Compromissos de Rafael Correa com Cristina Kirchner, José Mujica e outras autoridades também foram alvo de companhia de segurança ibérica que trabalhava para a CIA.
O dono da empresa de segurança espanhola UC Global, SL, David Morales, supostamente espionou para a CIA, o serviço secreto dos Estados Unidos, reuniões que o ex-presidente equatoriano Rafael Correa (2007-2017) teve em 2018 com uma série de antigos mandatários e autoridades da região — entre eles, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ex-presidente Dilma Rousseff. As informações vieram à tona após uma análise do computador de Correa, investigado pela Justiça do seu país.
*Com O Globo
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“A América Latina não apenas projetou um modelo eficiente de combate e superação do neoliberalismo, com desenvolvimento econômico e distribuição de renda, como projetou paralelamente aos grandes líderes de esquerda em escala mundial”, diz o sociólogo Emir Sader, sobre o cenário social e político do continente sul-americano.
Depois de protagonizar alguns dos fenômenos históricos mais importantes do século XX, a América Latina sofreu uma ofensiva severa do capitalismo global contra ela nas últimas décadas do século passado. A crise da dívida encerrou – até aquele momento – o maior ciclo de crescimento de nossas economias, iniciado na década de 1930. As ditaduras militares em alguns dos países mais importantes politicamente do continente – Brasil, Uruguai, Chile, Argentina – atingiram duramente as democracias e as forças populares desses países. A América Latina foi o continente que teve mais governos neoliberais e em suas modalidades mais radicais.
É como uma reação a tudo que a América Latina foi projetada como a única região do mundo que teve governos antineoliberais – no Brasil, Argentina, Uruguai, Venezuela, Bolívia, Equador – coordenados entre si nos processos de integração regional. Eles foram os únicos governos do mundo que reduziram as desigualdades, a exclusão social, a fome, a miséria e a pobreza, contrariamente às tendências globais.
A América Latina não apenas projetou um modelo eficiente de combate e superação do neoliberalismo, com desenvolvimento econômico e distribuição de renda, como projetou paralelamente aos grandes líderes de esquerda em escala mundial: Lula, Néstor e Cristina Kirchner, Hugo Chávez, Pepe Mujica , Evo Morales, Rafael Correa, Lopez Obrador. A esquerda do século 21 é antineoliberal e tem seu epicentro na América Latina.
Mesmo depois que a direita, coordenada internacionalmente, derrotou a governos progressistas em países como Argentina, Brasil, Equador, Uruguai, Bolívia, o continente continua sendo o cenário das lutas mais importantes do nosso tempo, protagonizadas por forças neoliberais. e anti-neoliberal, democráticas e antidemocráticas, de soberania nacional e subservientes aos EUA.
A Argentina demonstrou capacidade de resistir a políticas devastadoras por parte do governo neoliberal de Mauricio Macri, derrotou-o e retomou a vida de reconstrução econômica, social, política e cultural do país. O México está avançando no caminho de superar tantos e tão degradantes governos neoliberais.
No Brasil, após a monstruosa operação que tirou Dilma Rousseff do governo e condenou Lula, ambos sem provas, e escolheu, por mecanismos de manipulação absolutamente ilegais, um governo vergonhoso, a oposição é reorganizada e reaparece como alternativa. A libertação de Lula o coloca no centro da oposição democrática ao governo e projeta a perspectiva de uma vitória eleitoral semelhante à da Argentina.
No Equador, o governo de restauração neoliberal não conquistou apoio, projetando uma perspectiva de retomada da alternativa antineoliberal. No Uruguai, a derrota da Frente Amplio muda o cenário político, mas não altera o confronto central de nosso tempo, entre o neoliberalismo e o antineoliberalismo, e promove as possibilidades de recuperação da Frente Ampla, reafirma-se como alternativa e disputa novamente o governo.
A Bolívia é outro caso paradigmático, que afirma que a esquerda não é apenas uma alternativa ao neoliberalismo, mas também, como no caso do Brasil, é a alternativa democrática. O governo de Evo Morales foi derrubado por um golpe de Estado, com uma clara participação das forças armadas, da polícia, da mídia e dos grandes negócios. Sem alternativa, a direita busca constituir um novo bloco de forças, sem apoio popular, usando o Judiciário para perseguir oponentes, antes de mais nada a Evo e a Álvaro Garcia Linera. Mas a esquerda continua como a alternativa que pode fazer com que a Bolívia supere esta crise democraticamente e com um novo governo legítimo.
A primeira década do século foi marcada por governos antineoliberais na América Latina. O segundo, pela ofensiva de direita, não apenas aqui, mas também nos EUA, Grã-Bretanha e outros países. A terceira década será marcada por hegemônica disputa mundial, com presença ascendente da China, em aliança com a Rússia, e a recomposição das forças antineoliberais na América Latina, contando agora com movimentos populares fortalecidos no Chile, Colômbia, Equador, com a consolidação de governos como os do México e Argentina, a disputa entre o Brasil e a oposição, sob a liderança de Lula. A América Latina, agora com uma lista ampliada de países, continuará sendo o epicentro das lutas políticas no mundo, onde é decidida a disputa central de nosso tempo entre o neoliberalismo e o anti-neoliberalismo.
“O abraço de todos os povos latino-americanos para você e todos aqueles que lutam ao seu lado”, disse o ex-presidente Fernando Lugo, do Paraguai, derrubado por um golpe em 2012.
Representantes de movimentos de esquerda de diversos países da América Latina usaram as redes sociais na noite desta sexta-feira (8) para celebrar a libertação do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva após 580 dias preso na Superintendência da Polícia Federal de Curitiba. A soltura veio após juiz acatar recomendação do STF que proíbe prisão após condenação em segunda instância.
Entre os que se empolgaram com a libertação do ex-presidente está o presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández. “Comente a fortaleza de Lula para enfrentar essa perseguição (apenas essa definição se encaixa no processo judicial arbitrário ao qual foi submetida). Sua força demonstra não apenas o compromisso, mas a imensidão daquele homem. Vida longa #LulaLivre”, publicou.
O “Lula Livre” esteve bastante presente durante a campanha eleitoral de Fernández. Ele visitou o ex-presidente em Curitiba e chegou a pedir liberdade de Lula logo em seu primeiro discurso após derrotar o atual presidente Maurício Macri.
Lawfare e Equador
Cristina Kirchner, ex-presidenta e agora eleita vice-presidenta da Argentina, também comemorou a decisão. “Hoje cessa uma das maiores aberrações do lawfare na América Latina: a privação ilegítima da liberdade do ex-presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. #LulaLivre”, publicou. Cristina também tem sido vítima de uma perseguição judicial.
Outro que é comumente referido como uma das vítimas do chamado lawfare é o ex-presidente do Equador, Rafael Correa, que também celebrou neste dia. “Um abraço, querido Lula. Você é um exemplo e inspiração para todos nós. Os dias dos traidores são numerados. ¡Hasta al victoria siempre!”, tuitou.
