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Carlos Bolsonaro seria recebedor de dados da “Abin paralela”

O vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) é alvo de uma mandado de busca e apreensão na manhã desta segunda-feira (29/1).

O vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) é alvo de uma mandado de busca e apreensão na manhã desta segunda-feira (29/1). O político, filho do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL), entrou na mira da Polícia Federal (PF) por ter sido supostamente recebedor de informações da chamada “Abin Paralela”, segundo apuração do Metrópoles.

Esse núcleo de espionagem clandestino foi desbaratado por uma operação deflagrada na semana passada. Informações já coletadas pelos investigadores apontam que os filhos do ex- chefe do Executivo encomendavam pesquisas e sugeriam alvos para entrarem no radar de softwares espiões que rastreavam a localização de pessoas. Rivais, jornalistas e autoridades teriam sido monitoradas irregularmente, conforme a necessidade de ocasião do clã Bolsonaro.

Há buscas na casa de Carlos no condomínio vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, zona oeste do rio, onde o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem casa, na mesma rua do filho. Os agentes estão também dentro da Câmara Municipal do Rio, no gabinete do vereador.

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Política

Carlos Bolsonaro acordou na mira da PF

Carlos Bolsonaro amanhece esta segunda com a Polícia Federal fungando no seu cangote.

A Polícia Federal fez uma operação nesta segunda-feira (29) para apurar ações da Abin durante o governo Bolsonaro.

Carluxo é um dos alvos da operação de busca e apreensão.

Bolsonaro, ontem, em pleno domingo, provavelmente sabendo por suas “fintes” da operação da PF de hoje, que chegaria em Carluxo, não disse nada de prestável. Era só pra enxertar com robôs comandados pelo próprio Carlos para bancar o fisiculturista de janela que tem o peito bombado e as pernas de saracura.

Robô não ganha eleição e nem impede Carlos Bolsonaro de ir para prisão.

Este é o balanço daquela live Mandrake de ontem às vésperas da visita da PF à casa de Carluxo.

Moral da história: Bolsonaro, com a live extemporânea, feita a toque de caixa, acabou confessando que, não só tinha, como mantém arapongas dentro da estrutura do Estado, que o informaram, possivelmente, neste domingo, que, na manhã deste segunda-feira, Carlos Bolsonaro receberia a visita da Polícia Federal. Toc toc toc.

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Humor

Vídeos: O Charlatão

Assista e conclua quem é Pablo Marçal

https://twitter.com/domadordegado/status/1751554168471617549

https://twitter.com/NP__Oficial/status/1751583603769713052

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Política

O silêncio dos inocentes ou covardes e o temor dos golpistas

Nem fechar os olhos nem tapar os ouvidos diante do que aconteceu.

Metade ou pouco mais da classe política assiste placidamente e sem manifestar-se à descoberta do esquema gigante de espionagem que funcionou durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, obcecado com ideia de manter-se no poder a qualquer preço.

A outra metade estrebucha na maca, destila ódio e promete reagir por todos os meios com medo de que o aprofundamento das investigações bata à sua porta mais cedo ou mais tarde. Seus alvos preferenciais são, pela ordem, a Justiça, a Polícia Federal e o governo.

Cada um sabe onde lhe apertam os calos. E os que não tem calos a incomodá-los, silenciam porque padecem do mal do corporativismo. Ou porque em ano de eleições não querem pôr em risco alianças com seus pares. Ou porque não se dão conta do risco que também correram.

A espionagem promovida pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) concentrou-se nos adversários dos Bolsonaro e nas instituições que poderiam contrariar os interesses deles de se perpetuar no poder. Afinal, o adversário de amanhã poderia ser o falso amigo de hoje.

Todos que não se alinhavam com os propósitos do clã e dos seus devotos de absoluta confiança foram tratados como potenciais inimigos, a merecer a especial atenção dos arapongas. É o que restará provado quando a lista dos espionados for finalmente revelada.

