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Veja confirma: Glauber tem razão, Moro é corrupto e ladrão

No final das contas, o que a revista Veja publicou, em parceria com o Intercept, o Deputado Federal do Psol, Glauber Braga, foi até econômico, pois a chave do caso em que a justiça se corrompe e rouba para uma das partes, no caso, a acusação na Lava Jato, simplesmente está sob o controle da manete de Sergio Moro.

E são essas revelações que vêm pipocando pelo Intercept, Veja, Folha e Band, que Moro diz “não ter nada demais”.

Esta densa reportagem que segue abaixo, de forma inapelável, desaba a catedral da república de Curitiba, comandada pelo chefe da “Liga da Justiça”, Sergio Moro, o juiz corrupto e ladrão, como disse Glauber Braga.

As manifestações do último dia 30 tiveram como principal objetivo a defesa de Sergio Moro. Em Brasília, um enorme boneco de Super-Homem com o seu rosto foi inflado na frente do Congresso. Símbolo da Lava-Jato, que representa um marco na história da luta anticorrupção no país, o ex-juiz vem sofrendo sérios arranhões na imagem desde que os diálogos entre ele e membros da força-tarefa vieram a público revelando bastidores da operação. As conversas ocorridas no ambiente de um sistema de comunicação privada (o Telegram) e divulgadas pelo site The Intercept Brasil mostraram que, no papel de magistrado, Moro deixou de lado a imparcialidade e atuou ao lado da acusação. As revelações enfraqueceram a imagem de correção absoluta do atual ministro de Jair Bolsonaro e podem até anular sentenças.

No material que o Intercept diz ter recebido de uma fonte anônima, há quase 1 milhão de mensagens, totalizando um arquivo com mais de 30 000 páginas. Só uma pequena parte havia sido divulgada até agora — e ela foi suficiente para causar uma enorme polêmica. Em parceria com o site, VEJA realizou o mais completo mergulho já feito nesse conteúdo. Foram analisadas pela reportagem 649 551 mensagens. Palavra por palavra, as comunicações examinadas pela equipe são verdadeiras e a apuração mostra que o caso é ainda mais grave. Moro cometeu, sim, irregularidades. Fora dos autos (e dentro do Telegram), o atual ministro pediu à acusação que incluísse provas nos processos que chegariam depois às suas mãos, mandou acelerar ou retardar operações e fez pressão para que determinadas delações não andassem. Além disso, revelam os diálogos, comportou-se como chefe do Ministério Público Federal, posição incompatível com a neutralidade exigida de um magistrado. Na privacidade dos chats, Moro revisou peças dos procuradores e até dava bronca neles. “O juiz deve aplicar a lei porque na terra quem manda é a lei. A justiça só existe no céu”, diz Eros Grau, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, falando em tese sobre o papel de um magistrado. “Quando o juiz perde a imparcialidade, deixa de ser juiz.”

Não seria um escândalo se um magistrado atuasse nas sombras alertando um advogado de que uma prova importante para a defesa de seu cliente havia ficado de fora dos autos? Pois isso aconteceu na Lava-Jato, só que em favor da acusação. Uma conversa de 28 de abril de 2016 mostra que Moro orientou os procuradores a tornar mais robusta uma peça. No diálogo, Deltan Dalla­gnol, chefe da força-tarefa em Curitiba, avisa à procuradora Laura Tessler que Moro o havia alertado sobre a falta de uma informação na denúncia de um réu — Zwi Skornicki, representante da Keppel Fels, estaleiro que tinha contratos com a Petrobras para a construção de plataformas de petróleo, e um dos principais operadores de propina no esquema de corrupção da Petrobras. Skornicki tornou-se delator na Lava-­Jato e confessou que pagou propinas a vários funcionários da estatal, entre eles Eduardo Musa, mencionado por Dalla­gnol na conversa. “Laura no caso do Zwi, Moro disse que tem um depósito em favor do Musa e se for por lapso que não foi incluído ele disse que vai receber amanhã e da tempo. Só é bom avisar ele”, diz. (VEJA manteve os diálogos originais com eventuais erros de digitação e ortografia.) “Ih, vou ver”, responde a procuradora. No dia seguinte, o MPF incluiu um comprovante de depósito de 80 000 dólares feito por Skornicki a Musa. Moro aceita a denúncia minutos depois do aditamento e, na sua decisão, menciona o documento que havia pedido. Ou seja: ele claramente ajudou um dos lados do processo a fortalecer sua posição.

Em sua defesa após o estouro do escândalo das mensagens, o ministro vem repetindo que atendia tanto os encarregados da acusação quanto os da defesa no dia a dia e tinha conversas com eles, nenhuma delas imprópria, na sua visão. De fato, está na rotina de um juiz receber as partes envolvidas no processo, mas de maneira oficial, sempre com registro, e não por meio de um sistema privado de comunicação. A posição do ex-juiz fica ainda mais difícil de defender diante dos dados analisados pela parceria VEJA/The Intercept. Não eram conversas protocolares entre juiz e Ministério Público. Do conjunto, o que se depreende, além de uma intimidade excessiva entre a magistratura e a acusação, é uma evidente parceria na defesa de uma causa. Os exemplos mais robustos vêm das conversas entre Moro e Dalla­gnol. Em 2 de fevereiro de 2016, por exemplo, o juiz escreve a ele: “A odebrecht peticionou com aquela questao. Vou abrir prazo de tres dias para vcs se manifestarem”. Dalla­gnol agradece o aviso. Moro se refere ao questionamento da Odebrecht à Justiça da Suíça a respeito do compartilhamento de dados, incluindo extratos bancários, da empresa naquele país. Grosso modo, a empreiteira tentou impedir que o Ministério Público suíço enviasse dados à força-tarefa.

Preocupado com a história, Moro pede notícias a Dalla­gnol no dia 3. “Quando sera a manifestação do mpf?”, pergunta. “Estou redigindo, mas quero fazer bem feita, para já subsidiar os HCs que virão. Imagino que amanhã, no fim da tarde”, responde o procurador. No dia seguinte, Dalla­gnol informa a Moro que a peça estava quase pronta, mas dependia ainda da revisão de colegas. “Protocolamos amanha, salvo se for importante que seja hoje. Posso mandar, se preferir, versão atual por aqui, para facilitar preparo de decisão”, escreve. Moro tranquiliza Dalla­gnol: “Pode ser amanha”. No dia 5, prazo final, por volta das 15 horas, Dalla­gnol manda pelo Telegram ao juiz a peça “quase pronta”. A situação é completamente irregular. Em vez de se comunicarem de forma transparente pelos autos, juiz e procurador usam o Telegram. Como se não bastasse, o chefe da força-­tarefa ainda envia a Moro uma versão inacabada do trabalho para que o juiz possa adiantar a sentença.

Dentro da relação estabelecida pela dupla, chama atenção também o momento em que Dalla­gnol dá dicas ao “chefe” sobre argumentos para garantir uma prisão. Isso aconteceu em 17 de dezembro de 2015, quando Moro informa que precisa de manifestação do MPF no pedido de revogação da prisão preventiva de José Carlos Bumlai, pecuarista e amigo de Lula. “Ate amanhã meio dia”, escreve. Dalla­gnol garante que a ação será feita e acrescenta: “Seguem algumas decisões boas para mencionar quando precisar prender alguém…”. À luz do direito, é tão constrangedor quanto se Cristiano Zanin Martins fosse flagrado passando a Moro argumentos para embasar um habeas­-corpus a favor de Lula.

