O risco que a democracia brasileira corre, mora na casa 58 do condomínio Vivendas da Barra.
Não tem mais um único brasileiro que acredite que o clã não esteja envolvido diretamente com a milícia carioca e, possivelmente com o assassinato de Marielle.
É aí que mora o perigo. Na tentativa de sufocar a justiça, Bolsonaro, num ato de desespero, pode sim tentar uma aventura autoritária. E não duvido de que esteja mexendo os pauzinhos nesse sentido, dentro das Forças Armadas e do universo das milícias.
Moro já mostrou como a coisa pode funcionar quando coagiu o porteiro com seus gorilas de confiança dentro da PF para o coitado do porteiro desdizer o que disse, produzindo uma versão policialesca dos piores enredos dos enlatados policiais.
A manobra colou? Não. A história é tão inverossímil como tantas outras farsas produzidas pelo bolsonarismo com o silêncio obsequioso da mídia.
Agora, a mídia está gritando contra o AI5, porque Bolsonaro só tem uma saída para livrar a sua cara e de sua ninhada, partir para o autoritarismo radical generalizado, o que transformaria a mídia numa vítima tão instantaneamente quanto o porteiro.
A mídia, o judiciário, o Ministério Público ou qualquer um que oficialmente se insurja contra Bolsonaro, corre o risco de se transformar no porteiro do condomínio Vivendas da Barra que anotou o número da casa de Bolsonaro no dia do assassinato de Marielle e, depois, em depoimento disse que foi o próprio seu Jair quem autorizou a entrada do miliciano assassino.
Vendo seu chão derreter, Moro aceitou na hora transformar uma testemunha, no caso, o porteiro em réu, sem o menor constrangimento. Lógico que isso está longe de ser a solução para Bolsonaro. Mas ele está tentando calar, de todas as formas, quem está investigando o caso.
É claro que, diante de um quadro tenebroso que o Brasil vive, um investidor internacional com um mínimo de juízo, não vai casar um centavo de dólar em um país dominado pela milícia, pois sabe o nível de instabilidade política e, sobretudo jurídica que isso significa.
Assim, o dólar tende a subir, precisando que o governo lance mão das reservas internacionais deixadas por Lula e Dilma para segurar o repuxo de altas substanciais, como aconteceu nos últimos dias.
Soou ridículo Paulo Guedes falar em quebra quebra promovido por Lula, quando não há uma viva alma na rua protestando contra, por exemplo, o sumiço da carne vermelha do prato dos brasileiros devido aos preços indecorosos.
Paulo Guedes deve ter lembrado que, na era Lula, além do dólar estar infinitamente mais baixo que hoje, o brasileiro não só comia carne todos os dias, mas fazia churrasco todos os fins de semana. Isso, sem falar que nenhum direito do trabalhador foi cortado ou mesmo sua aposentadoria tocada, ao contrário, nos 13 anos de governo do PT, o salário mínimo teve o maior poder de compra da história, assim como o Brasil viveu, naquele período, o pleno emprego.
Guedes só conseguiu com isso chamar a atenção para o risco de um desastre econômico no caso do mercado tirar a mão da cabeça de Bolsonaro e ele cair em desgraça, aí sim, com o risco de ser preso, apelar para uma atitude extrema.
Não creio mesmo que uma manobra dessa tenha força para dar certo, mas creio que Bolsonaro é suficientemente portador de uma psicopatia aguda que, diante do pavor de se ver atrás das grades, junto com o seu clã, parta para a tentativa de salvar a sua gleba a todo custo, usando todos os instrumentos sujos que puder.
Quanto a Guedes citar Lula, deve ser porque Lula tem colocado essas duas questões no debate político, as milícias ligadas a Bolsonaro e as consequências disso na desastrosa política econômica de Guedes. Ou seja, como sempre, Lula é certeiro em suas falas.
Ainda não entendi porque a esquerda não listou até agora os crimes cometidos por Moro tanto como juiz quanto como Ministro da Justiça.
