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A ExxonMobil quer começar uma guerra na América do Sul

Washington não tem apetite de aprofundar o seu conflito com a Venezuela pela questão do Essequibo. Mas a ExxonMobil, que explora a região, tem.

o dia 3 de dezembro de 2023, um grande número de eleitores venezuelanos votou em um referendo sobre a disputada região de Essequibo com a vizinha Guiana. Quase todos os que votaram responderam sim às cinco perguntas. Estas perguntas pediam ao povo venezuelano que afirmasse a soberania do seu país sobre o Essequibo. “Hoje”, disse o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, “não há vencedores nem perdedores”. O único vencedor, disse ele, é a soberania da Venezuela. O principal perdedor, disse Maduro, é a ExxonMobil.

Em 2022, a ExxonMobil teve um lucro de 55,7 bilhões de dólares, tornando-se uma das empresas petrolíferas mais ricas e poderosas do mundo. Empresas como a ExxonMobil exercem um poder desmedido sobre a economia global e sobre os países com reservas de petróleo. Ela tem tentáculos em todo o mundo, da Malásia à Argentina. No livro Private Empire: ExxonMobil and American Power (2012), Steve Coll descreve como a empresa é um “estado corporativo dentro do estado americano”. Os líderes da ExxonMobil sempre tiveram uma relação íntima com o governo dos EUA: Lee “Iron Ass” Raymond (diretor executivo de 1993 a 2005) era amigo pessoal do vice-presidente dos EUA Dick Cheney, e ajudou a moldar a política do governo dos EUA em relação às mudanças climáticas; Rex Tillerson (sucessor de Raymond em 2006) deixou a empresa em 2017 para se tornar secretário de Estado dos EUA sob o presidente Donald Trump. Coll descreve como a ExxonMobil utiliza o poder do Estado norte-americano para encontrar cada vez mais reservas de petróleo e garantir que a empresa se torne a principal beneficiária dessas descobertas.

Andando pelas várias seções eleitorais em Caracas no dia da eleição, ficava claro que as pessoas que votaram sabiam exatamente no que estavam votando: elas não foram às seções de votação para se manifestar contra o povo da Guiana – um país com uma população de pouco mais de 800 mil habitantes – mas para afirmar a soberania venezuelana contra empresas como a ExxonMobil. A atmosfera dessa votação, impregnada de patriotismo venezuelano, tinha mais a ver com o desejo de eliminar a influência das empresas multinacionais e permitir que os povos da América do Sul resolvam as suas disputas e partilhem de suas riquezas entre si.

Quando a Venezuela expulsou a ExxonMobil
Quando Hugo Chávez foi eleito para a presidência da Venezuela, em 1998, afirmou quase de imediato que os recursos do país – principalmente o petróleo, que financia o desenvolvimento social do país – deviam estar nas mãos do povo e não de empresas petrolíferas como a ExxonMobil. “O petróleo é nosso” era o slogan da época. A partir de 2006, o governo de Chávez iniciou um ciclo de nacionalizações, e o petróleo era central – o petróleo havia sido nacionalizado na década de 1970 e privatizado novamente duas décadas depois. A maioria das multinacionais petrolíferas aceitou as novas leis que regulamentavam o setor, mas duas as recusaram: a ConocoPhillips e a ExxonMobil. Ambas as empresas exigiram dezenas de bilhões de dólares de indenização, embora o Centro Internacional para a Resolução de Disputas sobre Investimentos (ICSID) tenha decidido em 2014 que a Venezuela só tinha que pagar à ExxonMobil 1,6 bilhão de dólares.

Rex Tillerson ficou furioso, de acordo com pessoas que trabalhavam na ExxonMobil na época. Em 2017, o Washington Post publicou um artigo que captava o sentimento de Tillerson: “Rex Tillerson se queimou na Venezuela. Então ele se vingou”. A ExxonMobil assinou um acordo com a Guiana para a exploração de petróleo offshore em 1999, mas só começou a exploração offshore em março de 2015 – após o veredito negativo do ICSID. A ExxonMobil utilizou toda a força de uma campanha de pressão máxima dos EUA contra a Venezuela, tanto para assegurar os seus projetos no território em disputa como para minar a reivindicação da Venezuela sobre a região de Essequibo. Esta foi a vingança de Tillerson.

