Não são todas as mentiras de Bolsonaro sobre a pandemia, mas muitas e suficientemente graves para fazer com o Brasil chegasse à catástrofe que chegou, mais de 530 mil mortos pela Covid, sem falar dos inúmeros brasileiros que se infectaram com o coronavírus e sofrem com as sequelas graves deixadas pela doença, pior, sem saber até quando. Basta!
Canais na internet ganharam dinheiro com fake news sobre Covid, informa Google à CPI,
O Globo – Dados sigilosos enviados pelo Google à CPI da Covid mostram que canais no YouTube, entre eles de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, ganharam dinheiro disseminando notícias falsas sobre a pandemia antes que seus vídeos fossem apagados da rede social. A pedido da comissão, a empresa de tecnologia forneceu uma lista de 385 vídeos removidos pelo Youtube ou deletados pelos próprios usuários após serem identificados como disseminadores de desinformação sobre formas de tratamento para a Covid-19 ou a pandemia. A listagem foi acompanhada de quanto cada publicação rendeu aos donos dos canais até saírem do ar.
O jornalista Alexandre Garcia encabeça a relação, tendo tido 126 tirados doar por ele próprio ou pela plataforma que haviam rendido quase R$ 70 mil em remuneração pela audiência e publicidade. Gustavo Gayer (R$ 40 mil), Notícias Política BR (R$ 20,7 mil), Brasil Notícias (R$ 17,7 mil), completam as primeiras colocações. Ao todo, os usuários ganharam US$ 45 mil, o equivalente a R$ 230 mil.
Desde o início da pandemia, responsáveis por canais que tiveram conteúdo removido pela plataforma refutam ter publicado desinformação de forma deliberada. Em alguns caos, afirmam ser vitima de censura pelas empresas de tecnologia.
O Google forneceu dados sobre 385 vídeos de 34 canais identificados como disseminadores de notícias falsas no Brasil. Destes, 90 publicações não geraram renda aos administradores. A empresa frisou, em sua resposta à CPI, que os vídeos em questão se encontram fora do ar, alguns deles por desrespeitarem os termos de uso da plataforma.
Grande parte é de vídeos com propagandas de drogas comprovadamente ineficazes contra o coronavírus, como a ivermectina e a cloroquina, denunciando um suposto complô contra o uso desses medicamentos da parte de opositores de Jair Bolsonaro.
Títulos com disfarce
O canal Aconteceu na Política alegou sem provas, por exemplo, que “governadores estão estocando vacinas e 6 milhões sumiram” e disseminou mentiras sobre a CoronaVac (“A Vacina de Taubaté de Doria — Bolsonaro sai na frente mais uma vez”).
Em um vídeo do Aconteceu na Política, o youtuber afirma que o Brasil havia superado a porcentagem de população vacinada da Europa, o que nunca ocorreu. Um vídeo com título idêntico do canal de Gustavo Gayer continua no ar. Gayer teve 56 publicações deletadas ou removidas.
“Pazuello detona Mandetta e diz que muita gente poderia ter sido salva com tratamento precoce!”, diz o título de um dos 25 vídeos deletados do canal Brasil de Olho. O mesmo canal publicou os vídeos “Pesquisa surpreende ao mostrar quantos brasileiros tomariam hidroxicloroquina” e “REUNIÃO SECRETA DE DORIA É VAZADA E PROVA USO POLÍTICO DA V4C1NA E REVELA PLANO PRA TIRAR B0LS0NAR0”, entre outros.
Em um vídeo do canal Casando o Verbo, havia a alegação de que os registros de 62 mil pessoas que morreram de AVC foram falseados para incluir Covid-19 como causa da morte, sem base em provas. O título fazia referência à morte do ator Tom Veiga, intérprete do Louro José, que morreu após um AVC.
Os youtubers apelavam a título cifrados para impedir que o Google encontrasse o conteúdo, como o uso da palavra “V4C1NA” e “tratamento inicial” em vez de “tratamento precoce”, nome mais comum para se referir ao “kit Covid”, de medicamentos ineficazes contra o coronavírus, defendido em 2020 pelo governo Jair Bolsonaro.
O levantamento contém três vídeos do Foco do Brasil, canal investigado no inquérito dos atos antidemocráticos, aberto pelo STF, pela ligação com o Palácio do Planalto. O assessor do chamado “gabinete do ódio” Tercio Arnaud Tomaz repassou vídeos ao canal e ajudou seu administrador a retransmitir imagens da TV Brasil.
