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‘Irresponsabilidade é de quem aumenta a taxa de juros todo dia’, diz Lula, em crítica ao BC

“Ninguém nesse país, do mercado, tem mais responsabilidade fiscal do que eu”, disse o presidente.

O presidente Lula deu entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, que foi ao ar na noite deste domingo (15). Ele teve alta do Hospital Sírio-Libanês após passar seis dias internado. Entre os temas abordados pela entrevistadora, a jornalista Sonia Bridi, estava a reação negativa do chamado “mercado” ao pacote de corte de gastos proposto pela equipe econômica e o questionamento à responsabilidade fiscal do governo.

O presidente respondeu em tom de impaciência. “A única coisa errada nesse país é a taxa de juros estar acima de 12%. Essa é a coisa errada. Não há nenhuma explicação. A inflação está 4 e pouco. É uma inflação totalmente controlada, totalmente controlada. A irresponsabilidade é de quem aumenta a taxa de juros todo dia. Não é do governo federal”, argumentou, em referência às decisões do Banco Central.

Sobre a intenção de sua equipe de adequar os gastos às receitas, Lula criticou as teses elaboradas pelos agentes financeiros para desgastar o governo.

“Ninguém nesse país, do mercado, tem mais responsabilidade fiscal do que eu. Não é a primeira vez que eu sou presidente da República. Eu já governei esse país e entreguei esse país crescendo 7,5%. Entreguei esse país com a massa salarial mais alta desse país. Entreguei esse país numa situação muito privilegiada. É isso que eu quero fazer outra vez”.

Lula e Sonia Bridi no Fantástico

Lula diz que está “totalmente bem”
Lula garantiu que as medidas de ajuste não estão sendo tomadas em função do que deseja a Faria Lima, mas de acordo com as diretrizes da equipe econômica.

“Não é o mercado que tem que se preocupar com os gastos do governo. É o governo. Porque se eu não controlar os gastos, se eu gastar mais do que eu tenho, sabe quem vai pagar? O povo pobre”, explicou.

Sobre o estado de saúde, Lula admitiu que ficou assustado por ter que passar por um novo procedimento médico na cabeça, mas que agora está “totalmente bem”. Segundo ele, a recomendação médica é evitar esforços físicos, como a ginástica, que ele costuma praticar.

O presidente garantiu que vai se poupar nos próximos 60 dias.

Há seis dias, o presidente passou por uma bateria de exames no Hospital Sírio-Libanês, ainda em Brasília, que constatou, segundo o próprio Lula, “um volume de crescimento da quantidade de líquidos na minha cabeça”. Foi então que o presidente acabou sendo encaminhado para a unidade do hospital, em São Paulo, na terça-feira de madrugada, para uma cirurgia de emergência.

Só depois da cirurgia, afirmou ter tomado ciência da gravidade de seu estado.

“Só fui ter noção da gravidade já depois da cirurgia pronta. Mas eu estou tranquilo, me sinto bem”, afirmou o presidente, à saída do hospital.

 

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Depois de Braga Netto, Heleno deve ser o próximo alvo da PF, avalia cúpula das Forças ArmadasA caserna já espera novas operações da Polícia Federal contra militares envolvidos na tentativa de golpe

A caserna já espera novas operações da Polícia Federal contra militares envolvidos na tentativa de golpe

A cúpula das Forças Armadas está cada vez mais apreensiva com as investigações da Polícia Federal (PF), que podem resultar na inclusão de mais militares em futuras operações relacionadas a suposta tentativa de golpe de Estado para impedir a posse do presidente Lula (PT) e manter Jair Bolsonaro (PL) no poder.

Segundo o jornalista Valdo Cruz, do g1, um dos nomes mais cotados para ser implicado é o do general Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo do ex-mandatário, que já foi indiciado no inquérito sobre o golpe. Além disso, as autoridades acreditam que os militares já presos, incluindo integrantes das forças especiais, os chamados “kids pretos”, possam implicar outros colegas que estariam envolvidos no planejamento da ação golpista.

De acordo com a reportagem, o receio de novas operações que tenham militares como alvos gerou discussões na cúpula das Forças Armadas durante o último fim de semana, especialmente após a prisão do general Braga Netto, ex-ministro da Defesa do governo Bolsonaro, e a operação de busca e apreensão realizada na residência de seu ex-assessor, coronel Flávio Botelho Peregrino. Braga Netto foi detido no Rio de Janeiro e está preso na sede do Comando Militar do Leste.

