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Adeus Papa Francisco

Papa Francisco morre aos 88 anos.

O anúncio da morte do Papa Francisco, aos 88 anos, foi feito, com pesar, por volta das 4h30 (horário de Brasília) desta segunda-feira (21), diretamente da Capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, por Sua Eminêcia, o cardeal KevinFarrell, na TV do Vaticano.

A morte do papa ocorreu duas horas antes, às 2h35.

“O Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja”, anunciou Farrell. “Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino.”

A morte de Francisco ocorreu um dia após o papa fazer sua primeira aparição pública prolongada desde que recebeu alta, em 23 de março, de uma internação hospitalar de 38 dias por pneumonia.

No domingo de Páscoa, Francisco entrou na Praça de São Pedro em um papamóvel aberto pouco depois do meio-dia, saudando a multidão entusiasmada . Ele também ofereceu uma bênção especial pela primeira vez desde o Natal.

Jorge Mario Bergoglio foi eleito papa em 13 de março de 2013, surpreendendo muitos observadores da igreja que viam o clérigo argentino, conhecido por sua preocupação com os pobres, como um estranho.

Ele procurou projetar simplicidade em seu grande papel e nunca tomou posse dos ornamentados apartamentos papais no Palácio Apostólico usados ​​por seus predecessores, dizendo que preferia viver em um ambiente comunitário para sua “saúde psicológica”.

Ele herdou uma igreja que estava sob ataque por causa de um escândalo de abuso sexual infantil e dilacerada por disputas internas na burocracia do Vaticano, e foi eleito com o claro mandato de restaurar a ordem.

Mas, à medida que seu papado progredia, ele enfrentou duras críticas dos conservadores, que o acusavam de destruir tradições acalentadas. Ele também atraiu a ira dos progressistas, que sentiam que ele deveria ter feito muito mais para remodelar a igreja de 2.000 anos.

Enquanto lutava contra a dissidência interna, Francisco se tornou um astro global, atraindo grandes multidões em suas muitas viagens ao exterior, promovendo incansavelmente o diálogo inter-religioso e a paz, ficando do lado dos marginalizados, como os migrantes.

Único nos tempos modernos, havia dois homens vestindo branco no Vaticano durante grande parte do governo de Francisco, com seu antecessor Bento XVI optando por continuar a viver na Santa Sé após sua surpreendente renúncia em 2013, o que abriu caminho para um novo pontífice.

Bento, um herói da causa conservadora, morreu em dezembro de 2022, deixando finalmente Francisco sozinho no palco papal.

Francisco nomeou quase 80% dos cardeais eleitores que escolherão o próximo papa, aumentando a possibilidade de seu sucessor continuar suas políticas progressistas, apesar da forte resistência dos tradicionalistas.

*Reuters

 

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Brasil Economia

Com Lula, desigualdade teve queda recorde e não foi em função do Bolsa Família

Dados da FGV mostram que aumento da renda dos mais pobres superou a dos mais ricos.

A renda do trabalho da população mais pobre do Brasil cresceu 10,7% em 2024, quase o dobro do avanço observado entre os 10% mais ricos (6,7%), informa a Agência Gov.

O dado integra estudo divulgado pela FGV Social, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), e aponta para a maior redução da desigualdade de renda registrada no país em anos recentes.

A média de crescimento da renda do trabalho foi de 7,1% no ano.

“Tivemos uma redução muito forte da desigualdade em 2024. E tudo isso está mais forte em termos de renda do trabalho do que em relação a outros componentes de renda”, afirmou Marcelo Neri, pesquisador da FGV e responsável pelo estudo.

Neri destaca o papel da Regra de Proteção do Bolsa Família, que permite a manutenção do benefício por quem consegue emprego com carteira assinada. “O mecanismo criou um colchão de segurança para que beneficiários não perdessem o apoio ao ingressar no mercado formal, garantindo que o crescimento fosse mais forte justamente na base da pirâmide, e no momento chave”, analisou.

O ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, também destacou a importância da medida: “A Regra de Proteção do Bolsa Família é um instrumento essencial para garantir que os beneficiários possam buscar novas oportunidades no mercado de trabalho sem perder o apoio do governo”.

Além disso, o Brasil registrou a menor média anual de desemprego da história: 6,6%. Segundo o MDS, 75,5% das vagas formais em 2024 foram ocupadas por beneficiários do Bolsa Família, e 98,8% por pessoas do Cadastro Único. Com Forum.

