Dificilmente um casamento como este dura. Bolsonaro não confia no Ciro Nogueira que não confia em Bolsonaro. O PP emplacou Ciro na Casa Civil, agora o Brasil tem um primeiro-ministro e Bolsonaro é uma espécie de rainha da Inglaterra. Um é traidor, o outro é traíra. Alguém acredita que o centrão vai salvar Bolsonaro? Não né. E Bolsonaro sabe muito bem que está pela letra “R”, se cai da cadeira, entra na cadeia. Aguardemos.
A jornalista Helena Chagas avalia que “dificilmente” o ministro Ciro Nogueira conseguirá pavimentar a reeleição de Jair Bolsonaro, “desmanchando os acertos regionais do partido, que tem seus principais caciques disputando a eleição do ano que vem no Nordeste – onde Lula, pelas pesquisas de hoje, teria cerca de 60% dos votos”.
O novo e festejado ministro chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, ainda nem tomou posse oficialmente, mas já ficou claro que terá ação limitada na articulação da candidatura à reeleição de Jair Bolsonaro. Em entrevista à Globonews hoje cedo, o vice-governador da Bahia, João Leão, pai do líder do PP na Câmara, Cacá Leão, jogou um balde de água fria no Planalto, verbalizando o que todo mundo sabia: o presidente da República não irá para o PP, pois o partido é integrado por grupos regionais independentes. Em seu estado, o PP vai manter a aliança com o PT de Lula em 2022.
Ciro Nogueira vai ter que dar nó em pingo d’água para conviver com isso, pois uma das razões pelas quais foi convidado é pavimentar a campanha de reeleição de Bolsonaro. O sonho do presidente e de seus filhos hoje é a filiação ao PP, um partido com estrutura no país, fundo eleitoral robusto e bom tempo de propaganda na TV. Dificilmente, porém, Ciro conseguirá viabilizar essa operação, desmanchando os acertos regionais do partido, que tem seus principais caciques disputando a eleição do ano que vem no Nordeste – onde Lula, pelas pesquisas de hoje, teria cerca de 60% dos votos.
Barrado no baile do PP, Bolsonaro terá como opção filiar-se a uma legenda menor e trabalhar por uma coligação com o partido de Ciro Nogueira – o que já seria bastante difícil, ainda que o PP liberasse as seções nordestinas para se aliar a Lula. O que Bolsonaro precisa é de palanque, e justamente nos estados onde o petista é mais forte. O caso da Bahia, por exemplo, é exemplar: a família Leão, principal braço local do partido, estará no palanque do petista.
O balde de água fria não terá, por ora, maiores efeitos sobre a ocupação de territórios pelo Centrão. Bolsonaro não poderia mais voltar atrás, nem que quisesse, até porque a entrega do governo ao grupo tem também o objetivo mais imediato de tirar o impeachment de qualquer pauta política. Ao menos a missão de levar o presidente inteiro até 2022 Ciro Nogueira deve cumprir. Dali em diante, porém, nada está garantido.
Em documento que embasou buscas em 2019, auditores fiscais identificaram depósitos em espécie na conta do novo integrante do governo Bolsonaro.
Escolhido para ser o novo ministro da Casa Civil, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) é alvo de cobranças da Receita Federal que somam R$ 17 milhões, segundo documento que consta de um dos inquéritos envolvendo o parlamentar. Os autos de infração que apontam os débitos foram lavrados nos anos de 2017 e 2018. Um deles se refere ao suposto pagamento de propina de R$ 6,4 milhões pelas empresas JBS e UTC, sob investigação no Supremo Tribunal Federal (STF). Os auditores fiscais sustentam que houve omissão dos rendimentos e cobram o recolhimento dos impostos correspondentes aos cofres públicos. O outro caso está relacionado a transações financeiras envolvendo diversas empresas do senador que não foram devidamente declaradas, segundo o Fisco.
O senador contesta as multas em procedimentos, ainda não julgados, apresentados ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Procurado ontem, Nogueira não se manifestou. Alvo de investigações da Lava-Jato sobre o suposto recebimento de propina, Nogueira sempre negou ter cometido qualquer crime.
