O Fórum Econômico de Davos começa nesta terça-feira (21) e a questão ambiental será abordada em mais eventos do que os temas econômicos. O presidente Bolsonaro se recusou a ir a Davos, e é o ministro da Economia, Paulo Guedes, quem representa o Brasil no Fórum.
Na edição deste ano, o relatório produzido pelo centro de estudos que organiza o Fórum elencou os eventos climáticos, a perda de diversidade e incidentes como vazamentos de petróleo e contaminação radioativa, como as maiores preocupações a serem debatidas.
O economista e professor de Economia Ecológica da Universidade Federal do Ceará, Fábio Sobral, em entrevista à Sputnik Brasil, declarou que o presidente Jair Bolsonaro teve uma participação “insuficiente” no Fórum de Davos no ano passado e o tema ambiental deve tê-lo feito se afastar para enviar jogar o ministro Paulo Guedes.
“O Brasil ficou marcado internacionalmente como um país que passou a desrespeitar a natureza, a permitir a não punir as agressões a ambientalistas, nações indígenas, aos defensores do meio ambiente. E também ficou marcado pelas falas do presidente ao atacar Greta Thunberg, e também atacar Leonardo DiCaprio, e organizações não-governamentais, quando tais organizações foram acusadas de atearem fogo contra a Floresta Amazônica, em declarações absurdas, descontroladas”, afirmou.
“Eu acho que esse governo perdeu o senso da realidade. Ele passa a discutir o mundo de uma maneira agressiva, passa a defender a agressividade sobre a natureza”, acrescentou o especialista.
De acordo com o economista Fábio Sobral, o descaso do Brasil com o meio ambiente contradiz a ideia de enviar Paulo Guedes com um propósito de vender o Brasil para grandes investidores, tendo em vista as tendências do mercado de dar atenção aos problemas climáticos.
“Ele [Bolsonaro] e o ministro Ricardo Salles desenvolvem um programa de abandono da proteção ambiental, de desmonte dos órgãos de fiscalização, de favorecimento do setores desmatadores do meio ambiente, e aí ele coloca o Paulo Guedes como alguém que vai ‘vender o Brasil para grandes investidores'”, disse.
Fábio Sobral destacou que o Brasil tem se afastado cada vez mais das “regras da própria existência do mercado internacional, que passa a exigir cada vez mais a responsabilidade ambiental”.
“O funcionamento da economia a partir dos próximos anos será cada vez mais desenhado pela questão ecológica. Se você devasta um rio, a possibilidade dos gastos posteriores com esta devastação de um rio, de uma floresta, que são extremamente necessários para o funcionamento da natureza [..] isso traz tamanhos gastos e prejuízos, que lidar hoje com a economia sem compreender o papel da natureza é um suicídio”, frisou o economista.
Lava Jato usou site O Antagonista para interferir na escolha do presidente do Banco do Brasil – e a parceria entre os dois não começou aí
Mensagens secretas da Lava Jato
Site parou de publicar notícias sobre escândalo de corrupção a pedido de Dallagnol e procurou MPF para saber quem apoiar na sucessão de Janot.
Procuradores da Lava Jato agiram politicamente – usando o site O Antagonista como porta-voz – para interferir na escolha do presidente do Banco do Brasil no governo Bolsonaro. Em fins de 2018, a força-tarefa municiou com documentos o site comandado pelos jornalistas Diogo Mainardi, Mario Sabino e Claudio Dantas para alimentar notícias que evitassem que o ex-presidente da Petrobras Ivan Monteiro ocupasse a presidência do banco. Monteiro era o nome mais forte entre os cotados para assumir o BB, uma escolha do ministro da Economia Paulo Guedes – a ele era dado o crédito por ter salvado as contas da Petrobras.
O caso é o exemplo mais escandaloso de uma relação promíscua entre o grupo comandado por Deltan Dallagnol e os jornalistas do Antagonista – mas nem de longe o único, como mostram as conversas no aplicativo Telegram que foram entregues ao Intercept por uma fonte anônima e fazem parte da série Vaza Jato, que já publicou 84 reportagens em parceria com os veículos Folha de S. Paulo, El País, Bandnews FM, Veja, BuzzFeed News, Agência Pública e UOL.
A leitura das conversas deixa claro que a Lava Jato e O Antagonista se veem como parceiros. O site abre mão da função primordial do jornalismo – fiscalizar o poder e os poderosos, aí incluídos procuradores e juízes – e recebe em troca informações em primeira mão. Os procuradores também interferiram, ao menos uma vez, diretamente na direção editorial do site.
O comentarista Diogo Mainardi, dono e editor do site, acatou pedido de Dallagnol e parou de publicar notícias sobre um escândalo de corrupção que envolvia a Mossack Fonseca, um escritório de advocacia suspeito de abrir empresas offshore no Panamá.
Mainardi também deu dicas de investigação a Dallagnol, que seguiu as pistas do comentarista e em seguida informou-o – em tom lamentoso – de que o caso estava fora da alçada da operação.
Em outro caso, os diálogos mostram também que a Lava Jato acreditou num boato repassado por Claudio Dantas para pedir – sem autorização da justiça – a quebra do sigilo fiscal de uma nora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2016. Para isso, os procuradores acionaram informalmente um contato na Receita Federal. Nada foi encontrado contra ela, que jamais foi indiciada ou acusada de crimes.
Em troca do jornalismo chapa-branca, Dallagnol passava informações privilegiadas ao site. Isso fica claro numa mensagem num chat privado de 30 de agosto de 2018, em que o procurador diz o seguinte, ao entregar em primeira mão a Claudio Dantas dados que haviam sido pedidos pelo jornal El País: “Nao estamos passando pra mais ng agora”. Tratava-se de uma resposta da operação a um depoimento do advogado Rodrigo Tacla Duran, um crítico da Lava Jato, na Espanha.