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Brasil Mundo

Em atrito com os EUA, a China investe para ligar o Brasil ao Pacífico

A China está investindo na construção de um corredor bioceânico para conectar os oceanos Atlântico e Pacífico, atravessando Argentina, Brasil, Chile e Paraguai. O objetivo é facilitar o comércio entre a Ásia e a América do Sul, especialmente em meio à guerra comercial com os Estados Unidos, liderada por Donald Trump. Esse projeto tem como principais metas a redução dos tempos de trânsito e dos custos logísticos para exportações agrícolas sul-americanas, como soja, carne e grãos, evitando as rotas tradicionais de navegação.

Recentemente, uma delegação chinesa visitou o Brasil para discutir projetos de infraestrutura, incluindo o Corredor Bioceânico. Essa visita está alinhada aos acordos estratégicos firmados entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping durante a viagem de Estado de Xi ao Brasil no ano anterior. Está previsto que o presidente brasileiro retorne a visita em maio do próximo ano.

O Canal do Panamá, que foi inaugurado no início do século passado, serve como uma importante rota para o comércio marítimo internacional, oferecendo uma alternativa para encurtar distâncias. Com seus 77,1 quilômetros, a travessia pelo canal toma entre 20 e 30 horas. As rotas alternativas incluem contornar o continente, passando pelas pontas meridionais da África e da América do Sul ou usar o Canal de Suez.

A crescente influência da China sobre esta infraestrutura estratégica é vista com preocupação pelos Estados Unidos, que a consideram um risco à segurança. O fortalecimento da influência americana na região é uma vitória diplomática para Washington, especialmente considerando a importância do Canal do Panamá no comércio mundial. A conclusão do Corredor Bioceânico pode alterar dinâmicas comerciais e geopolíticas na América do Sul.
Desde 2017, a China tem intensificado seus investimentos no Panamá, especialmente em infraestrutura portuária e logística, visando facilitar seu comércio. Como o segundo maior usuário do Canal do Panamá, atrás dos EUA, a China buscava criar condições comerciais mais vantajosas. O Corredor Bioceânico surge agora como uma alternativa ao canal, permitindo que Pequim mantenha sua influência crescente na América Latina, uma região historicamente dominada pelos EUA.

O governo brasileiro, por meio do Ministério do Planejamento e Orçamento, está desenvolvendo as cinco rotas de Integração e Desenvolvimento Sul-Americano, parte de uma agenda de integração regional. Essas rotas foram delineadas após consultas com os 11 estados brasileiros que fazem fronteira com os países sul-americanos e têm o objetivo de promover o comércio entre o Brasil e seus vizinhos, além de reduzir o tempo e o custo do transporte de mercadorias para a Ásia.

As rotas de integração incluem 190 obras já integrantes do PAC, garantindo assim recursos orçamentários. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) investiu US$ 3 bilhões, enquanto instituições regionais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF), contribuíram com mais US$ 7 bilhões. Para completar os projetos de logística, investimentos adicionais serão necessários, abrindo espaço para a participação chinesa.

O governo brasileiro estima que as rotas estejam operacionalizadas entre 2025 e 2027, o que poderá transformar a dinâmica do comércio regional e facilitar a conexão entre o Brasil, seus vizinhos e a Ásia, além de potencialmente alterar a influência chinesa na América Latina. Com Metrópoles.

Veja detalhes:

 

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Mundo

‘Microsoft alimenta o genocídio’ em Gaza, protestam funcionários pró-Palestina

Segundo jornal The Guardian, trabalhadores que têm denunciado empresa de fornecer serviços de inteligência artificial a Israel para facilitar massacre no enclave foram demitidos.

Pela segunda vez em menos de um mês, funcionários da Microsoft interromperam um evento em Redmond, na capital norte-americana de Washington, que celebrava os 50 anos da empresa, em 4 de abril, como protesto contra a cumplicidade da companhia no genocídio promovido por Israel na Faixa de Gaza.

De acordo com uma reportagem publicada pelo jornal britânico The Guardian nesta sexta-feira (18/04), as funcionárias Ibtihal Aboussad e Vaniya Agrawal foram demitidas após impedirem diretores de discursar e confrontarem o CEO de inteligência artificial (IA), Mustafa Suleyman.

O veículo também lembrou o caso ocorrido em 20 de março, quando o presidente da Microsoft, Brad Smith, e o ex-diretor Steve Ballmer foram interrompidos por um funcionário e um ex-colaborador durante um evento em Seattle. Na ocasião, também ocorreram protestos do lado de fora, onde manifestantes projetaram mensagens como “A Microsoft alimenta o genocídio”.