O péssimo negócio da ExxonMobil para a Guiana
Em 2015, a ExxonMobil anunciou que tinha encontrado 295 pés de “reservatórios de arenito de petróleo de alta qualidade”, uma das maiores descobertas de petróleo dos últimos anos. A gigante petrolífera entrou em consultas frequentes com o governo guianense, incluindo o compromisso de financiar todo e qualquer custo inicial da exploração de petróleo. Quando o acordo de partilha de produção entre o governo da Guiana e a ExxonMobil foi divulgado, tornou-se claro o quão mal a Guiana se saiu nas negociações. A ExxonMobil recebeu 75% das receitas do petróleo para recuperação dos custos, e o restante foi dividido 50/50 com a Guiana; a companhia petrolífera, por sua vez, está isenta de quaisquer impostos. O artigo 32º (“Estabilidade do acordo”) estipula que o governo “não alterará, modificará, rescindirá, terminará, declarará inválido ou inexequível, exigirá renegociação, obrigará a substituição ou reposição, ou procurará evitar, alterar ou limitar este acordo” sem o consentimento da ExxonMobil. Este acordo deixa todos os futuros governos da Guiana num negócio muito mal costurado.

Pior ainda para a Guiana é o fato do acordo ter como palco águas disputadas com a Venezuela desde o século XIX. A desonestidade dos britânicos e depois dos EUA criou as condições para uma disputa fronteiriça na região que tinha problemas pontuais antes da descoberta do petróleo. Durante a década de 2000, a Guiana manteve estreitos laços de fraternidade com o governo venezuelano. Em 2009, no âmbito do programa PetroCaribe, a Guiana comprou petróleo a um preço reduzido da Venezuela em troca de arroz, o que constituiu uma vantagem para o setor arrozeiro guianense. O programa “petróleo por arroz” terminou em novembro de 2015, em parte devido à queda dos preços mundiais do petróleo. Para os observadores, tanto em Georgetown como em Caracas, ficou claro que o programa foi afetado pelas crescentes tensões entre os dois países sobre a disputada região de Essequibo.

A ExxonMobil divide e conquista
O referendo realizado em 3 de dezembro na Venezuela e os protestos dos “círculos de unidade” na Guiana sugerem um endurecimento da posição dos dois países. Entretanto, à margem da reunião da COP-28, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, encontrou-se com o presidente cubano Miguel Díaz-Canel e com o primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves, para discutir a situação. Ali pediu a Díaz-Canel que instasse a Venezuela a manter uma “zona de paz”.

A guerra não parece estar no horizonte. Os EUA retiraram parte do seu bloqueio à indústria petrolífera venezuelana, permitindo à Chevron retomar vários projetos petrolíferos na Faixa do Orinoco e no Lago de Maracaibo. Washington não tem apetite de aprofundar o seu conflito com a Venezuela. Mas a ExxonMobil tem. Nem o povo venezuelano nem o povo guianense se beneficiarão da intervenção política da ExxonMobil na região. É por isso que muitos venezuelanos que foram votar no dia 3 de dezembro sentiram que este não era tanto um conflito entre a Venezuela e a Guiana, mas sim um conflito entre a ExxonMobil e os cidadãos destes dois países sul-americanos.

(*) Vijay Prashad é um historiador, editor e jornalista indiano. É membro da equipe editorial e correspondente principal da Globetrotter. É editor-chefe da LeftWord Books e diretor do Instituto Tricontinental de Investigação Social. Escreveu mais de 20 livros, incluindo The Dark Nations e The Poor Nations. Os seus últimos livros são Struggle Makes Us Human: Learning from Movements for Socialism e The Retreat: Iraq, Libya, Afghanistan and the Fragility of American Power (com Noam Chomsky).

*Opera Mundi

 

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Política

Vídeo – Lula alerta: “os americanos não querem concorrente na América do Sul”

A elite brasileira, disse o ex-presidente, “fica lambendo bota e esperando que os Estados Unidos façam alguma coisa por nós. Não vão fazer”.

