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Vídeo: Empresários adesivam caminhões, produzem bonés, camisetas e fardas

Empresários estão adesivando caminhões, produzindo bonés, camisetas e fardas.

É CRIME, campanha eleitoral antecipada. Se for dinheiro público, é CORRUPÇÃO, ROUBO. Se não for, é financiamento privado de campanha, que é CRIME.

Se investigar essas empresas, ACHA MUITA CORRUPÇÃO! (Thiago Brasil)

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Política

Em nome do combate à corrupção, um juiz corrupto colocou no poder uma família de corruptos

Uma das principais técnicas do neoliberalismo é patrocinar campanhas fascistas de assassinato de reputações.

Existem várias formas de se fazer isso, a mais conhecida é o lawfare que, em parceria com a grande mídia, foi usado a balde na Lava Jato contra Lula, mas não só contra ele, contra o PT, José Dirceu e Genuíno, expoentes do partido.

Lógico que figuras ligadas ao PT, como Delúbio Soares e João Vaccari Neto também sofreram dura perseguição de um judiciário de mercado.

Levando ao pé da letra, Moro é um aprendiz do mensalão, mais precisamente de Ayres Britto e, sobretudo, de Joaquim Barbosa, porque há uma assimetria gritante na condução de dois processos, um com absoluta ausência de provas contra o PT e, outro, no caso do PSDB, no que diz respeito à privataria tucana e à compra de votos para a reeleição de FHC, são os mais gritantes. Isso, sem falar que Aécio Neves que está por aí livre, leve e solto, depois de vermos, através de vídeos, provas de corrupção contra ele.

É interessante observar uma coisa, bastou o jornalista da Globo, Paulo Francis, acusar de corrupção a diretoria da Petrobras que o governo FHC meteu-lhe um processo lá nos EUA que, segundo a família, o levou à morte.

Em momento algum a Globo defendeu Paulo Francis e menos ainda o governo FHC a processou, numa operação cirúrgica para detonar um dos seus mais emblemáticos jornalistas, um neoliberal convicto que tinha em seu mantra um anticomunismo quase a la Olavão. Mesmo assim, o mercado não perdoou a sua traição.

Coisa parecida se repetiu no caso da Lava Jato que desembocou num golpe contra Dilma para colocar em seu lugar o ilibadíssimo Michel Temer.

Não satisfeito, o juiz, considerado parcial pelo STF, ou seja, vigarista, assinou um tratado com Paulo Guedes, do mercado, e Bolsonaro para trocar uma pasta do ministério do seu governo pela cabeça de Lula. Assim foi tratado, assim foi feito e com aplausos efusivos do mercado.

Afinal de contas, um dos maiores abutres do sistema financeiro, Paulo Guedes, deu garantias a seus pares de que Bolsonaro não se meteria, como não se meteu, nos destinos da economia toda voltada a detonar os trabalhadores e os pobres, devolvendo o país ao mapa da fome. Para tanto, o mercado colocou no poder não um corrupto, mas uma família inteira de corruptos, uma penca de vigaristas que compra mansões hollywoodianas em Brasília como quem compra um cafezinho na esquina, com uma multiplicidade de esquemas de um apetite inimaginável.

O mercado, agora, só se posiciona contra o clã não pelo governo ser corrupto e fascista, mas porque, com a economia brasileira em frangalhos, começa a colocar os negócios em risco.

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Cotidiano

CNJ faz inspeção em gabinetes de sete desembargadores do TJRJ suspeitos de integrar esquema de corrupção

Uma juíza também é alvo da medida determinada pela corregedora nacional de Justiça, Maria Thereza de Assis Moura.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou a realização nesta segunda-feira de uma inspeção extraordinária nos gabinetes de sete desembargadores e de uma juíza do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), suspeitos de integrarem um esquema de corrupção. A fiscalização se estenderá até esta terça-feira.

O procedimento, conhecido como correição, foi autorizado pela ministra Maria Thereza de Assis Moura, corregedora nacional de Justiça. A medida atinge os gabinetes dos desembargadores Adriano Celso Guimarães, Cherubin Helcias Schwartz Junior, Guaraci Campos Vianna, Helda Lima Meireles, José Carlos Maldonado de Carvalho, Marcos Alcino de Azevedo Torres e Mario Guimarães Neto e da juíza Roseli Nalin.

No despacho, a ministra cita matéria do Extra sobre supostas vendas judiciais em favor de empresas do setor de transporte, presentes na delação premiada do ex-presidente da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Rio (Fetranspor), Lélis Teixeira. A fiscalização será feita por um desembargador e três juízes de outros tribunais designados pela corregedora.

Em abril de 2020, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou o afastamento por 90 dias do desembargador Mário Guimarães Neto, alvo da Operação “Voto Vencido”. O desembargador foi acusado na delação premiada de Teixeira de ter recebido R$ 6 milhões, por meio de sua mulher, para atuar em um processo de interesse da Fetranspor.

Em dezembro de 2019, o CNJ já havia afastado cautelarmente o desembargador Guaraci de Campos Vianna sob a suspeita de que o magistrado teria dado liminares que fogem das hipóteses legais e regimentais previstas durante os plantões judiciais.

*Com informações de O Globo

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Política

Um arruaceiro expulso do exército, por vingança, ridiculariza as Forças Armadas

É só olhar no twitter a quantidade de memes sobre o desfile circense que Bolsonaro impôs aos militares.