Mesmo entre parceiros com bastante afinidade há momentos de tensão (e que precisam ser resolvidos com uma conversa ao vivo). Em um deles, ocorrido em um chat de 17 de novembro de 2015, Moro dá um puxão de orelha em Dalla­gnol. O juiz reclama de que está difícil entender os motivos pelos quais o MPF recorreu da sentença aplicada aos delatores Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, Pedro José Barusco Filho, Mário Frederico Mendonça Góes e Júlio Gerin de Almeida Camargo. Dalla­gnol tenta se justificar, sem sucesso. “O mp está recorrendo da fundamentação, sem qualquer efeeito pratico”, critica o juiz. “Na minha opinião estao provocando confusão.” Para Moro, o efeito prático do recurso apresentado pelo MPF será “jogar para as calendas a existência execução das penas dos colaboradores”, ou seja, postergará o início do cumprimento da pena aplicada aos delatores citados. Mais uma vez, tudo fora dos autos. Dalla­gnol, resignado, pede um encontro com Moro para a manhã do dia seguinte: “25m seriam suficiente (sic)”.

Peças fundamentais na Lava-­Jato, as delações exigem também que o juiz se comporte de forma imparcial e somente após as negociações, conduzidas pelo MPF, pois ao fim do processo caberá a ele decidir se aceita ou não a oferta. Nesse capítulo, Moro cruzou igualmente a linha, a exemplo do caso do ex-deputado Eduardo Cunha. Na noite de 12 de junho de 2017, Ronaldo Queiroz, procurador da força-tarefa da Lava-Jato na PGR, cria um grupo no Telegram com Dalla­gnol para avisar que foi procurado pelo advogado de Cunha para iniciar uma negociação de delação premiada. Queiroz afirma que as revelações poderiam ser de interesse dos procuradores de Curitiba, Rio de Janeiro e Natal, onde corriam ações relacionadas ao político. Após membros do Rio de Janeiro serem incluídos no grupo, Queiroz posta uma mensagem que dá uma ideia de sua visão de mundo sobre a quantidade de honestos na Justiça e na política (uma visão de mundo compartilhada por muitos de seus colegas da Lava-Jato). Queiroz afirma esperar que Cunha entregue no Rio de Janeiro, pelo menos, um terço do Ministério Público estadual, 95% dos juízes do Tribunal da Justiça, 99% do Tribunal de Contas e 100% da Assem­bleia Legislativa.

No dia 5 de julho, durante o período da tarde, os procuradores concordam em marcar uma reunião com o advogado Délio Lins e Silva Júnior para a terça-­feira seguinte (11 de julho). Naquele mesmo dia, às 23h11, em uma conversa privada, Moro questiona Dalla­gnol sobre rumores de uma delação de Cunha. “Espero que não procedam”, diz. Dalla­gnol afirma que tudo não passa de rumores. Ele confirma ao juiz que está programado apenas um encontro com o advogado para que os procuradores tomem conhecimento dos anexos. “Acontecerá na próxima terça. estaremos presentes e acompanharemos tudo. Sempre que quiser, vou te colocando a par”, afirma. Moro, então, reitera seu posicionamento. “Agradeço se me manter (sic) informado. Sou contra, como sabe.” Detalhe: isso sem saber o conteúdo.

Como a proposta de delação atingia políticos com foro privilegiado, a palavra final para assinar um acordo de delação com Cunha passou para a PGR. A homologação competia ao ministro Luiz Edson Fachin, relator da Lava­-Jato no STF. O ex-deputado corria na época para fechar um acordo antes de o doleiro Lúcio Bolonha Funaro assinar os termos de sua delação. Os procuradores envolvidos nas negociações diziam que a dupla falava sobre os mesmos temas, o que tornaria desnecessária a aprovação das duas colaborações. No dia 28 de julho, já com os anexos de Cunha em mãos, Ronaldo Queiroz diz que a ideia é analisá-­los em conjunto com os colegas para tomar uma decisão sobre aceitar ou rejeitar a delação. Em 30 de julho, Queiroz diz que o material é fraco. No dia seguinte, uma mensagem do procurador Orlando SP, provavelmente Orlando Martello Júnior, traz o posicionamento de Curitiba — o mesmo de Moro: “Achamos que o acordo deve ser negado de imediato”.

O papel de líder da Lava-Jato em Curitiba é exercido em diversas oportunidades pelo ex-juiz. Em mais de uma ocasião, Moro aparece nos chats do Telegram interferindo na agenda dos procuradores da força-tarefa, outra atitude que gera a suspeição de qualquer magistrado. Em 7 de julho de 2015, por exemplo, um membro da força-tarefa, que a reportagem de VEJA identificou ser o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, escreve o seguinte: “Igor. O Russo (Moro) sugeriu a operação do professor para a semana do dia 20”. Igor (o delegado da Polícia Federal Igor Romário) responde: “Opa… beleza… Vou começar a me organizar”. De acordo com a apuração da revista, o “professor” era o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, da Eletronuclear. Ele acabou sendo preso no dia 28. Em outro episódio, Moro não apenas sugere uma data para a operação como também já fala em receber a denúncia. O caso em questão aparece em um diálogo ocorrido em 13 de outubro de 2015. Nele, o procurador Paulo Galvão, o PG, alerta Roberson Pozzobon, seu colega da força-­tarefa, sobre uma orientação do juiz. “Estava lembrando aqui que uma operação tem que sair no máximo até por volta de 13/11, em razão do recesso e do pedido do russo (Moro) para que a denúncia não saia na última semana”, escreve PG. “Após isso, vai ficar muito apertado para denunciar.” Pozzobon concorda com PG e acrescenta: “uma grande operação por volta desta data seria o ideal. Ainda é próximo da proclamação da república. rsrs”.

A partir de um levantamento das operações ocorridas em novembro e das denúncias oferecidas em dezembro de 2015, chega-se à conclusão de que o diálogo trata da Operação Passe Livre, que prendeu José Carlos Bumlai. Ele atuou como laranja do PT, intermediando um empréstimo de 12 milhões de reais do Banco Schahin ao partido em 2004. O pedido de Moro comentado na conversa entre PG e Pozzobon acabou cumprido à risca. Bumlai foi preso em 24 de novembro e denunciado em 14 de dezembro — na última semana antes do recesso da Justiça Federal do Paraná. No dia seguinte, Moro recebeu a denúncia, a tempo de impedir que os crimes prescrevessem no fim de 2015.

Dentro de uma visão simplista, a estratégia parece um golpe de mestre do juiz para não deixar um bandido escapar da Justiça. Mas o argumento de que os fins justificam os meios não pode prosperar numa sociedade desenvolvida. Tal postura de Moro viola o devido processo legal, pondo em risco o estado de direito. “Nesse caso, a sociedade pode aplaudir o juiz, por acreditar que ele está tentando ser justo. Mas ele está infringindo as leis do processo, que o impedem de imiscuir-se em uma das partes e colaborar com ela, e é uma das garantias para que todos sejam julgados da mesma forma”, afirma um juiz, que pediu para não ser identificado. “Imagine que todos os magistrados atuem da mesma forma, infringindo uma regra aqui e outra ali para alcançar seus objetivos. Um pode se aliar à defesa para soltar um criminoso; outro pode se aliar à acusação para perseguir um inimigo e, aí, o céu é o limite”, conclui.

