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Após pescaria, um jet ski não voltou à casa do clã Bolsonaro, diz PF

Polícia Federal investiga se embarcação desgarrou da frota para transportar e esconder provas.

Informações colhidas pela Polícia Federal (PF) em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, apontam que uma das três embarcações usadas pelo clã Bolsonaro para supostamente pescar não voltou do mar enquanto os policiais estavam na casa da família, cumprindo um mandado de busca e apreensão contra o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), na manhã de segunda-feira (29/1).

A PF investiga se esse jet ski faltante possa ter sido usado para transportar e esconder, em propriedades de conhecidos na região, provas ou materiais suspeitos que estivessem com Jair e seus filhos.

Segundo fontes ouvidas pelo Metrópoles, a PF apurou que Carlos, o ex-presidente Jair Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro, assim como amigos e assessores, saíram da residência e entraram em um barco e dois jet skis às 6h40, após a família ter notícias da operação.

Às 8h40, os agentes da PF chegaram ao local, após viajarem de helicóptero da cidade do Rio. Por volta de 9h30, o deputado Eduardo voltou em um dos jet skis, iniciando as tratativas para que Carlos, o único alvo das autoridades, voltasse do mar. Somente às 11h o vereador aparece, após retornar em barco com o ex-presidente Bolsonaro, segundo fontes ligadas ao caso, segundo o Metrópoles.

Almoço relâmpago
Flávio Bolsonaro não voltou na parte da manhã até a região da casa da família, assim como um jet ski. Isso faz a polícia suspeitar que o senador tenha conduzido a embarcação até a casa de conhecidos na região.

O próprio Flávio disse, em entrevistas, que teria ido a um almoço. O Metrópoles tentou contato com o senador, mas, até agora, ele não retornou.

A versão da existência de um almoço supostamente pré-marcado, no entanto, causa estranheza aos investigadores, já que há relatos de que, pouco após a polícia sair do local, o senador retornou ao imóvel.

Advogado da família e ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, por exemplo, afirmou que, quando chegou à casa dos Bolsonaros, por volta de 12h45, Flávio já estava lá.

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Política

Operação contra Carlos Bolsonaro deve levar PF a Jair

Investigado por arapongagem, Zero Dois sempre deixou claro que cumpria ordens do pai.

Depois de se eleger presidente, Jair Bolsonaro informou que presentearia o filho Carlos com a Secretaria de Comunicação Social. “O cara é uma fera nas mídias sociais. Tem tudo para dar certo”, justificou. A ideia pegou mal, e o capitão desistiu do ato de nepotismo explícito. O Zero Dois não virou ministro, mas se tornaria uma eminência parda do governo.

Carluxo fabricou crises, derrubou ministros e comandou o famigerado gabinete do ódio. Sem cargo formal em Brasília, ganhou o apelido de vereador federal. O pai preferia chamá-lo de “meu pit bull”. Um cão feroz, sempre a postos para morder a canela dos adversários.

Em março de 2020, o ex-ministro Gustavo Bebianno disse que o Zero Dois queria criar uma “Abin paralela”. Um sistema de informações clandestino, que não deixaria rastros de suas atividades. Agora a Polícia Federal acredita que essa ideia também ficou pelo caminho. Os Bolsonaro acharam mais útil capturar a Abin oficial.

Na decisão que autorizou as buscas desta segunda-feira, o ministro Alexandre de Moraes enumerou provas do “desvirtuamento” da agência no governo passado. Em vez de produzir inteligência para o Estado, a Abin fez arapongagem para o clã. Ajudou a bisbilhotar opositores e obstruir investigações que ameaçavam os filhos do presidente.

A espionagem usou um programa israelense que descobre a localização de pessoas pelo sinal do celular. A ferramenta foi acionada ilegalmente contra congressistas, uma promotora do caso Marielle e ao menos dois ministros do Supremo. A Abin era comandada por Alexandre Ramagem, hoje deputado e pré-candidato a prefeito do Rio. Acima dele estava o general Augusto Heleno, que será ouvido na semana que vem.

Para a PF, Carluxo integrava o “núcleo político” da quadrilha. Como ele nunca fez nada para si mesmo, é provável que os investigadores ainda batam na porta do ex-presidente, que agora se diz vítima de “perseguição implacável”.