Se essa foi a maneira que encontrou para mostrar que as Forças Armadas estão com ele, a percepção da sociedade foi bem outra, foi a de uma demonstração de submissão humilhante dos militares que não tiveram qualquer grau de consciência da pandemia que segue matando uma média de mil brasileiros por dia e, ao lado de Bolsonaro, expuseram-se sem máscara, justamente no dia que um oficial das Forças Armadas, o tenente-coronel Helio Bruno depõe na CPI do genocídio que acabou se transformando na CPI da corrupção do ministério da Saúde, sob o comando do general da ativa, Eduardo Pazuello.

Não dá para entender como um ex-tenente, expulso das Forças Armadas por arruaça, consegue impor uma humilhação tão constrangedora à força militar para satisfazer a objetivos pessoais, familiares, porque é disso que se trata toda essa questão que envolve até a circulação de tanques blindados na Praça dos Três Poderes.

A blindagem de uma família de corruptos que não tem sequer como listar a quantidade de acusações de crimes praticados por ela a partir de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, rachadinha e do envolvimento direto desse clã com o submundo do crime, com direito a condecorações e defesas públicas do próprio presidente a milicianos.

Essa história do voto impresso é somente mais um embuste de quem precisa ocupar as manchetes de jornais para esconder o desespero de quem, na melhor das hipóteses, sofrerá uma derrota eleitoral histórica em 2022, sendo expurgado da vida pública pela própria sociedade.

É bom deixar claro que não há garantias, e cada vez fica patente, de que ele chegará a ser candidato, já que, na medida em que os dias correm, a possibilidade de um impeachment, ganha cores cada vez mais fortes, o que significa a condenação e prisão de todo o clã, apesar de Arthur Lira.

Caso isso aconteça, esse arruaceiro não terá mais em suas mãos o controle das instituições do Estado que hoje blinda a organização criminosa.

Por isso assistimos a mais um ato de desespero, desta vez, expondo de forma vexatória as Forças Armadas que só pode ter  acontecido por vingança contra uma instituição que, mesmo em plena ditadura, cuspiu essa figura repugnante cada vez mais odiada pelo povo brasileiro que, por culpa exclusiva dele, assiste à morte de praticamente 600 mil pessoas, além de 15 milhões de desempregados, 20 milhões devolvidos à absoluta miséria, uma inflação em total descontrole, os alimentos chegando à hiperinflação, o que agrava ainda mais a insegurança alimentar de metade da população brasileira.

Essa imagem de um tanque queimando óleo é apenas uma das que estão sendo usadas como chacota numa tempestade de memes ridicularizando esse teatro de horrores que se viu em Brasília hoje.

Não resta qualquer dúvida de que a maioria dos militares percebeu que, para tentar intimidar a sociedade brasileira, Bolsonaro não viu limites para ridicularizar as Forças Armadas.

Detalhe, não tinha ninguém assistindo à palhaçada.

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Política

Bolsonaro, no chiqueirinho, estava irritado com o retorno da CPI porque ela está revelando a corrupção em seu governo

Bolsonaro, hoje em seu chiqueirinho, em claro desespero, fazendo cara feia até para o choro de um bebê, deu várias patadas no próprio gado, além de atacar principalmente Lula e Barroso.

São três os motivos, a volta da CPI do genocídio, que vem revelando o bilionário escândalo de corrupção na compra de vacinas pelo ministério da Saúde, a baixa adesão às manifestações convocadas neste domingo por seus assessores e aliados e a confirmação, através da pesquisa do Valor feito pelo Atlas, de que a grande maioria do povo brasileiro, acha que seu governo é corrupto. Somente 35% acreditam que Bolsonaro não está envolvido em corrupção. Número que certamente cairá pela metade com a volta da CPI.

Por isso Bolsonaro atacou pesadamente Barroso e o STF, por acreditar que a culpa é deles por obrigarem Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, a abrir a CPI, como reza a constituição, atendendo ao pedido da minoria dos senadores. Consequente, seu ataque a Lula tem um dado objetivo, ele está disparado na sua frente em todas as pesquisas sobre a disputa para a presidência da República em 2022.

Resumindo, a farsa do cocô entupido não prestou para absolutamente nada. Bolsonaro se vê cada dia mais incapaz de estancar a sangria de popularidade que sofreu com a CPI e, agora, comporta-se como um adolescente desesperado que não sabe mais o que fazer para esconder dos pais o boletim só com notas vermelhas.

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A montanha de mortos que a política oficial de Saúde fabricou também escondia uma máquina corrupta

CPI acerta, tira apuração do hospício e exibe caso de Polícia e de política.

Reinaldo Azevedo – A CPI da Covid é digna de todos os aplausos. Tem tudo para ajudar o país a sair do pântano da loucura e da mistificação, ainda que sejam muitos os problemas. A apuração da comissão começou no escaninho da psiquiatria e hoje, como é evidente, está no da Polícia e no da política, sem que, por óbvio, aquele outro deva ser abandonado. “Não entendi, Reinaldo”. Eu explico tudo depois de um parágrafo, que segue abaixo, com uma digressão que nos aproxima do tema.

É preciso tomar cuidado para que o necessário “outro lado” da notícia ou dos embates ideológicos não degenere em “outro-ladismo”. E, nesse caso, quando menos se espera, lá estamos nós, da imprensa, a ouvir o que os fascistoides têm a dizer contra as suas vítimas, não é? Ou, então, destacam-se em excesso aspectos negativos laterais de quem faz a coisa certa, num esforço de demonstrar ao tribunal (i)moral dos fascistoides que nós, do jornalismo, não temos lado. Os decentes têm: o da democracia, o do estado de direito, o do direito à vida, o do devido processo legal. Dito isso, observo: é claro que a CPI comete erros aqui e ali, e estes devem ser apontados. Mas cuidado para não confundir um exagero retórico ou outro, ou um estilo mais áspero, com agressões à ordem legal. A CPI se comporta dentro das regras do jogo. Agora retomo o fio do primeiro parágrafo.

