Requião se mostrou indignado com os comentários feitos pelas costas.
“Me causa nojo”, foi o que o ex-senador Roberto Requião (MDB-PR) disse ao tomar conhecimento das mensagens do procurador Vladimir Aras divulgadas na última reportagem da Vaza Jato. Em conversa com Deltan Dallagnol, Aras defende a candidatura do coordenador da Lava Jato para o Senado Federal e chama Requião e a presidenta nacional do PT e então senadora pelo Paraná, Gleisi Hoffman, de “inimigos”.
Requião se mostrou indignado nas redes sociais, comentando que Aras estava sempre no seu gabinete enquanto operava contra ele pelas costas. “E o tal de Aras, muito simpatico, me visitava no gabinete, enquanto operavam contra minha imagem com insinuações, calúnias, infamias etc, etc… Me causa nojo!”, desabafou.
Ao defender a candidatura de Dallagnol ao senado, Aras classificou Requião e Gleisi como “inimigos”. “Você tem de pensar no Senado. Você se elege fácil e impede um dos nossos inimigos no Senado: Requião ou Gleise caem”, disse.
O medebista era alvo de frequentes críticas pelos membros da Lava Jato por ter sido um dos autores da Lei de Abuso de Autoridade, aprovada no Congresso em agosto deste ano, mas também dialogava com os membros do MPF e chegou a recuar em alguns pontos do texto apresentado ao Senado.
A revelação fez Aras ocultar o conteúdo de seu Twitter. O procurador é o nome favorito de Dallagnol e do ministro da Justiça, Sérgio Moro, para ocupar a cadeira da Procuradoria-Geral da República (PGR). Usuários da rede social acreditam que o procurador escondeu as publicações para apagar as que forem comprometedoras.
E o tal de Aras, muito simpatico, me visitava no gabinete, enquanto operavam contra minha imagem com insinuações, calúnias, infamias etc, etc… Me causa nojo!
O procurador Deltan Dallagnol considerou durante mais de um ano se candidatar ao Senado nas eleições de 2018, revelam mensagens trocadas via Telegram e entregues ao Intercept por uma fonte anônima. Num chat consigo mesmo, que funcionava como espaço de reflexão do procurador, ele chegou a se considerar “provavelmente eleito”. Também avaliou que a mudança que desejava implantar no país dependeria de “o MPF lançar um candidato por Estado” — uma evidente atuação partidária do Ministério Público Federal, proibida pela Constituição.
As mensagens indicam, ainda, que a candidatura não era meramente um plano pessoal de Dallagnol, mas, diante de um “sistema político derrubado”, um desejo de procuradores que ia além da Lava Jato e do Paraná. Em mais de um momento, ele afirma que teria apoio da força-tarefa caso decidisse concorrer, o que indica que isso foi tema de debates internos.
O procurador também dá a entender ter tratado da candidatura com figuras como o jurista Joaquim Falcão, professor da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro, ex-presidente da Fundação Roberto Marinho e membro da Academia Brasileira de Letras.
Apesar de ver a política como “algo que está no meu destino”, Dallagnol decidiu no final de 2017 permanecer procurador da República, mas não abandonou a ideia de ver seu retrato nas urnas eletrônicas.
“Tenhoapenas 37 anos. A terceira tentação de Jesus no deserto foi um atalho para o reinado. Apesar de em 2022 ter renovação de só 1 vaga e de ser Álvaro Dias, se for para ser, será. Posso traçar plano focado em fazer mudanças e que pode acabar tendo como efeito manter essa porta aberta”, escreveu, em 29 de janeiro de 2018, numa longa mensagem enviada para ele mesmo.
A referência é ao senador paranaense Alvaro Dias, do Podemos, aliado da Lava Jato e poupado pelas investigações da operação, cujo mandato termina em 2022. Dallagnol havia recebido um convite para ser candidato ao Senado naquele mês — justamente pelo partido de Dias — entregue por outro procurador da Lava Jato, Diogo Castor de Mattos. Poucos dias depois, fez a longa ponderação em que pesava os prós e contras de uma aventura política, também em um texto que enviou pelo Telegram para si próprio.
Na reflexão, ele se via dividido entre três opções. A primeira era se candidatar ao Senado, pois julgava que seria “facilmente eleito” e via “circunstâncias apontando possivelmente nessa direção”, entre elas o fato de que “todos na LJ apoiariam a decisão” de apresentar seu nome aos eleitores, em suas próprias palavras.
Ainda assim, o procurador via “risco para a Lava Jato porque muitas pessoas farão uma leitura retrospectiva com uma interpretação de que a atuação desde sempre foi política”. “Pior ainda, pode macular mais do que a Lava Jato, mas o movimento anticorrupção como um todo, que pode parecer politicamente motivado. Por fim, a candidatura pode macular as 10+ como uma plataforma pessoal ou de Deltan para eleição, retirando aura técnica e apartidária”, preocupou-se.
“Há ainda quem leia que uma atuação simbólica como a de Randolfeé inócua (como Josias de Souza), embora eu discorde (com Michael Mohallem). Além disso, ainda que seja algo que está no meu destino, como Joaquim Falcão disse, sair agora seria muito arriscado e não produtivo em comparação com outras opções”, prosseguiu Dallagnol.
Ao Intercept, Josias de Souza e Mohallem confirmaram que tiveram conversas com Dallagnol no teor mencionado pelo procurador em sua reflexão. Falcão não foi encontrado para comentar.
A segunda opção colocada pelo procurador para si mesmo era prosseguir na carreira no Ministério Público Federal. “Lutar pela renovação enquanto procurador: mantém a credibilidade, mas perde a intensidade que seria necessária”, avaliou. “Precisaria me dedicar bastante a isso e me programar. Para aumentar a influência, precisaria muito começar uma iniciativa de grupos de ação cidadã. Dois pilares seriam: grupos de ação cidadã em igrejas e viagens. Tem um risco de CNMP, mas é pagável, cabendo fazer uma pesquisa de campanhas públicas (de órgãos) de voto consciente, para me proteger.”
Por fim, a terceira possibilidade analisada por Dallagnol em janeiro de 2018 era deixar a carreira de procurador sem abraçar a política partidária. “Lutar pela renovação enquanto cidadão, pedindo exoneração: esta seria a solução ideal pela perspectiva da credibilidade (não seria político, mas ativista) e de intensidade (“Não vote em Fulano). Perderia um pouco de credibilidade e visibilidade, por deixar a posição pública de coordenador da operação. Não teria riscos de corregedoria. Poderia me dedicar integralmente às 10+”, calculou.
Afinal, por enxergar “riscos concretos à causa anticorrupção”, Dallagnol decidiu ficar no MPF, embora não tenha descartado concorrer em 2022. Até lá as condições para que procuradores possam disputar eleições podem mudar, graças a uma iniciativa da associação de classe que busca garantir a eles o direito de serem candidatos sem abandonarem os cargos no Ministério Público.
‘AJUDA SE O MPF LANÇAR UM CANDIDATO POR ESTADO’
primeira menção à aventura política de Deltan Dallagnol no Telegram surgiu em meados de dezembro de 2016, numa conversa entre ele e o procurador Vladimir Aras, que trabalhava em Brasília. Aras é próximo de Dallagnol, e foi apoiado por ele como sucessor de Raquel Dodge na PGR.
