em retaliação a medidas do governo dos Estados Unidos, Canadá impôs taxas de 25% a produtos estadunidenses.
Os governos do México, China e Canadá reagiram ao anúncio do presidente Donald Trump, no sábado (1) de sobretaxar produtos oriundos desses países. Os três são os maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos. Segundo a Casa Branca, a partir de 4 de fevereiro serão aplicadas as tarifas de 10% aos importados chineses e de 25% aos canadenses e mexicanos. Apenas o petróleo canadense terá uma taxa menor, de 10%. O governo Trump também ameaçou aumentar ainda mais as tarifas caso os países reagissem, o que não impediu duras reações.
Dessa forma, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, ativou o princípio da reciprocidade e impôs uma sobretaxa de 25% aos produtos estadunidenses, ainda no sábado. As medidas devem afetar uma grande variedade de produtos que o Canadá importa dos Estados Unidos, como a cerveja, vinho, frutas, sucos, roupas e eletrodomésticos. “Não queríamos isso, mas o Canadá está preparado”, disse Trudeau.
Já a presidente do México, Claudia Sheinbaum, reuniu na tarde de sábado, pouco antes do anúncio de Donald Trump, um grupo de empresários mexicanos para discutir a resposta às pré-anunciadas medidas do governo estadunidense, que qualificou como “arbitrariedade comercial”. “Não é impondo tarifas que os problemas são resolvidos, mas falando e dialogando, como fizemos nas últimas semanas com seu Departamento de Estado para abordar o fenômeno da migração”, disse Sheinbaum.
Por sua parte, o governo chinês afirmou que “deplora e se opõe firmemente” às medidas de Trump, e avalia levar o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Presidente eleito dos EUA reúne declarações tensas contra países vizinhos; chamas na Califórnia já deixaram 24 mortos.
Apesar das ameaças recebidas pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, o Canadá e o México enviaram bombeiros para ajudar no combate dos incêndios florestais em Los Angeles, nos Estados Unidos.
Segundo afirmou o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, em suas redes sociais no último domingo (12), seu país destacou uma equipe de 60 bombeiros para atuar na Califórnia.
O ministro da Preparação para Emergências e Pacificação do Canadá, Harjit Sajjan, especificou que a ajuda foi solicitada pelos estadunidenses e respondida por Ottawa.
“Sessenta bombeiros de Alberta e da Colúmbia Britânica serão mobilizados amanhã [nesta segunda (13)] e estamos trabalhando para identificar e preparar mais recursos para enviar nos próximos dias”, declarou por meio da rede social X, antigo Twitter.
Dentre os recursos mobilizados, o Ministério de Transportes e Mobilidade canadense enviou dois aviões-tanques, devido à falta de água para combater as chamas em Los Angeles. A pasta ainda comunicou que, nesta semana, mais duas aeronaves levarão uma tripulação com pilotos, copilotos e técnicos de manutenção.
A ajuda decorreu de uma conversa entre Trudeau e o governador californiano Gavin Newsom, na sexta-feira (10). “Nós dois sabemos que o Canadá e os Estados Unidos são mais do que apenas vizinhos. Somos amigos — especialmente quando os tempos ficam difíceis. A Califórnia sempre nos apoiou quando lutamos contra incêndios florestais no norte. Agora, o Canadá ajuda no seu combate”, declarou o premiê.
Em resposta, Newsom, do Partido Democrata, agradeceu aos “vizinhos canadenses por uma mão amiga em momentos de necessidade”.
Já o México, sob a Presidência de Claudia Sheinbaum, enviou um grupo de ajuda humanitária para Los Angeles no último sábado (11). “Somos um país generoso e solidário. Agradecimentos à equipe do Plano DN-III-E do Ministério da Defesa, aos combatentes florestais e a Laura Vazquez Alzua, coordenadora nacional da Proteção Civil”, escreveu a mandatária no X.
Segundo o governo mexicano, a equipe enviada à Califórnia é formada por seis especialistas em proteção civil da Coordenação Nacional de Proteção Civil, vinculada à Secretaria de Segurança e Proteção ao Cidadão; 30 bombeiros florestais da Comissão Nacional Florestal do Ministério do Meio Ambiente e Recursos Naturais; 32 especialistas em incêndios florestais da Defesa e dois representantes do Ministério das Relações Exteriores.
O governador da Califórnia também agradeceu ao México pela ajuda: “isso é o que os amigos fazem, é disso que se trata os relacionamentos, amigos necessitados ajudando uns aos outros. Queremos estar ao lado do povo do México em tempos de necessidade e desastres e estamos extremamente humildes e gratos pelo fato de a presidente ter se disposto a enviar uma equipe”, declarou durante a chegada da delegação no estado.
