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Luis Nassif: O subjornalismo e o caso da gravata de Lula

É humilhante para o jornalismo brasileiro a quantidade de irrelevâncias transformadas em pontos centrais de cobertura.

O padrão da imprensa ocidental é bem caracterizado. No topo, os jornais referenciais, que tratam apenas de temas relevantes e influenciam diretamente os centros de poder. Seu produto são as matérias de fundo. Em outros países, é um The New York Times, Financial Times.

Abaixo deles, vem os jornais populares, que tratam os temas de forma superficial e sensacionalista,

Finalmente, a imprensa regional, com os temas locais e baseando-se em agências e nos jornais do primeiro time para a convertida nacional.

No Brasil, durante algum tempo, teve-se a pretensão de que a mídia de opinião se desenvolveria de acordo com o modelo The New York Times, já que seria muito pedir que usassem como modelo o Financial Times.

Hoje em dia, o nível de superficialidade é de rede social. A mídia se transformou em um enorme caça-likes. É humilhante para o jornalismo brasileiro a quantidade de irrelevâncias transformadas em pontos centrais de cobertura, seja pela Folha (que extrapola), Globo e Estadão.

O exemplo recente foi a ida de Janja a uma loja de artigos masculinos para comprar uma gravata para Lula – que teria encontros com as mais altas autoridades de Portugal.

Nenhum leitor de jornal tem a menor ideia sobre as conversas, sobre acordos diplomáticos. A cobertura concentrou-se exclusivamente no fato da primeira dama brasileira ter comprado uma gravata de marca para o presidente brasileiro.

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CPMI e Anderson Torres aumentam chances de Bolsonaro parar na cadeia

Chico Alves*

Durante os quatro anos que passou na Presidência, Jair Bolsonaro cometeu uma extensa coleção de barbaridades que já o teria encaminhado para o xilindró, não fosse o Brasil um país tão afeito à conciliação.

Campanha contra a vacinação em plena pandemia de covid-19, abandono de indígenas a uma condição crítica de saúde, apoio a bandidos que desmatam a Amazônia, uso do cargo para tentar descredibilizar o processo eleitoral, além do incentivo e coordenação do golpismo são apenas alguns itens dessa antologia de crimes.

Terminado o mandato de Bolsonaro, a apuração de suas infâmias ficou a cargo do Supremo Tribunal Federal (STF) e da PolíciaFederal, que fazem um trabalho lento e discreto, que somente em momentos cruciais chega ao conhecimento da imprensa.

Beneficiado pelo passar do tempo, o ex-presidente e seus apoiadores consideravam cada vez mais remota a possibilidade de que ele fosse preso. Já contabilizavam como certa a pena de inelegibilidade e comemoravam. Afinal, não é nada desprezível a força de Bolsonaro para transferir votos ao candidato que escolher.

Até mesmo o governo Lula estava conformado com esse roteiro.

Após a depredação das sedes dos poderes da República, no dia 8 de janeiro, alguns aliados do petista sugeriram a criação de uma CPI para investigar quem organizou e financiou os golpistas. A ideia não prosperou. A ordem era tratar de política e realizações e deixar com o STF o teor criminal da gestão Bolsonaro.

Nos últimos dias, porém, a trama tomou outro rumo.

A ideia maluca da oposição bolsonarista de criar CPMI para investigar uma suposta omissão do governo nos ataques de 8 de janeiro — na verdade, uma tentativa de inverter a culpa, diante da péssima repercussão que a depredação golpista teve até entre os eleitores da direita —, recebeu o reforço do vídeo divulgado pela CNN Brasil, com imagens internas do Palácio do Planalto no dia da invasão.

As cenas em que o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias, aparece perdido entre os golpistas e a estranha cordialidade com que seus funcionários trataram os invasores tiveram efeito explosivo. Com a repercussão, Dias pediu demissão e deixou aos bolsonaristas os argumentos que precisavam para criar uma crise com potencial de abalar o governo.

Porém, a reação dos governistas foi rápida — e acertada.

Passaram a apoiar a criação da CPMI e vão brigar para dominá-la. Se realmente conseguirem, planejam mudar radicalmente o foco imaginado pela oposição: pretendem detalhar todos os movimentos do ex-presidente e seus apoiadores que motivaram os golpistas a invadirem as sedes dos Três Poderes.

