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“Nossa aldeia é sem partido ou facção, não tem bispo, nem se curva a capitão”. Portela

No momento em que o Globo revela que metade dos povos indígenas isolados do Brasil é alvo de religiosos e que a milícia do Ceará soma quase 150 assassinatos desde início da paralisação de PMs, o carnaval é marcado pelas críticas contra a beligerância do bolsonarismo, as escolas de samba do Rio de Janeiro, no primeiro dia de desfile, produziram uma mistura de emoção, resistência e luta contra os tratados entre o governo Bolsonaro, milícia e pastores evangélicos, que têm como principal foco a mutilação da cidadania, a segregação, o racismo e a discriminação de negros, índios, mulheres e gays, resumindo a capacidade de fazer o mal que esse governo tem exercido.

Lógico que uma parte significativa da população carioca, principalmente das camadas mais pobres, viu-se espelhada nos enredos dos desfiles das escolas até aqui. Vários temas com várias versões desaguaram numa crítica contundente a esse estado de coisas que o Brasil vive e que assombra não só o país, mas a comunidade internacional.

Bolsonaro é um monstro tipo exportação e todo o cenário de ódio que o rodeia, pois tudo o que tem a marca do bolsonarismo, tem crime, sangue, violência, crueldade, injustiça, segregação e exaltação ao terror, marcas de uma mesma sociedade, que tem em uma parcela de fanáticos a garantia de que a individualidade é o melhor caminho para se nutrir o preconceito. Individualidade que tem como comissão de frente o mercado que, por ser um conceito abstrato, estimula todo o tipo de egoísmo, cobiça, indigência intelectual, social e política em nome do lucro e do enriquecimento a todo custo.

É nessa lógica do privado contra o comum que as escolas de samba souberam muito bem explorar e expor os mercadores da fé, as milícias, os magnatas, banqueiros garimpeiros, madeireiros e grileiros que não medem esforços para saciar a ambição que carregam consigo, potencializada com a chegada de um clã disposto a fazer acordos, parcerias com o que existe de mais nefasto numa civilização.

Nada disso impediu que as escolas de samba saíssem deslumbrantes com sambas encantadores, cada um mais belo que o outro, trazendo o tom da emoção ao limite do humano, principalmente os temas que carregam a defesa das religiões de matrizes africanas. mas o coro somado das escolas produziu um só enredo no primeiro dia de desfile no Rio, o de repúdio a Bolsonaro e a tudo o que representa o bolsonarismo como ideologia de guerra em nome do ódio ao outro.

Como diz e estrofe do lindo samba da Grande Rio:

“Salve o candomblé, Eparrei Oyá
Grande Rio é Tata Londirá
Pelo amor de Deus, pelo amor que há na fé
Eu respeito seu amém
Você respeita o meu axé”

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Vídeo: Mangueira dá uma chinelada no bolsonarismo

“E se fôssemos ensinados, desde criança que Jesus também poderia ser uma mulher, será que o Brasil estaria no topo do feminicídio?” (Evelyn Bastos)

Muito mais do que uma disputa política, do ponto de vista eleitoral, a Mangueira produziu, na maior manifestação cultural do mundo, os temas que são especialidade da escola, as várias formas de segregação que as camadas mais pobres da população estão sofrendo com um governo que nega cidadania aos negros, aos índios, aos gays e às mulheres, o que sintetiza a própria imagem de Bolsonaro, mas sobretudo do bolsonarismo, que consegue ser muito pior do que a criatura que ele pariu, porque, antes de qualquer coisa, não se pode perder de vista que o bolsonarismo é um vírus que sofreu mutação política depois de ter o PSDB como nascedouro dessa onda de ódio que conduziu uma pessoa inclassificável como Bolsonaro à Presidência da República.

Talvez seja esse o grande problema a ser enfrentado pela sociedade, a imposição de limite ao ódio de classe que, potencializado pela grande mídia, principalmente pela Globo, contra qualquer causa social que ameace o poder das oligarquias.

Baianas da Mangueira vieram fantasiadas como orixás crucificados

A Mangueira, com um dos sambas enredo mais bonitos de 2020, tem autoridade para colocar esse tema tão urgente na avenida, porque sua história se confunde com as marcas de um modelo de civilização herdado da escravidão e que marcou o próprio território e que marca até hoje as relações entre o Estado e a comunidade.