Newson ainda falou sobre a boa relação da Califórnia com o México sob a administração de Sheinbaum e anteriormente com Manuel Andrés López Obrador (2018-2024).
A poucos dias da posse presidencial, marcada para 20 de janeiro, Trump ameaça diversos países com medidas que seriam impostas em seu próximo governo.
O republicano prometeu impor uma tarifa de 25% sobre todas as importações canadenses, uma medida que poderia ser devastadora para a economia do Canadá, em crítica aos gastos dos EUA com produtos e apoio militar a Ottawa. Além disso, fez declarações sobre anexar o país vizinho ao território estadunidense.
Em relação ao México, o magnata reúne uma série de declarações tensas desde sua campanha eleitoral, na qual uma das principais pautas era a anti-imigração. Trump também ameaçou impor tarifas de 25% ao México se não impedisse a entrada de drogas e de migrantes sem documentos no seu país.
Na última declaração provocativa, Trump disse que gostaria de mudar o nome do Golfo do México para “Golfo da América”. O presidente eleito também já afirmou que o país latino-americano é essencialmente governado por cartéis e acusou associações ilegais entre empresas para fixar preços de produtos e assim interferir no mercado e na economia.
24 mortos nos incêndios
Os incêndios em Los Angeles continuam a devastar a segunda maior cidade dos EUA pelo sexto dia, reduzindo comunidades inteiras a escombros e deixando milhares de desabrigados.
O número de mortos pelos incêndios chegou a 24 no domingo (12), enquanto autoridades alertavam sobre a chegada de ventos perigosos que podem aumentar a gravidade do desastre.
O Instituto Médico-Legal do Condado de Los Angeles divulgou uma lista dos mortos sem fornecer identidades. Oito corpos foram encontrados na região do incêndio em Palisades e 16 nos arredores do incêndio em Eaton, segundo o relatório.
Os esforços intensos dos bombeiros retardaram parcialmente a propagação do incêndio em Palisades, que estava se aproximando da luxuosa área de Brentwood e do densamente povoado Vale de San Fernando.
No entanto, as condições devem piorar com o “comportamento extremo do fogo e condições que ameaçam a vida” nos próximos dias. Essas rajadas de vento podem atiçar as chamas e levar brasas para novas áreas, alertaram os bombeiros.
Na última semana, os combatentes careciam de água para conter os incêndios. A situação foi revertida com a chegada de caminhões-tanque, segundo o chefe do Corpo de Bombeiros do Condado de Los Angeles, Anthony Marrone.
Enquanto isso, os evacuados ainda não podem retornar às suas casas “enquanto a bandeira vermelha permanecer”, declarou Marrone, que sinalizou uma possível mudança no cenário a partir da próxima quinta-feira (16).
O número total de moradores sob ordens de evacuação agora é de cerca de 100 mil, após atingir o pico de 180 mil.
Uma turista e um vendedor de artesanato foram mortos na queda de um raio na praia de Marauta, na cidade de Aquila, estado de Michoacán, no México. Outro turista que estava perto registrou as imagens.
O raio atingiu em cheio a turista Elvia de Jesus, de 33 anos, e ricocheteou no homem que passava ao lado vendendo seus produtos, de nome Félix. Os dois caíram no chão com o impacto da descarga elétrica.
O prefeito da cidade, Jose Maria Valencia, lamentou o acidente e a morte das duas pessoas, ocorrido na sexta-feira (15), mas só divulgado nesta semana.
O Brasil foi o país que mais sofreu uma deterioração no que se refere aos “atributos democráticos” em seu regime político em 2020 e, na década, foi um dos cinco que mais regrediu no aspecto das garantias democráticas, informa reportagem de Jamil Chade, no Uol.
Um informe publicado nesta segunda-feira pelo Instituto International IDEA, com sede em Estocolmo, constata que a situação do país é uma das que mais preocupam no mundo. A entidade é considerada como uma das principais referências no mundo na avaliação sobre a saúde das democracias.
“O Brasil foi a democracia com o maior número de atributos em declínio em 2020”, diz o estudo. “A gestão da pandemia tem sido atormentada por escândalos e protestos de corrupção, enquanto o Presidente Jair Bolsonaro minimizou a pandemia e deu mensagens mistas”, afirma.