No primeiro discurso como vereador, o Zero Dois avisou que não devia obediência à legenda pela qual se elegeu: “Falo não em nome do Partido Progressista, mas em nome do Partido do Papai Bolsonaro”. Vinte e quatro anos depois, só mudou a sigla de fachada.

*Bernardo Mello Franco/O Globo

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Analista de riscos: EUA estão entrando em uma espiral de dívidas sem fim

Nassim Taleb, analista de risco e gestor de fundos, expressou preocupação com o perigoso aumento da dívida nacional nos Estados Unidos, que está gerando divisões políticas em Washington e dificultando a resolução do problema.

“Enquanto o Congresso continuar a ampliar o limite da dívida e a fazer acordos por medo das consequências de tomar a decisão correta, essa estrutura política dentro do sistema político resultará, eventualmente, em uma espiral de dívida. Uma espiral de dívida é como uma espiral sem fim… mortal”, alertou Taleb durante um evento para a Universal Investments nesta terça-feira (30).

Taleb ressaltou seu pessimismo em relação ao sistema político do mundo ocidental como um todo.

Na semana passada, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, mencionou que a dívida nacional dos Estados Unidos, que alcançou a marca inédita de US$ 34 trilhões, é um número assustador, mas gerenciável.

Yellen justificou afirmando que a dívida dos EUA é administrável devido à magnitude de sua “economia enorme”.

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Política

Vídeo: Bolsonaro confessa o crime de Carlos, mas diz que o crime não é crime

Bolsonaro confessa crime de Carlos Bolsonaro, ao vivo e a cores na Jovem Pan, sem rodeios, mas disse que o crime de Carluxo não é crime.

Qual é o problema de seu criminoso preferido cometer um crimezinho de espionagem ilegal de autoridades?

Bandido bom, é filho bandido!

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Investigação

Inquérito da PF contra influencer fitness Renato Cariani termina com três indiciados por tráfico de drogas e lavagem de dinheiro

Além de infuenciador, dois amigos também foram responsabilizados por crimes. Eles respondem em liberdade. Polícia Federal acusa grupo de usar empresa para emitir notas falsas de venda de produtos para multinacionais farmacêuticas, mas desviava insumos para produção de toneladas de cocaína e crack para facção criminosa. Renato nega.

Após dez meses de investigações, a Polícia Federal (PF) de São Paulo concluiu neste mês o inquérito contra o influenciador fitness Renato Cariani por suspeita de desvio de produtos químicos para a produção de toneladas de drogas para o narcotráfico.

O relatório final terminou com o indiciamento dele e de mais dois amigos pelos crimes de tráfico equiparado, associação para tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

A investigação não pediu as prisões dos três investigados. Todos respondem em liberdade. A conclusão da PF foi encaminhada para o Ministério Público Federal (MPF), que poderá ou não denunciar o grupo pelos crimes. Caberá depois à Justiça Federal decidir se o trio deverá ser julgado pelas eventuais acusações. Se forem condenados, eles poderão ser punidos com penas de prisões.

Além de Renato, Fabio Spinola Mota e Roseli Dorth são acusados pela PF de usar uma empresa química para falsificar notas fiscais de vendas de produtos para multinacionais farmacêuticas. Mas os insumos não iam para essas empresas. Eles eram desviados para a fabricação de cocaína e crack. Essas drogas abasteciam uma rede criminosa de tráfico internacional comandada por facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC).

Renato tem mais de 7 milhões de seguidores no Instagram e é sócio com Roseli da Anidrol Produtos para Laboratórios Ltda. , empresa para venda de produtos químicos em Diadema, Grande São Paulo. Segundo a PF, eles teriam conhecimento e participavam diretamente do esquema criminoso. A investigação informa ter provas do envolvimento deles a partir de interceptações telefônicas feitas com autorização judicial de conversas e trocas de mensagens, segundo o G1.

Fabio é apontado pela investigação como responsável por esquematizar o repasse dos insumos entre a Anidrol e o tráfico. Segundo a PF, ele criou um falso e-mail em nome de um suposto funcionário de uma multinacional para conseguir dar seguimento ao plano criminoso. Antes já tinha sido investigado pela polícia por tráfico de drogas em Minas Gerais e no Paraná.