Em depoimento em julho do ano passado, o dono do Foco do Brasil, Anderson Rossi, disse à Polícia Federal ter um faturamento mensal de R$ 50 mil a R$ 140 mil. Nos vídeos citados sobre Covid, porém, a monetização foi baixa, de apenas R$ 368.
Graves consequências
Os dados foram enviados à CPI a pedido do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), com base em um levantamento da Novelo Data sobre vídeos que “desapareceram” da rede social em 2021.
“A propagação de fake news a respeito da pandemia tem sido uma ação orquestrada e com consequências diretas no agravamento do número de mortes pela covid-19”, frisa o senador em seu pedido.
No mundo todo, o Google removeu mais de um milhão de vídeos desde fevereiro do ano passado por disseminarem desinformação sobre a pandemia.
Bolsonaro, ontem no Rio, foi apenas Bolsonaro, o tenente insubordinado que foi expulso das Forças Armadas por transgredir regras militares em benefício próprio, seja praticando garimpo ilegal, já naquela época, seja conspirando com atos terroristas ou utilizando a mídia para jogar a opinião pública contra as Forças Armadas, o que lhe custou a expulsão do exército.
Bolsonaro, na manifestação do Rio, não liderou somente o passeio pornográfico com motos que tinha a intenção de aglomerar no momento em que o Brasil já começa a viver uma terceira onda de covid.
Era preciso ir mais longe e colocar seu gado à disposição de uma disputa política eleitoral, gastando rios de dinheiro público para afrontar, em primeiro lugar, a CPI da Covid e, em segundo, as patentes mais altas das Forças Armadas, expondo publicamente um general da ativa como Pazuello, para se transformar no seu bibelô de mobilização, o que é absolutamente inconstitucional, seja a participação do ex-ministro num evento político, seja pelo total desrespeito do chefe da nação com o estatuto das Forças Armadas e com a própria instituição Presidência da República.
Se nada for feito de concreto, Bolsonaro que está se borrando de medo de Lula, vai tentar recuperar musculatura política no eleitorado com atitudes ainda mais fascistas, porque quanto menos apoio tiver em sua decadência, que se vê a olho nu, mais ódio e surto de covid ele vai espalhar pelo país.
Segundo médicos indianos, casos dessa infecção estão se tornando mais numerosos no país, especialmente entre mais jovens.
Segundo matéria publicada no G1, Na manhã de sábado, Akshay Nair, um cirurgião de olhos de Mumbai, na Índia, estava esperando para operar uma mulher de 25 anos que havia se recuperado de Covid-19 três semanas antes.
Dentro da sala de cirurgia, a paciente diabética já estava sendo submetida a outro procedimento, por um otorrinolaringologista.
Ele havia inserido uma cânula em seu nariz e estava removendo tecidos infectados com mucormicose, uma infecção fúngica rara, mas perigosa. Essa doença agressiva afeta o nariz, os olhos e, às vezes, o cérebro.
Depois que seu colega terminasse, Nair realizaria uma cirurgia de três horas para remover o olho do paciente.
“Vou remover o olho para salvar a vida dela”, explica ele à BBC.
Mesmo com uma segunda onda mortal de Covid-19 arrasando a Índia, os médicos agora estão relatando uma série de casos envolvendo uma infecção rara – também chamada de “fungo negro” – entre pacientes com Covid-19 em recuperação e recuperados.
O que é mucormicose?
A mucormicose é uma infecção muito rara, causada pela exposição a um tipo de mofo comumente encontrado no solo, plantas, esterco e frutas e vegetais em decomposição.
“É onipresente e encontrado no solo e no ar e até mesmo no nariz e no muco de pessoas saudáveis”, explica Nair.
A doença afeta os seios da face, o cérebro e os pulmões e pode ser fatal em diabéticos ou em indivíduos gravemente imunodeprimidos, como pacientes com câncer ou pessoas com HIV/AIDS.
O médico diz acreditar que a mucormicose, que tem uma taxa de mortalidade geral de 50%, pode ser desencadeada pelo uso de esteroides, um tratamento que salva vidas para pacientes graves com Covid-19 e criticamente doentes.
Os esteroides reduzem a inflamação nos pulmões e parecem ajudar a interromper alguns dos danos que podem ocorrer quando o sistema imunológico do corpo entra em atividade para combater o novo coronavírus.
Mas acabam por reduzir a imunidade e aumentam os níveis de açúcar no sangue em pacientes diabéticos e não diabéticos com Covid-19.