“Vc tem de pensar no Senado”, escreveu Aras, então chefe da Secretaria de Cooperação Internacional da Procuradoria Geral da República. A resposta de Dallagnol deixou claro que o tema não era novidade nas conversas entre os procuradores. Eram tempos em que a Lava Jato se sentia ameaçada. Dois dias antes, em uma audiência, os advogados de Lula haviam discutido com Sergio Moro, afirmando que ele estava atuando como “acusador principal”, e não como juiz.
Em resposta, a associação de juízes federais publicou nota repudiando o que chamou de estratégia dos advogados de Lula para afastar Moro da Lava Jato. No dia seguinte à publicação da nota — e horas após a conversa entre Aras e Dallagnol –, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, publicou um comunicado interno dizendo que a Lava Jato “desagrada parte da estrutura de poder”.
Em meio a isso tudo, Aras sugeriu que Dallagnol buscasse uma vaga no Senado, tirando de lá políticos que via como “inimigos” da Lava Jato.
14 de dezembro de 2016 – Chat privado
Vladimir Aras – 10:30:29 – Vc tem de pensar no Senado Deltan Dallagnol – 12:58:02 – Obrigado pelo incentivo, mas vejo muitos poréns Aras – 13:09:38 – Vc se elege fácil e impede um dos nossos inimigos no Senado: Requiaoou Gleisecaem Dallagnol – 13:29:56 – Não resolve o problema. Ajuda se o MPF lançar um candidato por Estado. Seria totalmente diferente e daria trabalho, mas pode ser uma das estratégias para uma saída. Dallagnol – 13:30:22 – No PRnão precisaria ser eu rs, mas eu apoiaria fortemente essa rede de candidatos Dallagnol – 13:30:44 – Ou pensamos alguma saída maluca, ou estamos ferrados Aras – 13:45:12 – Vc e Moro
Aras – 13:45:14 – Ou Carlos
‘GANHA MENOS, TEM MENOS FÉRIAS, FICA TOMANDO PEDRADA’
Meses depois, no começo de 2017, a possível candidatura se espalhou pelos corredores do Ministério Público Federal. A procuradora Luciana Asper, do Distrito Federal, voluntária da campanha pelas dez medidas, abordou Dallagnol em março daquele ano. Ele desconversou — mas não negou.
1º de março de 2017 – Chat privado
Luciana Asper Valdir – 10:41:42 – Tem alguma chance de vc se candidatar a senador?? Alguns estão me perguntando. Deltan Dallagnol – 11:49:16 – Dallagnol – 11:49:22 – Valeu Lu! Dallagnol – 11:50:43 – Não tem urgência, vou aguardar então, obrigado! Dallagnol – 11:57:18 – Eu não gostaria, sendo sincero, por uma série de razões. Não é meu perfil, é uma turbulência na vida familiar, ganha menos, tem menos férias, fica tomando pedrada na vitrine num jogo de menitras, correria um risco grande ao me desligar do MPF, tem a questão da LJ etc. Contudo, tem muitas pessoas que respeito muito que estão incentivando, inclusive o pessoal da LJ. Hoje, descogito, e essa é a melhor resposta para quem pergunta, até para não expor o caso. A verdade é que quero em minha vida, em primeiro lugar, servir a Deus, e a Bíblia coloca que a vida do cristão é como o vento, que não sabe para onde vai. Se um dia decidir tentar, é porque entendi que é o melhor modo de servir a Deus e aos homens e por puro espírito público, porque vontade não tenho, Lu. Qual a sua impressão? Luciana Asper Valdir – 13:48:35 – Entendo vc perfeitamente! Penso exatamente como vc. E confio plenamente que Deus o guiará em todos os caminhos. Vc ouvirá a voz Dele e Ele te colocará onde Ele precisa para continuar no caminho de restauração do que deveria ser está nação que Ele agraciou com tantas bênçãos e foi tão maltratada pelos líderes até hj. Eu confesso que peço todos os dias a Deus para colocar o poder neste país nas mãos dos filhos Dele, verdadeiros cristãos que queiram dar a prosperidade planejada para este Brasil. Falta liderança do bem em todos os cantos. Vc já fez alguma escola no Mpf. Precisamos de um novo congresso sem duvida. Difícil avançarmos com o que vemos por lá. Precisamos de lideranças em todos os cantos! Deixa Deus te guiar que Ele saberá exatamente onde vc deve estar! Dallagnol – 14:02:12 – Valeu Lu. Quando lembrar, ore por favor pelas decisões que tomamos aqui. Luciana Asper Valdir – 14:40:25 – Sim. Sempre!
‘NÃO DESCARTO, MAS NÃO CONSIDERO COMPLETAMENTE’
Em julho daquele ano, o boato chegou à procuradora Anamara Osório, que enviou via Telegram a seguinte mensagem a Dallagnol: “Delta!!!! Você senador para já!! Vamos falar disso?! O que vc precisa? Hehe”. O chefe da Lava Jato não respondeu.
As conversas indicam que Osório comentou o assunto com a procuradora Thaméa Danelon, à época integrante da Lava Jato em São Paulo.
Com Danelon, de quem é mais próximo, no entanto, Dallagnol foi bem mais aberto.
9 de setembro de 2017 – Chat privado
Thaméa Danelon – 20:08:58 – Oi amigo. Vc vai sair para senador ano q vem? Danelon – 20:13:06 – Anamara acabou de me falar! Deltan Dallagnol – 23:34:45 – Não que eu saiba rs Dallagnol – 23:35:21 – A fonte deve ser o Reinaldo Azevedo rs Dallagnol – 23:35:39 – Tem muita gente incentivando, mas por enquanto acho que não é o caso
A conversa entrou madrugada adentro.
10 de setembro de 2017 – Chat privado
Thaméa Danelon – 01:47:47 – Parece q saiu na globonews Danelon – 01:47:55 – A Anamara me confirmou Tb. Danelon – 01:48:05 – Mas se não quiser falar ok Danelon – 01:48:11 – Mas vc terá sempre meu apoio Deltan Dallagnol – 10:50:37 – Valeu Tamis. Não descarto, mas não considero completamente. Jamais falaria com partido agora, seria de idiotice total. Exporia a LJ. O que Cristiana Lobo disse é que “corre em Curitiba como certo que…”. Mas é um boato falso. Jamais falei com o Álvaro Dias ou pessoas ligadas a ele sobre esse assunto.
Num grupo chamado Trinca de três, que reunia o executivo de planos de saúde Fabio Oliveira e o advogado Hadler Favarin Martines, fundadores do Instituto Mude e frequentadores da mesma igreja batista de Dallagnol em Curitiba, a candidatura também foi discutida.
1º de novembro de 2017 – Grupo Trinca de três
Fabio Oliveira – 13:16:25 – Manos, seguinte. Ontem almocei com o Campagnoloe foi uma conversa muito produtiva. Ele mesmo falou que tanto ele quanto eu e o Deltan estamos vivendo situações familiares/profissional muito parecidas. Em relação a uma possível candidatura dele, minha e tua, ele disse que o ideal seria começar um processo de exposição. Com isso em mente, ele convidou o Mude para falar no evento do dia 23 em Foz. Massa né? Oliveira – 13:18:36 – Resolvi trocar uma ideia com vocês (tirando a situação da SUPRIMIDO um pouco de foco) pra ver o que vocês acham e também pq fui ver preço de passagem e está na casa dos 2k. O Campagnolo adiantou que o hotel ele consegue para mim mas passagem não. Pensei em ir até de carro, se for o caso. Oliveira – 13:22:03 – Lembrando que o Deltan também falará no mesmo evento.