Uma das obsessões de Moro envolvia manter os casos da Lava-Jato em seu poder em Curitiba, a exemplo dos processos de Lula do tríplex do Guarujá e do sítio de Atibaia. Nesse esforço, o magistrado mentiu a um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) ou, na hipótese mais benigna, ocultou dele uma prova importante, conforme mostra um dos diálogos. A conversa em questão se refere ao caso de Flávio David Barra, preso em 28 de julho de 2015, quando presidia a AG Energia, do grupo Andrade Gutierrez. Sua detenção ocorreu na Operação Radioatividade, relacionada a pagamentos de propina feitos por empreiteiras, entre elas a Andrade Gutierrez, a Othon Luiz Pinheiro da Silva, da Eletronuclear, responsável pela construção da usina nuclear Angra 3. Em 25 de agosto, a defesa de Barra pede ao ministro do STF Teori Zavascki a suspensão do processo tocado pela 13ª Vara de Curitiba, alegando que Moro não tinha competência para julgar o caso por haver indício de envolvimento de parlamentares, entre eles o então senador Edison Lobão (MDB-MA).

Diante da reclamação, Zavascki cobra explicações de Moro, que diz não saber nada sobre o envolvimento de parlamentares. Mesmo assim, com base nas informações da defesa, o ministro do STF suspende em 2 de outubro as investigações, o que força o então juiz a remeter o caso de Curitiba para Brasília três dias depois. Seu comportamento perante Zavascki foi impróprio, como evidencia um diálogo registrado no Telegram dezoito dias depois entre o procurador Athayde Ribeiro Costa e a delegada Erika Marena, da Polícia Federal. Costa diz precisar com urgência de uma “planilha/agenda” apreendida com Barra que descreve pagamentos a diversos políticos. Marena responde que, por orientação de “russo” (Moro), não tinha tido pressa em “eprocar” a planilha (tradução: protocolar o documento no sistema eletrônico da Justiça). “Acabei esquecendo de eprocar”, disse. “Vou fazer isso logo”, completa.

Na pior das hipóteses, Moro já sabia da existência da planilha quando foi inquirido por Zavascki e mentiu ao ministro. Em um segundo possível cenário, igualmente comprometedor, Moro teria tomado conhecimento da planilha depois da inquirição de Zavascki e pediu à delegada para “não ter pressa” em protocolar o documento. Tudo indica que a manobra tinha como objetivo manter o caso em Curitiba. “Um juiz não pode ocultar provas, e, se o diálogo tiver a autenticidade comprovada, estamos diante de uma conduta bastante problemática”, afirma o advogado Gustavo Badaró, professor de processo penal da USP, que analisou a pedido de VEJA o episódio. Na primeira leva de mensagens divulgadas pelo Intercept no mês passado, Moro já aparecia reclamando de um delegado da PF que havia incluído rápido demais todos os elementos da investigação no sistema eletrônico, o que obrigaria o juiz a enviar parte do processo ao STF.

A relação entre Moro e Dalla­gnol era tão próxima que abre espaço para que eles comemorem nas conversas o sucesso de algumas etapas da Lava­-Jato, como se fossem companheiros de trabalho festejando metas alcançadas. Em 14 de dezembro de 2016, Dallagnol escreve ao parceiro para contar que a denúncia de Lula seria protocolada em breve, enquanto a de Sérgio Cabral já seria registrada no dia seguinte (o que de fato ocorreu). Moro responde com um emoticon de felicidade, ao lado da frase: “ um bom dia afinal”. A proximidade rendeu ainda lances curiosos. Em 9 de julho de 2015, Dallagnol saúda o colega: “bem vindo ao telegram!!”. Cinco meses depois, dá dicas ao juiz de como usar o programa no desktop, enviando no chat um link para o download. “Se puder me mandar no e-mail, agradeço. O tico e o teco da informática aqui não são muito espertos”, responde Moro. Em março de 2017, Dallagnol escreve ao juiz para tirar uma dúvida: ele assina o primeiro nome com ou sem acento? O motivo é que o procurador estava revisando um livro sobre Moro. “Não uso normalmente o acento”, responde o juiz. Em julho de 2018, Dallagnol atua como assessor de imprensa, perguntando a Eduardo El Hage, um colega do Ministério Público Federal no Rio, detalhes de um pedido de participação de Moro em um programa do canal fechado HBO: “Eles contataram o Moro aqui e ele queria ter o contexto e informações que possam ser úteis pra ele decidir se atende”. Em um dos períodos mais tensos da operação, o que se seguiu à ação do juiz que torna público o famoso trecho do grampo telefônico em que Dilma Rousseff envia o “Bessias” para entregar a Lula o termo de posse em seu ministério, Dallagnol combina em um dos chats com procuradores uma nota de apoio a Moro e repassa ao grupo uma sugestão do próprio juiz para o texto. Na mesma época, Moro também recebe um afago e conselho de um interlocutor no Telegram (tudo indica, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima). “O movimento seria nas sombras, como você mesmo disse”, escreve, referindo-se ao convite de Dilma para Lula. “O seu capital junto à população vai proteger durante um tempo. As coisas se transformam muito rápido.”

As conversas entre membros do Ministério Público Federal assumem várias vezes o tom de arquibancada, com os membros da força-tarefa vibrando e torcendo a cada lance da batalha contra os inimigos. Em 13 de julho de 2015, Dallagnol sai exultante de um encontro com o ministro Edson Fachin e comenta com os colegas de MPF: “Caros, conversei 45 m com o Fachin. Aha uhu o Fachin é nosso”. A preocupação da força-tarefa com a comunicação para a opinião pública era constante. Em 7 de maio de 2016, Moro comenta com Dalla­gnol que havia sido procurado pelo apresentador Fausto Silva. Segundo o relato do juiz, o apresentador o cumprimentou pelo trabalho na Lava-Jato, mas deu um conselho: “Ele disse que vcs nas entrevistas ou nas coletivas precisam usar uma linguagem mais simples. Para todo mundo entender. Para o povão. Disse que transmitiria o recado. Conselho de quem está a (sic) 28/anos na TV. Pensem nisso”. Procurado por VEJA, Fausto Silva confirmou o encontro e o teor da conversa entre ele e Moro.

Curiosidades dos bastidores à parte, o que vai definir mesmo o destino de Moro à luz das revelações dos chats são os trechos nos quais fica evidente seu papel duplo de juiz e assistente de acusação. A Lava-Jato foi assumidamente inspirada na Mani Pulite, a Mãos Limpas da Itália, que desbaratou um gigantesco esquema de corrupção na década de 90, resultando em 2 993 mandados de prisão nos dois primeiros anos de operação. No caso do sistema de Justiça do país europeu há a figura do magistrado que trabalha no Ministério Público — mas ele não atua nos julgamentos. A melhor explicação para o comportamento irregular do atual ministro é que ele tenha se inspirado nessa figura para pautar suas ações na Lava-Jato. “O Moro confundiu totalmente os papéis”, afirma o jurista Wálter Fanganiello Maiero­vitch. “O magistrado que investiga nunca é o que julga, nem na Itália nem em nenhuma outra democracia do planeta.”

No Brasil, o papel duplo do juiz viola o artigo 254 do Código de Processo Penal, que proíbe que o magistrado aconselhe uma das partes ou tenha interesse em favor da acusação ou da defesa. Essa atuação pode, de fato, provocar a revisão de atos de Moro. No caso da condenação de Lula, por exemplo, o STF adiou a discussão para agosto. Será uma decisão complexa e delicada para a Suprema Corte. Ali, mesmo que alguns ministros já tenham criticado excessos da Lava-Jato, é difícil qualquer prognóstico. Um dado, porém, é certo. Fiscalizar o que Moro fez enquanto juiz não significa pôr em risco os avanços contra a corrupção no Brasil, como sugerem as manifestações recentes nas ruas das cidades do país. A sociedade brasileira não vai abrir mão do processo que resultou, pela primeira vez na história, na prisão de políticos e empresários poderosos.