Nesse caso, o potencial de catalisar a opinião pública que é característico de uma CPMI como essa seria usado para explorar em detalhes as seguidas agressões de Bolsonaro e seu grupo à democracia, culminando no 8 de janeiro.

Uma conjunção astral fez com que um novo depoimento de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e parceiro do ex-presidente em quase todos os seus gestos contra as instituições democráticas,fosse marcado para segunda-feira (24). Dessa vez, em condições bem mais desfavoráveis que os anteriores. Abatido, deprimido, cada vez mais inconformado com a prisão, Torres cedeu à PF a senha da nuvem do celular que providencialmente havia “perdido” nos Estados Unidos. A expectativa é de que informações comprometedoras para Bolsonaro venham à tona.

O conteúdo a ser revelado e o novo depoimento do ex-ministro bolsonarista poderão dar subsídios ainda mais contundentes à investigação policial. Se o governo conseguir o domínio da CPMI, terá uma rica matéria-prima para destrinchar no Congresso, sob a atenção de grande audiência.

Assim, a possibilidade de Bolsonaro parar na cadeia ficaria bem menos distante. A comoção criada por uma investigação parlamentar pode pavimentar o caminho do ex-presidente até à cela.

Os próximos dias serão decisivos para sabermos se as peças desse quebra-cabeças, que parecia tão favorável à oposição, formaram uma cena em que os bolsonaristas se arrependam profundamente de terem sugerido uma CPMI.

Se é que já não se arrependeram.

*Uol

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Quem tem uma oposição como a do governo Lula, não precisa de aliados

Convenhamos, Flávio Dino, quando esteve na Câmara, expôs a burrice aguda da oposição de direita no Brasil.

Sejamos francos, não dá para colocar no catálogo que essa turma que hoje faz oposição a Lula, é de extrema direita, o que não invalida a defesa retrógrada de suas pautas medievais.

Na verdade, essa direita, até por contexto, segue imitando a pronúncia trumpista no Brasil. Talvez essa seja uma das raras vezes em que o Brasil assiste a uma oposição modelada pela mídia, que podemos classificar como um coral cantando a mesma melodia de um Roberto Marinho com rara desafinação, porém, o refrão é o mesmo do Dr. Roberto, como gosta de chamar Pedro Bial.

Isso nos dá uma grande referência da leitura política que se pode fazer da direita atual e afirmar que essa mediocridade, além de ser 100% nacional, tem uma dicção exagerada, mas não menos verdadeira do retrato do jornalismo industrial praticado no Brasil atual.

Tudo é pavoroso. Mas vejam só, essa burrice é parte de um processo que, pode sim afirmar que é de um antipetismo fabricado nas redações instrumentalizadas por uma burguesia que ninguém ignora, justamente por uma pronúncia paulistana e sulista, mas também gaúcha e paranaense que cria um certo ar de samba do branco doido.

Ainda hoje, a gloriosa representante dessa ignorância brasileiríssima, chamada Dora Kramer, escreveu um editorial para a Folha profundamente inócuo, seja no título, na entonação, seja na ortografia.

A laureada jornalista, que não pode ser classificada como bolsonarista, escreve um artigo carregado de enxofre, sem ao menos buscar um assunto real, criando uma espécie de variação inútil sobre o mesmo tema, com uma presepada em Dó maior, apenas para dizer de que lado ela e a Folha estão, deixando claro que, além de cada jornalista, é uma instituição de nulidade.

Ela escreveu um artigo intitulado “Trancos e Barrancos”

Pelo trecho que segue abaixo, Dora parece inspirada no terraplanismo virtual quando sapeca essa inspirada estrofe do nada:

“Luiz Inácio da Silva tem feito escolhas tão ruins quanto enigmáticas. Não obtém bons resultados e por isso suscitam a dúvida sobre qual a motivação dele ao arrumar briga no campo externo com o Ocidente e, no terreno interno, prestigiar as ilegalidades do MST, levando o líder invasor na viagem à China.”

