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Pastores vigaristas de Trump chegam à Brasília

O pastor americano, Ralph Drollinger, líder dessa seita de vigaristas, faz Olavo de Carvalho parecer um trombadinha. O Cristo dele é feito de uma massa de modelar e aí o pastor define o que é ou não pecado. É das coisas mais vigaristas que surgiram no mundo nos últimos anos que, aliás, representa bem o que é a chamada nova extrema direita que nada mais é do que uma ressignificação do vigarista mais cínico ou do picareta mais imoral. Não importa, o que importa é que esse sujeito representa bem um tipo de religioso que atende aos fieis tão vagabundos quanto ele, assim como é o caso de Olavão e seus seguidores que já chegam em seu templo convertidos em busca das desculpas mais charlatães para reproduzi-las em suas desculpas toscas por apoiar racistas, milicianos, torturadores e toda a escória de uma sociedade. E Olavão não se faz de rogado, chuta pra onde o seu nariz aponta.

Esse pastor americano que chega à Brasília para se unir à milícia de Bolsonaro faz Olavão parecer um boboca, tal o cinismo do farsante.

A matéria que segue é do El País que, aliás, cumpre um papel extraordinário de revelar as “transnacionais da fé”, um negócio da China que tem feito gente com zero escrúpulo como Malafaia, Edir Macedo e outros que se proclamam pastores e ficam milionários da noite para o dia.

“Esse estudo não é sobre se Deus aceita ou não uma guerra. Ele aceita”, anuncia o pastor americano Ralph Drollinger, em um dos seus estudos bíblicos semanais, com uma voz emotiva porém pausada, calculada para que os visitantes de seu site acompanhem o raciocínio. Em seguida, explica que a frase bíblica “Bem-aventurados são os que promovem a paz porque serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9) diz respeito apenas a “como os fiéis devem conduzir suas vidas pessoais”. Ou seja: não vale para os governos, que podem, sim, ir à guerra.

Publicado em maio de 2018, aquele “estudo bíblico” tinha razão de ser, segundo o próprio pastor: ajudar os membros do Governo americano a refletir sobre “a ameaça de guerra com a Síria, o Irã e a Coreia do Norte” —movimentos iniciados pelo presidente americano Donald Trump. E convencê-los de que ir à guerra é abençoado pela própria Bíblia. Dias depois, Drollinger seria ainda mais explícito na sua pregação, ao pedir que “você, como servidor público, ajude a reduzir a tendência antibíblica secular em direção ao pacifismo e não intervencionismo! Isso vai levar a um crescente caos global!”.

Não foi a primeira vez nem seria a última que o fundador do ministério evangélico Capitol Ministries encontraria na Bíblia uma justificativa para as ações mais radicais do governo Trump. Afinal, o objetivo da igreja fundada por Drollinger é basicamente “converter” políticos e servidores públicos a uma visão cristã evangélica da política que se casa perfeitamente com a visão da ultradireita americana. “Sem essa orientação, é bem mais difícil chegar a políticas públicas que satisfaçam a Deus e sejam benéficas ao progresso da nação”, resume Drollinger em um dos estudos em seu site.

Enquanto o presidente americano nega os acordos sobre o aquecimento global —e questiona abertamente se ele de fato existe—, Drollinger rechaça em outro estudo bíblico que o homem possa impactar o meio ambiente. “Todos devem ficar seguros sobre a habilidade e vontade d’Ele de sustentar o ecossistema do nosso mundo”, diz, concluindo, com voz exaltada: “Que verdades gloriosas Deus nos deu! São um tapa na cara dos teóricos de moda que tentam nos assustar com o aquecimento global”.

E se alguém questiona se a maior promessa de Trump —construir um muro na fronteira com o México para evitar a entrada de imigrantes e refugiados— pode conviver com o princípio cristão da compaixão, ele tem a resposta pronta: “Compreende-se do Gênesis 11 que as nações, pelos desígnios de Deus, devem ter diferentes línguas, culturas, e fronteiras”, raciocina. “As leis imigratórias de cada nação devem ser baseadas na Bíblia e estritamente aplicadas— com a absoluta confiança e a garantia de que Deus aprova tais ações.” Quem garante é o pastor.

A Capitol Ministries —nome que significa “Ministério do Capitólio”, símbolo do Congresso americano— foi fundada pelo ex-jogador de basquete Ralph Drollinger na Califórnia, em 1996, para “criar discípulos de Jesus Cristo na arena política pelo mundo todo”. A ideia do pastor era levar para a política seu trabalho anterior, focado em evangelizar atletas.

Até o ano 2010, seu público eram deputados estaduais; naquele ano, o primeiro ciclo de estudos foi fundado em Washington, no Congresso americano. Mas foi em 2017 que Drollinger deu seu salto para o primeiro plano da política mundial, quando fundou o primeiro grupo de estudos dedicado apenas a membros do Governo de Donald Trump. O encontro semanal, em um local não revelado, reúne dez membros do alto escalão do Governo, incluindo o vice-presidente, Mike Pence, e o secretário de Estado, Mike Pompeo, que dirige a política externa. O ex-diretor da Agência de Proteção Ambiental Scott Pruitt, que articulou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, sobre aquecimento global, e já questionou o efeito de emissões de carbono sobre o clima, também chegou a participar.

Muito além de um simples falatório, as pregações de Drollinger têm efeito prático em um Governo que mais de uma vez reconheceu ter sido eleito graças ao voto evangélico. Em junho do ano passado, um de seus sermões foi usado pelo ex-procurador-geral Jeff Sessions para apaziguar os corações dos eleitores quanto à detenção de milhares de crianças imigrantes em péssimas condições na fronteira com o México. “Eu citaria a vocês o apóstolo Paulo e seu comando claro e sábio em Romanos 13, para obedecer às leis do Governo porque Deus ordenou o Governo para seus desígnios”, disse Sessions, invocando a Bíblia, e não a legislação americana, como justificativa. Enquanto a imprensa americana reagia chocada, Drollinger fez questão de expor suas digitais por trás da declaração.

“Eu tive a distinta honra de ensinar a ele sobre esse assunto e muitos outros”, disse. “Não há nada mais animador, quando você é um professor da Bíblia, do que ver um dos caras com quem você está trabalhando articulando algumas coisa que você ensinou.” A frase, de fato, é uma repetição do manual básico de Drollinger, e Sessions, quando estava no Governo, realmente frequentava seus estudos bíblicos.

