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Política

Nunes lidera com 44% contra 35% de Boulos, aponta pesquisa Quaest

Atual prefeito de São Paulo lidera por nove pontos sobre Boulos, segundo pesquisa estimulada.

Pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira (23) aponta o prefeito Ricardo Nunes, do MDB, com nove pontos de vantagem sobre o deputado federal Guilherme Boulos, do Psol. Segundo o levantamento, o placar atual, considerando votos válidos, é de 44% a 35%.

Os votos em branco/nulos/abstenções mantiveram-se em 19%, enquanto o percentual de indecisos foi para 2%. Os dados referem-se ao levantamento estimulado.

A pesquisa da Quaest também mediu a intenção de voto espontânea, na qual os nomes dos candidatos não são apresentados aos eleitores. Nunes registrou 36%, Boulos ficou com 28%, enquanto os indecisos somaram 27% e os votos em branco/nulo/não votar somaram 8%.

A pesquisa, encomendada pela TV Globo foi realizada entre 20 e 22 de outubro e entrevistou presencialmente 1.200 pessoas acima de 16 anos na cidade de São Paulo. A margem de erro da pesquisa é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos considerando um nível de confiança de 95%. O registro na Justiça Eleitoral tem o protocolo SP-06257/2024.

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Atentado terrorista contra sede das Indústrias Aeroespaciais da Turquia deixa mortos e feridos

Ministro do Interior turco usou as redes sociais para afirmar que o incidente se tratou de um “atentado terrorista”, resultando em “mártires e feridos”.

Um ataque foi registrado nesta quarta-feira (23) em frente à sede das Indústrias Aeroespaciais da Turquia (TAI), em Ancara. O ministro do Interior, Ali Yerlikaya, usou as redes sociais para afirmar que o incidente se tratou de um “atentado terrorista”, resultando em “mártires e feridos”. “Foi cometido um atentado terrorista contra as instalações da TAI [Indústrias Aeroespaciais da Turquia] em Ancara. Infelizmente, houve mártires e feridos neste atentado”, postou o ministro no X, antigo Twitter.

Segundo o jornal O Globo, relatos da televisão Habertürk, o ataque ainda está em curso, com informações de que há “reféns” na área, embora detalhes adicionais não tenham sido fornecidos. O canal NTV também reportou que disparos foram ouvidos após a explosão, que ocorreu por volta das 16h00, horário local. As imagens que circulam nas redes sociais mostram uma densa nuvem de fumaça branca emergindo da entrada das instalações, localizadas a cerca de 40 km da capital turca.

Até o momento, nenhuma organização assumiu a responsabilidade pelo ataque. O incidente ocorre em meio a uma importante exposição das indústrias de defesa e aeroespacial em Istambul, que contou com a presença de como o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia.

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Brasil

Lula e Putin conversam por telefone sobre agenda do BRICS e Oriente Médio

Impossibilitado de comparecer pessoalmente à Cúpula dos BRICS, o presidente brasileiro conversou com Putin por cerca de 20 minutos nesta terça-feira.

O presidente Lula, após sofrer uma queda no Palácio da Alvorada no último sábado (19), teve que cancelar sua viagem à Rússia para a 16ª Cúpula do BRICS. A decisão foi tomada seguindo recomendações médicas, após o presidente precisar levar cinco pontos na região da nuca devido ao incidente no banheiro da residência oficial da Presidência. Diante da impossibilidade de comparecer pessoalmente ao evento, Lula telefonou para o presidente russo, Vladimir Putin, nesta terça-feira (22). A conversa durou cerca de 20 minutos.

Segundo o g1, Lula e Putin conversaram sobre questões relevantes à agenda dos BRICS e sobre os conflitos no Oriente Médio, envolvendo Israel, Hamas e Hezbollah. O Oriente Médio, assim como a criação de uma nova categoria de “países parceiros” dentro do BRICS, é um dos principais temas da cúpula.

