Familiares de Adriano da Nóbrega, morto na Bahia, tinham celulares exclusivos para conversas durante período de fuga.
A investigação sobre o período de fuga do miliciano Adriano da Nóbrega apontou que seus familiares tinham celulares exclusivos para manter contato com ele.
A informação confirma o método de contato apontado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro entre pessoas ligadas ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o miliciano, quando Adriano já estava foragido, em dezembro de 2019.
A apuração do caso das “rachadinhas” mostrou que Márcia Aguiar, mulher de Fabrício Queiroz e ex-assessora de Flávio, e Luiz Botto Maia, advogado e também ex-assessor do senador, foram até o interior de Minas Gerais se encontrar com Raimunda Veras Magalhães, mãe de Adriano e também ex-funcionária do filho do presidente Jair Bolsonaro.
Trocas de mensagens no celular de Márcia indicam que o objetivo do encontro era estabelecer contato com Adriano, em fuga sob acusação de comandar uma milícia.
As mensagens também sugerem que Júlia Lotuffo, namorada do miliciano, também participou do encontro. Esse foi um dos argumentos para prisão de Queiroz em junho do ano passado, atualmente revogada.
Adriano era amigo e foi companheiro de batalhão de Queiroz, amigo do presidente Jair Bolsonaro e apontado como operador financeiro da “rachadinha” no gabinete de Flávio na Assembleia do Rio.
O miliciano teve a ex-mulher e a mãe lotadas no gabinete de Flávio, ambas denunciadas junto com o senador sob acusação de envolvimento no esquema de desvio de dinheiro público.
Raimunda, Júlia e outros familiares e comparsas do miliciano eram, no mesmo período, alvos de escutas da Operação Gárgula, investigação que mirou a estrutura de lavagem de dinheiro de Adriano, bem como a tentativa de protegê-lo durante a fuga.
As interceptações telefônicas desta apuração mostram que Adriano, ex-capitão da Polícia Militar, exigiu que todos adotassem uma técnica chamada ponto-a-ponto, na qual mantinham aparelhos exclusivos para entrar em contato com ele.
O objetivo do método é evitar que o telefone usado para essas conversas fosse identificado em contato com outro membro da quadrilha. Todos também trocavam periodicamente de número de telefone a fim de fugir do monitoramento das autoridades.
Uma das responsáveis por organizar o contato e distribuir celulares era Júlia, atualmente considerada foragida. Ela é apontada pelo MP-RJ como a responsável por gerir os bens com dinheiro sujo do miliciano.
As escutas não flagraram conversas de Raimunda com Adriano ou com pessoas ligadas ao senador. Mas indicam que o método de contato com o miliciano descrito pelo MP-RJ na investigação da “rachadinha” era de fato utilizado por sua família.
Luis Botto Maia (advogado de Flávio Bolsonaro), Raimunda Magalhães (mãe de miliciano Adriano) e Márcia Aguiar (mulher de Queiroz) no interior de Minas Gerais; segundo o MP-RJ, objetivo era contatar miliciano
O 2º sargento Luiz Carlos Felipe Martins foi condenado pela morte de um guardador de carros e foi investigado por fazer parte de uma quadrilha comandada por Shanna Harrouche Garcia, filha do bicheiro Maninho.
A principal linha de investigação da Polícia Civil na morte do 2º sargento da Polícia Militar do Rio de Janeiro Luiz Carlos Felipe Martins, assassinado na porta de casa, na manhã deste sábado (20), em Realengo, na Zona Oeste do Rio, é de execução. Investigações do Ministério Público do Rio ligam o PM ao miliciano Adriano da Nóbrega, morto em fevereiro do ano passado na Bahia.
Assim como Nóbrega, Martins também recebeu a Medalha Tiradentes, conhecida por ser a mais alta honraria da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), das mãos do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. A morte do policial ocorre pouco mais de um ano após a morte do amigo, depois de uma série de escutas telefônicas revelarem que ele era o gestor do espólio criminoso do ex-capitão da PM.
m fevereiro do ano passado, seis dias após a morte de Adriano, o policial militar usou o telefone para contar a um interlocutor que “Adriano dizia que se fodia por ser amigo do Presidente da República”, Jair Bolsonaro (sem partido). Na época, o portal The Intercept Brasil obteve o documento com exclusividade e revelou que as escutas foram encerradas após o nome do líder do país ser mencionado.
