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Bolívia: Uma imensa mobilização rural a caminho de El Alto para desmontar o golpe contra Evo Morales

O neoliberalismo é, sem dúvida, não um pensamento econômico, mas uma teia de elementos que se resume a transferir riquezas de países e povos para as mãos de meia-dúzia de milionários bandidos.

Pouco importa se a conquista desses psicopatas aconteça se aliando a mercenários, milicianos, racistas ou congêneres, os propósitos da ganância justificam os meios para se chegar ao exercício da ambição nua e crua.

Por qualquer ângulo que se olhe, o neoliberalismo mutila alguém, algum país para que os milionários se apropriem da mão de obra e das riquezas de um povo.

Não há um único exemplo contrário a isso. E é justamente contra essa tirania do dinheiro que tanto o povo boliviano quanto o chileno estão lutando, porque as Forças Armadas desses países, como é comum nos países capitalistas dominados pelo fundamentalismo neoliberal tem como função principal servir como cão de guarda aos interesses das oligarquias.

E assim funcionam contra o povo boliviano que luta sem trégua contra o golpe arquitetado por uma escória que mistura traficantes, milicianos, militares, posseiros da Bolívia e de países como o Brasil, tanto que Bolsonaro, cujo nome se confunde com a milícia carioca e tem em seu governo mais militares do que na ditadura, foi o primeiro a reconhecer a autoproclamada presidente da Bolívia, Jeanine Áñez, assim como, pateticamente, reconhece Guaidó, o autoproclamado presidente da Venezuela.

Como o Chile está nas ruas para derrubar a ditadura neoliberal de Sebastián Piñera, o povo boliviano, mesmo enfrentando assassinatos cometidos pelas Forças Armadas e pelas milícias, aumenta a pressão contra o golpe não dando trégua aos vigaristas unidos que tomaram o poder, apoiados por governos vigaristas como o do Brasil.

Vale a pena assistir aos vídeos e ver como essa gente não se entrega e serve de inspiração para todos os povos da América Latina.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

 

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Vídeo: A fúria do povo chileno contra a repressão das Forças Armadas

Os depoimentos e os vídeos que chegam do Chile impressionam pela garra do povo no enfrentamento às forças de repressão do governo de Sebastián Piñera. Não só o povo não sai das ruas até que o elefante dourado do neoliberalismo caia, como o presidente, fazendo o povo subir cada vez mais a fervura contra os repressores.

O explosivo ataque da população contra o veículo militar mostra que a insurreição chilena está disposta a ir até as últimas consequências para impor a sua vontade diante da tirania, não aceitando mais ser escrava de um sistema neoliberal imposto pela ditadura de Pinochet.

Mediante a fúria do povo, inteiramente tomado por um espírito de combate impressionante que domina as cenas das manifestações, pode-se projetar que há uma ruptura total não só com o governo, mas também com o mercado. O que, certamente, contagiará toda a América Latina.

O vídeo abaixo é emocionante, porque mistura a indispensável força do povo nas ruas com sua resiliência e coragem diante da desordem neoliberal que arruinou com o povo.

 

*Da redação

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Vídeo – Consumado o golpe evangélico na Bolívia: Presidente autoproclamada diz que a bíblia voltou ao Palácio

A senadora opositora Jeanine Áñez, que na terça-feira se autoproclamou presidente da Bolívia, atacou Evo Morales, chamando o ex-presidente de “covarde’ por ter seguido para asilo no México.

O pior aspecto de um golpe de estado, além de seu caráter conservador, é a natureza predestinada de Deus. Na Bolívia, assim como no Brasil, o crescimento das religiões neopentecostais deu o alerta negligenciado pelo estado, de algo muito ruim e perigoso estava a caminho. Por aqui, um Bolsonaro eleito é o símbolo da estupidez neopentecostal baseada na teologia da prosperidade. Na Bolívia, os imbecis tomam o estado, derrubando Evo Morales tendo à mão, um parecer da OEA escrito por um observador que disse ser preciso frear Morales, antes das eleições.

“O presidente Morales saiu porque queria, porque não se atreveu a responder ao país, isso foi um ato covarde. Agora ele está no México querendo se passar como vítima e enganando o mundo inteiro dizendo que o que aconteceu na Bolívia foi um golpe”, disse Áñez, em entrevista à CNN em espanhol.

A possibilidade de um parecer fajuto, com um comandante de Forças Armadas alucinado e se sentindo o enviado de “Cristo” para libertar o povo Boliviano é a sínteses do que sempre foi a América Latina, em relação aos seus povos originais. Evo é indígena e foi derrubado por uma alucinação coletiva crente, usada por governos nojentos, como o Brasil e os EUA.

Ela assumiu o cargo em uma sessão sem quórum, 48 horas depois de Evo Morales renunciar à Presidência da Bolívia.

Veja o vídeo abaixo:

 

*Com informações do A Postagem

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Esquerda da América Latina está em festa com Lula livre

“O abraço de todos os povos latino-americanos para você e todos aqueles que lutam ao seu lado”, disse o ex-presidente Fernando Lugo, do Paraguai, derrubado por um golpe em 2012.

Representantes de movimentos de esquerda de diversos países da América Latina usaram as redes sociais na noite desta sexta-feira (8) para celebrar a libertação do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva após 580 dias preso na Superintendência da Polícia Federal de Curitiba. A soltura veio após juiz acatar recomendação do STF que proíbe prisão após condenação em segunda instância.

Entre os que se empolgaram com a libertação do ex-presidente está o presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández. “Comente a fortaleza de Lula para enfrentar essa perseguição (apenas essa definição se encaixa no processo judicial arbitrário ao qual foi submetida). Sua força demonstra não apenas o compromisso, mas a imensidão daquele homem. Vida longa #LulaLivre”, publicou.