Certamente, dará um pacote sortido, porque o que não falta é material resumindo o que disse o deputado Glauber Braga quando, na cara de Moro, em sessão na Câmara dos Deputados, sentenciou o vigarista: “você é um juiz corrupto e ladrão”.
A cada vazamento do Intercept uma nova denúncia sobre o comportamento corrupto de Moro, criando suas próprias leis, assim como o tribunal do crime para subjugar ou penalizar adversários políticos para que o próprio, como se viu, galgasse seus degraus dentro da esfera política.
Fica incompreensível porque a esquerda não cria um projeto que puna juízes como Moro que pratiquem crimes semelhantes aos que ele praticou nos cinco anos de operação Lava Jato e quase um ano do governo Bolsonaro, a começar pelo porteiro do condomínio Vivendas da Barra que, coagido pelo capanga do presidente, foi transformado de testemunha a réu para salvar o pescoço do clã.
Bastaria essa última revelação da Vaza Jato e a conversa entre os procuradores da Força-tarefa para mostrar que Moro cometeu mais um crime contra Lula, contra Dilma e contra a democracia, entre tantos revelados pelo Intercept.
Mas, ao contrário, é Moro que criou um pacote anticrime, imagina isso! Não demora, Fernandinho Beira-Mar e Marcola farão o mesmo, já que nesse país as autoridades estão de cabeça para baixo trocando figurinhas com morcegos.
Moro lá tem envergadura moral para apresentar projeto anticrime sendo ele o próprio criminoso togado? Se isso não é um sacrilégio com o judiciário ou com os cidadãos brasileiros, é um bundalelê na cara de todos. Mas ele está aí em seu twitter já em campanha para 2022, mostrando outdoor’s que, segundo ele, são manifestações espontâneas a favor de seu projeto anticrime.
Temos no Brasil um juiz criminoso que, além de não sofrer nenhuma punição, ainda cria um pacote que, supostamente, puniria crimes. Isso é um tapa na cara de qualquer brasileiro, até mesmo dos idiotas que apoiam o juiz vigarista.
Na mais recente reviravolta em torno das investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, um porteiro do condomínio Vivendas da Barra mudou seu depoimento sobre um dos acusados de envolvimento direto nos homicídios.
Marielle e Anderson foram mortos no dia 14 de março de 2018.
Na quarta-feira (20), o funcionário — de nome não divulgado oficialmente — afirmou à Polícia Federal que errou ao ter dito em dois depoimentos à Polícia Civil do Rio de Janeiro, em outubro, que o ex-policial militar Élcio Queiroz foi autorizado a entrar no condomínio, horas antes dos assassinatos, por alguém na casa do então deputado federal Jair Bolsonaro. Mais especificamente, alguém que ele identificou com a voz do “Seu Jair”.
Mas por que o porteiro mudou sua versão, se o próprio anotou na planilha de acessos ao condomínio em 14 de março de 2018 que Queiroz iria à casa 58, onde Bolsonaro morava, em vez da casa 66, onde morava o policial militar reformado Ronnie Lessa, acusado de efetuar os disparos contra Marielle e Anderson?
E por que nenhuma das linhas de investigação chegou a um possível motivo para os crimes?
Veja abaixo lacunas e perguntas sem respostas que surgiram em torno da investigação. Por que os motivos do crime ainda não foram identificados?
Depois de um ano e seis meses de investigação, a Procuradoria-Geral da República e a Polícia Federal chegaram em setembro formalmente a um suspeito de ser o mentor dos assassinatos: Domingos Brazão, conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE/RJ).
A partir de interceptações telefônicas feitas numa investigação paralela à da Polícia Civil do Rio, a Polícia Federal apontou que Brazão era ligado ao chamado Escritório do Crime, grupo de milicianos e matadores de aluguel que tem sua base em Rio das Pedras, favela na zona oeste da cidade. E os assassinatos podem ter sido, segundo essa linha de investigação, executados por integrantes dessa milícia.
Mas ainda não está claro qual seria a relação entre Brazão e os acusados de executar o crime. E tampouco se sabe qual seria a motivação dele para desejar a morte da vereadora.