O cálculo político da Mangueira foi perfeito, Jesus, a quem os hipócritas bolsonaristas rogam e do qual Bolsonaro faz uso político, foi apresentado de várias formas em seu sentido mais profundo, mostrando que a situação dos negros, dos índios, dos gays e das mulheres, no Brasil, é idêntica ao que Jesus sofreu por ser pobre e ter levantado a voz contra as injustiças, pagando com o próprio martírio da crucificação.

Quando o Presidente da República chama de herói Adriano da Nóbrega, um miliciano que assassinou um flanelinha por ter denunciado a milícia, no dia seguinte da denúncia, ele sublinha a questão central da crítica que a Mangueira trouxe, assim como todos os Cristos representados pelos oprimidos que a Mangueira soube muito bem destacar na avenida, respaldada em dados reais, do aumento significativo da violência contra esses Cristos, com a chegada de Bolsonaro ao poder e o esgoto bolsonarista que cerca essa visão de mundo baseada no ódio ao outro.

O que não se pode esquecer é que os governadores Dória e Witzel, que promoveram os maiores massacres, com suas PMs, nas favelas e periferias de São Paulo e Rio de Janeiro, são frutos do  bolsonarismo e se elegeram na carona do fascismo tropical e, logicamente, da hipocrisia cordial, baseada numa falsa legalidade inspirada nas práticas de Moro e de seus comandados da Lava jato. Por isso, não por acaso, ele é o Ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro.

A Mangueira sintetizou, de forma precisa e organizada, o desfile que denuncia os elementos característicos do bolsonarismo que condena as pessoas consideradas socialmente inferiores, a partir de sua régua, respaldado na ideia de que o governo precisa organizar o país na base do racismo, do preconceito e da discriminação para se chegar à condição celeste de ser a pátria do evangelho, na ótica dos opressores contra os oprimidos.

https://twitter.com/GeorgMarques/status/1231907007449444352?s=20

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Não fosse a pressão, Bolsonaro, que deu exemplos do seu nazismo contra negros e índios na Hebraica-RJ, Alvim seria mantido

No Brasil o problema não é ser nazista, mas se declarar nazista.

Quando Bolsonaro, em plena Hebraica, atacou negros e índios, com risadas da plateia e aplauso no final, as entidades que hoje repudiaram a fala do nazista Roberto Alvim, calaram-se. O que se viu fora do clube foram muitos judeus se indignarem por Bolsonaro usar a Hebraica, no Rio de Janeiro, para declarar e insuflar seu racismo contra cidadãos negros e índios. Ou seja, todos conheciam bem o, então candidato, Bolsonaro que, entre outras coisas, declarou o que segue abaixo.

Muito menos se viu deputados ou senadores de direita pedindo boicote à campanha de Bolsonaro por essa fala pra lá de nazista: “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles”

Mas Bolsonaro não parou aí e seguiu seu ataque: “Se eu chegar lá (na Presidência), não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou para quilombola.”

O problema é que Bolsonaro teve solidariedade de muitas entidades que hoje repudiaram a fala de seu secretário de cultura, Roberto Alvim, fala que merece sim repúdio, mas que não se pode dizer que o presidente não sabia sabia ou não apoia esse tipo de pensamento, porque ele foi pra lá de escrachado quando personalizou o nazismo contra índios, negros, sobretudo quando anunciou que tinha em seus planos a segregação, num nítido aviso que não reconhecia os quase quatro séculos de escravidão no Brasil e a quase extinção dos índios brasileiros.

Não por acaso, Bolsonaro colocou Sergio de Camargo, um negro racista na direção da Fundação Palmares, que tinha na ponta da língua um discurso de extinção do próprio órgão como representante da comunidade negra no Brasil, incluindo os quilombolas, quando falou que o dia da Consciência Negra deveria ser varrido no Brasil, imediatamente ganhou o emprego.

O STF, que hoje repudiou a fala de Alvim, com toda razão, não viu nas palavras de Bolsonaro na Hebraica crime de racismo, então, o candidato pôde se manter no pleito, vencer a eleição, destruir o Ministério da Cultura e colocar um secretário que repetisse as palavras de Joseph Goebbels. Não só isso, o mesmo Bolsonaro começou a colocar em prática seu projeto nazista na Amazônia, o que foi repudiado pelo mundo todo com o dia do fogo que atacou os povos da floresta, incluindo quilombos e tribos.