Eleito presidente da Federação da Indústria do Paraná, a Fiep, com o apoio do antecessor, Rodrigo Rocha Loures, pai do deputado Rodrigo da Rocha Loures, o “homem da mala” de Michel Temer, e filiado ao PRB, atual Republicanos, braço político da Igreja Universal, Edson Campagnolo foi cotado para ser candidato a vice-governador do Paraná em 2018.
Há algumas semanas, um vice-presidente da Fiep, a federação das indústrias do Paraná, o acusou de fazer pagamentos ilegais a si mesmo enquanto comandava a entidade, segundo reportagem do UOL. Ele negou. À época das conversas, porém, a acusação não era pública.
Foi justamente a Hadler Martines, que no Linkedin se identifica como sócio da multinacional de consultoria e auditoria empresarial PwC no Brasil, que Dallagnol comunicou sua decisão de não se candidatar, no fim de 2017.
18 de dezembro de 2017 – Chat privado
Deltan Dallagnol – 22:36:55 – Grande Hadler, após muita reflexão, oração, ouvir muitas pessoas e chegando a um nível de convicção pessoal e fé bastante alto quanto ao que é melhor pensando em termos de movimento anticorrupção, ontem me antecipei ao meu deadline auto-imposto (tinha me colocado um deadline no fim de janeiro) e decidi não vou sair do MPF em 2018. Posso contar mais detalhes quando conversarmos pessoalmente, mas quis adiantar isso em primeira mão para Vc.
A resposta viria no dia seguinte.
19 de dezembro de 2017 – Chat privado
Hadler Favarin Martines – 21:14:41 – Fala Delta! Cara, você terá meu apoio independente da decisão que tomar. Concordo que uma candidatura neste momento poderia envolver muitos riscos e no MPF você ainda tem muito a contribuir. Pessoalmente, acho que você é uma das maiores lideranças jovem do Brasil e isso poderá abrir grandes portas no futuro. Quem sabe num futuro próximo um cargo político possa ser interessante. Deus te abençoe! Conte comigo. Abs Deltan Dallagnol – 22:45:49 – Valeu irmãozinho pelo apoio e incentivo sempre. Sem Vocês seria uma brasa longe do fogo. Que possamos incendiar, juntos, corações, por mudanças. Grande abraço
‘VC FICOU MAIOR DO QUE O CARGO DE PROCURADOR’
Joel Malucelli é figura notória no Paraná. Já foi nome de time de futebol, é dono de um banco, o Paraná Banco, de empresas de comunicação — possui as retransmissoras das concorrentes Bandnews FM e da CBN em Curitiba e a principal fatia da TV Band na capital do estado — e de uma empreiteira que leva seu nome e lhe colocou na mira da Lava Jato. Só não foi preso, em setembro de 2018, porque estava na Itália.
Meses antes, porém, em janeiro, Malucelli — também presidente do Podemos no Paraná e suplente do senador Alvaro Dias — abordou o procurador Diogo Castor de Mattos num clube de elite de Curitiba e lhe pediu seu número de celular. Sem conhecer os dilemas íntimos de Deltan Dallagnol ou as decisões que ele já comunicara aos amigos próximos, desejava lhe fazer uma proposta.
16 de janeiro de 2018 – Chat privado
Diogo Castor de Mattos – 20:06:32 – Oi Diogo, você poderia ver com o Dalagnol se ele aceitaria ser candidato ao Senado pelo Podemos?? O convite também partiu do Alvaro Dias! Abr Obr Joel Malucelli Pres do partido Castor de Mattos –20:06:41 – Posso responder?
17 de janeiro de 2018 – Chat privado
Deltan Dallagnol – 13:59:25 – Ele te mandou do nada ou Vcs costumam conversar? Dallagnol – 13:59:40 – Se costumam conversar, responda sim Dallagnol – 13:59:55 – Diga que falou comigo e que hoje eu não penso em concorrer nas eleições Dallagnol – 14:00:16 – Mas agradeço muito considerarem meu nome, o que recebo como um reconhecimento da importância da causa anticorrupção Diogo Castor de Mattos – 14:01:12 – Falei uma vez na vida Castor de Mattos –14:01:26 – Mas ele joga tênis no clube.. se sentiu amigão
Em fevereiro, outro cabo eleitoral de Dallagnol recebeu a ducha de água fria: Vladimir Aras. O procurador sondou o chefe da força-tarefa um dia depois de Dallagnol criticar o Congresso em seu Twitter: “Se cabem buscas e apreensões gerais nas favelas do Rio, cabem também nos gabinetes do Congresso”, escreveu. “Aliás, as evidências existentes colocam suspeitas muito maiores sobre o Congresso, proporcionalmente, do que sobre moradores das favelas, estes inocentes na sua grande maioria”.
21 de fevereiro de 2018 – Chat privado
Vladimir Aras – 23:29:51 – Tá firme na candidatura? Deltan Dallagnol – 23:47:20 – Oi Vlad, sou candidato hoje apenas a cabo eleitoral seu para PGR! Aras – 23:48:00 – Hahahaha Dallagnol – 23:48:06 – Algo que fiz te deu essa impressão? Pergunto porque to indo na direção contrária. Lutar pela causa anticorrupção a partir de onde estou Aras – 23:48:07 – Resposta de candidato da zorra hahahah Dallagnol – 23:48:14 – Hahaha Aras – 23:48:36 – Por causa de suas declarações sobre o congresso e pelo lançamento da campanha. Muita gente especulando isso Dallagnol – 23:50:40 – Pode ser assertivo em sentido contrário. Na verdade, o meu tt expõe a diferença de tratamento entre poderosos e vulneráveis. É incogitavel no Congresso, mas cogitavel nas favelas, mesmo quando a mesma lógica está presente. Essa mesma diferença vemos na análise pela Justiça de prisões etc. Foi só uma ironia ao sistema de justiça que privilegia uns e prejudica outros. Tinha recém retuitado suas colocações sobre esse assunto, mto pertinentes Aras – 23:51:00 – Eu vi Aras – 23:51:07 – Não é minha interpretação Aras – 23:51:17 – São colegas e pessoas de fora da carreira especulando Aras – 23:51:30 – Já que abril vem chegando Dallagnol – 23:52:31 – Nem lembrava disso mais rs. Vc está cogitando? Dallagnol – 23:52:53 – Vc seria um excelente deputado ou senador pela BA Dallagnol – 23:53:33 – E se tudo der errado Vc tem muita entrada. Conseguiria lugar no mercado fácil Aras – 23:56:13 – Não Aras – 23:56:17 – Já pensei nisso antes Aras – 23:56:20 – Agora não Aras – 23:56:31 – Isso é uma possibilidade Aras – 23:56:40 – Mas não está na hora para mim Aras – 23:56:52 – Mas nunca descarto no futuro Dallagnol – 23:59:03 – Eu não descarto também (assim como não descarto varias outras coisas), mas hoje minha saída, a meu ver e salvo alguma mudança radical de cenário, mais prejudicaria a causa anticorrupção do que ajudaria Dallagnol – 23:59:28 – Pelas pesquisas, estaria eleito, mas tem muito mais coisa importante em jogo
O papo continuou, com uma confidência de Dallagnol: a força-tarefa da Lava Jato apoiaria em peso sua candidatura.
