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Moro pariu dois ratos, Bolsonaro e ele

Foi muito ingênuo quem imaginou que Moro, em seu depoimento à PF e MP, produziria um vendaval revolucionário. Moro é suficientemente frio para não cair nessa. Ele, por autodefesa, preferiu dar um banho de gato em Bolsonaro ou, do contrário, denunciaria sua própria gestão.

Ninguém precisa de uma inteligência tamanha para saber que não se solta rojão dentro de um container ou um buscapé na sala de visitas.

Moro e Bolsonaro estão intrinsecamente alinhados de tal forma em suas histórias recentes que um não tem como dar um passo largo sem o risco dos dois caírem. É como alguns palhaços de circo que usam bonecos amarrados aos pés para dançarem juntos.

A relação de Bolsonaro com Moro é uma cópia daquilo. Qualquer passo em falso no depoimento de Moro, pisaria numa mina e explodiria junto com Bolsonaro. Portanto, preferiu usar a tática cirúrgica da casca de banana. Então, Moro soltou a frase derradeira que se transformou em bordão da mídia, entregando o que disse Bolsonaro “que das 27 superintendências da PF, ele só queria uma, a do Rio.”

E Bolsonaro, burramente, mordeu a isca, não conseguiu segurar um dia sequer sua ansiedade para trocar o chefe da PF e, imediatamente, a portas fechadas em solenidade instantânea de posse, fez o que mais desejava, tirar do seu caminho alguém que estava criando uma verdadeira barreira para os seus planos de avanço no porto de Itaguaí, mas principalmente alguém que sabe muito sobre a milícia que atua, com sua família, nesse mesmo porto. Ou seja, há um novelo nessa questão que envolve, sobretudo a milícia de Porto das Pedras, coisa que até as pedrinhas do fundo do mar sabem. O que falta são os pontos que ligam os fatos.

Moro, que carregou até aqui, através de uma gigantesca publicidade da Globo, a imagem da estátua patriarca do combate à corrupção, não chamaria para si a responsabilidade de explicar a sua não atuação no combate à milícia durante todo o período que ficou no ministério da Justiça e Segurança Pública, muito menos traria novamente a imagem viva de Queiroz que, depositando na conta de Michele Bolsonaro, logo no primeiro escândalo revelado pelo Coaf, em que Moro achou satisfatória a explicação de Bolsonaro de que Queiroz apenas devolvia o empréstimo que fez com ele, como também não diria que deu uma prensa no porteiro para mudar a versão do seu Jair da casa 58. Menos ainda diria que se sacudiu como pôde para livrar Flávio Bolsonaro de uma série de acusações que desembocam no mesmo ponto, na milícia.

Enfim, Moro não diria nada que representasse contra Bolsonaro um tiro no próprio espelho. Bobo é quem imagina que ele não veio medindo todos os passos que daria quando saísse do ministério.

Moro pode ser burro, mas sabe muito bem jogar com a opinião pública e dar alimentos suficientemente fortes para apontar o caminho de um crime ou o de uma especulação que produza comoção nacional.

O problema de Bolsonaro não está na declaração de Moro, mas num amontoado de circunstâncias extremamente graves que cercam, por exemplo, o caso de Marielle que foi assassinada por Ronnie Lessa, seu vizinho no condomínio Vivendas da Barra.

O que Moro revelou em seu depoimento sobre a interferência de Bolsonaro apenas e unicamente na PF do Rio, sendo bastante didático ao afirmar que Bolsonaro só tem interesse nessa superintendência, mas que também trouxe, no pacote, a casa de Ronnie Lessa que está a 50 metros da casa de Bolsonaro, para compor o conjunto arquitetônico da casa 58 do seu Jair.

E por que Moro fez isso? Porque não foi ele que colocou para morar no condomínio de Bolsonaro o assassino de Marielle, muito menos foi Moro quem amarrou a sociedade entre Ronnie Lessa e Adriano da Nóbrega no escritório do crime, o mesmo Adriano, considerado o patrão da milícia de Rio das Pedras. Daí o que remete novamente ao porto de Itaguaí e também ao gabinete de Flávio Bolsonaro e ao próprio Queiroz, porque o desaparecido costuma se esconder em Rio das Pedras. Queiroz era o homem que não só fazia o serviço de coleta do esquema de rachadinha, como também a ponte entre o gabinete e a família do miliciano morto na Bahia.