Separar pais dos seus filhos seria aprovado pela palavra de Deus, diz o pastor. “Quando alguém viola a lei de um país, deve antecipar que uma das consequências do seu comportamento ilegal será a separação dos seus filhos. É esse o caso de ladrões ou assassinos que são presos”, justifica.
Em busca de Bolsonaro, Capitol chega ao Brasil

Financiada pelo vice-presidente Mike Pence e pelo secretário de Estado Mike Pompeo, segundo afirmou o próprio Drollinger em seu site, a Capitol Ministries também se vale da influência do Governo americano para cumprir sua missão, entre aspas, divina: dominar o mundo. Desde o ano passado, abriu capítulos em cinco países latino-americanos —México, Honduras, Paraguai, Costa Rica e Uruguai—, anunciou que abrirá em outros dois —Nicarágua e Panamá— e acaba de aportar no Brasil, com lançamento oficial programado para a segunda quinzena de agosto no Senado Federal, “sem muita badalação, voltado apenas para autoridades” e “com a presença de Drollinger e sua esposa”, como explicou à Pública o pastor da Igreja Batista Vida Nova, Raul José Ferreira Jr., que será o responsável por conduzir os estudos bíblicos no Senado, na Câmara.

Ele diz ainda que, “se Deus permitir”, vai conduzir também estudos bíblicos na Casa Civil junto ao presidente Jair Bolsonaro e seus ministros, traduzindo as palavras do pastor americano para o presidente brasileiro. “Nós estamos realmente trabalhando firme para que possa haver ao menos um encontro do pastor Drollinger com o presidente Bolsonaro agora em agosto, para que a partir daí a gente possa desenvolver um trabalho. Mas, mesmo que o presidente não esteja entre eles, nós vamos tentar construir um trabalho dentro da Casa Civil, junto dos ministros diretamente ligados ao palácio”, diz.

O objetivo dos estudos bíblicos, que são traduzidos para o espanhol e em breve para o português, é disseminar a visão de Drollinger sobre o cristianismo aplicado à política. “Nossa ideia é chegar a nível de Presidência da República e ministros, primeiro escalão. A gente tem um slogan que é ‘first the firsts’, ou seja, primeiro os primeiros. Através dessas pessoas com relevância a gente pode mudar o destino da nossa nação”, diz o pastor Ferreira Jr., que, indicado pelo diretor regional no Brasil, pastor Giovaldo de Freitas, passou por uma semana de treinamento em Seattle com Ralph Drollinger e sua equipe.

As aspirações da Capitol Ministries no Brasil são ambiciosas, embora o pastor Ferreira Jr. chame de “trabalho de formiguinha”: conduzir, a portas fechadas nos gabinetes, reuniões bíblicas individuais com parlamentares, especialmente os não convertidos, além de reuniões coletivas semanais —e ainda garantir que cada parlamentar do Congresso Nacional receba os estudos impressos, por e-mail e por mensagem no celular. “Nosso objetivo é reconstruir a nação a partir de valores cristãos que são forjados através do estudo da palavra”, define o pastor.

Para tanto, ele diz que o ministério de Drollinger já conta com o apoio de alguns parlamentares que são membros atuantes da Frente Parlamentar Evangélica, como o senador e pastor Zequinha Marinho (PSC-PA), o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) e o deputado e também pastor Roberto de Lucena (Podemos-SP).
Giovaldo Freitas, o homem da Capitol Ministries no Brasil

As negociações para a chegada da Capitol Ministries ao Brasil começaram ainda no Governo Temer, em 2017, como explicou à Pública o diretor do ministério no Brasil e pastor da Igreja Batista de Moema, Giovaldo Freitas, em seu escritório em São Paulo. Naquele ano, Giovaldo era parte do Global Leadership Summit, uma organização evangélica americana que realiza grandes eventos de capacitação para lideranças empresariais no mundo todo. Em um dos eventos do grupo em Chicago, o pastor foi convidado pelo hoje coordenador da Capitol Ministries na América Latina, o peruano Oscar Zamora, a participar de um almoço que acertaria os detalhes da vinda do ministério para o Brasil.

Giovaldo passou então pelo treinamento de Drollinger em Washington com pessoas do mundo todo: “Tinha várias pessoas da América Latina, alguns do Caribe, da Europa, gente da Ásia… Gente da Argentina, Paraguai, Uruguai, Equador, Colômbia, Bermudas, Bahamas, Guatemala, Honduras, Costa Rica, México, Holanda, Romênia, Rússia…”, lembra. E acrescenta: “Foi muito interessante porque de repente eu me vejo ali conversando com um senador americano superempolgado porque estava vindo para o Brasil. Nessa reunião tinha oito senadores e dois deputados [americanos]”. O pastor não quis revelar os nomes dos políticos americanos presentes, mas disse que também houve, na ocasião, um painel com a presença de três secretários de Trump: a secretária de Educação, Betsy DeVos, o secretário de Energia, Rick Perry. e o da Agricultura, Sonny Perdue.

Segundo ele, os laços religiosos têm dado frutos políticos: “Inclusive, esse secretário de Energia tem mantido conversa com nosso ministro de Minas e Energia exatamente por causa da chegada da Capitol Ministries”, revela.

Desde então, o pastor descreve que várias negociações aconteceram no Congresso brasileiro, além de reuniões com embaixadores do Itamaraty e com o chefe de gabinete de Temer, em maio de 2018, “para decidir algumas coisas” sobre o lançamento no Brasil, segundo Giovaldo. Questionado pela reportagem, ele não quis entrar em detalhes. A Pública encontrou registros de uma reunião com o então ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Ronaldo Fonseca, em julho do ano passado, na qual estavam Giovaldo e outro ex-membro da Capitol Ministries, o pastor Evandro Beserra.

Embora diga que a intenção do ministério não é “levantar bandeiras”, o pastor admite que existe uma aproximação natural com os partidos mais à direita. O novo Governo é, para ele, o cenário ideal para a chegada: “Na primeira semana de abril, nos reunimos com o Onyx Lorenzoni [ministro-chefe da Casa Civil], que foi muito receptivo, evangélico do Rio Grande do Sul, foi um tempo muito gostoso. O presidente Bolsonaro estava em Israel, então não pudemos ter contato, mas fomos muito bem recebidos”, comentou.