Nos diálogos, Claudio Dantas se mostra um bom parceiro dos servidores públicos que, pela ética da profissão, ele deveria fiscalizar. O jornalista perguntou aos procuradores, em junho de 2017, quem a Lava Jato apoiaria na eleição da categoria para o cargo de procurador-geral da República, o chefe do MPF, o Ministério Público Federal. Dantas desejava se alinhar aos procuradores para, em suas palavras, “apoiar [o nome] certo”. Em resumo: o editor do site queria entrar em campanha com a Lava Jato.
Fundado por jornalistas que ajudaram a dinamitar a credibilidade da maior revista semanal do país, a Veja – ao torná-la um panfleto antipetista e ingrediente crucial na crise que afundou a editora Abril –, O Antagonista é bancado pela Empiricus, uma consultoria de investimentos que espalha panfletos catastrofistas (e habitualmente furados) em busca de clientes e já foi multada por propaganda enganosa.
Mesmo com tal currículo, o site se tornou porta-voz da Lava Jato e, principalmente, de Sergio Moro. A própria Veja, em uma carta ao leitor publicada em julho do ano passado, fez uma autocrítica pela fase em que alçou Moro à condição de herói nacional imune a críticas. Na mesma edição, a revista publicou reportagem em parceria com o Intercept mostrando ilegalidades cometidas pelo então juiz da Lava Jato.
Claudio Dantas e Sergio Moro em entrevista do ministro a O Antagonista realizada em dezembro de 2019. GIF: Reprodução/YouTube/Canal O Antagonista
‘a hora de lembrar deles’
Uma batalha silenciosa estava em curso no embrionário governo de transição de Jair Bolsonaro nos últimos dias de novembro de 2018. Em disputa, a presidência do Banco do Brasil. Paulo Guedes, o “super-ministro” da Economia, gostaria de entregar o cargo a Ivan Monteiro, então presidente da Petrobras. Mas a preferência do “posto Ipiranga” incomodava a “área política” do então futuro governo – comandada por Onyx Lorenzoni, ex-deputado federal e atual chefe da Casa Civil do Planalto.
O político do DEM gaúcho era o então chefe da equipe de transição governamental. Lorenzoni e Dallagnol eram muito próximos. Quando deputado, foi Lorenzoni que encampou e relatou as Dez Medidas contra a Corrupção na Câmara, gestadas por Dallagnol e que se tornaram uma obsessão dele. Nem a certeza de que o político estava envolvido em corrupção, como mostramos em agosto, afastou o procurador do ex-deputado.
As mensagens trocadas via Telegram não deixam claro porque – e, questionado a respeito, Dallagnol se recusou a responder –, mas no fim de tarde de 21 de novembro de 2018 ele enviou ao grupo do Telegram Filhos do Januario 3 uma reportagem da Folha que citava a insatisfação de Onyx Lorenzoni com o então presidente da Petrobras Ivan Monteiro. O procurador acionou os colegas em busca de informações que pudessem desabonar Monteiro.
21 de novembro de 2018 – Grupo Filhos do Januário 3
Deltan Dallagnol – 17:55:49 – Caros, o que temos do Monteiro mesmo? Dallagnol – 17:56:04 – https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/11/nomeacao-de-monteiro-para-bb-enfrenta-resistencia-da-area-politica-de-bolsonaro.shtml Athayde Ribeiro Costa – 17:56:49 – De concreto nada: mas uns manuscritos apreendidos com Bendine sao mt suspeitos Dallagnol – 17:58:04 – Vc consegue identificar? Se forem públicos, essa é a hora de lembrar deles Dallagnol – 17:58:15 – Se SUPRIMIDO ou alguém puder separar seria ótimo Jerusa Viecili – 17:58:20 – https://www.oantagonista.com/brasil/presidente-bolsonaro-pergunte-moro-quem-seria-o-ivan/ Costa – 17:58:34 – Ja pedi pra levantar Viecili – 17:58:46 – antagonista é mais rapido Viecili – 17:58:49 – hehehe Dallagnol – 17:59:25 – kkk Dallagnol – 17:59:43 – Tem mais coisa Tatá? Costa – 17:59:43 – Mas tem outrso Dallagnol – 17:59:47 – boua Costa – 17:59:52 – mando dps Januário Paludo – 18:01:02 – Noticia velha. https://www.oantagonista.com/brasil/exclusivo-ivan-monteiro-e-carta-fora-baralho/ Viecili – 18:02:10 – hahahahaha Viecili – 18:02:28 – já caiu graças aos manuscritos que Isabel e eu encontramos na casa do bendine Costa – 18:02:38 –
Bendine e Monteiro são próximos. Mas Monteiro – que foi levado à petrolífera por Bendine e chegou a presidi-la durante o governo Temer – jamais foi indiciado ou acusado de cometer qualquer crime pela Lava Jato. Após ordenar a assessores a busca pelos documentos, Dallagnol enviou quatro arquivos a Claudio Dantas, do Antagonista, que vinha em campanha aberta para que Monteiro não tivesse assento no governo Bolsonaro.
Àquela altura, como deixam claro os diálogos, O Antagonista já publicara várias notas tentando implodir a nomeação de Monteiro no governo Bolsonaro – boa parte delas assinadas por Claudio Dantas. Ainda que o procurador Januário Paludo acreditasse que o então comandante da Petrobras era carta fora do baralho, Dallagnol preferiu se precaver. Na madrugada, o procurador voltou a abastecer o jornalista:
Dantas, no fim das contas, nunca postou o material que Dallagnol lhe enviou para incriminar Monteiro. Não seria preciso. Àquela altura, Guedes já escolhera Rubens Novaes para comandar o Banco do Brasil, como informou a Folha. A ala política comandada por Onyx Lorenzoni, o amigo de Dallagnol, venceu. Com ajuda da Lava Jato.
