O juiz Manuel Eduardo Pedroso Barros, da 12ª Vara Cível de Brasília, decidiu minutos atrás por condenar parcialmente a atriz e ex-secretária nacional de Cultura, Regina Duarte. Ela terá de se retratar por propagar uma notícia falsa sobre Marisa Letícia Lula da Silva, a Dona Marisa, mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, morta em 2017. A decisão ainda cabe recurso.
O processo foi ajuizado por Lula e seus filhos em 2020, depois que a então secretária de Cultura publicou imagem no Instagram afirmando que foram encontrados R$ 256 milhões em uma conta da ex-primeira-dama. Como se sabe, o valor correto nas contas de Dona Marisa era de R$ 26.281,74.
O juiz responsável pelo caso concordou que Regina “propalou Fake News a respeito do patrimônio da falecida Marisa Letícia”, mas que fora “induzida a erro” pelo fato de o valor errado ter sido informado pela Justiça, não cabendo indenização. O magistrado, porém, considerou que há necessidade de retratação diante da relevância do tema.
“Assim, deverá a ré ser condenada a publicar, em sua conta no Instagram ou, na hipótese de a conta estar cancelada, em meio virtual similar, a integralidade da presente sentença, com sinceros pedidos de desculpa à memória da falecida”.
Caso não cumpra a determinação, Regina estará sujeita a multa entre R$ 150,00 a R$ 50 mil.
O voto da ministra do STF Cármen Lúcia mantendo a decisão que exclui a delação de Antonio Palocci da ação em que Lula é acusado de receber R$ 12,5 milhões da Odebrecht é mais um indicativo do que há muito vem sendo comentado nos bastidores do STF e do mundo jurídico: a ministra estaria revendo posição em relação ao ex-presidente petista. A posição dela alimentou esperanças no PT e na defesa de Lula.
Cármen Lúcia teria ficado impressionada com o teor da chamada “vaza jato” (as conversas entre Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato). Segundo interlocutores dela, a ministra também se comoveu ao ouvir relatos sobre o impacto e a reação de Marisa Letícia após as divulgações pela Lava Jato de diálogos reservados da família Lula da Silva.
“Agir sem isolamento social para impedir aglomerações de pessoas pode ser preponderante para sabermos se vamos ter mil ou 10 mil mortes. A postura do presidente é incorreta. Para ele não faz diferença se vão morrer mais ou menos pessoas.” (Miguel Srougi)
Bolsonaro está absolutamente incorreto, diz professor de Medicina da USP.
Ao contrariar ações de importantes países do mundo diante da pandemia da covid-19, defender que a quarentena prejudicará a economia, não manter o próprio isolamento social e criar conflitos com governadores e membros do governo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) apresenta uma postura “absolutamente incorreta”. A opinião é de um dos principais médicos do Brasil, o urologista Miguel Srougi, 73, professor titular na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
“Existe uma disfunção política em um momento muito difícil para o Brasil e para o mundo na área de saúde. A simples ideia [de Bolsonaro] de não agir, sem isolamento social para impedir aglomerações de pessoas, pode ser preponderante para sabermos se vamos ter mil ou 10 mil mortes”, afirma o urologista.
Segundo a avaliação do professor da USP, “tecnicamente, o que está sendo feito no Brasil é correto graças a governadores e a um ministro competente. Já a postura do presidente é absolutamente incorreta. Ele se sensibilizou com o apelo de grandes empresas de que não podiam parar e menosprezou vidas. Para ele, não faz diferença se vão morrer mais ou menos pessoas”.
Médico do hospital Vila Nova Star, onde Bolsonaro ficou 10 dias internado em setembro do ano passado, Srougi é reconhecido por ter tratado políticos importantes enquanto trabalhava no hospital Sírio-Libanês, casos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de sua ex-mulher, Marisa Leticia, do também ex-presidente Michel Temer (MDB) e do ex-ministro Ciro Gomes, entre outros.
Enquanto tratava o câncer na próstata de Paulo Maluf (PP-SP), em 2018, por exemplo, o médico afirmou que cuidava de todos seus pacientes sem fazer distinção da orientação partidária, política ou moral, como determina sua ética profissional. “Vejo no paciente uma pessoa que precisa de ajuda. E faço de tudo, tecnicamente, para ajudar meu paciente”, comenta. Para Srougi, o grave momento “requer um governo forte”. Ele acredita que “mudanças profundas” vão ocorrer no planeta em decorrência da pandemia causada pelo novo coronavírus. E não coloca as empresas como propulsoras desse processo.