Segundo a professora de direito e diretora do Centro Jurídico sobre Gênero e Sexualidade na Universidade de Columbia, Katherine Franke, a exportação de missões fundamentalistas dos EUA para a América Latina, com a bênção do Governo federal, viola os princípios de separação de Estado e Igreja determinada pela Constituição dos Estados Unidos. “O Governo está promovendo a religião como um projeto oficial do Governo e isso claramente viola uma das cláusulas. Mais ainda, o Governo está promovendo uma visão particular da religião, sem fazê-lo imparcialmente. E esse é um segundo tipo de violação ”, disse a especialista à coalizão de veículos que faz parte do projeto “Transnacionais da Fé”, que publica esta reportagem.

Batistas à frente

Para Christina Vital da Cunha, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião, alguns elementos se destacam nessa chegada do ministério de Drollinger ao Brasil: um deles seria o novo protagonismo político da Igreja Batista, antes vista como mais progressista e também mais afastada da política —ministra Damares Alves é pastora batista, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, também, além de outros integrantes do Governo. É o caso da Igreja Batista Vida Nova, de Raul José Ferreira Jr., que liderará os estudos dentro do governo.

“A gente pode observar um elemento diferente do que vinha acontecendo no Brasil desde então, que é uma afinação orgânica entre Estados Unidos e outros países da América Latina a partir desse elemento religioso e que tem na política institucional um lugar importante de atuação. Se vê um alinhamento conservador no Brasil, na América Latina e em outros países no mundo, que nos países da América Latina tem nesses religiosos evangélicos e católicos seus principais atores”, aponta. E chama atenção para a legitimação de um discurso à direita por meio da Bíblia, algo que já tem sido feito em certa medida no Brasil desde a campanha de Bolsonaro. “Outra coisa a se observar é se haverá disputas de poder com instituições já estabelecidas, como a Igreja Universal e a Assembleia de Deus.”

À Pública, o pastor Giovaldo adianta que existe distinção entre o trabalho da Capitol Ministries e o da Frente Parlamentar Evangélica: “São coisas diferentes. Nosso objetivo lá dentro não são os evangélicos. Os estudos bíblicos são pra quem não tem uma relação com a igreja, com Deus. É de evangelização, caminhar junto, orar. Aí, se porventura alguns reconhecerem Cristo como seu Senhor e salvador, eles poderão vir a fazer parte da FPE [Frente Parlamentar Evangélica]”, diz, apesar de reconhecer que a parceria com parlamentares evangélicos —como os citados pelo pastor Ferreira Jr.— é fundamental e que os primeiros estudos bíblicos serão conduzidos no gabinete do senador Zequinha Marinho e no do deputado Silas Câmara (PRB-AM), pastor da Assembleia de Deus e presidente da Frente Parlamentar Evangélica.
Na América Latina

Drollinger nega que sua organização faça lobby, reconhecendo apenas que seu objetivo é converter políticos para Cristo. Mas a Capitol Ministries chegou a Honduras, país centro-americano, pelas mãos do próprio vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence. Em junho de 2018, quando o presidente hondurenho, Juan Orlando Hernández, fazia uma visita oficial a Washington, Mike Pence e o secretário de Estado, Mike Pompeo,sugeriram a ele que iniciasse um capítulo da Capitol Ministries na presidência e em seu Congresso.

“Também é bom saber que o vice-presidente Pence e o secretário de Estado Pompeo influenciaram de maneira tão efetiva o presidente Hernández para lançar o Capitol Ministries entre os membros do gabinete”, escreveu Ralph Drollinger no comunicado de inauguração dos estudos bíblicos em Honduras, em 8 de novembro de 2018.

Em 2017, Drollinger recrutou Oscar Zamora, um pastor peruano que estudou teologia no West Coast Christian College, na Califórnia. Desde então, Zamora viaja pelo continente negociando a abertura de ministérios nos parlamentos da região, mantendo um perfil discreto e evitando dar entrevistas. Os pastores, como aconteceu com Giovaldo, são recrutados no Global Leadership Summit, programa que ele lidera na América do Sul. Três dos pastores de Drollinger afirmaram à reportagem que as reuniões são financiadas com recursos americanos.

Na Costa Rica, a Capitol Ministries ficará a cargo do presidente da igreja Assembleia de Deus, Ricardo Castillo Medina. O religioso vai dirigir os estudos da Bíblia entre os membros do Congresso, “para que possam tomar decisões baseadas em uma consciência pura e limpa”, diz. Em março deste ano, Ralph Drollinger e sua esposa, Danielle, foram até o país se reunir com um grupo de congressistas em um café da manhã convocado sob o lema “Reconstruindo uma Nação” —nome do livro de sua autoria— no hotel Radisson, em um elegante bairro da capital.

“Quero dizer a vocês que o vice-presidente Mike Pence e o secretário de Estado Mike Pompeo me pediram que eu os saúde. Esses dois homens amam a Jesus Cristo com todo o seu coração e eles estão impactando, literalmente, o mundo inteiro. Eles estão tomando esses princípios e com sua personalidade os projetam”, disse Drollinger. E previu: “Se você conquista líderes políticos para Cristo, vai ter conquistas residuais para seu país; vai ter efeitos enormes, muito positivos sobre a direção que tomará a Costa Rica”.

Mas não é só de governos orgulhosamente de direita que a Capitol Ministries tem se aproximado. No último dia 19, durante as comemorações dos 40 anos da Revolução Sandinista na Nicarágua, lideradas com pompa por Daniel Ortega e sua esposa, Rosario Murillo, em meio a uma crise política que matou mais de 300 pessoas, levou mais de 500 manifestantes à cadeia e a milhares de exilados, Ralph Drollinger estava lá. Segundo uma nota à imprensa, foi o próprio Ortega quem convidou a Capitol Ministries a abrir o ministério no país. No convite, Ortega declarou: “Sabemos que, se as pessoas a quem Deus confiou o destino da nação nascerem de novo, nossos deputados legislarão de acordo com a Bíblia”. E foi assim que, diante de milhares de pessoas, Drollinger ressaltou os valores cristãos do país e agradeceu a oportunidade oferecida pelo Governo de Ortega. “Eu oro pela sua nação, oro por você, oro pelos líderes do Governo para que todos possamos refletir os atributos de Cristo todos os dias”, disse Drollinger, segundo o jornal oficial La Voz del Sandinismo.