Gabriela Rivadaneira, deputada pelo Revolução Cidadã no Equador, considerou a decisão desta sexta como o início do fim da perseguição na região. “Muita alegria! #LulaLibre É o começo de um processo de compensação para prisioneiros e políticos perseguidos na região. O abuso de “prisão preventiva” a pessoas que não terminaram sua defesa no devido processo viola os direitos humanos e o mesmo estado de direito”, declarou a parlamentar que está refugiada na Embaixada do México por estar sendo ameaçada pelo presidente Lenín Moreno.
Golpeados, Zelaya e Lugo
O ex-presidentes Fernando Lugo, do Paraguai, e Manuel Zelaya, de Honduras, também celebraram. Ambos foram vítimas de golpes que os removeram do poder. “A voz do povo é a voz de Deus que leva, mas não esquece. LULA livre”, disse Zelaya. “Prezado companheiro Lula, um julgamento vergonhoso e 580 dias de prisão não poderiam dobrar um centímetro de sua coragem e sua dignidade para continuar ao lado de seu povo. O abraço de todos os povos latino-americanos para você e todos aqueles que lutam ao seu lado”, publicou Lugo.
Venezuela e Colômbia
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, foi outro que usou as redes para exaltar a luta de Lula. “A verdade triunfou no Brasil! Em nome do povo da Venezuela, expresso minha profunda alegria pela libertação de meu irmão e amigo Lula, que estará novamente nas ruas para liderar as justas causas de brasileiros e brasileiros. Vida longa #LulaLibre !”, postou.
Gustavo Petro, segundo colocado nas eleições presidenciais da Colômbia em 2018, classificou a libertação de Lula como uma vitória da humanidade. “A liberdade de Lula é um fato a favor da vida da humanidade”, disse.
México e outros países
O subsecretario para América Latina e Caribe do governo Mexicano, Maximiliano Reyes Zúñiga, também foi às redes celebrar. “Estamos felizes com a decisão da justiça brasileira que hoje determinou a liberdade do ex-presidente Lula, após a decisão adotada pelo Supremo Tribunal Federal. #Justicia #Derecho #VientosNuevos”, postou.
Diversos movimentos de outros países ainda celebraram desde o momento em que o STF declarou inconstitucional a execução provisória da pena. Entre eles, Felipe Parada, militante do Comunes, um dos partidos da Frente Ampla do Chile. “Que alegria terminar esta noite com as notícias da ordem de lançamento de Lula. Um abraço e muita força que o Brasil precisa de você #LulaLivre”, disse.
Conmueve la fortaleza de @LulaOficial para afrontar esta persecución (solo esa definición le cabe al proceso judicial arbitrario al que fue sometido). Su entereza demuestra no solo el compromiso sino la inmensidad de ese hombre.
Cesa hoy una de las aberraciones más grandes del Lawfare en Latinoamérica: la privación ilegítima de la libertad del ex Presidente de la República Federativa de Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. #LulaLivrepic.twitter.com/Hev11DAe50
Un abrazo, querido Lula. Eres ejemplo e inspiración para todos nosotros. Los días de los traidores están contados. ¡Hasta al victoria siempre! https://t.co/hS8odCrZ1l
¡La Verdad Triunfó en Brasil! En nombre del pueblo de Venezuela, expreso mi más profunda alegría por la liberación de mi hermano y amigo @LulaOficial, quien nuevamente estará en las calles para liderar las causas justas de los brasileños y brasileñas. ¡Viva #LulaLibre! pic.twitter.com/q5GTbbwWIb
¡Alegría inmensa!#LulaLibre es el inicio de un proceso de resarcimiento a los presos y perseguidos políticos de la región.
El abuso de la “prisión preventiva” a personas que no han terminado su defensa en debido proceso, viola los derechos humanos y al mismo estado de derecho. https://t.co/FJeCJOOIX8
Para o sociólogo Emir Sader, “a América Latina não apenas volta à esquerda”, mas “luta à esquerda, desmontando o modelo neoliberal no seu eixo fundamental, o Chile”. Neste cenário, diz ele, “a evolução da situação brasileira será determinante” para a terceira década do continente no século XXI.
Nosso continente continua a ser o cenário das mais importantes lutas do mundo contemporâneo – contra o neoliberalismo e pela construção de alternativas ao modelo adotado pelo capitalismo no período histórico atual. O fôlego da retomada neoliberal se confirma como curto. Derrota espetacular de Mauricio Macri na Argentina, do tamanho da euforia que sua vitória havia despertado. Evo Morales, na Bolívia, aguenta firme, apesar da ofensiva da direita e da perda de apoios. No Uruguai, a Frente Ampla continua como a maior força política, mas vai ter parada dura no segundo turno, pela soma das direitas e também pela perda de apoios. Na Colômbia, as eleições municipais representam dura derrota para o atual presidente, Iván Duque, representante do uribismo, se fortalecem candidatos do campo popular e vinculados ao novo líder da esquerda, Gustavo Petro.
A Argentina confirma as fragilidades do neoliberalismo, que a direita não tem outra alternativa, que não aprendeu do esgotamento do seu modelo, que se enganou quanto ao sucesso dos governos antineoliberais, volta com sua política de ajustes fiscais e revela sua incapacidade não apenas de retomar o crescimento econômico e atacar o desemprego, como, em decorrência disso, de conquistar bases de apoio suficientes para ter governos com estabilidade política.
Apesar da recomposição da direita, Evo se apoio em suas bases populares, em grande medida o movimento indígena, para resistir, triunfar eleitoralmente, e ganhar um novo mandato, importante não apenas para completar a extraordinária recuperação econômica e as conquistas sociais e étnicas da Bolívia, como também para recompor suas forças políticas de apoio.
Na Colômbia também um governo neoliberal paga o preço do desgaste desse modelo, assim como da política repressiva e autoritária de Álvaro Uribe, retomada pelo presidente atual. O governo foi derrotado em todas as frentes, a começar por Bogotá e por Medellin, projetando derrota nas próximas eleições presidenciais, com favoritismo de Petro.
Mas a América Latina não apenas volta à esquerda, luta à esquerda, desmonta o modelo neoliberal no seu eixo fundamental, o Chile, e destrói a possibilidade de Lenín Moreno restabelecer o neoliberalismo no Equador. Explosões populares foram a resposta do povo às medidas de ajuste fiscal, que tiveram como reação o recuo aberto de Piñera e de Moreno, revelando como seu modelo é frontalmente antipopular e como o povo já o percebeu e não tolera a continuidade das medidas antipopulares. Esses governos se esgotaram. No Equador se desenha o retorno de governos ligados a Rafael Correa. No Chile, onde a direita tradicional liderava as pesquisas, a esquerda – especialmente a Frente Ampla – tem uma nova e grande oportunidade de voltar a polarizar contra o governo de Piñera.