‘Claudio Dantas que me passou a informação’
A força tarefa preparava, no início de 2016, seu passo mais ousado até ali: a fase da operação que obrigaria Lula a prestar depoimento no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Nos primeiros dias de janeiro, a operação receberia de Claudio Dantas uma informação que, mesmo desacompanhada de provas, levou os procuradores a fuçar sem autorização judicial os dados fiscais de Marlene Araújo Lula da Silva, nora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo as conversas, Dantas disse ao procurador Januário Paludo, um dos veteranos da Lava Jato, que Marlene teria recebido da empreiteira OAS um imóvel no novo terminal de passageiros do aeroporto internacional de Guarulhos. A fé da Lava Jato em seus porta-vozes na imprensa bastou para que Paludo dissesse aos colegas que pediria informalmente à Receita Federal – ou seja, sem controle judicial – uma devassa na vida de Marlene, como Intercept e Folha de S. Paulo já mostraram.
13 de janeiro de 2016 – Grupo 3plex
Januário Paludo – 15:31:00 – Olá meninos. Acabei de chegar em Curitiba. Estou quebrado por que vim de carro. Amanhã de manhã estarei aí. Conseguiram poder para o Jonatas fazer a pesquisa da nota do lula? Julio Noronha – 15:32:13 – Oi Januário! Que bom que você chegou! Estamos ansiosos por sua volta!!!1 Athayde Ribeiro Costa – 15:32:31 – estamos com sauddes januario Noronha – 13:32:41 – Pesquisa sobre a Marlene? Paludo – 16:02:44 – Isso Paludo – 16:02:44 – Marlene lula da Silva. Tem que ver a dói com nome de solteira. Paludo – 16:03:14 – E aquisição em guarulhos aeroporto. Noronha – 16:04:53 – Vou pedir aqui agora Paludo – 16:06:54 – A oas teria doado. E foi quem fez a obra de ampliação.v Paludo – 16:07:41 – Acho que se a informação for quente temos uma boa probabilidade. Paludo – 16:08:24 – Pode ter sido mera concessão de área. Paludo – 16:09:15 – Hoje o local estaria locado para o restaurante Rascal. Noronha – 16:09:22 – Maravilha! Pode ser uma boa mesmo Paludo – 16:09:50 – O Claudio Dantas que me passou a informação.
‘suspenda informações’
No final de dezembro de 2015, O Antagonista publicou quatro notas que colocavam empresas offshore no rol de suspeitos da Lava Jato – leia aqui, aqui, aqui e aqui. Não se tratou de uma investigação jornalística do site – notório pelas notas telegráficas e publicações no estilo “Fulano de tal foi ao Twitter para…” –, mas de um vazamento de inquéritos em andamento na Polícia Federal, como ficaria claro pela reação dos procuradores.
Horas depois da última nota publicada, um dos diretores do site, Diogo Mainardi, recebeu mensagens de Dallagnol pelo Telegram. O coordenador da Lava Jato queria que o site parasse de publicar notícias sobre offshores “em benefício do interesse social da investigação”. O procurador se arvorava o direito de definir o que era melhor para a sociedade e, em troca, acenava com a promessa de informações exclusivas no futuro.
No Brasil, o ódio cresce a olhos vistos. As relações entre pastores evangélicos, policiais e milícias ficam cada vez mais evidentes.
As instituições, assim como a mídia, seguem fazendo cálculos econômicos da situação do país e, enquanto Bolsonaro mantiver esse modelo em que os recursos públicos e as reformas são destinados a beneficiar a elite econômica do país, sua impunidade estará garantida.
Se por um lado, entende-se que Bolsonaro não é causa e sim consequência de uma elite econômica do setor público e privado, por outro, não se tem a mais vaga ideia de qual o tamanho desse buraco e o quanto o comando desse sistema fascista, que tem como brasão a suástica neoliberal, está disposto a se aprofundar.
Há uma nítida falência institucional no Brasil, porque todo o sistema dentro do Estado está rendido e cooptado pela lógica do grande capital, por isso a prioridade de Bolsonaro é alimentar as grandes corporações. O resto, o resíduo, a sobra e as migalhas são destinados ao restante da sociedade.
Grosso modo, essa é a cartilha que Paulo Guedes apresentou a Bolsonaro para que o fantoche se mantenha de pé, blindado em casos escabrosos como o de Queiroz, o assassinato de Marielle e os esquemas cotidianos de corrupção revelados até pela mídia subalternizada pelo mercado dentro do governo.
O último e talvez o mais perigoso seja o da Secom, porque se parece muito com a máquina de propaganda nazista que usava os recursos públicos para fortalecer a imagem de Hitler, ao mesmo tempo em que se envolvia em pesados esquemas de corrupção.
Fica difícil afirmar aonde fica o rabo e o focinho desse monstro que a elite criou para entregar não só a cabeça dos trabalhadores na bandeja, segregar ainda mais os pobres e miseráveis, mas entregar as riquezas naturais, que são patrimônio do povo, a corporações transnacionais, seja em terras indígenas, como prepara Bolsonaro um novo ataque a terras demarcadas, seja tirando da Petrobras o direito de ter a preferência nos leilões do pré-sal.
Daí a impunidade de Bolsonaro, daí a percepção da sociedade de que o Brasil, do ponto de vista institucional, está à deriva, imóvel, sem mostrar qualquer sombra de reação contra o que assistimos e que tem apavorado cada vez mais o mundo.
Mas parece que a embriaguez é tanta, inclusive dos generais que o rodeiam, pela certeza da impunidade, que esse totalitarismo, que envolve corrupção e crimes, não se intimida nem com o isolamento internacional do Brasil que cresce a olhos vistos.
SERVICOS RUINS / CURITIBA 19/ 10/ 05/ PAR/ MATERIA SOBRE LOCAIS ONDE O SERVICO PUBLICO DE ATENDIMENTO AO USUARIO E RUIM/ NA FOTO FILA NO INSS DA PRACA SANTOS ANDRADE / NA FOTO FABRIZIO MASCENA USANDO MULETAS , FONE 9223-9119 / FOTO MARCELO ELIAS/ GAZETA DO POVO
Em junho passado, o ministro Paulo Guedes apresentou uma fórmula mágica para reduzir gastos. Ele informou que o governo deixaria de fazer concursos para substituir os servidores que se aposentam.
“Nas nossas contas, 40% dos funcionários públicos devem se aposentar nos próximos cinco anos. Então você não precisa demitir. Basta desacelerar as entradas que o excesso vai embora”, explicou.