NEGACIONISMO COMO QUESTÃO PSIQUIÁTRICA

A comissão foi instalada para apurar as (ir)responsabilidades do governo na crise de oxigênio no Amazonas e as ações e omissões do governo federal que acabaram resultando no morticínio em curso, já com quase 543 mil óbitos enquanto escrevo.

Ainda que se pudesse desconfiar, não havia sinais evidentes de que a formidável montanha de mortos que a política oficial de Saúde fabricou também escondia uma máquina corrupta não apenas no sentido moral ou ético. À medida que os depoimentos avançaram e que se seguiram determinados rastros e fios soltos, o que temos hoje?

O Ministério que transformou a compra das vacinas da Pfizer quase num jogo de esconde-esconde negociava celeremente com toda sorte de vagabundos e bucaneiros. Ou por outra: os que tinham credenciais para vender vacinas reais ao governo eram tratados com indiferença. Aqueles que emanavam o cheiro da safadeza e da negociata eram recebidos como pessoas dignas.

Vale dizer: com ou sem a interferência do então ministro Eduardo Pazuello — e isso precisa ser investigado —, é inegável que a máquina ministerial que ele montou manteve negociações que o próprio Fernando Coelho, líder do governo no Senado, classifica de “constrangedoras”. Os milhares de mortos, assim, não são consequência de um negacionismo irresponsável e anticientífico apenas. Há mais do que isso. Cifras bilionárias fazem parte da rotina de desastres.

Só para lembrar: faz hoje um mês que o país ultrapassou a marca simbólica dos 500 mil mortos. Ontem, dia 18, contaram-se 542.262 óbitos. Ao fim desta segunda, roçaremos nos 544 mil. Entendam: numa fase de declínio de contaminações e óbitos, ainda perecem quase 45 mil pessoas em um mês. Vale dizer: ainda caem 204 aviões de 220 lugares num prazo de 30 dias — quase sete por dia! Isso dá a dimensão da tragédia.

QUAL O TAMANHO DO LUCRO?

Tanta desgraça gerou também prosperidade em certos casos, com as suas inevitáveis pusilanimidades. A farmacêutica Vitalmedic, por exemplo, um dos maiores produtores de ivermectina no país, bancou um anúncio publicitário de um grupo autointitulado “Médicos Pela Vida”, que fazia a defesa do tratamento precoce, endossando a pregação de Bolsonaro.

Pois é. Reportagem da Folha informa que, em 2019, a empresa vendeu 5,7 milhões de caixas do medicamento. Em 2020, 75,8 milhões. Se a empresa lucrar R$ 1 por caixa, estamos falando num ganho extra de R$ 70,1 milhões — que não teriam entrado nos cofres não fosse o incentivo oficial ao uso de um medicamento comprovadamente ineficaz e sua distribuição na rede oficial de saúde.

O anúncio dos tais doutores é mentiroso. Afirma, por exemplo, que, “dentre as abordagens disponíveis na literatura médica para a COVID-19, existe o chamado ‘tratamento precoce'”. Fake news. Não existe. Alega que coquetel de remédios vinha evitando evolução para fases mais graves da doença. Não. Algumas drogas, que nem estavam no kit, atuam para minimizar sintomas, sem interferir na carga viral. E a coisa segue por aí.

Uma indústria literalmente multimilionária acabou fornecendo as drogas — lei de mercado? — que o governo promoveu. No caso da Vitalmedic, como se vê, a coisa não se resumiu a “vendo o que querem comprar”. Financiou-se a divulgação de uma informação que a ciência e os fatos consideram falsa.

Bolsonaro, todo serelepe na sua saída do hospital, já tem uma nova droga de estimação e estipulou um novo padrão para que alguém seja considerado corrupto. Tratarei do assunto em outro post.

Uma coisa é certa, caras e caros leitores: não podemos descartar o fator psiquiátrico na tragédia ainda em curso. Mas resta evidente que a hipótese da loucura, descasada de interesses muito objetivos, já pode ser desconsiderada. Há sandice também? Claro! A corrupção corrói instituições e gera malefícios à população, como sabemos. De todo modo, há muitas maneiras de enfiar a mão nos cofres públicos sem gerar a morte imediata de pessoas. O que se vê no caso? Enquanto o Ministério da Saúde havia se tornado praça de negócios obscuros, brasileiros iam morrendo às pencas. Sim, há traços de psicopatia no conjunto da obra.

Parece-me a cada dia mais evidente, no entanto, que estamos falando de pessoas que viram numa tragédia humanitária sem precedentes na história do país a chance de engordar o seu caixa, recorrendo à fraude e ao engodo, pouco importando quantos morreriam nessa trajetória.

E essa revelação, desde já, devemos à CPI. Havendo erros, que sejam corrigidos. Mas são laterais, e a comissão já tem em seu histórico o acerto essencial: revelou quem é essa gente, o que ela quer e quais são seus parâmetros éticos e morais.

*Reinaldo Azevedo/Uol

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A palavra corrupção virou assombração no mundo bolsonarista

O Jornal Nacional mostrou mensagens que provam a relação de Bolsonaro com a negociata das vacinas .

De acordo com o JN, o elo entre Bolsonaro e o tal reverendo Amilton Gomes de Paula é prova cabal de que o presidente faz parte do rolo.

As mensagens foram obtidas no celular daquele policial vigarista de Minas Gerais, Luiz Paulo Dominguetti, que mostra diálogo dele com os comparsas em que falam de um possível encontro com Bolsonaro para tratar da compra da vacina AstraZeneca por meio da Davati.