A primeira década do século XXI na América Latina foi claramente de esquerda, com protagonismo dos governos antineoliberais, e dos seus líderes – Hugo Chávez, Lula, Néstor e Cristina Kirchner, Pepe Mujica, Evo Morales, Rafael Correa – como as principais lideranças de esquerda no mundo. A contraofensiva conservadora se impôs na segunda década do novo século, com as vitórias de Macri e de Jair Bolsonaro, a virada do governo de Moreno, o isolamento internacional do governo de Nicolás Maduro, no marco da eleição de Donald Trump e da vitória do Brexit. A China se reafirma como a grande potência do século XXI e os Brics como o projeto de construção de um mundo multipolar, alternativo à hegemonia imperial norteamericana em declínio.
Essa ofensiva revelou logo suas debilidades, a começar pelo próprio Trump e pelo Brexit, pela derrota do governo do Salvini na Itália, do Netanyahu em Israel, até que se consagrou aqui com a formidável vitória de Alberto Fernández e Cristina Kirchner, de Evo e as fantásticas mobilizações populares no Equador e no Chile. A terceira década promete ser a da retomada da esquerda e do recuo da direita na América Latina.
Com todos os avanços existentes, os governos progressistas em dois dos três países mais importantes do continente – México e Argentina –, com a continuidade do governo de Evo na Bolívia, o decisivo, uma vez mais, recai sobre o Brasil. Duas tendências marcaram a política do país ao longo deste ano: a tendência a um enfraquecimento acelerado do governo de Bolsonaro e ao fracasso da sua forma de fazer política – uma caricatura de Trump. E o fortalecimento da imagem de Lula, não apenas com a reabertura de possibilidades de recuperação da sua liberdade, como da força política que sua liderança recuperou sobre o cenário político brasileiro, com reconhecimento até mesmo de setores tradicionais que sua presença se torna indispensável para a recuperação política do Brasil. Antes de tudo, uma reação de massas às tantas medidas antipopulares do governo atual, assim como a reconstrução do modelo de crescimento econômico com distribuição de renda, precedido de um projeto de reconstrução nacional, diante das políticas de destruição do país dos governos Temer e Bolsonaro.
A liderança de Lula é indispensável nesse processo, mas ela tem que contar com um movimento de massas muito mais ativo e radical nas suas reações às políticas do governo, assim como uma esquerda com espírito unitário e combativo na luta pela reconstrução de uma força que polarize diretamente contra o governo, deixando as contradições internas à direita como fenômeno secundário.
A evolução da situação brasileira será assim determinante para a terceira década da América Latina no século XXI. O país precisa recuperar seu governo popular, para recompor, junto com México e Argentina como líderes, o processo de integração regional e como baluartes mundiais na luta fundamental do nosso tempo – a da derrota e de superação do neoliberalismo.
A festa da direita está chegando ao fim. “O mundo se vira para a direita” veio a ser uma ideia que encobriu todo o planeta. E trouxe uma onda de voracidade material e prepotência antissocial projetadas como um ódio sem razão nem controle. Nada sugeria essa irrupção: os ricos continuavam se fazendo mais ricos, o fantasma do comunismo destruíra-se, as guerras eram o de sempre. Onde o desejo de menos injustiça social chegara ao poder, não houve um só caso de cobrança à riqueza particular por seu débito humanitário. No entanto, a onda veio, voraz e feroz, planejada por teorias econômicas forjadas (nos dois sentidos da palavra) onde maiores são a riqueza e seu poder.
O refluxo da onda diz respeito ao Brasil de modo particular. Com referências diretas e indiretas ao risco de “contaminação”, Bolsonaro mostra o mesmo medo disseminado no poder empresarial pelo levante do povo chileno. Bem de acordo com sua capacidade de compreensão, ao mesmo tempo ele ameaça isolar a Argentina se a direita lá perder a presidência. E faz dessa eleição o pretexto para retirar o Brasil do Mercosul —intenção, na verdade, já exposta como candidato e adequada a reiterado desejo de Trump.
O isolamento que se prenuncia é, porém, o que Bolsonaro não percebe. No Chile, Sebastián Piñera, de centro-direita, se afasta do Brasil de Bolsonaro, forçado a abandonar suas políticas afinadas só com o capital, estopins da explosão agressiva que o surpreendeu. O plano de aproximar o Brasil mais de Uruguai e Paraguai, para isolar a Argentina, revela desinformação patética: neste domingo mesmo, os uruguaios devem eleger Daniel Martínez, definido como “o oposto de Bolsonaro”.
Na Bolívia, Evo Morales já bateu Carlos Mesa, este nostálgico da Presidência a que um dia renunciou, e deve derrotar a articulação internacional para impedi-lo de tomar posse. Negócios com o Brasil, sim; com Bolsonaro, nada. No Equador, Lenín Moreno, eleito pelo antecessor Rafael Correa, traiu-o depressa, traiu seus eleitores e entregou-se ao FMI, que, mais uma vez, provocou violenta revolta de massa. Lenín agora vai trair a si mesmo, para conter a revolta. Da Venezuela, nem se fale.
Na Europa que vale bom entendimento, a imagem do Brasil pode ser encontrada em certos latões nas calçadas da madrugada. Nos Estados Unidos, o amado dos Bolsonaros recebe a cada dia nova acusação, já em trâmite o processo de impeachment. Além disso, tem a disputa eleitoral a assoberbá-lo por antecipação, com a vantagem inicial dos democratas.
O Brasil em breve estará isolado por Bolsonaro. Na duvidosa companhia apenas de Peru, Colômbia e, olhe lá, Paraguai. O bom vizinho, conceito que o Brasil se deu com orgulho, está empesteado.
As violentas insurreições e os resultados eleitorais, em nossa vizinhança, têm em comum a sua causa: as políticas antissociais, de arrocho, de desemprego, de aposentadorias degradantes, de transporte caro, de preços altos e salários baixos. Apesar disso, a alienação política e mental do governo Bolsonaro iguala o ministro da Economia aos napoleões de hospício.
Sua cogitação mais recente é nada menos do que a liberação dos governadores para cortar vencimentos dos funcionários e demitir à vontade, como redução de custo. Paulo Guedes ignora a realidade à sua volta, não conhece a Constituição e imagina que o Congresso aderiria ao seu delírio.
O Chile era o paraíso proclamado por Paulo Guedes. Os governos chileno, do Equador e da Argentina praticaram as políticas que Paulo Guedes quer no Brasil. E percebiam a realidade tanto quanto ele.
O ministro do Meio Ambiente só acionou o Plano de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Água, chamado PNC, mais de 40 dias depois de constatada a presença de petróleo em praias nordestinas. E só o fez porque o Ministério Público Federal exigiu-o com ação judicial. Enquanto mais e mais praias eram atingidas, Ricardo Salles viajava por aí.
