Na história do Brasil esses dois mundos que deveriam manter independência, misturam-se como gelo e whisky nos copos dos salões da decadente elite quatrocentona, a ponto de não se saber o que é quepe e o que é cartola atochada na cabeça dessa gente, tal o espírito oligárquico que carrega em sua alma.
O bilionário dos bilionários quer fazer papel do general dos generais e o general quer fazer papel do empresário dos empresários. No final, trocam figurinhas e interesses comuns como o império e a aristocracia dos barões do café.
É um Brasil paralelo que domina as instituições que retratam bem essas duas figuras que representam cada vez mais o Brasil fazendão. Aquela carroça falida da velha república.
Sente-se de longe o cheiro de mofo nas palavras cheias de bolor tanto de um quanto de outro. Os dois, dependentes da geração de riqueza do trabalhador brasileiro, não conseguem disfarçar o preconceito com a maioria do povo que é pobre e explorada por uma elite inculta, submissa às grandes potências internacionais, num claro comportamento antinacional, como é da tradição das classes dominantes.
Lemann, do alto de sua montanha de dinheiro, acha-se mesmo um escolhido de Deus diante de um mar de iniquidade provocado por uma das maiores concentrações de renda do planeta, um gafanhoto típico que devora lavouras deixando à míngua quem as plantou para engordar o bucho e ainda arrotar sabedoria sobre o país.
Villas Bôas, o general estatutário, uma espécie de Almeidinha de espadinha medalhonado, como os militares brasileiros da alta patente, é um misto de cafonice com arrogância que tem como princípio um preconceito social que salta aos olhos e espirra pelos poros.
Essa gente costuma agradar, e muito, os frequentadores de clubinhos burgueses, assim como se vê com juízes, desembargadores que se colocam como a grande autoridade da comarca, num desprezo pela própria dinâmica social e cultural da nação.
A entrevista de Jorge Paulo Lemann pode ser assinada por Villas Bôas e a deste por Lemann. Ninguém vai notar a diferença. Os dois defendem um sistema econômico fracassado por inúmeras vezes no Brasil como os próprios militares que deixaram o poder para a hiperinflação estourar no colo de Sarney que seguiu os mesmos passos dos ditadores na economia, assim como o neoliberalismo de Collor, com a caça à poupança, com a abertura sem regras para a importação, assim como Guedes, como FHC, como tantos outros idiotas defendem como fundamentalistas do consumo que são, sem se preocuparem com a dinâmica social do país e os custos que recaem sobre o povo de forma covarde, sempre.
Então, é natural que eles tenham ódio do Lula, da Dilma e do PT, afinal de contas, além de terem dado aumento real de salário durante 13 anos, aumentando também o poder de compra e de autonomia dos trabalhadores, somado ao pleno emprego em que naturalmente a mão de obra se valoriza ainda mais, fizeram o maior e mais diverso conjunto de programas sociais para atenuar a desigualdade histórica no país, reconhecido e premiado mundialmente, entre eles, o Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, Luz para Todos e etc.
Ninguém esperaria desses dois sanguessugas da nação, Lemann e Villas Bôas, outro sentimento senão o de ódio. Afinal, cidadania para eles é uma percepção reduzida ao salário de fome, ao preconceito, ao racismo e à discriminação.
A burguesia militar e civil sempre falou a mesma língua porque eles sempre se acharam seres superiores, pois nunca estiveram com o povo, é só olhar a história do Brasil. Isso não tem nada a ver com capitalismo, comunismo e sim com racismo, com o DNA escravocrata que impera nesse ambiente das classes dominantes, totalmente contaminado pelo Brasil colônia.
Bolsonaro é a figura perfeita do ornitorrinco parido por essa gente. Um militar indisciplinado, expulso das Forças Armadas que se meteu a deputado do baixo clero, condecorando milicianos e assassinos, elogiando torturadores e ditadores e defendendo a economia de mercado, sendo que ele e os filhos sempre viveram das tetas gordas do Estado. E não tem a mínima ideia do que é trabalhar no setor privado como empregado e nem como patrão.
Guedes, o rei do lero lero, levou uma espinafrada de Élio Gaspari porque seu trololó econômico já irritou os “donos da terra”, porque novamente os neoliberais, como foi na era militar, na de Sarney, na de Collor, na de FHC e, mais à frente, na de Temer, jogaram a economia brasileira no pântano.
Por que agora com Guedes daria certo? Se exporta carne para a China comunista para salvar a economia, o povo brasileiro fica sem a carne, em nome de quê? Em nome da mais absoluta irresponsabilidade não só com o país, mas com o povo e, sobretudo com a própria dinâmica econômica do mercado interno.
Villas Bôas e Jorge Lemann, que não têm explicação para mais esse fracasso dos neoliberais, voltam com a xaropada anticorrupção, xaropada que pariu indiscutivelmente o presidente mais corrupto da história. Um picareta que passou a vida no baixo clero da Câmara fazendo negócios de troco miúdo com a escória da sociedade. Um sujeito que se mostra sem a menor responsabilidade com o desastre econômico que vive o país, no final do seu primeiro ano de governo.
O país está atolado em um pântano de interesses mesquinhos de instrução neoliberal que naufraga a olhos vistos depois de patinar no caos herdado de Temer.
Trocando em miúdos, Lemann e Villas Bôas são personagens em destaque de uma tragédia sem fim num país que tem, com certeza, a elite mais provinciana, xucra, bronca e servil das grandes potências do planeta.
Como eles não odiariam Lula, Dilma e o PT?
*Carlos Henrique Machado Freitas