Segundo a denúncia da PGR, que havia solicitado à Polícia Federal que investigasse possível interferência na apuração estadual dos assassinatos, a investigação do vínculo entre Brazão e o Escritório do Crime vem sendo dificultada pelo fato de o grupo criminoso ter ligações com membros da Polícia Civil.
Denúncia assinada pela então PGR Raquel Dodge apontou um possível mandante do crime.
Cinco pessoas foram acusadas de atrapalhar a investigação, entre elas um policial militar e um delegado federal.
Investigadores afirmam que Brazão buscava desviar o curso da apuração para longe de si e em direção ao miliciano Orlando Oliveira Araújo, conhecido como Orlando Curicica, e o vereador Marcelo Moraes Siciliano, e chegou a ser bem-sucedido nessa estratégia por cerca de um ano. Siciliano e Brazão disputam controle político na zona oeste do Rio.
A então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, argumentava que as lacunas sobre motivos do crime e os possíveis mandantes justificavam a federalização do caso, ou seja, que a investigação saísse do âmbito estadual do Rio de Janeiro e passasse à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal.
“O eventual fracasso da persecução criminal do mandante imporia a responsabilização internacional do Estado brasileiro”, afirmou Dodge à época.
O advogado de Brazão, Ubiratan Guedes, negou qualquer envolvimento do cliente nas mortes de Marielle e Anderson e classificou a denúncia da PGR de sensacionalista.
Por que Marielle entrou na mira dos criminosos?
O crime teria sido “meticulosamente planejado” nos três meses anteriores, segundo o Ministério Público fluminense. Isso significa que Marielle passou a ser um alvo antes mesmo de completar um ano como vereadora.
Segundo a denúncia, “é inconteste que Marielle Francisco da Silva foi sumariamente executada em razão da atuação política na defesa das causas que defendia”.
Ela havia sido a quinta candidata a vereadora mais votada nas eleições municipais de 2016 do Rio, com 46.502 votos, em sua primeira disputa eleitoral.
Na Câmara, era uma das relatoras de uma comissão criada em fevereiro para monitorar a intervenção federal de segurança pública no Estado do Rio. Também presidia a Comissão de Defesa da Mulher e havia proposto projetos de lei voltados à defesa de direitos de minorias e a assistência social.
Entre eles estavam a criação de espaço de acolhida de crianças durante a noite, enquanto seus pais estudam ou trabalham, uma campanha permanente de conscientização sobre assédio e violência sexual, um estudo periódico de estatísticas sobre mulher atendidas por serviços públicos da cidade, a oferta de assistência técnica gratuita em habitação para famílias de baixa renda e um dia de combate à LGBTfobia.
Giniton Lages, chefe da Delegacia de Homicídios da Capital, responsável pela investigação, afirmou que um dos acusados de participação direta no crime, Ronnie Lessa, tem “obsessão por personalidades que militam à esquerda”.
Segundo o delegado Giniton Lages (foto), um dos acusados, Lessa, tem ‘obsessão por personalidades que militam à esquerda’.
Essa interpretação foi corroborada pela promotora Simone Sibilio. Para ela, os acusados agiram por “motivo torpe” e Lessa teria matado a vereadora por “repulsa” a sua atuação política. Anderson teria sido incluído como alvo para dificultar a solução do crime.
O MP-RJ não excluiu, no entanto, que tenha havido outras motivações, nem que o crime tenha sido encomendado por outras razões.
O general Richard Nunes, secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, disse ao jornal O Estado de S. Paulo, que Marielle teria sido morta a mando de milicianos. O motivo seria a crença de que a vereadora poderia interferir em interesses relacionados à grilagem de terras e construções irregulares de edifícios na zona oeste do Rio, principal área de atuação destes grupos paramilitares na cidade.
Milícias são grupos armados irregulares formados muitas vezes por integrantes e ex-integrantes de forças de segurança do Estado, como policiais, bombeiros e agentes penitenciários. E assumem por meio da força o controle territorial de áreas ou mesmo bairros inteiros e coagem moradores e comerciantes a pagarem por proteção.
Em que pé está a investigação agora?
