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Scania incluiu trabalhadores de greve liderada por Lula na ‘lista suja’ e colocou espião em assembleias

Greve de 12 de maio de 1978 na empresa sueca foi estopim de um ciclo de outros movimentos que marcariam definitivamente o curso do país.

A Scania será sempre lembrada pela greve de 12 de maio de 1978, quando os metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema iniciaram uma greve em plena ditadura militar (1964-1985) por reajuste salarial e melhores condições de trabalho que mudaria para sempre o rumo da história brasileira. A paralisação na empresa sueca foi o estopim de um ciclo de outros movimentos que marcariam definitivamente o curso do país e, para além da reivindicação salarial, abriria caminho para uma longa jornada rumo à volta da democracia. E escancarou também a colaboração da empresa para com a repressão militar e a perseguição aos trabalhadores.

A empresa, que desde 1964 apoiara a ditadura, oferecendo seus caminhões para a campanha “Ouro para o Bem do Brasil” e teve em sua presidência um dos fundadores do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPÊS), entidade articuladora do movimento que culminou no golpe de 1964. Era João Baptista Leopoldo de Figueiredo, irmão do último presidente da República durante a ditadura civil-militar, João Baptista de Figueiredo, e conhecido como “Primo Rico”, conforme detalha o livro reportagem Repressão Sociedade Anônima, que mostra a estreita colaboração de empresas metalúrgicas multinacionais e bancos com a ditadura civil-militar. A obra de Eduardo Reina e Maria Angélica Ferrasoli será lançada nas próximas semanas pela Alameda Editorial.

Naquele ano de 1978, a empresa era vista como vanguarda do movimento operário e considerada elite da indústria automobilística. A categoria registrava média de 25% de trabalhadores sindicalizados, mas a Scania, com aproximadamente 3 mil pessoas, ostentava uma taxa de sindicalização de 50%. Com a inflação do ano a 39,9%, o Sindicato dos Metalúrgicos articulava com os operários um movimento interno para exigir aumento real no salário. Pediam 3% a mais do que a reposição da inflação.

Chegou haver um acerto entre os trabalhadores e a direção da empresa, com o sueco Inge Lunnerdal à frente, que pagaria os 3%, além dos 39,9% da inflação. Mas quando foi feito o pagamento, os 3% não estavam incluídos. Insatisfeitos, os trabalhadores na Scania cruzaram os braços no dia 12 de maio de 1978.

Greve deflagrada
A notícia que correu na fábrica foi a de que Lennerdal levara uma dura do delegado regional do trabalho: se desse um tostão de aumento acima dos 39,9% oficiais, a Scania seria submetida a pesadas multas e punições pelo governo, de acordo com o escritor Fernando Morais, no livro Lula – Biografia, Volume 1.

“[A greve na Scania] Foi a certidão de batismo [da redemocratização brasileira]. Somos de uma geração vitoriosa porque a volta da democracia foi um fruto daquele movimento”, afirmou Paulo Vannuchi, ex-ministro dos Direitos Humanos (2005 a 2010) e preso político entre 1971 e 1976 por seu envolvimento na resistência ao governo militar, durante solenidade que celebrou os 30 anos da paralisação.

Quem doava para campanha ‘Ouro para o Bem do Brasil’ recebia uma aliança de latão com a inscrição ‘Dei ouro para o bem do Brasil’
Reprodução

Com a greve deflagrada em maio de 1978, a Scania recorreu à Delegacia Regional do Trabalho. Mas paralelamente havia fechado um acordo verbal com os metalúrgicos, o que levou à suspensão da paralisação.

Entre os representantes da Delegacia Regional do Trabalho de São Bernardo presentes à reunião que instaurou o dissídio pedido pela empresa, segundo processo do Tribunal Regional do Trabalho, estavam Guaraci Horta (que seria interventor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo em março de 1979, na gestão do ministro do Trabalho Murillo Macêdo) e Guaracy Sousa Sampaio (interventor no sindicato dos Metalúrgicos de Santo André em 1981, também no período de Macedo no ministério).

O processo, que foi às instâncias superiores da Justiça do Trabalho, tem 201 páginas e pode ser consultado na íntegra no Centro de Memória Virtual da Justiça do Trabalho da 2ª Região. O direito irrestrito de greve só viria 10 anos depois, quando a Constituição Federal sacramentou a conquista em agosto de 1988.

Imprensa censurada
Por outro lado, a própria empresa desenvolveu uma ação para evitar que repórteres brasileiros pudessem cobrir o movimento e expusessem a situação dentro da fábrica. Mas para a imprensa sueca não houve censura.

Gunnar Lindquist, diretor-superintendente da empresa, disse em entrevista ao jornalista sueco Bjorn Kumm que a greve era ilegal e “surpreendeu” [a direção da fábrica]. “O Sr Lindquist lembrou que ‘o salário médio do metalúrgico da Scania é de Cr$ 6 mil 200 por mês’, incluindo o 13º salário. Acrescentou que a empresa paga ‘melhor que as outras fábricas do setor, isso não é segredo’”, relatou Kumm. Este texto foi publicado em 16 de maio de 1978 pelo Jornal do Brasil.

A fúria da empresa sueca também se voltou contra os jornalistas brasileiros. Lindquist foi acusado de “discriminação étnica” pelo Jornal do Brasil, pois “expulsou os jornalistas brasileiros das instalações de sua empresa e só deixou entrar um jornalista sueco”. Eles foram expulsos pelo segurança da empresa, de nome David, segundo outra reportagem, do jornal Última Hora, da mesma data.

“Eu não quero nem aventar a hipótese de que o movimento deflagrado na última sexta-feira tenha alguma relação com o fato de o futuro presidente da República ser meu primo”, desconversava Leopoldo de Figueiredo, presidente brasileiro da fabricante sueca de veículos, na mesma edição do jornal Última Hora, de acordo com o livro Repressão Sociedade Anônima. Ele evitava o uso da palavra greve e alegava desconhecer “o motivo ou motivos” da “suspensão de atividades”.