Tudo isso e mais alguma coisa que se sabe e que não se sabe, Moro usou contra Bolsonaro, como um elefante numa loja de cristal.

E o que faz Bolsonaro? Vestiu a carapuça de elefante de uma maneira totalmente espalhafatosa e, no primeiro ato, troca o superintendente da PF do Rio, confirmando o que Moro denunciou e trazendo para si um monumento de evidências de sua relação, assim como a de seus filhos, com a morte de Marielle. Tanto isso é verdade que ontem, sem ninguém acusar, Bolsonaro fala que “estão tentando colar a morte de Marielle em mim e em meu filho, Carlos.

Isso, no barato, já que, como se sabe, treze celulares de Adriano da Nóbrega seguem sendo periciados pela mesma polícia que periciou os de Ronnie Lessa, o que levou à descoberta de que ele, além de assassino de Marielle, era o maior traficante de armamento pesado do Rio de Janeiro. Isso mesmo, o maior traficante de armas do Rio de Janeiro, que abastecia a cúpula da bandidagem carioca era vizinho de Bolsonaro que nem sabia disso e também que Lessa era o fornecedor de armamento pesado das milícias da Zona Oeste do Rio, em que Adriano da Nóbrega era o homem forte.

Os detalhes do que Moro disse na PF, que alguns esperavam, não estavam em seu depoimento, mas no trançado que a polícia já fez sobre o vizinho de Bolsonaro com as milícias que participavam do esquema do gabinete de Flávio Bolsonaro, arregimentado pelo braço direito de Bolsonaro, há mais de trinta anos, o popularmente conhecido como “cadê o Queiroz?”.

Por isso também Moro pariu dois ratos, Bolsonaro e ele próprio, porque, com seu depoimento cirúrgico, mostra como ele implicaria Bolsonaro, ou seja, como ele tinha conhecimento de toda a trama que envolve o clã e como foi criminosamente omisso, muitas vezes ativamente, para proteger o patrão e a família enquanto lhe interessava.

Resta saber se, diante de um portfólio desse, o STF investirá somente sobre Bolsonaro ou se seu cúmplice Moro sairá junto, mesmo que seja no canto da mesma foto.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

 

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Vídeo: Bolsonaro desmonta o Inmetro para facilitar a venda combustíveis adulterados

Se há um objetivo claro nos arroubos de Bolsonaro, qual o motivo de taxar de idiota sua atitude de tentar acabar com o Inmetro? É pela supina ignorância de não entender a relevância do Inmetro para a economia brasileira.

Não interprete a ofensiva de Jair Bolsonaro contra o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia) como apenas uma demonstração a mais de ignorância sólida. Há um objetivo disfarçado em todos esses movimentos, que é abrir espaço para a ampliação do crime organizado.

Foi assim nos episódios em que tentou tirar fiscais da Receita do porto de Itaguaí, depois de recordes de apreensão de contrabando, pois é a porta de entrada no país não apenas de contrabando comum, mas de armas.

Foi assim também no decreto que facilitou a vida das vaquejadas, campo preferencial de lavagem de dinheiro das milícias.

E foi assim com o Inmetro.

Não foi apenas uma demonstração a mais de imbecilidade a afirmação de Bolsonaro que ‘implodiu’ o Inmetro e mandou ‘todo mundo embora’.

Só um completo imbecil para não entender a importância de um órgão de metrologia nas economias modernas. Mas um imbecil com objetivo, que não foi o de aliviar a vida dos caminhoneiros, ante as novas exigências do órgão.

O busílis da questão está no seguinte trecho da reportagem de O Globo:

Bolsonaro ainda criticou um plano do órgão para determinar a instalação de chips em todas as bombas de combustíveis no país para coibir fraudes.

Esse é o ponto.