22 de fevereiro de 2018 – Chat Privado
Deltan Dallagnol – 00:00:15 – (apesar do apoio da FT a qq que fosse a decisão) Vladimir Aras – 00:16:13 – No seu lugar eu iria! Já te disse isso. Aliás, vc deve lembrar que te digo isso há muito tempo hahaha Aras – 00:16:58 – Acho que não haveria prejuízo à causa anticorrupção. Vc ficou maior do que o cargo de procurador Deltan Dallagnol – 00:24:19 – Valeu pela força, Vlad! Um dia te conto melhor a reflexão pessoalmente. Aras – 00:26:36 – Ok falou Amigo
No início de agosto de 2018, a Associação Nacional dos Procuradores da República, que atua como um sindicato da categoria, foi à justiça brigar pelo direito de que membros do Ministério Público Federal possam se filiar a partidos políticos e disputar eleições sem precisar abrir mão de seus cargos. Atualmente, isso é vedado a eles e a membros do poder Judiciário pela Constituição.
Não há, nas conversas do Telegram, indícios de que a medida da ANPR tenha sido tomada para favorecer uma hipotética candidatura de Deltan Dallagnol — para que pudesse disputar as eleições de 2018, ele teria de deixar o MPF até abril daquele ano.
Ainda assim, a ação foi bastante discutida num dos grupos que os procuradores mantinham no Telegram, chamado BD. Sem conhecer os planos de Dallagnol e da Lava Jato para uma eventual candidatura do chefe da força-tarefa ao Senado, alguns se preocupavam que a ação pudesse causar desgaste à categoria e justificar o discurso de que o ex-presidente Lula é um preso político, ecoado por aliados do petista.
3 de agosto de 2018 – Grupo BD
Janice Ascari – 08:41:07 – A medida valeria também para juízes de todo o país. A ANPR pede ainda que, numa medida cautelar, o STF autorize procuradores e promotores a participarem inclusive das eleições deste ano. Para isso, bastariam se licenciar dos cargos. Pelas regras em vigor, se quiserem se candidatar a cargos eletivos, procuradores e promotores são obrigados a se demitirem. A ADI foi protocolada em nome da ANPR pelo advogados Rodrigo Mudrovitsch e passou a tramitar com o número 5985. No documento, o advogado pede que o STF declare inconstitucional o parágrafo 5º, inciso II, alínea “e” do artigo 128 da Constituição. Pelo trecho do artigo, membros do Ministério Público não podem “exercer atividade político-partidária”. O mesmo tipo de restrição impede candidaturas de magistrados. Mudrovitsch entende ainda que, mesmo antes de examinar o mérito da questão, o STF poderia conceder uma medida cautelar para evitar eventuais prejuízos a procuradores e promotores que queiram participar das eleições em outubro. Ascari – 08:43:43 – Matéria dO Globo sobre a ação da ANPR Então valeria para Eleições 2018 Rodrigo Tenório – 08:54:27 – Não valerá Janice, por conta doa prazos de desincompatibilizacao. Colegas teriam q ter se afastado bem antes da propositura da acao Lauro Cardoso – 08:54:56 – Com todo respeito, não achei oportuna a ação nesse momento conturbado. Minha opinião não vale muito, mas pode despertar dúvidas sobre nossos propósitos, ainda mais considerando o atual discurso, injustificado obviamente, de que Lula é um preso político. Rodrigo Tenório – 08:55:44 – O único desincompatibilizado é Mario Lucio? Roberto Dassié – 09:07:09 – https://painel.blogfolha.uol.com.br/2018/08/03/ala-do-stf-critica-acao-da-anpr-que-tenta-viabilizar-candidatura-de-procuradores/ José Robalinho Cavalcanti – 09:09:45 – Não valeria porque não pedimos alteração de nada na legislação eleitoral. Quem não se desincompatibilizou não pode se candidatar O jornal está errado Cavalcanti – 09:10:01 – E eu expliquei isso ontem a n jornalistas Cavalcanti – 09:12:13 – Como disse Rodrigo tomamos o cuidado de esperar o fim do prazo Lauro. Momento bom nunca haveria. Rs A questão eh polêmica. Em outros momentos seria por outros fatores como o congresso. Ah: o CNPGontem votou por unanimidade apoio público à iniciativa – que só teve aplausos – e deve ir também ao processo. Hoje a CONAMPdeve fazer o mesmo Cavalcanti – 09:13:42 – Sim Cavalcanti – 09:13:52 – No mpf. Mas há outros casos Dassié – 09:14:12 – Robalinho, pq conamp não assinou a inicial? Cavalcanti – 09:14:16 – Mas não falo com Mario Lúcio já Semanas. Cavalcanti – 09:16:19 – Por n motivos/ eh mais lenta e o advogado eh nosso e decidimos rapirdo Rs E aliás ela vai discutir hoje o que fazer. Agora. Não vou adiantar. Mas Victor estação breno comigo na reunião do Cnpg e participou do apoio geral Cavalcanti – 09:16:54 – E me disseram que talvez ele tenha desistido o que deixa zero de pessoas atingidas no mpf rs Não afeta as atuais eleições Cavalcanti – 09:17:06 – Gente tenho reunião aqui. Ab Cavalcanti – 09:19:02 – ok! Obrigado Cavalcanti – 09:21:24 – Não por isso Roberto. E não esqueçam que a tese está em absoluta sintonia com s posição admistrativa de nossa pgr e nosso ex pgr – ambos liberaram Mario Lúcio – e com a manifestação da procuradoria eleitoral no tse Hélio Telho – 11:14:15 – Que eu saiba, no MPF, é. Não sei nos demais ramos Cavalcanti – 11:14:24 – Isso Telho – 11:14:42 – A FsPacertou Cavalcanti – 11:16:20 – Foi uma das que falou comigo
A ação direta de inconstitucionalidade 5985, proposta pela ANPR, está parada desde fevereiro passado no gabinete do ministro Marco Aurélio Mello — por ser um tema regido pela Constituição, cabe ao STF tratar do caso. Em pareceres enviados ao Supremo, o Senado e a Advocacia-Geral da União já disseram ser contra a proposta.
Ainda assim, se o STF eventualmente acatar o que a associação dos procuradores deseja, Dallagnol, Aras e juízes como Marcelo Bretas poderão se colocar como opção ao eleitorado sem o risco de perder os salários e mordomias das carreiras — como o generoso auxílio-moradia pago mesmo a quem já possui casa própria. Nesse caso, o Partido Social Liberal de Jair Bolsonaro provavelmente terá em 2022 o rival que Dallagnol projetou no Telegram: o Partido do MPF. Ou, quem sabe, o Partido da Lava Jato.
Ao Intercept, Michael Mohallem, pesquisador do Programa de Transparência Pública da FGV no Rio, confirmou que conversou com Deltan Dallagnol a respeito de uma eventual candidatura do procurador ao Senado.
“Eu tinha um projeto de pesquisa da Transparência Internacional e ele por vezes participou de algumas reuniões, como colaborador. Me lembro, antes de alguns desses encontros, dele comentar não da intenção de se candidatar, mas numa possibilidade vaga. Objetivamente, sim, em algum momento ele comentou sobre a possibilidade [de ser candidato ao Senado]”, relatou Mohallem.
“Não sei dizer a data, mas foi bem antes das eleições do prazo legal para ele sair da carreira. Eu conheci Deltan naquele período, não é um amigo, um conhecido de longa data. Ele não tinha liberdade para eu aconselhá-lo a sair ou não [candidato]. E não me lembro dele perguntar qual minha opinião [a esse respeito], mas mais sobre impactos a Lava Jato, como eu pesquiso corrupção. Ele não queria impactos negativos para a operação”, ele disse.