O “Lula Livre” esteve bastante presente durante a campanha eleitoral de Fernández. Ele visitou o ex-presidente em Curitiba e chegou a pedir liberdade de Lula logo em seu primeiro discurso após derrotar o atual presidente Maurício Macri.

Lawfare e Equador

Cristina Kirchner, ex-presidenta e agora eleita vice-presidenta da Argentina, também comemorou a decisão. “Hoje cessa uma das maiores aberrações do lawfare na América Latina: a privação ilegítima da liberdade do ex-presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. #LulaLivre”, publicou. Cristina também tem sido vítima de uma perseguição judicial.

Outro que é comumente referido como uma das vítimas do chamado lawfare é o ex-presidente do Equador, Rafael Correa, que também celebrou neste dia. “Um abraço, querido Lula. Você é um exemplo e inspiração para todos nós. Os dias dos traidores são numerados. ¡Hasta al victoria siempre!”, tuitou.

Gabriela Rivadaneira, deputada pelo Revolução Cidadã no Equador, considerou a decisão desta sexta como o início do fim da perseguição na região. “Muita alegria! #LulaLibre É o começo de um processo de compensação para prisioneiros e políticos perseguidos na região. O abuso de “prisão preventiva” a pessoas que não terminaram sua defesa no devido processo viola os direitos humanos e o mesmo estado de direito”, declarou a parlamentar que está refugiada na Embaixada do México por estar sendo ameaçada pelo presidente Lenín Moreno.

Golpeados, Zelaya e Lugo

O ex-presidentes Fernando Lugo, do Paraguai, e Manuel Zelaya, de Honduras, também celebraram. Ambos foram vítimas de golpes que os removeram do poder. “A voz do povo é a voz de Deus que leva, mas não esquece. LULA livre”, disse Zelaya. “Prezado companheiro Lula, um julgamento vergonhoso e 580 dias de prisão não poderiam dobrar um centímetro de sua coragem e sua dignidade para continuar ao lado de seu povo. O abraço de todos os povos latino-americanos para você e todos aqueles que lutam ao seu lado”, publicou Lugo.

Venezuela e Colômbia

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, foi outro que usou as redes para exaltar a luta de Lula. “A verdade triunfou no Brasil! Em nome do povo da Venezuela, expresso minha profunda alegria pela libertação de meu irmão e amigo Lula, que estará novamente nas ruas para liderar as justas causas de brasileiros e brasileiros. Vida longa #LulaLibre !”, postou.

Gustavo Petro, segundo colocado nas eleições presidenciais da Colômbia em 2018, classificou a libertação de Lula como uma vitória da humanidade. “A liberdade de Lula é um fato a favor da vida da humanidade”, disse.

México e outros países

O subsecretario para América Latina e Caribe do governo Mexicano, Maximiliano Reyes Zúñiga, também foi às redes celebrar. “Estamos felizes com a decisão da justiça brasileira que hoje determinou a liberdade do ex-presidente Lula, após a decisão adotada pelo Supremo Tribunal Federal. #Justicia #Derecho #VientosNuevos”, postou.

Diversos movimentos de outros países ainda celebraram desde o momento em que o STF declarou inconstitucional a execução provisória da pena. Entre eles, Felipe Parada, militante do Comunes, um dos partidos da Frente Ampla do Chile. “Que alegria terminar esta noite com as notícias da ordem de lançamento de Lula. Um abraço e muita força que o Brasil precisa de você #LulaLivre”, disse.

 

 

*Com informações da Forum

 

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América Latina luta e volta à esquerda

Para o sociólogo Emir Sader, “a América Latina não apenas volta à esquerda”, mas “luta à esquerda, desmontando o modelo neoliberal no seu eixo fundamental, o Chile”. Neste cenário, diz ele, “a evolução da situação brasileira será determinante” para a terceira década do continente no século XXI.

Nosso continente continua a ser o cenário das mais importantes lutas do mundo contemporâneo – contra o neoliberalismo e pela construção de alternativas ao modelo adotado pelo capitalismo no período histórico atual. O fôlego da retomada neoliberal se confirma como curto. Derrota espetacular de Mauricio Macri na Argentina, do tamanho da euforia que sua vitória havia despertado. Evo Morales, na Bolívia, aguenta firme, apesar da ofensiva da direita e da perda de apoios. No Uruguai, a Frente Ampla continua como a maior força política, mas vai ter parada dura no segundo turno, pela soma das direitas e também pela perda de apoios. Na Colômbia, as eleições municipais representam dura derrota para o atual presidente, Iván Duque, representante do uribismo, se fortalecem candidatos do campo popular e vinculados ao novo líder da esquerda, Gustavo Petro.

A Argentina confirma as fragilidades do neoliberalismo, que a direita não tem outra alternativa, que não aprendeu do esgotamento do seu modelo, que se enganou quanto ao sucesso dos governos antineoliberais, volta com sua política de ajustes fiscais e revela sua incapacidade não apenas de retomar o crescimento econômico e atacar o desemprego, como, em decorrência disso, de conquistar bases de apoio suficientes para ter governos com estabilidade política.

Apesar da recomposição da direita, Evo se apoio em suas bases populares, em grande medida o movimento indígena, para resistir, triunfar eleitoralmente, e ganhar um novo mandato, importante não apenas para completar a extraordinária recuperação econômica e as conquistas sociais e étnicas da Bolívia, como também para recompor suas forças políticas de apoio.