Há um conjunto de atividades clandestinas utilizadas por organizações criminosas ou pelo chamado lúmpem do empresariado. São os que exploram nichos como bingo, manicômios, clínicas psiquiátricas, escolas para deficientes e, no caso das milícias, transporte público, construções irregulares em áreas de preservação, venda de gatos e de gás, venda de proteção privada, adulteração de combustíveis e de cigarros.

A falsificação de combustíveis é mais forte de todas as atividades criminosas.

Vá para a home de O Globo. No mesmo espaço em que Bolsonaro fala sobre o Inmetro, há o banner principal, do patrocinador oficial do carnaval carioca, a Refit, antiga Refinaria de Manguinhos, envolvida até o pescoço com Eduardo Cunha. Trata-se de uma refinaria sem nenhuma indicação que continue refinando petróleo. Há anos é suspeita de ser o polo central de venda de sonegação de combustíveis, e atuando impávida, graças a uma blindagem ampla e irrestrita inclusive do Judiciário.

Meses atrás um desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro me condenou a R$ 20 mil de multas por “difamar” Eduardo Cunha. A matéria em questão falava justamente do envolvimento dele com a refinaria.

Se há um objetivo claro nos arroubos de Bolsonaro, qual o motivo de taxar de idiota sua atitude de tentar acabar com o Inmetro? É pela supina ignorância de não entender a relevância do Inmetro para a economia brasileira.

O Inmetro é essencial para todas as exportações brasileiras, de industrializados ao agronegócio. Cabe a ele fiscalizar todos os laboratórios de certificação. E a certificação é peça essencial nas exportações. É através da certificação que o exportador sabe quais as especificações técnicas e legais de cada país para onde pretende exportar. É o certificado do Inmetro que assegurará sua entrada em economias avançadas, sem risco de barreiras técnicas no caminho. É a certificação que permite o fortalecimento das pequenas e médias empresas, para produzir componentes adequados para empresas maiores.

No caso do agronegócio, é a certificação de origem que dá ao comprador a garantia de produtos isento de doenças ou de crimes ambientais, ou mesmo produtos de marca da região.

É o Inmetro que define padrões de instalações elétricas, de carros, de instrumentos de saúde.

Por tudo isso, Bolsonaro, o imbecil, terá que recuar mais uma vez de sua imbecilidade. Mas deixa a marca da ação pertinaz em favor da economia do crime.

Pergunto: até quando permitirão esse desmonte da economia e todos esses passos para fortalecimento do crime organizado?

 

*Luis Nassfi/GGN

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Cerco se fecha e Bolsonaro se comporta como um psicopata em estado de cólera

São claros os sinais de que Bolsonaro perdeu muito território nesta última semana, mais precisamente nos últimos 15 dias.

As milícias associadas de Rio das Pedras e Muzema tiveram 30 chefões do núcleo econômico, ou seja, do principal núcleo preso numa operação do Ministério Público e Polícia Civil carioca. Tudo indica que, com o assassinato de um policial federal pela milícia em Campo Grande, RJ, a PF vai entrar no jogo de uma maneira muito mais dura para dar uma resposta à altura do assassinato de um dos seus agentes.

Sabe-se que a maior e mais forte milícia do Rio, atualmente, é a do Rio das Pedras, até porque está associada à outras que comandam boa parte da Zona Oeste, assim como a Baixada Fluminense, com o intuito de dominar o porto de Itaguaí.

Mas, com as perdas dos poderosos chefões de Rio das Pedras e Muzema, o projeto dessas milícias ficou manco. Tudo indica que o Ministério Público do Rio e Polícia Civil carioca seguirão avançando nas investigações e ações contra os principais chefes das milícias.

Foram eles que descobriram que Adriano da Nóbrega não era propriamente um miliciano comum, era muito pior, por comandar o escritório do crime e fazer vários serviços para as milícias da Baixada, foi ele quem costurou uma irmandade entre elas, formando um corredor com interesses comuns na região.

O segundo fato que pesa contra Bolsonaro, são os 13 celulares encontrados com o miliciano morto. Um delegado da PF disse que os celulares têm muito mais o que falar do que se Adriano tivesse sido capturado vivo.