“O presidente testou abertamente as instituições democráticas do Brasil, acusando os magistrados do Tribunal Superior Eleitoral de se prepararem para conduzir atividades fraudulentas em relação às eleições de 2022 e atacando a mídia”, afirmou.
“O presidente também declarou que não obedecerá às decisões do Supremo Tribunal Federal, que o está investigando por divulgar falsas notícias sobre o sistema eleitoral no país”, completou.
Em seu informe, chamado de “O Estado da Democracia em 2021”, a entidade alerta que “mais países do que nunca sofrem de “erosão democrática” (declínio na qualidade democrática), inclusive nas democracias estabelecidas”.
“O número de países em “retrocesso democrático” (um tipo mais severo e deliberado de erosão democrática) nunca foi tão alto como na última década e inclui potências geopolíticas e econômicas regionais como o Brasil, a Índia e os Estados Unidos”, aponta.
Mesmo no que se refere ao processo eleitoral, as constatações são preocupantes.
“Um total de 10 democracias experimentaram declínios nas Eleições Limpas desde 2015: Bolívia, Botsuana, Brasil, República Tcheca, Hungria, Índia, Ilhas Maurício, Namíbia, Polônia e EUA. Neste período, cinco outros países perderam seu status democrático devido a severas quedas (Benin, Costa do Marfim, Honduras, Sérvia e Turquia)”, disse.
O informe ainda aponta como no México e Brasil, “os presidentes questionaram a integridade das comissões eleitorais antes das eleições”. “No Brasil, o presidente foi ainda mais longe, questionando o sistema eleitoral de 25 anos de idade, e alegando que as eleições poderiam ser canceladas a menos que fosse alterado”, insistiu.
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Mexican President Andres Manuel Lopez Obrador (L) and his Argentinian counterpart Alberto Fernandez gesture as they prepare to deliver a joint press conference in Mexico City on February 23, 2021. (Photo by Alfredo ESTRELLA / AFP)
Após visita de três dias, Fernández e López Obrador publicam documento conjunto com promessas de parceria econômica e no combate à Covid-19.
O vazio deixado pelo Brasil, que abriu mão da liderança regional principalmente no governo de Jair Bolsonaro, vem dando espaço para a ascensão de novos atores na América Latina. Dois presidentes buscam se articular para ocupar esse papel, Alberto Fernández e Andrés Manuel López Obrador, objetivo que ficou claro na visita do argentino ao México, nesta semana. Mesmo os problemas internos dos dois governantes de esquerda, que veem sua popularidade em queda por causa da pandemia do coronavírus, não parecem atrapalhar seus planos. No entanto, assumir uma liderança na região é um objetivo difícil de se concretizar na atual conjuntura, acreditam analistas ouvidos pelo GLOBO.
Os três dias da visita — Fernández é o primeiro presidente argentino em uma década a visitar o México — deixaram claras as afinidades ideológicas e os planos de liderança dos dois políticos. López Obrador lembrou que “México e Argentina são nações irmãs”, enquanto Fernández prometeu “um novo plano para tirar milhões de latino-americanos da pobreza”. Fernández já vinha se concentrando em outros parceiros, como a Bolívia, que elegeu para a Presidência no ano passado o candidato de Evo Morales, Luis Arce; e possivelmente o Equador, onde um aliado de Rafael Correa, Andrés Arauz, tem grandes chances de vencer o segundo turno em 11 de abril.
Contexto: Sem citar Bolsonaro, Fernández diz ter ‘plena consciência’ de que haverá mudança política no Brasil.
— A Argentina sempre teve uma agenda regional, principalmente durante os governos peronistas. Agora, Fernández tem trânsito não só com governos afins, mas com vizinhos de centro-direita com os quais tem necessidade de se relacionar, caso do Chile e do Uruguai — explica a professora Monica Hirst, da Universidade Di Tella da Argentina. — Mas, ao mesmo tempo, nem Argentina nem o México estão em condições, juntos ou separadamente, de levar adiante um processo de retomada de uma agenda política regional de maior impacto. A ausência do Brasil, que pratica hoje uma política de má vizinhança exacerbada durante a pandemia, produz um vazio na região que é muito difícil de preencher.
A visita teve como pano de fundo a colaboração entre os dois países e a AstraZeneca na produção de cerca de 200 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19, que serão produzidas na Argentina, embaladas no México e vendidas para países da região — Fernández esteve no laboratório Liomont, onde o imunizante será embalado.