A empresa de tecnologia tem vivido uma onda crescente de protestos por parte de engenheiros e outros funcionários que denunciam que as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) fazem uso dos serviços de IA e computação em nuvem da Microsoft para facilitar suas operações no território palestino.

Demissões polêmicas na Microsoft após protestos contra IA militar

Nos últimos meses, trabalhadores da companhia têm pressionado pelo rompimento de laços da gigante com o regime sionista. Entretanto, a empresa tem reduzido o debate como um “conflito no local de trabalho”. Segundo fontes ouvidas pelo The Guardian, a tensão abre espaço a mais demissões e saídas voluntárias.

A mobilização na Microsoft também impulsionou ações em outras gigantes de tecnologia, como o Google, onde empregados também foram demitidos após protestos semelhantes. Em fevereiro, o Google alterou suas políticas de IA, retirando veto ao uso da tecnologia em armas e vigilância.

Ao jornal britânico, Hossam Nasr, ex-engenheiro da Microsoft e um dos funcionários demitidos por organizar atos pró-Palestina, mencionou o protesto ocorrido em fevereiro contra o diretor Satya Nadella, quando cinco funcionários exibiram camisetas que tinham a frase “Nosso código mata crianças, Satya?”.

Aboussad, também demitida, relatou ao The Guardian que se sentiu “sem como ter as mãos limpas” após ter conhecimento sobre os contratos que a Microsoft possuía com o regime sionista.

“Não sei se meu salário vem do governo israelense”, afirmou.

Mobilização online e boicote
As discussões começaram em fóruns internos da empresa, como o Viva Engage, onde funcionários criticavam as ações de Israel na Faixa de Gaza. Em novembro de 2023, um mês após o início do massacre, a Microsoft bloqueou o canal “All Company”, que transmite mensagens para todos os 400 mil funcionários e fornecedores da companhia, em meio a debates acalorados sobre a questão palestina.

Fora as declarações públicas, em 2024, Nasr liderou a campanha “No Azure for Apartheid”, uma referência ao conjunto de produtos de computação em nuvem e IA Azure da Microsoft, pressionando a empresa pelo fim do fornecimento de serviços do tipo ao exército israelense. Posteriormente, o movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) incluiu a Microsoft em sua lista de boicotes.

Apurações feitas por veículos como The Guardian, AP e independentes revelaram provas sobre a existência de relações contratuais entre Microsoft e Israel, permitindo que os funcionários tenham maior conhecimento do posicionamento da companhia em relação ao massacre no território palestino. Documentos vazados inicialmente pelo Dropsite no início de 2025 revelaram uma “corrida do ouro” de empresas de tecnologia, incluindo a Microsoft, para fornecer serviços às IDF.

“A Microsoft é uma máquina de fazer dinheiro. Só importam IA e trabalho”, denunciou uma funcionária ao jornal britânico, sob condição de anonimato.

 

 

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Cotidiano

Aos 74 anos, morre a cantora Cristina, irmã de Chico Buarque

A cantora e compositora Cristina Buarque, irmã de Chico Buarque, morreu neste domingo (20) aos 74 anos. A artista vinha lutando contra um câncer nos últimos anos. A causa do óbito, no entanto, não foi divulgada pela família.

A informação da morte foi confirmada pelo filho da artista, Zeca Ferreira, nas redes sociais. “Uma cantora avessa aos holofotes. Como explicar um negócio desses em qualquer tempo? Mas como explicar isso nesse tempo específico? […] O ser humano mais íntegro que eu já conheci”, escreveu nas redes sociais.

Cristina era filha do historiador Sérgio Buarque de Holanda e da pianista Maria Amélia Cesário Alvim. Além de Chico, ela também era irmã das cantoras Ana de Hollanda e Miúcha, que morreu em 2018.

A filha de Chico, Silvia Buarque, lamentou a morte. “Para sempre comigo”, escreveu a atriz em uma publicação nas redes sociais.

Natural de São Paulo, os trabalhos de Cristina se voltavam aos gêneros do samba e MPB (Música Popular Brasileira).

O seu primeiro disco, “Cristina”, foi lançado em 1974. Nele, gravou composições de nomes conhecidos da música brasileira. Fazem parte do álbum “Tatuagem”, do próprio Chico em parceria com Ruy Guerra, “Quantas Lágrimas”, de Manacéa, “Ao Amanhecer”, de Cartola, “Isto Eu Não Faço Não”, de Tom Jobim, “Comprimido”, de Paulinho da Viola, entre outras canções.