Na Colômbia também um governo neoliberal paga o preço do desgaste desse modelo, assim como da política repressiva e autoritária de Álvaro Uribe, retomada pelo presidente atual. O governo foi derrotado em todas as frentes, a começar por Bogotá e por Medellin, projetando derrota nas próximas eleições presidenciais, com favoritismo de Petro.

Mas a América Latina não apenas volta à esquerda, luta à esquerda, desmonta o modelo neoliberal no seu eixo fundamental, o Chile, e destrói a possibilidade de Lenín Moreno restabelecer o neoliberalismo no Equador. Explosões populares foram a resposta do povo às medidas de ajuste fiscal, que tiveram como reação o recuo aberto de Piñera e de Moreno, revelando como seu modelo é frontalmente antipopular e como o povo já o percebeu e não tolera a continuidade das medidas antipopulares. Esses governos se esgotaram. No Equador se desenha o retorno de governos ligados a Rafael Correa. No Chile, onde a direita tradicional liderava as pesquisas, a esquerda – especialmente a Frente Ampla – tem uma nova e grande oportunidade de voltar a polarizar contra o governo de Piñera.

A primeira década do século XXI na América Latina foi claramente de esquerda, com protagonismo dos governos antineoliberais, e dos seus líderes – Hugo Chávez, Lula, Néstor e Cristina Kirchner, Pepe Mujica, Evo Morales, Rafael Correa – como as principais lideranças de esquerda no mundo. A contraofensiva conservadora se impôs na segunda década do novo século, com as vitórias de Macri e de Jair Bolsonaro, a virada do governo de Moreno, o isolamento internacional do governo de Nicolás Maduro, no marco da eleição de Donald Trump e da vitória do Brexit. A China se reafirma como a grande potência do século XXI e os Brics como o projeto de construção de um mundo multipolar, alternativo à hegemonia imperial norteamericana em declínio.

Essa ofensiva revelou logo suas debilidades, a começar pelo próprio Trump e pelo Brexit, pela derrota do governo do Salvini na Itália, do Netanyahu em Israel, até que se consagrou aqui com a formidável vitória de Alberto Fernández e Cristina Kirchner, de Evo e as fantásticas mobilizações populares no Equador e no Chile. A terceira década promete ser a da retomada da esquerda e do recuo da direita na América Latina.

Com todos os avanços existentes, os governos progressistas em dois dos três países mais importantes do continente – México e Argentina –, com a continuidade do governo de Evo na Bolívia, o decisivo, uma vez mais, recai sobre o Brasil. Duas tendências marcaram a política do país ao longo deste ano: a tendência a um enfraquecimento acelerado do governo de Bolsonaro e ao fracasso da sua forma de fazer política – uma caricatura de Trump. E o fortalecimento da imagem de Lula, não apenas com a reabertura de possibilidades de recuperação da sua liberdade, como da força política que sua liderança recuperou sobre o cenário político brasileiro, com reconhecimento até mesmo de setores tradicionais que sua presença se torna indispensável para a recuperação política do Brasil. Antes de tudo, uma reação de massas às tantas medidas antipopulares do governo atual, assim como a reconstrução do modelo de crescimento econômico com distribuição de renda, precedido de um projeto de reconstrução nacional, diante das políticas de destruição do país dos governos Temer e Bolsonaro.

A liderança de Lula é indispensável nesse processo, mas ela tem que contar com um movimento de massas muito mais ativo e radical nas suas reações às políticas do governo, assim como uma esquerda com espírito unitário e combativo na luta pela reconstrução de uma força que polarize diretamente contra o governo, deixando as contradições internas à direita como fenômeno secundário.

A evolução da situação brasileira será assim determinante para a terceira década da América Latina no século XXI. O país precisa recuperar seu governo popular, para recompor, junto com México e Argentina como líderes, o processo de integração regional e como baluartes mundiais na luta fundamental do nosso tempo – a da derrota e de superação do neoliberalismo.

 

*Emir Sader/247

 

 

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Vídeo: Com militares aderindo à manifestação do povo, Piñera pede a ministros que ponham cargos à disposição

Piñera pede a ministros que ponham cargos à disposição e avisa que pode retirar estado de emergência anunciando o fim do toque de recolher para algumas regiões.

SANTIAGO – Em resposta à grande marcha que tomou as ruas do Chile nesta sexta-feira, o presidente Sebastián Piñera pediu aos ministros que coloquem seus cargos à disposição. Ele também anunciou o fim do toque de recolher para algumas regiões e a retirada da classificação de estado de emergência de várias localidades, a partir de domingo.

Pedi a todos os ministros que disponibilizassem seus cargos para poder estruturar um novo gabinete para enfrentar essas novas demandas e cuidar dos novos tempos – disse Piñera, referindo-se à onda de protestos e embates que já causaram 19 mortes.

O líder também avaliou que “o Chile está diferente de uma semana atrás” e classificou a última manifestação como “exemplar”.

– Vimos uma mensagem muito presente na alma dos chilenos, pois eles a expressaram com uma eloquência que chegou a todos nós. A marcha de ontem foi uma mensagem forte. Uma mensagem da grande maioria dos chilenos pedindo um Chile mais justo e solidário. Todos ouvimos essa mensagem. Todos mudamos e estamos com uma nova atitude. É como uma agitação – disse ele, que também fez um minuto de silêncio pelos mortos nos protestos e enfatizou a necessidade de se ter “capacidade de dialogar e saber ouvir”.

Piñera se reuniu, também neste sábado, com ministros e representantes de vários grupos sociais, no Palácio de La Moneda, sede do governo. Na ocasião, disse:

Queríamos convocar vocês para nos ajudar a criar uma metodologia que nos permita ouvir os chilenos, não apenas no nível da academia, da sociedade civil, dos sindicatos, do próprio governo, mas uma metodologia que venha a surgir desta e de outras reuniões e seja dirigida e coordenada pelo ministro Sebastián Sichel, com a colaboração de todos vocês, e nos permita satisfazer a uma enorme demanda.