Isso acontece no mesmo dia em que, amparada por um habeas corpus concedido pelo ministro Fux, a diretora da Precisa, Emanuela Medrades fechou a boca para toda e qualquer pergunta na CPI.

Omar Aziz, no entanto, mandou uma comissão ao STF para avaliar com Fux se o habeas corpus lhe dava o direito ao silêncio, e Fux negou.

Diante dessa nova condição, a diretora da Precisa alegou exaustão para não dar prosseguimento ao depoimento hoje, que foi adiado para amanhã, quando ela prometeu colaborar e contar tudo o que sabe.

Pois bem, bastaram esses dois passos para o bolsonarismo digital criar o #FechaACPI, um grito em favor da corrupção e contra toda a qualquer investigação na Comissão Parlamentar de Inquérito que apura as trapaças na pasta da Saúde do governo Bolsonaro.

Ou seja, o gado que se dizia combatente fiel da corrupção, agora é pró-picaretagem, pró-assalto ao erário, além de fugir da palavra corrupção como quem vê assombração.

*Da redação

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Reinaldo Azevedo: Há corrupção, e Bolsonaro sabe, é o que diz eleitor

Enxergar antes, seja por meio de instrumentos objetivos de aferição, seja pela intuição — que, nas boas cabeças, decorre sempre de uma soma-síntese de saberes, não da intervenção divina —, tem lá os seus contratempos. Aconteceu com o Datafolha. Quando, em 12 de maio, o instituto afirmou que Luiz Inácio Lula da Silva marcava 41% na simulação de primeiro turno, e Jair Bolsonaro, 23%, houve arrastar de correntes e ranger de dentes. Estava, vamos dizer assim, um pouco fora da curva. No dia 25 de junho, o Ipec, comandando pela competente Márcia Cavallari, apontou 49% para o petista, o que lhe permitiria vencer no primeiro turno, e 23% para o atual presidente. Aí o mundo desabou.

No mais recente Datafolha, com dados colhidos nos dias 7 e 8 de julho, o ex-presidente aparece com 46%, e o atual, com 25%. Agora, são poucas as pesquisas que divergem desse patamar. E todas também convergem ao apontar a franca deterioração da avaliação do governo Bolsonaro e da percepção que têm as pessoas de suas qualidades pessoais e políticas para liderar o país.

Hoje, é visível, o governo derrete. E, como se nota, o chefe não se esforça para mudar de rumo. Ao contrário: passou a ameaçar o país com um golpe do Estado, escudando-se num ministro da Defesa que tem a ousadia de tornar pública uma nota golpista, assinada também pelos três comandantes militares. É pouco provável que isso contribua para mudar a percepção que a maioria dos brasileiros tem do governo.

Datafolha/Folha

CORRUPÇÃO E LUGAR DOS MILITARES

Nada menos de 70% dos brasileiros acreditam que há corrupção no país, e 63% a veem particularmente na Saúde. Estão convencidos de que Bolsonaro sabia de tudo 64%. São dados da mais recente pesquisa Datafolha. Há um outro dado relevante: os brasileiros começam a se dar conta, porque assim são os fatos, da atuação dos militares no desgoverno em curso. São 58% os que que dizem que eles não deveriam participar da administração. Para 62%, não podem participar de atos políticos — a exemplo da manifestação golpista a que o estupefaciente Eduardo Pazuello compareceu no dia 23 de maio de 2021.

A pesquisa aponta ainda que a maioria dos brasileiros considera o presidente desonesto, falso, autoritário, incompetente, despreparado, pouco inteligente e indeciso. Já escrevi a respeito do assunto hoje, mas não resisto: é esse o candidato a liderar um autogolpe, com o suposto apoio das Forças Armadas no Brasil? Ora…

INCAPACIDADE

Em abril de 2020, apontava o Datafolha, já era maior o número dos que achavam que Bolsonaro não tinha capacidade de liderar o Brasil: 49% a 45%. Em março deste ano, o juízo negativo teve um salto: 56%, caindo para 42% os que o viam como capaz. Em maio, o placar contra ele era 58% a 38%. Neste mês, devastadores 63% a 34%. E confesso que tenho certa curiosidade sobre os critérios que norteiam esses 34%… Não deixa de ser um número surpreendente, não é mesmo? Capaz em quê?

A eleição ainda está longe, é verdade. Será que isso pode mudar? Inexiste bola de cristal. Conta a favor do governo a volta do crescimento — que, por óbvio, está menos ligada a ações oficiais do que à dinâmica da própria economia. Mas, como aqui já se disse, até que melhorias cheguem efetivamente aos mais pobres, vai demorar. A inflação de alimentos, esta sim, vem atormentando os lares. E o governo não tem resposta para isso no curto prazo.

A campanha eleitoral pode mudar essa percepção? Bem, dependesse de Bolsonaro, nem campanha haveria porque, como se constata, ele defende abertamente um golpe. Mas não creio que vá ser bem-sucedido.

Há uma questão a considerar, não é? Bolsonaro vive em permanente estado de campanha. A novidade, quando chegar a hora pra valer, será o discurso eleitoral de seus adversários. O presidente já é a estrela principal de uma formidável máquina de “fake news” que nunca deixou de atuar. É uma cornucópia de ofensas a adversários de sempre e da hora, alheio a quaisquer fundamentos institucionais. Mesmo sendo ele, resta pouco espaço para ofensas novas. Ele foi se revelando e se desnudando nestes pouco mais de dois anos e meio de poder.

TODO CUIDADO AINDA SERÁ POUCO

Como sabem, não tenho receio de golpe. Ou melhor: tenho, claro!, como toda pessoa sensata que assiste à desordem na lama da insensatez. Na hipótese remota de que houvesse, não se sustentaria. Temos de ficar atentos, isto sim, a eventos artificiais que a maquinaria do capeta pode intentar para desviar a eleição do seu curso. Não faltam loucos à solta, como resta evidente.