São necessárias mais iniciativas do Ministério Público —o federal e o estadual das áreas atingidas. O governo Bolsonaro extinguiu mais de 50 conselhos e dois comitês do PNC no começo do ano, o que mutilou o dispositivo de ação contra desastres ambientais como o atual. Verificada a disseminação do petróleo, não tomou as providências convencionadas. São muitos, portanto, os indícios de crime de prevaricação a merecerem um inquérito criminal para as responsabilidades de Ricardo Salles, incluídas as suas mentiras públicas.
Primeira presa política de uma lista que já soma sessenta líderes populares perseguidos sob o governo de Mauricio Macri, na Argentina, Milagro Sala alerta que o judiciário não tem sido usado para fins políticos apenas em seu caso. Trata-se de um fenômeno continental, que aposta na toga como principal arma para deter quem “se mete com os poderosos” e se dedica à luta “em defesa do povo”.
De sua casa, em Jujuy, no Norte argentino, onde cumpre prisão domiciliar com o uso de tornozeleira eletrônica, a líder comunitária avalia que a semelhança entre casos como o dela não é mera casualidade. Rafael Correa, no Equador; Cristina Kirchner, na Argentina; Lula, no Brasil; mais dezenas de lideranças e ativistas têm sido vítima de processos judiciais que, insuflados pela pressão dos grandes meios de comunicação, já começam com suas sentenças decididas.
Sala se notabilizou como dirigente da organização Tupac Amaru, além de ter sido eleita deputada regional em 2013 e deputada do Parlamento do Mercosul (Parlasul) em 2015. Para ela, “na Argentina, dizemos que Macri usa o poder judicial como partido político. Por que digo isso? Lamentavelmente, a todo opositor, a todos que discordam dele e que incomodam seus negócios, a solução é sufocar com processos judiciais e mandar para a cadeia”.
O que acontece em seu país, diz é similar ao que se passa no Brasil. “O juiz Claudio Bonadio, que sempre esteve na linha de frente dos inúmeros processos contra a ex-presidenta Cristina Kirchner, hoje quer se aposentar, descansar”, ironiza.
Protagonista da luta por moradia e contra as desigualdades sociais em Jujuy, uma província muito menor que Buenos Aires, Sala argumenta: “Há 16 processos contra você. De repente, quatro juízes se juntam e te condenam, praticamente sem direito à defesa. É difícil acreditar que não há fins políticos nesse tipo de prática. Eu venho falando desde que Gerardo Morales foi eleito, em 2015: o governador de Jujuy quer me ver presa. Ponto”.
O conluio entre grandes meios de comunicação e setores do Judiciário para produzir condenações a partir de denúncias vitaminadas pelo martelo da mídia, e com fins quase sempre políticos, tem a ver com o conceito de lawfare, bastante utilizado para explicar, por exemplo, como Sergio Moro se converteu em herói nacional e prendeu Lula sem provas. Milagro Sala, pelo menos por enquanto, não teve a oportunidade de contar com vazamentos como os revelados pelo site The Intercept Brasil, conhecidos como Vaza Jato. As entranhas de sua condenação por “associação ilícita”, “fraude contra o Estado” e “extorsão” permanecem ocultas nos bastidores.
“O papel dos meios de comunicação no meu processo foi nefasto. Eles seguem uma pauta quase publicitária sobre seus interesses”, opina. “Não há democracia nos meios de comunicação. O que há, de fato, é um setor corporativo que responde a todos os caprichos do governo de turno. Isso quando estão alinhados aos seus interesses, é claro”.
Entenda o caso de Milagro Sala
A líder jujeña foi presa em janeiro de 2016, tão logo Macri sentou-se à cadeira presidencial, por participar de um acampamento em frente ao Palácio de Governo de Jujuy, em protesto contra políticas de Gerardo Morales referentes às cooperativas locais. Foi acusada de incitar a violência e causar distúrbios, mas liberada alguns dias depois. Em 2018, porém, foi condenada a 13 anos de prisão, tendo direito ao cárcere domiciliar, conseguido por meio de uma medida cautelar, após apelo feito à Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) — sua detenção é considerada arbitrária por órgãos como a Procuradoria de Violência Institucional da Argentina e por organizações como a Anistia Internacional.
Conhecido como o caso dos “Pibes Villeros” (“garotos favelados”), Sala foi acusada de cometer uma série de delitos por conta do trabalho realizado pela organização Tupac Amaru, no Norte argentino. O movimento começou de forma tímida, atuando como o que os argentinos chamam de “copa de leche” (“copo de leite”): um centro comunitário para distribuir leite e comida para crianças carentes.
Sob os governos de Néstor e Cristina Kirchner, o Tupac Amaru cresceu e tornou-se fundamental na vida de centenas de famílias. A organização passou a participar de programas do governo que, diante do desinteresse da iniciativa privada em desenvolver regiões mais pobres do país, estimulou políticas de financiamentos de cooperativas para a construção de moradias — são essas políticas que estão sendo criminalizadas no processo contra a ativista, acusando-a de desvio de recursos. De lá pra cá, porém, o movimento liderado por Sala foi responsável pela construção de nada menos que 3 mil casas, uma escola, um centro de saúde, três fábricas (uma têxtil, uma metalúrgica e uma de blocos de concreto), além de 27 piscinas.
Piscina construída pela cooperativa Tupac Amaru. Foto: Reprodução
Ao fim da década de 1990, quando fizemos muitas marchas e protestos, as estatais estavam abandonadas. Sem contratos e sem emprego. Um cenário desastroso, muito parecido com o que está se repetindo agora, com Macri”, relata Sala. “Sempre discutimos que a educação e a saúde precisavam de atenção urgente na Argentina. Com pouco dinheiro poderíamos fazer muito. Nos organizamos e começamos a construir as moradias com apoio dos governos de Néstor e Cristina Kirchner. Criamos um sistema de salários aos trabalhadores desta cooperativa. Construímos fábricas, colégio e hospital. Fizemos muita coisa com pouco dinheiro, se comparado com o que as empreiteiras gastam”.
A ideia das fábricas e da escola, conforme explica, foi apostar na formação técnica e profissional da população, para que não dependessem do movimento social. “Construímos 27 piscinas para natação e lazer, onde havia apenas duas piscinas públicas. Era comum que crianças de origem indígena ou negras tivessem o acesso negado a elas. As piscinas que construímos são para todos”, diz.
“Além de mim, são mais 11 companheiros presos em Jujuy. Nossa província tornou-se um laboratório da perseguição judicial a líderes populares. Não nos perdoam por isso, pelo trabalho que fizemos, assim como, na minha opinião, não perdoam Lula, que eu acredito plenamente ser inocente, por ter dado o direito de os pobres terem casa, emprego e acesso à educação”.
Falando em Brasil, Milagro Sala não perdeu a oportunidade de emitir sua opinião sobre Jair Bolsonaro. “O que ele faz com os povos originários, a quem eu chamo de irmãos, é destrutivo e lamentável. Ele ataca pessoas que, hoje, não podem se defender, pois não tem a mão do Exército e nem o poder judicial ao seu lado”, salienta. “A verdade é que me dói na alma. É claro que a finalidade do que fazem é para apropriarem-se das terras, que pertencem aos indígenas, mas que eles querem espremer até a última moeda”.