Nesse sentido, Roberto Alvim, em seu discurso, estava respaldado pelo comportamento do próprio Bolsonaro. Isso basta para mostrar que tanto a  situação de Bolsonaro candidato quanto a de Bolsonaro presidente são as mesmas e correspondem a preconceitos contra grupos dentro da sociedade brasileira com a mesma medida e agressividade.

O que precisa ficar claro é que não existe meio nazista ou um nazista que não cite frases do nazismo. Um nazista como Bolsonaro se comporta com um, inspira-se no pensamento e ainda aparece sorridente trocando olhares e risadas com uma plateia tão nazista quanto, ontem, hoje e amanhã.

Não por acaso, em seu primeiro ano de governo o extermínio de jovens e crianças negros, além dos ataques às religiões de matrizes africanas no Brasil que triplicaram, insufladas por seus discursos e práticas. Isso, sem falar do extermínio de índios que bateu todos os recordes e mais a misoginia e homofobia que ele sempre pregou.

Então, não venham agora dizer que não sabiam com quem estavam lidando, porque estava mais do que claro que o Hitler tropical se cercaria de nazistas tão repugnantes quanto ele.

É bom acrescentar que Alvim e Bolsonaro fizeram juntos uma live momentos antes de Alvim publicar seu vídeo. Ninguém, por mais ingênuo que seja, ousa dizer que Bolsonaro não tinha conhecimento do teor do vídeo.

Trocando em miúdos, Bolsonaro abonou o vídeo com o discurso nazista de seu secretário direto.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

 

 

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Vídeo – Inacreditável! Aluno da UFRB se recusa a receber material das mãos de professora por ela ser negra

Aluno do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Recôncavo Baiano, Danilo Araújo de Góis teria cometido diversos atos de racismo, segundo estudantes, alegando que”não se mistura com negros pois foi bem criado”.

Em vídeo divulgado nas redes sociais, um estudante da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), identificado como Danilo Araújo de Góis, se recusa a receber documento das mãos de uma professora da instituição por ela ser negra.

As imagens foram divulgadas pelo perfil do Twitter Lista Preta e mostra Danilo, em meio a uma sala repleta de alunos negros, se recusando a receber um documento da professora.

Estudantes relatam que desde que entrou na Universidade, em 2018, o estudante de Ciências Sociais se recusa a pegar coisas das mãos de pessoas negras e que pessoas negras tenham manuseado ou até mesmo sentar próximo. Chegando a dizer que “não se mistura com negros pois foi bem criado”.

A coordenadora do curso de História da Universidade foi chamada e expulsou o aluno da sala, chamando os outros estudantes para se colocarem à disposição como testemunha.

 

 

*Com informações da Forum

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O excludente de ilicitude de Moro é para defender Higienópolis contra Paraisópolis, mas a mídia não fala.

A mídia fez uma enorme cobertura da chacina promovida pela PM de São Paulo em Paraisópolis onde nove jovens foram mortos porque frequentavam o baile funk.

O aumento exponencial da violência policial no Brasil está diretamente associado a duas coisas: o discurso miliciano de Bolsonaro e o excludente de ilicitude de Moro.

Tudo indica que há uma instrução superior na grande mídia que garante a Moro o silêncio sobre seu nome como um dos promotores dessa tragédia brasileira, quando, na verdade, todos sabem que o seu excludente de ilicitude, que é extremamente elitista, tem como objetivo defender os ricos contra os pobres.

Não há nenhuma dúvida de que jamais essa licença para matar que Moro quer do Congresso jamais será usada em Higienópolis. Isso é consensual e é um dado central para entender as questões do preconceito, do racismo e da discriminação que essa cláusula do pacote anticrime produzirá. Daí a afinidade das classes economicamente dominantes com esse pacote que, na verdade, deveria se chamar pró-crime.

A questão é maior com o problema que se tornou insolúvel, porque, com a mídia protegendo Moro como quem protege um estepe de Bolsonaro, num eventual impeachment ou mesmo para a eleição de 2022 ou mais ainda para não fortalecer o discurso de Lula, a mídia subtrai qualquer menção a Moro no meio dessa verdadeira algazarra institucional que o país vive.

