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Mais Médicos reabre com 15 mil vagas e prioridade para formados pelo Fies: veja regras

Novo programa Mais Médicos terá 15 mil vagas e bolsa de R$ 13 mil para suprir necessidades de profissionais, principalmente, no interior.

O programa Mais Médicos para o Brasil, lançado oficialmente nesta segunda-feira (20/3) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é uma releitura do antigo Mais Médicos. O objetivo, porém, continua o mesmo: suprir a carência de profissionais de saúde em regiões remotas do país (municípios do interior e periferias das grandes cidades).

“Os médicos brasileiros formados no Brasil continuam a ter preferência na seleção dos editais do Mais Médicos”, diz o Ministério da Saúde em comunicado. Nísia Trindade, chefe da pasta, e Camilo Santana, do Ministério da Educação, estiveram presentes no lançamento do programa.

Confira regras e novidades

  • Oportunidades: 15 mil vagas em 2023, das quais 5 mil serão abertas por meio de edital ainda neste mês de março. As outras 10 mil vagas serão oferecidas em um formato que prevê a contrapartida dos municípios.
  • Valor mensal da bolsa: R$ 13 mil.
  • Estrangeiros: os brasileiros formados no exterior e os estrangeiros terão desconto de 50% na prova de revalidação.
  • Licença-maternidade: receberá a bolsa para completar o valor do auxílio do INSS durante o período de até seis meses.
  • Licença-paternidade receberá a bolsa durante o período de até 20 dias.
  • Incentivo de fixação (ao permanecer pelo menos 36 meses): poderá receber adicional de 10% a 20% da soma total das bolsas de todo o período que esteve no programa, a depender da vulnerabilidade do município. E receberá o incentivo completo ao final de 48 meses ou poderá antecipar 30% desse valor ao final de 36 meses.
  • Incentivo de fixação para médico do Fies (ao permanecer pelo menos 12 meses): poderá receber adicional de 40% a 80% da soma total das bolsas de todo o período que esteve no programa, a depender da vulnerabilidade do município.
  • E será pago em quatro parcelas: 10% por ano durante os três primeiros anos, e os 70% restantes ao completar 48 meses.
  • Incentivo para o médico do Fies residente de Medicina de Família e Comunidade: serão ofertadas vagas para os médicos-residentes de Medicina de
  • Família e Comunidade que foram beneficiados pelo FIES, auxiliando no pagamento total do valor da dívida.
  • Tempo de participação no programa: ciclo de quatro anos, prorrogável por igual período.
  • Oferta educacional: especialização, mestrado ou aperfeiçoamento.
  • Pontuação adicional de 10% na seleção de programas de residência: será concedida para os médicos que concluírem a Residência de Medicina de Família e Comunidade.

Discursos

Apesar do destaque dado aos profissionais formados no Brasil para o programa, o presidente Lula afirmou que, “somente quem mora na periferia das grandes cidades, nas cidades pequenas do interior, sabe o que é a ausência de um médico”. E deu o recado: “Não importa para nós a nacionalidade do médico, mas do paciente, que é o brasileiro”.

Camilo Santana, por sua vez, explicou que “o papel do MEC é supervisionar todos os bolsistas e discutir qualificação, autorização de novos cursos de medicina no país. E também discutir a revalidação de diplomas de medicina. Nada o MEC vai fazer sem estratégia afinada com o Ministério da Saúde”.

Enquanto isso, a ministra Nísia Trindade destacou que o “Mais Médicos voltou para responder a garantia da presença de médicos aos brasileiros dos municípios mais distantes dos grandes centros e das periferias que sofrem com a falta de acesso.”

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Justiça determina recontratação de cubanos do Mais Médicos

Integrantes de um dos editais do programa não havia sido contemplada com prorrogação de contrato.

O Tribunal Federal da 1ª Região determinou ao governo federal a recontratação de cubanos que faziam parte do Programa Mais Médicos. A decisão foi proferida na noite desta sexta-feira (27). A decisão foi proferida após uma ação apresentada pela Associação Nacional dos Profissionais Médicos Formados em Instituições Estrangeiras e Intercambistas.

Segundo a decisão do desembargador Carlos Augusto Pires Brandão, os médicos ficaram desassistidos sem a renovação do contrato. No final de 2018, o então presidente eleito Jair Bolsonaro fez acusações ao cubano e pôs em xeque a capacidade dos médicos do país, que trabalham no Brasil e que iria revisar as regras do programa e o governo cubano resolveu interromper o programa com o Brasil e os profissionais teriam que retornar à Cuba.

Vale ressaltar que apenas médicos do 20º ciclo de contratações do Mais Médicos ficaram de fora da renovação do programa, o que foi citado pelo desembargador Carlos Augusto Pires Brandão, do TRF-1, na decisão. O juiz afirma que é direito dos profissionais continuar no Brasil prestando seus serviços e que a permanência deles é importante para a saúde pública brasileira, principalmente em regiões mais remotas do país. Brandão ressaltou ainda que a chegada dos médicos pode ser importante para o enfrentamento de crises, como a dos Yanomami.

“Mas há um outro fato a recomendar esta urgente medida judicial. O Programa Mais Médicos para o Brasil permite implementar ações de saúde pública de combate à crise sanitária que se firmou na região do povo indígena Yanomami. Há estado de emergência de saúde pública declarado, decretado por intermédio do Ministério da Saúde. Portanto, a proteção imediata ao direito à saúde por intermédio da igualdade se mostra essencial para a concretização da supremacia do interesse público, com o respaldo da confiança legítima e da segurança jurídica”, disse na decisão.

O governo Lula já havia manifestado interesse em retomar o programa, com alterações, já em 2023. A decisão judicial, no entanto, determina maior celeridade na recontratação de mais de 1.700 médicos cubanos.

*Com Correio Braziliense

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Os pequenos que se foram: Como o desmonte do Mais Médicos matou crianças brasileiras

O burrinho da chácara do avô serviu naquela tarde para estancar o choro de Cecília. Ela adorava o animal e, antes de aprender a falar as primeiras palavras, batizou-o de “buuu”, espichando a vogal. Cecília se equilibrou no lombo do jumento e abriu um sorriso, registrado em uma derradeira fotografia. Pouco mais de uma semana depois, a menina começou a rejeitar a comida, ficou apática e não conseguiu sobreviver até seu primeiro Natal. Morreu vítima de uma pneumonia no dia 7 de dezembro de 2019. Tinha onze meses.