A investigação conduzida pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Rio apontou dois acusados de terem participado diretamente dos assassinatos. Élcio Queiroz, que teria dirigido o carro usado no crime, e Ronnie Lessa, que teria feito os disparos.
O processo está próximo do desfecho na primeira instância da Justiça.
A fase seguinte seria voltada à busca pelos mandantes e pelos motivos do crime.
Mas menções pontuais recentes à família Bolsonaro ao longo da investigação sobre os assassinatos realimentaram os debates em torno da federalização dessas duas fases da investigação — a ideia é defendida, entre outros, pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.
“Vendo esse novo episódio, em que se busca politizar indevidamente, na minha avaliação, claro que será decidido pela Justiça, mas o melhor caminho para uma investigação exitosa é a federalização”, disse o ministro em entrevista à rádio CBN.
Ele se referia à informação de que um porteiro afirmou à Polícia Civil que Queiroz, um dos acusados de participação direta no crime, se dirigiu à casa do então deputado federal Bolsonaro horas antes dos assassinatos — o porteiro mudou sua versão nesta semana e negou seu próprio relato.
Moro defende que investigação dos assassinatos seja federalizada
Formalmente, o pedido de federalização cabe à Procuradoria-Geral da República pedir e a decisão fica a cargo do STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Há ainda outros dois aspectos que fortalecem a hipótese de federalização, que poderia envolver tanto a fase atual da investigação (sobre quem executou o crime) quando a próxima (sobre os mandantes).
O primeiro é a tentativa de interferência nas investigações apontada pela PGR. A outra é a série de divergências e conflitos entre as investigações conduzidas pela Polícia Civil e pelo Ministério Público em âmbito estadual.
Familiares de Marielle são contrários à federalização. “Nós da família estamos acompanhando o desempenho dos policiais e promotores de perto e sabemos que o trabalho realizado por eles é positivo”, afirmaram em nota.
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, também discorda da proposta. “A Polícia Federal não tem expertise nenhuma de crime de homicídio, não tem departamento de homicídios”, disse. Para ele, a mudança traria atrasos a essa fase da investigação sobre os acusados de participação direta do crime.
Por que o porteiro mudou seu depoimento?
O caso da testemunha que citou o nome do presidente durante as investigações veio à tona em uma reportagem do Jornal Nacional veiculada no dia 29 de outubro. Segundo ela, um porteiro do condomínio Vivendas da Barra disse em depoimento à Polícia Civil fluminense que Élcio Queiroz afirmou que iria à casa que pertence ao presidente.
Ao recebê-lo na guarita, o porteiro afirmou ter ligado para casa 58 para confirmar se o visitante poderia entrar, e alguém na residência autorizou a entrada do veículo, um Renault Logan. Em dois depoimentos à Polícia Civil do RJ, o porteiro disse ter reconhecido a voz de quem atendeu como sendo a do “Seu Jair”, segundo o Jornal Nacional.
Ele explicou que acompanhou a movimentação do carro de Queiroz pelas câmeras de segurança e viu que o carro tinha ido para a casa 66, onde morava Lessa.
O porteiro disse, então, ter ligado de novo para a casa 58, e que o homem identificado por ele como sendo “Seu Jair” teria dito que sabia para onde Élcio estava indo. Além desse depoimento, o registro manuscrito de entrada trazia o número da casa de Jair Bolsonaro ao lado da placa do carro do visitante.
Polícia Federal ouviu porteiro depois que depoimento com menção ao presidente veio à tona.
Depois da veiculação da reportagem, o governo Bolsonaro pediu à Polícia Federal que ouvisse o porteiro.
Nesta quarta-feira (20), o porteiro recuou do depoimento que deu no mês anterior. Segundo o jornal O Globo, ele disse à Polícia Federal ter anotado errado o número da casa na planilha e que inventou o relato sobre “Seu Jair” para justificar o erro no registro do acesso.
Não está claro ainda se ele vai ser formalmente indiciado pela Polícia Federal sob acusação de falso testemunho.
Por que o MP não analisou a possibilidade de algum arquivo ter sido apagado do sistema de telefonia do condomínio?