Repressão e perseguição
Dentro da Scania, João Baptista Leopoldo de Figueiredo reagiu com mais vigilância, repressão e perseguição a seus trabalhadores em greve.

“Por ocasião da greve dos metalúrgicos na região do ABC, iniciada dia 15 de maio último pela SAAR SCANIA-VABIS (sic), foi desenvolvida uma ação em conjunto com o setor de Segurança da fábrica visando identificar possíveis elementos ligados a causas estranhas”, relata o informe 014 do Serviço Nacional de Informações (SNI) de 8 de junho de 1978. O documento não esclarece o que seriam essas causas estranhas. A ação implementada pelos seguranças da montadora de veículos incluiu a violação aos bens pessoais dos trabalhadores, a partir da vistoria nos armários de cada um dentro das dependências onde trabalhavam. A violação dos armários foi autorizada pela chefia das seções.scania – sni documento com timbre da montadora e indicação de vigilante espião 1

Gilson Menezes, à época diretor do Sindicato dos Metalúrgicos e funcionário da firma sueca, era uma das lideranças da greve de 1978. Relatou que antes mesmo de se reunir com os representantes da empresa para tentar negociar “eles perguntavam se eu não tinha medo de ser jogado em alto mar, assassinado, porque vivíamos na ditadura militar. Depois do encontro, vieram diretores da Secretaria de Estado do Trabalho e diretores do DOPS [a polícia política] para perguntar sobre lideranças. Mantive minha posição e não apontei ninguém”, contou, anos depois. Gilson, que faleceu em 2020, foi o primeiro prefeito eleito pelo Partido dos Trabalhadores, na cidade de Diadema, em 1982.

Em depoimento à Comissão da Verdade de Diadema, no ano de 2014, Gilson contou que a repressão era intensa dentro da fábrica: “naquele tempo não se podia nem falar a palavra ‘greve’. Se um grupo de pessoas se reunisse na rua para conversar, já era motivo de perseguição”, lembrou.

Ele chegou a ser preso em 1980, quando passou um mês no DOPS na capital paulista, mas não foi torturado, ao contrário de tantos outros opositores aos militares. “Fui convocado para me apresentar [ao DOPS] porque era presidente do fundo de greve do Sindicato dos Metalúrgicos [de São Bernardo e Diadema]”, ressaltou.

Um bilhete manuscrito pelo então chefe do SNI, o general João Baptista Figueiredo, enviado a Heitor Aquino Ferreira, capitão da cavalaria em 1964, e que foi secretário particular de Golbery do Couto e Silva, de Ernesto Geisel e do próprio Figueiredo, informava que a “greve é super organizada, sem violência”, registrou Elio Gasparii no livro A ditadura acabada.

O bilhete data de 19 de maio de 1978 e consta de relatório do SNI classificado como secreto e rubricado pelo general Sebastião Ramos de Castro, de acordo com Gaspari. A informação contida no bilhete viera do “Primo Rico” de Figueiredo, João Baptista Leopoldo de Figueiredo, presidente do Conselho Administrativo da Scania.

Lista Suja
De acordo com levantamento apresentado no livro A Ditadura Acabada, de Elio Gaspari, a Scania demitiu 450 operários nos dois meses seguintes à greve e entregou ao DOPS uma lista de 344 nomes. Na “Lista Suja” cadastrada no DOPS em 21 de janeiro de 1981, produzida pelo Setor de Análise, Operações e Informações (SOI), inclui 17 de seus trabalhadores. Uma vez nessa lista, distribuída aos setores de relações humanas (RH) de outras empresas, o trabalhador não conseguia mais emprego.

Documentos do DOPS consultados no Arquivo Nacional mostram também a perseguição a metalúrgicos como João Bosco Arcanjo e José Henrique Mendes, trabalhadores da montadora e dirigentes sindicais. Há registros entre 1982 e 1985 relacionados a ações naquela ou em outras montadoras.

Outras comunicações, dentro dos arquivos do DOPS, comprovam a cooperação da direção da Scania com a polícia política. Um deles, que cita Mendes, foi feito em 1984, período em que ele já não trabalhava na fábrica: “Ref ao relatório fornecido pela Scania do Brasil S/A, anexo ao of 188/84 da DEL.SEC.POL ABCD, no qual consta que o epigrafado esteve presente nesta data, C/demais membros da ex-diretoria do Sind. dos Metalúrgicos de SBCampo e pediu que todos fizessem Operação Tartaruga, falando dos resultados do movimento da Ford”, registra a ficha nos itens 13-S-2-16/ 13-S-2-.185. Falecido em 1999, Mendes nem era mais operário nessa época do relatório da polícia política. Ele já atuava como assessor da Secretaria de Governo da Prefeitura de Diadema.

Outro documento a destacar é o acordo coletivo firmado entre a empresa e o Sindicato dos Metalúrgicos, reproduzido no informe 1546 do Serviço Nacional de Informações de 4 de julho de 1983. Ele registra a implantação de uma comissão de representantes dos empregados, a comissão de fábrica. Segundo o informe, o acordo celebrado seria “decorrente da interferência da Svenska

Metallindustriarbetareförbundet”, o sindicato dos metalúrgicos da Suécia. Outra montadora representada pelo Sindicato dos Metalúrgicos no ABC, a Ford, já havia conquistado sua comissão de fábrica em 1981.

Espiões
No ano de 1985, no informe 172 da Divisão de Segurança e Informações do Ministério do Trabalho, um documento com o carimbo da própria Scania – “Confidencial – Saab-Scania – Seção de Vig. e Segurança” – relata que a empresa mandava espiões às assembleias do Sindicato dos Metalúrgicos.

“Na data de hoje, por volta das 14h30min., designamos o vigilante Antonio Carlos Lemos Martins para acompanhar a assembleia que seria realizada no Sindicato dos Metalúrgicos do São Bernardo do Campo às 15h00 (…) Chegando ao sindicato, o vigilante entrou no auditório de palestras, onde seria realizada a primeira assembleia”. A data dessa assembleia é 22 de março de 1985, e estão nominados no relatório do araponga todos os participantes que se pronunciaram e os temas em debates.