No dia em que os agentes federais foram buscar a lista na sede da Abin, a nova direção da agência recusou-se a entregá-la. Alegou que a ordem de apreensão assinada pelo ministro Alexandre de Moraes, ministro do Supremo, era vaga, genérica e não especificava a lista.

Então o ministro viu-se obrigado a expedir na mesma hora outra ordem onde deixou claro que mandaria prender quem dificultasse o trabalho de investigação dos agentes federais. Obtida a lista, ela hoje está sendo examinada e dará origem a futuras operações policiais.

*Noblat

 

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Política

ONG espionada pela Abin quer entrar com queixa-crime no STF contra Ramagem

Para a PF, Abin tentou usar um trabalho feito na ONG — que defende acusados de integrar CV e PCC — para ligar ministros do STF e políticos do PT a essas facções.

A ONG Instituto Anjos da Liberdade quer ajuizar uma queixa-crime no Supremo Tribunal Federal contra o deputado Alexandre Ramagem, do PL do Rio de Janeiro, por ter espionado a diretora da organização, Nicole Fabre, e a presidente, a advogada Flávia Fróes.

Segundo o colunista Guilherme Amado, do portal Metrópoles, as investigações da Polícia Federal apontam que a Abin tentou usar um trabalho feito dentro da ONG — que visa defender acusados de integrar o Comando Vermelho e o PCC — para incriminar ministros do Supremo Tribunal Federal e políticos do PT.

A PF suspeita de que, durante o governo de Jair Bolsonaro, a Abin, sob comando de Ramagem, tenha usado o software israelense FirstMile para monitorar, ilegalmente, autoridades públicas como governadores e até integrantes do Supremo Tribunal Federal.

O relatório produzido pela corporação diz que foram produzidos documentos sobre as diligências da Anjos da Liberdade no STF e audiências realizadas no Senado Federal.

A PF ressalta também que a ação de espionagem foi motivada pela ação da ONG na Corte Interamericana de Direitos Humanos, em 2019, contra Jair Bolsonaro em razão de violações de Direitos Humanos no Sistema Penitenciário Federal.

Fróes disse à reportagem que a ONG, citada no relatório da PF, pediu acesso aos autos e que irá ajuizar uma ação contra Ramagem por espionagem.

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Política

O resgate de um diário: Mércia Albuquerque e a resistência à ditadura

Nos 60 anos do golpe militar, anotações de advogada viram livro e inspiram monólogo de Andrea Beltrão.

Em 2 de abril de 1964, militares amarraram Gregório Bezerra à traseira de um jipe e o arrastaram seminu pelas ruas do Recife. Preso nas primeiras horas do golpe, o ex-deputado foi espancado e exibido como um troféu do novo regime. A brutalidade chocou a jovem advogada Mércia Albuquerque, que presenciou a covardia contra o velho comunista.

“Gregório, apenas com um calção preto e uma corda de três pontas amarrada no pescoço, era arrastado por soldados, seguidos de perto por um carro de combate, com pés que haviam sido banhados em soda cáustica, sangrando”, registrou Mércia. Naquele dia, ela tomou uma decisão: abandonaria o emprego para defender presos políticos.

A advogada virou referência para vítimas do arbítrio em todo o Nordeste. Denunciou torturas, peitou coronéis, ajudou a localizar desaparecidos vivos e mortos. Para aguentar o tranco, despejou suas angústias e num diário secreto, recém-publicado pela Editora Potiguariana. O livro inspira “Lady Tempestade”, monólogo de Andrea Beltrão que tem lotado todas as sessões no Teatro Poeira.

“As prisões continuam indiscriminadamente, revestidas de imensa violência”, escreve Mércia, em outubro de 1973. “O pânico domina o Recife, um terror envolve as universidades. As famílias intranquilas, sem segurança”, prossegue, dias depois. “Não sei até quando vai durar essa chacina”, desespera-se, no mês seguinte.