De acordo com a Polícia Federal, parte do material adquirido legalmente pela Anidrol foi desviada para a produção de entorpecentes entre 2014 e 2021. Para justificar a saída dos produtos, a empresa emitiu cerca de 60 notas fiscais falsas e fez depósitos em nome de “laranjas”, usando irregularmente os nomes da AstraZeneca, LBS Laborasa e outra empresa.

A investigação apontou que em seis anos foram desviadas algo em torno de 12 toneladas de acetona, ácido clorídrico, cloridrato de lidocaína, éter etílico, fenacetina e manitol, substâncias usadas por criminosos para transformar a pasta base de cocaína em pó e em pedras de crack.

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A paranoia de Carlos Bolsonaro com seu celular apreendido pela PF

Descrito como “paranoico” e com “mania de perseguição” por ex-membros do governo Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro tomava todo tipo de cuidado com seu celular. Nesta segunda-feira, seu aparelho foi apreendido na operação policial que investiga o monitoramento ilegal de pessoas feito pela Abin.

Antigos integrantes do Palácio do Planalto relataram que o filho do ex-presidente trocava com frequência o número de telefone e o aparelho que usa. Segundo ex-ministros, as trocas chegaram a acontecer a cada três meses em períodos de maior preocupação do vereador. Pessoas próximas aa Carlos também relataram que ele usava mais de um chip nos seus aparelhos, mudando de número, a depender do interlocutor, diz Bela Megale, O Globo.

O filho de Jair Bolsonaro também fazia questão de não colocar sua foto no perfil do WhatsApp, e raramente respondia e encaminhava mensagens para integrantes do governo. O filho do ex-presidente deixava claro que ele tinha pânico de ser alvo de “espionagens” ou de uma operação da Polícia Federal, mesmo quando o pai ainda era o chefe do Executivo.

Em conversas com membros do governo, o próprio Carlos dizia que não gostava de encaminhar mensagens por WhatsApp, como o pai, e preferia falar no X (antigo Twitter), pois atingia muitas pessoas simultaneamente.

Carlos também era reservado e limitava seus contatos a poucos integrantes do governo.

 

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PF: Ramagem imprimiu relatório com informações sigilosas sobre inquéritos eleitorais no Rio

Policiais federais entregaram uma representação ao ministro do STF Alexandre de Moraes.

A Polícia Federal (PF) apontou que Alexandre Ramagem imprimiu uma lista contendo informações dos inquéritos eleitorais da corporação no estado do Rio de Janeiro quando ocupava o cargo de diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Policiais federais entregaram uma representação ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. A operação “Vigilância Aproximada” apura um esquema de espionagem ilegal feita pela Abin durante o governo Jair Bolsonaro (PL).

De acordo com informações publicadas nesta segunda-feira (29) pelo jornal O Globo, a lista teria sido produzida em fevereiro de 2020 e apresentava o número do inquérito, o nome do investigado, o cargo político e o partido. O uso do sistema First Mile teve um pico durante as eleições, diz o 247.

O ministro do STF Alexandre de Moraes confirmou “a descoberta de impressão, pelo Dr. Ramagem, em fevereiro de 2020, de informações de inquéritos eleitorais em curso na Polícia Federal que listavam políticos do Rio de Janeiro”. “A impressão de relatório de informações com referências à data 28/02/2020, a priori sigilosas, relacionadas à Inquéritos Policiais Federais da DELINST, unidade responsável pelas apurações eleitorais, da Superintendência Regional da Polícia Federal no ano de 2020”, acrescentou ele, que determinou busca e apreensão em endereços do vereador Carlos Bolsonaro.

Segundo as investigações, a Abin tentou favorecer familiares de Bolsonaro. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes também lembrou que a Abin foi usada na gestão bolsonarista para monitorar o caso Marielle Franco, ex-vereadora do Rio de Janeiro assassinada em 2018. Cerca de 30 mil pessoas foram monitoradas, informou o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, no começo do mês.

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BRICS vai superar G7 na economia global em 2023, diz presidente do principal banco russo

A participação dos países do BRICS no ano passado aumentou de 31% para 35% do produto interno bruto (PIB) mundial, em paridade de poder de compra, superando a participação do G7, conforme afirmou Elvira Nabiullina, presidente do Banco da Rússia, em uma entrevista à Sputnik nesta segunda-feira (29).