O relato é apenas uma pequena parte de um amplo material de espionagem do período, incluindo nomes de trabalhadores e atividades de mobilização na fábrica, no sindicato, no Paço Municipal de São Bernardo, entre outros locais.

A Scania informou através de nota enviada por sua assessoria de comunicação que “a empresa repudia qualquer tipo de violação aos Direitos Humanos e reforça que atua alinhada às melhores práticas globais de governança corporativa”

*Opera Mundi

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Mundo Política

China produzirá vacinas contra a dengue desenvolvidas 100% pelo Brasil; veja outros acordos de Saúde e Tecnologia

Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou em Pequim a aceleração de parcerias em medicamentos

“Certamente teremos o maior programa de vacinação pública contra a dengue, com a nova vacina desenvolvida pelo Instituto Butantã”, disse o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em entrevista coletiva nesta segunda-feira (12) em Pequim, onde acompanha a visita ao país do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Padilha se refere à primeira vacina contra a dengue, totalmente brasileira, desenvolvida numa parceria entre o Instituto Butantan e a chinesa WuXi Biologics, como parte do Programa de Desenvolvimento Local e Inovação (PDIL) do Ministério da Saúde.

“O Butantã resolveu a tecnologia, mas não tinha a capacidade de produção de escala para atingir rapidamente o público brasileiro”, explicou.

Essa foi uma das três parcerias que já estavam em andamento, mas que, segundo o ministro, foram aceleradas. Outra foi a produção no Brasil de insulina glargina, que deve garantir ainda este ano 20 milhões de unidades do medicamento, numa parceria entre a Fiocruz, a brasileira Biomm e a chinesa Gan & Lee.

Uma terceira tem a ver com “a instalação de ‘hospitais inteligentes’em diversas regiões do Brasil, que usam inteligência artificial, praticam cirurgias robóticas e promovem o apoio ao desenvolvimento dessas tecnologias”.

Novos memorandums
Um acordo novo será a criação do iBRID — Instituto Brasil-China para Inovação em Biotecnologia e Doenças Infecciosas e Degenerativas, uma parceria entre as empresas Eurofarma, uma multinacional biofarmacêutica brasileira e a chinesa Sinovac Biotech.

O ministro afirmou que a parceria cria uma “possibilidade muito ampla de desenvolvimento, não só tecnológico, mas de escala de produção para essa empresa nacional brasileira, podendo contribuir muito para o Ministério da Saúde”.

“Inclusive é uma plataforma de exportação a partir do Brasil para a região das Américas, continente africano, mercados muito importantes para os produtos brasileiros”, argumentou Padilha.

Um segundo acordo na área de saúde assinado nesta segunda-feira visa reduzir a dependência de importação e garantir autonomia do SUS em relação à produção de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs), substâncias químicas utilizadas na fabricação de medicamentos.

A parceria será entre a Nortec Química S.A., envolve transferência de tecnologia das chinesas Aurisco, Acebright e Goto Biopharm. O projeto aumentar a capacidade de produção de IFAs sintéticos para até 500 toneladas por ano,

Um último acordo foi para atualização dos equipamentos de raios-X no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, a parceria que envolve Careray, Shantou Institute of Ultrasonic Instruments, entre outras empresas chinesas, visa fabricar equipamentos de ultrassom que permtirão exames mais baratos e de melhor qualidade.

*BdF

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Mundo

Lula, lá na China, fazendo gol de placa e mídia vira-lata ignora destacando acordo entre Trump e Xi Jinping

Na China, Lula anuncia investimento bilionário em carros, semicondutores e muito mais.

Lula também participou de quatro audiências com executivos de empresas chinesas e discursou no Fórum Empresarial Brasil-China.

O governo também anunciou investimentos chineses no Brasil na casa dos R$ 27 bilhões.

Entre as áreas de aplicação do aporte, estão os setores de comércio, com redes de fast food e delivery, semicondutores, carros e saúde.

É natural o destaque que a mídia dá a uma trégua na guerra comercial entre EUA e  China, até porque dá um respiro para o sufocado dilema que os EUA enfrentam com a pirotecnia tarifária de Trump que só deu errado.

Mas a mídia brasileira, tradicionalmente antilulista, não dá qualquer pio sobre essa importante parceria do Brasil com a China que está cada vez mais consolidada e vantajosa para o Brasil

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Política

José Dirceu era alvo de plano de assassinato sob codinome secreto na trama golpista

Petista era ‘Juca’ no Plano Punhal Verde Amarelo

O plano Punhal Verde Amarelo, elaborado pelo general Mario Fernandes para o assassinato de autoridades na trama golpista de 2022, usou o codinome Juca para ser referir ao ex-ministro José Dirceu (PT) entre os alvos da ação.

O nome do petista como foco da operação militar clandestina foi confirmado por duas pessoas com acesso às investigações.

Um oficial da reserva do Exército próximo a Mario também afirmou à Folha que o ex-ministro era visto pelo grupo de militares do Palácio do Planalto, no fim do governo Jair Bolsonaro (PL), como um possível líder da futura gestão Lula (PT).

O plano do general previa uma operação militar clandestina contra quatro alvos. O primeiro era o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Os demais eram identificados como Jeca, Joca e Juca.

O codinome Jeca era atribuído ao então presidente eleito Lula, enquanto Joca seria o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB). O nome Juca não chegou a ser formalmente identificado pelos investigadores.

Ao longo das apurações, a Polícia Federal cogitava que Dirceu poderia ser o alvo secreto do plano Punhal Verde Amarelo, pela influência exercida pelo petista nas gestões anteriores de Lula no Palácio do Planalto.

dirceu

Os investigadores ainda levantaram outros nomes como possíveis referências ao codinome Juca, como Flávio Dino e Rui Costa, hoje ministros respectivamente do STF e da Casa Civil, e o chefe de gabinete de Lula, Marco Aurélio Ribeiro.