Moro nada falou sobre o faniquito de Paulo Guedes ameaçando os brasileiros com o AI5. A mídia nada falou do silêncio obsequioso do Ministro da Justiça sobre esse descalabro. O mesmo pode-se dizer da atuação da mídia em relação à chacina de Paraisópolis que, com razão, culpou Bolsonaro e Dória, além da PM, mas deixou de fora o Ministro da Justiça e Segurança Pública.

Como não foi incomodado por ninguém da grande mídia e, sabendo que jamais será, Moro se fechou em copas sobre o massacre de Paraisópolis que ceifou a vida de noves jovens. Ou seja, tanto a mídia quanto Moro fizeram o mesmo cálculo quando, na realidade, a situação no Brasil se tornou insustentável para os mais pobres, sobretudo para os negros, depois que Bolsonaro assumiu o poder e Moro propagandeia sua licença para matar como se fosse beber um suco gelado na beira do mar.

O resultado em vidas perdidas não importa para Moro e, muito menos, para a mídia. O importante é preservar a imagem do ex-juiz, porque ele se transformou na principal peça de um quebra-cabeças político montado pela direita para continuar no poder.

Estamos diante de um impasse ou das meias verdades absolutas em que o modelo que promove desgraças é frontalmente criticado sem trazer, na verdade, o grande responsável por ele. Afinal de contas, o importante em qualquer circunstância é proteger Higienópolis de Paraisópolis num eventual governo petista, principalmente se contar com a volta de Lula à Presidência.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Paraisópolis: racismo, demofobia, aporofobia! E Moro quer licença pra matar

Reinaldo Azevedo

A tragédia havida na favela de Paraisópolis, em São Paulo, com nove mortos, tem de ser chamada por aquilo que é: um massacre. E com autoria definida: a Polícia Militar. Até que não venham a público os responsáveis por aquele desastre, com a punição cabível, as mortes têm de ser postas, sim, na conta da instituição — e, por consequência, do governo do Estado, cujo titular é João Doria, do PSDB. E que se note: isso é o que pode fazer um destacamento despreparado da Polícia sem ter a excludente de ilicitude defendida por Sergio Moro, o santo. Imaginem se ou quando houver licença clara para matar.

Ainda que fosse verdade que policiais militares perseguiam bandidos que os teriam recebido a tiros, nada justifica a forma como se deu a operação. Não é preciso ser um grande especialista para perceber que a reação estaria estupidamente errada. E isso me leva a afirmar sem receio de ser apressado: é tal o disparate que qualquer pessoa razoável tem o dever de desconfiar da versão. A PM de São Paulo não é assim tão primitiva do ponto de vista técnico. Ocorre que é preciso tomar cuidado com o primitivismo moral e ético destes dias.

A forma como se deu o cerco aos participantes do baile funk, o fato de os PMs encurralarem os presentes ao evento, o acantonamento de vítimas em becos e vielas, debaixo do porrete… Tudo aponta para uma operação deliberada contra o baile funk. Esses bailes estão longe de ser eventos de adoração da lei, da ordem e do estado de direito. Mas cabe a pergunta: se as autoridades acham que crimes se cometem ali, estes devem ser combatidos por um Estado criminoso, assassino?

Essa é a lógica que tem justificado desde sempre a tortura no Brasil — que nunca cessou contra os pobres e os presos comuns — e que levou a República, em dois períodos, a mandar para o pau de arara os desafetos do regime: refiro-me, claro, ao Estado Novo e à ditadura militar.

É asqueroso. Aqui e no mundo, vídeos são exibidos com cenas explícitas de espancamento, antecedidos de uma advertência: “Atenção! O vídeo a seguir contém imagens agressivas”. E quem protagoniza a agressividade não são traficantes, assaltantes, bandidos… Não! Os atores da barbárie são homens que vestem o uniforme da PM e que deveriam ser reconhecidos pelos pobres como a “democracia de farda”. Afinal, “policial também é povo”, não é mesmo?

Não se trata de tomar a ação criminosa de um destacamento da PM como sinônimo do trabalho da corporação. Policiais salvam centenas de vidas todos os dias. A seu modo, também trazem à vida. São muitos os partos — sim, partos! — realizados por policiais. Há quase 100 mil homens e mulheres nas ruas se expondo a riscos variados. É verdade: atos que poderiam ser chamados de heroicos não chegam à imprensa.