“Ele [Dallagnol] não falou em ser candidato, claramente, mas em ter procuradores [concorrendo] na eleição do ano que vinha. Até fui atrás, mas não apareceram. Foi após uma entrevista em vídeo, feita na [sede da] Procuradoria [Geral da República], em Brasília, em outubro de 2017. Após a entrevista, os cinegrafistas estavam desmontando os equipamentos e houve essa rápida conversa”, relembrou o jornalista Josias de Souza.
“Ele disse que às vezes tinha a impressão de que tinha de haver procuradores no Congresso, que a coisa daí talvez caminhasse. Seria um erro capital, eu falei, porque vocês como procuradores realizam um trabalho meritório. Se vão para o Senado, primeiro comprometem esse trabalho e, em segundo lugar, lá gente muito bem intencionada, e citei o exemplo de Ranfolfe [Rodrigues], não tem retaguarda partidária, e tem atuação que não resulta na concretização das boas intenções”, prosseguiu o colunista do UOL.
Também ligado à FGV Rio, Joaquim Falcão está em viagem ao exterior e não foi localizado para falar, informou a assessoria da instituição. O espaço está aberto para a manifestação dele.
Pedimos, novamente, uma entrevista a Dallagnol para que o procurador falasse sobre suas ambições políticas. Ele voltou a se recusar e preferiu responder via assessoria: “O procurador Deltan Dallagnol se lembra de ter feito reflexões sobre esse assunto, mas não vai comentar pensamentos ou cogitações de caráter íntimo. As mensagens são oriundas de crime cibernético e têm sido usadas fora do contexto para acusações falsas”.
Ao contrário do que acusa o procurador, o Intercept lembra que o arquivo da Vaza Jato foi entregue por uma fonte anônima, o que é lícito e legítimo no jornalismo, e que trabalha para que elas sejam reportadas dentro do contexto adequado. Clique aqui para saber mais sobre os critérios editoriais do Intercept que levaram à publicação das mensagens.
“A troca de mensagens expostas se deu no nível pessoal e informal. Tais conjecturas jamais foram levadas ao Conselho ou diretoria do Mude e se tivessem sido levadas não seriam apoiadas. O Mude não tem e nunca teve intenção de apoiar ou lançar candidatos de qualquer matriz ideológica”, disseram, em nota, Patricia Alves Fehrmann e Gisele Jansen, respectivamente diretora-executiva e vice-presidente do Instituto Mude.
“No Jornal Nacional, o (William) Bonner (apresentador) apenas falava o que tinha recebido da força-tarefa, com uma audiência enorme, sem nenhum trabalho jornalístico”, disse o jornalista em entrevista que vai ao ar nesta quinta-feira (29), a partir das 22h, na TVT.
O jornalista Glenn Greenwald, editor do The Intercept Brasil, veículo responsável pela série Vaza Jato, será entrevistado nesta quinta-feira (29) no programa “Entre Vistas”, da TVT, comandado por Juca Kfouri. A conversa vai ao ar às 22h e vai tratar da Lava Jato, da parcialidade de parte do sistema de Justiça no Brasil, do poder da informação e as relações entre a mídia e a democracia.
“A imagem de Moro foi construída como herói sem desafios. Durante cinco anos, a mídia aplaudiu tudo do Moro. Mas mesmo a Veja, que fez isso, hoje é nossa parceira. Em dois meses é difícil abalar uma imagem construída em tanto tempo. Moro ainda é ministro, mas é uma figura mais fraca. As mudanças são sutis”, disse Glenn em trecho da entrevista.
“No Jornal Nacional, o (William) Bonner (apresentador) apenas falava o que tinha recebido da força-tarefa, com uma audiência enorme, sem nenhum trabalho jornalístico. Atuavam como parceiros”, destacou o jornalista em outro ponto da conversa.
Glenn ganhou destaque no cenário nacional após o Intercept passar a divulgar as reportagens da Vaza Jato com conversas vazadas de procuradores do MPF responsáveis pela Operação Lava Jato revelando uma trama marcada por ilegalidades, abus0s e perseguições, feita sob tutela do ex-juiz federal e atual Ministro da Justiça, Sérgio Moro.
O programa vai ao ar às 22h na TV e no YouTube e vai contar também com as jornalistas Eleonora de Lucena, co-presidenta da Tutaméia TV, e Vanessa Martina Silva, editora da Revista Diálogos do Sul.
Os depoimentos teriam sido compartilhados com procuradores do MPF, segundo informações obtidas pelo The Intercept Brasil.
O operador financeiro Adir Assad, preso e delator da Lava Jato, teria afirmado que lavou milhões de reais para o Grupo Silvio Santos por meio de contratos fraudados de patrocínios esportivos. Apesar de o nome do apresentador Silvio Santos não ter sido mencionado, o suposto esquema teria a participação de Daniel Abravanel e o uso da empresa que comercializa a Tele Sena.
As afirmações estariam em anexos do acordo de colaboração premiada firmado com integrantes da Lava Jato. Os depoimentos foram compartilhados entre procuradores do Ministério Público Federal (MPF), segundo informações obtidas pelo The Intercept Brasil e analisadas em conjunto com a Folha de S. Paulo.
O esquema funcionava em dois tempos, segundo teria dito Assad. No fim dos anos 1990, o operador teria firmado contratos superfaturados de patrocínio entre as empresas e pilotos de corrida, como a Fórmula Indy. À época, ele já se relacionava com Guilherme Stoliar, que hoje é presidente do Grupo Silvio Santos.
Assad teria relatado que o SBT tinha necessidade de fazer um caixa paralelo, mas não sabe dizer com qual finalidade. A operação, segundo o delator, teria movimentado R$ 10 milhões no período.
Já a segunda fase teria começado após acerto feito com Daniel Abravanel e com o pai dele, Henrique Abravanel, irmão de Silvio Santos. A partir de meados dos anos 2000, Assad teria efetuado contratos de imagem e de patrocínio na Fórmula Truck e transferido aos esportistas uma pequena parte dos valores contratados. O restante seria devolvido ao SBT.
A Liderança Capitalização, empresa responsável pela Tele Sena, teria pago, segundo documento elaborado na delação, ao menos R$ 19 milhões para uma das firmas do operador, a Rock Star, de 2006 a 2011.
Ao virar delator, Assad teria admitido irregularidades e, em relatos já tornados públicos, se definiu como um “gerador de caixa” para grandes empresas, sobretudo empreiteiras. De praxe, entregava o dinheiro para os contratantes sem saber o que cada um faria com os valores providenciados.
Outro lado Procurados pela reportagem, o SBT e o Grupo Silvio Santos afirmaram em nota que, “por desconhecerem o teor da delação” de Adir Assad, não podem se manifestar a respeito. “Aproveitamos para enfatizar que as empresas do GSS sempre pautaram suas condutas pelas melhores práticas de governança e dentro dos estritos princípios legais”, diz trecho do comunicado.
Procuradores da força-tarefa da Lava Jato usaram vazamentos com o objetivo de manipular suspeitos, fazendo-os acreditar que sua denúncia era inevitável, mesmo quando não era. O intuito, eles disseram explicitamente em chats do Telegram, era intimidar seus alvos para que eles fizessem delações.
Além de ética questionável, esse tipo de vazamento prova que o coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, mentiu ao público ao negar categoricamente que agentes públicos passassem informações da operação. Dallagnol participou de grupos nos quais os vazamentos foram planejados, discutidos e realizados. Em um deles, o próprio coordenador efetuou o tipo exato de vazamento que ele negou publicamente que partisse da força-tarefa.