*Foto montagem: Pensar Piauí

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Política

Para o governo de SP, esqurda cogita Raí, Dr. Drauzio, Haddad, Alckmin, entre outros

Com as eleições de 2026 no horizonte, a direita paulista já se movimenta em torno de dois cenários principais: a tentativa de reeleição do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) ou sua possível candidatura à Presidência da República. Do outro lado, a esquerda ainda enfrenta impasses e falta de consenso — especialmente dentro do PT —, o que tem dificultado a consolidação de um nome competitivo para disputar o Palácio dos Bandeirantes.

Segundo as pesquisas mais recentes, o nome mais viável mais a esquerda seria o do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). No entanto, ele demonstra inclinação em manter a dobradinha com o presidente Lula (PT) na tentativa de reeleição nacional. Sem Alckmin no páreo estadual, nomes como Fernando Haddad, Alexandre Padilha, Márcio França e Guilherme Boulos são lembrados, embora nenhum deles tenha despontado com força nas intenções de voto até aqui.

Essa indefinição abre espaço para especulações sobre possíveis candidaturas de novatos no jogo político, como o médico Drauzio Varella e o ex-jogador Raí — ambos já negaram qualquer intenção de entrar na disputa. Parte dessa hesitação da esquerda também se relaciona à eleição interna do PT, marcada para julho, vista como peça-chave para definir os rumos da sigla no estado.

A gestão de Tarcísio — que estreou nas urnas em 2022 — e já ensaia discursos para enfrentar Alckmin, caso ele decida concorrer ganha destaque na direita. O governador tem reforçado entregas de obras iniciadas por gestões anteriores, como o monotrilho da Linha 17-Ouro e o trecho Norte do Rodoanel, ampliando seu capital político.

Além de Alckmin, que também pode mirar o Senado, o ministro Márcio França já manifestou publicamente o desejo de disputar o governo estadual. Ainda assim, em cenários sem Tarcísio, ele aparece com desempenho modesto nas pesquisas, atrás de nomes como Ricardo Nunes e Pablo Marçal. França, no entanto, aposta no prestígio de Lula e em alianças para alavancar sua candidatura, segundo o DCM.

Outros nomes cogitados no campo progressista — como os ministros Fernando Haddad, Alexandre Padilha e Luiz Marinho — enfrentam obstáculos importantes, seja pelo histórico de derrotas em disputas majoritárias nas últimas eleições, ou até pela dificuldade de ampliar sua base de apoio. Haddad, por exemplo, foi derrotado por Tarcísio em 2022, e Padilha está fora de uma eleição executiva há mais de dez anos.

Para analistas como Paulo Niccoli Ramirez, um dos trunfos da direita tem sido a ocupação constante dos espaços digitais, conquistando visibilidade mesmo fora dos períodos eleitorais. Já os adversários progressistas seguem mais concentrados nos ritos tradicionais da política, o que limita sua projeção pública.

Caso Tarcísio opte por não disputar a reeleição, outros nomes já se posicionam no campo governista: o secretário estadual Gilberto Kassab (PSD), o prefeito da capital Ricardo Nunes (MDB) e o presidente da Alesp, André do Prado (PL). Para o Senado, o destaque vai para Guilherme Derrite, que deixou o PL rumo ao PP, buscando maior viabilidade eleitoral.

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Brasil Mundo

Brasil e China, uma aliança estratégica no colapso da ordem neoliberal

A escalada protecionista de Donald Trump, com suas tarifas caóticas e retaliações, representa o fim de uma era, marcando o declínio do neoliberalismo enquanto dogma inquestionável, criando uma oportunidade única para o Brasil redefinir sua inserção internacional. Em um cenário de contradições e medidas autodestrutivas nos EUA, a China se destaca como o parceiro mais lógico para o desenvolvimento soberano do Brasil.

O ex-chanceler Celso Amorim adverte sobre os perigos do ataque ao multilateralismo, lembrando os anos 1930, quando a guerra tarifária contribuiu para a Grande Depressão e para o início da Segunda Guerra Mundial. O “tarifaço” de Trump não é uma política econômica racional, mas uma manifestação de desespero de uma potência em declínio, que nega as regras que impôs globalmente por décadas.

O historiador Francisco Teixeira destaca a hipocrisia do liberalismo econômico dos EUA, que prosperou no século 19 a partir de altas tarifas e subsídios, mas hoje critica práticas semelhantes em outros países. Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, agora reconhece que tarifas geram inflação e desemprego, uma ironia dada a prosperidade americana adquirida ao romper com essas normas. Teixeira aponta que o neoliberalismo pós-1991, assim como o protecionismo fascista, serviu a interesses imperiais, sem beneficiar as populações do Sul Global.