O ponto alto foi a publicação, na quarta-feira, de um documento conjunto que inclui acordos comerciais e estratégias para enfrentar a pandemia e reestruturar a economia regional depois da crise sanitária. “A pandemia da Covid-19 pôs em evidência a importância de manter a América Latina e o Caribe fortes, unidos e solidários, onde nenhum país da região esteja excluído do acesso universal, justo, equitativo e oportuno a medicamentos, vacinas e suprimentos médicos”, diz o documento.
O Brasil sim poderia estar fabricando um número superior de vacinas e eventualmente liderar um processo de compras regionais, mas nem sequer consegue coordenar as ações internamente. Com isso, outros agentes da região, e também de fora, como China e Rússia, vêm fazendo esse papel, aprofundando ainda mais sua presença na América Latina.
Os últimos movimentos de AMLO, como é conhecido o presidente mexicano, e a parceria com Fernández evidenciam ainda uma mudança de tom em relação ao discurso negacionista que ele tinha no início da pandemia, quando chegou a ser comparado a Bolsonaro. Para Dawisson Belém Lopes, professor de política internacional da UFMG, a união em prol da vacinação pode efetivamente ajudar na recuperação da imagem dos líderes.
— Fernández tem usado diplomaticamente, de maneira hábil, o contexto atual para alavancar o papel da Argentina. O próprio AMLO, que foi um negacionista e antivacina, entendeu as recompensas políticas potenciais que uma vacinação ampla e rápida da população pode trazer, não só para a recuperação econômica, de setores como o turismo como para a melhoria das condições sociais e sanitárias. Ao se apoiarem, eles conseguem agradar suas populações. No contexto da pandemia, política externa e política doméstica são a mesma coisa rigorosamente.
Fármacos foram transportados às nações do bloco em caminhões que partiram de fábrica na Bélgica; profissionais de saúde e idosos são os primeiros da fila.
As primeiras doses da vacina da Pfizer contra o coronavírus chegaram neste sábado, 26, a hospitais de diversos países da União Europeia, como França, Espanha e Itália. A campanha de imunização no bloco terá início do domingo.
As doses do fármaco foram transportadas em caminhões frigoríficos que partiram da fábrica da Pfizer em Puurs, no nordeste da Bélgica, e são escoltadas por forças de segurança.
A vacinação com o imunizante da Pfizer já começou em países como Estados Unidos, Reino Unido, Suíça, Costa Rica, México e Chile. A Rússia vacina sua população com a Sputnik V, imunizante produzido no país.
As primeiras doses serão aplicadas principalmente em profissionais da saúde e idosos. Cada país europeu estabelecerá suas prioridades.
Na Itália, a primeira vacinada será uma enfermeira de 29 anos de um hospital de Roma. Na região norte também será imunizada Annalisa Malara, a médica que identificou o paciente zero do país.
Na França, as primeiras doses serão aplicadas em duas casas de repouso.
“Esta vacina é a chave que permitirá que retomemos as nossas vidas. Esta notícia deve nos animar”, disse o ministro alemão da Saúde, Jens Spahn, neste sábado.
Fala de Paulo Guedes sobre colapso da economia brasileira também contribuiu para a alta da moeda.
O dólar fechou mais uma vez em alta contra o real, nesta quinta-feira, 7, após Comitê de Política Monetária reduzir a taxa básica de juros Selic em 75 pontos base, para 3% ao ano. O corte foi mais agressivo do que o de 50 pontos base que o mercado aguardava. Com isso, o dólar comercial subiu 2,4% e encerrou cotado a 5,840 reais, batendo um novo recorde de fechamento. O dólar turismo avançou 2,5%, a 6,08 reais.
Por volta das 11h, o movimento de alta chegou a se intensificar, após o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmar que a economia brasileira “está começando a colapsar” devido ao coronavírus. Na máxima, a moeda americana tocou os 5,872 reais e bateu o recorde intradiário.
“O ponto é que os juros em queda, além de não serem efetivos no combate à crise, estão cobrando um preço alto no câmbio”, afirmou, em nota, André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos.
“O corte de juros acaba desvalorizando a moeda local. E mais do que isso, eles deixaram em aberto um novo corte de 75 pontos base para a próxima reunião”, afirmou Jefferson Ruik, diretor de câmbio da Correparti. Caso isso ocorra, a mínima histórica da taxa de juro seria renovada para 2,25% ao ano. “Se cortar, o Brasil passa a ter juros reais [que desconta os efeitos inflacionários] negativos, aí o investidor sai do país”, disse.
Embora possa acelerar a atividade econômica, o corte de juros tende a diminuir a atratividade de títulos brasileiros frente aos de outros países que pagam retornos maiores, como o México e a Turquia, com taxas de juro de 6% e 8,75%, respectivamente.