“As economias dos países do BRICS estão se desenvolvendo rapidamente. Com a inclusão de novos membros, a participação do BRICS na economia global aumentou de 31% para 35%, considerando os resultados de 2023 em paridade de poder de compra. Esses números são ligeiramente superiores à participação dos países do G7. Portanto, o papel do BRICS no mundo é significativo”, enfatizou.

O BRICS é composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Durante a cúpula de Joanesburgo, em agosto de 2023, foi decidido convidar Argentina, Egito, Irã, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita para a organização. Posteriormente, a Argentina se recusou a participar da união. A adesão plena dos novos países à organização começou em 1º de janeiro de 2024.

Após a adesão de todos os novos membros, o número de Estados-membros do BRICS se expandirá para dez, com uma população de 3,6 bilhões de pessoas, representando quase metade do total global. Esses países respondem por mais de 40% da produção mundial de petróleo e cerca de um quarto das exportações mundiais de bens.

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Mundo

Palestina: a falsa equivalência entre o colonizado e o colonizador

Concentrar-se na denúncia da violência palestina é o mesmo que pedir a eles que aceitem passivamente o seu destino: morrer em silêncio e não resistir.

“Sob qual padrão de moralidade a violência utilizada por um escravo para romper suas correntes pode ser considerada o mesmo que a violência de um senhor de escravos?” – Walter Rodney

Na sequência dos ataques do Hamas a Israel, ocorridos no dia 7 de outubro, que causaram mais de 1,2 mil mortes, houve uma enxurrada de injunções da mídia ocidental, políticos e especialistas, insistindo para que qualquer pessoa que desejasse expressar uma opinião sobre os acontecimentos e os consequentes crimes de guerra e genocídio israelenses em Gaza, denunciasse primeiro o Hamas antes de expressar qualquer outra opinião. Não fazer isso explicitamente, ou qualquer tentativa de interpretar os eventos em seu contexto histórico ou enfatizar as causas fundamentais do conflito eram interpretadas como condescendência com as ações do Hamas (que o interlocutor era um simpatizante do Hamas) e relacionadas com antissemitismo.

Era como se a história do que chamamos conflito palestino-israelense tivesse começado no dia 7 de outubro e não com a Declaração Balfour de 1917, em que o governo colonial britânico anunciou o seu apoio ao estabelecimento de um “lar nacional para o povo judeu” na Palestina. Esse anúncio culminou naquilo a que os palestinos e os árabes chamam de Nakba (a Catástrofe), em 1948, em simultâneo com a fundação do Estado de Israel por meio da limpeza étnica generalizada, dos massacres e do deslocamento de centenas de milhares de palestinos. Mais guerras se seguiram, mais violência, mais assassinatos e mais ocupação de novos territórios. Isso levou a ainda mais deslocamentos, mais assentamentos ilegais e mais bombardeios, que custaram a vida de centenas de milhares de palestinos e forçaram milhões a viver como refugiados. Não me deterei nesta história, pois inúmeras fontes já o fizeram brilhantemente. Em vez disso, o meu objetivo aqui é estabelecer alguns paralelos com a história da luta anticolonial argelina para mostrar a vacuidade, a miopia e a injustiça de denunciar a violência do oprimido/colonizado e do opressor/colonizador em termos equivalentes. Os dilemas morais, os debates sobre a violência e os desacordos em torno da forma como as pessoas oprimidas ou colonizadas devem resistir, e o que podem ou não fazer, não são novos.

Quando penso na Palestina, não posso deixar de estabelecer paralelos com o caso do meu país, a Argélia, durante a era colonial (1830-1962). Não é por acaso que as classes populares e trabalhadoras argelinas apoiem fortemente a causa palestina, uma vez que ambos os países vivenciaram/vivenciam um colonialismo violento e racista. Para compreender o porquê, vale a pena visitar os escritos e as análises de Frantz Fanon sobre aquilo que chamou de “violência revolucionária” na sua obra-prima Os condenados da Terra, que escreveu com base nas suas experiências na Argélia e na África Ocidental nos anos 1950 e no início dos anos 1960. Os condenados da Terra é um texto canônico sobre a luta anticolonial e serviu como uma espécie de bíblia para as lutas de libertação da Argélia à Guiné-Bissau, África do Sul, Palestina e o movimento de libertação negra nos EUA.