A guerra contra a Igreja Católica liderada pelo Governo de Ortega certamente entra nessa conta. Em entrevista à Pública em julho de 2018, o escritor e ex-vice-presidente do país Sergio Ramírez disse que um dos pontos mais sensíveis à possível reeleição em 2021 era justamente este: “Ortega também tem a Igreja Católica contra ele. O governo começou a atacar igrejas católicas, como no caso do tiroteio de 15 horas na Igreja da Divina Misericórdia, em Manágua [em 13 de julho, estudantes refugiados na igreja sofreram 15 horas de tiros da polícia]. Estão atacando padres, quebrando templos católicos. Parece-me que se meter contra a Igreja Católica em um país eminentemente católico como o nosso é uma guerra perdida”.

Os estudos bíblicos no gabinete presidencial e no Congresso nicaraguense ficarão a cargo de Arsenio Herrera, pastor da maior igreja evangélica de Manágua, Hosanna Church. Herrera foi discípulo do criador da Hosanna, o americano David Spencer, a quem se atribui o feito de ter convertido mais de 500 almas por semana nos primeiros anos da igreja e que, pouco antes de sua morte, recebeu de Ortega e Rosario Murillo a cidadania nicaraguense em honra aos serviços prestados ao povo da Nicarágua.

 

Reportagem: Andrea Dip e Natália Viana (Agência Pública)

*Do El País

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Autoflagelo: Witzel pedirá à ONU punição a responsáveis por mortes no Rio

O governador do Rio, Wilson Witzel, quer que o Conselho de Segurança das Nações Unidas feche nossas fronteiras com a Colômbia, o Paraguai e a Bolívia e puna esses países para evitar a entrada de armas e drogas no Brasil. Witzel sabe que é mais fácil uma baleia jubarte aprender a cantar o Hino Nacional, em ritmo de samba e na língua do “p” do que o Conselho de Segurança tomar essa decisão. O que ele quer são holofotes.

Para tanto, parece não se importar em anunciar que deseja passar vergonha internacional na sede da ONU, em Nova York, desde que isso crie um factóide a fim de mobilizar seu eleitorado internamente. Jair Bolsonaro, com todo o direito, poderia denunciar o governador por plágio e chamá-lo de invejoso.

Witzel está certo ao dizer que o tráfico internacional de armas abastece a violência. E creio que ninguém de bom senso seja contra o aprofundamento da cooperação internacional visando a desmantelar esse comércio e diminuir a porosidade das fronteiras. Mas isso se faz, antes de mais nada, com investimento em inteligência policial e ações de integração dos setores de inteligências das policiais estaduais e federais. O ponto é que esse é um pacote silencioso que produz resultado, mas não selfies para bombar no Insta.

Ele denuncia que há um “genocídio” em curso. Nisso também está certo. No Rio, é cada vez mais difícil chegar à fase adulta sendo jovem negro e pobre. O problema é que se as Nações Unidas fossem hipoteticamente punir alguém, deveriam incluir o próprio governador, que fomenta a letalidade policial como política de combate à violência e incita as forças de segurança a aprofundarem a guerra contra sua própria gente. Ele vem concedendo um salvo-conduto retórico para que policiais atirem sem medo e até já retirou a gratificação para os agentes que matarem menos.

Dados do Instituto de Segurança Pública mostram o resultado disso: a polícia matou 1.249 pessoas, entre janeiro e agosto de 2019, o que dá cinco mortes por dia. Atirar não é mais o último recurso, mas o primeiro, abatendo criminosos em situação de conflito, mas também inocentes.

O governador disputa com milícias e tráfico o papel de quem faz mais mal ao povo, como já disse aqui, usando seu poder para decidir quem vive e quem morre, em um grande jogo eleitoral. Não há ordens diretas do comando do poder público para metralhar negros e pobres da periferia dados. Mas nem precisaria. As forças de segurança são treinadas para garantir a qualidade de vida e o patrimônio de quem vive na parte “cartão postal” da cidade, atuando na “contenção” dos mais pobres. O terrorismo de Estado não começou no início do ano (os ex-governantes também são responsáveis pela catástrofe), mas a retórica de Witzel o tirou da ilegalidade e deu a ele um lugar ao sol.

Ele reclamou de quem o critica pelo caso da menina negra Ágatha Félix, morta aos oito anos com um tiro nas costas, enquanto voltava para casa com a mãe, em uma kombi, no Complexo do Alemão. Ela não foi a primeira criança morta em meio a ações policiais desde que assumiu – e, infelizmente, não deve ser a última. Esconde-se atrás da acusação de que os únicos responsáveis são traficantes de drogas e de armas. Mas o registros de mortes apontam que a realidade é mais complexa que isso.

Em abril deste ano, militares executaram o músico Evaldo Rosa dos Santos e o catador de materiais recicláveis Luciano Macedo, em Guadalupe, Zona Norte do Rio. Evaldo foi morto quando o carro em que estava com a família indo para um chá de bebê foi cravado de balas ao ser “confundido” com outro. Já Luciano foi atingido quando tentava ajudar a família do músico que estava no veículo (e sobreviveu), morrendo 11 dias depois. Foram disparados 257 tiros de fuzil e de pistola, dos quais 83 acertaram o carro. Nove atingiram Evaldo. Até agora, não veio uma desculpa nem do governo federal, nem do estadual pela burrice.

Se Witzel for cobrar ações contra os responsáveis pela violência no Rio, no Conselho de Segurança, em Nova York, seria interessante não ficar esperando a deliberação. Vai que…

Em tempo: essa história de fechamento de fronteiras lembrou-me uma das ações da intervenção das Forças Armadas na segurança pública do Rio de Janeiro, baixada pelo nosso ex, Michel Temer. Em algumas comunidades, no início do ano passado, moradores que desejassem se deslocar para outro canto da cidade estavam sendo fotografados e tendo que esperar para verificar se estava tudo ok com seu histórico nas bases de dados da polícia. Ou seja, foram instalados “postos de fronteira” dentro de nosso próprio território.

Na época, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Sérgio Etchegoyen, afirmou: “Nenhum de nós se incomoda de ser fotografado para passar na imigração dos Estados Unidos para ir comprar enxoval do neto ou do filhos. Ou para levar os filhos ou netos para a Disney”, em registro do jornal Zero Hora. O fato dos EUA serem um outro país era apenas um detalhe.