Embora os militares reconheçam que a prisão de um general de quatro estrelas é prejudicial para a imagem do Exército, eles argumentam que Braga Netto já não se comportava como um militar, mas sim como um político. Nesse contexto, ele teria se envolvido diretamente nos preparativos do golpe durante o governo Bolsonaro, fato que inclui sua filiação ao PL, partido ao qual estava vinculado e com o qual mantinha estreitos laços com o ex-mandatário e o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto.

As investigações em andamento revelaram que o grupo de militares bolsonaristas mantinha documentos relacionados ao golpe, e agora, com a apreensão de pen drives durante a operação contra Braga Netto e Peregrino, novas evidências podem surgir.

A expectativa é de que esses materiais contenham informações sobre as articulações do golpe, além de detalhes sobre uma operação secreta para conter os danos resultantes da delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de jair Bolsonaro, e evitar que ele revelasse novas informações à PF.

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Prisão de Braga Netto é ‘golpe na extrema direita’ e Bolsonaro deve ser o próximo, avaliam especialistas

Mentor da tentativa de golpe de Estado, ex-ministro bolsonarista foi preso neste sábado (14) no Rio de Janeiro

A prisão do general Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil do governo Bolsonaro, neste sábado (14), é um “golpe na extrema direita brasileira”, avalia o cientista político João Feres, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Segundo o analista, essa ala da política nacional provavelmente tentará reagir ao fato, que traz como prenúncio a prisão de Bolsonaro.

Braga Netto foi preso pela Polícia Federal (PF), em Copacabana, no Rio de Janeiro. Ele havia sido indiciado no mês passado junto ao ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 35 pessoas por participar da tentativa de golpe de Estado no país. Em novembro, depois de ser indiciado no inquérito do golpe, Braga Netto disse que ‘nunca se tratou de golpe’. A defesa do general divulgou uma nota, na tarde deste sábado (14), em que nega obstrução nas investigações e que irá se manifestar no processo. Para Feres, a tática da ala bolsonarista será continuar negando os fatos que vierem à tona.

Para além das polaridades políticas que dividem o país, o pesquisador defende que a condenação exemplar dos responsáveis pelo golpe de Estado deveria ser encampada por toda a sociedade brasileira, em nome da defesa da democracia e da identidade nacional.

“Isso [golpe] poderia destruir o Brasil como comunidade política, como país, a identidade nacional. A gente não ia conseguir recuperar um status de respeitabilidade como um país democrático em 100 anos ou mais”, disse ao Brasil de Fato, que procurou especialistas para entender o que representa a prisão de um dos principais aliados de Bolsonaro e quais devem ser os rumos das investigações a partir de agora.

Na visão do historiador e professor titular no Instituto Federal de São Paulo (IFSP) Valério Arcary, a detenção de Braga Netto sinaliza que a “luta contra a extrema direita continua sendo o centro da tática política hoje no Brasil”. Mas alerta: “A investigação não pode ser interrompida na responsabilização de Braga Netto. Ela tem que avançar até o organizador, liderança e mandante de todo o projeto golpista, que é Jair Bolsonaro”.

Já Clarissa Dri, cientista política e pesquisadora do Instituto de Memória e Direitos Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), avalia que a prisão do ex-ministro de Bolsonaro é uma tentativa das instituições brasileiras de manter o regime democrático frente à “narrativa ditatorial, autoritária e de ofensa aos direitos humanos” colocada pela extrema direita.

“Os riscos que a democracia brasileira corre com a extrema direita não são ilusórios, são riscos reais, não é só discurso, não é só discurso a favor de ditador, não é só discurso a favor de torturador, é prática golpista, é prática violenta. É isso que essas investigações são mostrando”, explica Dri.

Quanto à prisão de Bolsonaro, ela não descarta que “ele deve ser um dos próximos alvos”. “A gente vai precisar de provas, o sistema jurídico precisa de provas, mas os indícios que a gente tem visto pela imprensa até o momento mostram esse envolvimento”, complementa Dri.

O jornalista e analista político Igor Felippe Santos também acredita que a prisão de Braga Netto abre caminho para que o mesmo aconteça a Bolsonaro. Ele destaca a “força e a robustez do inquérito da Polícia Federal”, que fez movimentar as instituições judiciais.