Adriano da Nóbrega era acusado de liderar o grupo miliciano conhecido como ‘escritório do crime’, que recebia contratos para matar as pessoas.
CARREIRA Com 22 anos de carreira na Polícia Militar do Rio, o 2º sargento Luiz Carlos Felipe Martins era lotado no 16º BPM (Olaria). Em 2003, ao lado de Adriano da Nobrega, Martins recebeu a Medalha Tiradentes a pedido do então deputado Flávio Bolsonaro, hoje senador da República.
Martins era um dos policiais que fazia parte do Grupamento de Ações Táticas (GAT) liderado por Adriano da Nóbrega. Na ocasião, os policiais ficaram conhecidos como a ‘guarnição do mal’ por aterrorizar as principias comunidades da Zona Norte do Rio.
Ainda em 2003, os policiais que faziam parte da ‘guarnição do mal’ foram acusados do homicídios do guardador de carros Leandro dos Santos da Silva, de 24 anos, morto a tiros na porta de casa um dia depois de denunciar o grupo liderado por Adriano na Corregedoria da PM. Adriano e Martins foram condenados em 1ª instância pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, mas os outros policiais foram absolvidos. Em 2007, Martins foi considerado inocente e o caso foi arquivado dez anos depois.
Em 2011, Luís Carlos Felipe Martins voltou a ser preso em uma operação contra o jogo do bicho. Ele foi investigado por fazer parte de um grupo liderado por Shanna Harrouche Garcia, filha do bicheiro Waldomir Paes Garcia, o “Maninho”, morto em 2004. O bando foi acusado de formação de quadrilha armada e tentativas de homicídio qualificado.
A denúncia do MP diz que Martins e outros policiais, entre PMs e Civis, receberam ordem de Shanna Harrouche, para matar Rogério Mesquita. Eles chegaram a interceptar o carro usado por Mesquita em maio de 2008, mas sem sucesso. Na ocasião, o carro de Rogério foi atingido por mais de 30 tiros. Além dele, outras três pessoas também estavam no carros e sofreram ferimentos leves. Rogério Mesquita foi executado no ano seguinte com um tiro na nuca.
MORTE O PM Luís Carlos Felipe Martins foi morto na porta de casa, na Rua Corumbé, em Realengo. Segundo testemunhas, homens armados passaram em um veículo branco, modelo HB20, e atiraram na direção dele. Um segundo policial militar e uma mulher que passava pelo local foram atingidos pelos disparos. Os dois foram levados para o Hospital Municipal Albert Schweitzer. Segundo a direção do hospital, o estado de saúde deles é estável.
À policia, a esposa do 2º sargento contou que ele estava em uma motocicleta e seguia para o trabalho.
A Delegacia de Homicídios da Capital investiga o caso.
Três anos depois do assassinato de Marielle, a polícia não chegou sequer no 3º homem que estava no carro dos assassinos.
Enquanto Bolsonaro estimula seu gado para, em pleno domingo, ir às ruas aumentar a transmissão de Covid no momento em que o país bate novo recorde de média móvel de mortes.
Tanto no Brasil quanto no exterior o assassinato de Marielle é lembrado e, junto, a lembrança do assassino que era vizinho de Bolsonaro, sendo que o crime ocorreu em plena intervenção militar na Segurança Pública no Rio e jamais deu qualquer resposta ou ajuda para elucidar o caso.
O que se sabe é que o assassino de Marielle, Ronnie Lessa, também era traficante internacional de armas e fornecia armamento pesado para as principais milícias da zona oeste do Rio, principalmente para a milícia de Rio das Pedras que era comandada por Adriano da Nóbrega, miliciano que tinha relação estreita com Queiroz que, por sua vez, mantinha a família do miliciano morto na Bahia no esquema de lavagem de dinheiro e peculato comandado por Flávio Bolsonaro.
Adriano, como todos sabem, foi morto na Bahia por um suposto confronto com a polícia, no dia em que Eduardo Bolsonaro estava na Bahia, sem que se saiba até hoje qual o motivo de sua viagem à capital baiana e, muito menos a sua agenda no estado.