Encaminhados em agosto de 2018 à Procuradoria-Geral da República (PGR) e à Polícia Federal, os autos de infração embasaram ações de busca e apreensão, em 2019, em endereços ligados ao senador. Ao analisar as contas bancárias de Nogueira e suas empresas, o Fisco apontou, em relatório, ter encontrado uma série de depósitos em espécie sem a identificação da origem dos recursos e pagamentos de despesas com dinheiro vivo.
“Restou constatada a existência de pagamentos de milhões de reais devidamente identificados nos extratos bancários da empresa que não foram por ela contabilizados, evidências claras da existência de uma contabilidade paralela, de ‘caixa 2’”, diz o documento da Receita.
Para o Fisco, as transações sob suspeita são, além de sonegação, indicativos de lavagem de dinheiro. Auditores detectaram, por exemplo, vinte depósitos em dinheiro vivo na conta do senador em 2014, totalizando cerca de R$ 60 mil. A Receita pediu esclarecimentos ao senador sobre a origem desses recursos, mas não recebeu resposta, conforme descrito no relatório.
Método de “ocultação”
“Tais fatos reforçam o entendimento de que o contribuinte recebeu montantes em espécie e não os declarou ao Fisco. Por sua vez, a existência de depósitos de pequena monta fracionados na mesma data ou em datas próximas também indicam que o contribuinte buscava ocultar o recebimento de propina em espécie”, escreveram os auditores.
A Receita apontou ainda que as circunstâncias identificadas “sugerem que a utilização de montantes em espécie pelo parlamentar consistiria em um meio para ocultar a origem ilícita de montantes recebidos”. O documento trata ainda como “extremamente improvável” que Nogueira tenha optado por guardar ao longo de anos uma volumosa quantia em espécie, “abdicando de ganhos advindos de aplicações financeiras e da segurança e da celeridade das transações eletrônicas bancárias”.
Na apuração, a Receita Federal buscou também notas fiscais de compras e serviços pagos pelo senador. Com isso, descobriu-se o uso “recorrente” de pagamentos em dinheiro vivo, como um depósito para uma empresa de automóveis, no valor de R$ 5.435,00.
A Receita também analisou compras de imóveis feitas pelas empresas de Nogueira. Numa das transações, a escritura registrava o valor de R$ 1 milhão na compra de um imóvel, mas auditores constataram que o valor real pago teria sido de R$ 2,2 milhões.
“A CNLF Empreendimentos Imobiliários, empresa patrimonial de Ciro Nogueira, se envolvia em transações obscuras, correlatas ou preparatórias à lavagem de dinheiro, ao tentar mascarar não apenas o valor de fato pago em determinadas operações, mas também o beneficiário de pagamentos efetuados por ela”, escreveu a Receita.
No domingo, O GLOBO mostrou que Nogueira é alvo de cinco investigações decorrentes da Lava-Jato. Dois inquéritos, que estavam sob sigilo, apuram pagamentos de propina das empreiteiras OAS e Engevix. Além disso, há uma investigação sobre pagamentos da JBS para comprar o apoio do senador à reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Também há duas denúncias já apresentadas pela Procuradoria-Geral da República. Uma delas o acusa de receber propina da Odebrecht, enquanto a outra diz que ele obstruiu investigações, tentando mudar o depoimento de um ex-assessor do PP.
Mesmo sendo de origem pobre, Zezé Di Camargo apareceu nas redes sociais não para se solidarizar com as mais de 550 mil famílias que perderam seus entes queridos por culpa de Bolsonaro, muito menos para se solidarizar com os mais de 60% de ex-internados pela covid que enfrentam as graves sequelas da doença, menos ainda pra fazer campanha pela vacinação ou contra a fome dos 20 milhões de brasileiros devolvidos à miséria por Bolsonaro.
O inacreditável Zezé Di Camargo resolveu, depois de quase vinte vitórias eleitorais do clã Bolsonaro, defender junto com ele o tal voto impresso.
Claro que isso não vai passar no Congresso, até porque Ciro Nogueira, quem agora dá as cartas no governo Bolsonaro, é contra.
