esquema era comandado pelo empresário Andreson Gonçalves, o “lobista dos tribunais”, que foi preso na primeira fase da operação.

Na investigação sobre o assassinato, a polícia descobriu que Laurindo encomendou o crime ao coronel da reserva Etevaldo Luiz Caçadini, que segundo as investigações é o financiador e principal articulador do grupo de extermínio C4, formado por civis e militares que atuava como uma milícia paralela.

Em março de 2024, o fazendeiro foi preso, solto e posteriormente retornou à prisão nesta quarta-feira. De acordo com a Polícia Civil de Mato Grosso, ele e um coronel teriam se conhecido por meio da “Frente Ampla Patriota”, um grupo que acampava em frente aos quartéis do Exército após a vitória de Lula em 2022, demandando um golpe militar para manter Jair Bolsonaro no poder.

O delegado Nilson Farias, encarregado das investigações, afirmou que essa conexão entre o coronel e o fazendeiro se formou a partir das atividades do grupo, que clamava por uma ação mais firme do Exército em defesa do conservadorismo.O coronel Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas, que é um dos financiadores e organizadores do grupo Caça-Comunistas, possui vínculos diretos com Bolsonaro, sendo da mesma turma de 1977 da Academia Militar das Agulhas Negras.

Em 2020, Caçadini uniu-se a outros ex-alunos para assinar uma carta de apoio ao ex-presidente. Ele foi aposentado em novembro de 2019 e trabalhou anteriormente no Ministério da Justiça, sob a gestão do ex-juiz e atual senador Sergio Moro.

Em janeiro de 2024, Caçadini foi preso acusado do assassinato de Zampieri. Nesse mesmo período, ele recorreu ao Superior Tribunal Militar (STM) em uma ação onde era acusado de envolvimento com os atos golpistas de 8 de janeiro, por incitar a “animosidade entre as Forças Armadas e os Poderes Constitucionais”.

Seu pedido foi negado pela Justiça Militar e ele foi incluído no inquérito relacionado aos eventos de 8 de janeiro, que está em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF), sob a relatoria de Alexandre de Moraes.Na acusação formal feita pela Procuradoria Militar, Caçadini foi acusado de incitar “desobediência e indisciplina militar”, ao disseminar informações que ofenderiam a dignidade das Forças Armadas e ao dirigir comentários desabonadores ao comandante do Exército.

A Procuradoria destacou que o coronel, insatisfeito com a postura das Forças Armadas – especialmente do Exército Brasileiro, que teria minimizado os eventos ocorridos no final de 2022 com a eleição de Lula – sugeriu que os manuais militares deveriam ser desconsiderados, argumentando que a hierarquia e a disciplina poderiam ser desrespeitadas em certas circunstâncias, incitando, assim, a indisciplina militar.

Em uma declaração polêmica, um militar expressou suas convicções patrióticas, referindo-se a eventos como a “traição das FFAA” e marcando duas datas importantes para os brasileiros: a virada de ano de 2023 e o Dia 8 de Janeiro. Ele fez um apelo à mobilização popular, enfatizando que o povo é quem realmente detém o poder no país.

O texto foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF) porque os crimes mencionados estariam relacionados aos eventos de 8 de janeiro de 2023, ocorridos após a eleição de 2022, apresentando uma clara conotação político-ideológica.A defesa de Caçadini, o militar em questão, entrou com um recurso para tentar transferir o processo de volta para a justiça militar.

Contudo, as novas informações surgidas no caso podem inviabilizar qualquer tentativa de contestar a decisão do ministro Alexandre de Moraes. Analisando o histórico de viagens e atividades do coronel, dados do Portal Transparência indicam que, entre março e setembro de 2019, Caçadini fez quatro deslocamentos a serviço do Ministério da Justiça.

Sua última viagem foi de Belo Horizonte a Vitória, onde treinou outros militares para garantir a segurança do Mundial Sub-17 da FIFA. Durante esse período, ele também atuou como Subsecretário de Integração de Segurança Pública em Minas Gerais, facilitando a comunicação entre os governos de Romeu Zema, estado de Minas Gerais, e Jair Bolsonaro, a nível federal.