“O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva recebeu na manhã dessa terça-feira (22), às 10 horas, horário do Brasil, um telefonema do presidente russo Vladimir Putin. O telefonema durou cerca de 20 minutos. O presidente Putin quis saber do estado de saúde do presidente, e lamentou que ele não pode vir à Cúpula dos Brics, e o presidente Lula também, devido ao acidente sofrido no sábado. E que serão feitos os arranjos para a participação dele na reunião por videoconferência”, comunicou o Palácio do Planalto.

A delegação brasileira em Kazan está sendo liderada pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. O BRICS, tradicionalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, está em processo de ampliação, com a recente inclusão de Arábia Saudita, Egito, Irã, Etiópia e Emirados Árabes Unidos. No entanto, a Arábia Saudita ainda não oficializou sua aceitação formal ao convite.

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FMI projeta crescimento de 3% para o Brasil em 2024 e Lula celebra: ‘surpreendendo os pregadores do caos’

A nova projeção representa um aumento de 0,9 ponto percentual em relação à previsão anterior, de 2,1%, realizada em julho deste ano.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou para cima a projeção de crescimento da economia brasileira em 2024, elevando a estimativa para 3%, conforme apontado no relatório Perspectiva Econômica Global, divulgado nesta terça-feira (22). A nova projeção representa um aumento de 0,9 ponto percentual em relação à previsão anterior, de 2,1%, realizada em julho deste ano.

Em resposta à atualização, o presidente Lula (PT) celebrou o resultado e destacou a superação das expectativas. “O Brasil segue crescendo com muito trabalho, surpreendendo os pessimistas e pregadores do caos”, ironizou o presidente, reforçando a mensagem de otimismo com o desempenho econômico do país.

O FMI atribuiu o crescimento mais robusto a um “consumo privado e investimento mais fortes na primeira metade do ano devido a um mercado de trabalho apertado, transferências governamentais e problemas menores do que o esperado decorrentes das enchentes”. No entanto, o Fundo alerta que o cenário pode se deteriorar em 2025, quando o crescimento deverá moderar para 2,2% devido à política monetária restritiva e à esperada desaceleração do mercado de trabalho.

Ainda que o desempenho surpreendente no primeiro semestre tenha sido impulsionado por um mercado de trabalho aquecido, inflação controlada e aumento da renda, o FMI prevê uma desaceleração com a redução dos estímulos fiscais e o possível aumento da taxa básica de juros. Atualmente em 10,75%, a expectativa do mercado é que a Selic encerre o ano em 11,75%, após as últimas reuniões do Banco Central.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre em 3 de dezembro. No segundo trimestre, a economia brasileira apresentou uma expansão de 1,4%, superando as expectativas de analistas e reforçando o cenário de crescimento acima do esperado.

Apesar da revisão positiva do FMI, a projeção ainda fica ligeiramente abaixo da estimativa oficial do governo brasileiro, que espera um crescimento de 3,2% para 2024. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), já indicou que novas revisões poderão ser feitas conforme os resultados continuem a surpreender positivamente.

O relatório do FMI também trouxe previsões para a inflação, com expectativa de 4,3% em 2024 e 3,6% em 2025.

América Latina e emergentes – O relatório do FMI também destacou a América Latina, cuja projeção de crescimento foi elevada para 2,1% em 2024, impulsionada principalmente pela revisão para o Brasil. No entanto, o Fundo cortou a previsão de crescimento para 2025, que agora está em 2,5%.

As perspectivas para as Economias de Mercados Emergentes e em Desenvolvimento, das quais o Brasil faz parte, permanecem em 4,2% para 2024, enquanto a previsão para 2025 foi reduzida para 4,2%. Para o México, o FMI revisou para baixo a projeção de crescimento em 2024, que agora é de 1,5%, refletindo um cenário mais desafiador para o país.

Enquanto o Brasil surpreende, a economia global enfrenta desafios com os ajustes monetários e as incertezas geopolíticas, influenciando o cenário econômico global nos próximos anos.

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Mundo

Putin se reúne com Dilma Rousseff no primeiro dia da cúpula dos Brics

Ex-presidente brasileira lidera o Novo Banco de Desenvolvimento, ligado ao bloco

O presidente russo Vladimir Putin se encontrou para conversas nesta terça-feira (22) com a presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, Dilma Rousseff, que está em Kazan para a cúpula dos Brics sediada pela Rússia.