“O inquérito da Polícia Federal demonstra que o Bolsonaro não só participou como coordenou a ação golpista para impedir a posse do Lula e do Alckmin e para retirar do STF [Supremo Tribunal Federal], o Alexandre de Moraes, por meio do assassinato de três lideranças”, afirma Santos.

“A prisão do Braga Netto demonstra que o sistema de justiça está avançando no sentido de punir os militares, generais de alta patente que estão envolvidos nesse crime. E sinaliza que o Bolsonaro, por ter deixado as digitais dele em todo esse processo, também será punido, julgado e pode ser preso”.

Segundo Valério Arcary, após a “vitória democrática” deste sábado (14) é tarefa da esquerda liderar uma frente com maioria social para que o golpismo não permaneça impune. “Essa é a campanha política central”, arremata.

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Por que a bruxa está enfezada

Se Braga Neto dançou, imagina o ciscalho de carvão miúdo na cadeia fascista do golpe.
Esse rebotalho, não será varrido pra baixo do tapete.

Bia Kicis sabe disso.

Daí seu faniquito com a prisão do braço direito de Bolsonaro na tentativa de golpe.
Ainda tem muita lanha para queimar nessa fogueira. Financiadores divindades do intermúndio que ficaram de bicho escondidas no oco das árvores.

Essa gente toda, que ficou naquela zona morta, em lugares estratégicos, mas ermo e solitário na teia golpista, vai ser alcançada. A ver..

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Eles ainda estão aqui

No dia internacional dos direitos humanos, é imprescindível refletir sobre o papel dos militares na democracia brasileira.

“Incompleta” ou “inacabada” são adjetivos comumente utilizados para descrever a transição democrática brasileira. Muitos aspectos poderiam ser levantados para tal caracterização, mas, sem dúvida, um dos mais centrais refere-se ao papel que as Forças Armadas devem cumprir para que seja definitivamente concretizada a nossa passagem ao prometido Estado Democrático de Direito.

A celebrada redemocratização veio sem o efetivo controle civil das forças militares. Este sonho, dolorosamente adiado pelo processo de anistia “à brasileira”, chancelado pelo Supremo Tribunal Federal, implicou na ausência de responsabilização de militares pelos bárbaros crimes realizados durante a ditadura, como o cometido contra Rubens Paiva e sua família, cujo delicado relato cinematográfico tem levado milhões às lágrimas. E trouxe, ainda, outros legados perversos: uma Polícia Militar que sorve da mesma gramática de sangue, promovendo chacinas, execuções à queima-roupa — e que chega a lançar pessoas de pontes em plena luz do dia.

O controle externo, civil, social de todas as forças militares brasileiras está há décadas no topo da agenda democrática brasileira, e bate novamente à porta do Supremo Tribunal Federal. Lá vemos hoje algumas possíveis oportunidades para que a Democracia brasileira possa coser suas rupturas. O indiciamento de militares de alta patente, envolvidos no plano bolsonarista de golpe de Estado, é um feito inédito. A Justiça Militar, outro perverso espólio dos anos de chumbo, tem sua competência questionada em diferentes ações de controle de constitucionalidade — e já foi objeto de condenação do Brasil perante a Corte Interamericana. Na ADPF das Favelas, a cobrança sobre a atuação do Ministério Público, para que efetivamente exerça seu papel constitucional de controle das polícias, é um ponto crucial para qualquer avanço democrático.

Mas não só de juízes togados se faz uma democracia. É preciso que medidas de controle das forças militares sejam também objeto de engajamento efetivo por parte do Executivo, de pressão dentro das casas legislativas, que seja tratado com a devida responsabilidade pela mídia, e ganhe os espaços cívicos. No dia dedicado internacionalmente aos direitos humanos, reforcemos, todos, o compromisso de que o debate sobre os militares no Brasil seja sobre as lágrimas que correm nas salas de cinema, mas também sobre as que correm nas favelas e periferias de nossas cidades.

Acendam as luzes, subam os créditos. Já é passada a hora da escrita de um novo capítulo.