O estado vai voltar a ter um papel muito grande, porque nessas horas é o governo que atua. Se dependêssemos das grandes empresas neste momento, todos nós iríamos morrer. Os ricos têm que ajudar os pobres, ou todos vão morrer, diz o médico Miguel Srougi.
“Se seguíssemos o que Bolsonaro sugere, surgiria um pico incontrolável, irreversível, e as pessoas morreriam nas calçadas. Ele entende que esse é um preço que a sociedade tem que pagar para salvar a estrutura empresarial. Há pessoas no governo que estão flertando com as trevas, com a morte, com tudo o que há de ruim”, acrescenta o médico da USP.
A saúde versus a economia
Segundo Miguel Srougi, 20% das pessoas com coronavírus apresentam sintomas. Desses, 5% são obrigados a se internar, e entre 1% e 2% morrem. 80%, se apresentam sintomas, são baixos.
Além disso, o período de “incubação”, ou seja, desde o momento em que o paciente teve contato com o vírus até apresentar sintomas, é de cinco a seis dias, em média, mas há casos que variaram entre dois e 24 dias.
“É uma doença importada. Sem dúvida, pegou a classe dos afortunados, que viajam mais. Agora já está comunitária, e aí atinge todo mundo. É triste saber que as pessoas mais simples são as que menos conseguem se isolar, com trabalhos informais, manuais e presenciais, e que não podem trabalhar com computador. Essas pessoas serão as mais atingidas”, afirma.
Falta sentimento e dignidade a quem desconsidera quarentena.
Ministro da Justiça é derrotado pelo Supremo e enrola-se nas próprias ambições.
Os superpoderes do ministro Sérgio Moro se esvaem a olhos vistos. Por razões insondáveis, uma parcela significativa da população continua a apoiar sua permanência no governo – 52%, segundo a pesquisa CNT/MDA divulgada na segunda-feira 26. Mas o entusiasmo com o ex-juiz e a Lava Jato anda mais frio do que o inverno na Sibéria. Uma leve maioria (42,2% contra 41,7%), de acordo com o mesmo levantamento, acredita que as revelações pelo site The Intercept Brasil de conversas privadas do magistrado e integrantes da força-tarefa comprometem a isenção da operação.
Parece pouco – e talvez seja –, mas o fato é que o escândalo da “Vaza Jato” tem o efeito de uma criptonita amarrada à cintura do herói curitibano. Moro arrasta-se por Brasília, de derrota em derrota, e depende cada vez mais da sobrevida subserviente oferecida por Jair Bolsonaro. Inversão curiosa de posições: Super-Moro, um dos fiadores da vitória eleitoral da versão brasileira de Lex Luthor, só respira politicamente por causa do beneplácito do superior.
Este, aliás, aproveita as oportunidades para cobrar a fatura. Após a tentativa de ingerência do Palácio do Planalto na Polícia Federal e o anúncio de corte de verbas que inviabilizam o trabalho do Ministério da Justiça, sem falar no esforço mínimo feito pelo Executivo na aprovação do pacote “anticrime” do ex-juiz, Moro ensaiou uma rebelião. Ensaiou. A imagem final foi outra, de quase genuflexão, representada pela foto em que, claramente incomodado, o ministro bate continência para o presidente. E pela seguinte declaração de Bolsonaro: “Olha, tem carta branca, e eu tenho poder de veto em qualquer coisa, senão eu não sou presidente. Todos os ministros têm essa ingerência minha e eu fui eleito para mudar. Ponto final”. Assessores e amigos de Moro, relata a crônica política brasiliense, sugerem um pedido de demissão. O ex-juiz mede as consequências. Deixar o governo nestas condições representaria a morte prematura de suas ambições eleitorais.
Os tubarões sentem o cheiro de sangue, os abutres farejam a carniça… Não é diferente em Brasília. É inegável a relação direta entre o enfraquecimento de Moro e uma decisão inédita do Supremo Tribunal Federal. Na terça-feira 27, pela primeira vez desde o início da Lava Jato, a Segunda Turma da corte revogou por 3 votos a 1 uma decisão do ex-magistrado, a condenação de Aldemir Bedine, ex-presidente da Petrobras. Os ministros apontaram um erro fatal no processo: o acusado não teve o direito de se pronunciar por último e se defender das acusações de um delator. Moro havia imputado a Bendine 11 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, pena reduzida a 7 anos e 9 meses pela segunda instância. “O direito de a defesa falar por último decorre do direito normativo. Réus delatores não podem se manifestar por último em razão da carga acusatória que permeia as suas acusações. Ferem garantias de defesa os instrumentos que impeçam o acusado de dar a palavra por último”, afirmou em seu voto o ministro Ricardo Lewandowski. O processo retornará à primeira instância.