Na atual taxa de juros, Ruik já não vê mais chance de entrada de dólares por meio de operações de carry trade, que visa tomar dinheiro em economias com taxas de juro menores e aplicar em países que pagam retornos maiores. “O carry trade nem existe mais. Mas a atual taxa assusta os [investidores estrangeiros] que já estão aqui, e vão embora”, afirmou.
A CELAC foi criada em 2010 como forma de unir a América Latina e o Caribe em contraponto ao poderio dos Estados Unidos na região e teve o ex-presidente Lula como um dos principais articuladores.
Criada em 2010 como uma espécie de Organização dos Estados Americanos (OEA) “paralela”, com a presença de todos os países das Américas menos Estados Unidos e Canadá, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) é o novo alvo do presidente Jair Bolsonaro. O ex-capitão teria comunicado na terça-feira (15) que o Brasil vai deixar a organização.
Segundo reportagem de Eliane Oliveira, do Jornal O Globo, o governo brasileiro justificou a posição de deixar a CELAC dizendo que há “ditaduras” no bloco, em referência a Cuba e Venezuela. A postura repete a retórica inflamada que o governo têm adotado na política externa.
A decisão de Bolsonaro demonstra ainda que o país busca estar cada vez mais subserviente aos interesses dos Estados Undos na política mundial. A CELAC surgiu exatamente como uma forma de contrabalancear a hegemonia estadunidense na América Latina e no Caribe, representada institucionalmente pela OEA.
A formação do bloco veio logo após a experiência bem sucedida na criação da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), que hoje encontra-se em avançado processo de desmonte após a saída de mais da metade dos membros. Capitaneada pelos ex-presidentes Lula, Felipe Calderón, do México, e Hugo Chávez, da Venezuela, a CELAC previa aumentar as trocas entre os 33 países da América Latina e do Caribe.
Caso a retirada do Brasil se confirme, ele será o primeiro a debandar oficialmente do projeto de integração que não havia sofrido o mesmo baque que a UNASUL.
Na última quarta-feira o México assumiu a presidência temporária do órgão e o governo de Andrés Manuel López Obrador prometeu “repensar o futuro do bloco e avançar em diferentes projetos em comum”. “O objetivo da presidência do México na CELAC é promover projetos de interesse comum a todos os países que pertencem à organização”, disse. Representantes de 29 dos 33 países estiveram presentes na posse dos mexicanos.
No Brasil, genocídio iniciado em 1500 se estendeu até os anos 1900, quando começam a surgir políticas com intenção de impedir ou diminuiu a mortandade.
“O Maior Genocídio da História da Humanidade — mais de 70 milhões de vítimas entre os povos originários das Américas – Resistência e Sobrevivência”. Tudo isso é o título da capa do livro de Marcelo Grondin e Moema Viezzer, editado por Princeps, em Toledo, Estado do Paraná, em 2018.
Viezzer e Grondin, na apresentação do livro, citam documento que assegura que a invasão européia nas Américas, desde 1492, provocou um extermínio entre 90 e 95% da população total. Assustados com esses dados foram, pesquisar e chegaram à conclusão de que a conquista e ocupação territorial pelos europeus provocou ao longo dos séculos, cerca de 70 milhões de mortos. Sem dúvida, o maior genocídio da história da humanidade.
No México, foram assassinados 20 milhões, nos Estados Unidos, 18 milhões, nos países andinos foram mais de dez milhões, no território brasileiros mais de quatro milhões. Todas essas mortes foram por massacre provocado por tropas militares, enfermidades, fome, trabalho forçado, castigos corporais em regime de escravidão, deslocamentos para lugares inóspitos.
Extermínio nas ilhas caribenhas
A conquista teve início com os espanhóis nas ilhas do Caribe, a partir da ilha que batizaram como La Hispaniola, hoje República Dominicana e Haiti, habitada na época por pelo menos um milhão de pessoas. É Bartolomé de las Casas, padre espanhol que acompanhava a expedição, quem descreve o que presenciou:
“…saiu com seu séquito preparado para a guerra, levando com ele Bartolomeu Cólon, seu irmão, e entrou em La Vega (aldeia) onde havia muita gente reunida, dizem alguns que eram 100 mil homens. Ali avançaram com suas espadas e lanças seus cães bravíssimos e o impetuoso poder dos cavalos, cortando os índios como se fossem manadas de aves ou ovelhas encurraladas, deixando uma grande multidão de gente feita em pedaços para os cães, patas de cavalo e espadas. Àqueles que ainda se mantinham vivos, que ainda era uma multidão, condenados a ser escravos” (LAS CASAS, 1951, I, p 414 – citado por Viezzer e Grondin).