Acredita-se que essa queda na imunidade possa estar desencadeando esses casos de mucormicose.
“O diabetes diminui as defesas imunológicas do corpo, o coronavírus o agrava e, em seguida, os esteroides que ajudam a combater a Covid-19 agem como se estivéssemos jogando gasolina no fogo”, explica Nair.
O cirurgião ocular – que trabalha em três hospitais em Mumbai, uma das cidades mais afetadas pela segunda onda – diz que já atendeu cerca de 40 pacientes com infecção fúngica em abril. Muitos deles eram diabéticos que se recuperaram da Covid-19 em casa. Onze deles tiveram um olho removido cirurgicamente.
Entre dezembro e fevereiro, seis de seus colegas em cinco cidades – Mumbai, Bangalore, Hyderabad, Delhi e Pune – relataram 58 casos da infecção. A maioria dos pacientes a contraiu entre 12 a 15 dias após a recuperação da Covid-19.
O movimentado Hospital Sion de Mumbai relatou 24 casos dessa infecção fúngica nos últimos dois meses, ante seis casos por ano, de acordo com Renuka Bradoo, chefe do departamento de otorrinolaringologia do hospital.
Onze deles perderam um olho e seis morreram.
Grande parte dos pacientes era diabética de meia-idade que foi infectada pelo fungo duas semanas após se recuperar da Covid-19.
“Já estamos vendo de dois a três casos por semana aqui. É um pesadelo dentro de uma pandemia”, diz ela à BBC.
Na cidade de Bengaluru, ao sul, Raghuraj Hegde, cirurgiã oftalmologista, conta uma história parecida.
Ela viu 19 casos de mucormicose nas últimas duas semanas, a maioria deles pacientes jovens. “Alguns estavam tão doentes que não podíamos nem mesmo operá-los.”
Os médicos dizem que estão surpresos com a gravidade e a frequência dessa infecção fúngica durante a segunda onda, em comparação com apenas alguns casos durante a primeira onda no ano passado.
Nair diz que só atendeu 10 casos dessa doença em Mumbai nos últimos dois anos. “Este ano é algo diferente”, diz.
Em Bengaluru, Hegde nunca tinha visto mais de um ou dois casos por ano em mais de uma década como médica.
Os pacientes que sofrem dessa infecção fúngica geralmente apresentam sintomas de nariz entupido e sangramento; inchaço e dor nos olhos; pálpebras caídas; visão turva e, finalmente, perda de visão. Pode haver manchas pretas de pele ao redor do nariz.
Os médicos dizem que a maioria de seus pacientes busca tratamento médico tarde demais, quando já está perdendo a visão. Como resultado, eles precisam remover cirurgicamente o olho para impedir que a infecção alcance o cérebro.
Em alguns casos, contam, os pacientes perderam a visão em ambos os olhos.
E, em casos raros, os médicos precisam remover cirurgicamente o osso da mandíbula para impedir que a doença se espalhe.
Uma injeção intravenosa antifúngica que custa 3,5 mil rúpias (R$ 250) a dose e tem que ser administrada todos os dias por até oito semanas é o único medicamento eficaz contra a doença.
Uma forma de impedir a possibilidade de infecção fúngica é garantir que os pacientes com covid-19 – tanto no tratamento quanto após a recuperação – recebam a dose e a duração corretas de esteroides, diz Rahul Baxi, diabetologista de Mumbai.
Ele conta que tratou cerca de 800 pacientes diabéticos com covid-19 no ano passado, e nenhum deles contraiu a infecção fúngica.
“Os médicos devem cuidar dos níveis de açúcar após a alta dos pacientes”, diz Baxi à BBC.
Segundo um funcionário do alto escalão do governo indiano, “não há grande surto” de mucormicose no país.
No entanto, é difícil dizer por que mais casos dessa infecção estão sendo notificados na Índia.
“A cepa do vírus parece ser virulenta, elevando o açúcar no sangue a níveis muito altos. E, estranhamente, a infecção fúngica está afetando muitos jovens”, diz Hegde.
Seu paciente mais novo no mês passado era um homem de 27 anos, que nem era diabético.
“Tivemos que operá-lo durante sua segunda semana de covid-19 e remover seu olho. É muito devastador.”
Dezenas de milhões de brasileiros enfrentam fome ou insegurança alimentar à medida que a crise Covid-19 do país se arrasta, matando milhares de pessoas todos os dias.