Atualmente, Caçadini está entre os alvos de uma investigação lançada pela Polícia Federal, a qual foi autorizada pelo ministro Cristiano Zanin. Esta semana, Zanin prorrogou o prazo das investigações em mais 60 dias, um prazo que coincide com o julgamento do núcleo central sobre o golpe de Estado, que está sendo examinado pela primeira turma do STF, também presidida por Zanin.

Essa situação torna ainda mais difícil a posição de Bolsonaro, que enfrenta crescentes ameaças legais e se aproxima de possíveis consequências criminais.

Assim, o emaranhado de ações judiciais, as implicações das manifestações de Caçadini e a interligação entre os governos estadual e federal destacam a tensão política atual e as repercussões dos eventos de janeiro, bem como as investigações em curso que podem impactar significativamente o futuro de figuras proeminentes da política brasileira.

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PGR denuncia Bolsonaro ao STF, além de outros 33, por tentativa de golpe

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, denunciou Bolsonaro, que foi indiciado pela PF. STF vai analisar se o torna réu.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou, nesta terça-feira (18/2), o ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) e outras 33 pessoas pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa armada. Eles ainda foram denunciados por dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima e deterioração de patrimônio tombado.

A denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) ocorre após uma força-tarefa da PGR analisar inquérito da Polícia Federal com mais de 884 páginas sobre as investigações que levaram ao indiciamento de 40 pessoas no total.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, considerou que o ex-presidente da República seria o líder de uma organização criminosa que atuou para planejar um golpe de Estado, que o manteria no poder mesmo após derrota para Lula (PT) nas eleições de 2022.

“A organização tinha por líderes o próprio Presidente da República e o seu candidato a Vice-Presidente, o General Braga Neto. Ambos aceitaram, estimularam, e realizaram atos tipificados na legislação penal de atentado contra o bem jurídico da existência e independência dos poderes e do Estado de Direito democrático”, disse Gonet na denúncia.

A PF, no documento, concluiu que o golpe liderado por Bolsonaro só não se concretizou por “circunstâncias alheias à sua vontade”. Entre elas, estaria a resistência dos comandantes da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro Baptista Junior, e do Exército, general Freire Gomes, em aderir ao plano, segundo Manoela Alcântara, Metrópoles.

Ataques às urnas
De acordo com as investigações, o plano teve início em 2021, com os ataques sistemáticos ao sistema eletrônico de votação, por meio de declarações públicas e na internet. Em julho do ano seguinte, o então presidente da República se reuniu com embaixadores e representantes diplomáticos acreditados no país para verbalizar as conhecidas e desmentidas acusações sobre fraudes nas urnas, na tentativa de preparar a comunidade internacional para o desrespeito à vontade popular nas eleições.

Durante o segundo turno, foram mobilizados aparatos de órgãos de segurança para mapear e impedir eleitores de votar no candidato da oposição. E as pessoas envolvidas, que atuavam em órgãos públicos, facilitaram os atos de violência e depredação, em 8 de janeiro de 2023.

Ao não encontrarem falhas no sistema eleitoral, os envolvidos mantiveram o discurso de fraude e mantiveram a militância com os acampamentos montados em frente a quartéis do Exército em várias capitais do país.

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Diretor da PF não descarta prisão de Bolsonaro em inquérito sobre tentativa de golpe

Prisão será solicitada caso os “requisitos legais” sejam preenchidos, diz Andrei Rodrigues.

InfoMoney – O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou nesta segunda-feira (27), durante entrevista ao programa Roda Viva, que a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode ser solicitada caso os “requisitos legais” sejam preenchidos. O ex-presidente foi apontado no relatório final da PF como o líder de uma suposta organização que teria planejado um golpe de Estado após a derrota eleitoral de 2022.

“O relatório policial é muito completo e contundente, trazendo vários elementos de prova”, disse Rodrigues, destacando que o documento enviado à Procuradoria-Geral da República (PGR) descreve Bolsonaro como a figura central na articulação da trama golpista. “Prisão ou não prisão não depende de vontade política, pressão popular ou imaginação de pessoas. Depende de requisitos legais”, reforçou.

De acordo com Rodrigues, o relatório da PF detalha o papel de Bolsonaro como organizador das ações que buscavam impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A investigação foi baseada em depoimentos, colaboração premiada, materiais apreendidos e análise de dados. “Não são convicções dos investigadores, são provas que estão nos autos”, afirmou o diretor.