Ali onde havia uma cultura florescente, harmonizada com a natureza, os espanhóis roubaram as terras, impuseram métodos de governo e de trabalho, este como melhor meio para explorar as pessoas, como foi o método da encomienda, divisão, em todo o mundo hispânico, conhecido como a meia, terça ou cambão no mundo lusitano.
Morria muita gente no duro trabalho nas minas ou nas plantações. Não estavam acostumados ao trabalho de quebrar pedra para retirar o minério. Paralelamente, as enfermidades europeias que se transformavam em epidemias dizimaram povos inteiros.
Em La Hispaniola, em 1492, havia um milhão de habitantes. Em 1514, só 14 mil. E essa hecatombe se repetiu nas demais ilhas… Jamaica, Porto Rico, Cuba. Os tainos, habitantes dessas ilhas desapareceram do mapa.
México maior que qualquer cidade da Europa
No México, os espanhóis chegam em 1519 e encontram uma civilização mais avançada do que a dos conquistadores. Nos 30 primeiros anos da conquista (1519-1548) foram mortos 20 milhões de habitantes. De 25 milhões de pessoas em 1519, foram reduzidos a 1,7 mil em 1605. Hoje o México ainda tem uma população indígena majoritária que continua na luta por sua libertação.
Nas guerras de independência dos povos sob o jugo da coroa espanhola também foram os povos originários os que deram suas vidas com esperança de que teriam uma situação melhor. Sem chance.
O saqueio das riquezas minerais é incalculável
A conquista dos povos andinos, que estavam sob o domínio do império Inca, com organização própria de Estado e de produção, teve início em 1532. Ouro e prata abundantes enlouqueceram os europeus. Todos queriam ficar ricos rapidamente e isso a custo da vida dos povos nativos.
“Entre 1503 e 1650 desembarcaram no porto de Sevilha 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata. A prata levada de Potosi para Espanha em pouco mais de um século excedia três vezes o total das reservas europeias. E essas cifras não incluem o contrabando”. (GALEANO, 2014, p. 43 – citado por Viezzer e Grondin).
Quando os espanhóis chegaram, em 1500, o Tawantinsuyo tinha 15 milhões de habitantes, e em 1620, um milhão. Só nas minas de Potosi, foram oito milhões de mortes. Nos anos 1700, com a criação dos vice-reinos, os incas, cansados de exploração, se sublevaram, o que provocou aumento da mortandade.
O papa Paolo III, preocupado com tanto morticínio, editou uma bula em que considerava os índios como seres humanos e que, por isso, deviam ser batizados. Isso em nada mudou a relação com os conquistadores. Ao contrário, colocou igreja e religião como armas da conquista e consolidação da colônia.
No Brasil o genocídio ainda não terminou
No Brasil de 1500, com a chegada dos conquistadores portugueses, havia uma população nativa de 4 a 5 milhões de habitantes. A coroa portuguesa distribuía terras sem limites à nobreza e membros da corte, criando desde os primeiros assentamentos, o latifúndio e a cultura de terra arrasada.
Os bandeirantes organizavam expedições armadas para capturar indígenas para o trabalho escravo e no avanço da ocupação os confinam em reduções e aldeias sob controle do poder colonial.
Esse genocídio sem controle iniciado em 1500 se estendeu até os anos 1900, quando começam a surgir políticas com intenção de impedir ou diminuiu a mortandade. A partir da República surgem novas ameaças com as extensões das ferrovias e rodovias e a expansão predatória da fronteira agrícola, seguida dos processos de ruralização e urbanização, com adensamento da população branca resultado da promoção da imigração de europeus. População branca adversa, que raramente aceitavam conviver com a população indígena e negra. Em muitos centros urbanos a população de negros escravos ou libertos era maior do que a dos colonos brancos.
Houve guerra, diz a história, mas na verdade foi resistência e massacre pela incomparável disparidade de força e do armamento utilizado pelos invasores das terras.
Em 1910, o governo, por iniciativa do marechal Cândido da Silva Rondon, descendente de índios, em tarefa de demarcação das fronteiras, criou o Serviço de Proteção do Índio (SPI) e reservas florestais protegidas para sobrevivência das aldeias. Em 1967, em plena ditadura militar, o SPI foi substituído pela Fundação Nacional do Índio (Funai). A trajetória dessas duas organizações oscilava entre proteger os indígenas e favorecer os proprietários fundiários na expansão dos latifúndios.