Diante desse contexto, a aproximação com a China e com os BRICS é vista como uma necessidade estratégica, não ideológica. Enquanto os EUA restringem seus mercados, a China se estabelece como o maior comprador de commodities brasileiras, como soja, minério de ferro e petróleo, além de demonstrar interesse em diversificar as exportações do Brasil e em transferir tecnologias.

Ao contrário das ofertas do FMI, que impõem condicionalidades, a China sugere investimentos em infraestrutura, como portos e ferrovias, essenciais para a reindustrialização do Brasil. Alinhar-se com a China e os BRICS pode permitir ao Brasil libertar-se da tutela de Washington, que historicamente tem sabota­do projetos nacionais, como os da Petrobras e da Embraer.

A China se destaca como líder na revolução tecnológica e energética do século 21, dominando setores essenciais como energias renováveis, veículos elétricos e inteligência artificial. Uma colaboração estreita com Pequim pode colocar o Brasil na linha de frente da transição ecológica, uma vez que a China controla 80% do mercado global de painéis solares e 60% das turbinas eólicas.

Parcerias com gigantes como a BYD poderiam impulsionar a indústria automotiva verde brasileira, enquanto empresas como Huawei e ZTE oferecem soluções em 5G e infraestrutura digital a preços competitivos, sem os entraves geopolíticos associados a empresas ocidentais.

A dependência dos EUA tem se revelado um projeto derrotado. Desde os desdobramentos da Operação Lava Jato até as pressões contra o 5G chinês, os EUA demonstraram ser um parceiro pouco confiável. Com uma dívida elevada de 130% do PIB e um cenário de polarização política, não oferecem a estabilidade necessária para investimentos de longo prazo.

A atualidade do mundo reflete uma transição histórica, onde a ordem neoliberal se esgota e o unilateralismo dos EUA acelera seu declínio. Tanto Amorim quanto Teixeira evidenciam que este é o momento oportuno para o Brasil aprofundar suas relações com a China, o que poderia ser um pilar na política externa nacional, aproveitando o vasto mercado consumidor chinês de 1,4 bilhão de pessoas e seus investimentos em setores estratégicos. Fortalecer os BRICS como uma alternativa ao G7 proporcionaria ao Brasil um papel ativo na reformulação da arquitetura financeira global. O país deve adotar uma postura pragmática e soberana, rejeitando tanto o fundamentalismo de mercado quanto as alianças automáticas.

A escolha é inequívoca: o Brasil pode optar por ser mero espectador do colapso da antiga ordem ou atuar como protagonista na construção de uma nova. A China oferece um trajeto viável para um Brasil industrializado, tecnológico e verdadeiramente soberano. Como advertiu Celso Amorim, a história é implacável com aqueles que, por razões ideológicas ou submissão, deixarem passar essa oportunidade singular. O futuro é reservado àqueles que têm a audácia de moldá-lo em momentos decisivos. As informações são do 247.

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Da Nakba a Gaza: ‘Exterminem todos os selvagens!’

Pais segurando os corpos dilacerados de seus filhos são cenas comuns em Gaza. Antes, uma única imagem assim viraria manchete mundial. Hoje, são tantas que nem sequer são notícia. É o quão baixo o Ocidente afundou.

A guerra de Israel contra Gaza é um genocídio em plena vista — massacres, fome e deslocamento forçado enquanto o Ocidente desvia o olhar.

Nos anos 1960, Bernard Lewis cunhou a frase “choque de civilizações”. Tempos depois, Samuel Huntington a adotou. Era um argumento furado. Governos “colidem” por interesses concretos — dinheiro, território, poder, dominação —, não por algo vago como “civilização”. Mas era uma desculpa conveniente para potências imperialistas predatórias empenhadas em controlar o mundo.

Afinal, o que era a “civilização ocidental” senão uma besta esquizofrênica de duas faces, que ouvia Bach e Mozart enquanto escravizava milhões, massacrava povos, roubava suas terras e saqueava seus recursos?

É essa face hedionda que vemos novamente hoje. O Ocidente cruza os braços e fala de tudo — menos do genocídio em Gaza.

A semente que as potências europeias plantaram na Palestina cresceu e se tornou a maior ameaça à paz mundial desde os nazistas. E isso não é coincidência, dada a afinidade ideológica entre nazismo e sionismo: o racismo, a supremacia, o desprezo pelo direito internacional e pela vida humana, agora expostos em Gaza e no Líbano.

Sem esquecer o equivalente ao lebensraum — expansionismo e maximalismo territorial para abrir caminho a colonos judeus em substituição aos “animais humanos” palestinos. Apenas um degrau acima dos nazistas, que chamavam suas vítimas judias e outras de “sub-humanos”.