No relatório da investigação, porém, a PF diz que “não obteve elementos para precisar quem seria o alvo da ação violenta planejada pelo grupo criminoso”.

Procurado, Dirceu afirmou que prefere não se manifestar.

Relação de Dirceu com o governo
Mesmo com a antiga relação com Lula e sua influência nos bastidores do Partido dos Trabalhadores, ele não frequenta o Palácio do Planalto para discutir temas de governo e está apartado de articulações políticas diretas da gestão petista.

Apesar do afastamento, grupos militares acreditavam que ele teria um papel de destaque no governo, como teve nas primeiras passagens de Lula pela Presidência.

Dirceu, sob o codinome Juca, foi descrito no plano de assassinato como a “iminência parda [sic] do 01 e das lideranças do futuro gov [governo]”. “A sua neutralização desarticularia os planos da esquerda mais radical”, prossegue.

Mario Fernandes afirma, no documento, que não esperava “grande comoção nacional” com o eventual assassinato dele.

O general previa o envenenamento de Lula, o Jeca, para causar um “colapso orgânico”. A ação era descrita no plano como suficiente para matar o presidente eleito, considerando o “estado de saúde [de Lula] e a ida frequente a hospitais”.

“A sua neutralização abalaria toda a chapa vencedora, colocando-a, dependendo da interpretação da Lei Eleitoral, ou da manobra conduzida pelos 3 Poderes, sob a tutela principal do PSDB”, diz o documento encontrado pela Polícia Federal.

No caso de Alckmin, o Joca, o Punhal Verde Amarelo previa que sua “neutralização extinguiria a chapa vencedora”. O general avaliava que o assassinato do vice-presidente também não deveria causar grande comoção no país.

Mesmo sem ser citado no plano e sem um codinome próprio, Moraes é considerado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) como o principal alvo do plano Punhal Verde Amarelo.

A denúncia considera alguns elementos para confirmar a tese. O primeiro era o fato de Jeca, Joca e Juca serem descritos no documento como “outros alvos possíveis” da ação militar.

A PGR ainda avalia que as ações descritas no plano do general são semelhantes ao monitoramento feito por militares de forma clandestina e que tinha Moraes como alvo.

O principal elemento apontado pela Procuradoria é a compra de celulares descartáveis utilizados no plano “Copa 2022”, que tinha como objetivo matar o ministro do Supremo.

O advogado Marcus Vinicius Figueiredo, que defende Mario Fernandes, disse à Folha que não iria comentar o caso. “Eu não posso me manifestar sobre o mérito da investigação porque ainda não me foi concedido acesso à íntegra das provas”, afirmou.

No julgamento do recebimento da denúncia, Figueiredo disse garantir aos ministros do STF que o general não tinha mostrado o plano Punhal Verde Amarelo para ninguém. Segundo o advogado, o réu fez o documento e o guardou para si.

A PGR contesta essa versão na denúncia oferecida contra Mario. Na acusação, o procurador-geral Paulo Gonet diz que o então presidente Bolsonaro tomou conhecimento do plano e deu aval a ele.

“O plano foi arquitetado e levado ao conhecimento do presidente da República, que a ele anuiu, ao tempo em que era divulgado relatório em que o Ministério da Defesa se via na contingência de reconhecer a inexistência de detecção de fraude nas eleições.”

Como a Folha de S.Paulo mostrou, a conclusão da PGR de que Bolsonaro concordou com o plano vai além da interpretação dada pela Polícia Federal em seu relatório final da investigação. Os investigadores dizem que o ex-presidente soube do Punhal Verde Amarelo, mas não registram eventual opinião ou ação de Bolsonaro sobre ele.

A investigação da PF apresenta como indício de que o plano foi apresentado a Bolsonaro o fato de Mario Fernandes ter imprimido o documento 40 minutos antes de ir ao Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, no dia 9 de novembro de 2022.

Não há, porém, registros de que o documento tenha sido entregue ou apresentado a Bolsonaro nem de que o ex-presidente tenha concordado com as intenções do general.

A Primeira Turma do STF recebeu a denúncia da PGR contra Mario Fernandes e outros cinco acusados de participar da trama golpista. Agora réus no Supremo, eles respondem a ação penal pela tentativa de golpe de Estado.

*Com ICL

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Mundo

EUA e China surpreendem o mundo com acordo para cortar tarifas

O acordo firmado por 90 dias entre Estados Unidos e China sobre a guerra comercial é uma boa notícia para o Brasil e investidores estrangeiros.

A equipe do presidente Lula espera que uma volta da “normalidade” nas relações comerciais entre os dois países tenha repercussão positiva para a economia mundial – evitando uma recessão nos Estados Unidos e uma desaceleração na China, e beneficiando o Brasil nos dois casos.

Os Estados Unidos concordaram em reduzir alíquotas de importação de 145% para 30%, enquanto China as reduziu de 125% para 10%.

O Brasil espera também conseguir reduzir a alíquota sobre a exportação de aço e alumínio, hoje em 25%, para pelo menos 10%.

No caso da tarifa recíproca geral de 10%, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já sinalizou que não vai recuar. O Brasil já começa a trabalhar em abrir exceções para a regra imposta pelo norte-americano, segundo o g1.

Na China, depois de uma passagem pela Rússia, o presidente Lula voltou a defender o multilateralismo e classificou a visita ao país asiático como a mais importante do ponto de vista comercial e geopolítico do seu terceiro mandato.

Lula está acompanhado de ministros e empresários brasileiros de olho no fortalecimento dos laços comerciais com a China. Trump tem uma relação hostil com os dois países, que podem aproveitar esse momento para uma aliança mais intensa.

Por sinal, a reunião prevista para esta terça (13) deve ser o terceiro encontro entre Lula e Xi Jinping no atual mandato do brasilero. Enquanto isso, até agora, Lula e Trump não conversaram.

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Mundo Política

Presidente Lula se reune com empresários chineses nesta segunda-feira

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, se reunirá com empresários em Pequim nesta segunda-feira (12/5). Segundo o Palácio do Planalto, o presidente se reunirá com os diretores executivos de duas grandes empresas chinesas. Lula segue em visita oficial à China pelos próximos dias.