Apesar de Bolsonaro ser apontado como líder, Rodrigues explicou que uma possível prisão cautelar só será solicitada caso sejam identificados fatores que justifiquem a medida, como risco de fuga, obstrução de Justiça ou reincidência.

Michelle e Eduardo não serão indiciados – Rodrigues também esclareceu que a investigação não encontrou elementos suficientes para indiciar a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), ambos citados na delação premiada do ex-ajudante de ordens Mauro Cid como parte de um grupo radical.

“Nós investigamos, apuramos e não encontramos elementos suficientes para várias pessoas, não só essas duas”, explicou Rodrigues. Ele destacou que a delação premiada é apenas um instrumento para obtenção de provas, mas que é necessário cruzar os relatos com outras evidências.

Próximos passos da investigação – O relatório da Polícia Federal, concluído em novembro de 2024, indiciou Bolsonaro e outras 39 pessoas. A delação de Mauro Cid foi utilizada para apontar nomes que integram a suposta trama golpista, mas Rodrigues frisou que nem todos os mencionados foram indiciados por falta de provas, segundo o 247.

Questionado sobre o tempo de duração do inquérito, Rodrigues afirmou que investigações dessa magnitude têm “tempo de maturação” e dependem de análise criteriosa. Ele também reforçou o compromisso da PF com uma condução isenta e responsável, descartando qualquer pré-julgamento.

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‘Kids pretos’, com membros envolvidos na tentativa de golpe, protagonizaram governo Bolsonaro; saiba quem são

Ex-ministros da Saúde e da Casa Civil eram do grupo de elite das Forças Armadas.

Segundo investigações da Polícia Federal, um grupo de elite das Forças Armadas, conhecido como “kids pretos”, sob o comando do general Walter Braga Netto, teria planejado a execução do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice Geraldo Alckmin (PSB) e de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Em seu relatório final, a Polícia Federal informa que o plano, chamado pelos militares de “Punhal verde e amarelo”, começou a ser arquitetado na casa do general Braga Netto em 12 de novembro de 2022, 15 dias após o segundo turno das eleições daquele ano, quando Lula derrotou então presidente Jair Bolsonaro (PL).

Apesar de ser apontado como mentor do plano, Braga Netto não está entre os quatro militares presos pela Polícia Federal na manhã desta terça-feira (19). Os detidos são Hélio Ferreira Lima, Mario Fernandes, Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo. Todos faziam parte do grupo “kids pretos”.

Além dos quatro presos, outros integrantes do governo de Jair Bolsonaro integravam ou já haviam integrado o “kids pretos” durante suas carreiras nas Forças Armadas. O Brasil de Fato preparou uma relação dos militares bolsonaristas. Confira a seguir.

Os meninos do ex-presidente

O plano para assassinar Lula, Alckmin e Moraes foi encontrado no celular de tenente-coronel Mauro Cid, que era ajudante de ordem de Bolsonaro e integrou o “kids de pretos”. O aparelho foi apreendido pela Polícia Federal na Operação Contragolpe. O militar havia deletado os arquivos, mas foram recuperados pelo departamento de inteligência do órgão.

O pai de Mauro Cid, o general Mauro Cesar Lourena Cid serviu no 1º Batalhão de Forças Especiais, o “kids pretos”. O militar serviu, em 1977, na mesma turma da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) de Jair Bolsonaro. Quando assumiu a Presidência da República, o então presidente nomeou o colega para dirigir a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) em Miami (EUA).

Outro integrante da Apex, que também fazia parte do grupo de elite das Forças Armadas, era o general Roberto Escoto, que foi nomeado diretor de Gestão Corporativa do órgão por Jair Bolsonaro.

Um dos “kids pretos” ilustres é o general Eduardo Pazuello, que foi ministro da Saúde durante o governo de Bolsonaro. Hoje, ele é deputado federal e um de seus assessores no gabinete no Congresso Nacional é o general Mário Fernandes, um dos militares presos nesta terça-feira, que trabalhou no local entre janeiro de 2023 e março deste ano. Para a função, recebia R$ 15,6 mil por mês.

Fernandes, um dos “kids pretos” presos foi secretário-executivo Casa Civil, trabalhou também na Secretaria de Governo e na Secretaria-Geral da Presidência da República. O general Guilherme Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, que coordenou o Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), órgão vinculado ao Ministério da Justiça, durante o governo de Bolsonaro, também integrava o grupo.