No discurso de Guedes, a medida ajudaria o governo a equilibrar o caixa e alcançar o sonhado trilhão de reais. No mundo real, produziu um colapso administrativo e ressuscitou a fila do INSS.
Só no ano passado, o órgão perdeu mais de seis mil servidores. A debandada era prevista desde que a reforma da Previdência começou a tramitar no Congresso. Agora a falta de quadros é usada para justificar o apagão no atendimento.
Quase dois milhões de brasileiros esperam respostas do INSS. Além dos pedidos de aposentadoria, estão parados processos de auxílio-doença, licença-maternidade e benefício de prestação continuada.
Ontem Jair Bolsonaro anunciou a convocação de militares da reserva, que receberão adicional de 30%. Além de não resolver o problema, o presidente vai aproveitar a crise para fazer outro agrado à sua base eleitoral.
O governo não se preparou porque não quis. Há cinco meses, as procuradoras Eliana Pires Rocha e Anna Paula Coutinho pediram à Justiça Federal que obrigasse o INSS a preencher as vagas ociosas. A ação apontava a necessidade de oferecer “atendimento digno” e o risco de “sucateamento” da Previdência”.
Como nada foi feito, as filas continuaram a crescer. “A situação aqui é dramática. As reclamações estão se avolumando, e as pessoas não sabem a quem recorrer”, relata o procurador Julio José Araújo Junior, que atua na Baixada Fluminense.
Em agosto, ele abriu inquérito para apurar a pane nas agências. Sua clientela é composta de gente pobre, que depende dos benefícios para sobreviver. “As respostas têm sido muito insatisfatórias. Ninguém assume a responsabilidade pelas filas”, conta.
Para evitar ter que fazer o mesmo em privatizações futuras, presidente não pretende absorver os demitidos.
Apesar da urgência de Jair Bolsonaro em privatizar os Correios, até então o presidente não sabe o que fazer com o contingente de desempregados que vai se formar com a venda da estatal. A estimativa é que cerca de 40 mil servidores percam o emprego.
De acordo com reportagem desta quarta-feira (15) do Painel, da Folha de S. Paulo, Bolsonaro não pretende absorver os demitidos, para evitar que medida similar tenha que ser adotada em expurgos das estatais vendidas no futuro.
Outro agravante é a dívida de cerca de R$ 3 bilhões do plano de saúde dos funcionários. Uma das opções que Bolsonaro tem considerado é descontar do valor a receber, mas a medida ainda não foi definida. Por conta da complexidade das decisões a serem tomadas, a data prevista para a apresentação do formato final de privatização ficou para o fim de 2021.
Os Correios são um dos principais alvos na esteira de privatizações do governo. “Se pudesse privatizar hoje, privatizaria. Mas não posso prejudicar o servidor dos Correios. É isso”, disse Bolsonaro na semana passada.
“Você mexe nessas privatizações com centenas, dezenas de milhares de servidores. É um passivo grande. Você tem que buscar solução para tudo isso. Você não pode jogar os caras para cima. Eles têm que ter as suas garantias. Tem que ter um comprador para aquilo. É devagar. Tem o TCU com lupa em cima de você. Não são fáceis as privatizações”, acrescentou.
A empresa é uma das 17 incluídas no plano de privatizações de Paulo Guedes, que abarca também Eletrobras, a EBC e a Casa da Moeda.
Ministro da Economia é suspeito de ser sócio oculto de empresas e de lotear cargos públicos por interesses privados.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou de férias na segunda-feira 13 e já fará as malas de novo. Entre os dias 21 e 24 estará em Davos, na Suíça, para o convescote anual da elite global. Essa turma evitou o Brasil em 2019. O fluxo cambial no País ficou negativo em 44 bilhões de dólares, um recorde. A Bolsa atingiu níveis inéditos, graças à queda dos juros básicos do Banco Central, não ao crescimento do PIB, mas os gringos escaparam dela. Não importa. Guedes deve se sentir em casa nos Alpes suíços, ele que enriqueceu no “mercado”, sócio de empresas e fundos. No governo, sua gestão é do jeito que o diabo financeiro gosta. “É um infiltrado na máquina pública. Fez uma aliança com o capital e tem desenvolvido políticas públicas para essas alianças que construiu em seus negócios privados durante a vida”, afirma o deputado Paulo Ramos, do PDT do Rio de Janeiro.
Veterano da Assembleia Constituinte, Ramos, de 77 anos, colocou Guedes na mira, por considerá-lo o pilar de sustentação de Jair Bolsonaro. Ao longo de 2019, vasculhou a Junta Comercial do Rio, foi atrás de uma investigação do Ministério Público Federal sobre fundos de pensão, reuniu reportagens e terminou o ano com um presente natalino para o ministro. Pediu à Procuradoria-Geral da República, que remeteu o caso à Procuradoria no Distrito Federal, ao Tribunal de Contas da União e à Comissão de Ética Pública uma investigação sobre o “Posto Ipiranga”, a fim de provar que o ministro é sócio oculto de empresas e fundos beneficiados por decisões do governo. Promete acionar o Supremo Tribunal Federal também, quando a corte voltar de férias em fevereiro.
Guedes seria um caso para a Lei de Conflito de Interesses, a 12.813, de 2013. O ministro, segundo a denúncia de Ramos, “integra, seja como administrador ou sócio – inclusive possivelmente oculto – uma vasta rede composta por bancos e fundos de investimentos” que “possuem íntimas relações com entes estatais de mesmo gênero, notadamente o BNDES”. Ao examinar dados de empresas às quais Guedes era, ou é, ligado, o deputado identificou uma “curiosa coincidência”: outros sócios ou cotistas “se revezam não apenas na mesma sociedade, como também em várias outras, coligadas ou não, formando uma espécie de teia societária”, a fim de “ocultar seu verdadeiro controlador”. Tradução: laranjal. Mais: “tudo aponta” que Guedes, após aderir à campanha de Bolsonaro, comandou “uma série de reestruturações societárias nas empresas, fundos e todo tipo de investimento em que tivesse participação, a fim de se ocultar”.