Putin enfatizou a importância de acordos financeiros entre os países dos Brics em moedas locais, dizendo que isso ajuda a minimizar os riscos geopolíticos e a libertar o desenvolvimento econômico da política.

O Novo Banco de Desenvolvimento foi estabelecido em 2015 pelos países dos Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul para mobilizar recursos para projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável em mercados emergentes e países em desenvolvimento do Sul Global.

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Política

Tereza Campello: maior desafio do BNDES é lutar contra uma parte da elite que quer o Brasil pequeno

Segundo ela, atores “ligados a uma ideia de que o Brasil tem que voltar a cumprir um papel de ser agrícola e exportado

Lucas Weber, Brasil de fato – Há 10 anos, quando o Brasil recebia o reconhecimento por parte das Nações Unidas (ONU) de ter saído do Mapa da Fome, foi a então ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, quem recebeu o título em nome do país. Hoje, diretora Socioambiental do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Campello está confiante que o Brasil irá reconquistar a marca em breve. Na verdade, para ela, nesta retomada da gestão petistas à frente do governo federal, o maior desafio que vem enfrentando “é lutar contra uma parte da elite brasileira que quer que a gente seja pequeno”.

Em entrevista ao programa Bem Viver desta segunda-feira (21), a diretora celebrou os avanços que o BNDES vem conquistando nestes quase dois anos que ela está à frente da diretoria, sob presidência de Aloizio Mercadante.

“Esse um ano e dez meses foi um período excepcional para a nossa atuação no Banco. Nós resgatamos um papel histórico do BNDES”, diz.

“Durante um período, esses atores ligados ao bolsonarismo, ligados à extrema-direita, mas principalmente ligados a uma ideia de que o Brasil tem que voltar a cumprir um papel de ser agrícola e exportador, tentou acabar com o BNDES”.

Campello cita entre as conquistas do Banco a parceria com o governo federal em política de combate à fome voltadas ao fomento à agroecologia e a agricultura familiar de modo geral.

“Os programas voltaram, o Programa de Aquisição de Alimentos [PAA] voltou, o Pnae voltou, que é o Programa Nacional de Alimentação Escolar, outra agenda estratégica que a FAO destacava de por que que saímos do Mapa da Fome. E nessa agenda de fortalecimento da agricultura familiar tinha um conjunto de elementos, dentre eles o próprio Ecoforte do BNDES e da Fundação Banco do Brasil”.

“Todas essas agendas foram retomadas. Nesse um ano e 11 meses a gente pode dizer que nós conseguimos reconstruir tudo aquilo que eles destruíram”, reforça Campello.

Embora veja com perspectiva, a diretora pondera que há um novo desafio neste momento: os ultraprocessados.

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Mundo

Israel apresenta aos EUA exigências para fim do conflito no Líbano

Entre as exigências estão a liberdade de operação e ação militar, além do uso do espaço aéreo, contra o Hezbollah, desafiando resoluções da ONU.

Israel entregou aos Estados Unidos, no último domingo (20), um documento delineando suas exigências para uma solução diplomática que busque encerrar a guerra no Líbano, diz a agência Sputnik, citando o portal Axios. O documento foi enviado pelo ministro de Assuntos Estratégicos de Israel, Ron Dermer, confidente do premiê Benjamin Netanyahu, ao enviado especial da Casa Branca, Amos Hochstein, na quinta-feira (17).

Entre as demandas apresentadas, segundo a reportagem, Tel Aviv requer que as Forças de Defesa de Israel (FDI) sejam autorizadas a realizar “execução ativa” para evitar que o Hezbollah se reforce e reconstrua sua infraestrutura militar nas proximidades da fronteira.

Além disso, o governo israelense exige que sua Força Aérea tenha liberdade de operação no espaço aéreo libanês, uma solicitação que contradiz a Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU. Essa resolução determina que as Forças Armadas libanesas (LAF) e a Força Interina da ONU no Líbano (UNIFIL) devem garantir um cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah.