Um exemplo ilustrativo desse método ocorreu relativamente cedo nas operações. Em 21 de junho de 2015, o procurador da Lava Jato Orlando Martello enviou a seguinte pergunta ao colega Carlos Fernando Santos Lima, no grupo FT MPF Curitiba 2, que reúne membros da força-tarefa: “qual foi a estratégia de revelar os próximos passos na Eletrobrás etc?”. Santos Lima disse não saber do que Martello estava falando, mas, com escancarada franqueza, afirmou: “meus vazamentos objetivam sempre fazer com que pensem que as investigações são inevitáveis e incentivar a colaboração.”
21 de junho de 2015 – Grupo FT MPF Curitiba 2
Orlando Martello – 09:03:04 – CF(leaks) qual foi a estratégia de revelar os próximos passos na Eletrobrás etc? Carlos Fernando dos Santos Lima – 09:10:08 – http://m.politica.estadao.com.br/noticias/geral,na-mira-do-chefe-,1710379 Santos Lima – 09:12:21 – Nem sei do que está falando, mas meus vazamentos objetivam sempre fazer com que pensem que as investigações são inevitáveis e incentivar a colaboração. Santos Lima – 09:15:37 – Li a notícia do Flores na outra lista. Apenas noticia requentada. Santos Lima – 09:18:16 – Aliás, o Moro me disse que vai ter que usar esta semana o termo do Avancini sobre Angra Martello – 09:25:33 – CFleaks, não queremos fazer baem Angra e Eletrobrás? Pq alertou para este fato na coletiva? Martello – 09:26:00 – Para não perder o costume?
A conversa ocorreu dois dias depois da 14ª fase da Lava Jato (voltada às empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez). Os procuradores estavam debatendo estratégias para conseguir um acordo de delação com Bernardo Freiburghaus, apontado como operador de propinas da Odebrecht. Freiburghaus escapou da operação, porque havia se mudado para a Suíça em 2014 e já havia contra ele uma ordem de prisão preventiva com alerta da Interpol.
No chat, Santos Lima assume, sem qualquer constrangimento, que vazava informações para a imprensa. Além disso, o seu próprio comentário, insinua que se tratava de uma prática habitual, dado que ele se refere aos vazamentos no plural — “meus vazamentos”. E o procurador afirma com aparente orgulho e convicção que agia assim com objetivos bem definidos: induzir os suspeitos a agirem de acordo com seus interesses.
É relevante ressaltar que o comentário do procurador não suscitou qualquer manifestação dos outros membros da Lava Jato. No decorrer das conversas, os demais membros do grupo permaneceram calados.
No mesmo dia, Deltan e Orlando anunciaram no chat terem vazado a informação de que os Estados Unidos iriam ajudar a investigar Bernardo para repórteres do Estadão, como forma de pressionar o investigado. Eles estavam antecipando a um jornalista uma movimentação da investigação. Foi Dallagnol o responsável pelo vazamento, como mostra sua conversa como o repórter do jornal.
21 de junho de 2015 – Chat privado
Deltan Dallagnol – 11:43:49 – O operador da Odebrecht era o Bernardo, que está na Suíça. Os EUA atuarão a nosso pedido, porque as transações passaram pelos EUA. Já até fizemos um pedido de cooperação pros EUA relacionado aos depósitos recebidos por PRC. Isso é novidade. Vc tem interesse de publicar isso hoje ou amanhã,SUPRIMIDO, mantendo meu nome em off? Pode falar fonte no MPF. Na coletiva, o Igor disse que há difusão vermelha para prendê-lo, e há mesmo. Pode ser preso em qualquer lugar do mundo. Agora com os EUA em ação, o que é novidade, vamos ver se conseguimos fazer como caso FIFA com o Bernardo, o que nos inspirou. SUPRIMIDO – 11:45:44 – Putz sensacional! !!!! Publico hj!!!!!!!
A conversa prossegue, e o repórter avisa que a matéria sobre a ajuda dos americanos no caso Odebrecht (que não estava formalizada à época) seria manchete do Estadão no dia seguinte.
De volta ao grupo FT MPF Curitiba 2, uma conversa entre os dias 21 e 22 detalha as intenções da força-tarefa em relação a Bernardo:
A conversa prossegue, e o repórter avisa que a matéria sobre a ajuda dos americanos no caso Odebrecht (que não estava formalizada à época) seria manchete do Estadão no dia seguinte.
De volta ao grupo FT MPF Curitiba 2, uma conversa entre os dias 21 e 22 detalha as intenções da força-tarefa em relação a Bernardo:
21 de junho de 2015 – Grupo FT MPF Curitiba 2
Deltan Dallagnol – 20:33:52 – Amanhã cooperação com EUA pro Bernardo é manchete do Estadão Dallagnol – 20:34:00 – Confirmado Carlos Fernando dos Santos Lima – 20:55:16 – Tentei ler, mas não deu. Amanhã vejo. Vamos controlar a mídia de perto. Tenho um espaço na FSP, quem sabe possamos usar se precisar.
A informação vazada pela força-tarefa de fato virou manchete do jornal, e os métodos de pressão sobre o delator são retomados pouco depois, no mesmo chat:
22 de junho de 2015 – Grupo FT MPF Curitiba 2
Deltan Dallagnol – 01:56:40 – Acho que temos que aditar para bloquear os bens dele na Suíça Dallagnol – 01:56:48 – Conta, Imóvel e outros ativos Dallagnol – 01:57:00 – Ir lá e dizer que ele perderá tudo Dallagnol – 01:57:20 – Colocar ele de joelhos e oferecer redenção. Não tem como ele não pegar
No fim das contas, a estratégia fracassou, e Bernardo Freiburghaus não delatou.
O que faz disso ainda mais relevante é que Dallagnol tem negado publicamente que os membros da Lava Jato tenham feito qualquer vazamento. Numa entrevista para a BBC Brasil, após um discurso que ele proferiu em Harvard, em abril de 2017, Dallagnol “disse que agentes públicos não vazam informações — a brecha estaria no acesso inevitável a dados secretos por réus e seus defensores”. Quando perguntado diretamente se a força-tarefa havia cometido vazamentos, o procurador respondeu: “Nos casos em que apenas os agentes públicos tinham acesso aos dados, as informações não vazaram”.
A assessoria de imprensa da Lava Jato negou que os procuradores tenham vazado informações no caso do Estadão, dizendo ao Intercept que a força-tarefa “jamais vazou informações sigilosas para a imprensa, ao contrário do que sugere o questionamento recebido”. Para justificar essa negativa, a força-tarefa argumenta que uma informação passada à imprensa deve ser ilegal ou violar uma ordem judicial para ser caracterizada como “vazamento”. Nesse sentido, a força-tarefa argumenta que o material enviado por Dallagnol ao Estadão não violou, na sua visão, nem a lei nem ordem judicial, e que por isso não pode ser considerado vazamento.
Entretanto, essa reportagem não alega nem sugere que Dallagnol ou Santos Lima tenham cometido o crime de violação do sigilo funcional ou desobedecido ordens judiciais ao vazar para a imprensa informações que não eram de conhecimento público. O argumento da reportagem é que eles fizeram exatamente o que Dallagnol afirmou à BBC que nunca faziam: vazaram informações privilegiadas sobre as investigações que o público e a mídia desconheciam para atingir seus objetivos.
