A imagem que ficou para a história é de um presidente sitiado, que não tem para onde correr
A imagem do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, cercado de bolsonaristas, não foi um registro espontâneo ou aleatório. Ela foi cuidadosamente produzida e meticulosamente preparada. Os amotinados da extrema direita, que tomaram de assalto a Câmara por quase 48 horas, queriam enviar para suas bases eleitorais o discurso subjetivo de que mantêm o controle sobre a política nacional, especialmente quando se organizam e usam da força para alcançar seus objetivos.
Quase duas horas antes do click que eternizou a imagem, Mayrá Lima cantou a pedra: “Eles vão tentar ficar na tribuna, em volta do Motta. Eu se fosse ele não permitiria”. Mayrá é assessora parlamentar e tem quase 20 anos de experiência com a dinâmica do Congresso Nacional, sem falar no doutorado que fez na Universidade de Brasília, onde defendeu uma tese sobre os comportamentos e discursos dos ruralistas. Não foi difícil, para ela, imaginar o que os amotinados estavam planejando.
Como se não bastasse a leitura bem informada, o descuido do deputado Zé Trovão confirmou as suspeitas. Enquanto participava de uma live no telefone celular, ele recebeu uma mensagem do grupo de WhatsApp do PL que apareceu na tela e foi fotografada. A comunicação do PL afirmava: “Gente, esse escudo humano tem que ser com as deputadas na frente”. Bem, eles não obedeceram. Mantiveram os homens ombro a ombro impedindo a aproximação de qualquer político que não fosse bolsonarista. O escudo humano garantiu a imagem que eles queriam produzir.
“Hugo Motta devia ter entrado no plenário com toda a Mesa Diretora da Câmara na frente dele. Seria uma maneira de fortalecer a instituição”, disse Mayrá, que no começo da noite da quarta-feira (6) percebeu que a situação no plenário era grave porque viu os policiais legislativos correndo pelos corredores da casa rumo ao plenário. Motta ameaçou desalojar os amotinados à força, se fosse preciso. Mas na hora “H”, quase desistiu de ocupar novamente a cadeira.
A imagem que ficou para a história é de um presidente sitiado, que não tem para onde correr. “Foi como se eles estivessem dizendo: o senhor se senta, mas quem controla o senhor somos nós. É uma forma subjetiva de expressão de poder, a expressão de um poder simbólico”, afirmou Mayrá.
Ela também comparou as decisões de Hugo Motta com as do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que enfrentava o mesmo problema. Ele não piscou, marcou uma sessão virtual para o dia seguinte, às 11 da manhã.
Motta também deu um ultimato por escrito. Exigiu a cadeira livre até 20h30, caso contrário acionaria a força policial da Câmara e suspenderia mandatos dos responsáveis pelo prazo de seis meses, sem direito a remuneração.
O prazo do ultimato veio, passou, e nada aconteceu. Resta saber se as punições serão aplicadas ainda.
Mas a imagem que ficou é mais forte do que qualquer ameaça verbal ou punição. Ela é eterna. E o recado foi distribuído para a base eleitoral dos amotinados imediatamente, via internet.
*Heloisa Villela/ICL
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