Adolescentes magros como uma vara seguram cartazes em pontos de trânsito com a palavra fome – fome – em letras grandes. As crianças, muitas das quais estão fora da escola há mais de um ano, mendigam por comida em supermercados e restaurantes. Famílias inteiras se amontoam em acampamentos frágeis nas calçadas, pedindo leite em pó para bebês, biscoitos, qualquer coisa.
Um ano após o início da pandemia, milhões de brasileiros estão passando fome.
As cenas, que proliferaram nos últimos meses nas ruas do Brasil, são uma prova cabal de que a aposta do presidente Jair Bolsonaro de que poderia proteger a economia do país resistindo às políticas de saúde pública destinadas a conter o vírus falhou.
Desde o início do surto, o presidente do Brasil se mostrou cético quanto ao impacto da doença e desprezou a orientação de especialistas em saúde, argumentando que os danos econômicos causados pelos bloqueios, fechamentos de empresas e restrições de mobilidade por eles recomendados seriam uma ameaça maior do que a pandemia para a fraca economia do país.
Essa troca levou a um dos maiores índices de mortalidade do mundo, mas também fracassou em seu objetivo – manter o país à tona.
O vírus está se espalhando pelo tecido social, batendo recordes dolorosos, enquanto o agravamento da crise de saúde leva as empresas à falência, matando empregos e prejudicando ainda mais uma economia que cresceu pouco ou nada por mais de seis anos.
No ano passado, os pagamentos emergenciais em dinheiro do governo ajudaram a colocar comida na mesa para milhões de brasileiros – mas quando o dinheiro foi reduzido drasticamente neste ano, com uma crise da dívida se aproximando, muitas despensas ficaram vazias.
Cerca de 19 milhões de pessoas passaram fome no ano passado – quase o dobro dos 10 milhões que passaram em 2018, o ano mais recente para o qual havia dados disponíveis, de acordo com o governo brasileiro e um estudo de privação durante a pandemia por uma rede de Pesquisadores brasileiros focaram no assunto.
E cerca de 117 milhões de pessoas, ou cerca de 55% da população do país, enfrentaram insegurança alimentar, com acesso incerto a nutrição suficiente, em 2020 – um salto em relação aos 85 milhões que o fizeram dois anos antes, mostrou o estudo.
“A forma como o governo lidou com o vírus aumentou a pobreza e a desigualdade”, disse Douglas Belchior, fundador da UNEafro Brasil, uma das várias organizações que se uniram para arrecadar dinheiro para levar cestas básicas a comunidades vulneráveis. “A fome é um problema sério e intratável no Brasil.”
Luana de Souza, 32, foi uma das várias mães que fizeram fila do lado de fora de uma despensa improvisada em uma tarde recente na esperança de ganhar um saco com feijão, arroz e óleo de cozinha. Seu marido havia trabalhado para uma empresa que organizava eventos, mas perdeu o emprego no ano passado – uma das oito milhões de pessoas que se juntaram à lista de desempregados do Brasil durante a pandemia, elevando a taxa acima de 14%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
No início, a família conseguiu gastar a ajuda do governo com cuidado, disse ela, mas este ano, uma vez que os pagamentos foram cortados, eles tiveram dificuldades.
“Não há trabalho”, disse ela. “E as contas continuam chegando.”
A economia do Brasil entrou em recessão em 2014 e não havia se recuperado quando a pandemia o atingiu. Bolsonaro costumava invocar a realidade de famílias como a de Souza, que não podem se dar ao luxo de ficar em casa sem trabalhar.
No ano passado, quando governadores e prefeitos de todo o Brasil assinaram decretos fechando negócios não essenciais e restringindo a mobilidade, Bolsonaro chamou essas medidas de “extremas” e alertou que elas resultariam em desnutrição.
O presidente também descartou a ameaça do vírus, semeou dúvidas sobre as vacinas, que seu governo demorou a obter, e muitas vezes incentivou multidões de apoiadores em eventos políticos.
Uma segunda onda de casos este ano levou ao colapso do sistema de saúde em várias cidades, as autoridades locais novamente impuseram uma série de medidas rígidas – e se viram em guerra com Bolsonaro.
“As pessoas têm que ter liberdade, o direito ao trabalho”, disse ele no mês passado, chamando as novas medidas de quarentena impostas pelos governos locais equivalentes a viver em uma “ditadura”.
No início deste mês, como o número de mortes diárias causadas pelo vírus às vezes ultrapassava 4.000, Bolsonaro reconheceu a gravidade da crise humanitária que seu país enfrenta. Mas ele não assumiu nenhuma responsabilidade e, em vez disso, culpou as autoridades locais.