Nesses três anos, até Moro, ainda ministro de Bolsonaro, envolveu-se diretamente no caso.
Moro mobilizou a PF para “interrogar” o porteiro do condomínio Vivendas da Barra, aonde o clã Bolsonaro tem duas casas, uma de Jair e, a outra, de Carlos.
O que motivou esse aparelhamento da PF por Moro para pressionar o porteiro foi a sua afirmação, em depoimento à Polícia Civil e MP-RJ foi a de que Jair Bolsonaro é quem deu ordens a ele para a entrada de Elcio de Queiroz, comparsa de Ronnie Lessa, no crime de Marielle no mesmo dia em que ela foi morta.
O fato é que Moro conseguiu o que queria. O porteiro mudou sua versão e, de forma surpreendente, nunca mais se ouviu falar dele. Nem se sabe se ele continuou trabalhando no condomínio.
O fato é que a morte de Marielle é cercada de muitas e macabras coincidências e nenhuma solução.
O Ministério Público (MP) encerrou as escutas no caso do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, chefe da milícia especializada em assassinatos ‘Escritório do Crime’, após Jair Bolsonaro (sem partido) ser mencionado no processo.
Uma das irmãs do miliciano, Tatiana Magalhães da Nóbrega, afirmou em uma ligação feita em fevereiro de 2020 que queriam ligar Adriano a “Bolsonaro”, se referindo ao presidente. As informações constam no relatório técnico da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Polícia Civil do Rio de Janeiro e foram divulgadas pelo The Intercept Brasil.
Os suspeitos de integrar a organização criminosa responsável pela continuidade dos negócios de Adriano da Nóbrega passaram a ser monitorados em 6 de fevereiro de 2019, dias após a prisão do ex-PM ser decretada durante a operação Intocáveis. O MP abriu uma denúncia contra policiais e ex-policiais militares ligados à milícia de Rio das Pedras e da Muzema, ambos localizados na zona oeste do Rio de Janeiro.
A irmã de Adriano falou ao telefone com uma mulher não identificada no dia 14 de fevereiro de 2020. Durante a ligação, Tatiana lamentou a dificuldade em liberar o enterro do irmão, e alegou que o ex-Bope “tinha muita coisa e mexia com muita gente”. Em seguida, ela citou o presidente da República, Jair Bolsonaro.
“Falam sobre uma pessoa que está lá, Tatiana diz que ele está lá tomando conta do gabo para ela e diz que tem muita coisa para tirar. Tatiana fala sobre Adriano e diz que ainda não conseguiram enterrar. Tatiana diz que a família quer cremar e não foi autorizado. Tatiana diz que trouxeram um perito particular para alegar que ele foi assassinado e o perito não pode mexer no corpo”, diz um trecho da ligação interceptada.
Em outro pedaço da ligação, a irmã de Adriano da Nóbrega diz que está “a maior confusão” e que o irmão dela não era miliciano. Ele era “bicheiro”. “Tatiana diz que querem ligar ele a Bolsonaro”, explicita outro trecho.
A renovação das quebras de sigilo era atualizada de forma sistemática até o dia 21 de fevereiro, cerca de duas semanas após o ex-PM ter sido localizado em uma propriedade rural na Bahia.
Fim da interceptação
Sete dias após a conversa em que o nome de Bolsonaro foi citado, um relatório mostra a opção do MP por não renovar as escutas telefônicas de Tatiana. O fechamento das interceptações é feito por um relatório a cada 15 dias, seguindo o prazo legal.
Promotores desencorajaram uma nova abertura dos grampos, que precisa ser submetida a uma autorização judicial.
“Pelos motivos acima expostos, encaminhamos o presente para apreciação de Vossa Excelência, sugerindo, salvo melhor juízo, a não renovação da medida de interceptação telefônica do terminal utilizado por Tatiana Magalhães da Nóbrega, bem como do respectivo IMEI 355909106083490, vinculado ao telefone”, diz um trecho do documento.
Além da irmã do ex-capitão do Bope, outros suspeitos de integrar a rede de proteção de Adriano, integrantes do ‘Escritório do Crime’, também tiveram as escutas interrompidas, como a do vereador de Esplanada, Gilsinho da Dedé (PSL), proprietário do sítio em que Adriano se escondia.