Mas essa é a natureza de um dos entes que detêm o “monopólio do uso legítimo da violência”, para citar não um troglodita, mas Max Weber. Essa violência só é aceitável se dirigida contra aqueles que solapam, então, as bases desse Estado. E, ainda assim, há de ser exercida segundo critérios. E o uso proporcional dessa força é um dos pilares da legitimidade.

Cabe a pergunta: que crimes cometeram moças e rapazes, encurralados, que imploravam para não apanhar? Ou a PM pune exemplarmente aqueles que mancham a reputação da corporação ou estará sendo mais do que conivente com a barbárie: as nove mortes levarão a sua assinatura.

É uma obrigação moral chamar as coisas pelo nome que têm. Sérgio Nascimento de Camargo, o novo presidente da Fundação Palmares, certamente tachará de “mimimi” de militante esquerdista a lembrança de que a esmagadora maioria da população de Paraisópolis é negra. O homem que, sendo negro, vê aspectos positivos na escravidão não consegue estabelecer um nexo entre a servidão e a cor da pele dos que moram em favelas, habitam os presídios e povoam as covas rasas dos cemitérios.

Camargo não entendeu o que quis dizer o branco e abolicionista Joaquim Nabuco quando escreveu em “Minha Formação” que “a escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”. Mais terrivelmente triste e patético: se e quando conhecermos os policiais que protagonizaram a barbárie, é grande a chance de que sejam eles também não-brancos.

Uma onda de demofobia e aporofobia — repulsa ao povo e aos pobres — tomou o país. E ameaça virar política de Estado. Quando Sérgio Moro e Jair Bolsonaro falam em “excludente de ilicitude”, pedem licença para que as forças de segurança possam matar sem receio nem perigo. Matar quem? Os pobres de tão pretos e os pretos de tão pobres.

 

 

*Reinaldo Azevedo/Uol

 

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O projeto macabro de Moro quer fazer de corpos de negros e pobres degraus políticos para 2022

O silêncio de Moro sobre a chacina cometida pela PM de Dória em Paraisópolis, não é por acaso, é um elogio que Moro faz aos assassinos e a si mesmo.

Acho que ele pensa que essa estratégia é algo de gênio. Entender isso é conhecer melhor as questões do preconceito, do racismo e da discriminação no Brasil.

No projeto de Moro, o “anticrime”, resumindo, inclui dados políticos e propósitos jurídicos do mais puro eugenismo. O apelo faz uma distinção clara entre negros e brancos, mas também entre brancos pobres e brancos ricos, num exercício de individualidade nunca visto no país.

Moro escolheu tratar as pessoas em função do que elas parecem ser a partir da cor da pele, mas também do lugar em que residem ou circulam. Ou seja, ir e vir para negros e pobres nas favelas e periferias do Brasil é um ato explicitamente abolido.

A emboscada covarde dos PMs em Paraisópolis deixa isso bastante claro. As imagens que circulam na internet sobre essa barbárie, não nos deixam mentir.

Quando Moro reapareceu nesta segunda-feira (02) em seu twitter, ao invés de repudiar a morte de cada criança e jovem massacrados pelo aparelho repressivo do Estado, escolheu a promoção política sobre o mesmo fato, silenciando-se sobre o extermínio e estampando o apoio em outdoor, como se vê na imagem aqui, mostrando que a joia da coroa do seu projeto “excludente de ilicitude” será cada vez mais a sua bandeira para pegar em cheio o coração de uma grande parcela das classes média e alta brasileiras.

Isso não deixa dúvidas de que o terrorismo de Estado contra pobres e negros nesse país será com um estado de exceção permanente durante o governo Bolsonaro e a gestão de Moro no Ministério da Justiça.

É o Ministério da Justiça aparelhado pelo esquadrão da morte como modelo cívico, cultural e político do Brasil.

Moro, com isso, mostra muito mais do que a indiferença pelas camadas mais pobres da população, mostra, sobretudo, que seu projeto autoritário se agrava perigosamente contra os mais pobres para agradar às classes economicamente dominantes.

Certamente, Moro já fez as contas e pesquisas, já tomou pé da situação e viu o quanto pode lucrar politicamente com cada corpo de jovem e criança tombado com o terrorismo de Estado orquestrado por ele.