No dia seguinte à veiculação da reportagem do Jornal Nacional sobre o porteiro do condomínio Vivendas da Barra, promotoras do Ministério Público do Rio de Janeiro concederam entrevista a diversos jornalistas para refutar a versão do porteiro.
A promotora Simone Sibilio, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ, afirmou na ocasião que o sistema de gravação da portaria desmente o depoimento da testemunha.
“A pessoa que está na cabine liga para casa 65, e isso está comprovado pelas gravações. E a pessoa que atende na casa 65 é Ronnie Lessa.”
A Promotoria declarou que teve acesso aos áudios no dia 15 de outubro, ou seja, cerca de duas semanas antes da reportagem do Jornal Nacional ir ao ar. Mas o jornal O Estado de S. Paulo afirma que a perícia da promotoria só foi solicitada oficialmente às 13h05 de 30 de outubro, ou seja, no dia seguinte à veiculação da reportagem da Globo.
Visão aérea do condomínio Vivendas da Barra.
Em nota, o Ministério Público nega que a “perícia foi realizada em apenas 2h30” e diz que o material começou a ser analisado no próprio dia 15, mas a conclusão foi priorizada a partir da veiculação da reportagem do Jornal Nacional.
Não está claro, também, se o sistema de interfones permite que o morador seja contatado por meio de seu telefone celular.
A condução do caso foi criticada por entidades de perícia. A Associação Brasileira de Criminalística disse ao jornal Folha de S.Paulo que, sem acesso à máquina em que os arquivos foram gravados, não é possível identificar se um arquivo foi apagado ou renomeado.
Em resposta ao veículo, as promotoras do grupo especial do MP disseram que não iriam se pronunciar porque as diligências em torno do caso estão sob sigilo.
O computador só seria apreendido no dia 7 de novembro para perícia.
Procurado pela BBC News Brasil, o Ministério Público do Rio de Janeiro não se pronunciou sobre as lacunas na investigação.
Por que Ronnie Lessa recebeu pelo celular uma foto da planilha de acessos da portaria?
Em 22 de janeiro de 2019, o Ministério Público e a Polícia Civil do Rio deflagraram a Operação Os Intocáveis, contra acusados de ligação com milícias.
Naquele mesmo dia, Ronnie Lessa recebeu de sua mulher uma foto da planilha de registro de visitantes do condomínio Vivendas da Barra com a frase “Liga para o Élcio (Queiroz)”. Lessa respondeu: “OK”.
Não está claro o motivo pelo qual ela teria enviado a imagem da planilha da portaria para o marido.
Uma das hipóteses aventadas pela polícia é de que essa imagem serviria de álibi para ambos negarem à polícia que tinham se encontrado no dia do assassinato.
Dias depois do envio do foto, Lessa e Queiroz prestaram depoimento e negaram envolvimento com o crime. Eles só seriam presos em março sob acusação formal de terem matado Marielle e Anderson. Por que a menção a Bolsonaro demorou tanto para ser investigada?
A Promotoria afirmou que a planilha de acessos ao condomínio só se tornou parte da sua investigação em outubro, quando os investigadores enfim conseguiram acessar o celular de Ronnie Lessa. O aparelho havia sido apreendido em março, mas estava bloqueado por senha desde então.
A mesma planilha já havia sido analisada pela polícia. Só que o MP diz que os policiais checaram apenas os registros ligados à casa 65/66 (de Lessa), ainda que o nome “Élcio” e a placa do carro que ele usava estivessem registrados ali para a casa 58 (de Bolsonaro).
Foi só quando a imagem no celular de Lessa veio à tona que o Ministério Público diz ter se dado conta da menção à casa do presidente. E assim, como o cargo de presidente tem foro privilegiado, a promotoria teve então de informar o Supremo Tribunal Federal sobre o caso.
Ao jornal Folha de S.Paulo, o procurador-geral da República, Augusto Aras, afirmou que o episódio é um “factoide” e descartou a mudança de foro.
Dois dias depois que o porteiro mudou sua versão, Moro afirmou que o envolvimento do nome do presidente na investigação é “um total disparate”.