Em outra ponta do tsunami, que se avoluma contra Bolsonaro na parte criminal, é a CPMI da fake news que fez um cerco em torno de Hans River, um dos operadores da rede criminosa de disparos de fake news nas redes durante as eleições de 2018, que trabalhou para Bolsonaro, que, sentindo-se acuado, viu-se obrigado a mentir descaradamente e, pior, fez um ataque asqueroso contra a jornalista Patrícia Mello, da Folha de S. Paulo, que gerou reações em cadeia no Brasil inteiro contra ele e, consequentemente contra quem o contratou.

Para piorar, Eduardo Bolsonaro quis ser mais malandro do que o malandro Hans River e dobrou a aposta de insultos baixos contra a jornalista, o que pode lhe custar a cabeça na CCJ.

Isso proporcionou uma reação imediata do comando da CPMI, convocando novamente Hans para esclarecer todas as mentiras apuradas pela comissão, com o claro risco de o depoente sair algemado da sessão, contando a verdade ou dobrando a aposta nas mentiras, ou seja, o sujeito está entre a cruz e a caldeirinha. Com isso, ele pode arrastar Eduardo Bolsonaro para o mesmo rodamoínho.

Soma-se a isso tudo a perda de capilaridade de Bolsonaro no meio de seu próprio eleitorado, mas principalmente no mercado que não gostou nem um pouco dos resultados pífios da economia apresentados pelo IBGE, a disparada do dólar com recordes de aumento e, sobretudo, as declarações atabalhoadas de Paulo Guedes, escancarando que ele não tem a mínima noção do funcionamento da economia brasileira e, muito menos, como vai lidar com a crise que se instalou. Com isso, ele se revela mais charlatão do que Olavo de Carvalho, considerado hoje o principal mistificador da cena política no país.

São fatos que levam Bolsonaro a ter ataques de cólera e a se cercar de militares e evangélicos, no mesmo passo em que confessa que sua relação com Queiroz e a milícia, via Adriano da Nóbrega, não tem nada a ver com os filhos, mas com ele próprio. E ainda diz que está pronto para enfrentar essa responsabilidade e que os filhos são meros fantoches de seu projeto macabro de poder.

Agora, é conferir os próximos capítulos que prometem ser ainda mais azedos para Bolsonaro.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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A obsessão de Bolsonaro pelo Porto de Itaguaí

O presidente Jair Bolsonaro conseguiu em pouco tempo abalar três das principais instituições encarregadas de prevenir, investigar e coibir crimes de corrupção, evasão fiscal e lavagem de dinheiro. Sua intervenção na sucursal fluminense da Polícia Federal pôs o ministro da Justiça, Sergio Moro, e o diretor geral da PF, Maurício Valeixo, em maus lençóis. Exigências muito peculiares de remoção dos funcionários da Receita Federal no porto de Itaguaí e na Barra da Tijuca provocaram início de rebelião geral na cúpula do órgão e a demissão do subsecretário João Paulo Ramos Fachada. Bolsonaro mais uma vez se imiscuiu no Coaf e o transferiu para o Banco Central, prometendo blindá-lo da “política” com funcionários de carreira, sem cumprir a promessa. E demora para substituir o Procurador-Geral da República, pois está em busca de alguém que não seja “xiita” em relação ao ambiente e a outros temas de seu repertório de obsessões.

Ao fazer uma virulenta campanha eleitoral contra a corrupção, quem votou no presidente poderia esperar que ele esteja fazendo uma reorganização geral do aparato anticorrupção visando um ou mais objetivos que o conduza a exercer melhor suas funções:

Aprimorar as estruturas da Polícia Federal e da Receita, de forma a torná-las mais eficientes e mais transparentes;

Sofisticar os instrumentos de investigação de crimes do colarinho branco, lavagem de dinheiro, rastreamento dos recursos das organizações criminosas etc;

Melhorar o cerco nas fronteiras à entrada de drogas, contrabando de cigarros e mercadorias, especialmente armas;

Fazer com que esses órgãos possam dispor da melhor tecnologia para vigiar aeroportos, fronteiras secas e portos e equipamentos de detecção de drogas, armas, fugitivos da Justiça, imigrantes ilegais dedicados à criminalidade etc;