Seu filho, Guilherme Cals Theophilo Gaspar de Oliveira Filho, serviu no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), também na gestão do ex-presidente. O irmão de Gaspar de Oliveira, o general Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, foi nomeado comandante do Comando de Operações Terrestres (Coter) na gestão de Bolsonaro e também era um “kid pretos”.

Outro ex-ministro que integrou o grupo de elite das Forças Armadas, é o general Luiz Eduardo Ramos, que chefiava a Casa Civil no governo de Bolsonaro. Secretário-executivo do Ministério da Saúde de Bolsonaro, o coronel Antônio Elcio Franco Filho chegou a ocupar o cargo de assessor especial da Casa Civil e também foi um dos “kids pretos” e membro da mesma turma de Mario Fernandes na Aman, em 1986.

Responsável pelo Departamento de Logística em Saúde, órgão do governo federal, durante a gestão de Bolsonaro, o general Ridauto Lúcio Fernandes, um ex-“kids pretos”, esteve nas ruas de Brasília (DF) durante os atos de 8 de janeiro de 2023, que visavam dar um golpe no país para destituir Lula da Presidência da República.

Apontado nas investigações da Polícia Federal como um dos principais incentivadores do golpe de 8 de janeiro, dentro do Exército, o coronel Marcelo Costa Câmara também integrou o grupo de elite das Forças Armadas e foi assessor especial do gabinete de Bolsonaro.

Além dos nomes citados na matéria, outros integrantes do governo Bolsonaro que participaram do “kids pretos” são o coronel Carlos Rober Sucha, que era assessor da vice-presidência; o coronel Danilo Mitre Filho, que foi superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Pará; o coronel Rezende Guimarães Filho, que ocupou o cargo de superintendente do Ibama no Amapá e Amazonas; o coronel Rezende Guimarães Filho, ex-assessor especial de Relações Institucionais da Secretaria de Governo; o coronel Fernando Sergio de Moura Alves, que era assessor especial e Chefe da Assessoria Especial Parlamentar do GSI; o coronel George Divério, que foi superintendente do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro; o general Paulo Humberto, que presidiu o Instituto de Previdência Complementar dos Correios (Postalis); o coronel Marcelo Bento Pires, diretor de Programa da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde; e o coronel Hidenobu Yatabe, chefe de Assessoria da Presidência da Empresa brasileira de Comunicação (EBC).

 

 

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Tentativa de golpe na Bolívia: sanha por lítio e movimentos dos EUA não são mera coincidência

A nível mundial, expansão da capacidade de produção de lítio é crucial, o que torna imprescindível ter o controle das áreas onde se encontra o mineral, como a Bolívia.

Podemos tentar compreender a intentona golpista perpetrada no último dia 26 de junho contra o governo democraticamente eleito da Bolívia sob várias perspectivas. A meu ver, a geoestratégica e os interesses no campo energético é uma das principais. Juntamente com Argentina e Chile, o território boliviano compõe o que se denomina “triângulo do lítio”, essencial à procura por soluções de energia limpa e também evolução tecnológica, fatores-chave para o futuro da mobilidade e da transição energética globais.

Nos últimos quatro anos, esse país andino de 12,2 milhões de habitantes, cuja economia é baseada na extração de recursos naturais, principalmente gás e minérios, já sofreu duas tentativas de golpe de Estado, tendo a primeira sido exitosa, e a segunda providencialmente sufocada.

Preocupação com capitais chineses e russos
Em novembro de 2019, golpistas da extrema-direita forçaram a renúncia do então presidente Evo Morales, que viu-se obrigado a deixar seu país, exilando-se primeiramente no México, e posteriormente na Argentina. Durante o governo da presidenta golpista Jeanine Áñez, foram registradas centenas de prisões arbitrárias, e forte repressão policial aos movimentos contrários ao golpe. Neste 26 de junho de 2024, o agora ex-comandante do Exército Boliviano, Juan José Zúñiga, que se encontra preso, foi a principal liderança dessa segunda tentativa de golpe contra a democracia boliviana, a qual felizmente foi devidamente contida, segundo o Diálogos do Sul.