Mas isso faz sentido. O Estado nunca garantiu cidadania aos moradores de comunidades pobres, garantindo que fossem apenas mão de obra barata. Sistematicamente, faz incursões para “pacificar” através da porrada, não sendo capaz de permanecer através da instalação de equipamentos e a execução de políticas públicas para garantir qualidade de vida aos mais pobres e perspectivas aos mais jovens.

Qual é o nome mesmo que se dá a esse tipo de personagem em uma história? Ah, sim, o inimigo.

 

 

*Do Blog do Sakamoto

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Major Olímpio estava em Assunção no “Dia D” da negociação que resultou no escândalo do “ItaipuGate”

Um romance policial diria que o personagem principal estava no local do fato quando tudo aconteceu. O mesmo pode ser dito do protagonista do “ItaipuGate” no “Dia D” da trama: no 11 de abril, a data-chave do escândalo que envolve os governos de Brasil e Paraguai, o Major Olímpio, senador pelo PSL-SP, estava em Assunção. É o que mostram os documentos obtidos pela reportagem através da Lei de Acesso à Informação.

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No citado 11 de abril, o “Dia D” de todo o “ItaipuGate”, foi realizada na capital paraguaia a reunião que definiu o novo modelo de negócio para o acordo bilateral de compra de energia entre os dois governos. Onde se definiu o que viria a se transformar em um escândalo conjunto envolvendo os dois governos e cujo potencial de danos ainda não pode ser totalmente medido.

No novo modelo de acordo bilateral que a reunião do dia 11 de abril envolvendo os dois países consolidou, foi retirada uma cláusula que proibia o Brasil de comprar energia excedente da empresa paraguaia na hidrelétrica de Itaipu por preço subsidiado para revender aqui por preço de mercado, muito mais alto e tendo lucros exorbitantes, em acordo que lesava o Paraguai e beneficiava uma empresa.

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A empresa beneficiada é a Leros, dos empresários Kléber Ferreira da Silva e Adriano Tadeu Deguirmendjian. Uma série de reportagens de autoria de Mabel Rehnfeldt, do jornal paraguaio ABC, mostrou que a dupla tinha por trás deles Alexandre Giordano, filiado ao PSL e suplente do senador Major Olímpio, do PSL-SP.

O Major Olímpio é muito próximo a Jair Bolsonaro e família. Foi presidente do PSL paulista e também coordenador da campanha presidencial. De acordo com documentos obtidos pelas reportagens do ABC, os empresários brasileiros que sairiam com vantagem no negócio se apresentavam nas negociações como representantes da família Bolsonaro. Até aqui o Major Olímpio negou qualquer proximidade com o episódio.

A presença do Major Olímpio no Paraguai no dia da reunião que selou o modelo de negócio beneficiando a empresa brasileira está citada no relatório do então embaixador do Brasil no Paraguai, Carlos Alberto Simas Magalhães, escrito em 29 de março último, quando relata a viagem marcada do senador Major Olímpio para Assunção no período de 10 a 12 de abril.
A reportagem confirmou com o Ministério das Relações Exteriores brasileiro que a ida do senador ocorreu, e forneceu a agenda nos dias 11 e 12 de abril, como está no “outro lado”, ao fim desta reportagem, sem mencionar qualquer reunião sobre Itaipu. O Itamaraty só pode confirmar a agenda oficial do senador no Paraguai.

A Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo tentou contato com o Major Olímpio através de sua assessoria no senado para saber se, além da programação oficial, teve algum encontro com participantes da reunião do dia 11 de abril em Assunção onde se definiram os rumos do acordo bilateral. Sem resposta até aqui.

O elo entre o acordo beneficiando a empresa brasileira, o PSL do Major Olímpio e a participação de seu suplente Alexandre Giordano foi revelado por Joselo Rodriguez, assessor do vice-presidente paraguaio Hugo Velásquez. Em mensagens obtidas pela reportagem do ABC Jornal, a estatal de energia do país vizinho foi pressionada pelos brasileiros que diziam representar a família presidencial brasileira. O interlocutor do lado de cá era Alexandre Giordano.

Na véspera da decisiva reunião de 11 de abril, data em que o Major Olímpio estava no Paraguai, o representante da Léros também foi ao país. No dia 9 de abril, em voo privado, o suplente de senador do PSL, Alexandre Giordano lá esteve, acompanhado de Adriano Tadeu Deguirmendijian, sócio da Léros.

CRONOLOGIA:

6 de abril de 2018: Alexandre Giordano se filia ao PSL

7 de abril de 2018: encerra o prazo de filiações para a eleição

16 de abril de 2018: Os registros da Junta Comercial de SP apontam a saída de Giordano da empresa “Enfermade”

16 de abril de 2018: No mesmo dia, o filho de Giordano, Lucca, de apenas 17 anos, aparece como único sócio

3 de outubro de 2018: os sócios do Grupo Léros abrem uma offshore no paraíso fiscal do Panamá

7 de outubro de 2018: o Major Olímpio é eleito senador por São Paulo e Alexandre Giordano fica com a suplência

28 de outubro de 2018: Jair Bolsonaro (PSL) ganha a eleição presidencial

12 de março de 2019: Jair Bolsonaro se encontra com o presidente paraguaio Mario Abdo Benitez para discutirem a revisão do “Acordo Bilateral” entre os dois países. O Brasil pressiona para que cláusula que impede a venda de energia para uma empresa privada brasileira a preço de custo seja retirada. Para essa empresa depois revender a preço de mercado no Brasil.

9 de abril de 2019: em voo privado, o suplente de senador do PSL, Alexandre Luiz Giordano chega ao Paraguai acompanhado de Adriano Tadeu Deguirmendijian, sócio da Léros e mais dois

11 de abril de 2019: Dia D: data da reunião que definiu os termos do Acordo Bilateral. O Major Olímpio estava no Paraguai.