Então, vem a pergunta, essa costura de Frankstein que Dora martela em seu precioso artigo, quer chegar aonde?

Esse compêndio de fantasias infantis é tudo o que um governante quer de uma oposição inócua, com referências baseadas em uma abstração funesta, de extraordinária nulidade.

Então, pergunta-se, como um artigo desse passou pelo conselho editorial da Folha?

Já o Estadão, apela até para o sócio de Augusto Nunes, JR Guzzo, que transformou-se num idoso folclórico que escreve com aquele ódio de um principiante esbaforido, dando uma exatidão magnífica de como anda a imprensa brasileira nessa terra de ninguém, que é o mundo corporativo.

Mônica Bergamo parece ter pregado uma peça quando noticiou que Janja havia comprado uma gravata numa loja de luxo em Portugal. Bastou isso para a direita cometer um dos maiores suicídios políticos de que se tem notícia nesse país.

Em plena sexta-feira de Tiradentes, a notícia se espalhou como rastilho de pólvora para que aquele “absurdo” ficasse registrado em cada comentário ou postagem nas redes sociais.

Era tudo o que Lula precisava para dar como exemplo a diferença brutal entre o seu governo e o de Bolsonaro.

Não vamos aqui falar em todos os absurdos que envolvem o cartão corporativo do governo anterior e a propina paga em joias que Bolsonaro recebeu da Arábia Saudita, vamos apenas resumir que, no momento seguinte de toda essa fanfarronice do “escândalo da gravata”, vem a notícia que faz da língua de trapo chicote da bunda, pois a notícia que a própria mídia teve que dar é a de que a gravata, comprada sim numa loja de luxo em Portugal, foi paga com cartão pessoal de Janja, ou seja, não há centavo de dinheiro público nisso.

Como essa gente caiu numa armadilha de forma tão tosca, mesmo depois de dar um tido de canhão no próprio pé com a tal CPMI do 8 de janeiro, proposta pelos bolsonaristas? Que se, de fato for aprovada, não deixará pedra sobre pedra no terraplanismo tropical.

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Governo tem de ser visto com um outro olhar

Flávia Oliveira*

Iniciativas tomadas até agora terão impacto positivo na vida dos brasileiros.

No turbilhão formado pelo comentário impróprio do presidente da República sobre a guerra Rússia-Ucrânia na passagem por China e Emirados Árabes Unidos, assuntos relevantes da agenda global acabaram negligenciados. Documentos e declarações oficiais dos chefes de Estado sinalizaram atenção ao cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e do enfrentamento à emergência climática. Em Abu Dhabi, Lula chegou a propor que o G20 passe a debater até mesmo uma regulação internacional para as plataformas digitais. É assunto que preocupa o Brasil, à luz das ameaças da extrema direita à democracia e dos recentes episódios de violência contra escolas.

Foi em 2015 que os 193 membros das Nações Unidas se comprometeram a perseguir um conjunto de 169 metas socioeconômicas e ambientais para melhorar a vida no planeta até 2030. Os 17 objetivos, conhecidos como ODS, vão da erradicação da fome e da pobreza à igualdade de gênero. Incluem acesso a saúde e educação, água e saneamento; trabalho decente e energia limpa; consumo responsável e cidades sustentáveis.

A pandemia da Covid-19 interrompeu uma trajetória de avanços, que já vinha trôpega. Na edição 2022 do Relatório Luz, em que ONGs, movimentos sociais e universidades monitoram o cumprimento das metas, o Brasil retrocedeu em indicadores de saúde, educação e trabalho. Os autores chamaram a atenção para uma realidade gravíssima:

— Num contexto de crise sanitária e climática, o aumento da pobreza, da fome, da perda de biodiversidade e da qualidade de vida no Brasil indica, de forma irrefutável, uma sociedade adoecida não apenas pelos efeitos devastadores da Covid-19, mas também pelo crescimento das desigualdades.

Das 168 metas aplicáveis ao Brasil, dois terços (110) estão em retrocesso, em decorrência de políticas públicas interrompidas, negativamente alteradas ou financeiramente asfixiadas. Aumentaram mortalidade materna, exposição a agrotóxicos, fome, precarização do mercado de trabalho.