Embora as conversas mostrem que Moro cometeu infrações, os crimes punidos ao longo da Lava-Jato gozam de vasta coleção de provas materiais e orais. A maioria esmagadora das sentenças, aliás, acabou confirmada em outras instâncias da Justiça. Graças ao esforço dos procuradores de Curitiba, descobriu-se também o Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, desenvolvido exclusivamente para administrar o pagamento de propinas efetuado pela empresa no Brasil e no exterior. O resultado prático e sua importância são incontestes. Diversos políticos que se locupletaram nos últimos anos ainda estão presos. Entre eles, Lula, Sérgio Cabral, Eduardo Cunha… O próprio Lula, mesmo que a suspeição de Moro seja confirmada, pode permanecer preso. Ele já foi condenado em primeira instância pelo sítio em Atibaia, sentença proferida pela juíza Gabriela Hardt, e o caso aguarda apenas a decisão do TRF4 (provavelmente favorável à sua condenação). Portanto, não se trata aqui de uma defesa do Lula Livre nem de estar contra a Lava-Jato. Mas, sim, do direito inexorável que todos os cidadãos têm de um julgamento justo.

Na terça 2, Moro (que, por sinal, não faz mais parte da Lava-Jato) ficou sete horas no Congresso respondendo a parlamentares sobre o caso. Repetiu o que tem dito nas últimas semanas: os diálogos divulgados foram fruto de um roubo, podem ter sido editados e, mesmo verdadeiros, não apontam nenhum tipo de desvio. A cada nova revelação, fica mais difícil sustentar esse discurso. Na sentença em que condenou Lula, o ex­-juiz anotou que “não importa quão alto você esteja, a lei ainda está acima de você”. A frase cabe agora perfeitamente em sua situação atual. Levado ao Ministério da Justiça para funcionar como uma espécie de esteio moral da gestão Bolsonaro, ele ainda goza de grande popularidade, mas hoje depende do apoio do presidente para se manter no cargo. Independentemente do seu destino, o caso dos diálogos vazados representa uma oportunidade para que o país discuta os excessos da Justiça e o fortalecimento dos direitos do cidadão. Um país onde as instituições funcionam não precisa de nenhum Super-Homem.

Nota da redação: procurados por VEJA, Deltan Dalla­gnol e Sergio Moro não quiseram receber a reportagem. Ambos gostariam que os arquivos fossem enviados a eles de forma virtual, mas, alegando compromissos de agenda, recusaram-se a recebê-­los pessoalmente, uma condição estabelecida por VEJA. Mesmo sem saber o conteúdo das mensagens, a assessoria do Ministério da Justiça enviou a seguinte nota: “A revista Veja se recusou a enviar previamente as informações publicadas na reportagem, não sendo possível manifestação a respeito do assunto tratado. Mesmo assim, cabe ressaltar que o ministro da Justiça e Segurança Pública não reconhece a autenticidade de supostas mensagens obtidas por meios criminosos, que podem ter sido adulteradas total ou parcialmente e que configuram violação da privacidade de agentes da lei com o objetivo de anular condenações criminais e impedir novas investigações. Reitera-­se que o ministro sempre pautou sua atuação pela legalidade”.

Colaboraram Leandro Demori, Victor Pougy, Nonato Viegas e Bruna de Lar.

 

*Da Veja

 

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Veja e Intercept revelam novos crimes de Moro contra Lula

A revista Veja, agora em parceria com o Intercept Brasil, trará em sua capa na manhã desta sexta-feira (5) uma chamada bem sugestiva para o Ministro da Justiça de um governo cravejado de acusações de ter em sua órbita as milícias.

Moro é retratado como um ex-juiz que fazia justiça com as próprias mãos na operação Lava Jato.

De acordo com a publicação, diálogos inéditos revelam que Sergio Moro “desequilibrou a balança em favor da acusação nos processos da Lava Jato”, cristalizando a acusação que protagonizou a sua ida à CCJ da Câmara dos Deputados na última terça-feira (2), suas formas abusivas e seu domínio total sobre o Ministério Público Federal do Paraná.

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Bolsonaro defende trabalho infantil

Em transmissão ao vivo na noite desta quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro defendeu o trabalho infantil e usou o próprio exemplo para dizer que “não foi prejudicado em nada” por ter colhido milho aos “nove, dez anos de idade” em uma fazenda de São Paulo. Aos seus seguidores no Facebook, ele declarou ainda que “o trabalho dignifica o homem e a mulher, não interessa a idade”, mas alertou que não apresentaria nenhum projeto de lei para descriminalizar a prática por saber que “seria massacrado”.

Bolsonaro falava sobre sua experiência como pescador, ao lado do secretário nacional de Pesca e Aquicultura, Jorge Seif Júnior, quando foi questionado por ele se esta foi a sua primeira profissão.

Posso confessar agora, se bem que naquele tempo não era crime – disse o presidente, relatando um encontro recente com um homem de 93 anos de idade chamado Jorge Alves de Lima, que segundo ele era o dono da fazenda onde morou por dois anos, na qual o pai era “peão”, em Eldorado Paulista.

Lembro perfeitamente que uma das coisas que se plantava lá, além de banana, era milho. E naquele tempo para você cortar o milho, você não tinha que chegar na plantação e pegar. Tinha que quebrar o milho. Tinha que colocar o saco de estopa no braço. E eu com nove, dez anos de idade quebrava milho na plantação e quatro, cinco dias depois, com sol, você ia colher o milho – relatou.

Olha só, trabalhando com nove, dez anos de idade na fazenda – disse Bolsonaro, como se imitasse um crítico. – Não fui prejudicado em nada. Quando um moleque de nove, dez anos vai trabalhar em algum lugar tá cheio de gente aí “trabalho escravo, não sei o quê, trabalho infantil”. Agora quando tá fumando um paralelepípedo de crack, ninguém fala nada.

O presidente continuou dizendo que “trabalho não atrapalha a vida de ninguém” e fez uma ponderação dirigida a possíveis opositores.

Fiquem tranquilos que eu não vou apresentar nenhum projeto aqui para descriminalizar o trabalho infantil porque eu seria massacrado. Mas quero dizer que eu, meu irmão mais velho, uma irmã minha também, um pouco mais nova, com essa idade, oito, nove, dez, doze anos, trabalhava na fazenda. Trabalho duro – afirmou.

Prosseguindo nas confissões, ele também contou que aprendeu a dirigir em dois tratores da fazenda com a mesma faixa etária, portanto, ilegalmente. E disse que começou a atirar “jovem”.

Vai falar “ah, irresponsabilidade”. Nada, pô. O velho tinha uma espingarda, eu ia pro meio do mato e metia fogo, atirava sem problema nenhum.

Hoje em dia é tanto direito, tanta proteção que temos uma juventude aí que tem uma parte considerável que não tá na linha certa. O trabalho dignifica o homem e a mulher, não interessa a idade – declarou Bolsonaro.

Ainda segundo o presidente, naquela época, o professor “tinha como exercer sua autoridade em sala de aula” pois os alunos seriam agredidos fisicamente por seus pais caso levassem uma bronca.

 

*Do Globo

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TRF-4, que aumentou a pena de Lula, absolve Eliseu Padilha

Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil no governo Michel Temer, foi absolvido por unanimidade pelo TRF-4 em uma ação de improbidade, relata Fausto Macedo.

Padilha havia sido acusado pelo MPF de atuar, por meio de suas empresas, para obter e manter um certificado de entidade assistencial que garantia imunidade tributária à universidade gaúcha Ulbra.