Ramos tentou aproveitar a CPI do BNDES, que funcionou em 2019 na Câmara, para saber mais sobre os negócios do ministro. E esbarrou no presidente do banco. Compreensível. Gustavo Montezano é homem de Guedes. Antes de assumir o BNDES, era secretário-especial-adjunto do ministro para privatizações. Seu pai, Roberto, trabalhou em priscas eras com Guedes no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais, o Ibmec, criado pelo ministro. Em agosto de 2019, a CPI pediu a Montezano informação sobre os financiamentos do banco a empresas e fundos nos quais houvesse digitais de Guedes. A resposta, segundo Ramos, chegou quando a CPI tinha terminado. Não citava empresas, só setores. E continha uma incomum recomendação: manter tudo em sigilo. O deputado nunca conseguiu uma cópia do documento, pode apenas olhar e fazer anotações.
Rastro: o deputado Paulo Ramos, do PDT, quer entender melhor os negócios e as motivações do ministro.
Montezano passou por outra cria de Guedes, o BTG Pactual. Foi sócio e diretor do banco de 2008 até entrar no gasoduto no Amazonas. Parece que valeu a pena um dos sócios do banco, André Esteves, esforçar-se para estar na ala vip na posse de Guedes, de quem havia sido estagiário. Em janeiro de 2019, Esteves tinha acabado de voltar à ativa no BTG, após ser inocentado por falta de provas em um caso da Operação Lava Jato que o levara à cadeia em 2015.
O BTG deve ter ficado feliz com uma decisão de dezembro do ministério de Guedes. O órgão anunciou os vencedores de um processo seletivo de escolha de empresas que, em troca do acesso aos valiosos dados pessoais de 1,2 milhão de servidores federais, aposentados incluídos, arranjam descontos para o funcionalismo em compras de bens e serviços. A seleção foi acusada de “práticas imorais” por uma empresa competidora, a Markt, autora de uma ação judicial, e sofreu uma tentativa de impugnação por parte da federacão dos policiais federais, conforme revelado pelo site de CartaCapital em setembro. Em uma audiência pública com deputados, a federação fez coro à suspeita de que tudo foi feito para favorecer o BTG. Uma das concorrentes da seleção era uma star-tup na qual o banco havia decidido botar fé, a Allya, semanas antes do anúncio do processo seletivo. A Allya foi, de fato, escolhida.
A exemplo do próprio “Posto Ipiranga”, Montezano é egresso do setor privado. Entrou no governo graças ao ministro e, um dia, provavelmente voltará aos negócios privados cheio de informações. É o tipo de situação descrita pelo economista americano Joseph Stiglitz como “porta giratória”, aquele vai e vem de profissionais entre cargos públicos e privados, que configuraria uma espécie de… deixa pra lá. Um caso similar é citado por Ramos na denúncia contra Guedes. É o do engenheiro Eudes de Gouveia Varela, de 66 anos. Este foi sócio de Guedes em uma empresa que não chegou a iniciar as atividades, o Centro de Estudos e Pesquisas Minerais Capitão Felizardo. Varela foi nomeado por Guedes para o conselho de administração de duas estatais, o Banco do Nordeste e a Embrapa.
O deputado não mencionou, mas podia, Daniella Marques Consentino. Aos 40 anos, ela é formada em administração de empresas e trabalhou com Guedes no setor privado por uma década. Desde o início de 2019, é chefe da assessoria especial de Assuntos Estratégicos do Ministério da Economia. É uma das figuras mais próximas e da maior confiança do “Posto Ipiranga”. Acompanha-o em reuniões, eventos e audiências públicas no Congresso. Uma dessas audiências, em abril de 2019, terminou em confusão depois que o deputado Zeca Dirceu, do PT do Paraná, disse que Guedes era “tchutchuca” com banqueiros e “tigrão” com os pobres”, e o ministro devolveu: “Tchutchuca é a mãe, é a avó”. Consentino aconselhou o chefe a ir embora e foi detida por alguns instantes pela polícia legislativa, acusada de agressão pela deputada Maria do Rosário, do PT gaúcho.
Até a quarta-feira 8, a assessora constava nos registros da Receita Federal como diretora da empresa Mercatto A2 Participações e como representante legal da Crescera Investimentos em outra empresa, a BP Venture Capital. A Crescera é o nome atual da Bozano Investimentos, empresa da qual Guedes era sócio (ainda seria, de forma oculta?) até entrar no governo. A lei dos servidores, a 8.112, de 1990, proíbe-os de “participar de gerência ou administração de sociedade privada, personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou comanditário”. Um veto destinado a evitar que um funcionário público defenda, no governo, interesses particulares. Consentino diz ter saído de todas as empresas antes de ingressar no ministério e que deve ter havido alguma falha de atualização cadastral.
Em 22 de abril de 2019, ela reuniu- -se no ministério com um dos sócios da Crescera, e, portanto, seu chefe quando ela era representante legal da empresa na BP Venture Capital, o bilionário Elie Horn. Em seguida, com dirigentes de uma filantrópica criada pelo empresário, o Instituto Liberta, de combate ao abuso sexual infantil. Teriam sido reuniões sobre o programa de incentivo ao voluntariado que o governo lançaria dali a alguns meses. Horn e a Liberta são nomes que correm na CPI das Fake News. Chegou a integrantes da comissão a informação de que o bilionário teria sugerido usar o Liberta como canal de financiamento das milícias digitais bolsonaristas na eleição. Grana empresarial entraria no instituto e este contrataria uma agência de marketing, a Cucumber, para pagar o submundo na internet. A agência é da esposa do secretário de Comunicação Social da Presidência, Fabio Wajngarten, de origem judia, como Horn. Será que Guedes, rico e experiente em arquitetura financeira, teria auxiliado a financiar essas milícias? É uma dúvida de Ramos.