A invasão da Ucrânia pela Rússia agravou o cenário, em virtude dos efeitos, sobretudo, na oferta e nos preços dos alimentos mundo afora. Boa parte das decisões restritivas de política monetária — que jogam para cima a taxa de juros e para baixo o crescimento econômico — tem a ver com custos da energia, dos combustíveis e da comida.

É bom sinal que países em diálogos bi ou multilaterais ressuscitem acordos pactuados, porém secundarizados pela urgência da crise sanitária, pelo ambiente econômico instável, por relações internacionais tensionadas por um conflito sem horizonte de fim.

Há coisas interessantes acontecendo país e mundo afora, que o foco teimoso nos enredos de sempre interdita. Há uma cena antológica em “Desconstruindo Harry” (Woody Allen, 1997) em que o protagonista se desespera com o mundo que, por incompreensível, julga desfocado. Como reposta, ele ouve que o problema está na lente que usa, não na cena, nas pessoas, nos objetos que observa.

O Brasil adentrou um túnel escuro por quatro longos anos. Depara agora com os primeiros raios de sol. A democracia mostrou-se resiliente a uma saraivada de ataques e a uma tentativa de golpe. A centena de réus ratificados pelo Supremo Tribunal Federal nesta semana são indício de justiça — sem anistia.

Num par de viagens internacionais, o governo voltou com R$ 62 bilhões em acordos firmados com China e Emirados Árabes Unidos. Ainda ontem, os Estados Unidos anunciaram com pompa que o Brasil receberá, em cinco anos, meio bilhão de dólares para combater o desmatamento na Amazônia. O plano de enfrentamento está em consulta pública e deverá ser lançado até meados de maio.

Recriado, o Ministério da Cultura tem quase R$ 9 bilhões para distribuir em editais a uma cadeia produtiva que emprega mais de 7 milhões de brasileiros e representa 3,11% do PIB nacional, mais que a indústria automotiva, estimou o Observatório Itaú Cultural em relatório recente. O orçamento das universidades será recomposto. Famílias já começaram a receber o adicional do Bolsa Família por crianças de até 6 anos; adolescentes também serão incorporados ao programa, quase esfacelado dois anos atrás. O teto de gastos dará lugar a um regime fiscal mais realista e eficiente. Vem aí a reforma tributária. Depende do Congresso Nacional garantir que ela promova justiça para que os mais pobres paguem menos; avesso do presente. Cada uma dessas iniciativas tem ou terá impacto positivo na atividade econômica, na qualidade de vida e no futuro dos brasileiros. Elas precisam ser olhadas, medidas e avaliadas com outro peso, outro olhar.

*O Globo

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A dobra na aposta de golpe dos bolsonaristas para se livrarem da cadeia pode estar sendo comandada por Carluxo com muito mais violência

A pergunta que todos fazem é, quem vazou para a CNN o vídeo que custou a demissão do general Gonçalves Dias do GSI?

Mas há uma pergunta ainda mais capciosa a ser feita, quem tinha mais interesse em sua saída e por quê?

A operação pode ter sido feita por algum militar ou algum dos muitos agentes do Estado que receberam o material. Mas há uma questão maior, quem pediu a cabeça do general, utilizando justamente esse material?

É, no mínimo, estranho que, em pleno momento decisório para a sua vida, de seus pai e de seus irmãos, Carlos Bolsonaro, que todos sabem, foi o autor e executor da farsa da facada em 2018, tenha ido para as redes sociais com um textinho novelesco para avisar a quem, ninguém sabe, que não estaria mais no comando do gabinete do ódio.

O que é preciso ver e de verdade analisar é o que Carlos Bolsonaro pretendeu com o tuíte em que avisa que deixará o comando da rede de fake news, que era não apenas uma rede de ações para estimular a proliferação de mentiras, mas também de uso estratégico para as ações criminosas, que não foram poucas, do governo Bolsonaro.

A meu ver, tem muito mais coelho nesse mato e, possivelmente, a cabeça do general tenha sido planejada aí a degola da cabeça do general.

Deixo claro que não há qualquer acusação, já que não há provas, apenas externo meu estranhamento a todos os fatos interconectados no momento em que o clã está na marca do pênalti.