VEJA localizou Raimunda Magalhães, mãe de Adriano da Nóbrega, miliciano que liderava um bando de matadores no Rio. Se ela contasse tudo o que sabe…
A silenciosa cidade de Astolfo Dutra, no interior montanhoso de Minas Gerais, guarda um segredo com alto potencial de causar estrondo. Entre seus 13 000 habitantes, consta uma senhora aposentada que teria desembarcado naquelas paragens vinda do Rio de Janeiro atrás de vida mais sossegada. Ali, ela mora com a mãe, que sofre de Alzheimer, e com uma neta cadeirante. Até uns meses atrás, ninguém imaginaria que Dona Vera, como a chamam, é Raimunda Veras Magalhães, 70 anos, envolvida no esquema de “rachadinha” implantado no gabinete de Flávio Bolsonaro, quando o hoje senador era deputado estadual. Pois bem: Dona Vera aparece entre os dezessete recém-denunciados pela bandalha, rol que abrange o filho do próprio presidente.
Ela vem a ser ainda mãe de Adriano da Nóbrega, ex-capitão do Bope acusado de chefiar uma quadrilha de matadores milicianos conhecida como Escritório do Crime, morto em fevereiro deste ano. Por suas ligações mais do que perigosas, a discreta residente de Astolfo Dutra é considerada pelos promotores testemunha-chave da engrenagem que teria irrigado por mais de uma década a conta de funcionários fantasmas, como ela mesma — verba que ia parar em outros bolsos, segundo o Ministério Público do Rio.
Seu paradeiro permaneceu envolto em mistério durante mais de um ano de investigação. O MP chegou a tentar notificar Raimunda batendo à porta de uma filha, que não revelou onde estava a mãe. Os promotores só viriam a saber onde ela havia submergido ao rastrear o celular de Márcia Aguiar, mulher de Fabrício Queiroz, o ex-assessor faz-tudo de Flávio, que orquestrava a rachadinha. Naquele dezembro de 2019, Márcia foi ao encontro de Raimunda, junto com o advogado Luis Gustavo Botto Maia, com o objetivo de engendrar um plano de fuga para a família Queiroz. Também informa o inquérito que Adriano, então foragido, daria uma mãozinha.
VEJA localizou Raimunda. Nervosa, ela primeiro tentou se esconder para depois disparar, aos gritos: “Não tenho nada para dizer. Perdi meu menino e não quero mais papo com ninguém”, esquivou-se. A essa altura, alguns vizinhos definem Dona Vera como “arquivo vivo”. “A gente tem medo que venha alguém aqui, saia metralhando e acabe sobrando para quem estiver por perto”, comenta um deles.
Foi a pedido de Adriano que Raimunda, à época exposta nos holofotes da rachadinha, se mudou para o interior mineiro, onde já morava uma parte da família, incluindo duas irmãs, todos de origem cearense. Adriano nunca foi visto naquelas bandas, onde a mãe hoje passeia com trajes simples e gosta de pechinchar. “Ela separa três modelos, escolhe o mais baratinho e ainda chora desconto”, conta uma vendedora, lembrando que Raimunda sempre paga em dinheiro.
Sua aparente penúria contrasta com o patrimônio deixado por Adriano, na casa dos 10 milhões de reais. Expulso do Bope em 2013 por ligação com a contravenção, ele era dono de fazendas, casas, apartamentos, cavalos de raça, empresas, tudo em nome de laranjas. De acordo com uma reportagem de VEJA, Raimunda contribuiu com um depósito para a compra de uma das fazendas, no Tocantins. Ela é sócia ainda de três restaurantes na Zona Norte carioca — em um deles, o filho tinha participação oficialmente. Sua defesa, porém, reforça a imagem da dureza financeira. “A Raimunda ficou desassistida até juridicamente”, ressalta a advogada Manuela, que garante não estar recebendo honorários.
É verdade que dos salários na Assembleia Legislativa não sobrava muita coisa — e isso o inquérito da rachadinha explica. Como funcionária do gabinete de Flávio, entre março de 2016 e novembro de 2018, ela recebeu 252 600 reais, mas repassou 52 700 para Queiroz e sacou em espécie outros 186 500 — valores que somam 94% da remuneração total. A quebra de sigilo bancário de Queiroz revela mais uma, digamos, generosidade de Raimunda para com o amigo: 69 200 reais vieram de dois de seus restaurantes.