Uma fonte do governo dos EUA afirmou ao Axios que é “altamente improvável que o Líbano e a comunidade internacional” aceitem as condições impostas por Israel. Em resposta a essa situação, Hochstein está programado para visitar Beirute nesta segunda-feira (21) com o objetivo de discutir uma possível solução diplomática para o conflito.

Na noite de domingo (20), a situação escalou quando a Força Aérea israelense conduziu ataques aéreos no Líbano, atingindo diversos alvos associados ao Hezbollah, incluindo um prédio em Beirute. Esses ataques ocorreram em um contexto em que o Pentágono, por meio do secretário de Defesa, Lloyd Austin, havia solicitado a Israel que “reduzisse os ataques” à capital libanesa, citando o número “excessivo” de vítimas civis decorrente das operações militares.

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Política

“Foi um acidente bobo, corriqueiro. Mas sério”, diz Roberto Kalil sobre queda de Lula

O médico ainda descreveu como foi o acidente doméstico: “houve sangramento no cérebro”

O presidente Lula (PT) sofreu uma queda no Palácio da Alvorada, em Brasília, que resultou em um traumatismo craniano. Em entrevista à coluna de Guilherme Amado, do Metrópoles, o médico Roberto Kalil, que atendeu Lula após o incidente, descreveu o acidente como sério, embora tenha destacado seu caráter corriqueiro.

“Lula sofreu um traumatismo craniano, que é como chamamos sempre que alguém bate a cabeça num acidente como esse. Houve sangramento no cérebro. Foi sério, mas ele está bem”, afirmou Kalil, após examinar o presidente em Brasília. O médico explicou que Lula caiu de um banco que virou para trás, ocasionando o impacto.

O boletim médico do Hospital Sírio-Libanês relatou que o presidente teve um ferimento corto-contuso na região occipital, a parte posterior da cabeça. Embora os primeiros exames indiquem que não há maiores complicações, Lula deverá realizar novos exames durante a semana para acompanhar sua recuperação.

Cancelamento de viagem e recomendações médicas – Devido ao incidente, o presidente foi aconselhado a evitar viagens longas, o que resultou no cancelamento de sua participação presencial na 16ª Cúpula do BRICS, que será realizada na Rússia. Segundo Kalil, essa é uma medida de precaução para garantir que o quadro de saúde de Lula não seja agravado.

“Foi um acidente bobo, algo corriqueiro. Mas sério”, reiterou Kalil. Ele informou que, apesar do susto, Lula está bem e seguirá trabalhando normalmente de Brasília enquanto realiza o acompanhamento médico necessário.

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Mundo

‘A guerra em Gaza é uma guerra contra a memória palestina’, diz escritor e sobrevivente em Gaza Atef Abu Saif

Atef foi ministro da cultura da Palestina até março de 2024 e falou sobre a importância da escrita como resistência.

O escritor Atef Abu Saif e sua família fazem parte dos mais de um milhão de palestinos deslocados de suas casas em apenas um ano. Ministro da Cultura da Autoridade Palestina entre 2019 e março de 2024, Atef estava em Gaza quando os bombardeios começaram, experiência que relata no livro recém-lançado Quero estar acordado quando morrer (Elefante, 2024).

“Eu me descobri no meio de uma guerra, e descobri que eu poderia morrer a qualquer momento, em um minuto. Por isso, comecei a escrever, em árabe e inglês ao mesmo tempo, pequenos pedaços sobre a vida. Queria que as pessoas soubessem sobre a minha vida se eu morresse, e sobre a vida das pessoas ao meu redor: meu filho, meu pai, meus irmãos e irmãs”, disse ao Brasil de Fato. 

Atef nasceu no campo de refugiados de Jabalia, ao norte da Faixa de Gaza, mas mora com a esposa e filhos na Cisjordânia. No início dos ataques, o escritor estava visitando a região para participar de um evento e visitar sua família, e levou o filho Yasser para acompanhá-lo.

No diário, ele relata os 85 primeiros dias dos bombardeios de Israel sobre a população da Faixa de Gaza, que começaram em sete de outubro de 2023. Mesmo sob ataques incessantes do exército de Israel, escreveu diariamente sobre os acontecimentos da sua vida, familiares e amigos até a autorização de saída do seu filho da Faixa de Gaza, em 30 de dezembro de 2023.