O primeiro encontro será com Lei Zhang, CEO da Envision Energy, produtora de turbinas eólicas, e a depois será com Cheng Fubo, CEO da Norinco, uma corporação industrial que atua em setores como defesa, automotivo, fabricação de máquinas, produtos químicos, eletrônicos.

As reuniões serão realizadas no hotel em que Lula está hospedado ao longo da manhã de segunda-feira (no horário da China). Pela tarde, o presidente se reúne com empresários da saúde e assinará acordos. Por fim, Lula marcará presença no encerramento do seminário Brasil-China, evento que reune empresários brasileiros e chineses.

Na terça-feira (13/4), a agenda oficial continua com Lula participando da cúpula de chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) com o governo da China. Então, se encontrar com demais autoridades chinesas, como o presidente da Comissão Permanente da Assembleia Nacional Popular, Zhao Leji, e o primeiro-ministro da China, Li Qiang.

E no fim da terça, Lula e o presidente da China, Xi Jinping, se reunirão no Palácio do povo. É esperado que, pelo menos, 16 acordos sejam assinados entre Brasil e China nesse encontro.

*Com informação da Agência Brasil

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Política

Em Florianópolis, mortes em ações policiais crescem 165% após fim das câmeras corporais

A recente extinção do sistema de câmeras corporais na polícia de Florianópolis levou a um aumento alarmante na violência policial, resultando na morte de diversas pessoas num curto período de tempo. O primeiro homicídio após a descontinuação das câmeras ocorreu em um bairro de classe média, onde Guilherme Jockyman (31) foi executado ao lado de seu pai, após um chamado de emergência que sua própria família fez, preocupada com seu estado mental.

Com a extinção do sistema que custou mais de R$3 milhões e funcionou de julho de 2019 até setembro de 2024, a população ficou exposta a uma escalada de violência policial. O assassinato de Guilherme marcou o início de um dos períodos mais sangrentos da história policial de Florianópolis, onde, nos 45 dias seguintes, a Polícia Militar deixou seis corpos em diversas favelas da cidade, incluindo Horácio, Mocotó, Costeira e Papaquara.

O início de 2025 trouxe uma continuidade da brutalidade policial. Romarinho, um jovem de 21 anos, foi morto no Morro do Macaco no dia 1º de janeiro, e apenas três dias depois, Betinho, de 48 anos, perdeu a vida na Praia da Solidão. Em 4 de janeiro, Murruga (24), da comunidade da Costeira, foi também assassinado na Nova Descoberta. O mês de janeiro ainda testemunhou a morte de Lolinha, um jovem negro de 20 anos, que foi morto dentro de sua casa no Morro do Horácio, uma semana após ser agredido por policiais no mesmo local.

Em fevereiro e março, mais sete mortes foram registradas, totalizando 20 vítimas nos primeiros 200 dias sem as câmeras corporais da Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC), o que representa uma média de uma morte a cada 10 dias. Este número é alarmante, especialmente se comparado ao intervalo anterior de 26,5 dias entre os conflitos.

A antropóloga Jo P. Klinkerfus, da Universidade Federal de Santa Catarina, sugere que a retirada das câmeras pode ter causado um efeito psicológico significativo nos policiais. Segundo ela, as câmeras serviam como uma “amarra simbólica”, e sua ausência pode levar os agentes a se sentirem mais livres para agir com violência. Klinkerfus, no entanto, ressalta que a descontinuação das câmeras não é o único fator que afeta a violência policial. Ela menciona também a intensificação dos conflitos internos do narcotráfico, que resultam em uma maior necessidade de intervenções policiais e, consequentemente, mais mortes.

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A situação em Florianópolis reflete uma preocupação mais abrangente sobre a violência policial no Brasil, onde a letalidade é uma constante em muitos estados e municípios. O impacto da falta de regulação e supervisão, como era proporcionado pelas câmeras, é evidente no aumento das mortes, levantando questões sobre a responsabilidade da polícia e a segurança da população.

A extinção das câmeras corporais foi uma decisão que aparentemente ignorou o potencial impacto que essa medida teria na dinâmica da violência e de confiança entre a comunidade e a polícia. A ausência de monitoramento tem levantado críticas e requer um reevaluar das prioridades do governo em relação à segurança pública.

À medida que a população de Florianópolis se vê imersa neste ciclo de violência, as vozes de ativistas e estudiosos sobre direitos humanos clamam por medidas que garantam a proteção tanto dos cidadãos quanto dos agentes policiais, buscando um equilíbrio que reduza a letalidade e aumente a responsabilidade. O futuro da segurança pública na cidade, portanto, está em uma encruzilhada, e as decisões tomadas agora podem ter um impacto duradouro na relação entre a polícia e a comunidade, assim como na segurança de todos os seus membros.

A situação atual é um chamado à ação para as autoridades e a sociedade civil, que devem se mobilizar para garantir que os erros do passado não se repitam, e que a justiça e a segurança sejam reestabelecidas em Florianópolis e em todo o Brasil.

Em Florianópolis, o panorama atual é claro e revelador. O último grande confronto entre facções ocorreu em 2018, e este ano marca um dos maiores índices de mortes por parte das forças de segurança na última década. Desde 2019, a distribuição geográfica das facções permaneceu estável, com conflitos armados entre narcotraficantes sendo raros e específicos. Em teoria, isso poderia sugerir uma redução na letalidade das forças de segurança, mas a realidade se mostrou diferente.

As críticas se direcionam ao Poder Público, que parece não considerar fatores adicionais, como posturas políticas conservadoras que promovem o aumento da presença e da atuação visível da polícia. Essa estratégia tem o objetivo de demonstrar que a criminalidade está sendo combatida, servindo como ferramenta política para a aprovação do governo. Portanto, o ambiente em questão se caracteriza como um Estado que mata e também omite.