Mas Bolsonaro não está interessado em promover manifestação em prol do voto impresso dentro do governo convocando Zezé Di Camargo a ajudar a rebocar um pouco de gado para mostrar que ainda resta uma rapa de tacho do bolsonarismo.
Confira:
Dia 01/08, em apoio ao VOTO AUDITÁVEL!
A partir das 14h estarei na Paulista para apoiar esse tema tão relevante para a transparência nas eleições! Procure a organização de sua cidade!@zcloficialpic.twitter.com/b39RfZDxog
Quem conhece o centrão, sabe que os caciques que comandam esse bloco, conquistam a guerra porque não têm vergonha de mostrar as armas, ou seja, sabem colocar preço na mercadoria de acordo com a cara do freguês.
E quem é Bolsonaro hoje na fila do pão? Uma figura diluída que só consegue ser notado a partir de atritos e escândalos que provocam sentimento belicoso no seu gado. De resto, o laboratório político de Bolsonaro é uma tragédia, pois acreditou que poderia alimentar artificialmente como “solução de gênio” a sua popularidade.
Quando saiu a notícia de que o garçom Onyx Lorenzoni vai ganhar um almoxarifado no cantinho do Palácio do Planalto para oferecer 200 cargos a parlamentares do centrão, já dava para imaginar que este daria de 7 a 1 nos línguas soltas fardados.
Ciro Nogueira derrubou as quatro estrelas do general Ramos que, por sua vez, terá que sobreviver com uma pasta, do ponto de vista do poder, muito aquém do padrão que a Casa Civil proporciona.
Em outras palavras, foi uma desonra para os militares não só aos olhos da rua, como para os militares do governo, sobretudo os generais que, até aqui, viveram na sombra do poder, mas também uma pilhagem com o comando militar que hoje só abre a boca a partir do sinal de Braga Netto.
Quem conhece o poder e a fragilidade em que Bolsonaro se encontra, já esperava esse resultado. O centrão certamente está com um sorriso irônico, porque tinha a faca e o queijo na mão direita e, na mão esquerda, tinha uma outra encostrada na nuca do genocida.
Trocando em miúdos, o centrão deu uma sova nos militares que foram colocados por Bolsonaro na beira do trilho, enquanto o trem da alegria dos caciques do centrão passa, depois de fazer um picadão com os pijamas dos generais do governo Bolsonaro.
Moral da história, em última análise, Bolsonaro teve que entregar os anéis, os dedos, os braços e as cuecas e está com a bunda totalmente de fora.
Acabo de aceitar o honroso convite para assumir a chefia da Casa Civil, feito pelo presidente @jairbolsonaro. Peço a proteção de Deus para cumprir esse desafio da melhor forma que eu puder, com empenho e dedicação em busca do equilíbrio e dos avanços de que nosso país necessita.
Possibilidade deve ser discutida durante a conversa que presidente terá com o senador nos próximos dias.
O presidente Jair Bolsonaro passou a avaliar, nos últimos dias, nomear o senador Ciro Nogueira (PP-PI) para a Secretaria-Geral da Presidência – e não para a Casa Civil, como acertado inicialmente.
Segundo auxiliares presidenciais, o argumento seria de que o trabalho mais intenso da Casa Civil, que coordena os demais ministérios do governo, poderia atrapalhar a articulação política de Ciro junto ao Congresso.
A avaliação é que, na Secretaria-Geral, o senador continuaria tendo assento no Palácio do Planalto, mas contaria com mais tempo para focar na articulação política, pois não ficaria preso às atividades mais complexas da Casa Civil.
Além disso, o presidente nacional do Progressistas teria mais tempo para articular e preparar sua possível candidatura ao governo do Piauí, nas eleições de outubro de 2022.
“O principal motivo é não drenar totalmente as energias do Ciro com atividades internas do governo e dar mais liberdade para ele articular e preparar o terreno para candidatura dele”, explicou à coluna um auxiliar presidencial.
Integrantes do Planalto dizem que o chefe do Executivo federal deve discutir a possibilidade durante a reunião presencial que terá com o senador, após Ciro chegar ao Brasil da viagem ao México, nesta segunda-feira (26/7).