Nos primeiros anos dos 1900, na pequena e provinciana capital de São Paulo ainda se falava nhenhen catu, a língua geral tupi-guarani. Nesse início do século 20, os livros de geografia indicavam que a partir de Bauru, no centro-oeste paulista, eram terras desconhecidas habitadas pelos indígenas. De fato, eram botocudos, tupi-guarani majoritariamente. Esse território ia até as barrancas do Rio Paraná e, do outro lado do rio, ao Sul, tribos da etnia guarani e, ao Norte, xavantes.
Foi Vargas quem abriu as terras de Mato Grosso, colindante com São Paulo, para colonização por latifundiários paulistas ou seus descendentes. Eram terras habitadas pelos guarani ao Sul e xavante ao Norte. Os indígenas foram obrigados a se deslocar para terras virgens e florestas inóspitas do Centro-Oeste e do Norte.
Nos anos 1950 essa fronteira agrícola se estendeu pelo Norte e Oeste do Paraná, Oeste de Santa Catarina. Na década seguinte, continuou a expansão da fronteira agrícola em direção Oeste e começou a ocupação da Amazônia, projeto da ditadura militar, com abertura de estradas (transamazônica), assentamentos e matança dos povos originários. Em outra década mais e a fronteira se estendeu pelo Sul do Pará e do Maranhão, Oeste e Norte de Goiás, Norte de Mato Grosso.
Tudo isso se faz ao custo da vida dos povo originários e ribeirinhos, dos quilombolas, posseiros, e também ao custo do desmatamento, contaminação de rios, perda de mananciais. Há um dramático documentário feito pela Televisão italiana, Rai, que mostra brancos metralhando aldeias e jogando roupas contaminadas para envenenar os índios.
Essa é a história da invasão europeia (chamada civilização ocidental e cristã) que continua perpetuada pelos descendentes dos primeiros colonizadores e pelos imigrantes que lhes seguiram os passos no transcorrer desses cinco séculos. Massacre contínuo das populações e destruição predatória da natureza, praticada também até mesmo pela população não tão branca por força da mestiçagem. Essa é a história da expansão das fronteiras agrícolas no século 21, sem que se tenha visto vontade de mudar. Entra governo sai governo, continua tudo na mesma.
Como ocorre a expansão da fronteira agrícola
Como regra, o governo libera áreas de terras da União para uma empresa de colonização. É quem processa a divisão em lotes, que serão vendidos para agricultores e pecuaristas, prevê caminhos e centros urbanos para oferta de serviços. Os primeiros que entram na área são as madeireiras. Derrubam a floresta, vendem as toras para a indústria madeireira e também para os fazedores de carvão. No Brasil do século 21 ainda há fundições que utilizam carvão vegetal.
Os assentamentos e o movimento nessas áreas logo atraem os grileiros para ocupar as terras ao redor. Também é muito comum o tipo que compra uma fazendo os alqueires rapidamente dobrar ou triplicar o tamanho ocupando terras públicas ou de posseiros.
Nas décadas de 1940/50, no Norte do Paraná, derrubaram a Mata Atlântica, mataram os povos nativos e plantaram café. Hoje essa região está transformada em um mar de soja a perder-se no horizonte.
Hoje a expansão predatória se faz principalmente fazendo pasto ou semeando grãos (soja, milho, algodão, amendoim, sorgo). O Brasil tem hoje o maior rebanho bovino do mundo com 220 milhões de cabeças; e já ultrapassou os Estados Unidos em produção de soja.
A modernização da agricultura extensiva de grão para exportação em nada melhorou a vida das populações em geral. Ao contrário, aumentou as desigualdades sociais, ampliou enormemente o abismo entre a pobreza e a riqueza e obriga os brasileiros a conviverem com as mudanças climáticas por conta da derrubada das florestas, contaminação dos rios e mananciais e dos defensivos agrícolas venenosos. E, como se não bastasse, o desprezo absoluto por qualquer ser vivente.
As milícias se tornaram a ponta de lança do golpe boliviano e modelo para toda a região.