Que ironia grotesca: nos anos 1930, nazistas buscavam formas de eliminar judeus; em 2025, judeus buscam formas de eliminar palestinos. E sim, são judeus — não apenas sionistas, mas judeus cruéis, assim como há muçulmanos, cristãos e ateus cruéis. Eles são uma mancha na história judaica que nunca será apagada.

Os campos de extermínio nazistas e a política israelense diferem apenas no eufemismo: enquanto os nazistas falavam em “emigração” antes da morte, Israel nem disfarça. O número real de palestinos massacrados é incerto, mas ultrapassa em muito os 200 mil sugeridos pela revista The Lancet.

Durante o breve cessar-fogo, palestinos desenterraram corpos dos escombros. Mas agora Netanyahu o rompeu. No momento em que escrevo (18 de março, 9h38), Israel já matou 235 palestinos em ataques aéreos. Muitos, é claro, eram crianças — porque milhares já foram assassinadas.

Pais segurando os corpos dilacerados de seus filhos são cenas comuns em Gaza. Antes, uma única imagem assim viraria manchete mundial. Hoje, são tantas que nem sequer são notícia. É o quão baixo o Ocidente afundou.

Sem conseguir convencer ninguém a aceitar a “transferência” populacional que Trump também defende, Israel opta pelo extermínio. Aos palestinos, resta “escolher”: fugir ou ficar e morrer. Fugir para onde? Não há saída. Gaza é uma armadilha, e seus algozes não têm piedade.

“Ainda que a fome e a sede não os matem, nós mataremos.” Essa é a mensagem. Velhos, jovens, deficientes, professores, agricultores, jornalistas — não importa. O “exército mais moral do mundo” os assassinará.

Não em suas casas (já destruídas), mas em campos, tendas, praias ou ruínas urbanas — por bombas, drones, mísseis ou tiros de sniper. Ou pela privação de comida, água, remédios e eletricidade.

Isso acontece agora. “Exterminem todos os selvagens!”, clamou Kurtz em O Coração das Trevas. E é o que se vê no campo de extermínio de Gaza — desta vez, administrado por judeus. Uma verdade repugnante, mas ainda assim verdade. Claro, no livro, era Kurtz, o agente da “civilização”, o verdadeiro selvagem.

Israel nunca deveria ter sido criado em terras alheias. É um Estado usurpador, como tantos na história — mas estamos no século XXI, não no XVII. Israel nunca demonstrou remorso, e o mundo nunca aprendeu a evitar a repetição de horrores passados. Poucos horrores foram tão brutais quanto Gaza.

Israel é a contradição de um Estado colonial surgido no crepúsculo da era colonial. Foi parido pela ONU, a “mãe” que hoje odeia porque esta tenta frear seu comportamento vil.

Seu ódio transborda nas redes sociais, no governo, no parlamento, na mídia e nas instituições religiosas. Ódio aos palestinos, árabes, ONU, críticos do genocídio — e até entre si. Talvez seja isso que, um dia, destruirá Israel: ele acabará devorando a si mesmo.

Seus chiliques e fúria teatral são históricos, mas sempre indulgenciados. Políticos dos EUA, Reino Unido, Austrália, Canadá e UE agem com medo. Não chamam o genocídio pelo nome — Israel e seus lobistas não gostariam.

Criticam, mas com códigos: “Compartilhamos seus valores democráticos e estamos do seu lado, mesmo quando reclamamos.” Falam em “solução de dois Estados” sabendo que nunca acontecerá. Israel sabe que sabem. Tudo sob controle.

Expressam “preocupação”, nunca raiva. Afinal, há séculos pessoas de pele branca exterminam as de pele escura. É triste, mas “normal”. Seria anormal só se as vítimas fossem brancas. Alguém imagina 2 milhões de europeus presos em um enclave, esfomeados e massacrados, sem que o Ocidente interviesse?

Isso expõe não só o racismo de Israel, mas o do Ocidente — que assiste passivamente a 18 meses de genocídio.

Israel é apoiado incondicionalmente pelos EUA, cujas instituições infiltrou. Recebe tudo o que quer. Juntos, são uma ameaça à paz global.

Israel não obedece leis, só seus interesses. Suga seus “aliados” e os trai — como fez com a Grã-Bretanha nos anos 1940, matando policiais e diplomatas britânicos.