O cenário pode mudar? Haverá só uma alternativa da chamada “terceira via”? Mais de uma? Com qual discurso? Existe migração possível do eleitorado de Lula para ela? E da base de Bolsonaro para esse nome ou nomes? Bolsonaro vai tentar recuperar os mesmos fantasmas de 2018? Saberemos a seu tem.

Uma coisa está clara desde já: Bolsonaro enxerga na desordem o único caminho que, na sua cabeça, pode tornar o seu nome viável. Ocorre que a desordem que ele prega e a herança maldita de seu governo, da qual não conseguirá se livrar com facilidade, contribuem para a sua derrocada.

*Reinaldo Azevedo/Uol

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Política

Datafolha: Para 70% dos brasileiros, há corrupção no governo de Jair Bolsonaro

Pesquisa mostra que 63% acham que há malfeitos na Saúde, e 64%, que presidente sabia deles.

Presidente eleito sobre uma plataforma de tolerância zero com malfeitos administrativos, Jair Bolsonaro não convence os brasileiros neste quesito: para 70% dos adultos entrevistados pelo Datafolha, há corrupção em seu governo.

A percepção é amplificada pelas suspeitas de irregularidades em contratos do Ministério da Saúde, colocadas à luz pela CPI da Covid. Acham que há corrupção na pasta 63%, e que o presidente sabia dela, 64%.

Os dados foram colhidos pelo instituto ao entrevistar 2.074 pessoas com mais de 16 anos, nos dias 7 e 8 de julho. A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos.

Segundo o Datafolha, os grupos que mais veem corrupção na gestão são mulheres (74%), jovens (78%), moradores do Nordeste (78%) e, claro, aqueles que reprovam o governo (92%).

São estratos semelhantes em sua avaliação negativa de Bolsonaro em diversos itens coletados pelo Datafolha. O presidente está com seu maior índice geral de reprovação, 51%, e 52% dos ouvidos o consideram desonesto —invertendo a impressão colhida em junho de 2020.

O único grupo pesquisado em que a opinião negativa sobre corrupção não é majoritária é o dos empresários (2% dos ouvidos), no qual 50% creem haver malfeitos, empatados com os 48% que discordam.

Já aqueles que acham que não há corrupção no governo federal perfazem 23% da amostra. Aqui, a crença na probidade do governo é maior entre homens (28%), pessoas com mais de 60 anos (29%), e os nichos evangélicos (30%) e moradores do Norte/Centro-Oeste (31%).

Por óbvio, a taxa dispara entre os que aprovam o governo (60%) e os que confiam na palavra do presidente (74%). No cômputo geral, contudo, o primeiro grupo soma 24% e o segundo, 15%.

A apuração de irregularidades na venda de vacinas ao governo federal tem dominado o noticiário nas últimas semanas e chegou ao presidente, que viu ser aberto um inquérito pelo Supremo Tribunal Federal para investigar se ele prevaricou no caso.

A suspeita sobre a compra de vacinas veio à tona em torno da compra da vacina indiana Covaxin, quando a Folha revelou em 18 de junho o teor do depoimento sigiloso do servidor da Saúde Luis Ricardo Miranda ao Ministério Público Federal, que relatou pressão “atípica” para liberar a importação da Covaxin.

Desde então, o caso virou prioridade da CPI. A comissão suspeita do contrato para a aquisição do imunizante por ter sido fechado em tempo recorde, em um momento em que a vacina ainda não tinha tido todos os dados divulgados, e por prever o maior valor por dose, em torno de R$ 80 (ou US$ 15 a dose).

Meses antes, o ministério já tinha negado propostas de vacinas mais baratas do que a Covaxin e já aprovadas em outros países, como a Pfizer (que custava US$ 10).

Em entrevista à Folha ele disse que o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou propina de US$ 1 por dose de vacina para fechar contrato. As acusações foram repetidas em depoimento à CPI da Covid. Dias foi exonerado em seguida.​

Tal comportamento encontra eco na opinião pública. Para 63%, há corrupção na Saúde, ante 25% que a descartam e 12% que não sabem. A visão negativa é mais sustentada por quem tem curso superior (68%).

Mais importante, 64% dos entrevistados acreditam que Bolsonaro sabia dos problemas, justamente o que o inquérito busca esclarecer. Outros 25% não creem nisso e 11%, não opinaram.

São mais crentes no conhecimento presidencial os jovens de 16 a 24 anos (72%) e os nordestinos (71%), repetindo o padrão crítico de outros itens desse levantamento. Já acreditam mais em que Bolsonaro nada sabia aqueles que ganham entre 5 e 10 salários mínimos (36%) e os empresários (44%).

O Datafolha também questionou acerca do conhecimento específico dos casos em apuração. Aí, 70% dos ouvidos disseram estar informados sobre eles, 22% bem, 34% mais ou menos e 9%, mal.

Nesse grupo, a taxa de quem acha que havia corrupção sobe para 77%, e chega a 85% entre aqueles que acham que Bolsonaro sabia. No geral, dentro daqueles que conhecem os casos, 74% avaliam que o presidente tinha conhecimento de tudo.

Já aquelas pessoas que confiam mais em Bolsonaro são majoritariamente aderentes da tese de que ele nada sabia (71%). Na mão inversa, aqueles que defendem o impeachment do presidente (54% na amostra total), são quase unânimes (89%) em achar o contrário.