Conforme salientei, há várias maneiras de tentar compreender essas ameaças golpistas na Bolívia, mas, no meu entendimento, devemos partir para as questões geoestratégicas. Recentemente, no mês de abril, a titular do Comando Sul das Forças Armadas dos Estados Unidos, generala Laura Jane Richardson, se dirigiu à cidade de Ushuaia, na Argentina, onde foi recebida pelo presidente Javier Milei, entusiasta do país norte-americano. Naquela oportunidade, o mandatário rioplatense anunciou, entre outras questões, a instalação de uma base naval integrada aos EUA naquela localidade.

Trata-se de uma jogada estratégica, uma vez que há uma grande preocupação em Washington no que se refere ao Atlântico Sul, devido, sobretudo, à possibilidade de participação de capitais chineses e russos, em cooperações econômicas e no que se refere ao lítio, um dos recursos que faz parte da “estratégia de segurança” estadunidense nessa região.

Lítio, crucial para transição energética
O lítio é encontrado em lagos salgados ou salinas, sobretudo no Chile, na Argentina e na Bolívia (e em menor escala nos Estados Unidos e na China). A demanda por esse recurso tem experimentado aumento exponencial devido à sua aplicação predominante em baterias para veículos elétricos, para o armazenamento de energia renovável e para dispositivos eletrônicos portáteis. A alta procura por lítio tem sido fomentada pelas tendências globais em direção à redução da dependência de combustíveis fósseis.

Mas a questão não fica por aí. A produção de lítio enfrenta desafios significativos. E a maior parte dessa matéria-prima é extraída de salmouras e rochas pegmatíticas, principalmente na América do Sul (incluindo a Bolívia, como vimos), Austrália e China. E a expansão da capacidade de produção é crucial. Por isso é imprescindível ter o controle das áreas onde se encontra esse importante mineral.

Há duas semanas da tentativa de golpe, o presidente Luis Arce visitou San Petersburgo, onde acontecia o Fórum Econômico Internacional. Antes, porém, no mês de abril, a titular do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Bolívia, Celinda Sosa, reuniu-se, em Moscou, com o seu homólogo russo, Sergey Lavrov, que expressou o seu apoio às aspirações da Bolívia no que se refere à adesão ao grupo BRICS. Em dezembro de 2023, o país andino assinou acordo com a empresa russa Uranium One Group, para fins da construção de planta-piloto semi-industrial com tecnologia de Extração Direta de Lítio (DLI), no Salar de Uyuni, para produzir 14 mil toneladas de carbonato de lítio anuais.

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Para facilitar o trabalho do MP e PF, políticos que apoiaram a tentativa de golpe, serão fotografados e revelados na Paulista no dia 25

Com uma vitória, Bolsonaro poderá contar, a de políticos que lhe farão companhia no presídio. Sim, porque só irão ao ato políticos que cerrarão fileiras com Bolsonaro no enfrentamento à institucionalidade do país, a dissolução de todas as normas democráticas e, lógico, a queima da constituição em praça pública em cima de um trio elétrico.

Um político minimamente sério, comprometido com a democracia, mesmo estando na oposição ao governo atual, não subiria num palanque, dando as caras para uma possível multidão, se não estivesse par e passo com Bolsonaro nessa quebra da ordem, flagrada nas imagens fartamente mostradas na mídia e nas redes, em que revela Bolsonaro liderando uma intentona golpista que, certamente, desembocou no dia 8 de janeiro de 2023.

Ou é muita coragem ou muita ignorância desses dinossauros da ditadura que já contam, segundo bolsonaristas, com a presença de 80 deputados federais, entre eles Gustavo Gayer, Jordy, Nikolas Ferreira, Zucco e Júlia Zanatta, para citar alguns.

Esse funeral político coletivo terá uma foro oficial, todos os golpistas, fascistas e nazistas para facilitar a vida do Ministério Público e da Polícia Federal, o que certamente agradará o próprio Supremo.

A PF nem precisará se deslocar para a residência de nenhum deles, é só colocar um cordão de isolamento e, numa só sarrafada, a pescaria será farta diante dos olhos de todos os zumbis.

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PF diz que Bolsonaro aguardaria tentativa de golpe morando nos EUA, para onde transferiu R$ 800 mil

Ex-presidente viajou no fim do mandato para a Flórida e transferiu recursos para se bancar no exterior, segundo investigação.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fez uma transferência de R$ 800 mil antes de viajar aos Estados Unidos no final de dezembro de 2022, de onde aguardaria os desdobramentos da tentativa de golpe de Estado no Brasil, segundo a investigação da Polícia Federal (PF). O passaporte do presidente foi apreendido na Operação Tempus Veritatis, realizada no dia 8 de fevereiro.