Padilha foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por suposta atuação de empresas dele na obtenção e manutenção do Certificado de Entidade Assistencial (Cebas) pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), o que garantia a esta imunidade tributária.

Segundo o desembargador Leal Júnior, da 4ª Turma do tribunal, “soa inverossímil a afirmação de que os contratos relativos a EAD seriam mera simulação, realizada para “esquentar” os pagamentos efetuados pelo desenvolvimento de atividade de lobby pelo deputado em favor da obtenção do certificado de filantropia pela universidade. Isso porque serviços daquela natureza, pela prova dos autos, foram efetivamente prestados”.

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Vídeo: PSL e Bolsonaro abandonam os policiais, por Ivan Valente

PSL e Bolsonaro abandonam os policiais

Vejam a reação da categoria ao ver sua emenda ser rejeitada. Psol votou favorável.

Arminha é pura fantasia, uma enganação para quem trabalha com segurança e para a sociedade. A máscara está caindo.

Assista ao vídeo

https://www.facebook.com/IvanValentePSOL/videos/690379334741617/?t=1

 

*Da página do Facebook de Ivan Valente (Psol)

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A loucura foi instalada no Brasil como método de destruição, diz ex-chanceler Celso Amorim

Tolstói abre seu clássico Anna Karenina com a célebre frase “todas as famílias felizes se parecem, mas cada família infeliz é infeliz à sua maneira”, “e a nossa maneira é mais cruel”, acrescenta o ex-chanceler Celso Amorim, ao explicar os desafios que o Brasil deve enfrentar para voltar a se posicionar no mundo como um país soberano.

Em conversa exclusiva com a Carta Maior, o ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa dos governos Lula e Dilma analisou o cenário político brasileiro, as mudanças no quadro geopolítico e os impactos da Operação Lava Jato na soberania nacional. Para o diplomata, que em 2009 foi considerado o melhor chanceler do mundo, o Brasil e o povo brasileiro são vítimas de um projeto de desmonte acelerado e será necessário o trabalho de gerações para reverter o estrago. “[O que está acontecendo] é uma coisa muito horrorosa, é uma loucura, é a instalação da loucura como método. Método de destruição”.

Amorim vê com muita preocupação as políticas do governo Bolsonaro e não titubeia ao afirmar que “eles estão dando os tiros certos: destruíram a Unasul”. Trata-se de um projeto sólido, de grandes potências, para enfraquecer a América Latina e voltar a ter o controle deste território, ao mesmo tempo que garante a subserviência brasileira como um “quintal estratégico”.

Desde a eleição de Hugo Chávez, na Venezuela, em 1998, a América Latina deu passos largos rumo à integração e à soberania. Consolidou mecanismos internacionais importantes e conseguiu se posicionar no mundo como um território com voz ativa em negociações de relevância global. O Brasil foi protagonista deste processo, não só pela extensão territorial e peso econômico, mas pela vontade política de não se fortalecer sozinho no xadrez mundial.

A mudança que este impulso progressista da América Latina causou no mundo incomodou as grandes potências, em especial os Estados Unidos que, como explica Amorim, “estava com o prato cheio” com as guerras no Oriente Médio no começo deste século. Mas agora se voltou novamente – com todas as fichas – para recuperar o território perdido ao Sul do mundo.

O peso na balança foi tanto que tivemos o direito de sonhar, por um pequeno instante, com o mapa invertido de Torres Garcia se tornar realidade. O ex-presidente do Equador, Rafael Correa, chegou a propor a “Canção Para Todos”, de Mercedes Sosa, como um hino da Unasul: “Canta conmigo, canta/hermano americano/libera tu esperanza/con un grito em la voz”.

Porém, com um golpe atrás do outro e uma falsa operação jurídica no Brasil, o projeto da Nuestra América de Martí foi por água abaixo em poucos meses e reverter este quadro é o desafio das próximas gerações, afirma o ex-ministro. A entrevista faz parte da série de Carta Maior sobre o impacto dos cinco anos de Operação Lava Jato no Brasil.

Leia os principais trechos:

Impacto da Lava Jato na soberania nacional

A Unasul, por exemplo, foi desativada já no governo Temer. A decisão jurídica de sair foi do governo Bolsonaro, mas já estava acontecendo antes. Na época do Brexit, ainda no governo Temer, o Brasil começou a cumprir tabela, não tinha nenhuma iniciativa. Eu acho que agora vai piorar. Essas coisas se juntam e não é só a Petrobras, as nossas empresas de engenharia também. A Odebrecht, por exemplo, era uma potência! Tinha que corrigi-la, e não liquidá-la. Você já imaginou a Alemanha liquidar a Volkswagen porque eles tinham um software que enganava na questão de meio-ambiente? Não, eles demitiram o responsável.

A questão externa no Brasil era dada graças à presença de grandes empresas nacionais; o BNDES, para empréstimos na área de construção e na aquisição de outras coisas; e por fim a nossa ação diplomática. Essas coisas estão sendo demolidas de maneira sistemática. A Lava-Jato quis atingir sim o cerne da soberania. A libertação do Lula tem a ver obviamente com a sua inocência, seus direitos como cidadão e ser humano, claro, mas tem a ver também com o símbolo da soberania brasileira. No Brasil e na América Latina, quando você tem a luta pela soberania e pela igualdade combinadas, acontece um golpe.

[Neste momento] é importante que a esquerda e as forças progressistas sejam atentas, observadoras, porque tem muita coisa acontecendo. Precisamos nos perguntar: onde está o chão de fábrica, aquele que antes era mobilizado pelo Lula nas grandes greves? Como mobilizar essas pessoas é um desafio. Como é que você organiza a grande massa de beneficiados pelo presidente Lula, em grande parte pessoas destituídas, que não fazem parte de nenhum movimento? Em época de grande desemprego – como é agora –, a capacidade de militância dos sindicatos diminui. É preciso se reorganizar para mobilizar os trabalhadores.

O Lula tem uma grande capacidade de entender a realidade e se colocar diante dela. Não vejo nenhum outro líder no Brasil com essa capacidade, independentemente da capacidade intelectual que cada um tem. Você pode entender intelectualmente um problema, agora quem é capaz de falar com o povo, isso é o Lula.

Os sindicatos continuam a ser importantes, a gente teve essa greve geral que foi bem sucedida, mas é uma coisa mais ampla e mais complexa. Mas reconquistar a classe média é muito importante porque ela oscila. Muita gente que achava o Lula bom, depois achou ruim porque acreditou nas fábulas todas da corrupção, agora deve estar escandalizada com o [Sérgio] Moro.

Tem a famosa frase do Tolstoi que abria Anna Karenina: ‘todas as famílias felizes se parecem, mas cada família infeliz é infeliz à sua maneira’. A nossa maneira é mais cruel. A organização hoje tem vários níveis. Tem que continuar trabalhando pela coisa do longo prazo, evidentemente, sem esquecer da frase do [John Maynard] Keynes que “no longo prazo estaremos todos mortos”.

Mas ainda não estamos discutindo um programa de governo. Claro que tem que começar a discutir porque tem que oferecer um horizonte alternativo. Não basta dizer que o que está aí está ruim, tem que dizer como que vai ser o bom. Mas tem que ter muita clareza que nós estamos vivendo uma situação tão dramática no Brasil de demonização da cultura… Se há uma coisa que caracteriza a atual administração é o ataque à razão. Tudo que é racional está sendo atacado.