Apesar da percepção negativa e a chegada do tema aos protestos de rua, a expectativa de que haverá aumento nos casos de corrupção no governo caiu ante a pesquisa anterior na qual a pergunta foi feita, em 15 e 16 de março. Acham que o problema vai crescer 56%, ante 67% há quase quatro meses.

A opinião é espraiada pelos vários grupos socioeconômicos da amostra. Os que avaliam que a corrupção vai se manter nos níveis atuais oscilaram de 23% para 26%, com uma crença maior entre os mais ricos: 44% acham isso.

Para 13%, haverá menos irregularidades, ante 8% em março. Aqui, os que ganham de 5 a 10 salários mínimos são os mais otimistas (22%). Não souberam opinar 5% (3% no levantamento passado).

*As informações são da Folha

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Quem é Elcio Franco? Coronel volta ao centro das denúncias de corrupção na compra de vacinas

Elcio Franco tentou exonerar Dias e interferiu diretamente na nomeação de coordenadores do Departamento.

Os senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid desvendaram mais um cenário diante do depoimento de Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, nesta quarta-feira (7).

Mais uma vez, o nome do ex-secretário-executivo da pasta, o militar Elcio Franco, aparece no centro das denúncias de corrupção na compra de vacinas.

Número dois durante a gestão do general Eduardo Pazuello no Ministério, Franco é atualmente assessor da Casa Civil no governo de Jair Bolsonaro.

Para os senadores, teria ocorrido mais de uma tentativa de Elcio Franco de retirar Dias das tratativas para a compra de vacinas contra a covid-19.

“Há uma disputa interna dentro do ministério em torno do departamento que o senhor chefiava ainda pouco”, afirmou o senador líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM).

Em outubro de 2020, Franco pediu a exoneração de Dias ao então ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, que foi aceita e encaminhada à Casa Civil.

Franco se baseou em um contrato, com suspeita de irregularidades apontadas pela Diretoria de Integridade (Dinteg) do Ministério da Saúde, assinado por Dias para a compra de 10 milhões de kits para testes de covid-19.

A exoneração, no entanto, não ocorreu após pressão que teria sido feita pelo senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) em conversas com o presidente Jair Bolsonaro. Em seu depoimento à CPI, Dias afirmou que a suspeita de corrupção na compra de testes foi um “factoide”.

Em janeiro deste ano, a pasta publicou uma portaria que passou a centralizar na Secretaria-Executiva, comandada por Franco, todas as tratativas sobre vacinas. A medida retirou Dias de toda e qualquer negociação de imunizantes contra a covid-19, a despeito de a função ser do Departamento de Logística.

Em outro momento, a equipe liderada por Dias na Saúde sofreu uma interferência direta do número 2 do Pazuello, Elcio Franco. O militar fez duas trocas sem consultá-lo, levando para o Ministério dois militares: o tenente-coronel Marcelo Batista Costa para a Coordenação Financeira, e o tenente-coronel Alex Lial Marinho para a Coordenação de Logística.

Roberto Dias também associou a nomeação do coronel Marcelo Blanco para ser seu assessor no Departamento de Logística a uma decisão de Elcio Franco.

“Acho que o Elcio Franco cada vez se envolve mais, e a gente começa a encontrar os responsáveis pelo caso Precisa-Biotech. (…) Nós temos um personagem central que, ainda bem, senhor relator, que o senhor indicou como investigado, que é o senhor Elcio Franco”, disse Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Suposto pedido de propina

Segundo Dias, foi o coronel Marcelo Blanco quem levou o policial militar Luiz Dominguetti, representante da Davati Medical Supply, ao restaurante Vasto, no Brasília Shopping, no dia 25 de fevereiro. Ainda de acordo com Dias, Blanco sabia que ele estaria no restaurante.

De acordo com o depoimento de Dominguetti, Roberto Dias teria cobrado uma propina de US $1 por dose de vacina para fechar um acordo de compra de 400 milhões de unidades do imunizante produzido pelo laboratório britânico AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford.

Segundo o depoente, a notícia da oferta já tinha chegado aos seus ouvidos anteriormente, diretamente pelo coronel Marcelo Blanco, por meio de outro representante da Davati Medical Supply no Brasil, Cristiano Alberto Carvalho. “Mas nunca teria sido apresentada a documentação necessária”, afirmou Dias.

No restaurante, Dominguetti afirmou que teria a documentação necessária. Em resposta, Dias solicitou ao policial militar um pedido formal ao Ministério da Saúde, em agenda oficial. Se a documentação fosse consistente, um processo seria aberto e encaminhado à Secretaria Executiva, de Elcio Franco.

Em uma reunião oficial no dia seguinte, 26 de fevereiro, Dominguetti não apresentou a documentação. Dias afirmou, então, que não passou a proposta para seu superior, Elcio Franco, justamente porque não havia documentos.

De Roberto Dias, Dominguetti teria partido então diretamente para a Secretaria Executiva. “A reunião com Roberto Ferreira Dias foi infrutífera”, afirmou Dominguetti aos senadores. Nesse segundo encontro, Elcio Franco disse que iria verificar a veracidade da proposta.

“O senhor [Elcio Franco] me perguntou pessoalmente durante a reunião, com quem eu havia deixado essa proposta. Eu disse a ele que com o senhor Roberto. Então houve uma troca de olhares, ele [Elcio] baixou a cabeça, simplesmente saiu e disse que pediu para que dois estagiários pegassem os nossos nomes, que entraria em contrato, que ele ia validar a proposta da Davati.”

Para o presidente da CPI, Omar Aziz, Dias foi exonerado do cargo após denúncia de suposta propina porque teria atravessado a negociação das 400 milhões de doses.