O leitor acompanha a advogada em peregrinação por cadeias, hospitais e necrotérios. Testemunha sua revolta com os maus-tratos aos presos, que recebiam comida podre e tinham pertences roubados pelos carcereiros. “O DOI é um lugar horrível”, anota. “Os percevejos infestam as celas, o mau cheiro é terrível, restos de fezes, sangue, vômitos dentro da cela”.

Mércia narra o calvário de “homens transformados em bagaços” em ambientes que compara a campos de concentração. “Presos submetidos a tortura medieval, cortes provocados com tesoura e ponta de faca, queimaduras com cigarros, pau de arara, cadeira do dragão”, enumera.

Ela descreve os torturadores como seres necrófilos, que “vibram com a morte” e “explicam os atos anormais como amor à pátria”. Num momento de alívio cômico, reproduz diálogo com o diretor da cadeia de Itamaracá. “Dr. Ednaldo me disse que mais lhe dói a morte de um cavalo do que a de um preso político. Ao que repliquei: ‘Faz muito bem em defender sua espécie. Eu defendo a minha, os homens’”.

A altivez lhe traria problemas com a repressão. Mesmo sem se envolver com a política, ela foi presa 12 vezes. Numa, foi ameaçada com revólver na cabeça. Em outra, arremessada para fora de uma viatura. “Não me arrependo de nada”, escreve a advogada, que morreria em 2003.

Entre testemunhos de coragem, o diário também revela passagens de fraqueza e desespero. “Desejo ficar só para chorar, sinto uma tristeza imensa e me perco no escuro da minha amargura, da minha descrença em tudo”, anota. Com a saúde fragilizada, ela ouve do médico que só conseguirá engravidar se parar de trabalhar. “Luto pelos filhos dos outros, entram em minha vida, amarguram-me a existência e ainda me privam de ter filhos”, ironiza.

Às vésperas dos 60 anos do golpe, o resgate de Mércia joga nova luz sobre a atuação de advogados que resistiram à ditadura. “Nunca deixei de ajudar quem me procura”, orgulha-se a pernambucana, em novembro de 1973. “Levei a paz, devolvi filhos a pais, dei a alegria antes do Natal a cinco lares”, festeja, ao registrar a libertação de cinco clientes no mês seguinte.

*Bernardo Mello Franco/O Globo

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Investigação

Anderson Torres dirigia Pajero monitorada pela Abin a mando de Ramagem

Documentos recuperados pela CGU mostram que Anderson Torres, então secretário de Segurança do DF, dirigia a Pajero monitorada pela Abin.

Anderson Torres, então secretário de Segurança do Distrito Federal, dirigia a Pajero Full que foi monitorada ilegalmente pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em 2019. A espionagem foi uma ordem expressa de Alexandre Ramagem, que, à época, chefiava a Abin.

Detalhes sobre a operação contra Torres estão entre os 120 gigabytes de documentos que a Controladoria-Geral da União (CGU) recuperou no sistema da Abin. O conjunto de arquivos, que inclui oito gigabytes de materiais impressos por agentes da agência, foi entregue pela CGU à Polícia Federal e subsidiou a operação que teve Ramagem como um dos alvos na quinta-feira (25/1), diz Guilherme Amado, Metrópoles.

Um dos documentos contém uma mensagem de WhatsApp atribuída a Ramagem com a ordem para agentes da Abin descobrirem quem era o motorista da Pajero Full que foi a um jantar na Residência Oficial da Presidência da Câmara, ocupada por Rodrigo Maia no primeiro ano do governo Bolsonaro. Outro arquivo, com os resultados da espionagem, aponta que Torres conduzia o veículo.

Alvos do monitoramento ilegal disseram suspeitar que o jantar ocorreu em outubro de 2019, em meio à disputa que Bolsonaro travava com Luciano Bivar para assumir o comando do PSL. Na ocasião, lideranças do partido foram à casa de Maia para discutir a possibilidade de fundi-lo ao DEM.