Gilmar Mendes, alvo preferencial da força-tarefa de Curitiba, aproveitou o julgamento para espinafrar a Lava Jato e fazer em público o mais contundente mea-culpa de um ministro do STF: “É um grande vexame e participamos disso. Somos cúmplices dessa gente. Homologamos delação. É altamente constrangedor”. Mendes foi além: “A República de Curitiba nada tem de republicana, era uma ditadura completa. Assumiram papel de imperadores absolutos. Gente com uma mente muito obscura. Que gente ordinária, se achavam soberanos”.
A defesa de Lula enxerga uma brecha na decisão do STF para um novo pedido de anulação dos processos do ex-presidente. O advogado Cristiano Zanin Martins aponta semelhanças entre a ação contra Bendine e os procedimentos que resultaram na condenação do petista no caso do triplex do Guarujá e do sítio em Atibaia. “Tal como Bendine, o ex-presidente Lula não teve a oportunidade da última palavra nos processos de Curitiba, após ter sido indevidamente acusado por delatores. Essa situação é incompatível com a garantia constitucional da ampla defesa.”
Há mais de 500 dias na prisão, Lula mantém a esperança na Justiça, embora esteja mais ou menos clara a existência de uma jurisprudência particular, à margem do Estado de Direito, na análise dos seus recursos. Enquanto aguarda, o ex-presidente é obrigado a lidar com a falta de escrúpulos da força-tarefa de Curitiba. A nova leva de revelações de The Intercept trouxe à luz uma faceta representativa do espírito que moveu o “combate à corrupção”: o ex-presidente não era encarado como um suspeito obrigado a prestar esclarecimentos à Justiça, mas um inimigo a ser eliminado, despido de qualquer humanidade.
Os procuradores, mostram as conversas pelo Telegram, tripudiaram das mortes da ex-primeira-dama Marisa Letícia e de Vavá, irmão do ex-presidente, e dos pedidos de Lula de comparecer aos enterros. Quando se soube do estado grave de Marisa, Deltan Dallagnol e Januário Palumbo travaram o seguinte diálogo:
Dallagnol: “Um amigo de um amigo de uma prima disse que Marisa chegou ao atendimento sem resposta, como vegetal”.
Palumbo: “Estão eliminando as testemunhas…”
Em outro momento, diante de uma notícia postada na rede social pelo colega Júlio Noronha, Jerusa Viecili ironiza: “Querem que eu fique para o enterro?”
Na ocasião do velório de Vavá, Antônio Carlos Welter mencionou o direito constitucional de Lula sair cadeia para o enterro e acabou repreendido por Palumbo: “O safado só queria passear e o Welter com pena”. Laura Tessler uniu-se a Palumbo: “O foco tá em Brumadinho… Logo passa… Muito mimimi”.
Sem mimimi, Lula reagiu ao teor das conversas. “Confesso que foi um dos mais tristes momentos que passei nessa prisão em que me colocaram injustamente. Foi como se tivesse vivido outra vez aqueles momentos de dor, só que misturados a um sentimento de vergonha pelo comportamento baixo a que algumas pessoas podem chegar”, declarou.
“Peço a Deus que os ilumine, que poupe suas almas de tanto ódio, rancor e soberba.”
Até o momento, apenas a procuradora Jerusa Viecili veio a público se redimir dos comentários. “Errei. E minha consciência me leva a fazer o correto: pedir desculpas à pessoa diretamente afetada, o ex-presidente Lula”, escreveu no Twitter.
O silêncio dos associados de Moro dá razão ao ministro Mendes. Que gente.
Marlene Silva se mostrou indignada com reportagem da Vaza Jato divulgada nesta terça-feira (27) em que procuradores da Lava Jato ironizam a morte do filho, de apenas 7 anos, e a ida do ex-presidente ao velório.
Marlene Silva, nora do ex-presidente Lula e mãe de Arthur, reagiu com indignação à reportagem da Vaza Jato divulgada nesta terça-feira (27) em que procuradores da Lava Jato ironizam a morte do filho, de apenas 7 anos, e a ida do ex-presidente ao velório.
“Esses senhores [procuradores] não são humanos, não é possível, deu náusea, nojo, tristeza, perplexidade, indignação, raiva, muita raiva, choro… o que estão fazendo conosco!”, desabafou em uma rede social fechada aos amigos. “Nos deixem em paz”, teria dito Marlene, segundo informações da jornalista Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo desta quarta-feira (28).