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Um aspecto alarmante desse Estado é a ocultação de mortes. Nas vinte vítimas analisadas, apenas dezenove constam nos registros oficiais do governo de Santa Catarina. Um exemplo impactante é Tininho, um adolescente negro de 15 anos, que foi assassinado com um tiro na cabeça na Vila Cachoeira no dia 25 de março e não foi contabilizado nas estatísticas oficiais. Ele foi a segunda vítima mais jovem no intervalo de 200 dias estudados e é o caso mais recente de um adolescente morto pela polícia desde o trágico assassinato de Naninho, que tinha apenas 12 anos e foi executado em 2020.

A morte de Tininho foi encoberta pela Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC). Após a confirmação de sua morte cerebral, o 21º Batalhão de Polícia Militar (21BPM) afirmou, nas redes sociais, que um “homem” havia sido baleado. Tininho, apesar de estar sob a vigilância da polícia no hospital, não teve sua morte oficialmente reconhecida, o que demonstra uma falta de transparência alarmante nas ações policiais.

A situação se torna ainda mais irônica quando, menos de um mês após a morte de Tininho, uma notícia positiva foi recebida pelos batalhões. A Assembleia Legislativa aprovou um aumento salarial de 21,5% para todos os servidores de Segurança Pública. A justificativa dada para esse reajuste foi o reconhecimento do trabalho essencial dos profissionais que arriscam suas vidas para manter Santa Catarina como o estado mais seguro do Brasil. O governador, Jorginho, ao divulgar a proposta em fevereiro, afirmou que tal esforço é crucial para impedir a criação de bandidos no estado.

O aumento salarial é consideravelmente superior à inflação dos dois anos anteriores e representa um incremento significativo no orçamento estadual, totalizando R$1,4 bilhão mensais. Adicionalmente, mais de R$360 milhões já haviam sido gastos nos dois anos anteriores em equipamentos como fuzis israelenses destinados à Polícia Civil, drones e veículos. Antes mesmo do final de abril, a presença inédita de blindados do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) gerou pânico em comunidades da região metropolitana, como Chico Mendes e Brejaru.

Essa realidade levanta questionamentos sobre a atuação das forças de segurança e sua relação com a comunidade. A abordagem agressiva e a militarização da polícia podem aumentar a tensão entre os cidadãos e os agentes de segurança, gerando um ciclo de violência que parece distante de uma solução. O uso de recursos pesados e a presença ostensiva de operações especiais podem afastar ainda mais a relação de confiança que deveria existir entre a população e a polícia.

Com um cenário caracterizado pela impunidade e pela ocultação de dados, fica claro que a gestão da segurança pública em Florianópolis requer não apenas uma revisão nas estratégias de combate ao crime, mas também uma maior responsabilidade e transparência por parte do Estado. A necessidade de políticas eficazes e respeitosas, que considerem as vidas perdidas e as necessidades da população, torna-se urgente em meio a índices alarmantes de violência e mortes não contabilizadas.

Assim, fica a reflexão sobre até que ponto a resposta do Estado à criminalidade deve ser moldada por interesses políticos e quais são as consequências reais dessa abordagem, tanto para a segurança pública quanto para a vida dos cidadãos. As mortes de jovens como Tininho e Naninho são símbolos de uma crise que ultrapassa as estatísticas, exigindo uma resposta que promova justiça, transparência e um real compromisso com a proteção da vida.

Um mês após o anúncio de um investimento de R$35 milhões para a implementação de câmeras de reconhecimento facial em todo o estado, a Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina se manteve em silêncio sobre a omissão de dados oficiais de mortes decorrentes de ações policiais em Florianópolis, incluindo o caso de Tininho. O adolescente é apenas uma das vítimas cujo caso não foi registrado oficialmente, fazendo parte de uma lista que inclui também Shilaver da Silva Lopes, um jovem negro de 22 anos, baleado pela polícia em 12 de setembro de 2019, cuja morte também não aparece nos números oficiais.

mortes

As câmeras corporais, que deveriam documentar as ações policiais, falharam em captar o momento da morte de Shilaver. No dia do ocorrido, ele foi atingido por disparos enquanto estava no Morro do Mocotó, e as câmeras da guarnição estavam em operação há apenas um mês. Estando internado por cerca de três meses, Shilaver nunca deixou o hospital após a cirurgia e morreu sob os cuidados de policiais, sem que seu falecimento fosse reconhecido nos registros do estado, que optou por omitir mais um caso de violência policial.

Evidentemente, a introdução de câmeras de reconhecimento facial é controversa, principalmente pela utilização de algoritmos de inteligência artificial que têm sido criticados por apresentarem vieses raciais. Além disso, a privacidade dos cidadãos é uma preocupação crescente com a implementação dessa tecnologia. O fato de a polícia poder ligar ou desligar as câmeras à vontade agrava ainda mais as questões de transparência e responsabilidade.

No caso de Shilaver, os policiais decidiram ativar a câmera somente depois de fazer os disparos, revelando uma falha significativa no sistema que deveria atuar como um mecanismo de controle. As câmeras da Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC) possuíam um botão acessível que permitia ao policial ligá-las ou desligá-las a seu critério, um recurso que foi mantido em operação durante mais de quatro anos, embora fosse publicamente apresentado como sendo 100% automatizado.

A realidade do uso das câmeras corporais expõe a ineficácia do sistema como um todo em reduzir a violência policial e garantir transparência. Klinker, um especialista na área, aponta que a presença das câmeras não garante uma mudança no comportamento dos policiais, ressaltando que os agentes têm possibilidades de contornar a fiscalização, o que questiona a eficácia das estratégias adotadas para a segurança pública. O contexto de Santa Catarina ilustra uma situação complexa e alarmante, onde a tecnologia prometida não cumpriu seu papel esperado, e as mortes provocadas por ações policiais continuam a ser omitidas em dados oficiais, envelhecendo a discussão sobre a responsabilidade do Estado em relação à vida de seus cidadãos.