Também estava em curso uma “guerra de listas” para definir quem seria o líder do PSL na Câmara. Bolsonaro ganhou a queda de braço com os dissidentes e emplacou Eduardo Bolsonaro no posto.

A jornalista Ana Flor revelou, na quinta-feira (25/1), que a Abin monitorou ilegalmente as pessoas que se relacionavam com os filhos de Bolsonaro. Torres era muito próximo a Eduardo Bolsonaro e mantinha amizade com o senador Flávio Bolsonaro, mas pertencia a uma ala da Polícia Federal que divergia do grupo de Ramagem na corporação. O ex-diretor da Abin tinha contato mais próximo com Carlos Bolsonaro.

 

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Opinião

Por que nenhum bolsonarista defendeu Ramagem ou a Abin?

A impressão que se tem é a de que a PF e o MP deram uma calça arriada em Bolsonaro no contrapé. O sujeito está apoplético, inerte, sem saber como sair do mata-leão que levou nas últimas 48 horas.

A única coisa que se viu, foi Flávio jogando mais gasolina na fogueira que frita Ramagem e a Abin, dizendo que o pacto não tem nada com os crimes praticados pelos arapongas da Agência Brasileira de Inteligência.

Nesse caso, como Flávio defende somente seu pai, ninguém mais, deixa a bomba explodir no colo de Ramagem e a cúpula da Abin, como do general Heleno, do GSI, que tinha comando hierárquico sobre a Abin e, consequentemente, Ramagem.

É impressionante a ausência de u plano qualquer para ao menos rabiscar uma defesa de Ramagem e, se não há plano, não há militância dos famosos robôs de Carluxo que possa aliviar as costas de Ramagem, que carrega o fardo sozinho.

A impressão que se tem é a de que Bolsonaro está quietinho para não fazer ondinha, já que está enfiado, até o nariz, no comando de toda essa trama sórdida dos espiões criminosos de seu governo.

Aonde esse silêncio vai dar, não se sabe, mas o tempo de resposta já expirou. Qualquer justificativa esfarrapada para tentar reduzir a pressão sobre Ramagem, será absolutamente inútil pelo tempo tardio de reação.

Ou seja, tudo leva a crer que Bolsonaro foi nocauteado com um cruzado de direita que ele não tem a menor ideia de ode veio, podendo ser a tal esperada pedra de toque para levá-lo à prisão.

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Mundo

África do Sul celebra decisão da CIJ contra Israel: ‘seguiremos defendendo os palestinos’

Corte Internacional de Justiça acatou denúncia sul-africana e ordenou que Tel Aviv ‘previna um genocídio’ em Gaza; para os denunciantes, aceite é ‘vitória decisiva’.

O governo da África do Sul, responsável por apresentar uma denúncia contra Israel por genocídio contra os palestinos em Gaza na Corte Internacional de Justiça (CIJ), celebrou nesta sexta-feira (26/01) a decisão do tribunal em aceitar a petição.

Segundo a gestão de Cyrill Ramaphosa, o determinação da CIJ aceitando dar prosseguimento ao processo é uma “vitória decisiva” ao Estado de direito internacional, apontando que a decisão de pedir que Israel “previna um genocídio” é um “marco significativo” na “busca por justiça” para os palestinos.

“Em uma decisão histórica, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) determinou que as ações de Israel em Gaza são plausivelmente genocidas e indicou medidas provisórias com base nisso. Para a implementação do Estado de direito internacional, a decisão é importante. A África do Sul agradece ao Tribunal pela sua decisão rápida”, disse o governo em um comunicado.

Mais cedo, a Corte decidiu que há elementos suficientes para se julgar o Estado de Israel por possível crime de genocídio contra os palestinos residentes na Faixa de Gaza.