Destino de Ramos
Se Ciro for para a Secretaria-Geral, Bolsonaro terá de decidir se manterá, ou não, o general Luiz Eduardo Ramos na Casa Civil. Até então, o acerto era para Ramos ir para Secretaria-Geral, cedendo a Casa Civil para Ciro.
O general já disse ao presidente que gostaria de permanecer na Casa Civil, mas Bolsonaro ainda avalia se haveria clima, diante das reclamações de caciques do Centrão sobre a atuação de Ramos na pasta.
Qualquer que seja o destino de Ciro, está certo que Onyx Lorenzoni deixará a Secretaria-Geral, pasta que comanda hoje, e será realocado no Ministério do Trabalho e Emprego, que será recriado.
“Há cerca de 6.000 militares em cargos de confiança no governo, e o Centrão vai querer ocupar esses espaços”, escreve a jornalista Helena Chagas.
O avião que trazia o senador Ciro Nogueira (PP-PI) do México ao Brasil para assumir a chefia da Casa Civil, depois de uma conversa com Jair Bolsonaro, deu defeito e o encontro teve que ser remarcado para amanhã. Um anticlímax para o presidente, que queria resolver a questão nesta segunda. Mais um dia de Casa Civil para o general Luiz Eduardo Ramos, que ficou em estado de choque ao ser ejetado de surpresa da cadeira.
Ninguém imagina que o senador, prócer do Centrão, possa estar hesitante diante da joia maior da coroa política que é o controle da Casa Civil, responsável por todas as nomeações do governo, sem falar das ações em que comanda os ministérios. Pela primeira vez, o Centrão vai ter um governo para efetivamente chamar de seu. Mas Ciro Nogueira, que há uma semana foi convidado e continuou no exterior, não parece estar com pressa.
Acima de tudo, o novo negociador político do governo parece estar negociando sua própria situação. Não voltou correndo para assumir, não deu entrevistas de lá falando na honra que será assumir o cargo, etc. Aceitou o convite telefônico, mas ficou de conversar depois. Segundo interlocutores, é provável que, nessa conversa, ele estabeleça seus limites – que, no caso, são limites para Bolsonaro e o resto do governo.
Ciro Nogueira e adjacências querem ter carta branca no governo, comandando nomeações e a destinação de verbas ministeriais, um passo além do que já comanda hoje o Centrão – as emendas orçamentárias, via Arthur Lira. Quer o controle da máquina, pois é aí que está o poder, que até há pouco estava com os militares.
Vai haver trombada? É muito provável. Há cerca de 6.000 militares em cargos de confiança no governo, e o Centrão vai querer ocupar esses espaços. Ao tirar Ramos da Casa Civil, Bolsonaro fez sua opção política preferencial, mas não se sabe ainda como vai operar isso na prática, quando os indicados do Centrão resolverem se sentar nas cadeiras dos fardados.
É exatamente isso. Ciro Nogueira é contra o voto impresso, e essa tem sido a obsessão de Bolsonaro que já afirmou algumas vezes que, sem ele, não haverá eleição em 2022.
Ciro Nogueira é um político habilidoso, e está sempre disposto a apoiar os dois lados da política, de acordo com a conveniência. Quando assumir a Casa Civil de Jair Bolsonaro nos próximos dias, terá que demonstrar essa característica novamente. Além disso, Bolsonaro terá que engolir a seco a sua posição contrária à dele.
Sua posse se dará justamente na semana em que Bolsonaro promete trazer a público um sujeito que demonstrará, sabe-se lá como, que houve fraude nas urnas eletrônicas em 2014.
Só que faz exatamente um mês que presidentes de 11 partidos decidiram se unir contra o voto impresso obsessivamente pregado por Bolsonaro. Num encontro virtual disseram confiar no voto eletrônico e contrários à qualquer mudança nas regras do jogo, inclusive pela falta de tempo hábil para promovê-las. Entre os 11, estava Ciro Nogueira. Aos mais próximos, Ciro confirma que não vê como implementar qualquer alteração a quinze meses do pleito. Embora pondere que, ao contrário dos presidentes dos outros partidos, não tenha tomado qualquer atitude hostil em relação ao voto impresso
Em resumo, que discurso Ciro adotará agora que passa a ser titular de um dos ministérios mais importantes desse governo?