Ao que tudo indica, o que está acontecendo na Bolívia de hoje não é um levante popular. Foram as milícias as responsáveis pelos atos que geraram a total desestabilização do sistema político boliviano. Nos dias que sucederam as eleições, inúmeros representantes do governo, do judiciário e dos parlamentares eleitos foram atacados em suas casas, com suas famílias, por milicianos e renunciaram aos seus mandatos. Não por pressão política, mas por violência explícita. O caso mais escandaloso noticiado pela imprensa brasileira é o da prefeita Patrícia Arce, da pequena cidade de Vinto, próxima a Cochabamba, que foi arrastada pelas ruas, agredida, humilhada e teve seu cabelo cortado. Considerou-se a sua renúncia, mas como se pode discutir renúncia nesse contexto de violência?
As milícias se tornaram a ponta de lança do golpe boliviano. E este é o ensaio – a antessala dos movimentos golpistas. México em primeiro lugar e Brasil em seguida têm a mesma estrutura da boliviana. Um misto de milicianismo messiânico invade o Estado com seus tentáculos pela ação política e o método da repressão.
O que preocupa e deve ocupar nossa atenção é o modelo. Não estamos diante dos golpes institucionais (que podem ser mais lentos e custosos) ou dos golpes militares (que têm sua legitimidade previamente questionada). As milícias podem se camuflar do clamor das ruas, são militarizadas, mas bem menos burocráticas que os aparelhos estatais e conseguem se mobilizar rapidamente. Com uma faísca política acesa é possível acionar essa estrutura de violência que tem por objetivo provocar um choque que cala a própria democracia.
Para as milícias atuarem é preciso que as forças de segurança nacional e local não atuem de forma a garantir o Estado de Direito. Dada a interpretação peculiar de que parte das forças armadas tem espaço dentro das milícias, inclusive com membros correlatos em ambas as instituições. Não existem milícias sem a leniência no Estado e sem ações de apropriação do bem público. Milícias são máfias que vendem proteção contra a violência delas próprias e com isso se apropriam de vários outros negócios onde a regulação pública não consegue ou não quer atuar.
Guardadas as devidas proporções que distanciam o tempo e o espaço, não é coisa recente o uso de grupos paramilitares para atingir objetivos políticos de grupos minoritários pelo terror contra minorias. A noite dos cristais da Alemanha Nazista é a mais conhecida ação de grupos milicianos a serviço da política contra o Estado. Numa mesma noite, casas, comércio, sinagogas judaicas foram invadidas, depredadas e a violência caracterizou a violência alemã sobre os judeus que levou cerca de 30 mil aos campos de concentração, calando qualquer oposição à política antissemita do III Reich.
O que ocorreu na Bolívia recentemente merece ser esclarecido e interpretado. O que se supõe tem respaldo na realidade? Podemos supor que o que ocorreu é uma reação espontânea ou pontual aos acontecimentos eleitorais ou ao confuso sistema de contagem de votos boliviano em reação a um quarto mandato de Evo Morales? Ou é uma ação orquestrada de desestabilização política para forçar um golpe de Estado que tem traços fascistas?
Isso pode ter efeito diverso. Supondo que temos mais indícios de que a segunda hipótese é mais consistente que a primeira, o que provocou toda a instabilidade política foi uma ação paramilitar de um grupo organizado que estava às margens do Estado que foram acionadas por líderes que não querem usar os mecanismos legais disponíveis para questionar os procedimentos e antecipar qualquer movimento para controlar a decisão – portanto, é absolutamente antidemocrático.
Somando-se a esse fato, podemos argumentar que as forças progressistas já estão derrotadas. Supondo que na Bolívia a situação retome a normalidade e os radicais sejam afastados do poder, mesmo assim, não será Evo Morales que retorna com poderes presidenciais, mas retoma o neoliberalismo radical que ampliou as desigualdades sociais e fortaleceu os super-ricos como caminho intermediário ou moderado (esse é o ponto, os milicianos levam a situação ao absurdo tão exagerado, que o absurdo econômico se torna razoável).
A mesma agenda que foi derrotada nas urnas no início do século e novamente se encontra em plena derrocada é a que sustenta silenciosamente as atrocidades bolivianas. Porque assim como a insatisfação popular generalizada está ligada à ampliação da desigualdade social e a transferências da crise de 2008 aos mais pobres, a reação miliciana travestida de religiosidade está ligada ao fortalecimento do neoliberalismo e do status quo através de uma categoria social que quer oprimir minorias e pautas progressistas.
Nesse sentido, o neoliberalismo triunfando na Bolívia, mesmo que Macho Camacho não se torne o presidente, a retomada da estabilidade na Bolívia passa pelo reconhecimento antidemocrático do neoliberalismo. E o antidemocrático neste caso tem efeito direto no empobrecimento do povo e no enriquecimento de uma restrita elite.