Através da leitura de um documento por parte da presidente do tribunal, a magistrada norte-americana Joan Donoghue, a CIJ definiu que “alguns atos parecem se enquadrar na convenção sobre genocídio”, o que justifica o prosseguimento do caso. Porém, não há prazo para uma decisão sobre o mérito da denúncia.

Por outro lado, a Corte acatou uma parte das exigências apresentadas pela África do Sul, deixando de lado um cessar-fogo imediato. A guerra de Israel na Faixa de Gaza já vitimou mais de 25 mil palestinos.

Nesse sentido, a África do sul disse que o país seguirá agindo para “proteger os direitos dos palestinos em Gaza”, que “continuam a permanecer em risco urgente, incluindo ataques militares israelenses, fome e doenças”.

“A África do Sul continuará a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para preservar a existência do povo palestino, para pôr fim a todos os atos de apartheid e genocídio e a caminhar no sentido da realização do seu direito coletivo à autossuficiência. A determinação como Nelson Mandela declarou momentaneamente é “a nossa liberdade é incompleta sem a liberdade dos palestinianos”, afirmou a nota.

O governo declarou também que o Conselho de Segurança da ONU será notificado sobre a decisão da CIJ, declarando que não se pode permitir que o “poder de veto exercido por Estados individuais frustre a justiça internacional”.

Nesse sentido, o país africano espera que Estados, agora “conscientes da existência de um sério risco de genocídio” contra os palestinos, devem agir de forma independente e imediata para que Israel dê fim aos ataques: “isto impõe necessariamente a todos os Estados a obrigação de cessarem o financiamento e a facilitação das ações militares de Israel, que são plausivelmente genocidas”.

“A África do Sul espera sinceramente que Israel não aja para frustrar a aplicação desta ordem, como ameaçou publicamente fazer, mas que, em vez disso, aja para cumpri-la integralmente, como é obrigado a fazer”, conclui o comunicado.

Decisão da CIJ

A decisão da Corte Internacional de Justiça faz recomendações que Israel deve cumprir, mas não colocou sanções contra o país de Benjamin Netanyahu.

Algumas das medidas envolvem Israel ter que “prevenir um genocídio” em Gaza e permitir a entrada de ajuda humanitária. Porém, a Corte não detalhou que ações específicas devem ser tomadas nesse sentido.

Tel Aviv terá um mês para apresentar um informe sobre as ações que já foram tomadas, como forma de contestar a acusação da África do Sul sobre um possível genocídio contra o povo palestino durante a atual ofensiva militar em Gaza.

*Opera Mundi

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Política

Como vivem os monstros: um panorama da extrema direita

Historiador analisa extremismo na América Latina e na Europa e alerta: a luta antifascista é internacional.

Quando Luiz Inácio Lula da Silva venceu as eleições presidenciais brasileiras em 2022, uma espécie de alívio coletivo tomou conta não apenas do Brasil, mas também da América Latina e, até mesmo, da Europa. Seu antecessor não havia causado apenas graves prejuízos internos – humanos e ambientais – como também havia enfraquecido drasticamente a articulação dos países do continente, enquanto confrontava-se, com frequência, com os países europeus diante das críticas à política oficial de desmatamento e ampliação do garimpo.

Nos meses seguintes, Jair Bolsonaro seria condenado pela justiça eleitoral e transformado em inelegível, enquanto seus aliados mais próximos eram investigados pela Polícia Federal e por uma Comissão do Congresso por tentativa de golpe de Estado. Somada à derrota anterior de Donald Trump e seu semelhante ajuste de contas com as instituições estadunidenses, a onda neofascista, que ascendera em todo mundo, parecia um curto pesadelo prestes a acabar. E então, a Argentina elegeu Javier Milei.