Seu silencio sobre a chacina dos jovens é proposital, na verdade, é uma exaltação ao extermínio de pobres e negros que carrega o nome técnico de “excludente de ilicitude” que, extraoficialmente, entrou em vigor com a sua chegada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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O racismo oficial do governo Bolsonaro na boca de Sérgio Nascimento de Camargo

Usar um negro como escudo dos racistas a favor do racismo, não é novidade no Brasil.

Sérgio Nascimento de Camargo, que Bolsonaro colocou para presidir a Fundação Palmares, é um negro como Fernando Holiday e Helio Negão.

Os três gozam da simpatia de todos os racistas brasileiros, por negarem que exista preconceito contra os negros no Brasil.

Mas Sérgio Nascimento de Camargo aumentou o tom racista para ser o representante oficial de Bolsonaro na Fundação Palmares, como ele mesmo faz questão de frisar.

Militante de direita já defendeu o fim do feriado da Consciência Negra e atacou Taís Araújo e Marielle Franco, assim como Martinho da Vila e Lázaro Ramos, como não poderia ser diferente, como é comum no racista, atacou também o principal alvo dos racistas, Zumbi dos Palmares.

Isso, sem falar no maior de todos os disparates dessa figura que afirmou, que a escravidão no Brasil fez bem aos negros.

Sergio é filho do jornalista, escritor, poeta, Oswaldo de Camargo que tem uma obra vasta sobre a importância dos negros na construção da sociedade brasileira.

Filho de colhedores de café analfabetos, Oswaldo de Camargo, aos 83 anos é coordenador de literatura do Museu Afro Brasil. Ou seja, Bolsonaro teve a clara intenção de afrontar militantes negros como o próprio pai Sergio, Oswaldo de Camargo.

Poderíamos traçar aqui a lista das cidadanias mutiladas nesse país através das oportunidades de ingresso negadas aos negros na remuneração do seu trabalho, nas oportunidades e promoções, na localização da maioria da moradia dos negros e, agora, mais do que nunca, a mutilação da circulação, o direito de ir e vir sem que seja, pelo simples fato de ser negro, abordado pela polícia, quando não morto por uma bala de fuzil de um agente do Estado, como aconteceu com a menina Ágatha de oito anos e tantos jovens negros, fatos que fazem do atual governo do estado do Rio de Janeiro o mais assassino da história.

Mas o que dá para entender no preconceito, racismo e discriminação propostos por Bolsonaro, através da nomeação de Sergio Nascimento de Camargo para a Fundação Palmares, é que nem a suposta cordialidade deve ser assegurada aos negros no Brasil, que fará individualidade e cidadania.

O negro tem que estar resumido à corporalidade como dado objetivo do racismo do governo Bolsonaro. O corpo do homem negro passa, a partir desse conceito, a ser considerado um inimigo oficial do Estado, sem direito à consciência e, muito menos a reivindicar alguma coisa.

A instrução superior não deve ser garantida, menos ainda a personalidade forte, ou seja, Bolsonaro quer um Estado de exceção aos negros, um apartheid tropical e, no máximo, a eles é permitida uma integração casual na sociedade. Tudo tem que ser visto, a partir de então, pelos olhos, pelo pensamento racista do Presidente da República.

O cálculo de colocar um negro para vocalizar o racismo doentio do psicopata que preside esse país, é simples, sendo ele um negro, pode usar os espaços e microfones oficiais para dizer à sociedade que o que se passa com os negros no Brasil não é racismo, não é preconceito, não é nada do que o movimento negro diz, mas sim uma vitimização, por que, aos olhos de Bolsonaro, tudo o que acontece de ruim aos negros é culpa dos próprios negros que, por sua vez, querem ser diferentes para viver de privilégios.

Com isso, não há dúvida de que a situação do racismo no Brasil vai piorar, e muito, porque Bolsonaro usa elementos característicos do nazismo para condenar os negros a uma condição inferior e afirmar, através de um projeto de imposição pró racista, a superioridade de uma minoria ínfima de brancos num país de maioria de negros.

Por isso Bolsonaro colocou Sergio Nascimento de Camargo na Fundação Palmares para lhe servir de boneco de ventríloquo.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Professor negro agredido diz: “As pessoas perderam a vergonha de serem racistas”

No Dia da Consciência Negra, Juarez Xavier, 60 anos, foi chamado de macaco e golpeado duas vezes com um estilete por um desconhecido.