Que venham as investigações e cheguem aonde devem chegar.

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Luis Nassif: Como a praga dos jogos online dominou o país

Abertura de cassinos explica a aproximação da família Bolsonaro com a Arábia Saudita, de olho em Angra dos Reis dominada pelas milícias.

Um dos exemplos mais ostensivos da globalização da corrupção são os jogos de azar. Nos Estados Unidos, Espanha, Itália, foram dominados pelas máfias locais.

A máfia de Los Angeles entrou no país através da GETEC, contratada pela Caixa Econômica Federal para automatizar seus sorteios. Ao longo de mais de dez anos produziu uma relação enorme de crises políticas, de Waldomiro Diniz ao esquema de Antônio Palocci.

Depois, foi a vez do intocado Carlinhos Cachoeira se aliar à máfia espanhola e competir com os americanos.

No dia a dia, organizações ilegais brasileiras dominavam o comércio de caça-níqueis. Durante algum tempo conseguiram a legalização de cassinos.

Em qualquer país civilizado, proíbem-se cassinos e jogos de azar em áreas urbanas, devido a dois tipos de risco:

  • Caminho aberto para lavagem de dinheiro e de tráfico de drogas;
  • Questão de saúde pública, com viciados em jogo arruinando famílias.
  • Influência política, financiando campanhas de políticos e conseguindo
  • Influenciar na indicação de delegados em suas zonas de atuação.

Parte dessa herança veio do jogo de bicho. Michel Temer, aliás, é um dos políticos que nasceu financiado pelo bicho.

A Máfia de Los Angeles, liderada por Sheldon Adelson, foi um dos financiadores da campanha de Bolsonaro e de Trump. O primeiro pedido de Trump a Bolsonaro foi abrir cassinos resorts. Aliás, é isso que explica a aproximação de seus filhos com a Arábia Saudita, pretendendo montar uma Cancún em Angra dos Reis – dominada pelas milícias.

*Com GGN

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No Oriente, Lula “abalou Bangu”. Bolsonaro está em rota segura para ficar por lá

Luís Costa Pinto*

No Brasil, a esfuziante e pragmática agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China e aos Emirados Árabes só surpreendeu os recalcitrantes da oposição e da mídia conservadora (para não dizer “extremista de direita”) que insistem em fazer olhos cegos e ouvidos moucos à nada sutil mudança qualitativa operada na percepção da imagem e do papel do País nos diversos foros internacionais de decisão das políticas globais.

No exterior, sobretudo nos Estados Unidos, causou espécie a assertividade e a independência dos discursos do líder brasileiro sobre a necessidade de o mundo abandonar o padrão-dólar para as trocas comerciais internacionais entre blocos e Nações e adotar cestas de múltiplas moedas e acerca da urgência de união dos países e dos escassos estadistas vivos (ele mesmo e o Papa Francisco, por exemplo) em torno de um processo de construção da paz que ponha fim a conflitos como a guerra da Ucrânia.

Donald Trump, porta-voz e vanguarda da extrema-direita, e todos os veículos de mídia que ecoam as vozes imperiais do Mercado Financeiro Internacional como The Wall Street Journal, Washington Post e The Economist, tendo por aqui o jornal Folha de S Paulo como ventríloquo de suas teses pedestres e sabujas, ecoaram uma espécie de temor sem fundamentos de a viagem de Lula ter feito o “satélite” Brasil sair da órbita dos EUA para gravitar sob a atração imperialista da China. Tamanha bobagem desqualifica quem acredita nela. Porém, aqueles que a formulam sabem exatamente aonde querem chegar: na disseminação do medo interno, entre os brasileiros, de que estejamos nos desplugando do Ocidente velho conhecido para aderir ao Oriente que seria “incerto”.

O presidente Lula, em pouco mais de 100 dias de Governo, não só venceu um golpe de Estado (8/01) e restaurou o poder das instituições republicanas como retomou políticas públicas bem-sucedidas (Bolsa Família, Mais Médicos, Minha Casa, Minha Vida) e devolveu ao Brasil o papel e a dimensão de indutor de movimentos no tabuleiro estratégico internacional. Não é pouco: é demais, em pouquíssimo tempo. E isso, caríssim@s leitores, dir-se-ia se ainda vivêssemos sob o manto diáfano da Guerra Fria: abalou Bangu!