Facilitar a especialização e dotar de recursos necessários as forças-tarefa encarregadas de combater o crime organizado e a corrupção;

Agilizar os processos entre a identificação de crimes de evasão fiscal, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, pedofilia e as providências legais, reduzindo

a burocracia e aperfeiçoando a legislação;

Equipar a Receita e a Polícia Federal com o estado da arte da tecnologia para combater fraudes financeiras, transferência de recursos ilegais, rastreamento eletrônico de operações suspeitas com instituições financeiras;

Promover a transparência possível nas ações da Receita e de outros órgãos encarregados da repressão a desvio de recursos públicos e evasão fiscal, tornando públicas as ações desenvolvidas, os resultados obtidos em cada etapa e as providências cabíveis para sua prevenção;

Estabelecer uma política de tolerância zero em crimes contra o patrimônio público, como corrupção, suborno, acobertamento de ilícitos e assemelhados;

Criação de sistemas para proteger servidores públicos e cidadãos que denunciem de boa-fé atos de corrupção.

Bolsonaro, porém, não parece preocupado com nada disso, mas com algo bem diferente. Antes de tudo, quer impedir que os órgãos que investigam os supostos malfeitos de seu filho, Flavio — suspeito de rachadinha de salários com funcionários de seu gabinete e de ligações com as milícias — desempenhem seu papel a contento. Esse foi o objetivo do anúncio da substituição do superintendente da PF no Rio, Ricardo Saadi, e da tentativa de imposição de um substituto. Bolsonaro se irrita apenas com a corrupção “dos outros”.

Mais incisiva e pública foi a atuação do presidente ao queixar-se de “devassa” da Receita contra si e seu irmão Renato Bolsonaro, um exagero notório — a Receita cobrava apenas parcela não paga de baixo valor sobre um parcelamento em curso. E definitivamente estranha foi a pressão para remover o delegado da Receita no porto de Itaguaí, na qual há um sujeito oculto, o “entorno do presidente”. Não se sabe qual o interesse do Planalto ali. O delegado José Nobrega de Oliveira fez uma limpeza nas operações de Itaguaí, região controlada pelas milícias, de onde seguem drogas para a Europa e entram armas.

Na maior parte das ações desorganizadoras do aparato de Estado estão motivos pessoais de Bolsonaro, em contrariedade à impessoalidade que a Constituição exige de um presidente. A insistência nesse caminho, no qual já foi longe, deverá lhe trazer graves problemas institucionais.

 

*Do Valor Econômico

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Operação requentada da Lava Jato visa desviar atenção das manobras de Bolsonaro com Receita

A Lava Jato lançou uma nova operação, em cima de notícias requentadas, visando abafar o escândalo da interferência presidencial na Receita, em clara manobra destinada a facilitar a vida das milícias que controlam a região.

A Lava Jato lançou uma nova operação, em cima de notícias requentadas, visando abafar o escândalo da interferência presidencial na Receita, em clara manobra destinada a facilitar a vida das milícias que controlam a região.

A divulgação das notícias sobre a tentativa ingerência do Governo Bolsonaro na nomeação do Superintendente da 7ª Região Fiscal (Estados do RJ e ES) e da Alfândega do Porto de Itaguaí causou perplexidade e revolta de forma geral dentro da RFB (Receita Federal do Brasil). Mas apenas aí. Como é que fica o país?

Desde 1995, não se tem notícias de nomeações políticas em Superintendências e Delegacias. Essa foi a regra nos Governos FHC, Lula, Dilma e Temer.

A nomeação por critério político limitava-se ao Secretário da RFB. A partir daí a nomeação dos Subsecretários, Coordenadores Gerais, Superintendentes Regionais e Delegados era decidida internamente.

Excetuando o cargo de Secretário Especial, os demais são privativos de auditores fiscais (servidores de carreira). A escolha dos Delegados, titulares das unidades locais (Delegacias e Alfândegas de portos e aeroportos), depende de um processo seletivo. O Superintendente deve escolher dentre os 10 primeiros colocados. Um motivo a mais para o estranhamento na tentativa de nomeação do Delegado da Alfândega do Porto de Itaguaí.