*Tarcísio Motta/ICL

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Os voos secretos de Derrite

Em meio à brutalidade policial, o secretário de Segurança de São Paulo agita sua vida social a bordo de aeronaves privadas

Na manhã do dia 5 de dezembro, quinta-feira, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, chegou ao setor de jatos executivos do Aeroporto de Brasília. Eram 9h20. Ele vestia calça social, camisa azul-claro e sapatênis e estava acompanhado do seu ajudante de ordens, o major Henrique Urbano Hanser Salles, do deputado Maurício Neves (PP-SP), do empresário José Romano Neto, o Zeca, e até de um membro do governo Lula, o atual titular da Secretaria Nacional de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano, Carlos Roberto Queiroz Tomé Junior. O clima era de descontração. Neves usava camiseta, bermuda e sandália. Como se pode ver nas fotos feitas pela piauí, a comitiva sorria ao subir a escada do avião.

A aeronave pousou no São Paulo Catarina Aeroporto Executivo Internacional, localizado na cidade de São Roque, a 53 km da capital paulista. O Catarina é o lugar onde famílias abastadas mantêm suas frotas de avião. Quando esteve em Brasília, Derrite participaria de um encontro de dois dias entre secretários de Segurança Pública de todo o país. Mas só compareceu no fim do primeiro dia e não apareceu mais. Neste período, teve uma reunião com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que também estava em Brasília, para onde voou de transporte oficial.

A aeronave que Derrite usou é um jato Bombardier Global 5000, prefixo PS-STP. Tem dezesseis lugares e custa cerca de 50 milhões de dólares. Pertence a duas empresas de amigos de Derrite. A G5K Participações, cujo dono é Sérgio Comolatti, e a Farm Empreendimentos Imobiliários, de propriedade de Zeca Romano. São homens de negócios. Comolatti tem um conglomerado de empresas do setor de peças automotivas e concessionárias, além de ser dono do restaurante Terraço Itália, no Centro de São Paulo.

Zeca Romano, por sua vez, é filho de Maria Beatriz Setti Braga, presidente do Auto Viação ABC, uma das principais empresas de transporte de ônibus em São Bernardo do Campo. Zeca costuma ser chamado de “príncipe dos transportes”. Membro de uma das famílias mais ricas da região do ABC paulista, Zeca também é sócio de uma administradora de cartões usados para pagar transporte público e de uma construtora. (Os dados da Agência Nacional de Aviação Civil não informam desde quando Comolatti e Zeca dividem o Bombardier.)

Zeca Romano tem boas relações em Brasília. Em junho do ano passado, quando inaugurou uma nova fábrica de ônibus elétricos no ABC paulista, recebeu, ao lado de sua mãe, uma comitiva de prestígio, integrada pelo presidente Lula e seu vice, Geraldo Alckmin, além dos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Luiz Marinho (Trabalho). Em geral, Zeca Romano prefere a discrição, mas uma exceção aconteceu em maio de 2013, quando bateu sua Ferrari de 2 milhões de reais, modelo 458 Spider, na Marginal Pinheiros, em São Paulo. O acidente virou notícia não só pelo carrão, mas também porque o motorista deixou o local às pressas, antes que a polícia chegasse.

Enquanto voava nas asas dos amigos, Derrite enfrentava uma gravíssima crise de segurança pública, depois da revelação de uma sequência de casos de violência policial que chamaram a atenção pela brutalidade. Uma criança de 4 anos foi morta pela polícia durante um alegado confronto, e depois agentes causaram tensão ao comparecer ao velório, um gesto de intimidação segundo um ouvidor da PM presente; um dependente químico levou onze tiros – pelas costas – de um policial à paisana quando tentava furtar sabão líquido; um homem rendido foi jogado de uma ponte por um policial; e uma mulher de 63 anos ficou sangrando em sua casa depois de ser agredida por policiais porque sua família questionou a apreensão da moto que estava na garagem de sua casa. Em novembro, houve ainda um caso de grande repercussão: o atentado a tiros de um empresário em pleno aeroporto de Guarulhos, sob encomenda do PCC.

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A piauí perguntou a Derrite por que ele voou de favor, a bordo de um jato de amigos, ao fim de um compromisso oficial em Brasília. A resposta trata sua presença em Brasília como se fosse um “deslocamento particular” e uma “viagem de caráter privado”. Diz o seguinte: “Os deslocamentos do secretário em compromissos oficiais são devidamente informados no Diário Oficial do Estado.

O uso de aeronave particular não configura qualquer irregularidade. Em relação aos deslocamentos particulares, as viagens do secretário são de caráter privado, custeadas sem uso de verba pública. Em todos os casos, não há quaisquer conflitos com o interesse público.”