Consentino foi convocada a depor em novembro de 2018 pelo Ministério Público em Brasília em uma investigação aberta um mês antes contra o “Posto Ipiranga” por suspeita de fraude em investimentos em educação feitos por um fundo do ministro, o BR Educacional, com dinheiro obtido em fundações de pensão estatais. É uma apuração no âmbito da Operação Greenfield, uma das cumbucas em que Ramos meteu a mão. Começou com seu conteúdo tornado público pelo chefe da força-tarefa da Greenfield, o procurador Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, mas depois se tornou sigilosa, a pedido do procurador Henrique de Sá Valadão, atual responsável pelo caso.
Gustavo Guedes, irmão do ministro, também é investigado pela Greenfield e chegou a depor. Contou, conforme relatado por CartaCapital, que o investimento suspeito foi idealizado para ajudar as Organizações Globo, o que talvez explique por que o inquérito agora corre em segredo. Gustavo mostra como a biosfera do irmão é, digamos, tóxica. Em 2007, ele foi condenado pela Comissão de Valores Mobiliários, a CVM, “xerife” do mercado acionário, por uso de informação privilegiada. Em 1999, a família Guedes era sócia em um fundo, o JPG, que decidira comprar ações de uma empresa, a Cambuci, depois que um analista a serviço do fundo descobriu que a companhia renegociaria dívidas bancárias. Paulo Guedes só não foi condenado por Gustavo ter dito à CVM que tinha feito tudo sozinho. A punição não doeu. Uma advertência, apenas.
Outra sociedade dos irmãos, o fundo GPG, beneficiou-se de coisa mais pesada. Fraudes e ilícitos. É o que diz uma sentença de julho de 2018 do juiz Tiago Pereira Macaciel, da 5a Vara Criminal do Rio. O fundo ganhou cerca de 600 mil reais graças a um prejuízo imposto ao fundo de pensão dos funcionários do BNDES, o Fapes, por uma corretora, a Dimarco, que, em 2004, intermediar negócios feitos com dinheiro das duas partes, em operações conhecidas como day trade. Macaciel condenou dirigentes da corretora, hoje extinta, a quatro anos de prisão, por gestão fraudulenta. Esse episódio é citado na portaria da força- -tarefa da Greenfield, que abriu a investigação contra os irmãos Guedes. A propósito: a irmã deles, Elizabeth, comanda desde abril de 2019 a associação das universidades particulares. Os filiados da Anup beneficiam-se de dinheiro da Caixa Econômica Federal nas bolsas do Fies e do ProUni. O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, está no cargo por escolha de Guedes.
Dois meses antes da sentença do juiz Macaciel, a biosfera do ministro tinha sido atingida por outra operação, a Câmbio, Desligo, que desbaratou uma megarrede ilegal de doleiros. Um dos presos, Oswaldo Prado Sanchez, era colaborador antigo de um bilionário, Julio Bozano, de quem Guedes foi sócio (ainda seria, de forma oculta?) na Bozano Investimentos até chegar ao governo. Foi denunciado pelo Ministério Público à Justiça fluminense por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e organização criminosa. Fechou uma delação, sobre a qual não se sabe nada. Sanchez fornecia dólares ao esquema, obtidos inclusive em contas pessoais de Julio Bozano. Este es- tava fora do “mercado” desde 2000, por causa de fraudes financeiras descobertas pelo Banco Central. O BC queria banir o bilionário do sistema financeiro. Ele recolheu-se por um tempo. Voltou à praça em 2013, em sociedade com Paulo Guedes, na Bozano Investimentos, hoje rebatizada de Crescera.
Internamente, Guedes diz ter se afastado de todos os seus negócios antes de assumir o cargo. CartaCapital questionou-o, via assessoria de imprensa, sobre as acusações do deputado Ramos, mas não obteve resposta até a conclusão desta reportagem, na quinta-feira 9.
‘Esse crescimento é uma ilusão total: estamos apenas acompanhando a recessão de 2015-2016, período em que o PIB caiu 7,5%’, diz Eduardo Fagnani, professor de economia da Unicamp.
A edição do jornal francês Le Monde, datada de domingo (12/01) e segunda-feira (13/01), traz uma página inteira sobre os primeiros indicadores verdes da economia brasileira e lança a questão sobre se o Brasil estaria, finalmente, começando a se recuperar da crise na qual está mergulhado pelo menos desde 2015. O tema divide economistas. Para Eduardo Fagnani, esse crescimento é “uma ilusão total”.
“Em 3 de dezembro de 2019, Jair Bolsonaro não escondeu sua alegria. ‘Estamos no caminho certo!’, disse o chefe de Estado brasileiro, comemorando no Twitter os números positivos de crescimento do PIB divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja: um aumento de 0,6% no PIB no terceiro trimestre, o mais forte registrado em um ano e meio, 0,2 ponto percentual acima do previsto pelos analistas”, escreve Le Monde.
O jornal cita os indicadores econômicos que estão em alta em 2020: o crescimento esperado em 2,2% neste ano, após 1,2% em 2019; inflação contida (3,5% para este ano); queda do desemprego (em 11,8%, um ponto a menos de 12 meses atrás) e o período de euforia da Bolsa de Valores de São Paulo, com um índice da Bovespa que ultrapassou a marca de 100.000 pontos pela primeira vez em sua história, terminando 2019 com uma alta espetacular de 35% em um ano.
Diante disso, Le Monde pergunta: “As ‘Bolsonomics’ – o nome dado às medidas econômicas adotadas pelo executivo – são eficazes?”. A questão divide economistas, acrescenta o correspondente do Le Monde no Rio de Janeiro, Bruno Meyerfeld, que assina o texto.
“Eu me oponho totalmente a esse governo no meio ambiente, na diplomacia, no tratamento das minorias… Mas, na economia, tenho que admitir que a linha é boa”, observa Renato Fragelli Cardoso, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), citando, em particular, o mérito de duas medidas: a drástica redução dos gastos públicos (com um déficit reduzido pela metade em relação às previsões) e, sobretudo, a grande reforma previdenciária, adotada no final de outubro de 2019.