É simbólico que não apenas Jair Bolsonaro, mas também Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, estivesse lá. A ausência de qualquer um dos chefes de Estado dos países do G20 também é ilustrativa. Milei nos recorda que a ameaça da extrema direita continua vigente; e que parte desta direita constitui uma espécie de “Internacional do Mal”, antiga pretensão e construção do ex-ideólogo de Trump, Steve Bannon.

Evidentemente, não se trata de um problema latino-americano. Na França, Marine Le Pen, candidata do partido de extrema direita Reunião Nacional (RN), perdeu as eleições presidenciais para Emmanuel Macron. Entretanto, obteve 42,4% dos votos, o melhor resultado de um candidato de extrema direita no país desde 1958.

O partido de extrema direita Irmãos da Itália (FdI) não apenas sextuplicou sua votação e ocupou a maior parte das cadeiras do Parlamento, como sua líder Giorgia Meloni alcançou o cargo de Primeira-ministra.

Na Polônia, o Partido Lei e Justiça perdeu o governo, mas manteve a maioria das cadeiras do Parlamento. Na Holanda, Geert Wilders, um político anti-islâmico e anti-União Europeia, venceu as eleições legislativas, conquistando 37 dos 150 assentos no Parlamento holandês. Isso, sem mencionarmos que a possibilidade de um retorno de Donald Trump à Casa Branca é uma ameaça real e provável.

Como chegamos até aqui?

Em cada um destes países, em cada um destes episódios, nos perguntamos: “como chegamos até aqui?”, “como isso foi possível?”. E, para nenhuma destas perguntas, encontramos respostas simples. Ao contrário, nos encontramos diante de um fenômeno complexo e multifacetado, que exige uma análise aprofundada para compreender suas raízes, dinâmicas e impactos.

Em suas múltiplas aparências, muitos têm sido os rótulos para definir estes movimentos – conservadores, populistas, de direita, etc -, entretanto, o termo neofascista parece apropriado, quando consideramos que tanto suas encarnações modernas quanto o movimento original têm como núcleo dirigente o capital financeiro e uma classe média frustrada e raivosa como sua base social. Mas é capaz de se infiltrar nos setores populares, graças às fragilidades da esquerda e das organizações populares.

Ofensiva neoliberal

Como bem apontam Stefanie Ehmsen e Albert Scharenberg em um estudo para a Fundação Rosa Luxemburgo em 2018, a origem dos novos avanços da extrema direita são resultados da ofensiva neoliberal que acentuou a desigualdade social, agravou a pobreza com políticas de austeridade e ideologicamente transformou inclusive o conceito de “Sociedade”, no melhor estilo de Margaret Thatcher, reduzindo a uma mera aglomeração de indivíduos.

As políticas neoliberais debilitaram a esquerda porque empobreceram, fragmentaram e isolaram suas bases sociais, os trabalhadores e as trabalhadoras. Ao mesmo tempo, promoveram uma ultrafinanceirização, que não apenas tem produzido frequentes colapsos econômicos, como também promove uma acelerada destruição do meio ambiente e amplia as reduções de direitos trabalhistas, como mecanismo para compensar os prejuízos causados por sua própria irracionalidade.

Neofascismo

Para sustentar uma sociedade que comporta apenas 1% de super-ricos, o capital financeiro necessita de políticas cada vez mais repressivas para manter políticas cada vez mais austeras. Portanto, o neofascismo não é um efeito colateral do neoliberalismo, mas sua fase seguinte, necessária para aprofundar e manter as políticas autoritárias na economia ou nos direitos.

Há outras semelhanças entre o velho e o novo fascismo. Ambos se movem por um culto à ação e a recusa à razão – elevada ao negacionismo sanitário ou climático – que nada mais é do que a negação a pensar ou refletir.

O léxico fascista é pobre e suas explicações para quaisquer situações são simples, justamente porque é preciso omitir, ignorar ou negar as contradições. Para impedir que estas contradições produzam um efeito desagregador, é necessário construir uma identidade acima destas contradições.

*Com BdF