“O Brasil está no limite”, disse ele, argumentando que a culpa é de “quem fechou tudo”.
Mas os economistas disseram que o argumento de que as restrições destinadas a controlar o vírus agravariam a crise econômica do Brasil era “um falso dilema”.
Em carta aberta dirigida às autoridades brasileiras no final de março, mais de 1.500 economistas e empresários pediram ao governo a imposição de medidas mais rígidas, incluindo lockdown.
“Não é razoável esperar que a atividade econômica se recupere de uma epidemia descontrolada”, escreveram os especialistas.
A economista Laura Carvalho publicou um estudo mostrando que as restrições podem ter um impacto negativo de curto prazo na saúde financeira de um país, mas que, no longo prazo, teria sido uma estratégia melhor.
“Se o Bolsonaro tivesse implementado medidas de bloqueio, teríamos saído mais cedo da crise econômica”, disse Carvalho, professora da Universidade de São Paulo.
A abordagem de Bolsonaro teve um efeito amplamente desestabilizador, disse Thomas Conti, professor do Insper, uma escola de negócios.
“O real brasileiro foi a moeda mais desvalorizada entre todos os países em desenvolvimento”, disse Conti. “Estamos em um nível alarmante de desemprego, não há previsibilidade para o futuro do país, regras orçamentárias estão sendo violadas e a inflação cresce sem parar”.
Se o critério da Cúpula do Clima é salvar vidas, salvando o planeta, por que não usar esse belo exemplo para discutir o que mais está matando os seres humanos no mundo neste momento, principalmente nos países mais pobres?
Se Joe Biden atingiu todas as metas de vacinação prometida, o que merece aplauso, esse ato heroico deveria ser dirigido aos países que estão sendo esmagados pela covid por não terem o mesmo poderio econômico dos EUA. Por isso, essa façanha de Hércules do presidente americano, na verdade, é o que deveria estar sendo discutido hoje na Cúpula do Clima, a salvação dos povos para que estes salvem o planeta, não o inverso.
Não há nada mais premente do que a devassa humana que a covid está provocando no planeta, por falta de vacinação, não exatamente de vacina. Os EUA, como tem dinheiro, tem vacina para três vezes a sua população, enquanto países africanos e tantos outros sofrem golpes certeiros com a pandemia.
É conveniente aos EUA promover a Cúpula do Clima para salvar o verde e preservar a vida da terra, enquanto mais de 7 bilhões de pessoas sofrem e morrem com a covid, porque os interesses do poder econômico impedem que todos os países tenham acesso às vacinas, já que não houve a quebra das patentes das vacinas.
Como explicou Lula, o coronavírus só será extinto do planeta com a união de todos os países em busca de uma solução conjunta e não com o “cada um por si”, como estamos assistindo.
Sobre a questão que envolve Biden e Bolsonaro, a situação do Brasil na pandemia não é desconhecida por Biden, já que o país está no olho do furacão global como principal laboratório de novas cepas do vírus. Isso não anula as críticas de Biden ao monstro amazônico, ao contrário, já que a covid e a falta de vacinação dos brasileiros, mas principalmente dos indígenas, tem dado uma forcinha ao genocida no seu propósito de exterminar os povos originários da Amazônia.
Então, Biden, como presidente da maior potência econômica, não convocar uma reunião urgente para discussão do que mais aflige o mundo hoje, ao invés de debater metas de redução de carbono para as próximas décadas, se comparado à urgência que a calamidade da covid está provocando no planeta, cheira a pura hipocrisia.
No caso do Brasil, em que, por bondade com as grandes farmacêuticas, Bolsonaro foi contra a quebra das patentes das vacinas, numa atitude de grandeza de Biden, pedindo para que o mundo todo ignorasse os interesses dos grandes laboratórios privados e democratizasse o acesso às diversas formas de vacinas, de imediato, daria um tabefe na cara do genocida.
Mas parece que isso é pedir muito para o abnegado presidente norte-americano que, na verdade, segue o lema, “Deus salve a América, mas somente a América”.
Não há sentido em discutir metas ambientais para 2030, enquanto só no Brasil quase 4 mil brasileiros morrem todos os dias pelo coronavírus e o mundo já soma mais de 3 milhões de mortes e que, por falta de vacinação, não há perspectiva de quando o mundo se livrará do vírus e, muito menos, quantos ainda morrerão com a doença.
Tudo isso para atender aos interesses da indústria farmacêutica mundial.