Cecília, um bebê esperto e rechonchudo, nascera no dia 8 de janeiro daquele ano em Pacajá, um município de 49 mil habitantes, no interior do Pará. Na fase final de sua gestação, todos os postos de saúde da região ficaram sem médicos. A escassez dos profissionais perdurou nos primeiros meses de vida da menina, período em que ela deveria ter recebido assistência neonatal, e sua mãe, Telma dos Anjos Nascimento, de 21 anos, deveria ter sido orientada sobre a prevenção de certas doenças. “Só fui atendida por enfermeiras”, lembra Nascimento. A perda da filha dói. “Fiquei destruída, queria ter morrido no lugar dela.”

Quando Cecília nasceu, o presidente Jair Bolsonaro acabara de tomar posse no Palácio do Planalto. Mas, mesmo antes disso, o Programa Mais Médicos, criado em 2013 no governo da presidente Dilma Rousseff, já estava em pleno desmonte. Durante a campanha de 2018, Bolsonaro atacou duramente o programa que espalhara milhares de médicos de Cuba pelos rincões do Brasil. Duvidava da qualidade profissional dos cubanos, ameaçava mandá-los embora do país, anunciava que mudaria o programa. A rejeição ao Mais Médicos levou às cenas inesquecíveis de cubanos sendo hostilizados, com gritos e cartazes insultuosos, ao desembarcarem nos aeroportos brasileiros.

Assim que Bolsonaro venceu o segundo turno da eleição, o governo cubano não esperou pelo cumprimento das ameaças do presidente eleito. Fez uma carta pública em que citou suas “referências diretas, depreciativas e ameaçadoras” e chamou seus médicos de volta. “Não é aceitável questionar a dignidade, o profissionalismo e o altruísmo dos colaboradores cubanos que, com o apoio de suas famílias, prestam atualmente serviços em 67 países”, dizia a nota. Nos dias que se seguiram, cerca de 8.500 cubanos deixaram o Mais Médicos, inclusive todos os sete médicos que trabalhavam em Pacajá. Os cubanos que partiram equivaliam à metade do contingente total do programa.

Cecília teve a má sorte de nascer numa cidadezinha pobre no Norte do Brasil de Bolsonaro. Em 2012, um ano antes da criação do Mais Médicos, Pacajá registrara treze mortes evitáveis de crianças com menos de 5 anos. O conceito de “mortes evitáveis” refere-se a óbitos causados por infecções (como pneumonia), doenças para as quais há vacinas (como sarampo), problemas em gestações ou partos e vários outros males que podem ser solucionados com diagnóstico e tratamento precoces ou com simples ações de prevenção. De 2013 em diante, já com o programa em vigor, a situação melhorou bastante. As mortes evitáveis tiveram uma queda substancial, oscilando entre 5 e 8 mortes anualmente. Em 2019, o primeiro ano depois da saída dos cubanos do país, o cenário voltou à antiga precariedade, e as mortes evitáveis em Pacajá subiram de novo para treze – entre as vítimas, estava a pequena Cecília.

O resultado trágico não é uma coincidência. Documentos e registros de óbito reunidos pela piauí mostram que em Pacajá – assim como em outros municípios em situação semelhante –, o número de mortes de crianças com menos de 5 anos decorrente de causas evitáveis aumentou 58%. Nesses municípios, a média subiu de 4 mortes em 2018 para 7 no ano seguinte. Considerando todo período do Mais Médicos anterior à saída dos cubanos, que vai de 2013 até 2018, o aumento registrado em 2019 nessas pequenas localidades é de 5 para 7 – um salto de 40%. São crianças brasileiras que poderiam estar vivas.

Em seus cinco anos de existência, o Mais Médicos colecionou números impressionantes. Chegou a reunir 18 240 médicos, entre cubanos, estrangeiros de outros países e brasileiros. Essa legião de profissionais atendeu cerca de 63 milhões de pessoas, em 4 058 municípios, que equivalem a 73% do total do país. Foi um sucesso sob qualquer ângulo que se analise. Em 1 039 municípios, o Mais Médicos era responsável por 100% da atenção primária, um tipo de atendimento que evita o agravamento de certas doenças e orienta sobre a prevenção de enfermidades. Nos municípios onde só havia médicos cubanos, o desmonte do programa simplesmente acabou com a atenção primária.

A partir dos dados de 2018 e 2019 obtidos pela Lei de Acesso à Informação, a piauí pesquisou os municípios brasileiros em situação mais vulnerável, para os quais o Mais Médicos desempenhava um papel crucial. Chegou a 119 municípios, concentrados nas regiões Norte e Nordeste. Neles, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), um indicador de qualidade de vida e bem-estar, é baixo ou baixíssimo, e pelo menos 20% da população vive em situação de extrema pobreza, com menos de 1,90 dólar por dia por pessoa – hoje, pouco mais de 10 reais. No começo de 2018, esses 119 municípios mais necessitados reuniam 544 profissionais do Mais Médicos. Com a saída dos cubanos, o número caiu para 127. Nos doze meses de 2019, as vagas abertas pelos cubanos foram sendo preenchidas.

Mas, apesar da reposição gradual nos 119 municípios, catorze deles que perderam todos os profissionais de atenção básica não voltaram a ter o mesmo número de médicos de antes. Ou seja: com o desmonte do programa, os médicos sumiram, depois alguns reapareceram, mas nunca mais o atendimento chegou ao mesmo nível. Nessa situação, estão 5 municípios do Pará (Cachoeira do Arari, Gurupá, Monte Alegre, Novo Repartimento e Pacajá), 3 no Maranhão (Matões do Norte, São Félix de Balsas e Sítio Novo), 2 do Amazonas (Beruri e Boa Vista do Ramos), 1 do Acre (Manoel Urbano), 1 de Alagoas (Jacuípe), 1 de Minas Gerais (Alvorada de Minas) e 1 do Piauí (Matias Olímpio).

É nesses municípios que o total de mortes evitáveis de crianças de até 5 anos saltou 58%: no total, pulou de 60 em 2018 para 95 no ano seguinte. Desde 2013, nunca tantos municípios desse grupo haviam tido aumento de mortes em um único ano. Outra evidência da importância do Mais Médicos pode ser verificada em municípios nos quais, apesar do desmonte, o número de médicos se manteve igual ou até cresceu um pouco: neles, a taxa de crianças vítimas de mortes evitáveis continuou caindo.