Sala também criticou a escalada de ataques à liberdade de expressão, a censura nas artes e os cortes na educação. “É escandalosa a forma como o governo de Bolsonaro está atacando a cultura, a educação, e os direitos. Está sendo um excelente aluno do FMI, em resumo. Isso apenas reforça como é importante o povo argentino recuperar e fortalecer a sua democracia, pois nos custou muito caro conquistá-la após a ditadura”.
Eleição na Argentina: onda de esperança
Após quatro anos de remédios amargos típicos do neoliberalismo, cujos efeitos foram a volta da dívida da externa, altos índices de desemprego e uma economia devastada, os argentinos vão às urnas no domingo, 27 de outubro, escolher qual candidato assumirá o complexo desafio de tirar o país do buraco.
Nas eleições primárias, realizadas em agosto, a vitória de Alberto Fernández, que tem Cristina Kirchner como candidata à vice-presidência, foi acachapante: o candidato da Frente de Todos obteve 50% das intenções de voto, contra 30% de Macri, placar que aponta um cenário desesperador para o atual mandatário. Segundo pesquisas de sete institutos diferentes, é muito provável que o candidato do Cambiemos seja derrotado ainda no primeiro turno — as projeções preveem que o mega-empresário precisaria de, pelo menos, 2,5 milhões de votos para voltar a sonhar com o segundo turno.
“Sabemos que toda a América Latina está na expectativa para o que vai acontecer aqui no domingo”, pontua Sala. “Temos tudo para nos libertarmos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da cartilha neoliberal. É o que sentimos. Já nos livramos das amarras do FMI no começo dos anos 2000. Não vai ser fácil, mas precisamos reconstruir nossa pátria. Precisamos entregar aos nossos jovens e aos nossos filhos uma pátria, não uma colônia”.
Segundo ela, é injusto que em um país tão rico como Argentina haja tantos pobres, tantos aposentados em situação de miséria e tantas crianças na rua. “Nunca estivemos tão mal. É impressionante e está totalmente relacionado com o barril de pólvora que tem se tornado o continente, devido às consequências do retorno do neoliberalismo e de governos de direita”, argumenta, fazendo referência às convulsões sociais no Equador e no Chile.
Inimiga declarada dos governos de Néstor e Cristina Kirchner, a imprensa monopolizada pelo grupo Clarín também foi alvo de críticas quanto ao debate eleitoral: “Na Argentina, a mídia está interditando todo e qualquer debate mais profundo e urgente sobre as propostas para o país. Nos debates televisivos, ninguém fala sobre como sair da crise. É uma postura arrogante, que desdenha a capacidade de compreensão da realidade por parte dos que mais sofrem”.
Por Felipe Bianchi, para o ComunicaSul*, de Buenos Aires/Argentina
O Equador está passando pela maior crise política no país, tanto que o presidente equatoriano, Lenín Moreno, decidiu mudar temporariamente o governo da capital Quito para Guayaquil. A Sputnik explica o que estaria acontecendo no país e possíveis consequências.
O que provocou os protestos?
No início de outubro, os sindicatos dos trabalhadores e o movimento indígena, junto a outros grupos da sociedade civil organizada, decidiram iniciar manifestações pelo país, mobilizando-se por tempo indeterminado para protestar contra as reformas econômicas do governo.
Milhares de pessoas foram às ruas em resposta ao anúncio de Moreno de eliminar os subsídios a combustíveis como uma forma de conter o déficit fiscal equatoriano. Entretanto, a medida estaria levando a um aumento no preço de itens básicos de consumo.
A medida faz parte de um pacote de medidas econômicas que foram estabelecidas como consequência do acordo de empréstimo de US$ 4,2 bilhões (R$ 17,2 bilhões) com o Fundo Monetário Internacional (FMI), conforme cita a BBC.
Ordem impede o acesso do público a áreas próximas a prédios do governo e instalações estratégicas no país entre 20h e 5hhttps://t.co/wVQCnZ1ZeT
Contudo, a eliminação de subsídios estaria provocando um aumento de 120% do diesel e de 30% da gasolina normal, além de reformas trabalhistas e tributárias que estariam afetando diretamente os trabalhadores e beneficiando os grupos exportadores e importadores.
Além do problema dos subsídios, o Equador hoje vive uma crise democrática de representação, pois a sociedade não está certa de que o governo esteja trabalhando em benefício da maioria, tornando os serviços públicos precários, elevando o número de desempregados e perdendo soberania econômica e política, entregando o país aos poderes fáticos e dividindo o país entre os grupos econômicos.
Histórico de protestos no Equador
O Equador, um país dolarizado e que depende do petróleo, possui um grande histórico de problemas e crises, que já desafiaram a estabilidade no país e derrubaram governos.
Entre 1996 e 2007, o país passou pela pior instabilidade política de sua história, quando ocorreram diversos protestos sociais que provocaram a queda de três presidentes, sendo que dois deles tentaram realizar ajustes econômicos. Manifestante entra em confronto com a polícia em frente a sede do Parlamento do Equador
A última grande crise enfrentada pelo país foi a de 2005, quando o então presidente Lucio Gutiérrez, um militar aposentado, renunciou depois de diversos protestos que contavam com o apoio indígena.
Em 2007, Rafael Correa assumiu a presidência do país até 2017, período que fez com que o Equador fosse atingido pelo alto endividamento e pela falta de liquidez, aponta a Folha de São Paulo. A crise equatoriana pode ser solucionada?
Perante a crise mais grave da história equatoriana, em que os protestos liderados por sindicatos do setor de transporte e indígenas tomam conta do país, o presidente Moreno afirmou que não revisaria o pacote de medidas, que inclui a eliminação de subsídios à gasolina, excluindo a possibilidade de solucionar o problema através de uma revisão.
O professor Viktor Jeifets, da cátedra de Teoria e História das Relações Internacionais da Faculdade de Relações Internacionais da Universidade Estatal de São Petersburgo, ressaltou à Sputnik que a situação talvez possa ser solucionada através da antecipação das eleições.
Por favor, compartilhe. Mensagem aos meus compatriotas nestes momentos tão difíceis da nossa história.
A hipótese também foi indicada pelo ex-presidente equatoriano, Rafael Correa, que apontou, durante uma entrevista à CNN, uma “saída constitucional” e democrática para resolver a situação, fazendo com que uma eleição antecipada dê a oportunidade de o povo votar e escolher a melhor opção para o país. Fantasma do FMI estaria regressando à América Latina.