Não há nada mais urgente e crucial que daria solução instantânea para frear essa carnificina global que não seja a vacinação global com a quebra das patentes e um fundo internacional para que todos os países tenham acesso à vacinação e acabe de uma vez por todas com essa angustiante desigualdade que provoca a morte de tantos seres humanos no planeta.
Desesperado com o que vem pela frente, a CPI da Covid, e não pouca coisa, Bolsonaro, sob risco de ser responsabilizado pelo genocídio brasileiro, por ter negado a ciência, estimulado aglomerações, feito pouco caso do uso de máscaras e também charlatanismo com a cloroquina, Jair Bolsonaro liberou, pela primeira vez, uma campanha oficial de informação pública contra a covid-19. Confira:
Mesmo com a vacinação contra a Covid-19 avançando cada vez mais, é muito importante continuarmos cuidando uns dos outros. Por isso, lave sempre as mãos com água e sabão ou utilize álcool em gel, evite aglomerações, mantenha o distanciamento e use máscara. pic.twitter.com/SIegKkSfV3
— Presidência da República do Brasil (@presidencia_BR) April 9, 2021
É a primeira vez que as taxas de ocupação para Covid são informadas desde determinação do TCU.
Após determinação do TCU (Tribunal de Contas da União), as Forças Armadas abriram, pela primeira vez na pandemia, os dados sobre ocupação de leitos para pacientes com Covid-19 nos hospitais militares. As planilhas mostram que as Forças bloquearam leitos à espera de militares em enfermarias e UTIs e que há unidades com até 85% de vagas ociosas.
O TCU investiga possíveis irregularidades por parte de Ministério da Defesa, Exército, Aeronáutica e Marinha ao não ofertarem a civis leitos destinados a pacientes com Covid-19 em unidades militares de saúde.
Essas unidades consumiram pelo menos R$ 2 bilhões do Orçamento da União em 2020, segundo auditoria do TCU.
Os auditores sustentam que os hospitais militares deveriam fazer convênios com o SUS para ampliar atendimentos à população durante essa fase mais crítica da pandemia, quando há um colapso generalizado das redes públicas de saúde nos estados.
A reserva de vagas aos militares contraria os princípios da dignidade humana e viola o dever constitucional do Estado de oferecer acesso à saúde de forma universal, conforme o tribunal, que determinou no dia 17 a abertura dos dados sobre ocupação de leitos.
O Ministério da Defesa pediu mais 10 dias para sistematizar os dados, o que foi autorizado pelo plenário do TCU no dia 24.
Vencido o prazo, as primeiras planilhas com as informações começaram a ser publicadas nos sites das Forças Armadas. As próprias planilhas registram que leitos são reservados exclusivamente a militares e seus familiares.
Até então, o Ministério da Defesa, os comandos das Forças e a direção do HFA (Hospital das Forças Armadas), em Brasília, evitavam dizer se as unidades estavam abrindo ou não espaços a civis, diante do colapso nas redes públicas de saúde.
A Folha formulou pedidos de informação a HFA, Marinha, Exército e Aeronáutica, por meio da Lei de Acesso à Informação, sobre destinação de vagas a civis. As respostas dadas pelas duas primeiras instituições confirmam que os leitos são destinados a militares e seus dependentes e que não houve abertura de vagas a civis em geral.
No HFA, são atendidos apenas servidores civis do Ministério da Defesa. O hospital também atende o presidente Jair Bolsonaro, o vice Hamilton Mourão e ministros de Estado.
O Exército afirmou que seu sistema é voltado aos militares, sem dizer se abriu alguma exceção a civis. A Aeronáutica pediu mais tempo para responder.
A Folha localizou as planilhas com dados sobre a ocupação dos leitos publicadas por Aeronáutica, Exército e HFA, publicadas após a determinação do TCU, mas não os da Marinha.
A Aeronáutica lista 27 unidades de saúde, das quais 14 têm leitos reservados a pacientes com Covid-19. Em quase todas não há vagas em UTIs, que estão lotadas, conforme dados atualizados na segunda-feira (5). Há uma exceção: a UTI do Hospital de Aeronáutica de Recife, onde a ocupação é de 71,43%.
Quanto aos leitos de enfermaria, apenas três têm 100% de ocupação. Em outras seis, o índice é de 50% ou menos. São os casos dos esquadrões de saúde de Guaratinguetá (SP), Curitiba (PR), Natal (RN) e Lagoa Santa (ES), com ocupação inferior a 25%.