“A escrita mantém a memória da vida. Nós sabemos sobre civilizações antigas a partir dos registros escritos deles. Gaza foi destruída e muitas pessoas morreram. O que restou deles? O que foi escrito sobre eles. A próxima geração vai ler sobre Gaza como era antes da guerra. Escrever é documentar”, conta Atef. “As vítimas gostam de ser mencionadas, gostam que falem sobre elas”, ressalta.

A sensação de que poderia morrer a qualquer momento, impulsionou a escrita: “Queria deixar esses registros, e tê-los na minha caligrafia, escritos à mão. Assim, pelo menos, eu não teria morrido em vão. As pessoas saberiam que existiu alguém chamado Atef que viveu neste período da história, em Gaza.”

“A guerra nos desumaniza”

A frase que dá nome à edição brasileira de seu diário, Quero estar acordado quando morrer, teve origem nos pensamentos que povoaram sua mente quando se viu em meio à guerra. “O que eu estava pensando é que eu mereço uma morte honrosa. Meu corpo merece ser sepultado quando eu morrer. Eu gostaria de estar acordado no momento da minha morte para eu saber para onde meu corpo vai. Para que eu diga para me colocarem em uma sepultura.”

Em um trecho do diário, Atef relata a perda do grande amigo e jornalista Bilal Jadali. Ao se referir a sobrevivência durante a guerra, diz que sente saudades. “Sinto falta do Atef, de ser eu mesmo”, escreveu.

“Na guerra, você não é você mesmo”, disse ao Brasil de Fato sobre essa passagem do diário. Nesse contexto, ele enfatiza que é preciso sempre “relembrar de si”, “olhar no espelho e nas fotos do celular, e tentar agir normalmente”, uma vez que “tudo ao redor não é normal”.

“A guerra nos desumaniza, torna a vida uma coisa anormal. Eu senti muitas vezes que não era o Atef. Eu era o Atef durante o genocídio, e isso vive com você após a guerra. Mesmo que eu tenha saído de Gaza, eu ainda sinto que estou lá. Meu espírito, meu corpo, minhas memórias. Você não é mais você”.

A escrita como resistência

Atef também destaca como o diário que escreveu e os registros dos moradores de Gaza servem para levar a narrativa palestina para o mundo.

“O que nós escritores fazemos é documentar a vida como ela é. E esse foi o motivo central do diário. Eu me distanciava sobre o que estava acontecendo, tentando observar sobre o que acontecia, e escrevia. A verdade e a realidade são mais poderosas do que imaginação e ficção.”

“Eles nos querem atrás das cortinas”, diz o escritor sobre as tentativas israelenses de manter jornalistas fora de Gaza. Em um determinado momento, ele recorda que, após sucessivos assassinatos, – “um jornalista morto pelas forças de Israel em Gaza a cada um dia e meio” – não havia mais profissionais da imprensa na região: “Foram todos expulsos, suas casas e escritórios destruídos”.

Como escritor, ele considera que a decisão de reportar para o mundo por meio de um diário foi uma forma de “jornalismo alternativo”.

“Isso provia informação sobre a situação em Gaza. Não é o puro jornalismo, é um jornalismo narrativo, no qual você conta sobre a vida. Não é ficção, não é romance, não é história também. Mas uma mistura de tudo isso: jornalismo, narrativa e suspense também, de certa forma, uma história contada em primeira pessoa”

Uma guerra contra a memória palestina

Durante o diário, Atef relembra constantemente a importância da memória para a existência e cultura de um povo, principalmente para os palestinos. Em relato do dia 6 de dezembro de 2023, conta que a dança dabke (dança palestina) foi incluída na lista oficial da Unesco como “patrimônio imaterial cultural”, que o mesmo já havia sido feito com o bordado palestino tatreez e que ele também pediria a entrada do sabonete tradicional nabulsi.