10 de maio de 2019: exatas duas semanas antes da assinatura do Acordo Bilateral, Alexandre Luiz Giordano (PSL) se encontra na Tríplice Fronteira com Pedro Ferreira (então presidente da ANDE, a estatal de energia paraguaia) e com Joselo Rodriguez (asessor jurídico do vice-presidente Hugo Velásquez)

24 de maio de 2019: O Acordo Bilateral é assinado pelos dois presidentes

25 de junho de 2019: Nova viagem em voo fretado de Alexandre Giordano junto com Adriano Tadeu Deguirmendijan, da Léros, para encontrar os representantes paraguaios

24 de julho de 2019: Pedro Ferreira, presidente da Administração Nacional de Eletricidade (Ande, a estatal paraguaia do setor), renuncia por discordar dos termos e se recusar a assinar acordo

27 de julho de 2019: O Grupo Léros oficializa em documento proposta de compra de energia ao governo paraguaio:

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29 de julho de 2019: outras autoridades paraguaias ligadas ao “Itaipu Gate” renunciam

31 de julho de 2019: os partidos de oposição anunciam o pedido de impeachment do presidente paraguaio.

1º de agosto: para escapar do impeachment, o presidente do Paraguai anula o acordo. Contrariando o que deveria se esperar do chefe de estado brasileiro diante de decisão unilateral prejudicial ao país, Bolsonaro aceita a anulação

Reportagem da Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo publicada no último dia 15 de agosto mostrou que Giordano e os sócios da Léros, Kléber Ferreira e Adriano Tadeu Deguirmendijian realizaram movimentações societárias em épocas próximas e sempre paralelas ao calendário eleitoral.

Alexandre Giordano se desincompatibilizou da participação em uma empresa que tinha entre as atividades registradas na Receita Federal o “comércio atacadista de energia elétrica”.
A retirada do nome na sociedade ocorre em 16 de abril de 2018, dez dias depois da filiação no PSL, onde viria a ocupar o lugar em que segue, suplente de senador do Major Olímpio(PSL-SP). A filiação é feita na véspera do 7 de abril, último dia permitido no pleito que passou. No lugar de Alexandre Giordano na “Enfermade Empresa Brasileira de Bioenergia” ficou como único sócio o filho Lucca Giordano, então com 17 anos, emancipado pelo pai em registro no cartório. O endereço da empresa é o mesmo do diretório do PSL na capital paulista.

As outras peças fundamentais na engrenagem do “Itaipu Gate” são os empresários Kléber Ferreira da Silva e Adriano Tadeu Deguirmendjian, sócios do Grupo Léros, que comercializa energia. Teoricamente, seriam concorrentes do negócio do qual Alexandre Giordano se retirou e deixou o filho. Mas estão inseparavelmente unidos na empreitada paraguaia.

A reportagem de 15 de agosto revelou ainda que os sócios da Léros abriram offshore no Panamá faltando 4 dias antes do primeiro turno de 2018, quando o Major Olímpio foi eleito senador por São Paulo e carregou na primeira suplência Alexandre Giordano.

Outro lado:

Ministério das Relações Exteriores:

“Na viagem que o Senador Major Olímpio fez a Assunção nos dias 11 e 12 de abril, o parlamentar reuniu-se com o ministro da Justiça do Paraguai, Julio Javier Ríos, com quem tratou da cooperação paraguaio-brasileira em temas penitenciários. Participou, ainda, do “Encontro de católicos com responsabilidades políticas a serviço dos povos latino-americanos” e assistiu a cerimônia em homenagem ao Dia do Exército Brasileiro, realizada no Centro Cultural da Embaixada. A embaixada do Brasil em Assunção acompanhou o parlamentar em sua programação oficial”.

Major Olímpio: A reportagem enviou questões para o Major Olímpio através do gabinete do senador mas não obteve resposta. Caso sejam enviadas, serão aqui publicadas.

 

*Por Lucio de Castro/Sport Light

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O mundo reage contra Bolsonaro, o monstro neofascista

A Finlândia apelou esta sexta-feira à União Europeia (UE) que considere a possibilidade de banir as importações de carne brasileira como resposta à devastação causada pelos fogos na floresta amazônica. O apelo foi feito no mesmo dia em que a Irlanda e a França ameaçaram bloquear o acordo entre a União Europeia e o Mercosul.

“A ministra das Finanças, Mika Lintila, condena a destruição da floresta tropical e sugere que a UE e a Finlândia deve rever urgentemente a possibilidade de banir importações de carne do Brasil”, disse a ministra das Finanças finlandesa num comunicado citado pela Reuters. A Finlândia assume neste momento a presidência rotativa da UE.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, acusa Bolsonaro de “mentir” e de não respeitar os compromissos ambientais que tinha assumido anteriormente durante um encontro do G20. “Dada a atitude do Brasil nas últimas semanas, o Presidente da República nota que o Presidente Bolsonaro mentiu na cimeira (G20) em Osaka”, no Japão, sublinha o Eliseu em comunicado. Por isso, acrescenta o documento, “a França opõe-se ao acordo do Mercosul”.

Já o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, garantiu, por sua vez, que se o Brasil não tomar medidas para proteger a floresta tropical, Dublin vai votar contra o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, alcançado em Junho após 20 anos de negociações.

Leo Varadkar mostrou-se, à semelhança de outros líderes políticos, preocupado com a destruição da Amazónia e assegurou que o Governo irlandês irá monitorizar de perto os esforços ambientais do Governo brasileiro até que o acordo com o Mercosul seja ratificado.

“A Irlanda não irá votar a favor do acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul se o Brasil não honrar os seus compromissos ambientais”, garantiu Varadkar. O primeiro-ministro irlandês classificou ainda de “orwelliana” a tentativa do Presidente brasileiro Jair Bolsonaro de culpar as organizações ambientais pelos incêndios.

Porém, para bloquear o tratado de livre comércio entre a UE e os quatro países que compõem o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), a Irlanda iria precisar do apoio de outros estados-membros da União Europeia. Ao mesmo tempo, o próprio Governo irlandês é pressionado para proteger os seus produtores de carne bovina, que podem sair prejudicados com o Brexit e uma possível inundação do mercado com carne bovina mais barata vinda de países do Mercosul.

 

*Do Público

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É necessária uma investigação do esquema de Bolsonaro e PSL em Itaipu

“Estamos diante de uma suspeita forte de corrupção que atinge diretamente o gabinete e o partido presidencial [PSL] e que, além disso, põe em risco uma área sensível e estratégica para o Brasil, que é o suprimento de energia elétrica pela Usina Binacional de Itaipu”, afirma o colunista Jeferson Miola. Os termos do acordo com o Paraguai sobre Itaipu “são uma obra-prima de predatismo e rapinagem de bens públicos”, acrescenta.