O presidente Bolsonaro estava em Brasília no dia do assassinato de Marielle e Anderson. Os registros da Câmara dos Deputados provam isso. Sendo assim, ele argumenta que seria impossível que ele tivesse em casa para autorizar a entrada de Queiroz no condomínio.
Ouvido pela polícia, o acusado Élcio Queiroz também negou ter se dirigido à casa do presidente e atribuiu a informação a um erro de registro do porteiro.
A menção a Bolsonaro ainda faz parte das investigações?
Em sua defesa, Bolsonaro também passou a acusar o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, de manipular a investigação do assassinato de Marielle para tentar destruir sua reputação.
“Acabaram as eleições e ele botou na cabeça que quer ser presidente. Direito dele e de qualquer um de vocês. Mas ele também botou na cabeça destruir a reputação da família Bolsonaro. A minha vida virou um inferno depois da eleição do senhor Wilson Witzel, lamentavelmente”, afirmou.
Witzel negou as acusações e disse que vai processar Bolsonaro. “São acusações levianas. Ele está acusando um governador de Estado de manipulação. A polícia do Rio de Janeiro é independente. O senhor Bolsonaro passou dos limites”, disse o governador.
Bolsonaro também reagiu a citações na investigação ao nome de seu filho Carlos, que também mora no condomínio Vivendas da Barra.
Nas últimas semanas, a Polícia Civil fluminense ampliou as buscas por testemunhas de um bate-boca entre o filho do presidente, que é vereador do Rio de Janeiro, e um assessor de Marielle Franco em 2017. Os gabinetes eram vizinhos no nono andar da Câmara.
Presidente afirmou que há uma tentativa de implicar o filho Carlos (à dir.) na investigação do caso
O parlamentar se irritou quando ouviu um assessor da vereadora afirmar em conversa no corredor da Casa que o filho do presidente era fascista.
Carlos Bolsonaro já havia prestado depoimento à polícia sobre o episódio em abril de 2018 na condição de testemunha. Segundo ele, a própria Marielle, com quem disse ter um relacionamento “respeitoso e cordial”, interveio para acalmar os ânimos, encerrando a discussão.
Para Bolsonaro, o novo interesse da polícia na discussão mostra que agora “tentam envolver o Carlos” no assassinato e o filho seria um “imbecil” se tivesse recebido em sua casa um dos acusados do crime.
Segundo o presidente, “parte de alguns no Brasil quer jogar para cima de mim a possibilidade de eu ser um dos mandantes do crime da Marielle”.
No dia que o Jornal Nacional veiculou uma reportagem com a versão do porteiro do condomínio que citava a permissão de “seu Jair” para que o carro de um dos acusados pelo crime pudesse entrar, Jair Bolsonaro indagou: “querem prender um filho meu?”
Os internautas lembram na noite desta quarta-feira 20 o ato falho cometido por Jair Bolsonaro em uma live no dia 29 de outubro, quando citou um de seus filhos – sem mencionar nomes – para rebater reportagem do Jornal Nacional que envolvia pela primeira vez o seu nome na investigação do caso Marielle Franco.
“Querem prender um filho meu?”, indagou Bolsonaro, que estava extremamente irritado. Nesta transmissão, feita pelo Facebook, ele fez duras críticas à imprensa e principalmente à Globo.
reportagem do JN trazia a versão dada pelo porteiro do Condomínio Vivendas da Barra à Polícia Civil em que ele revelava que alguém atendendo como “seu Jair”, na casa 58, teria liberado o carro de Élcio de Queiroz, acusado de ser o motorista do veículo no dia do crime, a entrar no condomínio. A reportagem não citava nenhum filho de Bolsonaro.
O ex-policial Élcio Queiroz entrou 12 vezes no condomínio Vivendas da Barra e, em 11 das visitas, se dirigiu à casa de Ronnie Lessa – o outro suspeito de ter assassinado Marielle Franco. A única exceção é a entrada no dia do crime, 14 de março, quando a planilha manuscrita indica que a autorização de acesso na portaria foi dada por alguém da casa 58, onde vivia o atual presidente Jair Bolsonaro.