Em 2 de agosto de 1958, o arsenal do Exército localizado no bairro Deodoro, Zona Norte do Rio de Janeiro, foi destruído por um incêndio. As munições ali guardadas explodiram. Registraram-se centenas de mortos e feridos. O impacto das explosões foi sentido a quilômetros de distância do paiol, no bairro de Bangu. A imprensa da época não se cansou de registrar que a explosão “abalou Bangu”. Em 1999, uma telenovela da Rede Globo restaurou e eternizou a expressão ao fazer uma personagem suburbana usá-la de forma irônica para dizer que algo fazia sucesso em toda a cidade e, consequentemente, no Brasil.

O sucesso do périplo oriental do presidente Lula abalou o “Bangu” que vive inerte e imóvel no recesso da alma da mídia tradicional brasileira e nos políticos locais que carecem de visão sofisticada e de olhar com um campo de visão de 360º sobre o mundo. Na turma de fora, sobretudo dos EUA, acendeu o sinal de alerta para a dimensão global e independente do espírito da liderança brasileira. De volta ao Brasil, o Lula 3.0 ligou o motor de suas obsessões planetárias. Construir uma cesta de moedas global para sustentar o comércio internacional e restaurar a paz no Leste europeu são o dínamo dessa engrenagem.

E Jair Bolsonaro, o homúnculo abjeto que esteve à frente do mais ruinoso governo (ou desgoverno) da História da República no quadriênio 2019-2022 onde entra nesse artigo? Aqui, no pé (porque artigo não tem rodapé). A semana que passou, durante a qual o Ministério Público Eleitoral confirmou a certeza já formada dentro do Tribunal Superior Eleitoral de que Bolsonaro deve ser punido com a inelegibilidade já na primeira das 12 ações movidas contra ele com esse mesmo propósito, foi dura para as viúvas e os órfãos do bolsonarismo. O ex-presidente também viu crescerem as evidências de cometimento de crime, por parte dele, na tentativa de se apropriar indevidamente de jóias enviadas de forma esquisita e inapropriada pelo regime tirânico da Arábia Saudita para o “casal Bolsonaro”. Novos capítulos dessa desairosa trama novelesca dos crimes do bolsonarismo estarão em tela ao longo da semana. O presidente Lula, que voltou do Oriente com a envergadura de um gigante, contempla lá de cima os esgares de um Jair Bolsonaro que se esquiva da Justiça como um rato.

*247

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A esquerda tem que parar de dar palco para um nada político como Bolsonaro

Tempos atrás, falei aqui que o bolsonarismo era uma vertigem e que acabaria quando Bolsonaro fosse chutado nas urnas. Cadê os bolsonaristas?

Bolsonaro não é, nunca foi, e nunca será uma liderança política, que fará de massa.

Se Bolsonaro fosse 1% do que a mídia criou em torno de seu nome, não perderia as eleições, mesmo comprando 60% dos votos e usando a máquina pública.

O que levou Bolsonaro ao poder em 2018, foi uma conjunção de fatores que nunca mais se repetirá. Nem aqui, nem na Cochinchina nem em lugar nenhum do mundo.

Nos quatro anos de governo, tudo em Bolsonaro foi falso, mentiroso e pérfido. Por isso virou um saco vazio depois que perdeu o poder.

Aonde foram parar os bajuladores fardados depois da derrota vexatória de Bolsonaro?

É preciso falar do anonimato instantâneo. É gigantesca a quantidade de celebridade instantânea que voltou ao nada depois da derrota de Bolsonaro, por exemplo, Augusto Nunes, Zé Maria sei lá do quê, Ana Paula do Vôlei, Guilherme Fiuza, Rodrigo Constantino, Lacombe, Caio Coppolla, Adriles Ninguém, JR Guzzo, e muitos outros famosos no mundo bolsonarista enquanto Bolsonaro mandava e desmandava nas instituições brasileiras, viraram pó de merda.