O ex-presidente Lula (PT), em entrevista nesta quinta-feira (3) à Rede RDR do Paraná, sinalizou que seu eventual terceiro governo trabalhará por uma maior cooperação do Brasil com países da América Latina e África, além da China.

fez uma forte crítica à “elite brasileira”, que disse ter “complexo de vira-lata” por querer “lamber as botas” dos Estados Unidos na esperança de que os norte-americanos façam algum tipo de concessão a eles.

Com uma visão anti-imperialista, Lula apontou que os Estados Unidos não têm interesse no desenvolvimento do Brasil e trabalham para que isto não aconteça. “Todos os países da América Latina tinham o Brasil como inimigo, como um país poderoso. A política dos americanos era orientar militarmente os outros países a não gostarem do Brasil. O Brasil tem uma elite que acorda de manhã olhando para os Estados Unidos e Europa. Ela não vê a África nem a América Latina, não vê a Venezuela, não vê a Bolívia, não vê o Peru, não vê o Uruguai, Paraguai, Argentina, o Chile. É uma elite com complexo de vira-lata”.

“Nós exportamos para a China três ou quatro vezes mais do que exportamos para os Estados Unidos, mas aí a elite brasileira fica lambendo bota e esperando que os Estados Unidos façam alguma coisa por nós. Não vão fazer, porque os americanos não querem concorrência na América do Sul, eles não querem que o Brasil seja protagonista, eles não querem que o Brasil tenha influência. Eles tratam o Brasil como se fosse uma coisa pequena, porque foi assim que a elite brasileira se comportou ao longo de séculos e séculos. E isso, obviamente, nós vamos mudar, porque eu sou filho de uma mulher analfabeta que dizia assim: ‘meu filho, ninguém respeita você se você não se respeitar'”, completou.

“O que eu quero é uma relação internacional em que o Brasil respeite todo mundo e todo mundo respeite o Brasil”, sintetizou o ex-presidente.

Assista:

*Com informações do 247

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Brasil passa de 10 mil mortos por coronavírus e Bolsonaro fará churrasco pra comemorar com amigos

Depois de fechar o Ministério da Saúde e tirá-lo das ações que a gestão de Mandetta vinha cumprindo, o fascista Bolsonaro, que é um aliado íntimo do coronavírus, fará amanhã um churrasco com pelada entre amigos para comemorar o recorde de mortes no Brasil, 751 em 24 horas, passando de 10 mil no total.

No Brasil, a taxa de letalidade por Covid-19 entre profissionais de saúde é uma das mais altas do mundo.

O coronavírus já matou mais de 88 profissionais de saúde, diz o Conselho Federal de Enfermagem.

Os países da América do Sul mostram-se preocupados com a evolução da pandemia do coronavírus no Brasil. Mas Bolsonaro cada vez mais se opõe publicamente às medidas restritivas para conter o avanço da doença.

O desprezo pela sorte dos brasileiros, sobretudo os mais pobres, vítimas fatais da covid-19, faz de Bolsonaro um genocida frio e perverso.

Mas ninguém, por mais feroz opositor que seja de Bolsonaro, poderia imaginar que ele faria uma festa em pleno pico da doença no Brasil, tendo como alvo aqueles que cobram dele um mínimo de humanidade.

Sim, Bolsonaro está fazendo isso para criar mais conflitos e, com isso, tirar cada vez mais do centro dos debates os crimes de seus filhos.

Bolsonaro faz disso uma guerra em que atua como criminoso.

O Rio de Janeiro, base eleitoral de Bolsonaro, tem 90% dos leitos de UTI ocupados.

Os números são alarmantes, só no Rio de Janeiro mais de mil pessoas esperam vaga hospitalar e muitos estão morrendo na fila.

Mas o governo Bolsonaro não decide anexar leitos ociosos da rede privada ao SUS.

Bolsonaro segue latindo e roncando contra o isolamento social e, agora, com publicidade paga pelos brasileiros para disseminar ainda mais o vírus para matar mais uma dúzia de milhares de brasileiros. Por isso usará o Alvorada para comemorar, com churrasco e pelada com amigos, a marca de mais de 10 mil óbitos.

Para Bolsonaro, não são pessoas, são números.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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O encontro histórico de Lula com o Papa Francisco

Enquanto Bolsonaro destrói, Lula constrói.

Segundo o ex-presidente, “encontro histórico serviu para discutir e pensar soluções para as injustiças e desigualdades no mundo”.