 

Orecente voo de Derrite nas asas de amigos poderia ter sido uma exceção, mas está virando um hábito. No feriadão de Sete de Setembro do ano passado, Derrite e seu amigo Zeca Romano foram a um evento social em Trancoso, no litoral da Bahia, onde também estava Guilherme Mussi, o ex-deputado federal pelo PP que hoje se dedica aos negócios da família. A piauí não obteve informações seguras sobre como Derrite viajou até lá, mas é certo que voltou para São Paulo a bordo do Cessna Citation modelo CJ3+ (525B), prefixo PR-RCF, de propriedade de Mussi. O jato, com capacidade até nove passageiros, pousou no Campo de Marte e ficou por 24 horas estacionado de favor no pátio da Polícia Militar, a corporação da qual Derrite é chefe. Assim, não pagou o estacionamento no pátio.

Procurado pela piauí, Guilherme Mussi afirmou que Congonhas estava sem espaço, razão pela qual mudou a rota para o Campo de Marte. “Nunca emprestei avião para Derrite nem para ninguém voar sozinho. Só dou carona ao secretário nas vezes em que também estou no voo. Ele era meu colega de Congresso, veio comigo de Brasília até São Paulo algumas vezes, assim como deputados de diversos partidos.”

O favor prestado por Derrite não parou por aí. No fim de semana em Trancoso, na Bahia, a companheira de Zeca Romano, então grávida, sentiu-se mal e precisou ser socorrida. Na madrugada do dia 7 de setembro, o casal então voou no Bombardier de volta para São Paulo. Pousou no Catarina e embarcou em seguida num helicóptero, rumo ao heliponto do Hospital Albert Einstein, no bairro do Morumbi. O helicóptero era o Águia 33, prefixo PR-UBI, que pertence à Polícia Militar. Não existe equipe de resgate noturno da PM paulista. Ela só trabalha em resgate aeromédico do nascer ao pôr do sol – ou seja, outras pessoas com problemas urgentes de saúde não teriam acesso ao serviço naquele horário. Mas Derrite colocou o helicóptero à disposição dos amigos, com dois pilotos, um médico e um enfermeiro a bordo.

Os caminhos de Derrite e seus amigos têm se cruzado com frequência, por ar e por terra. Entre os dias 10 e 13 de outubro, Derrite tirou uma licença do cargo para “empreender viagem à Itália, a fim de tratar de assuntos de interesse particular”. Era seu aniversário de 40 anos. Ele resolveu comemorar em Taormina, na Sicília. Eis que também havia outras três festas que – por uma tremenda coincidência – aconteciam justamente em Taormina, na Sicília: o casamento de uma irmã de Zeca Romano, o aniversário de Laila, mulher de Zeca Romano, e o aniversário de Guilherme Mussi. Quatro festas em uma.

Segundo um dos convidados, que não botou a mão na carteira, a mãe de Zeca, a empresária Maria Beatriz, pagou a acomodação para todos os convidados do casamento da filha. A hospedagem deu-se num luxuoso hotel de Taormina, o Four Seasons, cenário da segunda temporada da série The White Lotus, da HBO. Entre os convidados hospedados a convite da família Romano estava Derrite. Em seu Instagram, ele não postou nada das festas – nem da mesa cheia de amigos que cantou parabéns para Mussi com vista para o Etna –, mas publicou uma imagem diante da igreja Duomo di Taormina. Perfis de outros convidados mostram a turma cantando Parabéns a Você para Derrite e Laila Romano. As redes também registraram nas festividades de Taormina a presença do delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Artur José Dian, outro amigo e subordinado de Derrite; do deputado Maurício Neves; do ex-governador paulista João Doria, desafeto dos bolsonaristas e tarcisistas; o senador Ciro Nogueira, do Progressistas; o ex-ministro de Jair Bolsonaro Fábio Faria; e do secretário petista Carlos Roberto Queiroz Tomé Junior.

Recentemente, houve outra coincidência notável. Na manhã do dia 22 de novembro, uma sexta-feira, Derrite pousou no Catarina. Vinha de Florianópolis, a bordo de um King Air da PM paulista. Na capital catarinense, ele havia participado de um encontro da área de segurança. Chegou a São Paulo antes das nove da manhã e – eis a coincidência – meia hora depois um avião levantou voo do mesmo aeroporto: era o Bombardier Global 5000, dos seus amigos Comolatti e Zeca Romano.