Lembrando que não há nenhuma relação contratual entre Dominguetti e a Davati. “Havia um acordo de cavalheiros, até porque eu sou funcionário público e não posso assinar contrato”, afirmou o policial militar.

Por sua vez, o laboratório britânico AstraZeneca publicou que todas as negociações são feitas diretamente “por meio de acordos firmados com governos e organizações multilaterais ao redor do mundo, incluindo da Covax Facility, não sendo possível disponibilizar vacinas para o mercado privado ou para governos municipais e estaduais no Brasil”.

Também negou que tenha qualquer relação contratual com a empresa Davati Medical Supply, sediada no Texas. O único contrato da AstraZeneca estabelecido com o Brasil foi feito por meio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), nos dias 8 e 9 de setembro de 2020.

Citado no caso Covaxin

O tenente-coronel Alex Lial Marinho, nomeado por Elcio Franco para a Coordenação de Logística, também já é um nome conhecido. Foi citado como reponsável, ao lado de Roberto Dias, por pressionar a importação da vacina Covaxin, em depoimento de Luis Ricardo Fernandes Miranda, chefe da divisão de importação do Ministério da Saúde.

Sobre isso, Dias afirmou que nunca fez pressão. “Não encaro as conversas que tive com ele [Luis Ricardo] como pressão. (…) Se tiver pressão, eu não a exerci. E desconheço de onde poderia ter partido”, afirmou.

Segundo o senador Rogério Carvalho (PT-SE), Dias enviou um e-mail ao presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, em 23 de março, solicitando a autorização da importação em caráter excepcional de 20 milhões de doses da Covaxin. “Antes do envio dos documentos da Precisa à Anvisa”, afirmou o senador garantindo ter o e-mail.

Luis Ricardo e seu irmão, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), apontaram para supostas irregularidades na negociação de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin, entre o Ministério da Saúde e a empresa brasileira Precisa Medicamento, responsável pela venda do imunizante no Brasil, produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech.

Na primeira nota fiscal (conhecida como “invoice”), datada de 18 de março, emitida para a primeira entrega de doses, Luis Ricardo questionou a empresa Precisa Medicamentos sobre informações contidas no documento, como a solicitação de um pagamento antecipado de US$ 45 milhões a uma terceira empresa, não prevista no contrato, a Madison Biotech, sediada em Singapura, e um quantitativo com um milhão de doses a menos.

Segundo os irmãos Miranda, as irregularidades foram informadas ao presidente Jair Bolsonaro, no dia 20 de março. O presidente teria solicitado ao então ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, a investigação da denúncia.

Dois dias depois, no entanto, Pazuello foi exonerado, e a investigação ficou a cargo do então secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco. Segundo a senadora Simone Tebet (MDB-MS), um dia depois de ter assumido a investigação do caso, Franco teria finalizado a apuração sem encontrar nada.

Ainda durante o encontro entre Bolsonaro e os irmãos Miranda, o ex-capitão teria atribuído o esquema ao líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR). “Se eu mexo nisso aí, você sabe a merda que vai dar. Isso deve ser coisa de ‘fulano’”, referindo-se ao líder, teria declarado Bolsonaro, segundo o deputado Luís Miranda.

Ligação com Ricardo Barros

Dias negou ter sido indicado ao Ministério da Saúde por Ricardo Barros. O ex-servidor afirma que foi indicado pelo ex-deputado Abelardo Lupion (DEM-PR), quando o parlamentar enviou o seu currículo, ainda em 2018, ao então deputado federal Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), que seria nomeado ministro da Saúde no ano seguinte.

O ex-diretor afirmou, no entanto, que mantém relação com parlamentares do Paraná, onde é servidor concursado. Sua relação com Dias é “uma relação com um parlamentar do estado de origem”.

“Eu sou carioca, mas a minha vida é feita no Paraná. Conheço o deputado Ricardo Barros e tenho um relacionamento, como tenho com diversos parlamentares do estado do Paraná”.

Lupion, que foi deputado entre 1991 e 2015, foi secretário estadual de Infraestrutura e Logística no governo interino de Cida Borghetti, esposa de Ricardo Barros, em 2018.

Dossiê no exterior

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSC), afirmou em determinado momento que Roberto Dias produziu um dossiê para a própria proteção, que está fora do país. “Ele [Dias] sabe que a relação dele com Elcio Franco e Pazuello nunca foi boa. E ele se preparou para a saída dele”, afirmou o presidente em outro momento.

Para o presidente, Dias caiu por possivelmente ter contrariado os interesses de terceiros dentro do Ministério da Saúde. “Estou querendo lhe ajudar, mas o senhor diz que não sabe o porquê. Te colocaram numa encrenca tão grande e você não está querendo falar para a CPI.”

Quem é Elcio Franco?

O presidente Jair Bolsonaro nomeou Elcio Franco como secretário-executivo do Ministério da Saúde em 4 de julho de 2020. Ele entrou no lugar de Eduardo Pazuello, que assumiu interinamente o comando do Ministério, substituindo o ex-ministro Nelson Teich. Desde o mês anterior, o coronel já era secretário-executivo adjunto.

Oficial do Exército por 39 anos, foi para a reserva em março de 2019. Na Força, se tornou mestre em operações militares e ciências militares e atuou nas operações de segurança e defesa dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016. Também ocupou o posto de subcomandante e chefe do Estado-Maior da Força de Pacificação no Complexo de Favelas da Maré, em 2014, no Rio. De 2017 a fevereiro de 2019, teve cargo de assessor no Ministério da Defesa.