Na tarde desta quinta-feira (13), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrou no Vaticano com o Papa Francisco.

A conversa entre Lula e Francisco foi marcada por assuntos como a questão da Amazônia e o clima político na América do Sul. Em declaração ao chegar à Itália, o líder do PT afirmou que se colocará à disposição do seu anfitrião: “vim para ouvir”.

A preocupação de Francisco com a situação na Amazônia, expressada inclusive nos últimos tuítes do pontífice, tem a ver com devastação pelos recentes incêndios e as ameaças aos povos indígenas, devido às políticas de Jair Bolsonaro que priorizam os interesses do garimpo e do agronegócio, colocando em risco algumas áreas demarcadas.

No caso da política sul-americana, um dos temas prováveis será a questão do lawfare, que também já foi condenada por Francisco, e que teve em Lula uma de suas vítimas – o líder da Igreja chegou a benzer um terço e enviar de presente ao ex-presidente, quando ele estava preso.

O ex-presidente brasileiro desembarcou em Roma nesta quarta-feira (12), acompanhado de seu ex-chanceler, Celso Amorim, e aproveitou a viagem para realizar outros compromissos, como se encontrar com líderes políticos locais, como o atual secretário-geral do Partido Democrático (um dos dois partidos que governa a Itália), Nicola Zingaretti, e o ex-primeiro-ministro italiano Massimo D’Alema, que havia visitado Lula na prisão, em Curitiba. Ele também se reuniu com representantes da CGIL (sigla em italiano da Confederação Geral dos Trabalhadores da Itália), entidade similar à CUT.

 

 

*Com informações do PT

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Balas que cegaram jovens e trabalhadores chilenos foram fabricadas no Brasil

O arsenal empregado contra as populações nos protestos que ocorreram recentemente no Equador, na Bolívia e no Chile foi fabricado no seguinte endereço: Rua Armando Dias Pereira, 160 – Adrianópolis, Nova Iguaçu, município da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. Ali, a fábrica que exporta “artefatos não letais” para o mundo, atende pelo sugestivo nome de “Condor Tecnologias Não-Letais”. Seria uma referência/homenagem à Operação Condor, de triste lembranças, que operou nos países da América do Sul, sequestrando brasileiros resistentes à ditadura e desaparecendo com os seus corpos? – Vai saber.

A jornalista Denise Assis traz à tona a denúncia de que o arsenal empregado contra as populações nos protestos que ocorreram recentemente no Equador, na Bolívia e no Chile foi fabricado em um endereço de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. “Foram contabilizadas mais de 200 pessoas atingidas pelas ‘balas de borracha’ que perderam a visão de um dos olhos ou dos dois em conflitos recentes no Chile”, lembra a colunista.

Fato é que em matéria-denúncia do repórter do Jornal “La Tercera” Victor Rivero, publicada no Chile há poucos dias, é descrito que todo um estoque de gás lacrimogêneo, gás de pimenta e “balas de borracha” saíram de Nova Iguaçu, para cegar e ferir duas centenas de chilenos, bem como causar danos semelhantes nos demais países citados acima.

Rivero descreve que “segundo dados que a Direção Nacional da Ordem e Segurança dos Carabineros, enviou ao Ministério do Interior até 24 de novembro, em 6.100 eventos violentos – no Chile – se haviam utilizado 161.849 cartuchos de escopeta, 18.032 granadas de mão e 98.223 bombas lacrimogêneas. Depois de 40 dias de manifestações corria um segredo pelos quartéis. Estava se acabando o estoque de gás lacrimogêneo e seria necessário encomendar às pressas uma partida do produto ao Brasil”.

De acordo com Vitor Rivero, “foram adquiridos à Condor S.A. único e CS GL – 203 – T projétil triplo, Brasil, cartuchos CS GL – 203 T de 95mm de comprimento e de 130 a 165m de alcance. E, ainda, cartuchos de 28mm de comprimento e 3cm de largura”.

Na definição da OTAN, “armas não letais são as especificamente projetadas e empregadas para incapacitar temporariamente pessoal ou material, ao mesmo tempo em que minimizam mortes e ferimentos permanentes, danos indesejáveis à propriedade e comprometimento do meio-ambiente”.