Os dados – que são os mais recentes disponíveis nos arquivos oficiais – não abalam as convicções do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que esteve à frente da pasta da Saúde entre janeiro de 2019 e abril de 2020. Ele afirma que sua equipe não detectou aumento de mortes que possa ser atribuído à saída dos cubanos do Mais Médicos e até duvida que isso tenha ocorrido. “O impacto desse programa na mortalidade infantil é muito baixo ou quase nulo”, disse. As 35 mortes a mais nos catorze municípios que chegaram a ficar sem médicos – bem como a queda nas mortes nos municípios onde a quantidade de médicos se manteve ou aumentou – são um sinal de que o ministro não observou os dados com atenção.

Há outros sinais. Em Pacajá, que ficou sem médico nenhum, chama a atenção a quantidade de mortes fetais em 2019. De acordo com os dados que o Ministério da Saúde mantém no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), doze crianças morreram antes do parto em Pacajá em 2019. Isso é mais que o dobro do ano anterior – e um recorde desde 2004. Parece ser um sintoma da falta de acompanhamento na gravidez.

A enfermeira Ângela Noronha, que há cinco anos coordena a atenção básica em Pacajá, não esquece o impacto da saída dos cubanos. “Ficamos sem médicos nas vilas, e um dos postos não tem médico até hoje”, conta ela. O hospital da cidade ficou sobrecarregado, e as pessoas enfrentaram uma peregrinação inútil. “Elas iam para os postos, de lá iam para o hospital, depois vinham para a Secretaria de Saúde, e a gente não tinha o que fazer”, relata Noronha. Ela não se ressente apenas da ausência dos cubanos, mas também de como eles lidavam com os pacientes. “No começo, mesmo sem dominar nossa língua, eles tinham um cuidado de desenhar para as pessoas, mostrar como elas deveriam fazer. Eles iam às casas delas”, lembra a enfermeira. “O trabalho dos cubanos é muito preventivo, a gente sente bastante falta.”

Manoel Urbano é um município de 10 mil habitantes, que corta o Acre ao meio. Ali, quando tudo corria bem com o Mais Médicos, a população contava com quatro médicos, todos cubanos. Já perto do fim do expediente, quando as quinze fichas de atendimento diário já estavam acabando, era comum que chegasse uma família inteira de indígenas – pai, mãe e quatro ou cinco filhos, todos querendo se consultar. “Nós dávamos um jeito de atender, com um pouco mais de paciência. Acabava que todos tinham algum problema de saúde, uma gripe, uma diarreia”, lembra o cubano Ariel Samada, de 38 anos, que ficou de 2016 até 2018 no Mais Médicos. Nascido em Cueto, província de Holguín, Samada foi para Cuba quando o governo convocou os médicos de volta, mas retornou ao Brasil. Hoje, de volta ao Mais Médicos, ele trabalha num posto de saúde de um município vizinho a Manoel Urbano e está fazendo o Revalida, o exame a que médicos formados no exterior se submetem para validar seu diploma no Brasil.

Francisca Taumaturgo de Sá, secretária municipal de Saúde da cidade, endossa o relato de Samada. “A diferença entre os médicos brasileiros e os cubanos é que os cubanos não tinham limite de fichas de consulta”, diz ela, com uma ênfase que destoa de seu semblante simpático e calmo. “Eles atendiam todo mundo, mesmo tarde da noite.” Com a saída dos quatro cubanos de Manoel Urbano, os postos de saúde ficaram sem ninguém para fazer as quinze consultas diárias nem para atender casos menos graves. “Foi uma tragédia”, lembra Clarita Mendes dos Santos, que à época dirigia o único hospital do município, com 23 leitos. Sem atendimento nos postos, as pessoas recorriam ao hospital. “Faltaram leitos, e chegamos a atender duzentas pessoas num único dia, algumas vezes tendo só um médico de plantão no hospital”, diz Santos.

Hoje funcionário da Secretaria da Saúde, Hermes Almeida acompanhou a crise pós-cubanos como representante do Conselho Regional de Enfermagem em Manoel Urbano. “O grande prejuízo foi a desorganização da atenção primária, e isso atingiu principalmente indígenas e ribeirinhos”, diz Almeida. Os substitutos dos cubanos só começaram a chegar em meados do primeiro semestre de 2019, e no final daquele ano ainda eram só três – um a menos do que antes. No período, as mortes evitáveis de crianças com menos de 5 anos saltaram de 4 para 13 – e 7 delas eram de indígenas. “Foi uma consequência natural”, diz Almeida. Desde 1996, quando entrou em vigor a atual Classificação Internacional de Doenças, nunca houve tantas mortes evitáveis de indígenas no município.

Os indígenas recorrem aos postos de saúde de Manoel Urbano em duas situações: quando se deslocam até a cidade porque as tentativas de cura dos pajés revelam-se insuficientes ou quando adoecem já na cidade, onde costumam ir para receber o antigo Bolsa Família e outros benefícios. Seis das 7 crianças indígenas que morreram em 2019 eram todas Kulina, povo com cerca de 1,7 mil membros no município. Os kulinas, que se autodenominam Madija, falam uma língua difícil de ser entendida até por iniciados e evitam se misturar com os brancos. Quando vão a Manoel Urbano, montam acampamento na margem do Rio Purus, oposta à da cidade.

Em uma manhã de novembro, duas dezenas de kulinas estavam no acampamento em barracas improvisadas com lonas plásticas e folhas de jarina, uma palmeira comum na Amazônia que produz o chamado marfim vegetal, usado em joias e artefatos. As mulheres preparavam refeições, os homens conversavam numa roda, as crianças se revezavam em brincadeiras na terra ou no rio. Até que um dos indígenas, Raimundo Kulina, concordou em falar. Ele é cacique da aldeia Boaçu, que, de acordo com os registros oficiais de óbitos, foi a mais castigada pelas mortes evitáveis de crianças em 2019.

“Os meninos pegam muita doença, vômito, diarreia”, resumiu o cacique. Ele tem baixa estatura, pele queimada de sol. Aparenta uns 65 anos. Naquela manhã, comera uma refeição preparada no próprio acampamento, mas com produtos obtidos na cidade, já que os indígenas são proibidos por uma lei federal de carregar a carne que pescam e caçam quando saem de suas terras, para evitar o uso de recursos naturais para fins comerciais. Sentado sobre um cepo baixo, ele comentou: “Na aldeia não tem remédio nem soro.” Para os indígenas, morrer na cidade é um suplício.