Depois do encontro, foi anunciado o fim do toque de recolher para Santiago, Valparaíso, Biobío, Coquimbo e La Serena. Piñera disse que sua intenção é suspender os estados de emergência em todas as regiões, se as circunstâncias permitirem, a partir do próximo domingo.

– Depois de conversar com as Forças Armadas, quero anunciar que, se as circunstâncias permitirem, vou suspender todos os estados de emergência a partir de domingo para a normalização que todos os chilenos desejam.

Enquanto isso, algumas lojas comerciais seguem operando em horário limitado.

Piñera já tinha dito, na sexta-feira, que “todos escutaram o recado” sobre as desigualdades sociais no país. “A grande, alegre e pacífica passeata de hoje, onde os chilenos pedem um Chile mais justo e solidário, abre grandes caminhos de futuro e esperança”, escreveu Piñera no Twitter sobre o protesto que reuniu cerca de 1 milhão de pessoas em Santiago.

A multidão ocupou o centro da capital para exigir reformas em um sistema econômico que consideram desigual, e para denunciar o governo pelo emprego dos militares contra a pior revolta social em três décadas no Chile.

O protesto estudantil, iniciado há uma semana contra o aumento na tarifa do metrô, provocou uma grave crise social, onde manifestantes continuam nas ruas para exigir uma fatia maior da prosperidade que transformou o país em um dos mais estáveis da América Latina.

Incidentes isolados ocorreram em meio à gigantesca passeata, como diante do Palácio de La Moneda, sede do governo, onde as forças de segurança dispararam jatos d’água, bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar os manifestantes.

 

 

*Com informações do Globo

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Chile hoje pode ser o Brasil de amanhã

Se uma pessoa enfiar a cabeça em um forno e colocar pernas e tronco numa geladeira vai sofrer bastante apesar de ter, na média, uma boa temperatura do corpo.

Essa é uma anedota usada por professores de Economia para alertar alunos que números crus não traduzem a realidade social.

Como nessa comparação, os protestos no Chile mostram que, apesar de haver indicadores da economia melhores que os do Brasil, por exemplo, a população está sofrendo porque os ricos estão mais endinheirados e os pobres mais miseráveis.

O que deu errado na economia chilena?

O Brasil tem algo a aprender?

Compare indicadores de Chile e Brasil Salário mínimo:

R$ 1.700 (Chile) / R$ 998 (Brasil)

Renda média anual: US$ 25,2 mil (Chile) / US$ 15,7 mil (Brasil)

Desemprego: 7,3% (Chile) / 12,2% (Brasil)

Inflação: 2,4% (Chile) / 2,9% (Brasil)

Expectativa de alta do PIB neste ano: 2,9% (Chile) / menos de 1% (Brasil)

Brasil tem de olhar o que acontece no Chile

“O maior problema no Chile é a péssima distribuição de renda”, afirma o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP Paulo Feldmann.

São poucos os lugares do mundo em que o 1% mais rico da população ganha mais de 25% da renda total do país. Na América Latina, em apenas dois países isso acontece: no Chile e no Brasil Paulo Feldmann, professor da USP.

Para Feldmann, o Brasil precisa ficar atento ao que aconteceu no Chile.

“O Chile foi o primeiro país da América Latina a entrar de cabeça na política neoliberal, quando o governo acredita que o mercado resolve tudo. E a verdade é que muitas vezes o governo precisa planejar a economia”

Previdência privada e suicídio de idosos

Para o economista e professor da PUC-SP, Carlos Eduardo Carvalho, um dos principais sintomas dessa desigualdade no Chile é o sistema de aposentadoria.

“A questão da previdência é gravíssima”, declarou. O sistema de previdência, que era público, mudou nos anos 1980.

Cada trabalhador teve que assumir a própria poupança para o futuro.

Sem nenhum centavo do governo nem das empresas, as pessoas tiveram que passar a reservar de 10% a 15% da renda para a aposentadoria, colocando o dinheiro em empresas privadas, para investir no mercado financeiro.

Como a idade mínima para aposentadoria é de 60 anos para mulheres e 65 para homens, só agora as pessoas perceberam que essa reserva não é suficiente para pagar as contas.

E elas não têm a quem recorrer. Um quadro que tem levado desespero a muitos idosos.

Segundo dados do próprio governo chileno, o número de suicídios entre os maiores de 80 anos chegou a 17,7 para cada 100 mil habitantes, o percentual mais alto na América Latina.

O atual modelo econômico do Chile não consegue dar uma resposta para esse aumento da desigualdade. As pessoas estão desencantadas e se afastando da política.

Preço do cobre caiu; peso chileno está desvalorizado

O economista afirma que a economia chilena é baseada na exportação de produtos primários.

O cobre, a principal fonte de riqueza do Chile, vale hoje 40% menos que em 2011

O peso do chileno também está se desvalorizando. Caiu 25% desde fevereiro do ano passado.

Aumento do metrô: dinheiro tem de vir de algum lugar

Quando o governo decidiu aumentar a tarifa do metrô, foi como acender um fósforo perto de um barril de gasolina.

“Não existe almoço grátis”, disse o professor do Insper, Roberto Dumas. Eles [manifestantes] querem mais presença de Estado, mas o dinheiro tem que vir de algum lugar.

E a única forma de reduzir desigualdade é com crescimento econômico.