Há controvérsias. Foram contabilizadas mais de duzentas pessoas atingidas pelas “balas de borracha” que perderam a visão de um dos olhos ou dos dois em conflitos recentes no Chile, onde essas armas foram fartamente utilizadas pelos carabineros, nos enfrentamentos de rua, conforme a reportagem do jornalista chileno.

A esta altura, talvez fosse interessante destacar que a prática de atirar nos olhos com balas de borracha, destinadas às pernas – apenas para imobilizar e assustar os manifestantes – é atribuída à Polícia de Israel, que poucos meses antes dos conflitos na região, instalou um posto avançado dentro do Consulado de Israel, em São Paulo.

Armas nem tão não-letais assim

O uso do termo “não letal” foi examinado pela mídia local depois que estudos feitos pela Universidad de Valparaíso analisou a composição das bombas de gás atiradas contra a população, bem como a Universidad de Chile fez o mesmo com os cartuchos classificados como “balas de borracha”, disparadas contra os manifestantes.

A equipe que estudou as bombas de gás concluiu que é impossível determinar quais os tipos de componentes químicos são utilizados nelas, tornando difícil a classificação “não letal”.

Sob a orientação do Dr. Aníbal Vivaceta, do quadro da universidade, 12 acadêmicos de Medicina publicaram o resultado de suas pesquisas sob o título: “Informe acerca del uso de gases lacrimógenos por agentes del Estado”, no final de novembro. O objetivo de tal estudo, de acordo com a descrição no documento entregue à imprensa, foi “apresentar um material de revisão geral sobre o assunto, que permita uma melhor abordagem por parte das organizações dos direitos humanos e uma melhor compreensão das implicações no campo judicial”.No laudo fazem a ressalva: “Note-se que encontramos dificuldades significativas na determinação de quais produtos, em quais apresentações, com que dosagem eles estão sendo usados ??no Chile, dadas as dificuldades já mencionadas por aqueles que tentaram acessar os dados de aquisição e distribuição por Carabineros (45). Portanto, assumimos a necessidade de revisar o efeito declarado pela Polícia (CS), sem descartar os de outros agentes. Recentemente, o uso de gás pimenta foi mencionado com frequência, portanto esse tópico foi incluído na análise”.O estudo destacou, ainda, as regras internacionais que normatizam o uso desses artefatos. “A Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, Produção, Armazenamento e Uso de Armas Químicas e sua Destruição é um tratado internacional assinado por 193 estados, incluindo o Chile20 (38). Neste tratado, o uso de gás lacrimogêneo contra as tropas inimigas durante a guerra é proibido, no entanto, seu uso é permitido contra civis em tempos de paz.”Outro ponto destacado foi a proibição de uso em alguns países, por seu risco à saúde humana. “Esses países correspondem à Bélgica, Países Baixos e República Eslovaca, de acordo com o Manual de Operações Transfronteiriças preparado pela Comissão Europeia (39)”.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) registra em seu relatório de 2015:

“Devido às consequências que podem resultar do uso inadequado e abusivo de armas menos letais, é enfatizada a necessidade de elaborar disposições normativas, protocolos e manuais que incluam restrições e proibições (…) em contextos ou na frente de pessoas que possam envolver riscos maiores. Por exemplo, o gás lacrimogêneo não deve ser usado em ambientes fechados ou na frente de pessoas que não possuem uma rota de desconcentração ou evacuação. (Foi o que ocorreu, conforme relatos dos moradores, na comunidade de Paraisópolis, onde nove jovens morreram pisoteados por terem ficado encurralados num beco).Uma das medidas ignoradas onde quer que esses gases e artefatos têm sido utilizados, é a que recomenda: “O uso de armamento menos letal deve ser precedido por avisos formais, que dão às pessoas a oportunidade de evacuar a área sem causar situações de pânico ou debandada, e padrões de atribuição de responsabilidade devem ser construídos para seu uso incorreto ”(40). Um outro estudo foi feito a pedido da Unidade de Trauma Ocular do Hospital El Salvador, do Chile, desta vez desenvolvido na Universidad de Chile, intitulado: “Estúdio de Perdigón Informe Final (UTO)”, e elaborado pelos doutores em engenharia: Patricio Jorquera, e Rodrigo Palma H., do Departamento de Engenharia Mecânica da FCFM.