Quando uma criança kulina morre na aldeia, seu corpo é preparado com folhas aromáticas, enrolado em uma rede e colocado em um pequeno caixão feito com partes de velhas canoas ou outras tábuas. Sob o comando do pajé, faz-se um ritual com cânticos, pois a musicalidade é uma das principais características dos kulinas, e a criança é enterrada em um cemitério nas cercanias da aldeia. Na cultura kulina, esse ritual serve para ajudar o espírito do morto a seguir seu caminho. Quando uma criança indígena morre na cidade – como aconteceu com 4 das 7 vítimas de 2019 –, é sepultada ali mesmo. “As crianças ficam no cemitério de Manoel Urbano ou até no de Rio Branco”, lamenta Sico Kulina, da aldeia Santa Júlia, que também estava no acampamento. “Nem a família pode mais visitar o túmulo.” As mortes na cidade roubam dos kulinas o corpo da criança e o ritual de despedida.

No livro Mais Médicos: As Vozes dos Atores e os Impactos do Programa na Atenção Básica à Saúde, organizado por Helcimara Telles, um dos capítulos trata dos resultados do programa em seus três primeiros anos. De autoria de um grupo de seis pesquisadores, o estudo conclui que o Mais Médicos ampliou a cobertura da atenção básica no país, aumentou em 33% o número de procedimentos em postos de saúde e diminuiu as internações em hospitais.

“O evento mais catastrófico desses três últimos anos foi a descontinuidade da cooperação com Cuba”, diz Alcindo Antônio Ferla, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), líder da equipe que realizou o estudo publicado no livro. Ferla coordenava a Rede Observatório do Programa Mais Médicos, que reunia pesquisadores da Fiocruz, de universidades e outras instituições e se dedicava a estudar o programa. Apresentado aos dados sobre o aumento de mortes evitáveis depois da debandada dos médicos de Cuba, Ferla não teve dúvidas. “Esse efeito é imediato”, disse. Ele vai além. Suspeita que o acréscimo de óbitos é ainda maior. Com a desorganização dos serviços de saúde decorrente da partida dos cubanos, os dados sobre os registros de mortes tendem a estar subdimensionados.

Ferla optou por fazer uma carreira na área da saúde pública muito cedo. Atuou no que ele chama de “pré-história do SUS”, trabalhou em secretarias municipais e nos conselhos estaduais e federal de Saúde. Com doutorado em educação, ele lamenta o fim do contato com os médicos cubanos. Diz que foi uma grande oportunidade para aprimorar a formação de profissionais de saúde brasileiros. “Foi o maior programa de educação permanente que o SUS teve e que provavelmente terá”, diz.

No Amazonas, no extremo oposto do país, outro pesquisador também se dedicou a avaliar os resultados do Mais Médicos. Depois de estudar teologia, Júlio Cesar Schweickardt enveredou para a área da saúde e entrou na Fiocruz Amazônia, em Manaus. O estudo que coordenou avaliou o impacto dos cubanos no Distrito Sanitário Especial Indígena Alto do Rio Solimões, onde vivem 71 mil indígenas. Os resultados saíram na Revista Panamericana de Salud Pública em 2020, uma publicação da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). A pesquisa revelou que os cubanos chegavam a fazer, em algumas ocasiões, cinquenta consultas diárias e, com o trabalho deles, o número de nascimentos antecedidos de pré-natal aumentou em até quinze pontos percentuais. A falta do pré-natal é uma das maiores causas de óbitos fetais e mortalidade materna.

O desmonte do Mais Médicos era uma tragédia anunciada. No dia 26 de novembro de 2018, menos de duas semanas depois da decisão cubana de retirar seus médicos do Brasil, houve uma reunião com representantes de prefeituras, governos estaduais e do governo federal. No encontro, o Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), órgão que há mais de três décadas atua em defesa da descentralização dos serviços de saúde, sugeriu que fosse montada uma “sala de situação” para monitorar a crise que certamente viria. A ideia acabou engavetada, mas o presidente do Conasems não esqueceu aquele período. “Foi difícil e ainda está sendo difícil em municípios de maior vulnerabilidade”, diz Wilames Freire, que preside o órgão desde 2019. “Há até hoje vagas que os brasileiros se negam a preencher.” Ainda há nada menos que 3 016 vagas à espera de médicos.

O então deputado federal Jair Bolsonaro se opôs ao Mais Médicos desde que a medida provisória criando o programa começou a tramitar na Câmara, em 2013. Suas críticas não se limitavam à polêmica forma de contratação dos cubanos, pela qual a ditadura de Cuba ficava com mais de dois terços do que o governo pagava pelo trabalho dos médicos. Bolsonaro atacava diretamente os profissionais cubanos. Batizou a proposta de “Maus Médicos”.

Em 18 de outubro de 2016, quando se comemora o Dia do Médico, Bolsonaro falou na Câmara dirigindo-se aos profissionais de saúde. Disse que o primeiro presente que daria aos médicos era o “envio de volta, para Cuba, dos 12 mil cubanos que estão aqui sem termos qualquer garantia de que conheçam minimamente a medicina”. E completou, assertivo: “Na verdade, não sabem absolutamente nada.” Na campanha eleitoral de 2018, prometeu expulsar os “14 mil cubanos” por meio do Revalida, o exame que os profissionais do Mais Médicos foram dispensados de fazer.

Além dos termos controversos do contrato e da qualidade supostamente duvidosa dos cubanos, os ataques bolsonaristas focaram na questão do Revalida. Escalado para comandar o Ministério da Saúde, Mandetta, também ele um crítico do Mais Médicos, continuou no combate ao programa. Mesmo depois de deixar o governo diante do negacionismo de Bolsonaro na pandemia, Mandetta seguiu reclamando que o Mais Médicos não exigia “certificação” dos cubanos. “Você não sabe a quem você está entregando sua mãe ou o seu filho”, disse ele em entrevista a um podcast do UOL.

Na secretaria ministerial que cuidava do Mais Médicos, Bolsonaro e Mandetta colocaram uma figura que, durante a pandemia, ganharia fama nacional: Mayra Pinheiro, que ficou conhecida como “Capitã Cloroquina” por sua insistência em recomendar medicamentos ineficazes para combater o coronavírus. Ela também era uma adversária antiga do programa. Em agosto de 2013, no comecinho do Mais Médicos, ela participou de um protesto na Escola de Saúde Pública do Ceará onde os cubanos foram recebidos com faixas que pediam “Revalida Já” e gritos de “escravos” e “incompetentes”. Pouco antes da posse de Bolsonaro, voltou a atacá-los. “A população brasileira foi exposta a riscos por pessoas que não sabemos até hoje se de fato são médicos”, disse, numa entrevista a um canal do YouTube em Fortaleza.