O MP afirma, com base no rastreamento de seu celular, que ela não ia ao emprego — era uma “assessora fantasma”. Sua defesa sustenta que isso não procede, já que Raimunda sempre trocava de celular por recomendação do filho. Aliás, foi Adriano, que trabalhou com Queiroz na PM, quem intermediou a nomeação da mãe e de sua ex-mulher, Danielle Mendonça — que, além de denunciada, estaria com câncer de mama e sofrendo de síndrome do pânico. No início do anos 2000, Adriano chegou a ser instrutor de tiro de Flávio, que lhe deu uma medalha pelos serviços prestados na polícia. É toda essa teia que Dona Vera tenta deixar para trás na pacata Astolfo Dutra.
Uma das transações financeiras ajuda a esclarecer um mistério: de onde veio o dinheiro usado pelo faz-tudo da família Bolsonaro para a retirada de um câncer.
Era antiga e umbilical a relação entre o policial militar aposentado Fabrício Queiroz, faz-tudo da família Bolsonaro, e o ex-capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, acusado pelo Ministério Público (MP) de chefiar um grupo de extermínio que trabalhava para uma das mais temidas milícias do Rio de Janeiro. Os dois serviram juntos na Polícia Militar, onde foram parceiros em rondas que resultaram na morte suspeita de um civil. Em diferentes eleições, eles também pediram votos para Jair Bolsonaro e seus filhos a colegas das forças de segurança e em áreas controladas por milicianos, como Rio das Pedras, na Zona Oeste da capital fluminense.
A parceria aproximou suas famílias e, de quebra, desdobrou-se para a área financeira. Pelas mãos de Queiroz, a mãe e a ex-mulher de Adriano foram contratadas para trabalhar no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro e, segundo o MP, devolveram parte dos salários que recebiam. Sob o guarda-chuva desse contrato principal, firmado no âmbito do esquema da rachadinha, Adriano e Queiroz realizaram outras transações financeiras.
Uma delas ajuda a esclarecer parte de um antigo mistério: de onde saiu o dinheiro vivo usado por Queiroz a fim de pagar a sua cirurgia no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, para a retirada de um câncer no cólon. O custo total da operação foi de quase 135 000 reais, quitados em espécie. Apesar de sua movimentação bancária milionária descoberta pelo Coaf, o órgão de inteligência financeira do governo federal, Queiroz sempre viveu de forma modesta.
Diante da necessidade de arcar com uma despesa médica de tal monta, sua mulher, Márcia de Aguiar, ligou para Adriano — que na época ainda não havia sido denunciado pelo MP — e pediu ajuda. O ex-capitão concordou em dar 80 000 reais ao amigo e mandou um de seus funcionários levar o dinheiro do Rio para São Paulo. A familiares, Adriano disse que ajudou Queiroz porque eles eram amigos de longa data.
Era antiga e umbilical a relação entre o policial militar aposentado Fabrício Queiroz, faz-tudo da família Bolsonaro, e o ex-capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, acusado pelo Ministério Público (MP) de chefiar um grupo de extermínio que trabalhava para uma das mais temidas milícias do Rio de Janeiro. Os dois serviram juntos na Polícia Militar, onde foram parceiros em rondas que resultaram na morte suspeita de um civil. Em diferentes eleições, eles também pediram votos para Jair Bolsonaro e seus filhos a colegas das forças de segurança e em áreas controladas por milicianos, como Rio das Pedras, na Zona Oeste da capital fluminense. A parceria aproximou suas famílias e, de quebra, desdobrou-se para a área financeira. Pelas mãos de Queiroz, a mãe e a ex-mulher de Adriano foram contratadas para trabalhar no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro e, segundo o MP, devolveram parte dos salários que recebiam. Sob o guarda-chuva desse contrato principal, firmado no âmbito do esquema da rachadinha, Adriano e Queiroz realizaram outras transações financeiras. NO CRIME – Adriano: fortuna estimada em 10 milhões de reais – //Reprodução
Uma delas ajuda a esclarecer parte de um antigo mistério: de onde saiu o dinheiro vivo usado por Queiroz a fim de pagar a sua cirurgia no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, para a retirada de um câncer no cólon. O custo total da operação foi de quase 135 000 reais, quitados em espécie. Apesar de sua movimentação bancária milionária descoberta pelo Coaf, o órgão de inteligência financeira do governo federal, Queiroz sempre viveu de forma modesta. Diante da necessidade de arcar com uma despesa médica de tal monta, sua mulher, Márcia de Aguiar, ligou para Adriano — que na época ainda não havia sido denunciado pelo MP — e pediu ajuda. O ex-capitão concordou em dar 80 000 reais ao amigo e mandou um de seus funcionários levar o dinheiro do Rio para São Paulo. A familiares, Adriano disse que ajudou Queiroz porque eles eram amigos de longa data.