Vale destacar que o Fundo Monetário Internacional (FMI), representado pelo Tesouro norte-americano, grandes bancos e instituições internacionais, também é conhecido por gerar problemas em alguns governos devido aos seus termos e imposições para firmar os acordos
Hoje, na América Latina apenas o Uruguai, a Bolívia e o México resistem bravamente ao FMI, que está ativamente presente no Equador e na Argentina. A política do FMI segue levando os países à recessão e à depressão, e o mais recente exemplo disso é o Equador, que acaba de decretar estado de exceção em meio a imposições de um acordo com o FMI para dolarizar o país.
O Peru é outro país que está sofrendo as consequências de viver sob a tutela do FMI, sofrendo com os desdobramentos da Operação Lava Jato.
A Argentina, por sua vez, retrata a participação do FMI nos índices de pobreza e desemprego, além da elevação dos preços e desvalorização de sua moeda local. Possíveis consequências para o Brasil
Na verdade, a crise no Equador provavelmente não trará consequências para o Brasil, mas sim servirá de lição.
“Tanto no Brasil como nos demais países que têm que lidar com sérios ajustes fiscais, vale observar o que acontece lá para não cometer os mesmos erros”, afirmou ao portal UOL a doutora em relações internacionais e especialista em América Latina Manoela Miklos.
Além disso, a situação de Moreno no Equador, que é apoiado pelo presidente argentino, Mauricio Macri, e pelo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, deve servir de alerta para que ambos os países não sigam o mesmo passo em direção à submissão radical, que Bolsonaro chama de “aproximação”, diante do presidente norte-americano, Donald Trump.
Essa submissão fez com que o presidente equatoriano fechasse um acordo de bilhões de dólares com o FMI, devastando o país socialmente.
Ou seja, a situação de Macri, de Moreno e do presidente peruano Martín Vizcarra deve servir de alerta àqueles que pretendem seguir a política neoliberal e de submissão radical, causando o naufrágio dos países em questão, bem como de seus representantes. Sendo assim, Bolsonaro precisa aprender com os “vizinhos” para não cometer os mesmos erros e provocar uma devastação social no Brasil.
Por favor, compartilhe. Mensagem aos meus compatriotas nestes momentos tão difíceis da nossa história.
A hipótese também foi indicada pelo ex-presidente equatoriano, Rafael Correa, que apontou, durante uma entrevista à CNN, uma “saída constitucional” e democrática para resolver a situação, fazendo com que uma eleição antecipada dê a oportunidade de o povo votar e escolher a melhor opção para o país. Fantasma do FMI estaria regressando à América Latina
Vale destacar que o Fundo Monetário Internacional (FMI), representado pelo Tesouro norte-americano, grandes bancos e instituições internacionais, também é conhecido por gerar problemas em alguns governos devido aos seus termos e imposições para firmar os acordos.
Hoje, na América Latina apenas o Uruguai, a Bolívia e o México resistem bravamente ao FMI, que está ativamente presente no Equador e na Argentina. A política do FMI segue levando os países à recessão e à depressão, e o mais recente exemplo disso é o Equador, que acaba de decretar estado de exceção em meio a imposições de um acordo com o FMI para dolarizar o país.
Rafael Correa diz que pacote de governo equatoriano é parte de plano neoliberal para América Latina. O ex-presidente também falou sobre a prisão de Lula e a eleição na Argentina https://t.co/H5oXaSJTjgpic.twitter.com/BKR4mA1H7v
O Peru é outro país que está sofrendo as consequências de viver sob a tutela do FMI, sofrendo com os desdobramentos da Operação Lava Jato.
A Argentina, por sua vez, retrata a participação do FMI nos índices de pobreza e desemprego, além da elevação dos preços e desvalorização de sua moeda local. Possíveis consequências para o Brasil
Na verdade, a crise no Equador provavelmente não trará consequências para o Brasil, mas sim servirá de lição.
“Tanto no Brasil como nos demais países que têm que lidar com sérios ajustes fiscais, vale observar o que acontece lá para não cometer os mesmos erros”, afirmou ao portal UOL a doutora em relações internacionais e especialista em América Latina Manoela Miklos.
Além disso, a situação de Moreno no Equador, que é apoiado pelo presidente argentino, Mauricio Macri, e pelo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, deve servir de alerta para que ambos os países não sigam o mesmo passo em direção à submissão radical, que Bolsonaro chama de “aproximação”, diante do presidente norte-americano, Donald Trump.
Essa submissão fez com que o presidente equatoriano fechasse um acordo de bilhões de dólares com o FMI, devastando o país socialmente.
Ou seja, a situação de Macri, de Moreno e do presidente peruano Martín Vizcarra deve servir de alerta àqueles que pretendem seguir a política neoliberal e de submissão radical, causando o naufrágio dos países em questão, bem como de seus representantes. Sendo assim, Bolsonaro precisa aprender com os “vizinhos” para não cometer os mesmos erros e provocar uma devastação social no Brasil.
O retorno eufórico da direita a governos latino-americanos produziu a derrota espetacular, o estado de exceção de Lenin Moreno no Equador, para tentar conter a ira popular contra o seu pacote neoliberal, a projeção de Bolsonaro como o mais ridículo, caricato e grotesco chefe de Estado do mundo. Esses eram os personagens que iriam recolocar as economias dos nossos países na linha, sanear as finanças públicas, recuperar o prestígio internacional dos nossos países, terminar com a corrupção, superar os governos populistas e fazer nossos países chegarem à estabilidade, o desenvolvimento e o bem-estar social.
Passou pouco tempo, até que os personagens heroicos da restauração neoliberal sejam personagens grotescos, ridicularizados – Macri, Lenin Moreno, Bolsonaro. Quem dá algo por eles? Quem acredita que o Macri vai virar o resultado das eleições na Argentina? Quem acredita que o Lenin Moreno vai se safar da crise equatoriana atual? Quem acredita que o futuro do Brasil é o Bolsonaro?
A direita tomou o governo de países que tinham sido recuperados por governos populares, fazendo com que voltassem a crescer, que passassem a distribuir renda, a ter boas relações de cooperação com seus vizinhos, a conseguir estabilidade política, convivência pacifica e democrática entre as forcas políticas, sociais e culturais, a fazer respeitar o Estado por suas políticas de governar para todos e garantir os direitos de todos. Basta olhar qual é a situação de países como Argentina, Brasil, Equador, entregues à recessão, ao desemprego, à perda de apoio e de legitimidade dos seus governos, a poucos anos de que presidentes de direita voltaram, para nos darmos conta de para que a direita fez todos os esforços, legais e ilegais, para brecar os governos de esquerda e voltar à presidência desses países.
O que era o Equador de Rafael Correa e o que se tornou nas mãos de alguém eleito em base ao sucesso de Correa, para trair a tudo com o que tinha sido eleito, fazendo o que a direita queria e jogar o país na beira do abismo, com ocupação militar das ruas do país.
O que era o Brasil do Lula, país respeitado no mundo todo, com um presidente que terminou seu mandato com 80% de referências negativas na mídia, mas com 87% de apoio da população. O Brasil crescia e distribuía renda ao mesmo tempo. E o que é o pais nas mãos de um presidente a quem ninguém respeita, que tirou o país da miséria e da violência desenfreada.