A tríade – Bolsonaro, Mandetta e a Capitã Cloroquina – chegou a publicar editais convocando brasileiros formados no exterior para substituir os cubanos – e não exigia que os novos médicos tivessem feito o exame do Revalida. Não adiantou, porque os brasileiros lá fora não atenderam ao chamado, e boa parte das vagas não foi preenchida. Diante do fracasso, uma semana antes do Natal de 2019, Bolsonaro e Mandetta assinaram uma lei rebatizando o programa para “Médicos pelo Brasil”. Trazia uma contradição flagrante: permitia que os cubanos que tivessem ficado no país fossem reincorporados ao novo programa, pelo período de dois anos, sem exigir deles o Revalida ou qualquer outro tipo de certificação.

Mandetta se defende dizendo que, depois dos dois anos, os cubanos fariam a prova. “Os dois anos funcionariam como uma residência entre aspas”, diz ele. Indagado sobre o fato de que os cubanos em “residência” eram os mesmos sem qualificação que ele criticava antes, Mandetta fala em “questão humanitária” para ajudar os estrangeiros. Mayra Pinheiro, a Capitã Cloroquina, não quis dar entrevista. O Ministério da Saúde, hoje sob comando de Marcelo Queiroga, fez uma nota dizendo que o reaproveitamento dos cubanos que antes eram considerados desqualificados não é uma contradição.

Segundo o ministério, a mudança decorreu da pandemia do coronavírus. A nota diz que foi “uma medida emergencial” para garantir “menor impacto na oferta de profissionais médicos no país considerando especialmente que já existiam médicos cubanos vivendo no Brasil”. A cronologia dos fatos não favorece a explicação oficial. A lei prevendo a reincorporação dos cubanos saiu dois meses antes da confirmação do primeiro caso de Covid-19 no Brasil, período em que o governo ainda nem acreditava numa pandemia. A própria declaração da Organização Mundial da Saúde (OMS) dizendo que o mundo enfrentava uma pandemia só saiu doze semanas depois da “medida emergencial”.

Ainda assim, os cubanos acabaram tendo papel essencial no combate à pandemia. No Pará, estado que, ao contrário do Amazonas, não precisou exportar contaminados para outras regiões, o governador Helder Barbalho (MDB) conta que só conseguiu colocar em operação cerca de 2 mil leitos para pacientes com Covid-19 porque pôde contar com os cubanos. Ao reservar os leitos, o estado não dispunha de profissionais – médicos, enfermeiros – em número suficiente para prestar atendimento. Barbalho, então, começou a contratar cubanos que tinham saído do Mais Médicos e estavam no Brasil. Ele calcula que contratou em torno de quatrocentos cubanos. “Sem a mão de obra deles não teríamos conseguido”, diz o governador. “Eles são heróis e merecem nosso reconhecimento.” Em julho de 2020, depois do pico da pandemia, o governo estadual estimulou que as prefeituras paraenses contratassem os cubanos para atuarem em seus postos de saúde. A Justiça, acionada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), não permitiu.

Hoje, o programa agora chamado de Médicos pelo Brasil reúne 2 750 médicos de Cuba. Entre eles, estão os que ficaram no país, mas também cubanos que atenderam o chamado do governo de Havana e mais tarde retornaram ao Brasil. Em Pacajá e Manoel Urbano, por exemplo, há hoje dois médicos cubanos. Eles foram reincorporados sem fazer o Revalida, atuaram no combate à pandemia e retomaram o trabalho de prestar atenção primária a populações brasileiras desassistidas. Só chegaram tarde demais para crianças como Cecília e os pequenos kulinas.

*Solano Nascimento/Revista Piauí

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Política

Em desespero total, Bolsonaro imita eleitoreiramente o programa Mais Médicos criado por Dilma

Lógico que ele aproveitou o relançamento do programa criado por Dilma, “Mais Médicos” que ele tinha destruído numa atitude alucinada para jogar burramente para a horda de fascistas, atacando os médicos cubanos. Digo, burramente, porque essa gente está com Bolsonaro até se ele pisar na cabeça da mãe dos reaças, tal a angústia que vivem com o aniquilamento quase total da direita.

Bolsonaro acredita que conseguirá alguma coisa com as camadas mais pobres da população com essa xerox do programa da Dilma? Não vai conseguir nem os médicos pra essa empreitada. Aliás, não precisa ser médico cubano pra Bolsonaro atacar. Fez isso durante toda a pandemia contra médicos brasileiros, porque a imensa maioria não receitava cloroquina.

Mas o fato central aqui é ele confessar que, de ruindade, destruiu um programa que atendia os mais pobres só, como é de seu caráter perverso se o assunto for alguma coisa contra o povo brasileiro.

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Cotidiano

Participante do BBB fez protesto contra Mais Médicos em 2013

Lais Caldas, herdeira de uma família dona de um hospital privado, publicou imagens em manifestação nas redes sociais; a médica está no BBB22.

A médica Laís Caldas foi anunciada pela TV Globo nesta sexta-feira (14) como uma das participantes do Big Brother Brasil 22, que estreia na emissora na próxima semana. A dermatologista, herdeira de uma família de médicos de Goiás, chegou a participar de um protesto contra o programa Mais Médicos em 2013.

“Não faltam médicos, falta gestão em saúde”, diz um cartaz presente na foto postada por Laís em 2013. Ela chegou a publicar duas vezes as fotos no protesto.

Laís é filha do médico Augusto César Caldas, fundador e dono do Hospital Regional de Crixás, da rede privada de saúde. Augusto morreu em dezembro, vítima de um AVC.

Na época do lançamento do Mais Médicos, a classe médica se revoltou com o programa, que tinha como objetivo garantir atendimento à população de cidades que não tinham acesso à saúde. Para alcançar tal missão, foram contratados profissionais de Cuba.

Nas redes sociais circulam imagens que mostram que Laís seguia o presidente Jair Bolsonaro no Instagram e parou de seguir após a repercussão.

Confira:

*Com informações da Forum

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Se dependesse só de Bolsonaro, o coronavírus seria o ministro da saúde

Cuba já enviou equipes médicas para 17 países em luta contra a pandemia e salvou milhares de vidas.

Depois de ataques de Bolsonaro à parceria do governo de Cuba e o programa Mais Médicos, em 20018, Brasil perdeu 8.500 médicos cubanos que atendiam no interior e nos cantos mais remotos do país e não colocou ninguém no lugar, deixando exposta uma legião de pessoas à própria sorte, principalmente agora diante da pandemia de coronavírus.