Na prática, o que se revela é um esquema preocupante em que a polícia pode operar com total liberdade, sem a devida supervisão e sem prestarem contas. Isso não apenas perpetua a violência, mas também destrói a confiança da população nas instituições. As mortes de Tininho e Shilaver ilustram uma falha sistêmica de um sistema que deveria proteger os cidadãos, mas que na verdade parece estar muito mais preocupado em encobrir suas próprias inadequações e erros.

Enquanto o governo investe em tecnologias que prometem aumentar a segurança, surge um paradoxo: são as mesmas tecnologias que, em sua aplicação, trazem à tona injustiças e excessos. A continuidade desse estado de coisas provoca um questionamento sobre os verdadeiros objetivos das políticas de segurança pública. A contradição entre o discurso de modernização e a realidade da violência e da falta de registro de mortes agrava um panorama de desconfiança em relação aos agentes que deveriam garantir a segurança da população.

A sociedade civil precisa exigir respostas e modificações nas práticas policiais, contemplando o direito à vida e a dignidade de todos os cidadãos, independentemente de sua cor ou condição social. A implementação de medidas que assegurem maior transparência nas ações policiais é urgentemente necessária, assim como uma reavaliação crítica do uso de tecnologias como câmeras de reconhecimento facial e corporais, que, se mal administradas, tornam-se instrumentos de opressão em vez de proteção.

Este cenário revela uma necessidade premente de uma discussão mais ampla sobre a segurança pública no Brasil, onde a tecnologia deve ser aliada à ética e à responsabilidade, em vez de um tóxico instrumento de controle e violência.

*Com informações do ICL

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Jornal britânico pede fim do silêncio sobre Gaza e cita “nojo” de Israel

O jornal The Independent, um dos mais influentes do Reino Unido, publicou um editorial que critica a total paralisação da ajuda humanitária a Gaza e denuncia a brutalidade das ações do governo israelense. Faz um apelo ao líder trabalhista britânico, Keir Starmer, para que se manifeste e pressione os líderes mundiais, incluindo Donald Trump, para que chamem Netanyahu à responsabilidade e encerrem o bloqueio de ajuda:

O mundo ficou chocado com a horrível atrocidade do Hamas em 7 de outubro de 2023, no sul de Israel, onde 1.200 pessoas foram mortas e 251 reféns foram sequestrados – o mais jovem tinha apenas 9 meses. Apesar de sua retaliação feroz ter causado alarme imediato, Israel encontrou apoio internacional para o direito de se defender.

Mas agora qualquer justificativa moral inicial para continuar a guerra, 18 meses depois, foi perdida – e o nojo que antes reservávamos para os militantes do Hamas foi transferido para os ataques brutais e implacáveis das Forças de Defesa de Israel e a catástrofe humanitária causada pelo seu bloqueio.

Desde o início da guerra, os civis em Gaza pagaram um preço devastador – o número de mortos já ultrapassa 52.000, de acordo com as autoridades de saúde palestinas. Com o fornecimento de ajuda e água cortado no segundo dia do conflito, sendo parcialmente restaurado e depois cortado novamente à medida que os combates continuavam, os palestinos vivendo em Gaza sempre foram pouco mais do que danos colaterais.

O cessar-fogo negociado em janeiro deste ano trouxe uma breve esperança de que a trégua temporária pudesse abrir caminho para negociações de um plano de paz de longo prazo. Com a libertação de alguns dos reféns em cenas emocionantes, parecia haver uma faísca de luz. Mas, à medida que essas esperanças morreram, qualquer interesse pela catástrofe humanitária igualmente se esvaiu.

Donald Trump atraiu muita atenção por sua ideia bizarra – e profundamente imoral – de que os EUA assumissem a posse de Gaza e transformassem a região em uma segunda Riviera Mediterrânea. A deportação forçada de mais de 2 milhões de palestinos de suas terras e o que resta de suas casas representaria o maior ato de limpeza étnica desde a Segunda Guerra Mundial.

Quando a primeira fase do cessar-fogo expirou em março – e Israel e Hamas se acusaram mutuamente de frustrar o acordo – Israel impôs uma proibição total de toda a ajuda humanitária destinada a Gaza. De acordo com o DCM, Nada seria permitido passar. Nenhum medicamento, comida ou suprimento.

Encorajado pelo presidente dos EUA, Benjamin Netanyahu – o primeiro-ministro israelense – anunciou a retomada de seus bombardeios contra o enclave. Choqueiramente, a resposta da comunidade internacional foi silenciosa. Os aliados de Israel, incluindo o Reino Unido, deveriam ter se manifestado contra essa medida contraproducente e literalmente sem objetivo, assim como contra a devastadora catástrofe humanitária que causou.

O silêncio do Reino Unido e de outros tem sido ensurdecedor.

Sir Keir Starmer deveria se envergonhar por não ter dito nada, especialmente porque Netanyahu agora anunciou novos planos para expandir ainda mais os já devastadores bombardeios sobre Gaza – e impor uma ocupação indefinida do território. O ministro das finanças de Netanyahu, Bezalel Smotrich, colocou isso em termos ainda mais explícitos: o objetivo é, disse ele, “destruir completamente” Gaza.

É hora de o mundo acordar para o que está acontecendo e exigir o fim do sofrimento dos palestinos presos no enclave. Algumas pessoas podem querer desviar o olhar, incapazes de compreender os níveis de fome, miséria e desesperança. (…)

O governo britânico inicialmente queria apoiar nosso aliado. Após o horror de 7 de outubro de 2023 – uma data que ficará para sempre marcada – Israel recebeu apoio de todo o mundo. Esperava-se que o desejo de devolver os reféns e buscar justiça fosse compartilhado.

Mas a promessa de Netanyahu de “destruir o Hamas” nunca foi um objetivo de guerra realista – e se transformou na destruição de Gaza. O território de 25 milhas de extensão tornou-se quase totalmente inabitável, forçando sua população a se concentrar em áreas menores e menores de refugiados. A fome está à espreita da sua população.

As famílias dos reféns ainda presos lá dentro, por sua vez, imploraram repetidamente ao seu governo para concordar com um cessar-fogo, temendo que também estivessem sob o mesmo bloqueio de ajuda e bombardeio.