Fanon descreveu minuciosamente os mecanismos de violência postos em prática pelo colonialismo para subjugar os povos oprimidos. “O colonialismo não é uma máquina de pensar, nem um corpo dotado de faculdades de raciocínio. É a violência no seu estado natural e só cederá quando confrontado com uma violência maior”, escreveu. Segundo Fanon, o mundo colonial é um mundo maniqueísta que, no limite, “desumaniza o nativo, ou, para falar claramente, transforma-o em animal”. Para ele, “a libertação nacional, o renascimento nacional, a restituição da nacionalidade ao povo, a comunidade: quaisquer que sejam os títulos utilizados ou as novas fórmulas introduzidas, a descolonização é sempre um fenômeno violento”.

A luta de independência da Argélia contra os colonizadores franceses foi uma das revoluções anti-imperialistas mais inspiradoras do século XX. Parte da onda de descolonização iniciada após a Segunda Guerra Mundial (na Índia, na China, em Cuba, no Vietnã e em muitos países africanos), a Conferência de Bandung declarou que estes movimentos faziam parte do “despertar do Sul” – um Sul que esteve sujeito durante décadas (em alguns casos, mais de um século) à dominação imperialista.

Após a declaração de guerra na Argélia em 1 de novembro de 1954, atrocidades impiedosas foram cometidas por ambos os lados (1,5 milhão de mortes, com milhões de deslocados no lado argelino, e dezenas de milhares de mortos no lado francês). A liderança da Frente de Libertação Nacional (FLN) tinha uma avaliação realista do equilíbrio de poder militar, que pendia fortemente a favor da França, que na época possuía o quarto maior exército do mundo. A estratégia da FLN foi inspirada no ditado do líder nacionalista vietnamita Ho Chi Minh: “Para cada nove de nós mortos, mataremos um; no final, vocês irão embora”. A FLN buscava criar um clima de violência e insegurança que acabaria por se tornar intolerável para os franceses, internacionalizar o conflito e chamar a atenção do mundo para a luta da Argélia.

Seguindo essa lógica, Abane Ramdane e Larbi Ben M’hidi decidiram levar a guerra de guerrilha para as áreas urbanas e lançar a Batalha de Argel em setembro de 1956. Talvez não haja melhor maneira de apreciar esse momento chave e dramático de sacrifício do que através do clássico filme realista de 1966 de Gillo Pontecorvo: “A Batalha de Argel”. No filme, há um momento marcante em que o coronel Mathieu, uma discreta referência ao general Massu na vida real, conduz o líder da FLN capturado, Larbi Ben M’Hidi, a uma coletiva de imprensa na qual um jornalista questiona a moralidade de esconder bombas em cestas de compras de mulheres. “Você não acha um pouco covarde usar cestas e bolsas de mulheres para transportar dispositivos explosivos que matam tantas pessoas?” Pergunta o repórter. Ben M’hidi responde: “E não lhe parece ainda mais covarde lançar bombas napalm em vilarejos indefesos, de modo que há mil vezes mais vítimas inocentes? Dê-nos seus bombardeiros, e você pode ficar com nossas cestas.”

Através de uma cobertura favorável generalizada da revolução argelina na imprensa afro-americana, muitas exibições locais de A Batalha de Argel, assim como os escritos de Fanon, a Argélia passou a ocupar um lugar seminal na iconografia, retórica e ideologia dos principais ramos do movimento afro-americano pelos direitos civis, que passou a ver sua luta associada às lutas das nações africanas por independência.

Depois de visitar a Argélia em 1964 e Casbah, local da Batalha de Argel contra os franceses em 1956-1957, Malcolm X declarou:

“As mesmas condições que prevaleceram na Argélia e forçaram o povo, o nobre povo da Argélia, a recorrer eventualmente a táticas de tipo terrorista que eram necessárias para ‘tirar o peso das costas’; essas mesmas condições prevalecem hoje na América em cada comunidade negra.”

Alguns meses depois, em 1965, ele disse:

“Eu não sou a favor da violência. Se pudermos obter o reconhecimento e o respeito de nosso povo por meios pacíficos, ótimo. Todos gostariam de alcançar seus objetivos pacificamente. Mas eu também sou um realista. As únicas pessoas neste país que são instadas a serem não violentas são as pessoas negras.”