A resposta será dada a partir de hoje, quando Ciro desembarca no Brasil, oriundo do México. Ciro e Bolsonaro, aliás, tem uma reunião marcada para hoje a fim de acertarem os ponteiros.
Escalado pelo presidente Jair Bolsonaro para comandar a Casa Civil, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) responde a cinco investigações derivadas da Lava Jato. Duas delas são sigilosas e ainda não tinham vindo à tona, conforme revela neste domingo (25) o jornal O Globo.
Em um dos casos até então desconhecidos, o senador é investigado pela suspeita de ter recebido pagamentos da OAS em troca de apoio a uma medida provisória no Senado. No outro, os investigadores apuram se Ciro exerceu influência na liberação de um financiamento para a Engevix na Caixa Econômica Federal.
De acordo com a reportagem de Aguirre Talento e Mariana Muniz, Ciro Nogueira já foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República duas vezes: em um caso é acusado de receber propina de R$ 7,3 milhões da Odebrecht em troca de apoio no Congresso; em outro, é suspeito de obstruir investigações ao atuar para mudar depoimento de um ex-assessor do PP que colaborava com a Justiça.
As duas denúncias ainda não foram analisadas pelos ministros do Supremo. Ainda há um quinto inquérito contra o senador piauiense, no qual ele é investigado pelo recebimento de propina do grupo J&F para comprar apoio do PP à reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff.
Presidente do PP e um dos principais líderes do Centrão, Ciro assumirá a Casa Civil com a responsabilidade de manter o apoio da base governista no Congresso, formada por partidos de direita e centro-direita.
O advogado Antonio Carlos de Castro, o Kakay, que defende Ciro, afirma que as investigações são fruto de um processo de “criminalização da política” patrocinada pela Operação Lava Jato. “Esta operação se notabilizou pela criminalização da política, numa tentativa- felizmente hoje desmascarada- do Ministério Público capturar a pauta do Legislativo. Hoje está evidenciado que o juiz/político da Lava Jato e os seus comandados do Ministério Público corromperam o sistema de justiça em prol de um projeto político”, afirmou o advogado por meio de nota à imprensa.
O jornal O Globo teve acesso a detalhes dos dois inquéritos até agora inéditos, que estão sob sigilo da Polícia Federal. Um deles, aberto em outubro e relatado pelo ministro Edson Fachin, apura se o então presidente da OAS Léo Pinheiro acertou com Ciro Nogueira o pagamento de R$ 1 milhão em 2014 por meio de doações oficiais em contrapartida ao apoio dado pelo parlamentar em uma medida provisória de 2013 que alterou a legislação tributária em relação a cobranças sobre empresas.
Em delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal, Léo Pinheiro confirmou que a cúpula da OAS mantinha uma relação próxima com Ciro Nogueira. A PF tomou um novo depoimento do colaborador em abril para saber mais detalhes do caso. Segundo o empreiteiro, quem intermediou as tratativas foi Eduardo Cunha, que estava à frente da negociação da medida provisória no Congresso.
“Houve o café da manhã na casa de Ciro Nogueira, no qual foi acertado o pagamento de R$ 1.000.000,00, que foram em duas parcelas de R$ 500.00,00 ao partido”, afirmou Pinheiro, em seu depoimento, para depois completar. “O depoente esclarece que a ordem era doar para o partido, porque ele havia proibido o caixa dois na empresa, pois já estava em curso a Lava Jato”, acrescentou.
O outro inquérito sigiloso envolvendo Ciro Nogueira foi aberto em abril de 2019 com base no acordo de delação premiada do dono da Engevix, José Antunes Sobrinho. De acordo com o relato de José Antunes, a Engevix tinha um financiamento de R$ 270 milhões para receber da Caixa, referente a obras no aeroporto de Brasília. Mas, mesmo após a inauguração do empreendimento, a empresa ainda não havia conseguido receber os valores do banco estatal.