Queiroz ficou internado no Albert Einstein entre 30 de dezembro de 2018 e 8 de janeiro de 2019. Naquele período de virada de ano, três de seus filhos se hospedaram num imóvel de Adriano no Rio, recebendo os cuidados e a proteção de pessoas ligadas ao ex-capitão. A reciprocidade era uma tônica na relação entre as famílias. Raimunda Veras, a mãe de Adriano, trabalhou no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio entre 2016 e 2018, quando recebeu 252 699 reais em salários e sacou 94,67%.
O porcentual abocanhado se repetiu no caso de outros servidores e indica uma espécie de meta de arrecadação. Em depoimento ao MP em setembro passado, Luiza Sousa Paes admitiu que era funcionária-fantasma e também devolvia mais de 90% do salário, em razão de um acerto com Queiroz. Ela foi a primeira servidora a reconhecer a existência da rachadinha. Seu testemunho, revelado pelo jornal O Globo, foi usado pelos promotores para denunciar Flávio Bolsonaro, Queiroz, as parentes de Adriano e mais uma dezena de pessoas por crimes como peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Diferentemente de Raimunda e Luiza, Danielle da Nóbrega, ex-mulher de Adriano, vivia sob outras regras. Durante seu período no gabinete de Flávio na assembleia, ela recebeu 776 343 reais em salários e devolveu 21,38% do valor. A mordida era menor devido a uma ação entre amigos. Adriano queria que Danielle tivesse uma ocupação formal e uma fonte de renda lícita.
Para que os desembolsos dela não ficassem abaixo do cobrado de outros funcionários, ele propôs repassar a diferença a Queiroz, em dinheiro vivo, com recursos próprios. Uma reportagem de VEJA publicada no mês passado mostrou que Adriano fez uma fortuna de pelo menos 10 milhões de reais depois de trocar a PM, corporação da qual foi expulso, pelo submundo do crime. Seu faturamento mensal variava de 250 000 reais a 350 000 reais com a exploração de atividades como jogos ilegais, grilagem de terras e venda e aluguel de apartamentos construídos irregularmente. Mesmo quando se separou de Danielle, Adriano manteve o acordo com Queiroz. Os dois tratavam o emprego dela como uma espécie de pensão. Na prática, uma coisa substituía a outra.
Quando foi demitida, em 2018, Danielle pediu socorro ao ex-marido, lembrando que tinha contas a pagar. “Contava com o que vinha do seu tbm (sic)”, respondeu Adriano por mensagem. Num primeiro momento, Danielle seguiu as recomendações de Queiroz sobre como proceder em relação ao avanço das investigações. A ordem era ficar em silêncio. Com o tempo, afastou-se de Queiroz e Adriano e se recusou a receber novas orientações.
Numa conversa, ela chegou a dizer que se arrependia de ter deixado aquele dinheiro sujo entrar em sua vida. Desde o início da apuração do caso, houve um esforço para impedir que os personagens do enredo dessem explicações ao MP. A prova mais clara disso foi o fato de Frederick Wassef, à época advogado da família Bolsonaro, ter escondido Queiroz em um imóvel de sua propriedade no interior de São Paulo. Foi lá que o operador da rachadinha acabou preso, em junho passado. Essa estratégia de tirar a turma de circulação disseminou em alguns investigados a suspeita de que o objetivo principal era livrar Flávio Bolsonaro das garras da Justiça, mas não necessariamente seus antigos subordinados.