São as unidades locais que atuam diretamente em relação aos interesses dos contribuintes, seja na fiscalização, no caso das Delegacias, seja no controle da entrada e saída de mercadorias do País, no caso das Alfândegas.

Quando havia ingerência política na nomeação, as alfândegas de portos e aeroportos sempre atiçaram a cobiça dos políticos. Há 25 anos dizia-se que a Alfândega do Porto de Santos e a Alfândega do Aeroporto de Guarulhos eram feudos respectivamente dos então deputados federais Michel Temer e Valdemar da Costa Neto.

A Alfândega do Porto de Itaguaí é área de atuação das milícias. É um porto por onde saem entorpecentes com destino à Europa e entram armas no País, além de ponto de entrada de outros tipos de mercadorias ilegais, como produtos falsificados. Na atual gestão do Delegado José Alex houve ações que prejudicaram os interesses de várias quadrilhas que atuam no Porto de Itaguaí.

Portanto a tentativa de ingerência dos Bolsonaros sobre a 7ª RF deixou bem claro que era um movimento relacionado à ligação da família com as milícias do RJ. Outro indício de sua vocação para jogadas típicas de baixo clero, uma vez que a 8ª RF (SP) seria a que naturalmente atrairia a maior cobiça, por concentrar mais de 40% da arrecadação do País, e concentrar mais de 50% do movimento de comércio exterior, com o Porto de Santos e Aeroportos de Cumbica e Viracopos.

Até a semana passada essa informação a respeito do problema da 7ª RF estava restrita aos administradores de escalão superior chegando até o nível dos Superintendentes. Com o vazamento na mídia, a veracidade foi confirmada e a reação de boa parte dos Administradores seria a de entregar os cargos. Mas a informação vinda de Brasília era a de que os Subsecretários iriam resistir não aceitando esse tipo de ingerência.Por isso o movimento de entrega dos cargos foi sobrestado.

No fim de semana o Delegado José Alex postou em um grupo de whatsapp nacional dos Delegados da RFB o seu relato que viralizou, a despeito de seu pedido posterior de não divulgação por temer por sua segurança física.

No dia de ontem (19/08) veio a informação da exoneração do Subsecretário Geral auditor fiscal João Paulo Fachada e sua substituição pelo auditor fiscal José de Assis. Este último é uma incógnita, apesar de ter sido Superintendente Adjunto na 4ª RF, correspondente aos estados de PE, RN, PB e AL. Aparentemente foi indicação de um dos Subsecretários (Luiz Fernando Teixeira Nunes).

Uma informação relevante é que não haveria qualquer mudança na 7ª RF. Parecia que o Subsecretário Geral João Paulo seria sacrificado como bode expiatório para apaziguar os ânimos de Ministros do STF e outros adversários responsáveis por ataques recentes à RFB.

Ontem, foram publicadas as Portarias RFB nº 1.419 e nº 1.420 delegando várias competências ao Subsecretário auditor fiscal Luiz Fernando, transferindo para ele várias das atribuições de Subsecretário Geral. Porém na data de hoje mesmo foram assinados atos revogando essas Portarias e transferindo tais competências ao Secretário Especial Adjunto auditor fiscal Marcelo de Sousa Silva.

Ou seja, as mudanças estão em pleno andamento, sem uma direção clara ainda. Ontem os Subsecretários estariam dispostos a colocar os cargos à disposição. Mas, ao perceberem que a intenção do Governo era justamente essa, resolveram deixar o ônus para o Secretário Marcos Cintra demiti-los. E por conta de Sérgio Moro a reedição de operações requentadas da Lava Jato, visando tirar o foco do caso Itaguaí.

Até os episódios da semana passada, o Secretário Marcos Cintra era visto com indiferença dentro da RFB e um certo desprezo devido a seu caráter subserviente e bajulador do Presidente Bolsonaro (episódios como o elogio no Twitter pela intenção de nomear o filho embaixador nos EUA pegaram mal internamente). Era considerado um alienígena defensor de uma única ideia, o imposto único, mas sem nenhuma experiência de gestão, nem capacidade para gerir um órgão como a RFB.

Hoje ele é visto como um inimigo da categoria.

 

*Por Luis Nassif – GGN