A análise tinha por objetivo determinar a composição das “balas de borracha” usadas pela Polícia e que vinham provocando traumas severos e um elevado número de casos de cegueira em alarmante proporção. Publicado no dia 15/11/2019, o estudo apresentou os seguintes resultados:

“Ao calcinar uma amostra, a borracha é perdida e apenas os compostos estranhos permanecem, principalmente metais ou cerâmica. Uma amostra é colhida, pesada e calcinada a 600 ° C e as cinzas deixadas no cadinho é pesado e a porcentagem de material que não corresponde à borracha é obtida. O material restante após a calcinação pode ser visto na foto abaixo:

Uma das líderes mundiais de exportação de “artefatos não-letais”, como o seu produto é denominado, a Condor S.A. atua no ramo há 25 anos, exporta para mais de 60 países e tem no seu portal institucional informações tais como: “Situada no Rio de Janeiro, no município de Nova Iguaçu, a Condor Tecnologias Não-Letais está instalada em uma área de aproximadamente um milhão de metros quadrados nas vizinhanças da reserva biológica do Tinguá, maior reserva de Mata Atlântica do Estado do Rio de Janeiro”. (Ela alardeia no seu texto institucional o caráter preservacionista, destinando 70% da área total para a preservação da mata nativa. A conferir).

Entre os produtos fabricados pela Condor, estão as armas elétricas (usadas pela Guarda Municipal do Rio), granadas de efeito moral, luz e som, bombas de gás lacrimogêneo, lançadores e munições de borracha patenteada nos Estados Unidos e considerada a bala mais precisa do mundo.

O proprietário

O proprietário da Condor S.A é Carlos Erane de Aguiar, o diretor do setor de Defesa da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). No início deste ano, (abril), Erane lançou um livro com o pomposo título: “Uma experiência em tecnologia não letais no Brasil – O Valor da Vida”.

Em uma das matérias anunciando o lançamento, ele conta os esforços que empreendeu para divulgar a Doutrina do Uso Proporcional da Força. “As pessoas sempre estranharam porque, em vez de oferecer armas, eu sempre apostei nos livros, na inteligência. A repercussão de episódios como o Massacre do Carandiru, em 1992, e Eldorado dos Carajás, em 1996, foram decisivos para convencer autoridades brasileiras para a necessidade de conter situações de conflito sem a perda de vidas humanas”.

O mesmo texto ressalta também que “o Valor da Vida fala ainda do emprego de armas não letais pelo Exército brasileiro na Missão de Paz do Haiti e narra, de maneira divertida, a aventura da primeira grande exportação da Condor para a Argélia, em 2001” (o que pode haver de divertido em exportar armas para reprimir povos? É forçoso perguntar).

Em 2018, Carlos Erane de Aguiar homenageou o general Walter Souza Braga Neto, chefe do Estado-Maior do Exército, na Firjan, com a maior medalha concedida pelo Sindicato Nacional das Indústrias de Materiais de Defesa, como personalidade do ano, por seu trabalho na intervenção do Rio.

Nunca é demais lembrar que a intervenção rendeu algumas manifestações, onde os produtos da fábrica de Carlos Erane rasgaram o céu carioca e foram parar no meio dos grupos que protestavam contra a presença das tropas do general. Não faltou gás lacrimogêneo, balas de borracha e gás de pimenta na intervenção comandada pelo homenageado. Um negócio e tanto.

 

 

*Por Denise Asis, para o Jornalistas pela Democracia/Desacato

*Foto destaque: O Globo

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Bolsonaro chama de atos terroristas as manifestações do Chile, Equador e Colômbia e teme que elas aconteçam no Brasil

As declarações do presidente refletem um importante grau de temor a que o Brasil seja o próximo país a viver uma explosão social semelhante. “Nós temos que nos preparar sempre para não sermos surpreendidos pelos fatos”, disse.

Em entrevista concedida neste sábado (23), o presidente Jair Bolsonaro mostrou seu temor a respeito das manifestações que acontecem em vários países da América do Sul.

“O que estou vendo em alguns países é um excesso, como no Chile. Aquilo não são manifestações, são atos terroristas”, comentou o presidente aos jornalistas, após participar de evento na Vila Militar, na zona oeste do Rio.