A Ata Bilateral sobre Itaipu foi assinada secretamente em 24 de maio passado pelos representantes das chancelarias do Brasil e do Paraguai.

Referida Ata, que modifica a forma de contratação pela ANDE [Administración Nacional de Eletricidad] da energia de Itaipu para consumo do Paraguai, só foi conhecida devido ao escândalo que quase culminou na abertura de processo de impeachment do presidente paraguaio Mario Abdo Benitez e causou a demissão de autoridades do governo paraguaio, dentre elas o chanceler e o embaixador no Brasil.

Não fosse a denúncia de técnicos da estatal ANDE, um esquema corrupto de negócio já estaria em andamento.

Os termos do acordo, concebidos por agentes privados diretamente interessados no negócio, são uma obra-prima de predatismo e rapinagem de bens públicos: nefastos aos interesses dos 2 Estados nacionais, mas magnânimos com uma empresa vinculada a políticos do PSL.

Ante a crise instalada no país vizinho, Bolsonaro apressadamente concordou com a decisão unilateral do Paraguai de cancelar o acordo. Como justificativa para o rápido e inusitado recuo, ele pretextou preocupação com a estabilidade política do aliado, que poderia ser destituído em processo sumário de impeachment.

A realidade revelada por segmentos da imprensa paraguaia mostra, contudo, que o motivo da pressa do Bolsonaro pode não ter nada a ver com solidariedade política com o presidente paraguaio, mas sim com o objetivo de abafar o caso e evitar que venham a público detalhes de um escândalo de corrupção que envolve seu governo, seu partido e alguns aliados íntimos.

No centro da tramóia está Alexandre Giordano, suplente do senador Major Olímpio/PSL [líder do Bolsonaro no Senado e aliado fiel da família em SP], que figura nas negociações representando interesses da empresa LEROS.

A LEROS explora jazidas de diamante e nióbio no Brasil. Por coincidência, durante o encontro do G20 em Osaka/Japão, Bolsonaro surpreendeu o mundo numa live patética fazendo propaganda do potencial comercial de nióbio …

A TV Telefuturo do Paraguai apresenta um panorama completo do complicado processo. Na reportagem [aqui], a emissora mostra mensagens de WhatsApp enviadas por José Rodríguez, que se apresentava como assessor jurídico do vice-presidente paraguaio Hugo Velázquez, ao presidente da ANDE, Pedro Ferreira, com instruções sobre os termos da Ata que a estatal deveria incluir.

Nas mensagens prévias à assinatura da Ata, que ocorreu em 24 de maio, o assessor José Rodriguez fazia menção ao “modelo de contrato com uma empresa brasileira” sem, no entanto, nomear qual empresa se tratava.

Em 5 de junho, já com a Ata assinada, o nome da empresa beneficiada aparece em mensagem que José Rodriguez enviou ao presidente da ANDE para solicitar uma reunião, uma vez que “o representante comercial da empresa LEROS do Brasil se encontra no país a fim de dar seguimento ao acordo de compra e venda de excedente de energia ao mercado brasileiro”.

Na mensagem, o assessor do vice-presidente paraguaio sublinha que os representantes da LEROS “vêm em representação da família presidencial do país vizinho”.

Em 15 de julho, José Rodriguez informou o presidente da ANDE sobre o envio, para a LEROS, da carta de intenções para a empresa operar, com exclusividade, o mercado anual de mais de US$ 200 milhões de energia excedente do Paraguai.

Em resposta a Rodriguez, o presidente da ANDE esclareceu que não poderia haver exclusividade para a LEROS, pois a venda da energia excedente deveria se dar mediante procedimento licitatório em busca de melhor preço.

À continuação, Rodriguez enviou mensagem a outro diretor da ANDE recomendando confidencialidade sobre os termos da Ata “devido a que, em conversações com o mais alto posto de mando do Brasil se concluiu que não é o mais favorável, a fim de resguardar o manejo prudencial da informação para que a operação em marcha [o contrato exclusivo com a LEROS] se efetive com o maior êxito” [sic].

Rodriguez justifica a decisão de manter a clandestinidade do negócio uma vez que “a autorização de ambos mandatários [Abdo e Bolsonaro] já se encontra verbalmente acertada”.

Em 12 de julho, um intermediário da ANDE havia enviado por correio postal diretamente a Kleber Ferreira [um dos fundadores da LEROS] e a Alexandre Giordano, o político do PSL – e não ao governo brasileiro – a carta de intenção para a exploração deste negócio.

Em discurso após cancelar o acordo para sustar o processo do seu impeachment, o presidente paraguaio disse que “não vou tolerar a corrupção, que não importa o quanto doa, por causa da proximidade de meus colegas e amigos de luta, isso não nos dá o direito de ter má conduta na administração de coisas públicas. É por isso que ordenei que aqueles que participaram do processo, talvez sem má vontade, sejam removidos do cargo”.

Ou seja: para se salvar, o próprio presidente paraguaio – citado por um operador do seu governo como alguém que “acertou verbalmente” com Bolsonaro o esquema a favor da LEROS – admitiu o esquema de corrupção.

Estamos diante de uma suspeita forte de corrupção que atinge diretamente o gabinete e o partido presidencial [PSL] e que, além disso, põe em risco uma área sensível e estratégica para o Brasil, que é o suprimento de energia elétrica pela Usina Binacional de Itaipu.

É preciso, por isso, investigar a fundo a presença indevida de particulares do entorno do Bolsonaro em negociações que envolvem altos interesses do Estado brasileiro.

É preciso descobrir o que tem por trás da pressa do Bolsonaro em evitar o esclarecimento disso que pode ser um escândalo bilionário de corrupção que o envolve diretamente e a políticos do PSL.

 

*Por Jeferson Miola/247

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Como a Leros, empresa “supostamente ligada” aos Bolsonaro, seria beneficiada no acordo de Itaipu

A trama envolve um empresário brasileiro, suplemente de Major Olímpio, que teria usado o nome dos Bolsonaro para fechar o negócio no Paraguai.

A crise do governo paraguaio por conta do acordo de Itaipu com o Brasil começa a dar sinais de que irá refluir. Mas novas informações divulgadas nesta quinta (1/8) mostram que ainda há muito a ser esclarecido sobre a participação da Leros na jogada.