E ao saber do assassinato de Martin Luther King, Jr. em 1968, o líder do Partido dos Panteras Negras, Eldridge Cleaver, proclamou:

“A guerra começou. A fase violenta da luta pela libertação negra está aqui, e se espalhará. A partir desse tiro, a partir desse sangue. A América será pintada de vermelho. Corpos encherão as ruas e as cenas lembrarão os relatos nojentos, aterrorizantes e oníricos vindos da Argélia durante o auge da violência geral pouco antes do colapso final do regime colonial francês.”

Também devemos desafiar a narrativa de culpabilização da vítima que se fixa nos palestinos como vítimas imperfeitas, o que, nas palavras da pesquisadora americano-palestina Noura Erakat, equivale a uma “absolvição e cumplicidade com a dominação colonial de Israel”. Ao destacar a violência palestina, nossa mensagem para eles “não é que eles devem resistir de maneira mais pacífica, mas que não podem resistir à ocupação e agressão israelenses de forma alguma”.

Denunciar e destacar a violência dos oprimidos e colonizados não é apenas imoral, mas racista. Os povos colonizados têm o direito de resistir com quaisquer meios necessários, especialmente quando todas as vias políticas e pacíficas foram bloqueadas ou obstruídas. Nos últimos 75 anos, todas as tentativas palestinas de negociar um acordo de paz foram rejeitadas e minadas. Todo meio não violento foi bloqueado, incluindo a “Marcha do Retorno” promovida pelo Hamas em 2018 (brutalmente reprimida, com mais de 200 mortos e dezenas de milhares feridos e mutilados), assim como a campanha internacional de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), que foi tornada ilegal em vários países ocidentais sob a pressão do lobby sionista.

Em meio a uma ocupação colonial bárbara e condições de apartheid, seria apropriado que qualquer discussão sobre justiça e a responsabilidade pela violência contra civis começasse pelo opressor. Como a racionalidade de revolta e rebelião de Fanon coloca, os oprimidos se revoltam simplesmente porque não conseguem respirar.

Optar por focar na denúncia da violência palestina é semelhante a pedir a eles que aceitem passivamente seu destino – morrer em silêncio e não resistir. Em vez disso, vamos nos concentrar em um cessar-fogo imediato, interromper o desenrolar da segunda Nakba e encerrar o cerco e a ocupação, mostrando nossa solidariedade aos palestinos em sua luta por liberdade, justiça e autodeterminação.

As vidas palestinas importam!

(*) Hamza Hamouchene é um pesquisador e ativista argelino que vive em Londres. Atualmente, é coordenador do programa do Norte da África no Transnational Institute (TNI).

*Opera Mundi

 

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PF apreende computador da Abin com Carlos Bolsonaro

Vereador foi alvo de operação que mira em possíveis destinatários de informações coletadas ilegalmente pela Abin.

A Polícia Federal apreendeu na manhã desta segunda-feira (29) um computador da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) com o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), informa a jornalista Daniela Lima em seu blog no portal g1. O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi alvo de operação de busca e apreensão, com mira em possíveis destinatários de informações coletadas ilegalmente pela Abin.

Um segundo computador da agência foi apreendido na casa de um dos assessores de Carlos Bolsonaro que é casado com uma funcionária da Abin. Formalmente, a Polícia Federal não confirma e nem comenta a apreensão

O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, é quem assina a autorização para os mandados. A Polícia Federal suspeita que, sob o mandato de Jair Bolsonaro, a Abin atuou como um braço de coleta de informações ilegais, sem autorização judicial, e também como fonte de informações falsas, depois disseminadas por perfis de extrema direita para difamar instituições e autoridades.

Foram cumpridos nove mandados de busca e apreensão:

  • Rio de Janeiro (RJ): 5
  • Angra dos Reis (RJ): 1
  • Brasília (DF): 1
  • Formosa (GO): 1
  • Salvador (BA): 1

A busca em Angra dos Reis ocorreu onde Jair Bolsonaro realizou uma live nas redes sociais no domingo (28). O ex-presidente e os filhos estavam no local durante esta manhã, e deixaram a casa de barco.

Carlos Bolsonaro é vereador desde 2001 e está em seu sexto mandato consecutivo na Câmara Municipal do Rio. Ele foi apontado pelo ex-braço-direito de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, como chefe do chamado gabinete do ódio, uma estrutura paralela montada no Palácio do Planalto para atacar adversários e instituições – como o sistema eleitoral brasileiro.

O filho de Jair Bolsonaro não se pronunciou sobre a operação até a última atualização desta reportagem.