Lembrem-se do USS Liberty (1967), do plutônio roubado dos EUA, dos ativistas Rachel Corrie, James Miller e Tom Hurndall — todos mortos em Gaza. Lembrem-se do turco-americano Furkan Doğan, assassinado no Mavi Marmara. Israel não respeita nem seus aliados, mas estes insistem em um masoquismo destrutivo.

Netanyahu deixa claro: Israel não mudará. Para sobreviver, deve continuar matando — palestinos, libaneses, sírios, iranianos, quem quer que ouse enfrentá-lo.

Se (ou melhor, quando) Israel for encurralado sem saída, sua mensagem é clara: “Levaremos o mundo conosco.” E quem lhe deu as armas e tecnologia para isso? A resposta é óbvia.

São 11h59. O The Guardian reporta mais de 320 mortos em Gaza. Assassinados em massa. Às 14h08, já eram mais de 400.

*Jeremy Salt*, site da Fepal

* Jeremy Salt lecionou na Universidade de Melbourne, na Universidade Boğaziçi (Istambul) e na Universidade Bilkent (Ankara), especializando-se na história moderna do Oriente Médio. Entre suas publicações estão The Unmaking of the Middle East (2008) e The Last Ottoman Wars (2019). Artigo publicado em 19/03/2025 no The Palestine Chronicle.

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Mundo

Israel considera atacar instalações nucleares do Irã

Trump não tem pressa em apoiar ação militar, mas Israel mantém planos e pressiona por destruir programa nuclear iraniano.

Israel ainda considera a possibilidade de um ataque pontual às instalações nucleares do Irã, mesmo após o presidente dos EUA, Donald Trump, sinalizar que Washington não está disposto a apoiar uma ação militar nesse momento. A informação foi divulgada pela agência Reuters.

Segundo a reportagem, autoridades israelenses insistem que Teerã não pode adquirir uma arma nuclear e pressionam para que qualquer negociação diplomática tenha como resultado o desmantelamento completo do programa atômico iraniano. Nos bastidores, Israel tem apresentado ao governo Trump diferentes opções de ataque, com cronogramas que variam entre o final da primavera e o verão. Os planos incluem desde bombardeios aéreos até operações de comando e visam atrasar a capacidade do Irã em desenvolver armas nucleares por meses ou, no máximo, alguns anos.

De acordo com o nornal The New York Times, Trump teria informado ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, durante um encontro na Casa Branca no início de abril, que sua prioridade seria a retomada das negociações com Teerã. Ainda assim, o presidente dos EUA manteve aberta a possibilidade de uma ofensiva militar em caso de ruptura no processo diplomático. “Acho que o Irã tem a chance de ter um grande país e viver feliz sem morte”, disse Trump a jornalistas. “Essa é a minha primeira opção. Se houver uma segunda opção, acho que seria muito ruim para o Irã, e acho que o Irã está querendo dialogar.”

Apesar do posicionamento da Casa Branca, uma autoridade israelense de alto escalão revelou à Reuters que o país ainda não tomou uma decisão definitiva sobre um ataque, mas acredita que poderia agir com um escopo mais limitado, o que exigiria menos apoio logístico e militar dos Estados Unidos. Mesmo assim, a movimentação israelense gera preocupação: um ataque unilateral poderia desgastar a relação com Washington e comprometer o apoio militar norte-americano em caso de retaliação iraniana, segundo José Reinaldo, 247.

Teerã, por sua vez, já reagiu à possibilidade. Um alto funcionário de segurança iraniano, sob condição de anonimato, declarou à Reuters que “um ataque provocaria uma resposta dura e inabalável do Irã”. O mesmo oficial afirmou que Israel estaria tentando sabotar as negociações em curso e que Netanyahu teria motivações políticas internas: “Temos informações de fontes confiáveis de que Israel está planejando um grande ataque. Isso decorre da insatisfação com os esforços diplomáticos e da necessidade de Netanyahu de conflito como meio de Enquanto as negociações diplomáticas entre EUA e Irã estão prestes a iniciar uma nova rodada em Roma, o impasse sobre o programa nuclear iraniano permanece como um dos principais focos de tensão no Oriente Médio.

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Política

Lula destaca importância dos saberes indígenas para a preservação da vida

Neste 19/4, presidente diz, ainda, que “o conhecimento ancestral é a última fronteira contra a destruição”. Medidas do governo vêm aumentando acesso aos direitos dessas populações.

Em celebração ao Dia dos Povos Indígenas, neste 19 de abril, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva salientou “a importância de seus saberes e tecnologias milenares para a preservação da vida no planeta”.