Bolsonaro também falou sobre “se preparar” para o caso da mesma tendência se verificar no Brasil. “Nós temos que nos preparar sempre para não sermos surpreendidos pelos fatos. Até o momento não tem motivo nenhum, nós entendemos dessa forma, daquele movimento vir para cá. Nunca o Brasil viveu uma normalidade democrática como vivemos no momento”, disse.

A onda de protestos contra modelos econômicos neoliberais – como o que defende o seu governo – começou em outubro, no Equador de Lenín Moreno, devido a um pacote exigido ao país pelo FMI (Fundo Monetário Internacional). Logo se reproduziu no Chile, que já leva 37 dias seguidos de manifestações contra o governo de direita de Sebastián Piñera. Nesta semana, a onda de protestos começou também contra o governo de ultradireita de Iván Duque.

As declarações do presidente refletem um importante grau de temor a que o Brasil seja o próximo país a viver uma explosão social semelhante. “É lógico que a América do Sul é uma preocupação de todos nós. Nós não queremos ou gostaríamos que outros países voltassem para o colo do Foro de São Paulo. Nós sabemos qual o destino disso, olha a situação em que se encontra a Venezuela. Eu acho que ninguém no Brasil quer que nós caminhemos nessa direção”, concluiu.

 

 

*Com informações da Forum

 

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Desmoronamento da direita na América do Sul é atribuído ao governo Bolsonaro

Após polêmica vitória de Evo Morales nas eleições bolivianas, os olhos dos sul-americanos se voltam agora para dois outros países da região, em meio a expectativas de uma retomada do crescimento da esquerda no subcontinente.

No poder desde 2006, o atual presidente da Bolívia ganhou o direito, nesta semana, de governar o seu país por mais um mandato, derrotando, ainda no primeiro turno, o centrista Carlos Mesa, em uma disputa marcada por trocas de acusações e muitos protestos.

Morales, apesar de algumas críticas, se mantém no cargo com uma boa popularidade e amplo reconhecimento internacional por suas conquistas, que incluem um sólido crescimento econômico e políticas muito bem sucedidas de combate à pobreza e ao analfabetismo.

Escândalos de corrupção associados a alguns problemas econômicos levaram a um desgaste da esquerda sul-americana que, em muitos países, propiciou um crescimento bastante significativo de representantes da direita, culminando, por exemplo, na eleição de nomes como o de Mauricio Macri na Argentina, Mario Abdo Benítez, no Paraguai, e Jair Bolsonaro, no Brasil.

Passado pouco tempo do início dessa chamada guinada à direita na América do Sul, com boa parte desses governos em crise, já há quem veja, no entanto, uma tendência de interrupção desse processo, evidenciada pela vitória de Evo Morales e pelas posições de destaque nas pesquisas de intenção de votos de “esquerdistas” como o argentino Alberto Fernández e o uruguaio Daniel Martínez, além de recentes manifestações vistas por alguns analistas como protestos contra o neoliberalismo.

Para o professor de Relações Internacionais Fernando Almeida, da Universidade Federal Fluminense (UFF), confirmado um novo mandato para Evo Morales na Bolívia, tudo indica que a o Brasil voltará a ser “cercado” por governos de esquerda no subcontinente, com o provável retorno do Partido Justicialista ao poder na Argentina e a possível permanência do partido Frente Amplio no governo do Uruguai.

Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista atribui em parte esse estancamento da direita na região ao cenário que se desenhou aqui no Brasil, com a administração de Jair Bolsonaro.

“O fato de ele apoiar políticos de um perfil que seja próximo ao dele não está beneficiando esses políticos. O que se vê lá fora a respeito de comentários sobre o governo Bolsonaro é, no mínimo, de tristeza. Quem gosta do Brasil fica até triste. É um baixíssimo perfil que nós temos atualmente, muito baixo. Algo que nunca houve”, opina o acadêmico.

Segundo Almeida, o atual governo brasileiro demonstra um “desconhecimento muito grande do mundo real”, o que acaba se refletindo em equívocos na relação com outros países. Um desses casos, ele destaca, é justamente o da Argentina, um dos principais parceiros do Brasil, onde a administração Bolsonaro chegou a tentar interferir demonstrando apoio a um dos lados em disputa na eleição e falando em possíveis represálias no caso de uma eventual volta do kirchnerismo.