O Ministério Público do Rio aponta que a mulher e a mãe do miliciano Adriano da Nóbrega foram nomeadas assessoras por Flávio Bolsonaro. O MP indica que elas ajudaram a desviar mais de R$ 1 milhão.
Denúncia do Ministério Público contra o senador Flávio Bolsonaro afirma que o miliciano Adriano da Nóbrega, assassinado este ano na Bahia, fazia parte do esquema da “rachadinha” comandada por Fabrício Queiroz, assessor do então deputado estadual, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Segundo denúncia do MP, em 2007, quando Flávio contratou Queiroz, o então deputado também nomeou Danielle Mendonça da Costa como assessora. Danielle era mulher do ex-PM Adriano da Nóbrega, acusado de comandar um grupo de extermínio com milicianos no Rio e de ter participado no assassinato da ex-vereadora Marielle Franco (PSOL).
Em 2015, a mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, também virou assessora parlamentar de Flávio Bolsonaro. Segundo o MP, Raimunda e Danielle eram funcionárias fantasmas.
Mais uma vez fica claro que política é como arte, que não se move por escolha discricionária e diletante de elementos, uma crítica política é feita na inconsciência coletiva do povo.
Foi exatamente isso que fez com que a pergunta do jornalista Daniel Gullino: “Presidente, por que sua esposa Michelle recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?” ganhasse a dimensão que ganhou.
Artistas que sempre representaram a alma do povo, não entraram no coro por acaso, entraram justamente pela percepção intuitiva de que era aquela a pauta fundamental que a sociedade encontrou para desossar um presidente canalha envolvido até o pescoço, junto com sua família, num mega esquema de corrupção, somando-se às milhões de vozes nas redes sociais reproduzindo a pergunta diretamente ao presidente, que é de toda a sociedade, que o jornalista somente fez a transposição.
A grande mídia bem que tentou, paradoxalmente, proteger Bolsonaro reproduzindo o seu ataque ao jornalista e, com isso, desviando o foco do essencial que era a pergunta. Até porque grosseria com a mídia sempre marcou toda a trajetória de Bolsonaro em uníssono, ela apoiou sua candidatura em nome de um antipetismo doentio e dos interesses dos próprios barões da comunicação.
Mas não deu, o tsunami já tinha varrido as redes sociais e a pergunta do jornalista “Presidente, por que sua esposa, Michelle, recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?” já estava em pleno incêndio somando-se a milhares de memes. E a mídia, a partir de um certo horário, teve que aderir à campanha absolutamente espontânea feita pela sociedade na internet.
Lógico que o alvo dessa pergunta não é somente Bolsonaro, mas também Rodrigo Maia por sua misteriosa defesa intransigente dos crimes que envolvem toda a família em parceria com os milicianos Queiroz, Adriano da Nóbrega e cia.
Talvez a posição de Maia seja ainda mais cretina, porque trata de blindar uma quadrilha em nome dos interesses dos banqueiros que se lambuzam num governo em que Paulo Guedes é a própria cafetina do sistema financeiro. E Maia, como todos sabem, sempre foi o cortesão, se é que se pode chamar assim, dos bancos e dos grandes rentistas.
Não é simplesmente Bolsonaro que está centrifugando Maia para o seu inferno, mas sim a sociedade que faz um pacote desse câncer que está matando o Brasil com falência múltipla das instituições capturadas pelo grande capital que, por sua vez, joga todo esse conjunto de podridão no caldeirão em fervura.
Assim, a mídia acordou nesta terça-feira tendo que fazer a pergunta que a sociedade faz e pedindo a cabeça de Bolsonaro, não teve outra alternativa.
E nesse episódio fica uma lição sobre o papel das redes sociais nos dias que correm em que muita gente boa acredita erroneamente que se pode forjar um ambiente favorável ou contrário à determinada posição utilizando robôs e outros mecanismos sintéticos para convencer as pessoas de que o jogo político está ganho ou perdido, sem levar em conta a posição da sociedade que pode, num primeiro momento, ser induzida ao erro por informações falsificadoras, mas que a partir da intuição diante da realidade e com um debate qualificado, mesmo que aparentemente lento, constrói uma frente espontânea que serve como muralha contra o avanço de tiranos e corruptos, sejam eles políticos, empresários da grande imprensa, sejam milicianos, juízes e militares.