O interesse norte-americano no Brasil

Obviamente [o motivo de incômodo dos Estados Unidos com a soberania nacional] foi a decisão do Brasil de tomar conta do pré-sal – porque não é só dizer ‘ah as companhias norte-americanas’ é lógico que as companhias norte-americanas têm interesse. Mas é muito mais complexo que isso. Quem está investindo no pré-sal? Tem companhia chinesa, tem companhia norueguesa, tem de tudo. Claro que há um interesse das empresas americanas, mas mais do que isso, é o interesse estratégico dos EUA.

Isso aqui sempre foi visto como quintal dos EUA. ‘Quintal’ parece uma expressão que a gente inventou aqui feito complexo de vira-lata, mas não é. É tratado nos livros acadêmicos norte-americanos a América Latina como ‘back área’ ou seja, é o quintal estratégico deles. Então isso aqui não pode mudar. [Os EUA consideram que] alguém pode até explorar o nosso petróleo, mas tem que ser parte da reserva estratégica deles num caso de conflito.

Brics

Se você tem uma política externa – não só brasileira – que começa a ter consequências práticas como os Brics… Os Brics talvez tenham sido o ponto mais importante porque implica numa possível associação mais profunda com China e Rússia. O IBAS [Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul] não incomodava eles [os EUA], mas o Brics é uma mudança possível na geopolítica mundial.

Eu fui convidado para participar de uma reunião de estratégia europeia para falar sobre Brics e uma das perguntas que eles me fizeram foi: ‘mas o banco dos Brics é para substituir o Banco Mundial?’. Então havia uma percepção que talvez fosse até exagerada com relação à realidade mas que estava mudando a organização estratégica do mundo. Você tem o petróleo aqui, tem os Brics, tem uma percepção que se consolida em 2009, 2010, com todas as iniciativas que o Brasil tinha tomado, e outros países da América do Sul também tinham tomado para participar que foi a Unasul e a Celac. Isso é concreto, não são palavras ao vento. Nosso comércio com a América do Sul aumentou muitíssimo, e o deles conosco.

Este conjunto de coisas fez com que o famoso Estado profundo norte-americano despertasse para o problema geopolítico que significava a atuação externa do Brasil. O Brasil é um dos maiores países, junto com os EUA, e tem projeção na África, nos países árabes, na Índia, etc… e a América Latina passou a ser vista já não mais como um quintal. Tudo isso fez com que tenha despertado a visão de ‘temos que ter alguma ação’. É por aí que as ciosas começam.

Mudanças no quadro geopolítico na última década

Um fato [novo] muito importante é o ressurgimento desse nacionalismo populista na Europa, que é um nacionalismo de direita, diferente de países em desenvolvimento. Isso ocorre também nos Estados Unidos. É curioso porque é muito novo. Quer dizer, pela primeira vez, eu diria, desde a Segunda Guerra Mundial, o [Donald] Trump representa uma defesa — claro que os Estados Unidos sempre defenderam o interesse deles em primeiro lugar, mas eles procuravam definir o interesse deles em termo de uma ordem mundial. Claro que nisso tinha muita hipocrisia, mas também muito de realmente procurar algum ordenamento. Agora não, agora é o seguinte: ‘a propriedade intelectual nos interessa, vamos lá dar um cacete no cara que não tá respeitando, entendeu?’. Simplificando muito é isso. Os Estados Unidos — no caso da primeira Guerra do Golfo, pelo menos, que é uma ação armada contra o Iraque — [disseram] ‘vamos tentar obter a aprovação da ONU’, e assim foi. Agora não, agora é ‘vamos lá e fazemos o que a gente quer’. Ninguém pergunta. Os Estados Unidos pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial defendem de maneira totalmente crua e direta, o seu interesse.

Hoje em dia há três polos de poder muito grandes, são Estados Unidos, China e Rússia. Com a possível associação que se vê de maneira crescente entre Rússia e China, serão dois polos novamente. Não será mais o polo ideológico Leste-Oeste do passado, que era capitalismo contra comunismo. Agora é uma coisa bem mais complicada. Mas pode ser Estados Unidos de um lado, e Eurásia de outro, com a União Europeia ali no meio sem saber que partido tomar. Ideologicamente mais do lado capitalista, mas com os seus interesses também…

Como a América Latina e o Brasil devem se comportar em relação a isso? Devem simplesmente explorar essas diferenças em seu benefício. Porque não se trata só dos Estados Unidos, a China é uma negociadora braba! Então você tem que ter essa atuação, e o Brasil tem um potencial de liderança no mundo em desenvolvimento…

Da política externa altiva e ativa ao desmonte do Itaramaty

Eu não estou falando uma coisa abstrata. Eu vi nas negociações da Organização Mundial do Comércio! Eu vi delegados africanos dizendo: ‘Vota igual o Brasil’. Porque eles sabiam que não tinham condição de levar. A Índia dizia assim: ‘A gente vai com vocês, mas vocês vão na frente’. Na época do presidente Lula era assim. Já era um pouco antes, eu devo dizer, porque o Brasil tem um peso.

Quando eu vejo o que está ocorrendo hoje na política externa… é uma coisa dramática. Não é só contra o Lula. Não é o regresso à política do Fernando Henrique Cardoso — que eu já lamentaria em muitos aspectos — é um retrocesso inominável.

[Diante deste cenário] o desafio é defender a soberania no plano internacional, com esse quadro redefinido, exige coisas que eu, digamos, a curto prazo não vejo como. Mas [precisa] restabelecer a integração. Porque o Brasil sozinho, apesar de grande, ele também não tem esse peso todo. Não tem o peso da China, dos Estados Unidos. Porém, a América Latina pode ter. América do Sul pode ter.

É possível a continuidade do ciclo progressista?

Essa eleição na Argentina com o Alberto Fernández, quem sabe?! Com o kirchnerismo voltando… O nosso presidente é tosco e tudo isso que dizem, mas ele tem intuição. Porque que ele diz: ‘Eu não tô preocupado tanto com a Venezuela, agora eu tô preocupado com a Argentina’?

Mas eu vejo que há uma determinação de impedir que a América Latina volte a ficar de pé. É escandaloso que não tenha havido uma reação na América Latina em relação à ameaça norte-americana de aumentar as tarifas do México, ou diante da proposta de construção de um muro. Agora, veja que eles estão dando os tiros certos: destruíram a Unasul. Começou no governo Temer e o Bolsonaro consolidou.

O que acontece na Argentina, pro bem ou pro mal, tem um impacto no Brasil. Eles acabaram com a ditadura lá, em poucos meses acabou aqui; tem uma crise financeira lá, pouco depois tem uma crise aqui. Da mesma forma que a democratização lá acelerou a redemocratização aqui, se você tiver governos progressistas na Argentina, México, Bolívia, na própria Venezuela que está conseguindo se segurar… é importante, por isso o Bolsonaro está tão interessado.

Agora, claro, o Brasil tem um peso muito grande: todos os outros países do mundo têm interesses comerciais e econômicos aqui. Não é à toa que quando fala-se dos países que apoiam a linha americana em relação à Venezuela falam logo do Brasil.

Retomada do desenvolvimento e soberania

[Retomar o desenvolvimento nacional] é um grande desafio. É preciso que muitas pessoas entendam que o discurso da soberania está junto com o discurso da democracia, não existe democracia sem soberania.

Temos que alargar a frente pela soberania com as pessoas que, digamos, são mais derrotadas na democracia, que não tão pensando tanto na soberania, mas que pensam na democracia. E é indispensável que haja uma repactuação, mas quem nós podemos incluir nessa repactuação pra mim não é claro. Por exemplo, eu tenho pouca confiança numa boa parte da indústria brasileira.