Além, disso, destacou que “em um mundo que corre atrás do novo sem olhar para o passado, os povos indígenas nos lembram que o verdadeiro futuro é o que resistiu. O conhecimento ancestral é a última fronteira contra a destruição – e a nossa chance de mudar”.

Primeiro a instituir um Ministério dos Povos Indígenas (MPI), em janeiro de 2023, o governo Lula também aproveitou a data para divulgar algumas das ações viabilizadas pela pasta desde então.

Um dos destaques é ampliar a presença indígena na 30ª Conferência das Nações Unidas (COP30) sobre Mudança do Clima, que será realizada em novembro, em Belém. “Após mais de dois anos de aldeamento do Estado, com a instituição da pasta em 2023, o Ministério vem realizando uma série de articulações para a maior e melhor participação indígena da história das COPs”, afirma o ministério.

Segundo a pasta, “o MPI e a presidência da COP30 vêm criando caminhos para que as vozes indígenas sejam mais escutadas e que suas demandas possam ser incorporadas com maior celeridade nas agendas e encaminhamentos da COP”.

Neste sentido, cita como iniciativas a criação do Círculo dos Povos, instância para melhor escutar e atender as demandas dos povos que vivem e sustentam a biodiversidade, reconhecendo sua importância e protagonismo na conservação da floresta.

Luz, saúde, conectividade e cultura

Outra iniciativa foi a ampliação do programa Luz para Todos que, de acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), beneficiou cerca de 30 mil indígenas do Brasil desde agosto de 2023.

Desde a retomada do programa até março de 2025, mais de 7,2 mil unidades consumidoras foram instaladas em terras indígenas. O Mato Grosso, onde se localiza o Parque Indígena do Xingu, lidera a implementação, com 8,8 mil indígenas atendidos. Na sequência, destacam-se Roraima, com 7,4 mil beneficiários, e o Acre, com 4,6 mil.

O governo federal anunciou, ainda, que planeja interconectar todas as unidades de saúde indígena do Brasil até o fim de 2026, garantindo que todos os estabelecimentos públicos responsáveis pela atenção primária à saúde dos povos originários tenham acesso à internet de qualidade.

Segundo o secretário nacional de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Weibe Tapeba, melhorar a conectividade dos territórios permitirá, entre outras coisas, que o Poder Público implemente a infraestrutura de telessaúde nas comunidades, garantindo que os indígenas tenham acesso a médicos especialistas sem precisar deixar suas aldeias.

No campo da cultura, estão projetos como o Pontão de Culturas Indígenas e a revista Pihhy, que “reafirmam o compromisso com a diversidade e a inclusão cultural no Brasil”, de acordo com o MinC.

O Pontão se propõe a mapear, articular e fortalecer as iniciativas culturais indígenas por todo o Brasil. Além disso, capacita indígenas para aplicarem seus conhecimentos e saberes ancestrais como forma de fazer cultura em suas várias linguagens (projetos, eventos, produtos audiovisuais, etc.).

Já a revista Pihhy teve cinco edições e se destina à produção e difusão do conhecimento indígena. “Além disso, é considerada um marco na história da produção intelectual indígena no país, pois reflete a riqueza cultural e o conhecimento ancestral desses povos”, diz o ministério.

Outra iniciativa recente é o Programa de Bolsas de Iniciação Científica Júnior “Jovem Cientista da Pesca Artesanal”, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Acre (Fapac), em parceria com o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). A finalidade principal do programa é direcionar apoio financeiro para projetos de pesquisa e bolsas de iniciação científica júnior a alunos do ensino médio e fundamental da rede pública.

Desintrusão de Terras Indígenas

O governo também criou um Comitê Interministerial de Desintrusão de Terras Indígenas Tis), em setembro de 2023, que tem entre suas metas prioritárias, até 2026, as operações de desintrusão. Segundo o governo, até o final do ano passado, quatro operações desse tipo já foram concluídas: no Alto Rio Guamá (PA), Apyterewa (PA), Trincheira do Bacajá (PA) e Karipuna (RO); outras duas estão em andamento, nas TIs Yanomami e Munduruku.

As operações visam garantir o direito constitucional dos povos indígenas de usufruto exclusivo dos territórios, com a retirada de invasores e interrupção de crimes contra a vida e contra o meio ambiente.

Quanto ao reconhecimento dos territórios indígenas pelo Estado, até dezembro já foram homologadas 13 TIs, 11 declaradas e três delimitadas. A declaração e a delimitação são etapas prévias à homologação do território, com a identificação e reconhecimento da sua ocupação tradicional. Além disso, também há mais de 30 grupos técnicos com estudos em andamento para subsidiar o processo demarcatório.