A reportagem ressalta que, naquela época, a Caixa era comandada por Gilberto Occhi, aliado de Ciro Nogueira. Em seu relato, José Antunes conta que foi procurado por dois lobistas que se ofereceram para ajudar na liberação dos recursos em troca do pagamento de propina. Para destravar a operação, a empresa pagou R$ 500 mil para um escritório.
O empresário afirma que os lobistas “deixavam a entender que essa cobrança era do conhecimento do senador Ciro Nogueira e que este teria uma influência política sobre Gilberto Occhi”. “Os elementos colhidos revelam possível prática de crime por parte do senador Ciro Nogueira, que teria agido por intermédio de operadores conhecidos para receber vantagem indevida em troca de liberação de empréstimo junto à Caixa Econômica Federal”, afirma a PF ao pedir a prorrogação das investigações.
Em depoimento prestado à Polícia Federal, Occhi afirmou que manteve apenas contato “institucional” com Ciro Nogueira e disse não se recordar de sua atuação no financiamento da obra no aeroporto de Brasília.
É fundamental a leitura do artigo abaixo de Luis Costa Pinto publicado no Plataforma Brasília
Vicejam em Brasília, nesse breve interstício legislativo de duas semanas, as flores do recesso. Esquisitas, cônicas, de coloração arroxeada, constituídas por camadas rugosas que se sobrepõem, são flores de bananeira. Nada surpreendente. Afinal, estamos a viver a recidiva do câncer institucional que é a presença dos toscos, rudes e despreparados militares brasileiros na vida política nacional. Eles agem, como sempre, para não nos deixar esquecer: o Brasil é uma República de Bananas.
Um cacho frondoso e promissor do bananal brasiliense surgiu na palmeira do Senado e projeta sua sombra na direção da Praça dos Três Poderes com o bico – ou “umbigo de banana” – apontando para o Palácio do Planalto. A nomeação do senador piauiense Ciro Nogueira, presidente do PP, constitui-se num ardil de inteligência política do qual a balbúrdia que é o governo Jair Bolsonaro já não parecia capaz de executar. Nogueira é um dos mais hábeis parlamentares em atividade, mestre na arte de ouvir a todos e só falar o estritamente necessário – e, sempre, alinhando o tema com seus interesses pragmáticos.
De quando em vez, a consistência gelatinosa da conversa de Ciro Nogueira irrita quem vê a política como a arte de defender ideias e lutar por um projeto de País. Contudo, não se pode negar que ela seja eficaz para aqueles que usam os frutos já passados para mexê-los em tachos de cobre sobre fogo brando a pingar o limão das ameaças de retrocesso e misturar o açúcar das verbas orçamentárias manipuladas com escassa transparência e dali produzir uma geleia destinada a conservar por mais tempo a ilusão de que no pote há frutas.
Instalado na Casa Civil, o senador piauiense seguirá dando a Bolsonaro a ilusão de que há um governo dele no Palácio do Planalto. Mitômano, dado a crer nas mentiras e boçalidades que cria em escala industrial, o cretino patológico instalado no Palácio do Planalto acreditará nisso até o momento em que lhe for confortável dizer-se tragado e derrotado pela “velha política”. Quando isso acontecer – e não é uma questão de “se”, mas de “quando”, como diria o idiotizante rebento presidencial apelidado de 03 – Bolsonaro cumprirá sua sina de Jânio Quadro redivivo e alegará que forças ocultas o levam à renúncia.
Posto que a História tende a se repetir como farsa depois da tragédia, e porque o calendário já estará avançado, a renúncia poderá ser limitada ao anúncio da decisão de não concorrer à reeleição e negociar com o trade institucional – Congresso, Judiciário, o novo governo que virá – punições brandas para o rol de crimes que cometeu com a cumplicidade coatora dos filhos e dos comparsas fardados. Evidentemente, tendo chegado a tal ponto o cenário, só haverá uma biografia capaz de restaurar o eixo que conectam o Brasil às engrenagens funcionais de um Estado-Nação: a do ex-presidente Lula.