Netanyahu ecoou as odiosas opiniões expressas por Smotrich, que disse: “Os cidadãos de Gaza serão concentrados no sul. Eles estarão totalmente desesperados, entendendo que não há esperança e nada a buscar em Gaza, e estarão procurando por realocação para começar uma nova vida em outros lugares.”

Nos últimos dois meses, o bloqueio total de ajuda demonstrou que o objetivo vergonhoso do governo israelense é matar de fome e privar toda a população de Gaza, combatente e civil.

O presidente Trump deverá visitar Israel nos próximos dias, o que significa que há um curto período em que a opinião mundial pode se fazer ouvir. É hora de o Reino Unido pôr fim ao seu silêncio. Netanyahu deve perceber que está travando uma guerra que não é apenas impossível de vencer, mas inconcebível.

Sir Keir, encontre sua voz – e inste Trump e todos os líderes mundiais a pressionar Netanyahu a terminar com o bloqueio.

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Política

Cerco aos investigados: AGU pede bloqueio de bens de 14 envolvidos na fraude do INSS

Empresas e sócios são acusados de serem intermediárias de pagamentos de vantagens indevidas.

A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu à Justiça Federal o bloqueio de bens de mais seis empresas e oito pessoas investigadas por descontos irregulares em benefícios de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O órgão entrou com pedido de mudança na ação cautelar ajuizada na quinta-feira (8) contra as associações investigadas.

A medida atende a pedido da Controladoria-Geral da União (CGU), que identificou a necessidade de incluir novas pessoas jurídicas e físicas no pedido de indisponibilidade de bens e ativos financeiros. Com base na Lei nº 12.846/2013, conhecida como Lei Anticorrupção, a AGU também solicitou o bloqueio das atividades financeiras e a suspensão dos sigilos bancários e fiscal dos investigados, reporta Welton Maximo da Agência Brasil.

As empresas e seus sócios que figuram no novo pedido são acusados de serem intermediárias de pagamentos de vantagens indevidas a agentes públicos vinculados ao INSS e a outras pessoas físicas a elas relacionadas. Até o momento, informou a AGU, o repasse de valores indevidos a esses agentes públicos está estimado em R$ 23,8 milhões.

“As investigações em curso revelam fortes indícios de que as empresas mencionadas participaram diretamente da intermediação de valores milionários”, informou a AGU na petição de aditamento. “Essa engenharia financeira sustentava o esquema criminoso, que consistia em repassar os valores indevidamente descontados pelas associações e pagar vantagens ilícitas a agentes públicos que permitiam ou facilitavam esses descontos.”

Em relação ao bloqueio de bens dos sócios das empresas citadas, a AGU baseia-se no argumento de que “as pessoas jurídicas foram utilizadas como instrumento para práticas ilícitas de natureza penal, administrativa e civil, servindo como meio para captação de vantagens provenientes de recursos indevidamente extraídos dos benefícios de aposentados e pensionistas”.

No caso dos agentes públicos investigados na Operação Sem Desconto, a AGU instaurou procedimento preparatório para ajuizar ação por improbidade administrativa.

Na petição original da ação cautelar proposta na quinta-feira, a AGU requereu, além dos R$ 23,8 milhões, o bloqueio de R$ 2,56 bilhões em bens móveis e imóveis e a quebra de sigilos bancário e fiscal de 12 entidades associativas e seus dirigentes.

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Mundo

Vídeo: Brasileira é presa com filha nos EUA e ação violenta da imigração gera protestos

Uma operação do Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas dos Estados Unidos (ICE) resultou na prisão de uma mulher brasileira e de sua filha menor de idade na cidade de Worcester, na região de Boston, Massachusetts. A ação, marcada por cenas de violência e tensão, provocou forte comoção local e gerou protestos contra a atuação dos agentes. A informação foi divulgada pela coluna do jornalista Jamil Chade, no UOL.

De acordo com testemunhas, a brasileira estava com sua filha adolescente e um bebê de apenas dois meses no banco traseiro do veículo quando foi abordada e retirada à força pelos agentes do ICE, que a jogaram no chão diante de aproximadamente 25 pessoas. A filha tentou impedir a prisão e acabou sendo detida sob acusações de colocar a criança em risco, conduta desordeira, resistência à prisão e perturbação da ordem pública. O bebê foi entregue a uma das testemunhas que acompanhavam a cena.

Moradores da região relataram que os agentes se recusaram a apresentar um mandado judicial, o que inflamou os ânimos da vizinhança. Em nota, a polícia de Worcester declarou que foi acionada por um morador e apenas atuou para “preservar a paz e evitar ferimentos”. “Quando os policiais chegaram ao local, observaram uma cena caótica com vários agentes federais de diversas agências tentando levar uma mulher sob custódia”, informou a corporação.

Ainda segundo a polícia, uma terceira mulher identificada como Ashley Spring, de 38 anos, também foi presa após empurrar agentes e jogar neles uma substância líquida ainda não identificada.

As autoridades brasileiras acompanham o caso por meio do consulado, que busca esclarecer as circunstâncias da prisão e garantir a proteção consular às envolvidas. Até o momento, os nomes da brasileira e da filha não foram divulgados por motivos legais e de segurança.

Líderes locais expressaram publicamente sua indignação. A vereadora Etel Haxhiaj afirmou que “nada daquilo era necessário”, enquanto o prefeito de Worcester, Joseph Petty, declarou estar “profundamente perturbado”. “Como alguém que se orgulha de liderar uma cidade acolhedora, estou arrasado ao ouvir sobre a separação de uma família, especialmente com o Dia das Mães se aproximando”, lamentou Petty.

O episódio reacende o debate sobre a atuação do ICE em comunidades de imigrantes e a política de deportações sem mandado judicial, amplamente criticada por organizações de direitos civis. A pressão sobre o governo local e federal deve aumentar nos próximos dias, diante da repercussão das imagens nas redes sociais e do envolvimento de diplomatas brasileiros.