As informações constam de um documento da investigação obtido pelo blog na quarta-feira (14).

De acordo com a PF, os investigados “tinham a expectativa de que ainda havia possibilidade de consumação do golpe de Estado” e estavam cientes dos atos ilícitos cometidos.

“Alguns investigados se evadiram do país, retirando praticamente todos seus recursos aplicados em instituições financeiras nacionais, transferindo-os para os EUA, para se resguardarem de eventual persecução penal instaurada para apurar os ilícitos”, aponta o documento.

No caso de Bolsonaro, diz a PF, foi feita uma operação de câmbio no dia 27 de dezembro no valor de R$ 800.000,03 para um banco com sede nos EUA onde o ex-presidente possui conta.

A representação da polícia, enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF), menciona que nesse montante pode estar o dinheiro do “desvio de bens de alto valor patrimonial entregues por autoridades estrangeiras”, como no caso da venda de joias dadas pela Arábia Saudita ao governo brasileiro.

“Evidencia-se que o então presidente Jair Bolsonaro, ao final do mandato, transferiu para os Estados Unidos todos os seus bens e recursos financeiros, ilícitos e lícitos, com a finalidade de assegurar sua permanência do exterior, possivelmente, aguardando o desfecho da tentativa de Golpe de Estado que estava em andamento”, afirma a PF.

Após a transferência dos R$ 800 mil para os EUA, conforme aponta a quebra de sigilo bancário feita pela PF, Bolsonaro ficou com um saldo negativo em sua poupança no Brasil no valor de R$ 111 mil. Esse valor foi coberto posteriormente por recursos retirados por ele de um fundo de investimentos — o documento da PF não diz quanto o ex-presidente mantinha nesse fundo.

Procurada pelo blog, a defesa de Jair Bolsonaro não respondeu até a última atualização desta reportagem.

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Política

Presidente Lula, no Washington Post: O Brasil frustrou uma tentativa de golpe. O que aprendemos

Por Luiz Inácio Lula da Silva, no Washington Post, via PT na Câmara

Hoje, dia 8 de janeiro, marca um ano que a resiliência da democracia brasileira foi severamente testada.

Uma semana depois da posse de um novo governo, grupos extremistas invadiram as sedes dos três Poderes da República.

Impulsionados por mentiras e desinformação, quebraram janelas, destruíram objetos históricos e obras de arte, enquanto transmitiam seus atos pela internet.

Exibiam desprezo pela democracia similar ao dos invasores do Capitólio nos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021.

Felizmente, a tentativa de golpe fracassou. A sociedade brasileira rechaçou as invasões e, durante o último ano, o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Poder Executivo dedicaram esforços para esclarecer os fatos e responsabilizar os invasores.

Essa tentativa de golpe foi a culminação de um longo processo promovido por líderes políticos extremistas para gerar descrédito na democracia para benefício próprio.

O sistema eleitoral brasileiro, reconhecido internacionalmente pela sua integridade, foi posto em dúvida por quem se elegeu por esse mesmo sistema. No Brasil, reclamavam da urna eletrônica como nos Estados Unidos reclamavam do voto pelo correio, sem nenhuma evidência. O objetivo dessas ilações falsas era desqualificar a democracia, para sua perpetuação no poder de forma autocrática.

Mas a democracia brasileira prevaleceu e saiu mais forte.

Neste meu retorno à Presidência depois de 12 anos, a união do país e a reconstrução de políticas públicas bem-sucedidas têm sido os objetivos do meu governo.

Melhorar a vida das pessoas é a melhor resposta contra os extremistas que atacaram a democracia.

O desmatamento da Amazônia, que crescia no governo anterior, retrocedeu mais de 50% em 2023.

Retomamos políticas de combate à pobreza como o Bolsa Família, que garante renda para as mães que mantém seus filhos na escola e vacinados.

Nossa economia cresceu 3 vezes mais em 2023 do que o previsto pelo FMI e se tornou o segundo maior destino de Investimento Externo Direto no mundo, segundo dados da OCDE.