Que esse fato sirva de lição e que muitos revejam seus conceitos sobre o papel das redes sociais diante das próprias questões da sociedade.
Capitão Adriano transferiu R$ 400 mil para conta de Queiroz, estima MP-RJ.
Adriano é o miliciano que foi condecorado pelo clã por ordem de Bolsonaro a Flávio. Adriano estava preso por ter assassinado um flanelinha.
Pelo menos R$ 69,5 mil foram depositados nas contas bancárias de Queiroz por restaurantes administrados pelo miliciano e seus familiares.
Em novembro passado, Queiroz pediu que a mãe de Adriano permanecesse escondida no interior de Minas Gerais, após uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) garantir o andamento das investigações sobre o esquema criminoso do gabinete de Flávio Bolsonaro, quando este era deputado estadual no Rio de Janeiro.
O advogado de Queiroz, Paulo Emílio Catta Preta, também chefiava a defesa Capitão Adriano.
A mãe e a ex-mulher do Capitão Adriano eram “funcionárias fantasmas” do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, de acordo com a investigação conduzida pelo MP-RJ.
A mãe de Adriano realizou 17 depósitos no valor total de R$ 91.796 na conta bancária de Queiroz.
Capitão Adriano era chefe da milícia que domina as comunidades de Rio das Pedras e Muzema, na zona oeste do Rio.
Queiroz e a mulher trocaram mensagens de celular que indicam que o advogado Luís Gustavo Botto Maia, responsável pelas contas eleitorais de Flávio Bolsonaro, faria uma proposta financeira a Adriano e seus familiares, em troca de silêncio do miliciano.
PF e MP encontraram ligações entre o miliciano Adriano da Nóbrega. Acusado da matar Marielle, Ronnie Lessa, era vizinho de Bolsonaro e Carlos no condomínio Vivendas da Barra.
Queiroz depositou na conta de Michelle Bolsonaro 21 cheques que somam R$ 72 mil.
Mulher de Queiroz depositou R$ 17 mil na conta de Michelle Bolsonaro quando o marido era assessor de Flávio.
Ou seja, Queiroz e a esposa repassaram R$ 89 mil para Michelle Bolsonaro.
Não bastasse a tentativa de roubar um trecho da obra de transposição do São Francisco, usar o Bolsa Família com outro nome como se fosse um projeto seu, Bolsonaro, agora, vai para o tudo ou nada e tenta ser a própria imagem de Lula.
É fato que, na eleição de 2018, ele já tentou isso quando meteu na cabeça um chapéu de cangaceiro e não arrumou nada no Nordeste. Agora, que perde a olhos vistos apoio de uma grande parcela da classe média no sul e no Sudeste, Bolsonaro tenta utilizar todos os tipos de artifícios para tentar catapultar sua popularidade através de comportamento mistificador.
O problema é que Bolsonaro tem horror a nordestinos e não consegue esconder isso. Sua enorme dificuldade em lidar com pobre faz dessa estratégia um calvário, mas, fazer o quê? Ele não pode deixar de arreganhar os dentes pra quem ele odeia, já que perdeu a coroa de capim seco presenteado pela maioria do seu gado.
Na realidade, o “presidente” é bom mesmo em milícia, e o Norte e Nordeste não são Rio das Pedras, terra em que Queiroz é patrão e Adriano da Nóbrega, chefe do Estado Maior. Esse é o núcleo de Bolsonaro, milicianos, assassinos de aluguel, traficantes internacionais de armas, e daí para o inferno.
Talvez o que explica esse comportamento nem seja a tentativa de buscar popularidade, mas de desviar a atenção da tragédia sanitária e econômica que o Brasil atravessa por culpa exclusiva de seu governo, já que pipoca para todos os lados uma quebradeira generalizada e, por outro lado, o país perde todos os dias mais de mil brasileiros devorados pela Covid-19, disseminada pelo próprio Bolsonaro.
Ele imagina que, imitando Lula e as políticas do PT, produzirá fatos políticos como cortina de fumaça sobre os crimes da família e a derrocada do país que é o segundo com mais mortes por Covid-19 do planeta.