Tendo considerado, já, o petista como “o melhor presidente da História”, como registra gravação de 2017 feita ao jornal Meio Norte, de Teresina; e sendo considerado por ele “um grande amigo”; eis que emergirá o papel reservado pelo acaso a Ciro Nogueira: o de fiador de alguma tranquilidade institucional na transição do desastre da aventura bolsonarista para a única saída que honrosa que a Democracia e a esperança brasileiras têm hoje – o terceiro mandato de Lula, desta feita convertido no construtor da pacificação e da reconciliação nacionais.
Mas, se a nomeação de Ciro Nogueira para a Casa Civil é flor promissora do recesso no bananal da Capital da República, a inacreditável revelação pelo jornal O Estado de S Paulo das ameaças golpistas feitas pelo ministro da Defesa Braga Netto ao presidente da Câmara, Arthur Lira, assemelha-se àquelas pencas de frutos que apodrecem no cacho. E fedem. Chamei de inacreditável a reportagem publicada pelas repórteres Vera Rosa e Andreza Matais porque todo o enredo é pouco crível e isso não tem nada a ver com elas. Há, nesse caso, orelha de porco, rabo de porco, nariz de porco. Ou seja, foi uma operação porca. No comando da pocilga que só completa a paisagem do bananal brasileiro, dois porcos: o presidente da Câmara, Arthur Lira, e o general-de-pijama Braga Netto.
A “Operação Porcaria” usou a larga reputação, experiência e correção profissional das jornalistas do Estadão para disseminar um roteiro falso. Uma “fonte confiável” procura uma dupla de profissionais ilibada e conta em off um arreganho antidemocrático de um leitão bochechudo que se crê javali: o ministro da Defesa teria mandado um recado ao presidente da Câmara advertindo-o que a ausência de voto impresso (e manipulável, corruptível, comprável, como acontecia no Brasil antes das urnas eletrônicas) inviabilizaria a eleição em 2022. Não há um único comandante militar de alta patente que não enxergue Braga Netto como um pulha metido em coturnos. Logo, ele não tem força para tal ameaça.
fações com o suposto chefe do ministro da Defesa, o boçal Bolsonaro, e contra advertir de que o Parlamento não toleraria uma ameaça daquele calibre à Democracia e ao instituto sagrado das eleições.
O figurino de defensor da Democracia e das instituições não combina com o perfil tosco, grosseiro, arrivista e voluntarioso de Arthur Lira – e é dessa forma que ele exerce o poder, manipulando o Orçamento da União e os cargos de livre provimento da administração pública, a partir da cadeira de presidente da Câmara.
Por outra, se há um grupelho golpista nas Forças Armadas liderado pelo ministro da Defesa que teria tido a ousadia de passar o recado acanalhado a Lira, de acordo com a versão plantada em O Estado de S Paulo, haveria uma ala “democrática” entre as lideranças militares para conter Braga Netto. Criar essa impressão – a de que há democratas dentre os comandantes militares que servem a Bolsonaro – e objetivo secundário, mas, não acessório, do semeador de flores de recesso na Esplanada dos Ministérios.
As jornalistas, posto serem profissionais decentes e corretas, confirmaram as ameaças com alguns dos emissários e receptores da advertência despropositada de Braga Netto e publicaram a história que tinham. Publicado na madrugada desta quinta-feira, 22 de julho, o veneno saiu do controle dos alquimistas tresloucados que urdiram a “Operação Porcaria” e não houve saída a não ser assistir aos patéticos desmentidos de Lira, Braga Netto, Bolsonaro… e à confirmação da autoridade democrática e republicana do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Luís Roberto Barroso, para quem, acoelhados e acadelados, o ministro da Defesa e o presidente da Câmara apressaram-se em telefonar logo cedo a fim de desmentir a história que criaram, disseminaram e criam ser capaz de dar a eles maior amplitude e espectro de poder. Foram humilhados.
Se bananeira que deu cacho – mesmo podre – não serve mais para nada, que seja extirpada do bananal. É esse o fim que deve ser dado a Braga Netto a seus roncos rotos na pocilga do Planalto. Já a nomeação de Ciro Nogueira para a Casa Civil ainda é flor do recesso a ser observada com cautela. De suas bananas podem fazem marmelada.