Na verdade, Bolsonaro, o maior aliado do coronavírus, está de costas para o Brasil. E ele sabe que não fica bem dizer certas coisas do ministro da Saúde perante a opinião pública, que fará, mandá-lo para a rua, já que é isso o que mais quer.

O oportunismo pragmático dos generais de seu governo segura a boca e a caneta de Bolsonaro quando o assunto é Mandetta.

Para um psicopata como Bolsonaro não há distinção entre sonho e realidade, mas para seus garantes dentro do governo, esse passo em falso pode ser fatal para o chefe da milícia palaciana.

Mourão deu uma declaração muxoxa sobre a entrevista de Mandetta ao Fantástico, o que revela que colocar o vírus em seu lugar na pasta da Saúde pode custar a cabeça do próprio Bolsonaro

O direito do patrão de despedir, sem indenização nem explicação, um ministro que tem o dobro de aprovação que o chefe, é complicado e a coisa pode desandar de vez.

Ou seja, Mandetta não pode ser demitido por um mal súbito.

Ainda sob proteção militar o ministro da saúde continua sendo ele, não o vírus como sonha em sua longa e penosa enfermidade mental o maníaco da casa 58.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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O médico e o monstro; quem é quem?

Não há inocentes ou éticos num governo como o de Bolsonaro, envolvido com a alta bandidagem carioca. Mandetta não seria, como não é, uma exceção.

Mandetta é médico e político, mais político do que médico e, por isso se mantém num governo de assassinos explícitos ou já teria saído do ninho dos ratos.

Dito isso, fica claro quem Mandetta quis atingir com sua frase em que acusa o presidente de fazer declarações opostas às do ministro da Saúde.

Mandetta deu uma sapatada no próprio monstro que governa o pardieiro em que se transformou o país nas mãos da milícia.

Lógico que Mandetta, como ministro da Saúde e médico, além de político, representa os profissionais da saúde, os mesmos que estão sendo as principais vítimas do instinto assassino de Bolsonaro, pois estão na linha de frente do combate à pandemia do coronavírus. Lógico, a população reconhece isso, assim como também o papel nefasto que Bolsonaro e filhos vêm fazendo.

Mandetta, como político que é, foi ao fantástico, um programa político da Globo, fazer política contra o clã.

É bom lembrar que nem Mandetta e muito menos a Globo se manifestaram contra Bolsonaro quando o imbecil atacou os médicos cubanos do programa Mais Médicos criado no governo Dilma, acabando com o programa. Ao contrário, ambos comemoraram. Sem falar que os três eram a favor da privatização da saúde e, consequentemente do SUS.

É bom lembrar também que Bolsonaro, Globo e Mandetta apoiaram o corte de investimentos feito pela PEC do fim do mundo no governo do vampiro corrupto e golpista Michel Temer.

Os três, Bolsonaro, Globo e Mandetta trabalharam como monstros juntos e misturados, porque milhões de brasileiros pobres ficaram sem assistência médica nenhuma, como estão agora sem qualquer proteção, expostos à pandemia de coronavírus.

Aliás, os três também estiveram irmanados no golpe contra Dilma, assim como na condenação e prisão política de Lula, pelo juiz corrupto e ladrão Sergio Moro, que é parte desse governo e que conta com o apoio de Mandetta e da Globo.

Trocando em miúdos, no atual quadro de calamidade, não se sabe quem entre Bolsonaro, Mandetta e Globo, é pelos médicos e todos os profissionais da saúde, pelo povo, ou pelo monstro.

Xico Sá, em seu twitter, fez ótimas observações sobre este assunto:

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Popularidade de Bolsonaro desaba e bolsonaristas culpam Lula e Dilma que fizeram uma revolução na saúde

Quando se tem plano de governo e ideias para melhorar de verdade a vida do povo o governante não precisa ficar se escondendo em subterfúgios e dissimulações. Pega por exemplo a saúde.

Lula e Dilma entregaram um sistema várias vezes melhor do que receberam. Não era perfeito ainda, mas já se via uma evolução que mesmo os críticos mais ferrenhos tiveram depois que dar o braço a torcer.

Programas como o Mais Médicos, Saúde da Família, Farmácia Popular.

O investimento nas UPAs e nos Postos de Saúde melhoraram sensivelmente o que o brasileiro e a brasileira entendiam sobre o que seria um atendimento digno e público.

A execução de verbas do Ministério da Saúde entre os anos de 2003 a 2012 teve um acréscimo de 195% (tabela 1). O recurso per capita quase dobrou, passou de R$ 244,80 em 2003 para R$ 413,00 em 2013.

Os estados, o Distrito Federal e municípios tiveram seus repasses aumentados quatro vezes nos governos progressistas, pulando de R$ 15,8 bilhões em 2003 para R$ 69,5 bilhões em 2014.

A Santas Casas e os Hospitais Filantrópicos tiveram um aumento de 185% dos recursos federais de incentivo ao atendimentos da população pobre.

Responsáveis por 41% das internações e 37% dos leitos financiados pelo SUS os repasses chegaram a R$ 970 milhões em 2012.

A mortalidade infantil sempre foi um fantasma para o Brasil, em 2000 a taxa era de 29,7 mortes de crianças menores de 1 ano para cada 1.000 nascidos vivos . Mas vieram os programas de distribuição de renda e o aumento do salário mínimo e afastaram esse trauma que atingia as famílias brasileiras. Os números do Censo de 2010 já traziam melhoras significativas, caíram quase pela metade, de 29,7 para 15,6 para cada 1000. Em 2016 elas voltaram a subir depois de 26 anos.Nesta ano a taxa foi de 14, 5% maior que em 2015.

Mais médicos

A criação do programa Mais Médicos, já no governo Dilma, foi outra revolução. Tocado pelo ministro Alexandre Padilha o programa apanhou de todo mundo em seu início, virou realidade e beneficiou 60 milhões de brasileiros e hoje nem os mais duro opositor tem coragem de criticar.

https://youtu.be/yHOHI00FIQQ

Um dos pontos mais controversos mas que se mostrou de extrema sensibilidade foi o chamado de médicos estrangeiros. À época o slogan “A saúde das pessoas não pode esperar” era a chave e o projeto foi implantado com sucesso. “Nós com isso estamos querendo resolver um problema de caráter emergencial e urgente, porque a saúde das pessoas não pode esperar até que os médicos se formem. Por isso trazemos médicos de fora. Paralelamente vamos aumentar a formação de médicos no Brasil, assegurando que eles sejam formados em regiões do interior do país e nas periferias das grandes cidades”, explicou a presidenta Dilma.

https://youtu.be/wAYudSIyscA

Quando se tem plano de governo e ideias para melhorar de verdade a vida do povo o governante não precisa ficar se escondendo em subterfúgios e dissimulações. Pega por exemplo a saúde. Lula e Dilma entregaram um sistema várias vezes melhor do que receberam. Não era perfeito ainda, mas já se via uma evolução que mesmo os críticos mais ferrenhos tiveram depois que dar o braço a torcer.