Em sua página no LinkedIn (rede social de contatos profissionais), descreve sua trajetória da seguinte forma: “Exerci funções inerentes a um Oficial do Exército e Gestor Público, com formação acadêmica conciliada à militar e às experiências da caserna: liderança-docência-gestão financeira-patrimonial-de segurança-recursos humanos-projetos-contratos-aspectos jurídicos-cenários prospectivos-planejamento estratégico etc.”.

Em abril de 2019 – seu primeiro mês como reservista -, foi nomeado assessor e subchefe de Articulação e Monitoramento da Casa Civil do governo do Estado de Roraima, cargo que ocupou por menos de dois meses. Depois, foi posto no cargo de secretário de Saúde da gestão estadual, onde permaneceu por três meses.

A experiência ocorreu sob o comando do governador Antônio Denarium (PSC). Eleito em 2018 com o apoio do então candidato a presidente Jair Bolsonaro (então no PSL, atualmente sem partido), o político já assumiu o cargo em 10 de dezembro do mesmo ano, após ter sido nomeado interventor federal pelo então presidente Michel Temer (MDB), após afastamento da então governadora, Suely Campos (PP).

Durante a intervenção federal em Roraima, um dos homens de confiança de Denarium nas Forças Armadas para a gestão pública era o futuro chefe de Franco, o general da ativa Eduardo Pazuello. O então futuro ministro da Saúde ocupou o cargo de secretário da Fazenda do governo de Roraima de dezembro de 2018 a fevereiro de 2019.

As passagens de Franco e Pazuello no governo Denarium em Roraima foram separadas, por tanto, por um intervalo de dois meses. Mesmo assim, como o general seguiu atuando como consultor da prefeitura de Boa Vista (RR) nos meses seguintes à sua saída da secretaria estadual, os dois se aproximaram. Fizeram parte do que, depois, já no Ministério da Saúde, foi chamada de a “turma de Roraima”. Enquanto atuavam no Ministério, o governo federal brasileiro distribuiu 100 mil unidades de cloroquina para indígenas em Roraima.

O grupo de ex-integrantes do governo estadual roraimense é composto ainda, entre outros, pelo marqueteiro Marcos Eraldo Arnoud Marques, conhecido como Markinhos Show, e pelo ex-deputado federal e nomeado secretário de Saúde de Roraima após passagem pelo governo federal, Airton Cascavel (PPS).

Na gestão de Pazuello na Saúde, o coronel Franco estava “em casa”, não só pela presença dos antigos colegas com quem trabalhou no poder público no norte do Brasil, mas também pela presença de oficiais das Forças Armadas. Um dia após sua nomeação, em 5 de junho de 2020, o jornal “Correio Braziliense” mostrou que já eram 25 os militares nomeados no Ministério da Saúde desde a saída do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, meses antes.

Incompostura com garçom e faca na caveira na lapela

Durante uma reunião por videoconferência em que Elcio Franco fazia um pronunciamento como representante do Ministério da Saúde, em julho do ano passado, ocorreu um episódio que se tornou emblemático da gestão do coronel na secretaria executiva. Em cena gravada e veículada na TV e na internet, o coronel se irrita com um garçom que entra no recinto no meio do pronunciamento.

Ele interrompe sua fala, gesticula, recebe auxílio de uma outra assessora para tentar fazer com o funcionário deixe o quanto antes o ambiente, até que se impacienta e grita: “Sai daí! Eu falei ‘sai’! O que você não entendeu?”. Por fim, tenta continuar o discurso.

Quando atendeu a imprensa em entrevistas coletivas na sede do Ministério, ele fez questão de ostentar um broche no formato de uma faca atravessando um crânio na lapela de seus paletós, ou então outro de um punho segurando uma faca de lâmina vermelha.

Os símbolos têm caráter militar. O site do Exército Brasileiro diz que a faca na caveira significa que o trabalho das tropas é vencer a morte e conquistá-la.

A imagem foi popularizada pelo personagem capitão Nascimento, interpretado pelo ator Wagner Moura no filme “Tropa de Elite”, que ostenta a marca do Bope, batalhão da polícia do Rio de Janeiro, composta pelos mesmos dois elementos. Na obra, os policiais ainda utilizam a expressão “faca na caveira” como ode à força e à rigidez do batalhão no combate ao crime.

Condução da aquisição de vacinas

Em 19 de maio, o Brasil de Fato mostrou que o gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, não foi recebido pelo ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em sua única visita à sede da pasta em Brasília em 2020, em 22 de dezembro do ano passado. Na ocasião, o representante da farmacêutica norte-americana fez reunião com Elcio Franco.

Carlos Murillo comandou a matriz brasileira da empresa farmacêutica até novembro de 2020. O encontro no Ministério da Saúde constava na agenda oficial do nº 2 de Pazuello, agendado para às 14h – e foi confirmado no depoimento do executivo na CPI da Covid. A informação foi retirada do ar no site da pasta.

A confirmação da data e o horário da visita, no entanto, foram obtidas por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação). De acordo com a lista de visitantes da sede do Ministério no ano passado, o executivo da Pfizer entrou no prédio uma única vez em 2020, às 13h58, justamente no dia 22 de dezembro.

Murillo afirmou que Elcio Franco o apresentou a Pazuello. O ministro, por sua vez, apenas o cumprimentou, e não participou da reunião. O executivo afirmou ainda que, durante as negociações, tratou “somente com a equipe técnica do Ministério”.

“Nessa ocasião [22 de dezembro], o sr. Elcio Franco apresentou a mim o ministro Pazuello. Nós nos cumprimentamos, e ele falou que, agora que estávamos avançando, o que precisávamos era contar com mais doses para o Brasil. Eu respondi que nós tínhamos esse compromisso de continuar procurando mais doses para o Brasil”, afirmou Murillo.

*Caroline Oliveira e Paulo Motory/Brasil de Fato

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