No passado a gente imaginava a burguesia nacional [como um grupo importante para o desenvolvimento]. Não vejo mais isso. A verdadeira burguesia nacional hoje — vou dizer uma coisa chocante —, a verdadeira burguesia nacional hoje é o agronegócio.

[A demissão do Joaquim Levy] retoma a ideia de que estamos vivendo uma profunda anormalidade insustentável. O governo vai ter que fazer uma adaptação para sobreviver. Quando o Bolsonaro comenta que vai armar a população para evitar o golpe… o que ele quer dizer com isso? Se eventualmente o Lula for solto e o exército não resolver agir, então a população age? O que é o golpe? Uma eventual tentativa de impeachment? Não acho nem que é o caso de mexer com isso agora, mas vai que alguém mexa… O que me espanta nisso é que essa declaração tenha sido feita em uma cerimônia militar. É como dizer que não se confia no Exército, e sim “no meu povo”. Isso é espantoso e vai obrigar uma reorganização.

Veja bem, eu não gosto desse artigo da Constituição do jeito que é, acaba servindo para dar um poder de arbítrio; mas na Constituição atual é missão das forças armadas: ‘1. A defesa da pátria; 2. A garantia dos poderes constituídos e a pedido deles a lei e a ordem’. Quem teria que evitar o golpe, em teoria, são as forças armadas! Se você passa essa obrigação para a população, qual o papel das forças armadas? Você mexe com um dos pilares do atual governo, os militares, que devem estar abalados com todas essas mudanças.

Outro pilar do governo é o capital financeiro, e eles não querem só representantes, querem ordem, previsibilidade, quando o cara é demitido do BNDES por supostamente ter empregado um petista, isso gera instabilidade. Eu acho que são duas coisas diferentes: um é o problema estrutural no Brasil, isto é, o domínio do capital financeiro, do capitalismo internacional, do neoliberalismo, coisas que já eram marca do governo Temer; depois há um núcleo de irracionalidade que é típico do governo atual. O que podemos discutir é se esse núcleo de irracionalidade pode ser abalado, modificado. A antessala para um projeto progressista, na minha opinião, está um pouco mais longe.

A gente tem que aceitar que nesse plano mais amplo temos outros aliados também, ainda que no meio do caminho a gente se separe. A nossa estratégia de desenvolvimento tem que ter o lado econômico fundamental que o professor Bresser-Pereira enfatiza sempre, que faz parte do nosso Projeto Brasil Nação. Mas ela tem que ter também um lado de igualdade social, racial.

O Brasil não é um país que tem uma nação a ser defendida, é um país que ainda precisa construir uma nação. Com tantas pessoas excluídas, e a questão de classe ainda não superada… é difícil fazer um projeto.

E aí voltamos ao ponto inicial, como é que pode ter discussão de soberania nacional se você não construiu a nação a partir da soberania popular? O conceito de soberania nasce com a formação dos estados nacionais da Europa, era algo para se defender de fora. Aí vem o Jean-Jacques Rousseau e cria o conceito de soberania popular, ou seja, a soberania para dentro.

Desta forma, só há soberania quando é o povo que exerce o poder. Está nas nossas Constituições antigas “todo poder emana do povo”. Enfim, são esses dois âmbitos, e quando você diz que o poder emana do povo, é do povo mesmo, não é da elite, é do povo pobre, negro, do nordestino, das mulheres, dos LGBTs, dos índios. Você tem que reconstruir isso ao mesmo tempo que se prepara para enfrentar as pressões externas, não é uma tarefa fácil, é uma tarefa gigantesca. E não vai ser uma tarefa para uma geração.

Com todas as críticas que eu faço ao Fernando Henrique, foi um governo de tolerância, um governo democrático, não mandou prender ninguém, não havia reitores se suicidando por perseguição. Também não se pode desprezar isso, entende? Eu me lembro de 1964, [falávamos] da democracia burguesa. Aí veio o golpe militar e ficamos morrendo de saudade da democracia burguesa. Não podemos nos satisfazer com ela, mas também não podemos desprezá-la. É [por] isso que a gente tem que brigar, eu não quero ver reitores se suicidando, não quero ver mulheres e negros sendo espancados, não quero ver o dinheiro faltar para a universidade, e ao mesmo tempo quero ver o Brasil capaz de defender seu interesse no plano internacional.

O que acontece é o seguinte, na época da ditadura eu tinha vergonha do Brasil, mas eu não chegava ter vergonha da diplomacia brasileira. Você pega um chanceler feito o Gibson Barboza [ministro das Relações Exteriores do governo Médici entre 1969 e 1974] ele não saía por aí defendendo a tortura. Ele evitava o assunto, procurava outras agendas. Hoje em dia não, é uma coisa muito horrorosa, é uma loucura, é a instalação da loucura como método. Método de destruição.

 

*Da Carta Maior

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A manipulação grosseira de Moro na carta de Leo Pinheiro à Folha

Leo Pinheiro resolveu “depor” contra Lula na Folha com um conjunto gritante de contradições, deixando um rastro das pegadas do próprio Moro.

Não sei quem teve essa infeliz ideia de soprar para Moro, um dia depois de desmascarado pelos deputados na CCJ da Câmara, que ele deveria usar seus velhos métodos de pressão sobre um prisioneiro da Lava Jato para que ele “confessasse” o que Moro queria.

Na verdade, Moro usou uma pulga magra de Palocci, com aquela delação forçada, para dar as suas mordidelas na imagem de Lula. Como não deu certo, resolveu usar o próprio Leo Pinheiro, dono do triplex, para produzir “novidades” tanto no apartamento quanto no sítio.

Moro está tentando construir sua sobrevivência, ratificando o que o site The Intercept Brasil vem denunciando sobre a sua conduta. Ele é um grosseiro manipulador que, no desespero, tenta construir testemunhas a seu favor, utilizando justamente aquilo do que está sendo acusado: pilantragem jurídica.

Assim fica fácil mostrar a todos a parva mentira que é Sergio Moro, porque, depois dessa carta, ficam claras  as digitais de Moro na caneta de Leo Pinheiro.

 

*Por Carlos Henrique Machado Freitas

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Manifestantes do MTST fazem compras na Havan e “pagam” com a dívida de Luciano Hang ao INSS

Integrantes do MTST fizeram um protesto inusitado em uma loja da Havan, do empresário Bolsonarista Luciano Hang, em São Paulo nesta quinta-feira (4).

Para pagar a compra realizada na loja, os integrantes do movimento levaram um cheque simbólico, no valor de R$ 168 milhões, que seria o montante devido pelo empresário à Receita Federal e ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).

“É preciso expor a hipocrisia de caloteiros que defendem a Reforma da Previdência”, afirmou, em sua página no Facebook, o líder do MTST, Guilherme Boulos, que compartilhou as fotos do protesto.

O MTST acabou de realizar manifestação em loja da Havan em São Paulo. Sem-tetos entraram na loja, encheram os carrinhos e apresentaram um cheque simbólico de R$168 milhões, dívida que o dono da empresa tem com a Receita e o INSS. É preciso expor a hipocrisia de caloteiros que defendem a Reforma da Previdência.

 

*Com informações do 247

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Reinaldo Azevedo desmonta a farsa de Moro com Leo Pinheiro

O empresário Léo Pinheiro, que está preso, aguardando há cinco meses que a PGR analise os termos de sua delação premiada para ser enviada a Edson Fachin, relator do petrolão no Supremo, inventou um novo, sei lá como chamar, “tipo judicial” talvez: trata-se da pós-delação. Ele enviou uma carta à Folha em que reafirma as acusações que fez contra Lula em depoimento a Sergio Moro e em que nega que tenha sido pressionado por procuradores ou que tenha mudado versão anterior para ter sua delação aceita. Com a devida vênia, cai na patranha quem quer.