Programas como o Mais Médicos, Saúde da Família, Farmácia Popular. O investimento nas UPAs e nos Postos de Saúde melhoraram sensivelmente o que o brasileiro e a brasileira entendiam sobre o que seria um atendimento digno e público.

A execução de verbas do Ministério da Saúde entre os anos de 2003 a 2012 teve um acréscimo de 195% (tabela 1). O recurso per capita quase dobrou, passou de R$ 244,80 em 2003 para R$ 413,00 em 2013. Os estados, o Distrito Federal e municípios tiveram seus repasses aumentados quatro vezes nos governos progressistas, pulando de R$ 15,8 bilhões em 2003 para R$ 69,5 bilhões em 2014.

Foram 18 mil profissionais contratados pelo programa Mais Médicos até 2015 a maioria para pequenas cidades e chegando aos mais distantes cantos do Brasil. Com a chegada destes médicos o número de equipes preparadas para acompanhar diariamente a saúde da população nas periferias das grandes cidades e municípios médios e pequenos do interior subiu para mais de 34 mil.

SAMU

Em 2003 o presidente Lula cria o SAMU. O atendimento de urgência e remoção que revolucionou o país inteiro. O gargalo da locomoção de pacientes tinha um horizonte finalmente. Em junho de 2014, 3.182 ambulâncias haviam sido distribuídas a 2.926 municípios brasileiros. Atendendo a 74,5% da população brasileira.

Farmácia Popular

O Farmácia Popular é um programa que foi criado para ampliar o acesso da população aos medicamentos essenciais ao tratamento de doenças mais comuns no Brasil,

Milhões de pessoas foram beneficiadas com medicamentos para hipertensão, contraceptivos e diabetes ficam disponíveis em farmácias e drogarias privadas do país com valores até 90% menores que os cobrados normalmente.

Até dezembro de 2016 quase 10 milhões de brasileiros e brasileiras era beneficiados pelo programa em mais 35 mil estabelecimentos distribuídos em 4.485 municípios. O programa vem sofrendo severos cortes pelo governo Temer e corre sério risco de acabar.

UPA

Criada por Lula para ser um hospital de pronto atendimento para coisas de menor gravidade, as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) revolucionaram o serviço à população. Equipada e com profissionais capazes de atender pessoas com crises de hipertensão, febre alta, cortes profundos, fraturas, infartos e derrame (AVC), as UPAs servem ao povo na maioria dos casos como um ponto de segurança e tratamento para a maioria dos casos. Até junho de 2014 já estavam em funcionamento 355 UPAs, responsáveis por 94 mil atendimentos diários ou 2,8 milhões mensais.

Saúde da Família

O programa Saúde da Família é a linha de frente da saúde brasileira. É o programa que vai até a casa das pessoas e acompanham o dia a dia. É a forma mais barata de saúde pois trabalha na prevenção. O programa recebeu toda a atenção de Lula. Na época de sua eleição em 2002, menos de 32% dos brasileiros eram atendidos, em setembro de 2013, a cobertura havia ultrapassado 56% da população atendidas por equipes do Saúde da Família.

 

 

*Da Redação/IL

 

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Num belo ato de solidariedade, Cuba recebe navios com infectados, envia médicos e faz remédio para coronavírus

Agora sim, está valendo, “vai pra Cuba!”

País se prepara desde janeiro e garante a produção de mais de vinte medicamentos para tratamento da doença.

Nesta quinta-feira (19) o governo cubano confirmou que há sete casos de coronavírus no país, todos em pessoas que foram ao exterior ou tiveram contato com viajantes.

Com controle rígido de entrada e saída e ações de vigilância extensas e consolidadas, as autoridades de saúde têm colocado em isolamento todas as suspeitas.

Em paralelo a isso, o país implementa ações de solidariedade a outras nações no combate à doença. Nesta semana, um navio britânico com viajantes infectados foi acolhido pelo governo cubano, após ser rejeitado em outras nações do Caribe e passar vários dias no mar.

Os governos do Reino Unido e da Irlanda do Norte tentavam acordos humanitários para que os doentes desembarcassem e fossem repatriados aos seus países de origem de avião. Cuba foi a única que aceitou o pedido e adotou de imediato as medidas sanitárias para atendimento de quem estava a bordo.

Em nota, o Ministério de Relações Exteriores de Cuba ressaltou que a crise global pede ações cooperativas entre as nações. “São tempos de solidariedade, de entender a saúde como um direito humano, de reforçar a cooperação internacional para enfrentar nossos desafios comuns, valores que são inerentes à prática humanística da Revolução e de nosso povo”, diz o texto.

As ações do solidariedade são tratadas pelo governo cubano como um princípio central. Em conversa com o Brasil de Fato, o cônsul do país no Brasil, embaixador Pedro Monzón, afirmou que não só no caso do coronavírus, mas em todas as situações extremas como terremotos, tempestades e grande tragédias físicas, Cuba considera que a medicina não é um fenômeno mercantil.

“O enfermo não é uma mercadoria. A saúde pública é um direito humano, não pode ser um fenômeno de mercado. É uma questão de princípios, seres humanos são seres humanos e tem direitos. Isso independe da política. São humanos. É um princípio fundamento da revolução. Não desprezamos o mercado, sabemos que o mercado tem que existir, mas a política não pode se mover em função do mercado”, afirma.

Em 15 de março, uma delegação técnica especializada cubana chegou à Venezuela para apoiar a estratégia de contenção do covid-19. Há médicos cubanos trabalhando em nações do mundo todo, inclusive na China. São profissionais com expertise em missões que já estiveram presentes em mais de 160 países. Em 56 anos, Cuba já mandou mais de 400 mil agentes de saúde para países estrangeiros.

Brasil não sinaliza para retorno de Cuba ao Mais Médicos

Fora do Brasil desde o início do governo de Jair Bolsonaro, Cuba não deve reverter a decisão de retirar seus médicos do programa Mais Médicos, tomada após uma série de manifestações do capitão reformado contra as equipes que atuavam em todo território nacional.