 

 

*Com informações do Uol

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Vídeo: A insurreição em Quito contra o neoliberalismo

Não há como não se enfurecer contra a escravidão moderna que os neoliberais querem enfiar goela abaixo dos povos latino-americanos, usando os artifícios mais imundos que as oligarquias locais e internacionais podem usar, entre eles, os que desempenham o papel institucional mais sujo, mais imoral e o que causa mais indignação, que são a mídia e o judiciário.

As mesmas práticas para produzir os mesmos resultados têm sido aplicadas contra governos progressistas em nome do progresso dos estúpidos, transformando a América Latina em um continente de regime de trabalho neoescravocrata.

Argentina, Brasil, Equador, Peru e Colômbia, todos os governos vendidos para o mercado e bem longe das necessidades do povo, variando apenas, segundo fatores estruturais e conjunturais de cada país. É uma nova fase do primitivismo de acumulação de capital que tem proporcionado a quebra dos governos e o empobrecimento assustadoramente desenfreado da população.

Todos desenvolvem um comportamento de total dependência dos EUA, transformando-se num braço dos interesses de Washington em consequência da exposição americana nesses países.

Por isso, a negação do direito à cidadania, a manipulação pela mídia e o esfolamento da mão de obra transformaram-se em matéria-prima fundamental para esse apartheid latino-americano.

A reação do povo no Equador pode ser um bom sinal contra a mentalidade reinante nos países de governos neoliberais que implantam um dos mais duros sistemas de escravidão moderna de que se tem notícia em boa parte do continente, porque pode ser, sobretudo, a fagulha que provocará uma explosão nos países contra essa dominação do capital sobre os povos.

A conferir.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Macri dá beiço no FMI e avisa a Bolsonaro num abraço de cagado: eu sou você amanhã

Ninguém pode acusar Bolsonaro de pensar igual a Macri, simplesmente porque ele não pensa, até as suas maldades não são frutos de elaboração maquiavélica, Bolsonaro age por instinto como qualquer animal. Mas os precursores da caricatura argentina do governo dele, sim.

Paulo Guedes tem vincado em suas falas a mesma ideia neoliberal do principezinho argentino, assim como até recentemente o colunismo de economia no Brasil o tratava de Messi do liberalismo. Resumo da ópera, no bom português, a vaca foi para o brejo na Argentina e vai para o brejo no Brasil. E as gargalhadas da esquerda são inevitáveis, sobretudo quando se recorre ao google e se depara com maravilhas como as do Antagonista saudando Macri, o desbravador neoliberal, que deveria servir de exemplo para o Brasil.

Piada dessas hienas de carreira à parte, Macri, beatificado pelos neoliberais de queixo mais duro no Brasil, depois de beijar as mãos, os pés e fazer seus rapapés ao FMI, meteu-lhe um calote com “C” maiúsculo na lata, a seco, entortando a cara dos nossos exóticos colunistas de economia. Aliás, isso, na América Latina é questão cultural, o efeito orloff entre os neoliberais da Argentina e do Brasil é requentado de tempos em tempos.

Fernando Henrique Cardoso, quando copiou de Cavallo, Ministro da Economia de Menen, inteiramente o seu milagre econômico, dolarizando artificialmente a economia brasileira com seu Plano Real a partir do impulso dado pelos portenhos, teve o mesmo fim, a perda de prumo da economia e a quebradeira generalizada, cá como lá.

Como disse Brizola, na época, “A quebradeira do Brasil na era FHC, veio a Cavallo”.

Ontem, não teve como não pensar, de estalão, quando Macri anunciou o beiço da Argentina no FMI, que já vi isso mil vezes esse filme, e sei bem o resultado que trará para o Brasil.

 

*Por Carlos Henrique Machado Freitas

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A loucura foi instalada no Brasil como método de destruição, diz ex-chanceler Celso Amorim

Tolstói abre seu clássico Anna Karenina com a célebre frase “todas as famílias felizes se parecem, mas cada família infeliz é infeliz à sua maneira”, “e a nossa maneira é mais cruel”, acrescenta o ex-chanceler Celso Amorim, ao explicar os desafios que o Brasil deve enfrentar para voltar a se posicionar no mundo como um país soberano.

Em conversa exclusiva com a Carta Maior, o ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa dos governos Lula e Dilma analisou o cenário político brasileiro, as mudanças no quadro geopolítico e os impactos da Operação Lava Jato na soberania nacional. Para o diplomata, que em 2009 foi considerado o melhor chanceler do mundo, o Brasil e o povo brasileiro são vítimas de um projeto de desmonte acelerado e será necessário o trabalho de gerações para reverter o estrago. “[O que está acontecendo] é uma coisa muito horrorosa, é uma loucura, é a instalação da loucura como método. Método de destruição”.

Amorim vê com muita preocupação as políticas do governo Bolsonaro e não titubeia ao afirmar que “eles estão dando os tiros certos: destruíram a Unasul”. Trata-se de um projeto sólido, de grandes potências, para enfraquecer a América Latina e voltar a ter o controle deste território, ao mesmo tempo que garante a subserviência brasileira como um “quintal estratégico”.

Desde a eleição de Hugo Chávez, na Venezuela, em 1998, a América Latina deu passos largos rumo à integração e à soberania. Consolidou mecanismos internacionais importantes e conseguiu se posicionar no mundo como um território com voz ativa em negociações de relevância global. O Brasil foi protagonista deste processo, não só pela extensão territorial e peso econômico, mas pela vontade política de não se fortalecer sozinho no xadrez mundial.