Para defender Dallagnol das evidências claras de que ele mentiu, a força-tarefa está tentando inventar uma nova definição de “vazamento”, um significado que só considera vazamento o que envolve uma violação da lei ou de uma ordem judicial. Mas não é isso que a maioria das pessoas entende como vazamento. Em sua entrevista à BBC Brasil, Dallagnol não negou que a força-tarefa realizasse vazamentos ilegais: ele negou que a força-tarefa tenha realizado quaisquer vazamentos: “agentes públicos não vazam informações”, ele disse, completando: “Nos casos em que apenas os agentes públicos tinham acesso aos dados, as informações não vazaram”.
A insistência da força-tarefa de que nunca realizou nenhum vazamento é especialmente bizarra tendo em vista que o próprio Santos Lima alardeou ter feito exatamente isso, usando a justamente palavra vazamento: “meus vazamentos objetivam sempre fazer com que pensem que as investigações são inevitáveis e incentivar a colaboração”, escreveu, o que demonstra que nem os próprios procuradores entendem a palavra “vazamento” da forma que eles agora definem. Além disso, em sua conversa com o repórter do Estadão, Dallagnol descreveu a informação que ele estava enviando, sobre a proposta de colaboração com os EUA, como “novidade”, e por essa razão insistiu que a informação que ele enviou só poderia ser publicada “mantendo meu nome em off”. Se a informação já era pública, como defende a Lava Jato por meio de sua assessoria, por que pedir off?
Além disso, a própria nota enviada ao Intercept admite que os procuradores adiantaram uma ação da investigação ao Estadão – uma informação privilegiada, portanto, ainda que não protegida por sigilo judicial formalizado. “O único caso mencionado na consulta à força-tarefa se refere a uma reportagem do Estadão que combinava dados disponíveis em processos públicos e uma informação nova, igualmente sem sigilo, sobre possíveis estratégias que se cogitavam adotar no futuro, em relação à formulação de pedido de cooperação a ser enviado, o que não caracteriza vazamento”, diz a nota. De fato, a colaboração com a Suíça citada na reportagem era pública, mas a “informação nova” (o pedido de ajuda aos EUA que foi a manchete do jornal) não era pública porque nem sequer havia sido formalizada até a publicação do texto.
Dessa forma, a negativa da força-tarefa de que os procuradores fizeram exatamente o que Deltan falsamente insistiu que nunca fizeram — vazar para a mídia informações que não eram de conhecimento público — é desmentida pelas próprias palavras dos procuradores, conforme publicadas no chat acima, em que eles mesmos descrevem suas ações como “vazamentos”. É também desmentida pela insistência de Dallagnol ao repórter que as informações passadas ao Estadão não fossem atribuídas a ele. É desmentida ainda pelos repetidos episódios em que os procuradores admitem ter vazado à mídia informações sobre as investigações, quase sempre usando especificamente a palavra “vazamentos” que eles agora buscam redefinir. E é desmentida, por fim, pela nota enviada ao Intercept.
Vazamento seletivo
Esses vazamentos não eram casos isolados. Em 2016, procuradores da Lava Jato falavam abertamente sobre o uso de “vazamento seletivo” para mídia com a intenção de influenciar e manipular um suposto pedido de liberdade para o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha:
12 de dezembro de 2016 – Grupo Filhos do Januario 1
Carlos Fernando dos Santos Lima – 18:45:31 – Recebi do russo : Off recebi uma notícia que não sei se é verdadeira que haveria uma articulação no STF para soltura do Cunha amanhã Roberson Pozzobon – 18:51:49 – Essa info está circulando aqui a PGR tb Paulo Roberto Galvão – 18:57:24 – O Stf seria depredado. Não acredito Athayde Ribeiro Costa – 18:57:40 –toffi, lewa e gm. nao duvido Santos Lima – 18:58:37 – É preciso ver quem vai fazer a sessão. Jerusa Viecilli – 18:58:39 – Pqp Santos Lima –19:00:58 – Alguma chance de soltarmos a notícia da GOL? Costa – 19:01:35 – vazamento seletivo …
Os diálogos provam que ele mentiu à BBC. A negativa aconteceu depois de Dallagnol ter participado de várias conversas nas quais seus colegas de força-tarefa discutiram explicitamente fazer aquilo que ele negava publicamente. Isto é, promover vazamentos e usar a mídia para seus próprios interesses. Ironicamente, o próprio Dallagnol observou à BBC o quão complexa é a tarefa de provar que houve vazamentos, pois, segundo ele, os envolvidos sempre negam: “É muito difícil identificar qual é o ponto (de origem do vazamento), porque se você ouvir essas pessoas, elas vão negar”, afirmou.
“Saliento que já foram expedidos ofícios solicitando apoio da Força nacional de Segurança, entretanto até o momento não houve resposta”, afirmou o coordenador-geral de Fiscalização Ambiental do Ibama, Renê Luiz de Oliveira em despacho assinado dia 12 de agosto.
De acordo com o Ministério Público Federal do Pará, as Forças de Segurança Nacional foram alertadas sobre os planos de ação criminosa de queimadas na região Amazônica e o Ibama também solicitou ajuda, não foram ignorados pelo Ministério da Justiça, comandado por Sergio Moro.
Segundo documentos do MPF, foi enviado um ofício em 7 de agosto ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio ambiente e dos Recursos Naturais e Renováveis) que alertava sobre planos de produtores rurais para realizarem uma queimada na região do Município de Novo Progresso, que aconteceria dia 10 de agosto de 2019 como forma de manifestação.
O ofício afirma que “a manifestação dos produtores rurais, caso levada a cabo, ensejará sérias infrações ambientais que poderá [sic], até mesmo, fugir ao controle e impedir a identificação da autoria individual, haja vista a perpetração coletiva”.
Em 8 de agosto, o analista ambiental do Ibama Luciano Souza da Silva assinou despacho com a recomendação de que fosse feita uma fiscalização “in loco” e articulação com autoridades competentes para apuração em conjunto.
Em 12 de agosto, o Ibama respondeu o ofício do MPF e informou que as ações de fiscalização encontravam-se prejudicadas pela ausência de apoio da Polícia Militar, o que colocava em risco a segurança das equipes em campo.
Na operação de busca, a Polícia Federal omitiu o nome de André Luiz Mendonça e, no lugar, trataram o ministro como “Ricardo”.
O Ministério Público Federal (MPF) abrirá uma investigação para apurar uma “operação clandestina” da Polícia Federal na busca pelo telefone celular do ministro da Advocacia Geral da União (AGU), André Luiz Mendonça.
O ministro perdeu o telefone em um carro de aplicativo no Rio de Janeiro, dia 8 de agosto, por volta das 23 horas. No entanto, só comunicou a polícia no sábado (10). Depois de serem comunicados sobre a perda do celular, os policiais federais iniciaram a operação de busca, mas omitiram o nome de Mendonça. No lugar, o ministro foi tratado como se fosse um delegado de nome Ricardo.
Fontes da PF relataram que essa e outras características não esclarecidas poderiam classificar a atitude como “operação clandestina”. Não há informações oficiais sobre, por exemplo, o auto de apreensão do aparelho, da perícia no telefone e tampouco foi realizada ocorrência ou detenção do motorista.
“O nome do dono do celular não foi divulgado, à época, exatamente para preservar o nome da autoridade e evitar que os dados do aparelho corressem o risco de vazamento, com sérios riscos institucionais”, informou a assessoria da PF. Para a polícia, foi apenas um extravio, e não crime ou eventual tentativa de hackeamento de celular.
A escolha de Antônio Carlos Simões para PGR é de alta octanagem. Tem tudo para colocar fogo no formigueiro do MPF.
Se alguém quisesse “melar” aquela instituição por inteiro, não poderia ter feito melhor.
O governo Bolsonaro reveste-se de um caráter disruptivo.