O Brasil, com seus compromissos democráticos, voltou ao cenário internacional sem a negação das mudanças climáticas e o desprezo pela ciência do governo anterior, que custou a vida de centenas de milhares de brasileiros na pandemia Covid-19.

O mundo vive hoje um momento contraditório. Os desafios globais exigem comprometimento e cooperação entre as nações. Nunca estivemos tão integrados e conectados. Ao mesmo tempo, temos cada vez mais dificuldades de dialogar, de respeitar as diferenças e conduzir ações conjuntas.

As sociedades estão tomadas pelo individualismo e as nações se distanciam umas das outras dificultando a promoção da paz e o enfrentamento de problemas complexos: crise climática; insegurança alimentar e energética; tensões geopolíticas e guerras; crescimento do discurso de ódio e xenofobia.

Estes são problemas alimentados pela desigualdade em escala global – entre as nações e dentro de cada uma delas.

Nas últimas décadas, um modelo de desenvolvimento econômico excludente tem concentrado renda, fomentado frustrações, reduzido direitos dos trabalhadores e alimentado a desconfiança em relação às instituições públicas.

A desigualdade serve como terreno fértil para a proliferação do extremismo e a intensificação da polarização política. Quando a democracia falha em proporcionar bem-estar às pessoas, extremistas promovem a negação da política e a descrença nas instituições.

A erosão da democracia é exacerbada pelo fato de as principais fontes de informação e interação das pessoas serem hoje mediadas por aplicativos digitais que foram desenvolvidas para obter lucro, não convivência democrática.

O modelo de negócio das Big Tech, que prioriza o engajamento e a captura de atenção, promove conteúdo inflamatório e fortalece discursos extremistas, favorecendo forças antidemocráticas que atuam em redes internacionalmente coordenadas.

É ainda mais preocupante que novas aplicações de inteligência artificial, além de agravar o cenário de desinformação, possam promover discriminação, gerar desemprego e afetar direitos.

Essas questões tecnológicas, sociais e políticas estão integradas. Fortalecer a democracia depende da capacidade dos Estados de enfrentar desigualdades estruturais e promover o bem-estar da população, mas também de avançar no enfrentamento aos fatores que alimentam o extremismo violento.

Outros 6 ou 8 de janeiro só serão evitados se transformando a realidade de desigualdade e de precarização do trabalho.

Essa preocupação motivou a parceria de promoção do trabalho decente que lancei com o Presidente Biden em setembro último, com apoio da Organização Internacional do Trabalho.

Também precisamos de ações globais pela promoção da integridade da informação e pelo desenvolvimento e uso inclusivo e humanista da inteligência artificial. Há, neste momento, esforços promovidos pela Organização das Nações Unidas, UNESCO e outros organismos internacionais para enfrentar esses problemas.

O Brasil assumiu a presidência do G20 em dezembro passado, e colocamos a luta contra as desigualdades em todas as suas dimensões no centro da nossa agenda sob o lema “Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável”.

Espero que os líderes políticos possam se reunir no Brasil ao longo deste ano, buscando soluções coletivas para esses desafios que afetam toda a humanidade.

*Publicado no The Washington Post

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Opinião

Qual o papel dos filhos de Bolsonaro na tentativa de golpe proposto pelo pai ao comando militar?

Todos sabem e denunciam que os filhos de Bolsonaro sempre foram meeiros de seus esquemas de corrupção. Dessa forma, o sujeito que botou filhos no mundo para mamar nas tetas do Estado e aumentar sua indústria criminosa, não poderia deixá-los de fora desse “engenhoso” golpe militar para manter Bolsonaro na presidência da República, prendendo Lula, Alexandre de Moraes e sabe-se lá mais quem.

O que se pergunta, não é se eles participaram, quanto a isso, não há dúvidas, a pergunta é sobre a forma com que participaram para renomear o pai por um decreto golpista, como foi sugerido por Bolsonaro ao comando militar.

É inimaginável supor que Bolsonaro, do ponto de vista familiar, tenha feito isso sozinho, desajudado pelos filhos, pelo clã que ele sempre contou nas suas sanhas sabotadoras.

Nada disso foi apurado ainda, mas não resta dúvida de que os nomes deles serão incorporados na versão final, em detalhes da trama macabra.

Afinal, o clã é uma espécie de comissão para assuntos familiares em negócios da empresa Bolsonaro Picaretagem.