“O ex-policial militar Élcio Queiroz, acusado de participação no assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, entrou ao menos 12 vezes no condomínio Vivendas da Barra de janeiro a outubro do ano passado —a vereadora do PSOL foi morta em março. Apreendidas pela Polícia Civil e analisadas pela Folha, as planilhas de controle de acesso indicam que, em 11 dessas visitas, Élcio sempre teve como destino a casa 65, de Ronnie Lessa, policial militar aposentado também acusado e preso pelo crime”, aponta reportagem de ítalo Nogueira e Marina Lang, na Folha de S. Paulo.
“A única exceção é a entrada no dia do crime, 14 de março, quando a planilha manuscrita indica que a autorização de acesso na portaria foi dada por alguém da casa 58, onde vivia o atual presidente Jair Bolsonaro, então deputado federal. Essa menção ao imóvel do presidente passou a ser alvo de averiguação no mês passado, quando um dos porteiros declarou à polícia que o ex-PM Élcio entrou no condomínio naquele dia após autorização do “seu Jair”, da casa 58″, aponta o texto.
O porteiro que escreveu “casa 58” no caderno da portaria do Condomínio Vivendas da Barra, onde Jair Bolsonaro e o acusado de matar Marielle Ronnie Lessa têm casa, não era nenhum novato no emprego.
Em seu depoimento, ele relatou que já estava havia 13 anos no Vivendas da Barra e, quando disse que a voz do outro lado da linha era do “seu Jair”, sabia do que estava falando, pois “conhecia bem” a voz de Bolsonaro.
Falando nisso, uma pergunta central ainda precisa ser respondida: com que objetivo um porteiro que trabalha há 13 anos no mesmo lugar iria comprar uma briga com o presidente da República e ou com um notório matador, Ronnie Lessa?
Entidades se manifestaram após presidente dizer que delegado que comanda inquérito é “amiguinho” do governador Wilson Witzel.
Associações que representam delegados de polícia no Brasil divulgaram, neste domingo (3), nota conjunta de repúdio a declarações do presidente Jair Bolsonaro sugerindo direcionamento nas investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Eles acusam Bolsonaro de tentar intimidar a Polícia Civil do Rio “com o intuito de inibir a imparcial apuração da verdade”, ao insinuar em vídeo e entrevistas a adulteração de provas e referir-se ao delegado que comanda o inquérito como “amiguinho” do governador Wilson Witzel (PSC-RJ).
A nota é assinada por Adepol (Associação dos Delegados de Polícia do Brasil), Fendepol (Federação Nacional dos Delegados de Polícia Civil) e por entidades que representam a categoria no Rio, Amazonas e Pará.
“Valendo-se do Presidente da República e de instituições da União, [Bolsonaro] claramente ataca e tenta intimidar o delegado de polícia do Rio de Janeiro, com o intuito de inibir a imparcial apuração da verdade”, diz o texto, sem citar o nome de Daniel Rosa, delegado responsável pelas apurações.
“O cargo de chefe do Poder Executivo federal não lhe permite cometer atentados à honra de pessoas que, no exercício de seu múnus [dever] público, desempenham suas funções no interesse da sociedade e não que qualquer governo”, completam as associações.
As declarações de Bolsonaro foram dadas após reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, que revelou a existência de depoimento de um porteiro do condomínio Vivendas da Barra, citando o presidente durante as investigações sobre a morte de Marielle.
Na mesma noite, o presidente gravou da Arábia Saudita um vídeo atacando a rede de televisão e insinuando direcionamento nas investigações. A Globo se defendeu e disse que fez jornalismo “sério e com qualidade”. No dia seguinte, o Ministério do Público do Rio disse que o depoimento não condiz com os fatos investigados.
No vídeo, Bolsonaro atribuiu o vazamento das informações a Witzel, que contou com apoio do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) em sua eleição ao governo do estado, mas hoje é adversário político da família.
No fim da semana, o governador virou alvo de ataques nas redes sociais, com a distribuição de um vídeo que repete o discurso de Bolsonaro ligando Witzel à TV Globo.
O caso está sendo investigado pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática.