A ocupação dos leitos clínicos para Covid-19 no Hospital de Aeronáutica de Canoas (RS) estava em 41,67%. No Hospital de Aeronáutica de Manaus, em 50%.
Já o Exército divulgou a disponibilidade geral de leitos, não apenas para Covid. Segundo a força, 23 unidades de saúde têm 366 leitos, um terço do total. Em 14 delas, a ocupação geral é de 50% ou menos.
As maiores ociosidades, segundo planilha do Exército, estão no Hospital de Guarnição de Florianópolis (ocupação de 13%), no Hospital Geral de Curitiba (19%), no Hospital de Guarnição de Marabá (PA) (22%) e no Hospital Geral de Juiz de Fora (MG) (26%).
No caso das UTIs, há um cenário de superlotação. Dezenove hospitais militares do Exército oferecem 217 leitos, e apenas três não têm 100% ou mais de ocupação geral.
No Hospital de Guarnição de Marabá, há duas vagas e as duas estão livres, segundo o Exército. No Hospital Militar de Área de Manaus, a ocupação geral é de 33%; há seis leitos ativos para pacientes com Covid-19. E no Hospital de Guarnição de Porto Velho, há quatro vagas, todas livres.
A administração dos leitos para Covid-19 nos hospitais militares do Exército faz parte da chamada Operação Apolo, cujas ações são gerenciadas pelo Departamento Geral de Pessoal.
O chefe do departamento é o general Paulo Sérgio de Oliveira, que foi indicado na semana passada ao cargo de comandante do Exército, após a demissão do atual comandante, Edson Leal Pujol.
No HFA, quase todos os 40 leitos de UTI estão ocupados com pacientes com Covid-19. O índice divulgado é de 97,5%. Já os leitos de enfermaria têm ocupação de 57,1%, segundo atualização feita pelo hospital nesta terça.
Dos pacientes que estão em enfermaria (há 70 leitos), 10% integram uma lista de espera e aguardam uma vaga em UTI, segundo o HFA. Parte dos leitos de enfermaria se destina a pacientes que tiveram alta da UTI.
Segundo o Ministério da Defesa, a respeito do HFA, o número de leitos de UTI ou clínicos não é constante e se adapta à demanda. Não há ociosidade e há grande rotatividade, afirmou o ministério. “Isso acontece não só em hospitais militares, mas também em hospitais públicos e privados”, disse, em nota.
“A informação sobre a taxa de ocupação faz alusão apenas aos dados do dia corrente, pois qualquer número ou porcentagem relacionada à disponibilidade de leitos que vier a ser divulgada de maneira equivocada poderá construir um cenário incerto, que não condiz com essa realidade que muda a todo instante”, afirmou.
A pasta disse ter fornecido todos os dados ao TCU, a partir da determinação feita. “Os hospitais militares estão com número limitado de leitos, assim como os hospitais públicos. Esses dados estão disponíveis na internet e podem ser acessados, de maneira irrestrita, nos sites do HFA e das Forças Armadas.”
O percentual de militares da ativa infectados pelo coronavírus por estarem na linha de frente supera 13%, valor superior à média nacional, conforme a nota.
“Esse número elevado, somado à grande quantidade de dependentes, militares da reserva, reformados e pensionistas, normalmente de idade bastante avançada, que são atendidos por lei, tem mantido o sistema de saúde das Forças e hospitais militares no limite de suas capacidades, como no restante do país”, afirmou a Defesa.
Com o objetivo de liberar para o SUS os leitos ociosos das Forças Armadas, o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) vai entrar, nesta quarta-feira (7), com uma ação popular contra o ministro Braga Netto (Defesa).
Na ação, o deputado argumenta que os leitos pertencem à administração pública, mesmo que parcialmente custeados com recursos privados dos militares e de seus dependentes.
“É uma vergonha que os militares mantenham leitos vazios enquanto milhares de civis morrem sem ar nas filas de hospitais. Uma vergonha ilegal”, afirma o deputado. “O corporativismo é tamanho que a taxa de desocupação de alguns hospitais militares chega a 85%. É como se as vidas civis fossem de segunda classe, descartáveis.”
Movimento contra medidas restritivas ocorreu no sábado (3), em Guaratuba. Para secretário de Saúde do município, tristeza é ainda maior ‘ao ver pessoas que lá atrás ligavam pedindo ajuda para um familiar com Covid-19’.