Mercado financeiro
A reforma, que estabelece pela primeira vez uma idade legal de partida, deve economizar R$ 800 bilhões em dez anos. Ele encantou os mercados financeiros. “Estamos esperando por essa reforma há 25 anos. Devolve credibilidade econômica ao Brasil. É um choque psicológico real “, disse Fragelli Cardoso ao Monde.
No entanto, nem todo mundo entende dessa maneira. “Esse crescimento é uma ilusão total: estamos apenas acompanhando a recessão de 2015-2016, período em que o PIB caiu 7,5%”, estima Eduardo Fagnani, professor de economia da Unicamp. “Além disso, o crescimento de 2% em um país em desenvolvimento como o Brasil é extremamente baixo. A verdade é que ainda estamos em uma economia em crise”, diz o economista ao jornal francês.
Apesar de um real baixo (a moeda perdeu quase 10% do seu valor em relação ao dólar em um ano), nem tudo vai bem na balança comercial. Em 2018, o país sofreu as consequências da crise vivida por seu vizinho argentino, um grande importador de produtos manufaturados. Como resultado, o superávit comercial de Brasília caiu quase 20% em 2019, para o nível mais baixo desde 2015, passando de US$ 52 bilhões em 2018 para US$ 42 bilhões.
Pobreza extrema
“Muitos investidores relutam em investir no Brasil do altamente imprevisível Bolsonaro”, diz Le Monde. “No total, € 3,3 bilhões de ativos detidos por estrangeiros foram vendidos e retirados dos mercados financeiros no Brasil em 2019, de acordo com dados da Bolsa de Valores de São Paulo. A decolagem do índice Bovespa seria, portanto, principalmente o trabalho de investidores locais”, explica.
Se o desemprego está em queda, escreve o Le Monde, o país continua sendo o campeão mundial da desigualdade: 1% da população monopoliza quase 30% da riqueza, de acordo com o “Relatório sobre desigualdades globais 2018″.
Em constante aumento desde 2015, a pobreza extrema atinge 13,5 milhões de cidadãos, que sobrevivem com menos de R$145 reais por mês.
“Diante dessa situação muitas vezes crítica, o governo pensa apenas em implementar seu projeto ideológico ultraliberal que alimenta a desigualdade e não se preocupa com o padrão de vida da população”, denuncia Eduardo Fagnani.
Desafios para 2020
Para 2020, Guedes planeja privatizar ou vender ações estatais em quase 300 empresas com recursos públicos (incluindo a muito emblemática gigante da produção elétrica Eletrobras), tudo com um ganho estimado de € 33 bilhões. O governo também planeja realizar várias reformas explosivas, incluindo uma simplificação tributária e outra ainda mais arriscada que afeta a estabilidade dos funcionários públicos.
“O jogo não vai ser fácil” para o ministro da economia Paulo Guedes, avalia Le Monde, lembrando que sua política é questionada por ministros ligados às Forças Armadas, com uma tradição mais estatista, e também pelo “influente e hábil” presidente da Câmara dos Deputados, o centrista Rodrigo Maia.
Além disso, destaca o jornal, em 2020, “a desaceleração global poderá pesar bastante sobre a economia brasileira, que é altamente dependente das exportações”. “De Brasília, observamos com ansiedade a guerra comercial sino-americana (os dois primeiros parceiros comerciais do país), mas também um possível confronto militar no Oriente Médio que provavelmente aumentará perigosamente o preço do petróleo.”
Relatos são de que os diretores se trancaram em suas salas em meio à revolta dos trabalhadores que, sob a ameaça de perder direitos e até mesmo o emprego, ocupam a sede das instituição desde o início da tarde desta sexta-feira (10).
Uma grande mobilização de servidores tomou a Casa da Moeda nesta sexta-feira (10) contra o sucateamento da empresa pública que está no pacote de privatização do ministro da Economia, Paulo Guedes. A manifestação acontece desde às 15h após uma entrevista concedida pelo diretor da instituição, Fábio Rito, que disse que seria necessário promover cortes para “tornar a empresa competitiva”..
“Hoje, após uma entrevista MENTIROSA dada ao Globo News pelo Diretor Fábio Rito, os trabalhadores se revoltaram e foram se manifestar”, declarou a usuária do Twitter Gabe Dalavigna, que fez uma sequência de tuítes relatando o que está acontecendo na Casa da Moeda.
Ela ainda relatou alguns dos ataques sofridos pelos funcionários. “As modificações feitas em relação aos trabalhadores são comunicadas APÓS o expediente do trabalhador, para não ter possibilidade de manifestações por parte dos mesmos, por causa disso, muitos estão com medo de dormir e acordar sem mais algum direito ou até mesmo sem o emprego”, tuitou.
“O que provocou a revolta? Eles tiram nossa insalubridade em cima do piso da casa. Tiram nosso vale alimentação. Tiram nosso cartão remédio. Aumentam o plano de saúde em 75% para os dependentes. Tiram a creche. Tudo isso já é motivo suficiente para nos revoltarmos e ainda ouvir um diretor falar que tem que privatizar? Aí não dá!”, relatou um moedeiro.
De acordo com relatos, a diretoria da Casa da Moeda chamou a polícia, mas os trabalhadores permanecem no local. Eles afirmam que só deixarão o prédio com a renúncia de Rito e o retorno dos direitos.
O que desencadeou essa mobilização foi a declaração de hoje do diretor Fábio Rito à Globo News de que produtos como o papel-moeda, moedas, passaportes, diplomas e outros causaram “três anos consecutivos de prejuízos e +
Os funcionários da Casa da Moeda estão tão pressionados, assediados moral e psicologicamente que, hoje, reagiram de forma enérgica, ocupando a diretoria da empresa, exigindo respeito e transparência no trabalho. Até o momento ( 20:15 hs )os funcionários continuam na empresa. pic.twitter.com/iQlIeuRhb0
A equipe econômica do governo está preocupada com o entusiasmo demonstrado pelo presidente Jair Bolsonaro com os bancos estatais, sobretudo a Caixa Econômica Federal.