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) foi citado na investigação sobre a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes, segundo reportagem do Jornal Nacional exibida na terça-feira (29). Mas um detalhe do caso vem levantando discussão: a possível capacidade do interfone do presidente se comunicar com o celular da sua residência. O assunto está entre os mais comentados na internet até a tarde desta quarta-feira (30).
Olhando o fato novo apenas pelo viés da tecnologia, existem no mercado soluções que já permitem que interfones funcionem integrados a celulares. Nestes casos, você consegue atender um chamado ou liberar a entrada de alguém mesmo não estando não estando no local.
Como funciona?
Condomínios de prédios e casas podem contratar facilmente empresas que fornecem interfones que se comunicam com o celular. Alguns dispositivos são mais avançados do que os outros, mas em geral são comercializados para dar mais segurança para os moradores.
Com ajuda de sistemas inteligentes, os interfones conseguem ser configurados para redirecionar ligações para números de telefone previamente cadastrados. Uma vez que um chamado é direcionado para uma residência, a solicitação é automaticamente enviada para o seu respectivo morador.
Os dispositivos mais avançados se integram ainda a câmeras de segurança e fechaduras eletrônicas. Nestes casos, o dono da casa consegue visualizar quem está em sua porta pelo próprio celular e abri-la se assim desejar.
Outros modelos mais simples precisam apenas de conexão móvel. O morador recebe uma ligação direta em seu celular quando alguém interfona para a sua residência. É possível liberar o acesso ao local abrindo os portões do condomínio. Tudo depende do modelo de interfone e do serviço contratado.
O UOL apurou que o sistema de interfones oficial usado pelo condomínio Vivendas da Barra foi fornecido pela Intelbras, uma das principais empresas no setor. Há pelo menos dois aparelhos no portfólio da empresa que podem acionar os celulares de moradores quando o interfone de suas casas é acionado.
O mais refinado deles, o modelo IV 7010 HF, tem quatro canais de vídeo, abre portas e portões, além de poder ser conectado a gravadores digitais de vídeo, centrais telefônicas e de alarme. Ele possui a função “Siga-me” que permite encaminhar ao aparelho de celular do dono da casa as chamadas feitas para o interfone.
O IV 7010 HF permite conversar com quem estiver na porta de casa ou liberar a entrada de visitantes. O mais simples deles, o IV 4010 HS, também permite que as solicitações sejam transferidas para o celular.
Como muitos moradores trocaram os seus interfones internos, não é possível saber qual era o modelo usado por Bolsonaro.
Identificação de voz
Segundo o que foi divulgado pela polícia, pelos procuradores e pelo filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ), o condomínio Vivendas da Barra trabalhava com um sistema de gravação de todas as ligações feitas da portaria para os moradores —um recurso mais sofisticado e não encontrado em muitos interfones usados no Brasil. Eram registradas:
conversas;
números das respectivas casas;
horas exatas em que os contatos eram feitos
A Globo, sabendo dos fatos e podendo esclarecê-los, preferiu levantar suspeitas contra o Presidente e alimentar narrativas criminosas. Um simples acesso aos registros internos do Condomínio mostra que no dia 14/03/2018 NENHUMA solicitação de entrada foi feita para a casa 58. pic.twitter.com/2nyFYqcwRk
O vereador do Rio de Janeiro indica ter tido acesso às gravações de voz do dia 14 de março de 2018, quando ocorreram os assassinatos de Marielle e Anderson Gomes. Nas imagens, ele reforça que nenhum contato feito para a residência 58, de Bolsonaro, aparece naquele dia.
Em um segundo vídeo, Carlos mostra que alguém ligou para a casa do pai por volta das 15h e exibe um áudio gravado de um serviço de entregas. A entrada do suspeito aconteceu por volta das 17h.
A pedido da @VEJA ! Não se preocupem, abutres, disponibilizo também o áudio da ligação feita no dia 14/03/2018 para a casa 58 e 36, tempos antes e depois da ligação que realmente importa, feita para a casa 65, às 17:13. O que dirão agora? íntegra: https://t.co/fT0ujToQS2pic.twitter.com/gagehSAr7g