Um grupo de manifestantes promoveu um buzinaço em frente ao Hospital Municipal de Guaratuba, no litoral do Paraná, no sábado (3). Eles protestaram contra medidas de restrição no combate à pandemia na cidade e defenderam o uso de tratamento precoce para a Covid-19, que não possui eficácia comprovada contra a doença.
No local, profissionais de saúde, entre eles o secretário municipal da pasta, responderam com silêncio e cartazes. Entre eles, as frases “silêncio, por favor respeite os pacientes” e “números têm nome”.
“Me entristeceu muito ver pessoas que lá atrás me ligavam de noite pedindo ajuda para um familiar com Covid, e outros que eu sabia que haviam perdido familiares. Foi difícil ver a forma como alguns nos receberam, com palavras contrárias, esquecendo que somos nós que estamos lá a qualquer horário lutando por eles”, lamentou o secretário, Gabriel Modesto.
Segundo o secretário, no momento da manifestação, estava acontecendo um parto na instituição. Pacientes de Covid-19 ficam na Pronto Socorro Municipal.
A ação foi organizada pela Associação Comercial e Empresarial de Guaratuba (Acig) e contou com carros “vestidos” com a bandeira do Brasil.
O presidente da Acig, Braulio Augusto Pedrotti, se manifestou dizendo que era uma manifestação pública e não tinha como controlar todos, mas que os organizadores tinham estabelecido regras de respeito e que foi uma minoria que tomou outras atitudes.
Guaratuba tem 37.527 habitantes e confirmou 3.785 casos do novo coronavírus desde o começo da pandemia, com 2.748 pessoas recuperadas e 116 mortes registradas pela doença, segundo o último boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (Sesa), no sábado.
Levantamento em 1.593 unidades mostra que o percentual de mortes passou de 13,1% para 38,5%.
O percentual de mortes de jovens entre 18 e 45 anos por Covid-19 nas UTIs brasileiras triplicou, segundo dados compilados de 1.593 unidades de terapia intensivas públicas e privadas do país.
O levantamento é do projeto “UTIs brasileiras”, da Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira) e compara um período de relativa calmaria na UTIs, entre setembro e novembro de 2020, com esse momento de colapso, entre 1º de fevereiro até sexta (26).
Os dados mostram que o percentual de jovens mortos passou de 13,1% para 38,5%, um aumento de 193%.
Se observado só o grupo de jovens sob ventilação mecânica, o aumento é de 31%: subiu de 43,2% para 56,6%. A mortalidade geral de pacientes intubados, de todas as faixas etárias, é de 53%.
Ao mesmo tempo que houve um crescimento de 11% nas internações de pacientes com menos de 45 anos nas UTIs, as de pessoas com mais de 80 anos caíram 27,6%.
No período anterior, os mais jovens representavam 18% dos admitidos; agora são 20%. Os mais velhos, eram 13% e hoje são 9,7%.
Os dados da Amib convergem para a última edição do Boletim Observatório Fiocruz Covid-19, divulgado nesta sexta (26), que mostra que a epidemia de coronavírus rejuvenesceu no Brasil.
Para o médico intensivista Ederlon Rezende, coordenador do projeto, os números derrubam de vez a suposição que se tinha no início da pandemia de que os jovens não desenvolviam a forma mais grave da Covid e não morriam em razão dela. “Agora estamos vendo o contrário”, diz ele.
E por que esses jovens estão morrendo mais? Para Rezende, eles estão chegando mais graves aos hospitais ou porque retardaram a ida ou porque tiveram problemas de acesso por falta de vagas nas UTIs.
“Esse gravidade se reflete no fato de que eles estão precisando mais ventilação mecânica, mais prona [técnica que deixa o paciente de barriga para baixo], mais diálise, mais Ecmo [equipamento que funciona como pulmão e um coração artificiais para pacientes que estão com os órgãos comprometidos]”, conta.
Outra hipótese é que a nova variante do vírus, conhecida como P1, possa estar associada às formas mais graves.
Segundo ele, é sempre bom lembrar também que muitas UTIs não estão funcionando em suas condições normais, uma vez que houve um aumento exagerado de leitos para a capacidade das equipes.
“A mortalidade está sendo maior em todas as faixas etárias. É o nosso pior momento de mortalidade dentro das UTIs”, diz ele.
O deslocamento da incidência da Covid grave para as faixas mais jovens contribui para o cenário crítico da ocupação de leitos de UTI neste momento de colapso.
Por se terem menos comorbidades, a evolução dos casos é mais lenta, e a permanência em leitos de UTI, maior.