Pedro Mónzon afirma que seria preciso garantias de segurança absoluta e uma mudança política radical.

“Os médicos cubanos saíram do Brasil porque foram feitas declarações agressivas, que os colocaram em perigo. Questionou-se o prestígio dos médicos cubanos, o profissionalismo, até se dizia que eram escravos, terroristas e que formavam guerrilheiros. Um conjunto de de mentiras que não tinham nada a ver com solidariedade cubana, aponta.

Recentemente o governo brasileiro anunciou ampliação nas contrações de médicos para os postos de saúde e informou que os cubanos que ficaram no Brasil após a saída determinada pelo governo da ilha, poderiam participar. No entanto, só é possível a atuação de profissionais com registro e diploma revalidado. Exigência que não existia no Mais Médicos.

Pedro Monzón informou que o governo brasileiro não fez nenhum contato com Cuba para possível retomada da parceria.

“Até agora não houve. Sei que há estados que estão interessados, porque, por exemplo, li ontem que 20% dos municípios no Brasil não têm médicos e antes tinham médicos cubanos.Alguns dos nossos médicos deixaram o Brasil chorando, devido ao forte relacionamento que foi desenvolvido com a população. Eu gostaria que isso fosse possível naturalmente, honestamente, sinceramente, sem mentiras, sem agressão, que a relação pudesse ser reconstituída para o bem-estar de boa parte da população brasileira. Infelizmente não vejo, no momento, perspectiva desse acontecimento”, afirma.

Medicamentos

É na ilha também que se produz um medicamento eficaz para o tratamento dos efeitos respiratórios do covid-19. O Interferon Alfa 2B já foi solicitado por mais de dez países.

De acordo com o governo cubano, o país tem hoje medicamento pronto para os próximos seis meses e capacidade de produção que atende a demanda da própria ilha e pedidos que venham de outras nações.

Na China, uma fábrica criada em parceria com o país caribenho é responsável pela produção local. O processo também conta com profissionais cubanos. O Interferom Alfa 2B também é usado preventivamente em profissionais de saúde, que estão mais vulneráveis ao contágio.

Segundo Pedro Monzón, o Brasil também demonstrou interesse, mas a entrada no medicamento ainda não foi autorizada pela Anvisa.

Há outros 21 medicamentos fabricados no país e que fazem parte do protocolo de atendimento a pacientes. São antivirais, antirrítmicos e antibióticos, para o tratamento de complicações.

O bloqueio econômico sofrido pelo país parece ser o único empecilho para que Cuba conte com todo o material que é necessário no enfrentamento ao Coronavírus. 15% dos medicamentos fornecidos pela indústria estão ausentes das farmácias, por que o tempo dos ciclos de distribuição é elevado. Para coletivizar o acesso, o governo cubano garante o abastecimento do sistema de saúde em primeiro lugar.

Atualmente, cientistas cubanos trabalham também no estudo da capacidade viral de dois medicamentos para o tratamento do Covid-19. Ambos estão na classe de peptídeos inibidores. Um deles, o CIGB 210, atua como antiviral no tratamento da Aids. Já o CIGB 300 é usado para tratar alguns tipos de câncer.

De acordo com o governo cubano, o país atua com a China em um dos projetos de vacina que vêm sendo colocados em prática em todo o mundo. O método estudado é usado para a vacina terapêutica contra a hepatite B crônica no país e o projeto foi disponibilizado às autoridades sanitárias chinesas.

Cuba se prepara para o surto do coronavírus desde janeiro. Até agora, já houve acompanhamento de quase 25 mil pessoas no atendimento primário, o que inclui todos os indivíduos com origem em países de alto risco.

 

 

Nara Lacerda/Brasil de Fato

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A doce ilusão da Globo em acreditar que, não falar de Lula, tira dele a condição de maior liderança do país

A Globo, não se enganem, está de prontidão política, muito mais para vigiar Lula do que Bolsonaro.

Mas como esconder Lula se nesta segunda-feira mesmo, a única coisa que Guedes falou que presta para combater o coronavírus é ampliar os beneficiados do programa Bolsa Família criado por Lula? Porque Bolsonaro excluiu 1 milhão de famílias do programa e, agora, teve que voltar atrás.

Lula é a mosca que posou na sopa da Globo e ela nunca conseguiu tirar.

Teria a 5ª derrota eleitoral consecutiva para Lula, possivelmente a mais acachapante, se não desse ordens para Moro, o capanga da milícia, prendê-lo para tirá-lo do páreo.

Como desaparecer com Lula se o que ainda não foi destruído por Temer e Bolsonaro e que sustenta o país, do ponto de vista econômico e social, tem as digitais de Lula?

Isso é jogar farinha no fantasma.

Todo mundo vê a imagem de Lula cada dia mais forte com a tragédia chamada Bolsonaro, criado e nutrido pelo ódio da Globo e afins.

As UPAS, o maior investimento em pesquisa, o pré-sal, o Luz Para Todos, o Bolsa Família, as reservas internacionais e por aí vai.

O programa Mais Médicos de Dilma que agora o governo Bolsonaro corre desesperado atrás, principalmente dos médicos cubanos, para perder de menos para o coronavírus, é outra lambada da realidade que a mídia finge não saber como é importante agora.

O país nunca precisou tanto de Lula como agora e a Globo sabe disso. Ninguém, senão Lula, seria capaz de um feito de tal envergadura que trataria com urgência medidas positivamente discriminatórias que são a única forma de refazer um balanço mais digno com políticas compensatórias que, certamente, não vão corrigir injustiças seculares, mas que não vão excluir ou separar uma parcela segregada da sociedade, porque cientificamente está comprovado que não há como o país se salvar do coronavírus se, junto, não salvar os pobres.

E todos sabem que não há ninguém capaz de cumprir essa missão, senão Lula.

Está aí a sinuca de bico em que se encontra a Globo e a escória do dinheiro que patrocinou a campanha infame e a condenação de lula, porque todos já entenderam que o coronavírus não escolhe idade, cor, gênero, condição financeira e social e, muito menos baronatos midiáticos.

Nesta segunda-feira, o tucano Armínio Fraga, em entrevista com Miriam Leitão, sem citar Lula, lógico, até porque é proibido na Globo, disse uma frase que representa o pensamento de Lula, “O Brasil só caminhará para um desenvolvimento sustentável se incluir os pobres no orçamento”.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas