Candidato do Partido dos Trabalhadores à Presidência da República, Lula compareceu a uma escola estadual às 9h21 deste domingo (30/10).
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) votou às 8h45 deste domingo (30/10), em São Bernardo do Campo, na Região Metropolitana de São Paulo. Ele estava acompanhado da esposa, Rosângela Lula da Silva, a Janja; o candidato ao governo de São Paulo Fernando Haddad e outros aliados.
“Hoje, o povo está decidindo o modelo de organização, de vida que quer. Estou convencido de que o povo vai votar em um projeto em que a gente possa resgatar as pessoas que estão com fome, para que a gente possa ser civilizado. As pessoas que trabalham e que estudam precisam estender a mão para os que não tiveram essa oportunidade”, disse Lula.
O local de votação do candidato à Presidência da República é a Escola Estadual Doutor João Firmino Correia de Araújo, localizada no bairro Assunção. Acompanhavam o candidato aliados políticos como Fernando Haddad, André Janones, Geraldo Alckmin, Gleisi Hoffman, Marina Silva e Aloísio Mercadante.
“Estou aqui com companheiros históricos que nasceram na luta sindical”, lembrou o ex-presidente.
“Hoje, possivelmente, seja o dia 30 de outubro mais importante da minha vida e acho que é um dia muito importante para o povo brasileiro que ele vai estar definindo o modelo de Brasil que ele deseja de organização social. Na verdade, o povo está definindo hoje o modelo de vida que ele quer. Por isso é o dia mais importante da minha vida, porque eu me coloquei candidato nesse dia, eu estou convencido que o povo brasileiro vai votar no projeto que a democracia seja vencedora”, declarou Lula neste domingo.
*Com Metrópoles
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Em um acordo cível firmado nesta segunda-feira (6) com o Ministério Público de São Paulo, a concessionária que administra o sistema Anchieta-Imigrantes, a Ecovias, afirma que houve formação de cartel, pagamentos de propinas e repasses de caixa dois em 12 contratos de concessão rodoviária firmados com o Governo de São Paulo.
As irregularidades duraram de 1998 a 2015, período que inclui as gestões Mario Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, todos do PSDB.
Um dos compromissos da empresa para não ser processada é a redução de 10% na tarifa de pedágios das rodovias e Anchieta e Imigrantes, entre 21h e 5h. Segundo envolvidos nas negociações, essa medida seria uma compensação aos caminhoneiros durante a pandemia do novo coronavírus.
O acordo tem valor total de R$ 650 milhões, sendo R$ 450 milhões em obras, R$ 150 na redução de pedágio e R$ 50 milhões em multa. O conteúdo dos relatos feitos aos promotores foram publicados pelo jornal O Estado de S. Paulo e confirmados pela Folha.
A companhia citou à Promotoria as pessoas que teriam recebido os valores, entre eles políticos que ainda hoje têm mandato —no entanto, para ter validade, o acordo ainda tem que ser homologado pelo conselho do Ministério Público e pela Justiça.
As investigações sobre a concessão da Ecovias começaram em 2018, quando o Ministério Público instaurou um inquérito cível para apurar eventuais irregularidades. A empresa, então, procurou os promotores para celebrar um acordo.
A Ecovias relatou que firmou o cartel em 1998, durante a gestão de Mário Covas (1930-2001), em concessões que duram até hoje. O pagamento de propina e de caixa dois, relataram, durou até 2015.
Com o acerto, a concessionária se compromete a colaborar com a produção de provas sobre o que foi dito, mas se livra de ações civis.
Outras 11 empresas teriam participado da formação de cartel nos contratos, segundo a Ecovias, mas até o momento nenhuma delas firmou acordo com a Promotoria.
O acerto foi possibilitado devido à nova Lei Anticrime, que possibilitou esse tipo de medida em casos de improbidade administrativa.
A reportagem procurou os promotores responsáveis pelo acordo, Silvio Marques, José Carlos Blat e Paulo Destro, mas eles não quiseram se manifestar, já que o acordo não foi homologado e está sob sigilo.
Segundo a Secretaria de Logística e Transporte e a própria Ecovias, os R$ 450 milhões serão aplicados, caso o acordo seja validado, “em obras de interesse público não previstas originalmente no contrato de concessão da Ecovias”, como “a construção de um Boulevard de cerca de 2 km nas proximidades do Complexo Viário Escola de Engenharia Mackenzie, em São Paulo, bem como em melhorias na Rodovia Anchieta”.
A empresa se comprometeu, no acordo, a não lucrar com essas obras. O boulevard inclui novas pistas, inclusive subterrâneas. As reuniões que decidiram sobre essa construção tiveram participação direta de João Octaviano Machado Neto, secretário de Logística e Transportes da gestão João Doria (PSDB).
Nesta segunda (6), após a assinatura, o grupo Ecorodovias, do qual a Ecovias faz parte, publicou um fato relevante dirigido ao mercado informando que havia firmado o acordo e detalhando os pagamentos que faria.
Procurada, a concessionária Ecovias confirmou o acordo e informou que “as novas tarifas serão implementadas a partir de 90 dias após a homologação do acordo e as obrigações de investimentos, redução e pagamento da Ecovias ocorrerão após certo prazo da homologação judicial”.
“Contando atualmente com amplo programa de compliance e rigorosos mecanismos de controle de gestão, a EcoRodovias reafirma seu compromisso com o crescimento sustentável e com transparência em todas as suas relações profissionais”, disse, em nota.
O Governo de São Paulo afirmou, também por meio de nota, que “não teve acesso ao conteúdo do acordo que é mantido em sigilo de Justiça”. No entanto, afirma que, no acordo, “a participação do Estado se deu exclusivamente em definir a destinação dos recursos de R$ 450 milhões” para a construção do Boulevard.
O PSDB de São Paulo, afirma que “não tem qualquer relação com a empresa citada ou com os fatos mencionados e tem absoluta convicção de que os atos administrativos das gestões de Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra seguiram estritamente o definido por lei”.
“Todas as doações feitas ao partido são devidamente registradas junto à Justiça Eleitoral, conforme determina a legislação vigente, sem que jamais houvesse qualquer contrapartida relacionada a contratos governamentais ou vantagens de qualquer natureza”, diz o partido.
“Ressaltamos ainda que, por definição, cartel deve envolver mais de uma empresa para lesar o estado, sendo este o prejudicado neste processo irregular. O PSDB defende a apuração célere dos fatos e a punição exemplar dos envolvidos, além da devolução dos recursos ao Governo do Estado de São Paulo.”
O governador João Doria não aprovou o nome de Benedito Mariano para o cargo de Ouvidor de Polícia.
Mariano foi o mais votado na lista tríplice estabelecida pelo Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), mas o governador é quem tem a palavra final e Doria decidiu por nomear o último colocado.
Benedito Mariano era o atual ouvidor. Ele esteve à frente do mais recente relatório da Ouvidoria das Polícias de SP que revelou o aumento da letalidade policial em quase 12% durante o ano passado.
A polícia matou 716 pessoas em 2019, contra 642 em 2018.
Mariano é também um forte crítico do fato de 97% dos casos de crimes cometidos por policiais serem investigados pelos próprios batalhões aos quais pertencem, e não pela Corregedoria.
Consciente de seu papel, Mariano tem em mãos o dado que expõe a natureza perversa dos métodos policiais. Das pessoas mortas por policiais, 99% são pobres e, desses, 65% são negros.
Ele expõe esses dados. Precisa explicar mais do porque da decisão do governador?
Durante a campanha, Doria já tinha dito que sua polícia seria matadora. O massacre em Paraisópolis está aí para confirmar. E outros 707 cadáveres também.
O discurso alinhado com Bolsonaro e Witzel injetou um ânimo extra e brutal nas tropas. Basta prestar atenção ao tanto de casos registrados em vídeo desde que essa turma assumiu o poder.
Não, a culpa não é dos celulares. Vide os números que confirmam o crescimento de óbitos.
Mesmo quando não mata, a polícia hoje parece movida a ódio a tal ponto de ser capaz de subir na barriga de uma mulher grávida de 5 meses e espancá-la. A primeira reação de Doria foi acusar a mulher que passou por esse ato hediondo porque estava filmando uma abordagem.
Uma grávida de 5 meses fez o policial agir daquela forma por “escusável medo, surpresa ou violenta emoção”?
Não é a primeira vez que um governador tucano ignora a votação feita pela lista tríplice do Condepe e bota pra escanteio quem faz marcação cerrada na afronta aos direitos humanos e nas práticas discriminatórias das polícias.
Em 2015, o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, não levou em conta o fato do advogado Ariel de Castro Alves ter sido o mais votado.
Ariel é coordenador estadual do Movimento Nacional de Direitos Humanos, integra o Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo e o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Condeca). Além de já ter sido membro do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e secretário geral do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe). Esse é o currículo.
Alckmin, assim como Doria, optou pelo último mais votado, um advogado da turma religiosa. Era membro da arquidiocese paulista.
“É lamentável que o governador João Doria não tenha reconduzido o ouvidor de Polícia Benedito Mariano. Certamente a atuação combativa do atual ouvidor diante da crescente violência policial favoreceu essa decisão do governador.
O novo ouvidor, o advogado Elizeu Soares Lopes, tem currículo e condições para também fazer um bom mandato à frente da Ouvidoria”, declarou Ariel de Castro Alves que fez mais um alerta: o órgão nunca teve uma ouvidora geral mulher.
Agora é rezar para que Ariel tenha razão e o novo ouvidor faça um bom trabalho e, sobretudo, faça frente aos ataques nefastos de quem deseja mesmo acabar com a Ouvidoria, caso do deputado Frederico D’Avila, do PSL.
Embora seu projeto de extinguir a Ouvidoria da polícia tenha sido considerado inconstitucional, ele permanece lutando para intimidar a atuação do Condepe.
É dele o projeto que prevê reduzir os representantes da sociedade civil na entidade e inserir ali integrantes das polícias Civil e Militar.
Raposa tomando conta do galinheiro. João Doria certamente gosta da ideia.
“Oficial subalterno excluído do exército e deputado ultramarginal de extrema direita”.
Em duro artigo assinado por Bruno Meyerfeld, publicado nesta segunda-feira (30), o diário francês Le Monde avalia o presidente Jair Bolsonaro como “oficial subalterno excluído do exército, deputado ultramarginal de extrema direita, zombado por seus pares por três décadas”. Segundo o jornal, o chefe de Estado brasileiro “não era de maneira alguma um homem de poder”. “E menos ainda um estadista.”
Para o Le Monde, em sua trajetória, “o capitão da reserva acusou o odiado ‘sistema’ com mais fúria e barulho do que qualquer outro líder do planeta: mentiras em série, comentários racistas e homofóbicos, piadas misóginas, delírios conspiratórios, elogios à tortura e à ditadura, insultos a líderes estrangeiros”.
O jornal faz um prognóstico sombrio. “Bolsonaro é o espelho da parte obscura do Brasil”, observa o artigo, e acrescenta: “O reinado de Jair Bolsonaro pode durar mais tempo do que pensamos”.
Para o ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, o artigo avalia que “o Brasil lindo, trigueiro e acolhedor mostrou por trás da máscara um lado cheio de ódio, hostilidade e preconceito muito forte que não vai desaparecer, mas, por outro lado, indica um caminho, que é preciso enfrentar o ódio e combatê-lo”.
A tarefa não é fácil, segundo ele. “Há rachas no Brasil. Um, entre antipetistas e petistas, e outro racha entre antifascistas e bolsonaristas. Mas esses dois rachas não dialogam ou não coincidem, porque uma parte importante é contra PT e contra Bolsonaro. E muita gente tapou o nariz para votar em Bolsonaro.”
A situação é complexa, em sua opinião, porque há três segmentos eleitorais no país: o segmento que vota e apoia Bolsonaro, de extrema-direita, que tem aproximadamente um terço dos eleitores; o segmento do PT e da centro-esquerda, aproximadamente com o mesmo percentual; e a direita, que é fraca em votos. “A direita é o terceiro terço, a terceira força, intermediária, que costumava pender para o PT, mas está vacinada contra a esquerda, contra a qual houve muita campanha.”
No espectro político, avalia, “a direita brasileira (representada por figuras como Geraldo Alckmin e Henrique Meirelles) tem dinheiro, mas não tem voto”. “É algo típico do Brasil”, diz. Ele lembra que, com eleições livres, desde que Eurico Gaspar Dutra foi eleito em 1945, a direita “jamais ganhou a eleição com pessoas que vêm de dentro dela”. “Os nomes que a direita emplacou como presidente são quatro: Jânio Quadros (1960), Fernando Collor (1989), Fernando Henrique (1994) e Bolsonaro (2018).”
(…) Diante desse ambiente complexo, avalia Janine, há espaço para a centro-esquerda crescer. “Mas não é PT sozinho. Tem que ser PT, PSB, PDT, talvez até (setores mais progressistas do) PSDB.” (…)
O Instituto Fernando Henrique Cardoso, ONG criada pelo ex-presidente tucano com a ajuda de grandes empresários, foi contemplado no ano de 2006 com uma doação de R$ 500 mil de uma empresa estatal do governo paulista, que no período 2003-2006 foi comandado por Geraldo Alckmin (PSDB)
O dinheiro saiu da Sabesp – então presidida por outro tucano, Dalmo Nogueira Filho – e foi direcionado para um projeto de conservação e digitalização do acervo do instituto, conhecido pela sigla iFHC.
O acervo é formado por livros, fotos e obras de arte de FHC e também de sua mulher, Ruth Cardoso. Reúne não apenas itens coletados durante a passagem do tucano pela Presidência, mas também da época em que era professor e um dos líderes da oposição ao regime militar. Entre os objetos em processo de catalogação estão os presentes que FHC recebeu durante seu governo – vasos, quadros, tapetes e até capacetes de pilotos de Fórmula 1.
O projeto de preservação e digitalização do acervo está orçado em mais de R$ 8 milhões – valor que equivale a cinco vezes o orçamento anual da Biblioteca Mário de Andrade, a maior de São Paulo, com mais de 3,2 milhões de itens.
Na época o Instituto Fernando Henrique Cardoso era uma espécie de “organização ex-governamental” – reunia em seu conselho deliberativo diversas estrelas dos dois mandatos presidenciais tucanos, entre eles ex-ministros como Pedro Malan (Fazenda), Luiz Carlos Bresser-Pereira (Administração) e Celso Lafer (Relações Exteriores e Desenvolvimento).
O iFHC afirma ter dois objetivos básicos: o primeiro é a preservação do próprio acervo do ex-presidente e de sua mulher; o segundo é a promoção de debates e seminários – que são restritos a convidados. O site do instituto na internet destaca que “o iFHC, entidade privada, não está aberto à visitação pública”.
O auxílio estatal ao instituto, via Sabesp, fugiu à regra: o iFHC nasceu e é mantido graças a contribuições privadas. Quando inaugurado, em 2004, tinha R$ 10 milhões em caixa. O tucano começou a pedir doações a empresários quando ainda era presidente.
Em um jantar no Palácio da Alvorada, em 2002, FHC expôs os planos de sua futura ONG a convidados como Emílio Odebrecht (grupo Odebrecht), Lázaro Brandão (Bradesco), Olavo Setubal (Itaú), Benjamin Steinbruch (CSN), Pedro Piva (Klabin) e David Feffer (Suzano). Na época, o colunista Elio Gaspari criticou o fato de a coleta de fundos ser feita entre representantes de empresas financiadas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ou contempladas no processo de privatização.
Já as relações da Sabesp com políticos do PSDB não constituem propriamente uma novidade. em 2006, reportagens da Folha de S.Paulo revelaram que a estatal patrocinou uma edição da revista Ch’an Tao, do acupunturista do então candidato à Presidência Geraldo Alckmin – o tucano foi assunto de capa e apareceu em 9 das 48 páginas da publicação.
A estatal também destinou R$ 1 milhão de sua verba publicitária para uma editora e um programa de TV do deputado estadual Wagner Salustiano (PSDB). O Ministério Público abriu uma investigação sobre o eventual uso de empresas do Estado para beneficiar aliados de Alckmin na Assembléia Legislativa.
A Terra Magazine procurou a Sabesp e FHC, em busca de esclarecimentos sobre a doação de R$ 500 mil. Não houve resposta da estatal. A assessoria do iFHC informou apenas que o ex-presidente não se encontrava no local.
Além da Sabesp, da Sun e da IBM, os outros patrocinadores do projeto de digitalização do iFHC são as empresas Philco Participações (R$ 600 mil), Arosuco Aromas e Sucos (do grupo Ambev, R$ 600 mil), Mineração Serra Grande (do grupo Anglo-American, R$ 200 mil), Norsa Refrigerantes (representante da Coca-Cola no Nordeste, R$ 140 mil), Rio Bravo Investimentos (R$ 30 mil) e BES Investimentos do Brasil (R$ 25 mil).
A libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve um efeito positivo para sua imagem. A rejeição à sua prisão subiu, segundo pesquisa da consultoria Atlas, feita na Internet entre os dias 10 e 11 de novembro — dois dias após sua soltura — com 2.000 pessoas de todas as regiões do Brasil. Na comparação com o levantamento feito em julho, houve uma alta de sete pontos percentuais no índice de rejeição ao cárcere do ex-presidente, que passou de 37,4%% para 44,4%, respectivamente. Ao mesmo tempo, a percepção da imagem de Lula melhorou. Na pergunta “Você tem uma imagem positiva ou negativa de Lula”, 40,7% pontuaram como positiva, enquanto que em agosto o índice era de 34%. Ainda assim, uma maioria de 53% ainda possui uma imagem negativa do líder petista.
Ainda sobre a condenação que levou Lula à cadeia por 580 dias, a pesquisa mostra alguns resultados aparentemente contraditórios. Enquanto 47,8% se mostram a favor de sua prisão e 44,4% contra, 52,2% dizem que ela foi justa, ao passo que 42,3% acreditam que foi injusta. “Isso sugere que uma parcela chave da população considera que Lula já pagou o suficiente pelos erros que consideram tê-lo levado a sua condenação”, explica o cientista político Andrei Roman, fundador da Atlas. Roman observa que esse grupo se mostra “disposto a perdoar” o líder petista.
O Atlas traz ainda mostra que a maioria dos entrevistados, ou 56,5%, rejeita a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que derrubou na última quinta-feira a execução de uma pena condenatória logo após o julgamento em segunda instância e que resultou, no dia seguinte, na soltura do ex-presidente e outros condenados da Operação Lava Jato. Apenas 29,4% se disseram a favor, enquanto que 14,1% não souberam opinar. Isso indica uma discrepância entre a rejeição da decisão do STF e a rejeição à prisão do ex-presidente. Roman opina que “boa parte dos eleitores do Lula esperaria que o STF fosse decidir por sua inocência, ao invés de adotar essa solução, que essencialmente deixa o petista refém no futuro, e faz dele um bode expiatório para a libertação de outros personagens, muitos deles bem controversos”.
Porém, o cientista político não sabe dizer se esse assunto abordado pelo Supremo e toda sua natureza complexa ficou articulada com tanta clareza na cabeça do eleitorado lulista. “De qualquer forma, a dinâmica do STF dos últimos anos foi de muitas contradições em relação a sua própria jurisprudência. Apesar de guiado muito pela opinião pública, as reviravoltas e a fragmentação da Corte deixou ela bastante desacreditada, tanto com os eleitores mais à esquerda, como mais à direita. A população enxerga essas contradições como oportunismo ou briga pelo poder, o que talvez explique por que a decisão não tem um apoio popular semelhante à rejeição da prisão de Lula”, argumenta.
Popularidade de Moro e Bolsonaro
A pesquisa Atlas também mediu a popularidade do Governo Bolsonaro. As percepções pouco mudaram e se moveram dentro da margem de erro desde agosto, mês da última pesquisa. O índice de eleitores que acha a gestão ruim ou péssima subiu de 39,8% para 42,1%. Já a taxa daqueles que acreditam que o Executivo é ótimo ou bom caiu de 28,2% para 27,4%. Os que opinam que o desempenho do ultradireitista é regular passaram de 28,7% para 29,6% dos entrevistados.
Ainda assim, a imagem de Moro e Bolsonaro continuam ligeiramente melhores que a de Lula: 40,7% dos entrevistados enxergam o petista de maneira positiva, enquanto que 53% o veem de forma negativa. Com Bolsonaro, as taxas ficam em 42,6% (positiva) e 51,6% (negativa). Os melhores números são para o ex-juiz da Lava Jato: 48,4% (positiva) e 45,6% (negativa). Porém, a Atlas destaca que é a primeira vez que a aprovação pessoal do ministro da Justiça se encontra abaixo dos 50%. Ele já havia perdido 10 pontos de apoio — de 60% para 50,4% — logo após a série de reportagens sobre a Lava Jato do site The Intercept Brasil.
Atrás de Moro, Bolsonaro e Lula estão, nesta ordem, o ministro da Economia Paulo Guedes, o ex-prefeito Fernando Haddad, o ex-candidato Ciro Gomes (PDT), o apresentador Luciano Huck, o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) e, por último, o governador de São Paulo João Doria (PSDB). A rejeição a Doria tem avançado de modo acentuado. Em julho 42,5% diziam ter imagem negativa dele, índice que chegou aos 62% em novembro. “O centro sofre muito por conta da polarização, e qualquer candidato de centro que consiga chegar num segundo turno ganha a eleição. Mas chegar lá é quase impossível. É a história de Geraldo Alckmin ou Marina Silva nas eleições passadas no Brasil”, explica Roman.