Nos planos iniciais do ministro Paulo Guedes, a CEF e o Banco do Brasil, entre outros bancos estatais, já estariam em processo de privatização.
Em setembro do ano passado, Guedes chegou a declarar ao jornal Valor Econômico: “Eu quero privatizar todas as empresas estatais. Essa é a proposta. A decisão final é do Congresso. A minha obrigação é fazer o diagnóstico e entregar a prescrição. O Congresso vai decidir.”
Mas o presidente Bolsonaro o obrigou a recuar. Em dezembro, o ministro teve que soltar nota afirmando que não pretende privatizar nem o Banco do Brasil, nem a Caixa.
A expectativa da equipe econômica era esfriar o assunto para, mais adiante, tentar novamente convencer o presidente da República.
Agora Bolsonaro abraçou uma causa que, quando a então presidente Dilma Rousseff encampou, a partir de abril de 2012, foi fartamente criticada pelos economistas liberais como Paulo Guedes: forçar os bancos públicos a baixarem antecipadamente suas taxas de juros para puxar as taxas dos bancos privados.
Em sua live no Facebook, ontem, Bolsonaro aplaudiu o presidente da CEF: “Por que [a taxa de juros do cheque especial] baixou de 13% para 8%? Porque a Caixa Econômica botou a 5%. Então o Pedro Guimarães, presidente da Caixa, está de parabéns. Se não é o Pedro ter essa iniciativa, continuaria a 13%, a 14%, ia até aumentar.”
A Caixa tem reduzido a taxa de juros para a modalidade de crédito, hoje em 4,99%. Por conta disso, segundo Bolsonaro, tem atraído 500 mil novos clientes por mês. Na segunda-feira, 6, entrou em vigor resolução do Conselho Monetário Nacional que que limitou os juros do cheque especial a 8% em todos os bancos no país.
Quando o CMN tomou a decisão, no ano passado, já foi em meio a críticas do presidente quanto às taxas de juros. Na época, Bolsonaro chegou a dizer que reduções anteriores da taxa básica de juros eram feitas “na canetada”, em referência à ex-presidente.
A equipe econômica tem sentido cada vez mais as pressões do Palácio em torno da questão dos juros. No início de dezembro, ele deixou escapar que a taxa básica de juros chegaria 4,5% até o final de 2018. Depois, ao notar que estava antecipando uma decisão que cabe ao Banco Central, consertou: “Eu torço, né?”.
Na live de ontem ele se soltou:
“Vai para a Caixa todo mundo aí, tá legal? Sai desses bancos outros aí, e vem para a Caixa. A não ser que os bancos sigam o exemplo da Caixa Econômica. Caso contrário, o Pedro vai matar os outros bancos, o Pedro é um exterminador de bancos com esses números que está apresentando do cheque especial e de outros empréstimos aí e também para casa própria, etc.”, disse Bolsonaro.
Jamais podemos esquecer da violência da Globo em prol das reformas que dariam ao país todas as condições de zarpar para a modernidade diante do que testemunhamos com um baque violento da produção industrial e da fuga recorde de capitais, além do aumento assustador de brasileiros fazendo bicos.
Na verdade, é um processo de retroalimentação em que uma coisa leva à outra numa crise econômica sistêmica, aquela maçaroca perversa de papeis que prometia, através de gráficos chutados, um futuro brilhante para a economia brasileira a partir das reformas trabalhista e da Previdência, do encolhimento do papel do Estado na economia e da total irresponsabilidade com as questões sociais do país.
O resultado foi um aumento de lucros para os ricos do setor especulativo, chegando a 32% de lucro líquido e, percentualmente, o aumento em dobro de moradores de rua. Ou seja, um fenômeno que produz o outro.
Esse dinheiro que pagou o Brasil improdutivo a partir das piores mazelas do neoliberalismo, que sempre se mostram contraditórias, também produziram a sorte dos pobres, ampliando o fenômeno da escassez, aumentando a pobreza e a miséria estimuladas pela violência do rentismo.
Agora, ninguém dá as caras para explicar o que está acontecendo com o país. Ninguém se manifesta, por exemplo, na Globonews para explicar o fundo do poço em que o Brasil se encontra depois de berrar sem parar que a culpa da crise brasileira é dos trabalhadores e não dos especuladores, da banca, da agiotagem, da mais aguda imbecilidade humana que se chama ganância.
Desmontaram a economia nacional. O setor imobiliário, ao contrário do que foi divulgado, está na bacia das almas, tendo dez vezes mais oferta de imóveis do que procura para a compra. Isso dito por um proprietário de uma grande imobiliária que comparou esse momento de hecatombe no setor com o período do governo Dilma que ele classificou como “a era de ouro para o setor”. Inclui-se aí a queda de quase 2% na atividade industrial em relação ao mesmo período de 2018, do governo Temer, que já era um desastre, condenando o país a um marasmo sem hora para acabar.
E mais uma vez, os neoliberais, na base da lábia, do trololó, do lero-lero, quebram o país. Quebraram com Figueiredo, com Sarney, com Collor, com FHC, com Temer e, agora, com esse animal chamado Bolsonaro, que entregou as chaves do cofre do Estado para um agiota, vigarista chamado Paulo Guedes. Pior, o Brasil, que viveu seu apogeu econômico na era Lula e Dilma, foi vendido pela mídia como se eles fossem culpados pelo que viria a acontecer com o país.
Estamos diante de um governo de mentiras que, internacionalmente, está completamente desmoralizado. Por isso a maior fuga de dólares registrada em 38 anos. Por isso também os estrangeiros não querem investir no Brasil, pois, se colocar na ponta do lápis, ali na batata, a conclusão será de que, ao contrário do que foi maquiado, o PIB brasileiro de mais 1% foi, na realidade, negativo. Só não se sabe ainda de quanto foi o preço da lambança.
E se a coisa não está pior, é porque, com 13 anos de aumento real do salário mínimo nos governos Lula e Dilma, ainda tem uma gordura a ser queimada e um certo poder de compra dos trabalhadores, sem falar no quase 400 bilhões de dólares em reservas internacionais deixados pelo PT.