O professor universitário Juarez Xavier, 60 anos, dá aulas no curso de Jornalismo na Unesp (Universidade Estadual Paulista) desde 2011. Querido por estudantes e colegas da universidade, Juarez é aguerrido na militância da luta antirracista, tanto que coordena o Núcleo Negro da universidade. Nesta quarta-feira (20/11), Dia da Consciência Negra, o professor foi vítima de racismo e de agressão de um desconhecido.

Juarez foi chamado de “macaco” na rua. Ao tirar satisfação, ele levou dois golpes de estilete e cinco pontos nos dois ferimentos (três nas costas e dois no ombro). Mais do que os ferimentos físicos, o professor conta que o caso evidencia a “intolerância tirada das cavernas”.

“É um ato absurdo e estimulado pelas eleições passadas. As pessoas perderam a vergonha de serem racistas e preconceituosas”, define Juarez à Ponte.

Pergunta. Em qual momento aconteceu a ofensa e a agressão?

Resposta. Eu estava voltando do médico, fui marcar uma consulta. Vinha andando para casa em Bauru e esse homem estava apontando algo para mim, parecia uma chave de carro ou controle de portão. Fiquei aguardando ele passar por mim, estava sendo muito ofensivo, fiquei olhando para ele. Em seguida, atravessou a rua, levantou as mãos e me chamou de macaco. Minha reação foi a de tirar satisfação para saber por qual motivo ele tinha me chamado daquela forma. Aí ele já virou com a faca na mão. Veio para me agredir, tentei contê-lo, joguei no chão e segurei as mãos, só depois vi que tinha sido acertado no ombro esquerdo e do lado direito das costas. Na hora não consegui ver. Chegaram as pessoas, ele foi contido, preso, e eu fui para a UPA fazer todo o tratamento e, em seguida, registrar o boletim de ocorrência.

P. Qual a gravidade dos ferimentos?

R. Uma surpresa ele não ter me atingido dessa forma, não foram profundos, coisa de dois centímetros. Pegou no músculo do braço e na parte superior nas costas, perto de áreas de vulnerabilidades. Um palmo para cima e era no meu pescoço. Seria algo mais grave. Os médicos classificaram as lesões como de porte médio. O tratamento é tranquilo, ontem [quarta-feira] fizeram ponto, três nas costas e dois no braço, estou tomando medicamento e aplicaram vacinas antitetânicas e outras. É um procedimento básico feito com feridas de armas brancas. Passei por tudo, as pessoas foram super atenciosas. Não estou tendo dor, mas quando baixou a adrenalina tive desconforto.

P. É mais impactante a agressão ter acontecido no Dia da Consciência Negra? Juarez logo após notar que havia sido ferido com um estilete.

R. Foi grave e na data… Foi mais emblemático por isso. Tive uma surpresa. Quando ele me xingou, pensei que se tratava de provocação banal no Dia da Consciência Negra. Eu tinha postado uma palavra de ordem internacional nas redes sociais, que diz: “macaco é macaco, banana é banana, e racismo é crime”. Não era uma pessoa que eu conhecia nem nada. Houve série de reportagem dizendo que chamar negros de macaco é ofensivo, o que pode ter estimulado ele a fazer o que fez. Foi um ato de provocação ostensiva em pleno dia. Ele sabia a natureza do dia, sabia como poderia ser ofensivo. Chamou a atenção como aconteceu e eu agi como qualquer militante antirracista agiria: fui tirar satisfação. Não imaginei que ele pudesse estar armado. Não quis ficar de costas, poderia ser pior. Lembrei do que aconteceu com o Mestre Môa [morto por um eleitor de Jair Bolsonaro na Bahia]. Tentei conter, pensei que tivesse sido bem sucedido, mas não senti absolutamente nada. E, quando fui tomar um copo d’água, vi que estava sangrando. É uma situação de grande estranhamento, mas entendendo a natureza do racismo do Brasil, essa coisa estrutural, isso tem afetado negros no país todo.

P. O que aconteceu com seu agressor?

R.Teve audiência de custódia. Fui informado que o rapaz pagou fiança e saiu. É algo extremamente grave estar em liberdade e nós vamos manter o argumento de que foi uma tentativa de homicídio atrelada ao crime de racismo, que é um crime inafiançável. Ele respondeu por lesão corporal e injúria racial, pagou um salário mínimo [R$ 998,00] e está de volta às ruas.