Ainda que procure, ao elencar detalhes do que chama “provas”, ser rigoroso, estamos diante de um caso clássico de gato escondido com o rabo de fora. Você vê aquela cauda ali, em movimentos algo lentos, mas nervosos, e logo conclui: “Na ponta dessa cauda, há um gato”. Miguilim, o de casa, faz muito isso com o objetivo de dar botes benignos, sem ferir, nas pernas dos passantes. Em seguida, sai correndo, aos pulos meio desengonçados, esperando ser perseguido só para se esconder de novo e repetir a operação. Gatos domésticos têm lá suas brincadeiras. Empreiteiros não brincam em serviço.

A carta de Léo, nota-se, é meticulosamente orientada. Há até um errinho ou outro de gramática que conferem o charme da autenticidade voluntariosa ao documento. Emprega-se, por exemplo, o “a”, sem “h”, para indicar tempo decorrido. Além do estado de direito e das garantias individuais, o verbo “haver” é a maior vítima da Lava-Jato. Ok. Advogados que façam o seu trabalho em defesa de seus respectivos clientes. Eu faço o meu em defesa dos fatos.

O empresário afirma, por exemplo: “A minha opção pela colaboração premiada se deu em meados de 2016, quando estava em liberdade, e não preso pela operação Lava Jato. Assim, não optei pela delação por pressão das autoridades, mas sim como uma forma de passar a limpo erros que cometi ao longo da minha vida. Também afirmo categoricamente que nunca mudei ou criei versão e nunca fui ameaçado ou pressionado pela Polícia Federal ou Ministério Público Federal.”.

De saída, noto o tom de contrição e arrependimento, que vi recentemente ser exercitado por Sérgio Cabral, ex-governador do Rio. Um pouco mais histriônico, ele exagerou na dose e até exaltou as grandezas do juiz Marcelo Bretas. Algumas datas se fazem necessárias aqui, não é? Vencida a emoção, o leitor há de se lembrar que a primeira delação de Pinheiro, esta que ele diz ter decidido fazer em liberdade, foi suspensa pela PGR no dia 22 de agosto de 2016. E depois mandada para o lixo. Nunca se soube exatamente o motivo.

No curso da investigação, como revelam diálogos entre procuradores, Pinheiro nunca havia afirmado existir uma conta geral de propina ou que Lula o teria orientado a destruir provas. Isso foi dito apenas em depoimento ao então juiz Sergio Moro no dia 20 de abril de 2017. O empresário não tratava o apartamento de Guarujá como propina.

No dia desse depoimento, Pinheiro estava preso, sim, senhores! Como preso está agora. Só para lembrar: ele conheceu a cadeia pela primeira vez na 7ª fase da Lava Jato, em novembro de 2014. Foi condenado pela Justiça Federal, em primeira instância, a 16 anos e quatro meses de prisão, acusado de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Foi posto em liberdade provisória em 2015 e voltou a ser preso no dia 5 de setembro de 2016 por determinação de Sergio Moro. E preso está até agora. Assim, mesmo a primeira delação, aquela que foi anulada, foi feita por um liberto provisório. E, quando a Lava Jato e Sergio Moro vivem fase inédita de descrédito, eis que Pinheiro, grande patriota!, sai em seu socorro.

Trecho da carta de Léo Pinheiro enviada à Folha (Reprodução)

A carta que Léo Pinheiro envia à Folha tem um elemento inescapável que a torna inútil até como peça de proselitismo. Ele aguarda ainda que a PGR envie a sua delação para homologação. Venham cá: ele teria como afirmar algo diferente disso? Se dissesse que fez a delação sob pressão e que alterou versões no curso das investigações, o que aconteceria? A sua delação iria para o lixo. Como está, pode ser homologada pela máquina automática de homologar delações que Edson Fachin deve ter escondida em seu gabinete.

Há outros elementos que chamam a atenção. Um dos que mais se destacam, além da confissão de que está decidido a ser uma pessoa boa, é a defesa que faz do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. A escrita será certamente usada como material de propaganda para enfrentar a onda de descrédito que colhe a Lava Jato dentro e fora do país. Parece piada, mas é assim: apela-se àquele que deu o testemunho que sustentou a condenação de Lula — se falasse como delator, teria de apresentar evidências da conta geral de propina e da suposta ordem dada pelo petista para destruir provas — para dar um segundo testemunho que a justifique.

Celebre-se ainda a prodigiosa memória do prisioneiro. Nem que estivesse com todos os autos em mãos e o estudasse dia e noite na cadeia, conseguiria aquela riqueza de detalhes — todos, notem bem!, a endossar a versão de que o tal tríplex de Guarujá pertencia a Lula. Adicionalmente, há a menção ao sítio de Atibaia, também debitado na tal conta geral de propina de que o Ministério Público Federal nunca tinha ouvido falar. Aí já se tenta cuidar do segundo processo mais avançado do petista, com o recado sendo mandado ao TRF-4.

Mais surpreendente ainda na elefantina memória de Pinheiro: não apenas se lembra das supostas provas que ele mesmo forneceu como tem na ponta da caneta as que foram entregues por terceiros. Trata-se mesmo de um caso a ser estudado pela ciência.

O chato nessa história é que, para condenar Lula, o MPF deveria ter apresentado a Moro provas de que o tríplex, se propriedade do petista, tinha como origem os contratos celebrados pela OAS com a Petrobras, o que justificaria o caso estar na 13ª Vara Federal de Curitiba. Mas o então juiz escreveu: “Este juízo jamais afirmou, na sentença ou em lugar algum, que os valores obtidos pela Construtora OAS nos contratos com a Petrobras foram usados para pagamento da vantagem indevida para o ex-Presidente”.

Pinheiro nega que a condição de preso e de futuro delator esteja na raiz daquele seu depoimento a Moro. E agora certamente há de negar que, na raiz dessa carta, esteja o mesmo presidiário que aguarda a homologação da segunda delação e que vê aumentar o risco de que seja rejeitada em razão das revelações feitas pelo site The Intercept Brasil.

Um criminoso confesso foi escalado para atestar a lisura da Lava Jato e de Sergio Moro. Só o fundo do poço os contempla.

 

*Por Reinaldo Azevedo

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Vídeo: “Espero que defensores do Moro ouçam e compreendam”, diz Glenn impressionado com a mensagem do Papa

Em um vídeo, que foi divulgado dias depois do vazamento das conversas do ex-juiz Sergio Moro com Deltan Dallagnol e demais procuradores da força-tarefa da Lava Jato pelo Intercept, o Papa Francisco mostra a importância da independência dos juízes, dizendo que eles devem ser “isentos de favoritismos e das pressões que possam contaminar as decisões que devem tomar”.

O jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, assistiu ao vídeo e ficou impressionado com a mensagem do Papa e disse que espera que defensores do Moro “ouçam e compreendam”.

Glenn postou em seu twitter:

“Eu mal posso acreditar no que estou vendo. Muito bem falado e muito bem feito. Obrigado, @Pontifex_pt. Espero que os defensores do @SF_Moro que ainda restam ouçam e compreendam. É exatamente disso que trata o jornalismo que fazemos na #VazaJato”

Coincidência ou não, no vídeo do Papa aparece a encenação de uma audiência em que as partes mostram diferentes imóveis: de um lado um prédio em um resort; do outro, uma casa simples.

Assista

 

*Com informações da Forum