A empresa de energia brasileira virou pano de fundo do escândalo internacional por ter sido apresentada às autoridades paraguaias como “ligada à família Bolsonaro”, segundo publicação do jornal ABC Color.

Empresa “supostamente ligada” aos Bolsonaro é pano de fundo de crise no Paraguai

Nesta quinta, outro jornal do Paraguai, o Ultima Hora, revela qual seria a vantagem da Leros com a retirada de um ponto do acordo de Itaipu que prejudicou o Paraguai e levou o governo vizinho a enfrentar pedidos de impeachment.

Segundo a publicação, “fontes próximas do Poder Executivo” paraguaio afirmaram que a supressão do “ponto 6” do acordo de Itaipu impediria a ANDE (estatal de energia paraguaia) de comercializar excedente de energia (pelo menos 300 MW) ao mercado brasileiro. E o objetivo – que ainda preciso ser melhor apurado – era “dar exclusividade à empresa Leros, que tem vínculo com o presidente brasileiro Jair Bolsonaro”, pontuou.

O Ultimo Hora afirmou que a Leros vinha conversando com a ANDE sobre o acordo de Itaipu há muito tempo, e que as negociações envolviam outras empresas estrangeiras. Uma sul-coerana, por exemplo, manifestou interesse em comprar 500 MW da estatal paraguaia.

Por parte da Leros, a intenção era que a empresa brasileira contratasse de 250 a 450 MW da ANDE, “a fim de redistribuir o produto no seu mercado interno [Brasil].”

Depois das conversas preliminares, a própria ANDE teria tentado tornar o processo mais “transparente” planejando uma convocação aos interessados em comprar blocos de mais de 100 MW, com o limite de até 1.000 MW.

No entanto, de acordo com o Ultima hora, fazer essa chamada no acordo bilateral de Itaipu não era “conveniente para a Leros”, já que outras empresas brasileiras iriam descobrir e concorrer pelo produto.

“Esses outros comerciantes”, frisou o portal paraguaio, poderiam ser, por exemplo, “a Companhia Paranaense de Energia (Copel) e a Companhia Mineira de Energia (Cemig)”. A Copel, aliás, “já tentou comprar energia da [usina paraguaia] Acaray no passado, mas nenhum acordo foi alcançado.”

A preocupação da Leros com os concorrentes está no fato de que a empresa não é “muito grande”, se comparada às outras brasileiras habilitadas para o serviço. Então fazer o acerto prévio com o Paraguai, “graças ao apoio do Ministério das Relações Exteriores”, informou o Ultima Hora, seria “um golpe muito grande para suas operações.”

O PAPEL DE BOLSONARO

Jair Bolsonaro pode não ter relação direta com a Leros, mas o Ultima Hora frisou que ainda haveria uma etapa de autorização do negócio, em solo brasileiro, que seria feita pessoalmente pelo presidente, segundo articulação dos lobistas, e sem necessidade de um “acordo escrito”.

“O presidente do País vizinho simplesmente daria a ordem” para liberar a redistribuição de energia pela Leros no Brasil, independente de a Eletrobras (que detém uma parcela do capital de Itaipu Binacional) viesse ou não a participar da “manobra técnica”.

Ainda segundo a fonte do governo paraguaio – que não teve o nome revelado pelo Ultima Hora – a Leros teria prometido pagar o melhor preço possível pela energia de Itaipu, mas demandou exclusividade no negócio, e esta “condição” virou um temor pois a negociação bilateral poderia não prosperar desse jeito. O jornal fez questão de destacar que apesar da exigência da Leros, o Brasil tem atualmente ao menos 6 comercializadoras de energia habilitadas para o mesmo serviço.

Ao final da reportagem, o Ultima Hora chamou atenção para como o lobby da Leros teria dado sido efetivado junto ao “Ministério das Relações Exteriores”, que chegou a eliminar o ponto 6 do artigo de Itaipu, e não junto à ANDE – cujo presidente renunciou alegando que foi obrigado a assinar o acordo prejudicial ao Paraguai.

No começo de todo o escândalo, a informação divulgada era de que a Leros teria um lobista, o advogado José Rodriguez Gonzalez, que à ANDE se apresentou como assessor jurídico do vice-presidente do Paraguai Hugo Velazquez. A relação com o vice foi desmentida por jornais paraguaios e o advogado admitiu que atuou em favor da Leros.

O ELO ENTRE A LEROS E OS BOLSONARO

No dia 31 de julho, o BuzzFeed News Brasil avançou com essa pauta revelando que a Leros também contou com outro lobista, mas um brasileiro: o empresário Alexandre Giordano, que é suplente do senador Major Olímpio, do PSL de São Paulo.

Giordano seria, de acordo com o jornal paraguaio ABC Color, o brasileiro que se apresentou com credenciais de “senador” em uma reunião para tratar do acordo de Itaipu, em 10 de maio passado, em Ciudad Del Este.

O advogado-lobista José Rodríguez González afirmou à imprensa de seu País que Giordano usou o nome da família Bolsonaro para pressionar pelo acordo favorável a Leros.

“Em todos as conversações que tivemos com esse grupo empresarial brasileiro, a primeira coisa que fizeram é que têm o apoio do alto mando brasileiro para conseguir às autorizações de importação de energia”, disse Rodriguez ao ABC Color.

Curiosamente, no mesmo dia da reunião de Giordano com autoridades do Paraguai, Bolsonaro e o presidente Mário Abdo Benítez se encontraram em Foz do Iguaçu para assinar a autorização para o início das obras de uma segunda ponte para ligar os dois países.

Giordano, em defesa própria, negou ao BuzzFeed que tenha usado o nome da família Bolsonaro ou se apresentado como senador, mas confirmou a reunião no Paraguai e ainda admitiu que já prestou serviços para a Leros no passado.

“Seu interesse, afirma, seria eventualmente vender torres e outros suportes que usam estruturas metálicas, caso a Léros fechasse acordo com os paraguaios.”

Ao jornal O Globo, um dos fundadores do Grupo Leros, Kleber Ferreira, “negou ter qualquer relação com os governos do Brasil e do Paraguai. Ele confirmou que seu grupo participou de um chamamento público feito pelo Paraguai para a compra de energia, enviando uma carta de intenção e os documentos solicitados. Mas afirmou desconhecer qualquer tipo de vinculação entre essa futura licitação pública e a negociação entre os dois países sobre Itaipu.”

 

 

*Do GGN