Da mesma forma que Nestor e Cristina resgataram a Argentina da pior crise da sua história, fizeram o país voltar a se desenvolver e a gerar empregos. Como conseguira superar o endividamento com o FMI e a voltar a ser um país respeitado no mundo. Em comparação com o país que o Macri não tem vergonha de entregar de volta para as forças democráticas, um país que cumpre três anos de estagflação, com o povo entregue à miséria e à fome.
Mas há uma lógica, ainda que perversa, nessa loucura que a direita promove nesses países e quer fazer em outros. Seu objetivo é, antes de tudo, buscar tirar legitimidade e apoio popular das lideranças populares mais importantes que esses países tiveram. Esses líderes foram transformados nos principais inimigos das oligarquias locais e da política norte-americana, porque eles conquistaram a confiança dos seus povos e o prestigio internacional, com políticas que privilegiam processos de integração regional e não os tratados de livre comércio com os EUA.
Em segundo lugar, para substituir políticas econômicas que privilegiam o desenvolvimento do mercado interno de consumo de massa, pelo retorno das políticas de ajuste fiscal, que promovem os interesses do capital financeiro. Retomam o modelo neoliberal, vigente no capitalismo mundial, apesar de ter levado as grandes potências a uma profunda e prolongada recessão. Substituir o modelo antineoliberal é terminar com um exemplo de política econômica alternativa, que prova que não há um único caminho, como o consenso de Washington e o pensamento único tratam de impor.
A direita latino-americana retomou os governos de países como a Argentina, o Brasil, o Equador, e demonstrou que não aprenderam nada do seu fracasso anterior e do sucesso dos governos antineoliberais. Fracassam de novo, fracassam melhor, fracassam maus, são e serão derrotadas de novo, também no Brasil.
Para o cientista político Emir Sader, “a contraofensiva da direita no mundo perde força e abre a perspectiva para que um novo ciclo de governos antineoliberais possa marcar um terceiro momento no século XXI.
Depois de uma primeira década marcada por governos antineoliberais na América Latina, que projetavam Hugo Chávez, Lula, Nestor e Cristina Kirchner, Pepe Mujica, Evo Morales e Rafael Correa como os grandes líderes políticos da esquerda em escala mundial, a direita retomou a iniciativa e a ofensiva. Conseguiu isolar o governo de Nicolás Maduro na Venezuela, eleger Maurício Macri na Argentina, impor uma derrota a Evo Morales no referendo sobre o direito de se candidatar à reeleição, derrubou o governo da Dilma, prendeu o Lula e elegeu Bolsonaro, reverteu a vitória do sucessor de Rafael Correa no Equador, fortaleceu as candidaturas de direita no Uruguai, elegeu Ivan Duque na Colômbia, novamente Sebastian Pinera no Chile. O cenário latino-americano mudou radicalmente, de forma consonante com mudanças fundamentais no cenário global.
Em escala mundial, o cenário era comandado pelo Brexit e pela eleição de Donald Trump nos EUA, por governos direitistas na Itália, na Polônia, na Hungria, entre outros. Johnson rapidamente perdeu o controle do seu próprio partido diante da tentativa de saída sem negociação do Brexit e fracassa. O próprio Trump teve que mandar embora Bolton, seu “senhor da guerra”, que também fracassou na sua tentativa de resolver os conflitos pela generalização de núcleos de guerra pelo mundo afora, quando os EUA não conseguiram ainda nem sequer sair do Iraque e do Afeganistão. Fracassa a versão mais radical do trumpismo.
A agenda mundial, que havia assumido tons conservadores, com retrocessos profundos, com as duas cabeças do bloco ocidental há mais de um século, em retrocesso da globalização, deixando um vazio de liderança, se esgota. Trump tem que mudar as formas de enfrentar os conflitos. Johnson se choca com uma maioria parlamentar que bloqueia seu projeto. Salvini é derrotado e substituído por um governo moderado, que reabre as fronteiras da Itália para os imigrantes e derrota a extrema direita. Um governo socialista na Espanha vai se unir ao de Portugal, como governos alternativos às políticas de ajuste imperantes na Europa.
Na Argentina, a espetacular vitória de Macri há quase quatro anos, com o restabelecimento do modelo neoliberal, que o levou rapidamente à rejeição e a uma não menos espetacular derrota, demonstrou que a direita não tem alternativa a esse modelo que promove os interesses do capital financeiro e ataca frontalmente os direitos da grande maioria da população. Por isso se esgota rapidamente e fracassa.
Na Argentina, a espetacular vitória de Macri há quase quatro anos, com o restabelecimento do modelo neoliberal, que o levou rapidamente à rejeição e a uma não menos espetacular derrota, demonstrou que a direita não tem alternativa a esse modelo que promove os interesses do capital financeiro e ataca frontalmente os direitos da grande maioria da população. Por isso se esgota rapidamente e fracassa.
O cenário latino-americano vai mudando de novo, com a perspectiva de dois dos principais países do continente – México e Argentina – contarem com governos progressistas, isolando o governo de extrema direita do Brasil. As eleições na Bolívia e no Uruguai representam disputas entre governos antineoliberais, que mudaram de maneira tão positiva esses países, e tentativas de restauração neoliberal, ao estilo dos governos da Argentina – até este ano – e do Brasil.
“‘A verdade vencerá, custe o que custar’, disse Lula, em entrevista ao jornal Página 12 na prisão em Curitiba. Com suas convicções intactas, ele ressaltou que já provou sua inocência, que confia na vitória de Alberto Fernández porque ‘o povo argentino deve recuperar o direito de ser feliz’ e denunciou que ‘eles não estão governando, estão vendendo o Brasil’. ‘Não é porque um juiz tenha sido um canalha, que você deve julgar toda a justiça por causa desse erro’, disse ele. (Página 12, Argentina)
O jornal argentino Pagina 12 publica hoje uma entrevista com o Lula, na qual o ex-presidente
– O que lhe dá forças para começar todos os dias?