Essa gente toda fez mais uso de Bolsonaro que Bolsonaro dela. Oportunistas baratos que ganharam muita grana pública via Secom. Lógico que a queda brutal da Jovem Pan merece nota, mas isso será feito numa outra oportunidade.

Mas, cá pra nós, ver essa gente podre sumir do mapa com a derrocada do bolsonarismo artificial, não tem preço.

Se a direita vai tentar outro golpe?

Claro que vai. Como Temer e Bolsonaro chegariam ao poder sem golpe?

Daí achar que essas duas assombrações, que chegaram ao poder da forma mais suja, podem retornar, é delírio e até imprudência.

O Brasil tem um grande inimigo para enfrentar, um sabotador profissional bancado pela Faria Lima, chamado Campos Neto.

A esquerda tem que bater sem parar em Campos Neto por sequestrar nosso desenvolvimento com a agiotagem oficial do Banco Central.

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A Lava Jato é indissociável do mandato parlamentar de Moro (e do de Dallagnol também!)

Eugênio Aragão*

“O juiz Moro e o senador Moro são um só personagem”, aponta Aragão.

O grande esforço do ex-juiz e hoje senador Sérgio Moro se concentra, não em fazer política no sentido propositivo e saudável, mas em defender-se de diatribes do passado. Pudera. Sérgio Moro, qual seu parceiro do Ministério Público Deltan Dallagnol, não passa de um burocrata maçante, sem domínio da fala e muito menos da retórica e que não tem nenhum carisma social. Só conquistou o mandato parlamentar por conta de sua midiática atuação de magistrado “justiceiro” na Operação Lava-Jato.

Mas Sérgio Moro preferiu a simonia. Vendeu sua jurisdição à política partidária mais rasteira. E o plano, ainda que de forma atabalhoada bem a seu estilo, deu certo. Chegou ao Senado como “Juiz Sérgio Moro” em sua propaganda eleitoral, mesmo que juiz já não fosse, pois entregara o cargo em troca da pasta da justiça no governo Bolsonaro, numa manobra que evidenciou o objetivo pessoal: chegar ao verdadeiro poder (não aquele de mandar o meirinho notificar as partes de seus mofados e empoeirados processos).

Como senador desfruta, agora, de foro privilegiado, ou de “prerrogativa de função”, numa linguagem mais técnica. É corolário da imunidade parlamentar, pôr-se a salvo de juízes de piso que, como ele o foi, queiram conquistar notoriedade à custa da destruição da reputação de gente célebre. Rigorosamente, apenas o STF pode com ele. Não seus potenciais alter-egos.

Mas, curiosamente, Sérgio Moro dispensa a prerrogativa, como se dela pudesse dispor. Vale-se de interpretação jurisprudencial, segundo a qual o foro especial se restringiria aos atos praticados no exercício e em função do mandato, mas não os anteriores a este. Certamente também usa o argumento, o parceiro Dallagnol. E por que será?

Porque hoje, sepultada a malfadada operação-espetáculo, há juízes em Curitiba. Busca-se saber a fundo quais as motivações táticas de cada decisão tomada pelo magistrado politiqueiro. E a procura de razões táticas não podem estar dissociadas da estratégica: chegar ao poder.

Eis que surgem ao senador fantasmas do passado. O advogado Tacla Durán tem muito a dizer e quer desesperadamente reconstruir sua reputação vilipendiada. Vendo o esforço como risco a seu projeto político, Moro deseja que o Tribunal Regional Federal, onde tem amigos, confisque do magistrado correto a caneta, por sua suposta suspeição ao ter, após provocado pela parte, deferido o esclarecimento almejado.

Moro não nega ter interesse em obstar a atuação jurisdicional em prol do esclarecimento dos fatos. O certo seria ele insistir muito nesse esclarecimento, pois, se tivesse com consciência limpa, seria o primeiro interessado em afastar de si a imputação que possa lhe pesar, a de ter destruído injustamente a reputação de Tacla Durán. Mas de Moro não se pode esperar tanto. Ele quer melar.

Isso explica sua ojeriza pelo STF, para onde o juiz de Curitiba provocado por Durán remeteu o imbróglio. O mesmo STF já identificara a desastrada (para dizer o mínimo) atuação de Sérgio Moro, para declará-lo suspeito por inimizade com o Presidente Lula. Ali, o ex-juiz não engana ninguém.