“Isso é desconhecimento de muita coisa, né?”, comenta. “Houve uma ocasião em que o atual presidente disse que o fato de estarmos enviando três caminhões com abacate para a Argentina mostrava que o comércio exterior brasileiro com a Argentina ia muito bem. Eram três caminhões de abacate. Isso aí é abastecimento de feira. É um raciocínio ridículo.”

Ainda de acordo com o professor, a equipe que compõe o atual governo brasileiro vem errando tanto por falta de conhecimento quanto por “preconceito ideológico”.

“O nosso atual chanceler teve, em vários momentos, posições bastante radicais em relação a vizinhos. E até foi necessário que o vice-presidente, um general, interviesse, contendo esses impulsos um tanto belicosos. Espero que a coisa se desenvolva bem.”

 

 

*Com informações do Sputinik

 

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Ex-embaixador americano confessa que Lula e Dilma atrapalhavam os interesses dos EUA na América do Sul

O governo dos Estados Unidos acompanhava com bastante atenção — e preocupação — as iniciativas do governo brasileiro de criar um bloco político forte e coeso na América do Sul. Especialmente na forma como a construtora Odebrecht havia se tornado parceira do governo nesses planos. Quem conta é o ex-embaixador dos EUA no Brasil Thomas Shannon, que ficou no posto entre 2010 e 2013.

Ex-embaixador dos EUA diz que país acompanhava de perto movimentos do Brasil para criar grupo coeso e forte de países sul-americanos
Divulgação/US Department of State

O principal foco de atenção, afirma, eram as relações entre Brasil e Venezuela. “O Brasil identificou o modo como a Venezuela direcionava sua indústria de petróleo de modo a se integrar com o mercado americano. Então, algo precisava ser feito para trazê-la à América do Sul”, conta o diplomata, mencionando a crescente animosidade entre o então presidente venezuelano Hugo Chávez e os Estados Unidos. O pano de fundo era o projeto brasileiro de “construção de uma grande e coesa América do Sul”, diz Shannon, hoje consultor do escritório de advocacia Arnold & Porter.

Shannon falou a jornalistas do site Poder 360, da revista Época e do jornal Miami Herald, dos EUA, parceiros da associação de jornais Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo (ICIJ, na sigla em inglês).

De acordo com o ex-embaixador, as intenções do Brasil ficaram claras com o financiamento do BNDES ao porto de Mariel, em Cuba. A obra foi tocada pela Odebrecht e o banco investiu R$ 624 milhões. Ela colocaria o Brasil como importante ator nas relações internacionais no Caribe, especialmente diante da postura do governo americano na época de manter os embargos a Cuba, mesmo com os sinais de abertura econômica.

Shannon afirma que os EUA acreditavam que o Brasil caminhava para a construção de um bloco internacional coeso de orientação progressista e de esquerda. Isso seria um obstáculo à reanimação da Área de Livre Comércio das Américas, ou Alca, um projeto dos governo dos EUA de criar um bloco comercial com incentivos tarifários, mas que foi rejeitado pelos países latino-americanos.

Car wash
As análises de Shannon abrem mais algumas páginas no capítulo norte-americano da “lava jato”. A Odebrecht assinou um dos maiores acordos de leniência da história com o Departamento de Justiça dos EUA (DoJ). E ele só foi possível graças ao livre trânsito de informações e provas entre os procuradores do DoJ e os procuradores da “lava jato” em Curitiba. Entre as provas, extratos de contas da construtora nos EUA.

O acordo de leniência prevê pagamento de R$ 8,5 bilhões pela empreiteira, dos quais 80% foram enviados ao Brasil — e glosados pelo MPF em Curitiba. Em troca de abrir mão do dinheiro, os EUA exigiram a presença de um “monitor externo de cumprimento do acordo”, para que faça relatórios a cada 120 dias.

Esses relatórios “provavelmente incluem” informações “proprietárias, financeiras, comerciais e concorrenciais sigilosas”, diz o acordo.

O que Shannon conta, portanto, é que o MPF brasileiro ratificou um acordo em que uma empresa brasileira, reconhecida pelo governo americano como importante para os interesses do governo brasileiro, se comprometeu a enviar aos EUA relatórios sobre suas atividades comerciais.

 

*Do Conjur