– Primeiro, quero viver muito. Não sei por que, mas acho que vou viver 120 anos, então alguém que vai viver muito precisa ter muita força porque, caso contrário, a vida se tornaria chata. E eu sei porque estou aqui. Estou aqui condenado por um ex-juiz mentiroso (Sergio Moro); por um promotor mentiroso e desonesto (Deltan Dallagnol) e por alguns comissários que me armavam com causas mentirosas contra mim. Eu posso não estar aqui, eu poderia ter deixado o Brasil. Mas vim aqui porque tenho quatro pessoas que sabem a verdade sobre esses processos contra mim: eu, Deus, o juiz e os promotores. Eles sabem que mentem. E Deus e eu sabemos que estou com a verdade. É por isso que estou aqui. Estou aqui para provar minha inocência. Além disso, eu provei minha inocência, o que eu quero é que eles provem minha culpa. Quero e continuo esperando que alguém me culpe por alguma coisa. Estou esperando mostrem um dólar ganho desonestamente na minha vida. Na verdade, esse é o crime que cometi neste país, o de provar a uma elite brasileira politicamente desonesta, que é possível que as pessoas comam lombo e chouriço, que é possível que os pobres viajem para Bariloche, para Buenos Aires , para Miami de avião, que é possível que uma pessoa tenha uma casa, que seja possível que uma pessoa entre em uma universidade, que é possível que uma pessoa vá para uma escola técnica e que é possível que uma pessoa tenha acesso à cultura , à recreação, ao teatro, ao cinema, a um restaurante. Esse foi o crime que cometi. Gerar 22 milhões de empregos em branco. Aumentar o salário mínimo em 75%. Disponibilizar 52 milhões de hectares de terra para fazer a reforma agrária. Fazer o maior programa de história nacional do Brasil e fazer amizade com todos os países da América do Sul. Foi o momento de cordialidade. Foi o momento em que não tivemos disputas. Foi o momento em que sonhamos: Kirchner, Lula, Chávez, Rafael Correa, Tabaré, Pepe Mujica e sonhamos em construir um forte bloco econômico, tecnologicamente desenvolvido para poder promover a exportação de produtos de valor agregado e não apenas de mercadorias.
– E o que aconteceu com esse sonho?
– E ainda tenho esse sonho e é por isso que tenho força. Porque ainda quero estar vivo e quero ajudar a derrotar todas essas pessoas más, que não gostam dos pobres, que apenas governam para o mercado. Aqui no Brasil, há um ano, não se fala em emprego, não se fala em salários, não se fala em renda. Fala-se apenas de privatização e redução da máquina pública. Então, minha vontade de lutar é como se eu tivesse 20 anos. Aqui e fora do país. E acho que eles têm medo de me deixar ir, porque sabem que quando me deixam ir, vou para a rua. Eu vou para a rua Eu quero ir até a porta da Rede Globo de Televisão e negar. Há dez anos, ele conta mentiras sobre mim. Quero fazer um debate com o canalha do juiz que me julgou e o promotor que me acusou. Então é por isso que tenho força.
– Sua liberdade depende da justiça, você confia na justiça e nas instituições brasileiras em geral?
– Eu poderia fazer uma pergunta e é uma pergunta que faço a mim mesmo todos os dias. No dia em que parar de acreditar na justiça, fico imaginando o que vou fazer. Não é porque um juiz tenha sido um canalha, não é porque um promotor tenha sido um canalha, você deve julgar toda a justiça por causa desse erro. O problema é que espero, com muita calma, que o Supremo Tribunal tome uma decisão. Eu tenho dois habeas corpus que precisam votar. Há uma grande pressão da imprensa brasileira, especialmente da Rede Globo de Televisão, para que o Lula não saia da prisão. Porque o grande problema da operação de Lava Jato é que ela deixou de ser uma operação de investigação de corrupção e se tornou um partido político. Ou seja, existe um pacto entre a mídia e a operação Lava-Jato. Todas as mentiras que Lava-jato conta, Eles são realmente transformados na imprensa brasileira. Nas três revistas nacionais, nos grandes jornais, a Lava-Jato tinha um jornalista em cada jornal, em cada revista que recebia preferencialmente as informações antes dos advogados de defesa. E isso ainda continua. Vocês acompanham na Argentina as revelações do blog Intercept, que descobriu tudo o que está podre na Lava jato. Para a grande imprensa brasileira, não há Intercept. Nenhuma denúncia feita por Glenn (Greenwald, jornalista da Intercept) é relatada na grande imprensa. Agora, no domingo, houve uma denúncia muito séria das mentiras dos promotores, do comissário de polícia, do juiz Moro, sobre o fato de que eu aceitei ser ministro de Dilma. A mentira é a coisa mais séria até agora e a Rede Globo não disse nada. A Record não disse nada. O SBT não disse nada. Ou seja, a imprensa não consegue se destacar do Lava-Jato porque, quando Lula é libertado, uma parte do Lava-Jato perde credibilidade. Porque até agora eles só contavam mentiras. E estou com muita sede, querendo, em liberdade, questionar a credibilidade dessas pessoas. É por isso que acredito na justiça.
-O que você acha que estava errado se tivesse que fazer uma autocrítica à sua gestão? E o que consertaria isso?
– Aqui no Brasil tem algo na moda, todo mundo quer que o PT faça uma autocrítica. É impressionante. Eles governaram por 500 anos, o PT apenas 13 anos, apenas o PT fez mais do que eles. Para se ter uma ideia, em oito anos de governo, fui o presidente que criou mais universidades na história do Brasil. Colocamos mais estudantes na universidade, em 12 anos, mais estudantes do que em um século. Então, se eu tivesse que fazer uma autocrítica, olhava no espelho e dizia: “Lula, por que você não fez mais? Por que você não melhorou mais o salário das pessoas? Por que você não fez mais universidades? Por que você não gerou mais empregos? Por que você não fez mais pela reforma agrária? ”Essa era a autocrítica que eu faria. Faça mais, mais e mais, porque só assim vamos criar um povo com um padrão de vida decente.
– Como pode ser desmontada essa coalizão entre mídia e justiça para gerar tais golpes institucionais?
– Nunca fui almoçar ou tomar café da manhã com o dono de um jornal, uma estação de televisão para pedir um favor. A única coisa que quero e exijo é que elas existam para informar bem a sociedade, para não mentir para você, para não mentir. E no Brasil muitas mentiras foram construídas. Se você levar em consideração que as principais notícias televisivas do Brasil, segundo pesquisa feita por um professor da Universidade Federal de Minas Gerais, em pouco mais de um ano, são 80 horas nas principais notícias desta televisão. , falando mal de Lula. E, ao mesmo tempo, ele tem mais de 100 horas, transformando um juiz mentiroso em um herói. Quero dizer, eles pensaram que a mentira ia ganhar. E estou aqui para lhe dizer: a verdade vencerá, o que for preciso, tarde o que for preciso, Mas o povo brasileiro saberá a verdade e que as pessoas que me acusaram não têm moral. Eles usaram a justiça para fazer política e o objetivo principal era impedir que Lula se tornasse presidente da República deste país. E que o PT não pode mais vencer as eleições. É isso, o mesmo ódio que tiveram com Kirchner e com Cristina.
– Você se vê de novo Presidente?
.- Estou ciente de que meu papel agora é contribuir para que outras pessoas, mais jovens que eu, com mais energia que eu, com mais entusiasmo que eu … Com mais desejo, não acredito. Mas outras pessoas, o Brasil tem pessoas muito boas. Existem vários governantes interessantes, há novas pessoas na política. Espero que o Brasil não precise de mim. Espero que tenhamos novos quadros, novas mulheres, novos homens para participar de um processo eleitoral.