Quer romper com o passado, com “tudo que aí está”, sem distinguir com clareza entre o que, no processo histórico das ultimas décadas, foi receita de sucesso e o que foi causa de disfunção na governabilidade.
Num verdadeiro “carpet bombing”, destrói o que se encontra nos limites do espaço público.
Nem o ministério público do golpe escapa.
Antônio Carlos Simões não vai consertar o MPF.
Não tem liderança para comandar um órgão voluntarioso com membros atuando de forma autárquica feito metralhadoras giratórias descontroladas.
Vai sobrar bala para o chefe.
Vão sabotá-lo sistematicamente.
Vai ser um conflito doméstico, sem o mínimo respeito aos costumes da guerra.
Dele só sobrará tapera.
Uma terra arrasada.
Mas, talvez seja disso que o ministério público precisa: de um incêndio transformador em larga escala, que ponha a nu, diante da sociedade, suas vulnerabilidades e, com isso, desfaça a imagem de superior vestal da moralidade que alguns cultivaram com esmero nos últimos anos, desde quando Antônio Fernando de Souza cometeu a uns principiantes a execução técnica do caso do Mensalão.
De lá para cá, o MPF foi só miséria, foi só deformação ímproba, alcançando seu ápice quando ajudou a destituir uma presidenta legitimamente eleita, protagonizou a ópera bufa de querer expulsar Temer do poder para garantir uma sucessão na PGR que consolidasse o grupo em torno do trapalhão Rodrigo Janot e maquinou a prisão do maior líder popular da história brasileira.
Esse MPF transformou o Brasil numa republiqueta bananeira, apontando para os atores políticos e econômicos como raiz de todo o mal, enquanto pagava verbas ilegais a seus membros.
O auxílio-moradia, a verba de substituições transitórias em unidades distantes da lotação, a pretensão a pagamento de plantões e acúmulo de ofícios – os procuradores mostraram enorme criatividade para se locupletarem à margem da lei.
Mas os podres sempre são os outros, numa casa que exibe um ego coletivo a salvo de toda crítica pública.
Antônio Carlos Simões fará bem ao MPF; implodi-lo-á de vez para permitir um recomeço radical, despido das vicissitudes que o fizeram obtuso, arrogante e golpista.
Bolsonaro talvez não se dê conta do grande favor que fará à sociedade brasileira nesse particular.
“Um tema consistente das revelações da #VazaJato é que Moro e Deltan fingiram ser fanáticos sobre o combate à corrupção enquanto acreditavam que tinham o direito de ser corruptos. Ainda acreditam nisso, e é por isso que estão lutando contra punições por corrupção de juízes e MPF”, afirma o jornalista.
O jornalista Glenn Greenwald, editor do site The Intercept, explica a relação do comportamento de Sergio Moro e Deltan Dallagnol contra a lei do abuso de autoridade com sua atuação durante a Operação Lava Jato.
“Um tema consistente das revelações da #VazaJato é que Moro e Deltan fingiram ser fanáticos sobre o combate à corrupção enquanto acreditavam que tinham o direito de ser corruptos. Ainda acreditam nisso, e é por isso que estão lutando contra punições por corrupção de juízes e MPF”, observa.
Em novo capítulo da Vaza Jato publicado neste domingo 18, mensagens revelaram que a força-tarefa obteve com a Receita Federal dados sigilosos de suspeitos sem autorização judicial, por meio de aplicativos de conversas (leia mais).
Na última semana, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que trata do abuso de autoridade. A matéria criminaliza todo o comportamento da Lava Jato com seus investigados e suspeitos. Moro e Dallagnol são contra as medidas.
Também: @UOLNoticias informou que "o senador Eduardo Girão (Podemos-CE) confirmou ter encontrado com Deltan", exatamente como reportamos na semana passada, fornecendo ainda mais provas da autenticidade do arquivo, que agora ninguém racional duvida: https://t.co/ocwLQw9i3N
Dallagnol usou o prestígio obtido como coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba para tentar emplacar nos bastidores o procurador regional da República Vladimir Aras, seu aliado no MPF (Ministério Público Federal), como o novo comandante da PGR (Procuradoria-Geral da República). Para isso, fez lobby com ministros do governo Jair Bolsonaro (PSL), senadores e ao menos três ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
É o que mostram conversas privadas enviadas por fonte anônima ao site The Intercept Brasil e analisadas em parceria com o UOL. Os diálogos entre Deltan e Aras revelam que o coordenador da Lava Jato se engajou pessoalmente na campanha do aliado, articulando diariamente com ele estratégias para que fosse recebido por autoridades. Deltan mostra, em diversos momentos, receio de que sua interferência na disputa viesse a público: “bom ficamros [sic] na sombra”, disse a Aras em diálogo pelo aplicativo Telegram no dia 21 de fevereiro.
Vladimir Aras já ocupou postos-chave: foi secretário de Cooperação Jurídica Internacional da PGR na gestão do ex-PGR Rodrigo Janot e fez parte dos GTs (Grupos de Trabalho) de Crime Organizado e de Lavagem de Dinheiro e Crimes Financeiros da PGR. Atualmente, é coordenador do Grupo de Apoio ao Tribunal do Júri Federal da 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF.
Sergio Moro, que ainda era juiz federal àquela altura, já é tachado como alguém próximo do grupo de Bolsonaro. “Fala com Moro sobre minha candidatura a PGR”, escreveu Vladimir Aras às 13h22 de 11 de outubro de 2018 –quatro dias após o primeiro turno da eleição presidencial. “Com bolsonaro eleito, vou me candidatar”, completou às 13h23.
Nas conversas, Deltan diz, em mais de uma oportunidade, que havia tratado da candidatura de Vladimir Aras com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. No dia 14 de abril, às 15h33, dá um retorno:
“Peço reserva, mas Moro confirmou pra mim que Vc é o candidato que ele vai defender”.
Deltan Dallagnol em mensagem para Vladimir Aras Deltan e Aras passaram a acelerar as articulações em fevereiro. No dia 19, o candidato pediu explicitamente a ajuda do coordenador da Lava Jato para ter acesso à cúpula do Judiciário:
“Vc poderia me apresentar a Barroso e Fachin?”, questionou. “Preciso de aliados no STF”
Os ministros citados por Aras formam a linha de frente da Lava Jato no Supremo: Edson Fachin é relator dos processos ligados à operação na Corte, enquanto Luís Roberto Barroso é tido como o principal defensor das investigações. Além dos dois, Deltan faria contato em abril com Luiz Fux, outro ministro alinhado com a Lava Jato.
Deltan avaliou de que forma poderiam abordar a candidatura junto ao ministro Fachin.
Após saber que Barroso seria a estrela de um evento organizado pelo jornal O Estado de S. Paulo e pelo CDPP (Centro de Debates de Políticas Públicas) em São Paulo, no dia 1º de abril, Deltan conseguiu uma entrada para Aras, que não havia sido convidado. “Seria uma boa oportunidade para apresentar pro Barroso”, disse em 19 de março, às 11h55.
Dificuldades de agenda prejudicaram um encontro privado entre Barroso e Aras na ocasião –Deltan chegou a articular para que o aliado encontrasse o ministro do STF em um jantar na véspera do evento, no dia 31 de março, e no hotel onde Barroso estava hospedado no dia 1º. Quando Aras diz que combinou com a assessoria de Barroso de conversarem durante o evento, Deltan afirma que não considera uma boa ideia: “Vc vai disputar a atenção dele com dezenas de pessoas”.