A mudança que este impulso progressista da América Latina causou no mundo incomodou as grandes potências, em especial os Estados Unidos que, como explica Amorim, “estava com o prato cheio” com as guerras no Oriente Médio no começo deste século. Mas agora se voltou novamente – com todas as fichas – para recuperar o território perdido ao Sul do mundo.

O peso na balança foi tanto que tivemos o direito de sonhar, por um pequeno instante, com o mapa invertido de Torres Garcia se tornar realidade. O ex-presidente do Equador, Rafael Correa, chegou a propor a “Canção Para Todos”, de Mercedes Sosa, como um hino da Unasul: “Canta conmigo, canta/hermano americano/libera tu esperanza/con un grito em la voz”.

Porém, com um golpe atrás do outro e uma falsa operação jurídica no Brasil, o projeto da Nuestra América de Martí foi por água abaixo em poucos meses e reverter este quadro é o desafio das próximas gerações, afirma o ex-ministro. A entrevista faz parte da série de Carta Maior sobre o impacto dos cinco anos de Operação Lava Jato no Brasil.

Leia os principais trechos:

Impacto da Lava Jato na soberania nacional

A Unasul, por exemplo, foi desativada já no governo Temer. A decisão jurídica de sair foi do governo Bolsonaro, mas já estava acontecendo antes. Na época do Brexit, ainda no governo Temer, o Brasil começou a cumprir tabela, não tinha nenhuma iniciativa. Eu acho que agora vai piorar. Essas coisas se juntam e não é só a Petrobras, as nossas empresas de engenharia também. A Odebrecht, por exemplo, era uma potência! Tinha que corrigi-la, e não liquidá-la. Você já imaginou a Alemanha liquidar a Volkswagen porque eles tinham um software que enganava na questão de meio-ambiente? Não, eles demitiram o responsável.

A questão externa no Brasil era dada graças à presença de grandes empresas nacionais; o BNDES, para empréstimos na área de construção e na aquisição de outras coisas; e por fim a nossa ação diplomática. Essas coisas estão sendo demolidas de maneira sistemática. A Lava-Jato quis atingir sim o cerne da soberania. A libertação do Lula tem a ver obviamente com a sua inocência, seus direitos como cidadão e ser humano, claro, mas tem a ver também com o símbolo da soberania brasileira. No Brasil e na América Latina, quando você tem a luta pela soberania e pela igualdade combinadas, acontece um golpe.

[Neste momento] é importante que a esquerda e as forças progressistas sejam atentas, observadoras, porque tem muita coisa acontecendo. Precisamos nos perguntar: onde está o chão de fábrica, aquele que antes era mobilizado pelo Lula nas grandes greves? Como mobilizar essas pessoas é um desafio. Como é que você organiza a grande massa de beneficiados pelo presidente Lula, em grande parte pessoas destituídas, que não fazem parte de nenhum movimento? Em época de grande desemprego – como é agora –, a capacidade de militância dos sindicatos diminui. É preciso se reorganizar para mobilizar os trabalhadores.

O Lula tem uma grande capacidade de entender a realidade e se colocar diante dela. Não vejo nenhum outro líder no Brasil com essa capacidade, independentemente da capacidade intelectual que cada um tem. Você pode entender intelectualmente um problema, agora quem é capaz de falar com o povo, isso é o Lula.

Os sindicatos continuam a ser importantes, a gente teve essa greve geral que foi bem sucedida, mas é uma coisa mais ampla e mais complexa. Mas reconquistar a classe média é muito importante porque ela oscila. Muita gente que achava o Lula bom, depois achou ruim porque acreditou nas fábulas todas da corrupção, agora deve estar escandalizada com o [Sérgio] Moro.

Tem a famosa frase do Tolstoi que abria Anna Karenina: ‘todas as famílias felizes se parecem, mas cada família infeliz é infeliz à sua maneira’. A nossa maneira é mais cruel. A organização hoje tem vários níveis. Tem que continuar trabalhando pela coisa do longo prazo, evidentemente, sem esquecer da frase do [John Maynard] Keynes que “no longo prazo estaremos todos mortos”.

Mas ainda não estamos discutindo um programa de governo. Claro que tem que começar a discutir porque tem que oferecer um horizonte alternativo. Não basta dizer que o que está aí está ruim, tem que dizer como que vai ser o bom. Mas tem que ter muita clareza que nós estamos vivendo uma situação tão dramática no Brasil de demonização da cultura… Se há uma coisa que caracteriza a atual administração é o ataque à razão. Tudo que é racional está sendo atacado.

O interesse norte-americano no Brasil

Obviamente [o motivo de incômodo dos Estados Unidos com a soberania nacional] foi a decisão do Brasil de tomar conta do pré-sal – porque não é só dizer ‘ah as companhias norte-americanas’ é lógico que as companhias norte-americanas têm interesse. Mas é muito mais complexo que isso. Quem está investindo no pré-sal? Tem companhia chinesa, tem companhia norueguesa, tem de tudo. Claro que há um interesse das empresas americanas, mas mais do que isso, é o interesse estratégico dos EUA.

Isso aqui sempre foi visto como quintal dos EUA. ‘Quintal’ parece uma expressão que a gente inventou aqui feito complexo de vira-lata, mas não é. É tratado nos livros acadêmicos norte-americanos a América Latina como ‘back área’ ou seja, é o quintal estratégico deles. Então isso aqui não pode mudar. [Os EUA consideram que] alguém pode até explorar o nosso petróleo, mas tem que ser parte da reserva estratégica deles num caso de conflito.

Brics

Se você tem uma política externa – não só brasileira – que começa a ter consequências práticas como os Brics… Os Brics talvez tenham sido o ponto mais importante porque implica numa possível associação mais profunda com China e Rússia. O IBAS [Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul] não incomodava eles [os EUA], mas o Brics é uma mudança possível na geopolítica mundial.

Eu fui convidado para participar de uma reunião de estratégia europeia para falar sobre Brics e uma das perguntas que eles me fizeram foi: ‘mas o banco dos Brics é para substituir o Banco Mundial?’. Então havia uma percepção que talvez fosse até exagerada com relação à realidade mas que estava mudando a organização estratégica do mundo. Você tem o petróleo aqui, tem os Brics, tem uma percepção que se consolida em 2009, 2010, com todas as iniciativas que o Brasil tinha tomado, e outros países da América do Sul também tinham tomado para participar que foi a Unasul e a Celac. Isso é concreto, não são palavras ao vento. Nosso comércio com a América do Sul aumentou muitíssimo, e o deles conosco.

Este conjunto de coisas fez com que o famoso Estado profundo norte-americano despertasse para o problema geopolítico que significava a atuação externa do Brasil. O Brasil é um dos maiores países, junto com os EUA, e tem projeção na África, nos países árabes, na Índia, etc… e a América Latina passou a ser vista já não mais como um quintal. Tudo isso fez com que tenha despertado a visão de ‘temos que ter alguma ação’. É por aí que as ciosas começam.

Mudanças no quadro geopolítico na última década

Um fato [novo] muito importante é o ressurgimento desse nacionalismo populista na Europa, que é um nacionalismo de direita, diferente de países em desenvolvimento. Isso ocorre também nos Estados Unidos. É curioso porque é muito novo. Quer dizer, pela primeira vez, eu diria, desde a Segunda Guerra Mundial, o [Donald] Trump representa uma defesa — claro que os Estados Unidos sempre defenderam o interesse deles em primeiro lugar, mas eles procuravam definir o interesse deles em termo de uma ordem mundial. Claro que nisso tinha muita hipocrisia, mas também muito de realmente procurar algum ordenamento. Agora não, agora é o seguinte: ‘a propriedade intelectual nos interessa, vamos lá dar um cacete no cara que não tá respeitando, entendeu?’. Simplificando muito é isso. Os Estados Unidos — no caso da primeira Guerra do Golfo, pelo menos, que é uma ação armada contra o Iraque — [disseram] ‘vamos tentar obter a aprovação da ONU’, e assim foi. Agora não, agora é ‘vamos lá e fazemos o que a gente quer’. Ninguém pergunta. Os Estados Unidos pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial defendem de maneira totalmente crua e direta, o seu interesse.

Hoje em dia há três polos de poder muito grandes, são Estados Unidos, China e Rússia. Com a possível associação que se vê de maneira crescente entre Rússia e China, serão dois polos novamente. Não será mais o polo ideológico Leste-Oeste do passado, que era capitalismo contra comunismo. Agora é uma coisa bem mais complicada. Mas pode ser Estados Unidos de um lado, e Eurásia de outro, com a União Europeia ali no meio sem saber que partido tomar. Ideologicamente mais do lado capitalista, mas com os seus interesses também…

Como a América Latina e o Brasil devem se comportar em relação a isso? Devem simplesmente explorar essas diferenças em seu benefício. Porque não se trata só dos Estados Unidos, a China é uma negociadora braba! Então você tem que ter essa atuação, e o Brasil tem um potencial de liderança no mundo em desenvolvimento…

Da política externa altiva e ativa ao desmonte do Itaramaty

Eu não estou falando uma coisa abstrata. Eu vi nas negociações da Organização Mundial do Comércio! Eu vi delegados africanos dizendo: ‘Vota igual o Brasil’. Porque eles sabiam que não tinham condição de levar. A Índia dizia assim: ‘A gente vai com vocês, mas vocês vão na frente’. Na época do presidente Lula era assim. Já era um pouco antes, eu devo dizer, porque o Brasil tem um peso.

Quando eu vejo o que está ocorrendo hoje na política externa… é uma coisa dramática. Não é só contra o Lula. Não é o regresso à política do Fernando Henrique Cardoso — que eu já lamentaria em muitos aspectos — é um retrocesso inominável.

[Diante deste cenário] o desafio é defender a soberania no plano internacional, com esse quadro redefinido, exige coisas que eu, digamos, a curto prazo não vejo como. Mas [precisa] restabelecer a integração. Porque o Brasil sozinho, apesar de grande, ele também não tem esse peso todo. Não tem o peso da China, dos Estados Unidos. Porém, a América Latina pode ter. América do Sul pode ter.

É possível a continuidade do ciclo progressista?

Essa eleição na Argentina com o Alberto Fernández, quem sabe?! Com o kirchnerismo voltando… O nosso presidente é tosco e tudo isso que dizem, mas ele tem intuição. Porque que ele diz: ‘Eu não tô preocupado tanto com a Venezuela, agora eu tô preocupado com a Argentina’?

Mas eu vejo que há uma determinação de impedir que a América Latina volte a ficar de pé. É escandaloso que não tenha havido uma reação na América Latina em relação à ameaça norte-americana de aumentar as tarifas do México, ou diante da proposta de construção de um muro. Agora, veja que eles estão dando os tiros certos: destruíram a Unasul. Começou no governo Temer e o Bolsonaro consolidou.

O que acontece na Argentina, pro bem ou pro mal, tem um impacto no Brasil. Eles acabaram com a ditadura lá, em poucos meses acabou aqui; tem uma crise financeira lá, pouco depois tem uma crise aqui. Da mesma forma que a democratização lá acelerou a redemocratização aqui, se você tiver governos progressistas na Argentina, México, Bolívia, na própria Venezuela que está conseguindo se segurar… é importante, por isso o Bolsonaro está tão interessado.

Agora, claro, o Brasil tem um peso muito grande: todos os outros países do mundo têm interesses comerciais e econômicos aqui. Não é à toa que quando fala-se dos países que apoiam a linha americana em relação à Venezuela falam logo do Brasil.

Retomada do desenvolvimento e soberania

[Retomar o desenvolvimento nacional] é um grande desafio. É preciso que muitas pessoas entendam que o discurso da soberania está junto com o discurso da democracia, não existe democracia sem soberania.

Temos que alargar a frente pela soberania com as pessoas que, digamos, são mais derrotadas na democracia, que não tão pensando tanto na soberania, mas que pensam na democracia. E é indispensável que haja uma repactuação, mas quem nós podemos incluir nessa repactuação pra mim não é claro. Por exemplo, eu tenho pouca confiança numa boa parte da indústria brasileira.

No passado a gente imaginava a burguesia nacional [como um grupo importante para o desenvolvimento]. Não vejo mais isso. A verdadeira burguesia nacional hoje — vou dizer uma coisa chocante —, a verdadeira burguesia nacional hoje é o agronegócio.

[A demissão do Joaquim Levy] retoma a ideia de que estamos vivendo uma profunda anormalidade insustentável. O governo vai ter que fazer uma adaptação para sobreviver. Quando o Bolsonaro comenta que vai armar a população para evitar o golpe… o que ele quer dizer com isso? Se eventualmente o Lula for solto e o exército não resolver agir, então a população age? O que é o golpe? Uma eventual tentativa de impeachment? Não acho nem que é o caso de mexer com isso agora, mas vai que alguém mexa… O que me espanta nisso é que essa declaração tenha sido feita em uma cerimônia militar. É como dizer que não se confia no Exército, e sim “no meu povo”. Isso é espantoso e vai obrigar uma reorganização.

Veja bem, eu não gosto desse artigo da Constituição do jeito que é, acaba servindo para dar um poder de arbítrio; mas na Constituição atual é missão das forças armadas: ‘1. A defesa da pátria; 2. A garantia dos poderes constituídos e a pedido deles a lei e a ordem’. Quem teria que evitar o golpe, em teoria, são as forças armadas! Se você passa essa obrigação para a população, qual o papel das forças armadas? Você mexe com um dos pilares do atual governo, os militares, que devem estar abalados com todas essas mudanças.

Outro pilar do governo é o capital financeiro, e eles não querem só representantes, querem ordem, previsibilidade, quando o cara é demitido do BNDES por supostamente ter empregado um petista, isso gera instabilidade. Eu acho que são duas coisas diferentes: um é o problema estrutural no Brasil, isto é, o domínio do capital financeiro, do capitalismo internacional, do neoliberalismo, coisas que já eram marca do governo Temer; depois há um núcleo de irracionalidade que é típico do governo atual. O que podemos discutir é se esse núcleo de irracionalidade pode ser abalado, modificado. A antessala para um projeto progressista, na minha opinião, está um pouco mais longe.

A gente tem que aceitar que nesse plano mais amplo temos outros aliados também, ainda que no meio do caminho a gente se separe. A nossa estratégia de desenvolvimento tem que ter o lado econômico fundamental que o professor Bresser-Pereira enfatiza sempre, que faz parte do nosso Projeto Brasil Nação. Mas ela tem que ter também um lado de igualdade social, racial.

O Brasil não é um país que tem uma nação a ser defendida, é um país que ainda precisa construir uma nação. Com tantas pessoas excluídas, e a questão de classe ainda não superada… é difícil fazer um projeto.

E aí voltamos ao ponto inicial, como é que pode ter discussão de soberania nacional se você não construiu a nação a partir da soberania popular? O conceito de soberania nasce com a formação dos estados nacionais da Europa, era algo para se defender de fora. Aí vem o Jean-Jacques Rousseau e cria o conceito de soberania popular, ou seja, a soberania para dentro.

Desta forma, só há soberania quando é o povo que exerce o poder. Está nas nossas Constituições antigas “todo poder emana do povo”. Enfim, são esses dois âmbitos, e quando você diz que o poder emana do povo, é do povo mesmo, não é da elite, é do povo pobre, negro, do nordestino, das mulheres, dos LGBTs, dos índios. Você tem que reconstruir isso ao mesmo tempo que se prepara para enfrentar as pressões externas, não é uma tarefa fácil, é uma tarefa gigantesca. E não vai ser uma tarefa para uma geração.

Com todas as críticas que eu faço ao Fernando Henrique, foi um governo de tolerância, um governo democrático, não mandou prender ninguém, não havia reitores se suicidando por perseguição. Também não se pode desprezar isso, entende? Eu me lembro de 1964, [falávamos] da democracia burguesa. Aí veio o golpe militar e ficamos morrendo de saudade da democracia burguesa. Não podemos nos satisfazer com ela, mas também não podemos desprezá-la. É [por] isso que a gente tem que brigar, eu não quero ver reitores se suicidando, não quero ver mulheres e negros sendo espancados, não quero ver o dinheiro faltar para a universidade, e ao mesmo tempo quero ver o Brasil capaz de defender seu interesse no plano internacional.

O que acontece é o seguinte, na época da ditadura eu tinha vergonha do Brasil, mas eu não chegava ter vergonha da diplomacia brasileira. Você pega um chanceler feito o Gibson Barboza [ministro das Relações Exteriores do governo Médici entre 1969 e 1974] ele não saía por aí defendendo a tortura. Ele evitava o assunto, procurava outras agendas. Hoje em dia não, é uma coisa muito horrorosa, é uma loucura, é a instalação da loucura como método. Método de destruição.

 

*Da Carta Maior