Por isso mesmo que o STF deve afirmar sua competência. Afinal, o contexto é um só: para chegar a senador, Moro usou de seu cargo. Sua atuação interesseira na primeira instância é indissociável do mandato que hoje exerce.

Não há, agora, nenhum exagero em vincular potenciais mal feitos passados do ex-juiz ao presente exercício de seu mandato parlamentar. Mesmo que se acolha a limitação jurisprudencial, eventuais atos praticados pelo juiz Moro o foram teleologicamente direcionados ao mandato do senador Moro. E, declarando-se parte – só assim se legitimaria para opor exceção de suspeição contra o diligente juiz de Curitiba, deverá seu pleito ser decidido no STF.

O juiz Moro e o senador Moro são um só personagem. E o Tribunal Regional Federal, onde atua o pai do genro e sócio de Moro, deve abster-se de ajudar a melar o pedido de Tacla Durán. Agora há juízes em Brasília também.

*247

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Opinião

A China estendeu o tapete vermelho para Lula. O Brasil voltou

A visita foi um sucesso.

“Ninguém vai proibir que o Brasil aprimore sua relação com a China”, disse Lula a poucas horas do fim de sua visita àquele país. A China é o maior parceiro comercial do Brasil, a milhares de quilômetros de distância dos Estados Unidos, o segundo.

“É preciso que os Estados Unidos parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz”, disse Lula, acrescentando: “É preciso que a União Europeia comece a falar em paz para a gente convencer Putin e Zelensky” que a guerra só interessa a eles.

Putin é Vladimir, presidente da Rússia. Zelensky é Volodymyr, presidente da Ucrânia. O acréscimo feito por Lula não mereceu tanto destaque no noticiário quanto a frase inicial “É preciso que os Estados Unidos parem de incentivar a guerra”.

Mas, tudo bem. Deixa pra lá. Até Donald Trump, que não tem nenhuma afinidade com Lula, e toda afinidade com Bolsonaro, já disse que seu país estimula a guerra na Ucrânia; e Trump não é chinês, nem comunista, nem mesmo suspeito de ser.

Lula também não é comunista, nunca foi. Não importa, porém: seus adversários o acusam de ser – os bolsonaristas porque acreditam nisso, outros porque não gostam dele por mil razões. Em 2002, Bolsonaro votou em Lula para presidente.

O comunicado conjunto assinado por Lula e o presidente chinês Xi Jinping faz uma defesa generalista da paz na Ucrânia, poupa a Rússia de críticas e reafirma que a China é uma só, e não duas – a outra, Taiwan, uma ilha e espécie de protetorado americano.

Olhe aí outra prova de que Lula é vermelho! A Organização das Nações Unidas reconhece que China só existe uma. Em 1974, em plena ditadura militar, ao restabelecer relações diplomáticas com a China, o Brasil concordou com a premissa de uma só China.

“Penso que a compreensão que o meu governo tem da China é de que precisamos trabalhar juntos para que a relação Brasil-China não seja meramente de interesse comercial. Queremos que a relação transcenda a relação comercial”, afirmou Lula.

O governo chinês estendeu o tapete vermelho para Lula. Recebeu-o com pompa. A conversa privada de Lula com Jinping durou duas horas, muito além do previsto. Por mais duas horas, durante o banquete oferecido por Jinping, os dois conversaram.

Negócios são negócios, e foi atrás deles que, recentemente, o presidente da França visitou a China, empresários americanos têm negócios com a China, e Lula quer ampliar os negócios de mão dupla entre a China e o Brasil. Sem desprezo aos Estados Unidos.

Os Estados Unidos não parecem interessados em incrementar suas relações com a América Latina, onde cresce a influência da China, nem com a África, onde a influência da China é cada vez maior. Os Estados Unidos tratam a América Latina como quintal deles.

Em seus quatro anos de governo, Trump não pôs os pés na América Latina. Joe Biden, até aqui, também não. Como vice do presidente Barack Obama, Biden veio ao Brasil acalmar a presidente Dilma Rousseff que fora espionada por seu país.

*Blog do Noblat

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