O jato decolou do Catarina com destino à bela Barra Grande, na divisa do Piauí com o Maranhão, onde o senador Ciro Nogueira comemorava seu aniversário com uma festa de arromba com vista para as dunas e o mar. Derrite comentou com diversos amigos que iria ao Piauí naquele final de semana. A piauí consultou o secretário para saber se, de fato, esteve na festa do senador e como se deslocou até lá. Ele não respondeu. Procurados, Zeca Romano, dono do Bombardier que voou para Barra Grande, Ciro Nogueira, o aniversariante, tampouco quiseram falar. O secretário de Lula, Tomé Júnior, também não.

Aescalada da violência policial não freia a agenda social de Derrite. No dia 8 de novembro, poucas horas depois de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, empresário e delator do PCC, ter sido executado com dez disparos de fuzil no Aeroporto de Guarulhos, Derrite partiu para a praia de Maresias, no litoral norte de São Paulo. Foi celebrar o aniversário do deputado Maurício Neves. Também estavam na festa Artur Dian, o delegado-geral da Polícia Civil, e Fabio Bopp, chefe do Grupo Especial de Reação. O cantor Latino, enquanto entoava a música Conquista, de Claudinho & Buchecha, saudou o secretário que estava na pista de dança: “Bora, Derrite!”

No dia 6 de dezembro, sexta-feira, estava marcada uma reunião de Derrite com todos os coronéis da polícia paulista, às 8h30. O tema era a barbárie que a polícia vem promovendo em São Paulo, desde o massacre no Guarujá, ocorrido no ano passado, que oficialmente a polícia diz ter resultado em 84 mortos. Especulava-se que o secretário anunciaria a demissão de Cássio Araújo de Freitas, o comandante-geral da PM, como forma de dar uma resposta à opinião pública diante da escalada da violência policial. A reunião, no entanto, foi cancelada de última hora.

*Piauí

 

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Mercado ataca Lula porque não tem candidato da Faria Lima à altura para disputa eleitoral de 2026

Arthur Lira, quando diz que a direita só tem um defunto político como Bolsonaro pra representar a direita, ele banca o coveiro da Faria Lima.
Detalhe: ele está com a razão. A direita não tem outro troço qualquer para “causar” em 2026.

Bolsonaro é um celular sem bateria. Não pode e não será candidato a nada, Até porque não existe eleição na Papuda.

Sentindo isso, o mito tonto, hoje, um reles condenado ao nada, com sua pena que não será menor que trinta anos de cadeia, vive de frases funestas que não encantam nem adoradores de pneus e convocadores de ETs.

Esse produto acabou, apodreceu, putrefazeu!
Tarcísio não é candidato nem do clã. Marçal, sequer terá aquele sucesso que vinha tendo (segundo o cascata) no mundo dos negócios, que fará na política.

Assim, a Faria Lima, numa bofetada de realidade que tomou da vida, sabe que Lula nunca foi tão destinado a se manter sentado na cadeira da presidência. Então os “gênios”, do mercado resolveram ser eles mesmos a oposição de direita que hoje não tem bala pra enfrentar Lula, que tem imagem internacional cada dia maior e mais forte. Só isso….

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É hora de investigar o cartel que manipula o câmbio, por Luís Nassif

O cartel da Faria Lima é uma organização que pratica crime de cartel e de atentado aos direitos coletivos

Seria conveniente que a opinião pública brasileira – mídia, agência reguladora, Ministério Público e Polícia Federal – começassem a se preparar para o grande desafio contemporâneo da política e da economia brasileira: a investigação sobre o cartel da Faria Lima.

Vamos a algumas definições iniciais para não generalizar.

Não se trata da Faria Lima nem da indústria dos fundos como um todo. Aliás, para os enormes lucros do cartel houve prejuízos de todos os que estavam na ponta contrária, além de fundos multimercados e investimentos em ações.

O cartel é um grupo restrito de grandes operadores, com poder de influenciar o mercado.

Sua forma de atuação é conhecida. Primeiro, investem em algum ativo considerado barato ou caro.

No episódio da semana passada, investiram em contratos de compra de títulos públicos. O valor dos títulos públicos pré-fixados corresponde ao valor de resgate (já conhecido), dividido pela taxa de juros do dia. Quanto maior a taxa, menor o valor do papel, e vice-versa: quanto menor a taxa, maior o valor do papel.