O especialista ainda enxerga a possibilidade de que tanto Lula como Bolsonaro façam sinais em direção ao eleitorado mais indeciso e de centro. “No momento em que Lula consiga se posicionar como candidato com chances efetivas para ganhar, isso deveria servir como um incentivo de moderação para Bolsonaro, na busca do centro político”, argumenta. “Por outro lado, Bolsonaro nunca foi um político tradicional que atua de forma estratégica para construir o seu eleitorado. É disso que veio também sua aparente autenticidade, algo que acabou se transformando em sua maior fortaleza”, pondera.
Uma variável que ele acredita ser bastante importante é o desempenho da economia sob Bolsonaro. Não à toa o ex-presidente vem mirando suas críticas contra o ministro Paulo Guedes, por entender que o desapontamento com a situação econômica pode mudar a equação política. “Ninguém ilustrou isso melhor que Dilma Rousseff. A expectativa de Lula é que a economia não irá decolar e que isso irá afundar um governo Bolsonaro já bastante enfraquecido”, explica Roman. Ele ainda opina que pode-se esperar bastante moderação do petista. “‘Lula paz e amor’ foi uma fórmula que virou quase hegemônica. Certamente o ex-presidente entende isso e buscará isso. A tentativa de reconciliação com Ciro Gomes e os braços abertos para Marcelo Freixo e o PSOL são os primeiros exemplos”, completa. Cenários para as eleições
Apesar da melhora significativa na imagem de Lula, 53,5% dos entrevistados não votariam no petista em umas eleições presidenciais, contra 43,3% com possibilidades de votar no petista. Deste total, 34% dizem que votariam “com certeza” no ex-presidente, o que indica a fidelização de parte significativa do eleitorado — o suficiente para levá-lo a um segundo turno. Além disso, 46,4% dos entrevistados acreditam que o petista venceria as eleições, enquanto que 45,8% disseram não acreditar em sua vitória.
Em dados concretos: 45,6% votariam no atual mandatário, de extrema direita; 41,3% votariam em alguém apoiado pelo petista; e 13,1% não sabem dizer, anulariam ou votariam em branco. Seguindo a mesma tendência, 47,6% votariam em Moro; 40,2% escolheriam o candidato de Lula; 12,2% não sabem dizer, anulariam ou votariam em branco. No entanto, o questionário da Atlas não considerou como cenário uma candidatura de Lula — que seria possível caso suas condenações sejam anuladas — e sua ida para o segundo turno. Ou seja, não foi possível saber qual seria o desempenho do próprio ex-presidente contra Bolsonaro e Moro.
Roman aponta para a contradição com os dados do Datafolha de 2 de setembro. Na ocasião, ainda que a imagem do ex-presidente Lula estivesse pior, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad venceria com 42% dos votos em um segundo turno contra Bolsonaro, que ficaria com 36%. Outros 18% votariam nulo ou branco e 4% não souberam responder, ainda segundo o instituto — que escutou 2.878 pessoas acima de 16 anos em 175 municípios do país nos dias 29 e 30 de agosto.
O cientista político pondera que muita coisa pode acontecer até 2022, de modo que há possibilidades de que o cenário sofra mais alterações. Foi o que aconteceu recentemente na Argentina. “Uma ampla maioria da opinião pública era cristalizada contra Cristina Kirchner. Até hoje existe uma maioria a favor de sua prisão. Mesmo assim ela conseguiu eleger-se e eleger o próximo presidente”, explica. “No Brasil, como em tantas outras democracias, estamos vendo uma intensificação muito forte da polarização. Isso faz com que a rejeição de uma figura seja relativizada pela intensidade da rejeição de outra figura. Lula pode não ter uma maioria natural para eleger-se ou eleger o seu candidato. Mas contra o Bolsonaro, isso pode ficar viável”. E vice-versa. Apoio a ditadura
A Atlas também mediu a opinião do eleitorado em outros assuntos. Por exemplo, 74,7% se dizem contrários a uma ditadura, enquanto que 14% são favoráveis e 11,3% não souberam opinar. Além disso, 52,1% acreditam que a corrupção está aumentando. Nesta mesma linha, 56,6% sentem que a criminalidade também está subindo, apesar de os dados de 2018 e deste ano indicarem o contrário. A pesquisa da Atlas Político foi feita online entre os dias 10 e 11 de novembro com 2.000 pessoas de todas as regiões do país. A margem de erro é de 2% e o índice de confiança é de 95%.