“Coisas como essa podem parecer frívolas num primeiro momento, mas são parte da identidade de um povo e daquilo que é ameaçado, e potencialmente perdido, quando ocupações ou guerra expulsam repetidamente as pessoas de sua terra”, explica ao Brasil de Fato.

Enquanto comandava o Ministério da Cultura – cargo que manteve até março deste ano – Atef dizia a seus interlocutores que a pasta se equiparava ao Ministério da Defesa, tal a importância da preservação da memória palestina para sua existência.

“A guerra lançada contra a Palestina é uma guerra contra a nossa memória, nossa cultura, nossa narrativa dos fatos e acontecimentos. O papel do ministro da Cultura é preservar essa memória e manter tais narrativas. A cultura é a linha de frente principal para defender a causa nacional, no nosso caso.”

Quero estar acordado quando morrer teve seu lançamento em São Paulo durante a inauguração do Centro de Centro de Estudos Palestinos (CEPal) na Universidade de São Paulo (USP) na quinta-feira (16), onde o escritor ressaltou a importância da memória e da preservação da cultura e estudos sobre a Palestina.

Durante o seu discurso, Atef relembrou como o povo palestino sempre foi propositalmente retratado como sem cultura ou estudos, usando como exemplo o significado da palavra em inglês “philistine”, que significa “alguém que é hostil ou indiferente à cultura e às artes”, que faz menção direta aos filisteus, povo do qual os palestinos descendem.

“A escrita preserva a memória. O que escritores escrevem se torna parte da memória de um povo. É responsabilidade dos autores serem leais a sua nação, pois a memória é a identidade de todas as culturas. O que identifica uma nação são as tradições contadas através dos seus membros do passado. Todas as pessoas querem ser parte de uma grande e longa história.”

Atef lembra que as pessoas não podem esquecer o genocídio que acontece na Palestina. “Nós não podemos parar de falar sobre isso”, completa o escritor. “Estudar, ler e registrar sobre a cultura palestina e acontecimentos passados e atuais também são parte importante da preservação da memória palestina.”

“Pertencemos a um lugar, a uma civilização porque, assim, nós podemos explicar nossa existência; como falamos, como nos vestimos. E isso é muito importante. Nós não podemos mudar o curso da História, mas ao menos [o registro] será em nosso nome”, finaliza.

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Política

Para Gisele Cittadino, penas muito pesadas aguardam Bolsonaro

Cittadino prevê até 32 anos de prisão para Bolsonaro e descarta chances de anistia no STF.

Em conversa com no programa “Denise Assis Convida”, a integrante do grupo Prerrogativas e uma das fundadoras da ABDJ, Gisele Cittadino, discorreu sobre a situação jurídica e política do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em sua opinião, penas muito pesadas o aguardam, sobre os dos inquéritos em que está indiciado: o da falsificação do cartão de vacinação e o do roubo das joias pertencentes ao Patrimônio da União. Ao todo, ela calcula que se for aplicada a pena máxima, Bolsonaro pode pegar até 32 anos só por esses casos.

Sobre o inquérito que trata da trama golpista, o seu papel como mentor intelectual e grande maestro das depredações e os desdobramentos da tentativa, ela considera que se for indiciado no início de novembro, logo após a entrega da investigação da Polícia Federal, conforme o prometido, sua expectativa é a de que o processo se alongue até meados de 2025. “Uma coisa é certa: Bolsonaro irá para a prisão e eu não tenho nenhuma dúvida. O quando é que não sabemos, mas confio que o PGR está reunindo provas robustas que não darão chance à defesa de desmontar o processo. Creio que tudo está sendo feito com muito cuidado para que não se tenha, como na Lava-Jato, as falhas enormes cometidas por Sergio Moro e a sua equipe, o que levou à desmoralização do processo”, afirmou.

Cittadino prevê que serão feitas tentativas, por parte de Valdemar da Costa Neto, para livrar o ex-presidente e colocá-lo na urna em 2026, mas que dificilmente o projeto de anistia que tramita no Congresso conseguirá abarcá-lo. Para ela, se do modo mais improvável, isso acontecer, a proposta será barrada no STF. “O Supremo não vai permitir, tendo sido atacado como foi, no 8 de janeiro”, concluiu.