P. Você considera que o discurso de ódio e ataques que dominou o período eleitoral e se manteve em seguida incentiva este tipo de atitude?

R. Não tenho dúvida! É um fenômeno mundial desde 2008: a Alemanha tem tido isso com partido nazifascista, aconteceu na Itália e foi assim no Brasil. O tratamento dado pela imprensa foi ruim em captar essa extrema direita da forma como fez. Estimulou as pessoas a perderem a vergonha de serem racistas e preconceituosas. Tem um artigo na Folha de São Paulo, do deputado federal Hélio Lopes (PSL-SP), negando racismo no Brasil. Isso só mostra como é necessário haver o enfrentamento da questão racial. As eleições estimularam esse grupo, deram argumentos e criaram coragem para saírem das cavernas. É uma intolerância tirada das cavernas. É um ato absurdo e, sem dúvida, estimulado desde as eleições presidenciais. É fundamental para a defesa do estado democrático de direito garantir os direitos da população negra. O combate ao racismo é importante com políticas públicas que assegurem, também, as lutas de enfrentamento ao machismo, mantenham todas as conquistas dos negros, mulheres, LGBT+, etc. Precisamos manter e alcançar mais conquistas.

 

 

*Do El País

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O novo partido criado por Bolsonaro terá o racismo como principal plataforma

Alguém viu Bolsonaro repudiar a atitude racista do Deputado Coronel Tadeu e o discurso também racista do Deputado PM Daniel Silveira? Não.

O espetáculo de discriminação protagonizado pelos dois, repudiado pela maioria dos brasileiros, encontrou eco numa parcela da classe média que não admite que o negro seja um cidadão.

Isso aconteceu no mesmo dia em que a perícia constatou que a bala que matou a menina Ágatha de oito anos, negra, veio da arma de um PM.

O que há de novidade nisso? Nada, em um país onde a injustiça secular contra os negros não é verdadeiramente um assunto em que o Estado trata com a devida urgência, ao contrário, no Rio de Janeiro, o governador Wilson Witzel trata uma questão tão grave como uma aquisição política de seu currículo, pior ainda por se tratar de um ex-juiz. Isso dá a dimensão do racismo no Brasil.

Na verdade, nesta terça-feira (19) tanto o Coronel quanto o PM, que estão deputados, praticamente proclamaram o lançamento do partido de Bolsonaro com múltiplos slogans racistas e querem que os negros aceitem tranquilos o discurso dos dois como oficial, como se fosse uma evolução da sociedade.

Num país sério, os dois sairiam algemados e perderiam os mandatos por crime de racismo, mas ao contrário, como se vê na foto, comemoram no plenário da Câmara dos Deputados o racismo como profissão de fé, dizendo que isso, através de suas interpretações, não é racismo.

Dentro da proposta dos dois o preconceito contra os negros não existe na PM, preconceito muito bem retratado pela obra de Latuff, ignorando que essa força policial multiplicadora de racismo foi criada pelo império para proteger escravocratas contra os escravos. Por isso, no brasão da corporação o desenho de um pé de cana e, outro, de café, é um símbolo claro de que a intolerância com os negros é a principal resposta da aliança do império com os senhores das fazendas de café e cana de açúcar.

Em um país de pouco mais de cinco séculos em que quatro deles a escravidão era oficial, ou seja, o racismo foi incorporado como um dos principais pilares de sua civilização, manter a essência da PM através de seu brasão, é manter o discurso do racismo imperial contra os negros nos dias atuais.

Certamente ninguém vai cobrar dos dois mastodontes racistas que eles tenham capacidade intelectual para entender essa lógica. Por isso, seguiram nas redes sociais produzindo discursos ainda mais racistas para justificar seus atos que, inacreditavelmente, foram praticados dentro da Câmara dos Deputados.

Na realidade, não há qualquer dúvida de que eles falavam em nome do novo partido criado por Bolsonaro do qual os dois certamente serão parte e querem ter o direito de reivindicar a liberdade da intolerância, do racismo e do preconceito sem serem acusados de racistas, assim como a PM ostenta um símbolo de racismo do império em seu brasão, mas não aceita ser considerada uma corporação racista. E assim ela adestra seus feitores em pleno 2019.

 

 

*Carlos Henrique Machado Freitas