No início do ano, o mercado apostava em estabilização ou queda da taxa Selic. Havia um obstáculo pela frente: o Ministério da Fazenda alcançar ou não as metas propostas no regime de arcabouço fiscal. Pequenas variações para cima ou para baixo não seriam motivo para temores maiores.

De repente, analistas, economistas de banco, operadores, começam a trabalhar o terrismo fiscal, ajudado por uma mídia cúmplice. Passa-se a taxar de “gastança”

Em uma mídia parcial, sem espaço para vozes dissonantes, foi se formando o clima terrorista, adequado para o segundo tempo do jogo.

O tiro de partida foi a declaração do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em abril, sinalizando para uma mudança de rumo na política monetária. A Selic vinha caindo 0,50 em cada reunião do Copom. No máximo, o mercado apostava em uma redução da queda para 0,25. Depois da virada de Campos, as expectativas começam a mudar.

O tiro final seria no dia do anúncio do pacote fiscal de Fernando Haddad. Na véspera deu-se o estouro da boiada, por motivo insignificante: a inclusão do pacote de isenção de Imposto de Renda para quem ganhasse até R$ 5 mil.

Não se entenda como o mercado como um todo. Parte expressiva do mercado pagou uma conta alta com as manipulações da semana passada. Fundos multimercados, investidores que venderam contratos de opções, foram vítimas do mesmo esquema do cartel.

O câmbio explodindo afetou todas as importações em curso, pressionou preços dos comercializáveis aumentando as apostas na elevação da inflação e num salto de até 0,75 pontos na Selic. Como não haverá superávit fiscal capaz de anular os impactos de tal salto da Selic na dívida pública, tem-se então governo, economia, investidores, economia real, consumidores, nas mãos de um cartel, que opera livremente, sem nenhuma expectativa de risco para inibir sua atuação.

O governo não conseguirá livrar-se dessa amarra, nem o Banco Central, mesmo sob a condução mais responsável de Gabriel Galipolo.

É hora de caracterizar o cartel da Faria Lima pela qualificação correta: é uma organização que pratica crime de cartel e de atentado aos direitos coletivos.

Mais que isso, provoca desconfiança em relação ao mercado financeiro, impõe perdas extraordinárias aos agentes do mercado que tiveram prejuízos expressivos.

Na Inglaterra, jogada semelhante com a libor não passou em branco.

 

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A dor que mais toca horror nos militares brasileiros

E o que Bolsonaro pode esperar

Que dor hoje mais assusta os militares brasileiros? A que atinge sua reputação de cultores da democracia que antes sabotaram ou simplesmente destruíram seguidas vezes? Ou a dor da perda de eventuais privilégios que se manifesta na altura dos bolsos?

Ambas as dores são recentes. A primeira lateja desde que a Polícia Federal indiciou 37 pessoas, 25 delas militares, nos crimes de tentativa de abolição violenta da democracia, golpe de Estado e organização criminosa. A segunda dor, por ora, é só uma ameaça.

O governo federal será obrigado a cortar despesas para pôr em ordem as contas públicas. E o orçamento das Forças Armadas não deverá ser poupado de cortes. Será estabelecida uma idade mínima para a passagem à reserva dos militares; hoje não há.

Em 2001, o presidente Fernando Henrique Cardoso extinguiu a pensão vitalícia para as filhas de militares, a promoção automática de quem passava à reserva, o auxílio moradia e o adicional de inatividade. À época, foi um Deus nos acuda na caserna.

Nunca um presidente da República ousara acabar de uma só vez com tantas conquistas da farda. Para a farda, Fernando Henrique foi o pior presidente do Brasil desde o fim da ditadura militar de 64. Bolsonaro certamente foi o melhor porque encheu seus bolsos.

Em 2001, o presidente Fernando Henrique Cardoso extinguiu a pensão vitalícia para as filhas de militares, a promoção automática de quem passava à reserva, o auxílio moradia e o adicional de inatividade. À época, foi um Deus nos acuda na caserna.

Nunca um presidente da República ousara acabar de uma só vez com tantas conquistas da farda. Para a farda, Fernando Henrique foi o pior presidente do Brasil desde o fim da ditadura militar de 64. Bolsonaro certamente foi o melhor porque encheu seus bolsos.

Os militares reconhecem que Lula e Dilma Rousseff jamais os apertaram onde mais pode doer; a birra deles com os dois é de natureza unicamente ideológica. Seriam dois comunistas perigosos, e Lula, aos olhos dos militares, ainda por cima corrupto.

Aos cochichos, admitem que Bolsonaro, com a ambição desmedida de enriquecer, atravessou a linha vermelha, avançou sobre o dinheiro público, fez fortuna e ensinou seus filhos a fazer. Ocorre que apesar disso, Bolsonaro sempre foi da confiança deles.

*Noblat

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O rastro de sangue de Guilherme Derrite

O secretário de Segurança de São Paulo, que lida com uma crise após uma série de casos de brutalidade policial, já foi investigado por ao menos dezesseis homicídios.

o dia 3 de novembro, um policial militar matou a tiros, pelas costas, um homem que tentava furtar pacotes de sabão líquido no bairro Jardim Prudência, em São Paulo. No dia 6, uma criança de 4 anos e um adolescente de 17 morreram baleados durante uma troca de tiros envolvendo policiais no Morro São Bento, em Santos. No dia 20, um estudante de medicina foi morto com um tiro à queima roupa durante uma abordagem policial na Vila Mariana. No dia 2 de dezembro, um policial jogou um homem de uma ponte na Vila Clara.

Esses episódios de violência, revelados em um intervalo de poucos dias, resultaram em uma nova crise de segurança pública. Chocam pela brutalidade, mas não surpreendem. Desde que assumiu a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, em janeiro de 2023, o ex-policial militar Guilherme Derrite deu sinais de que pretendia afrouxar os controles internos da PM. Já deu entrevista criticando colegas de farda que mataram menos de três pessoas em cinco anos de serviço. “É vergonhoso”, disse. Para ele, é pouco.

Antes de completar um mês no cargo, Derrite defendeu a ação de uma patrulha da Rota, a tropa de elite da PM, que disparou 28 vezes contra um Honda Fit, sob a justificativa de que seus três ocupantes iriam praticar um assalto na região central de São Paulo. Comprovou-se mais tarde, por meio de uma gravação em vídeo, que na operação um policial plantou uma arma ao lado de um cadáver para simular que houve confronto. No segundo mês à frente da Secretaria, Derrite cancelou a punição contra quinze agentes da Rota que tinham alto índice de letalidade. Em fevereiro deste ano, perdoou cerca de cinquenta PMs que estavam afastados do serviço de rua também por terem matado demais. Os anistiados trabalham em diferentes cidades. Derrite colocou todos de volta às ruas.

A piauí publicou, em maio, uma reportagem sobre a trajetória do secretário – o primeiro policial militar tão jovem e com patente tão baixa a assumir o cargo. A reportagem levantou arquivos com investigações sobre diligências e supostos confrontos com a participação de Derrite que resultaram em mortes, entrevistou parentes de vítimas e outras pessoas ligadas aos casos. O texto traz o depoimento de um matador que diz ter atuado em um grupo de extermínio em Osasco sob o comando de Derrite. Revela também que o secretário, em seu tempo na polícia, foi investigado por dezesseis homicídios. Isso não significa que ele tenha matado dezesseis pessoas, mas que participou de ações que resultaram nesse saldo de mortes. Derrite foi investigado em sete inquéritos, mas nunca foi denunciado.

Um dos inquéritos diz respeito a uma operação realizada, em 2012. Na época, policiais da Rota receberam a informação de que integrantes do PCC se reuniriam no estacionamento de uma casa noturna em São Paulo. Derrite pediu para comandar a operação. Foi uma catástrofe. Seis pessoas morreram e três policiais foram presos, sob a suspeita de torturar e matar um homem que, escondido sob um caminhão, viu e ouviu tudo o que aconteceu. O episódio entrou para a crônica policial como exemplo de um completo fracasso, do ponto de vista militar e dos direitos humanos, e ajudou a encerrar a carreira de Derrite. Ele foi afastado do patrulhamento e, menos de dois meses depois, foi convidado a deixar a Rota. Seus superiores entenderam que sua letalidade era alta demais.

O secretário permaneceu quase doze anos na PM, entrou para a reserva como capitão, elegeu-se e reelegeu-se deputado federal e foi vice-líder do governo Bolsonaro na Câmara. Hoje é uma das figuras mais proeminentes do entorno de Tarcísio de Freitas. Nesta quarta-feira (4), pressionado pelos acontecimentos recentes, o governador disse que não pretende exonerá-lo. Afirmou, em vez disso, que Derrite “está fazendo um bom trabalho”.

*Piauí