Da prisão em Curitiba, o ex-presidente Lula, carregado de emoção, escreveu uma nota confessando que as mensagens reveladas fizeram deste um de seus dias mais tristes no cárcere. “Foi como se tivesse vivido outra vez aqueles momentos de dor, só que misturados a um sentimento de vergonha pelo comportamento baixo a que algumas pessoas podem chegar”, relatou.
Os diálogos divulgados a partir do material recebido pelo site The Intercept mostram que procuradores da Lava Jato ironizaram as mortes da ex-primeira-dama, Marisa Letícia, de seu neto Arthur e de seu irmão Vavá.
“Preparem para nova novela ida ao velório.” Esta foi a reação da procuradora Jerusa Viecili em resposta à notícia compartilhada no grupo Filhos de Januário 4 no Telegram sobre a morte do neto do ex-presidente. Em outro chat, o Winter is Coming, na mesma data, a procuradora Monique Cheker criticou a ida de Lula ao enterro do neto, marcado por forte emoção e tristeza.
A cerimônia teve escolta da PF, não foi permitida a entrada de militantes e não houve discurso. Lula permaneceu no local por duas horas, chorando muito. Mesmo assim, a procuradora Monique Cheker disparou: “Fez discurso político (travestido de despedida) em pleno enterro do neto, gastos públicos altíssimos para o translado, reclamação do policial que fez a escolta… vão vendo”.
O procurador Deltan Dallagnol postou uma notícia sobre o telefonema do ministro Gilmar Mendes a Lula, em que o ex-presidente teria se emocionado. O procurador Roberson Pozzobon comentou: “Estratégia para se ‘humanizar’, como se isso fosse possível no caso dele rsrs”.
Quando o Brasil assiste a esse festival de estupidez e violência fascistas de Bolsonaro e Witzel, que pegaram carona na Lava Jato, vê a dimensão e espessura assustadoras do mal que os procuradores da Força-tarefa carregam e, de imediato, entende porque apoiaram e ajudaram a eleger Bolsonaro na trama macabra que tirou Lula da disputa política. Essa gente da república de Curitiba é muito pior do que se imagina. É gente ruim, do mal mesmo, como mostra a matéria publicada pelo Uol.
Integrantes da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba ironizaram a morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia e o luto do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conforme revelam mensagens de chats privados no aplicativo Telegram enviados por fonte anônima ao site The Intercept Brasil analisadas em parceria com o UOL.
Os diálogos também mostram que procuradores divergiram sobre o pedido de Lula para ir ao enterro do irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, em janeiro passado –quando o ex-presidente já se encontrava preso– e que temiam manifestações políticas em favor de Lula. Na ocasião, alguns membros da Lava Jato disseram acreditar que a militância simpatizante de Lula pudesse impedir a volta dele à superintendência da PF (Polícia Federal), em Curitiba.
Deltan fez lobby com STF e governo Bolsonaro para tentar emplacar novo PGR Senador confirma encontro com Deltan, mas nega articulação para PGR Lava Jato viu em resultado das eleições no Senado chance de tirar Gilmar Deltan usou partido político para mover ação contra Gilmar Mendes no STF A despedida de Lula do neto Arthur Araújo Lula da Silva, que morreu aos 7 anos em março, também foi assunto entre procuradores da Lava Jato e alvo de crítica em chat composto por integrantes do MPF.
Em 24 de janeiro de 2017, Marisa Letícia sofreu um AVC hemorrágico. A internação no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, é comentada em chat no aplicativo Telegram.
A reportagem manteve as grafias das mensagens tal qual constam nos arquivos enviados ao Intercept, mesmo que contenham erros ortográficos ou de informação. Não há indícios de que as mensagens tenham sido adulteradas.
A morte encefálica da ex-primeira-dama foi confirmada em 3 de fevereiro de 2017. Na véspera, a procuradora da República Laura Tessler, do MPF (Ministério Público Federal) em Curitiba, sugere que Lula faria uso político da perda da mulher.
Minutos após a confirmação da morte de Marisa Letícia ser noticiada, o tema volta ao chat Filhos do Januário 1.
Em 4 de fevereiro de 2017, após nota da colunista do jornal Folha de S.Paulo Mônica Bergamo sobre a agonia vivida por Marisa em seus últimos dias de vida ter sido compartilhada no grupo, a procuradora Laura Tessler refuta a possibilidade de o agravamento do quadro da ex-primeira-dama ter acontecido após busca e apreensão na casa dela e dos filhos e condução coercitiva de Lula, determinada pelo então juiz Sergio Moro no ano anterior.
“Ridículo… Uma carne mais salgada já seria suficiente para subir a pressão… ou a descoberta de um dos milhares de humilhantes pulos de cerca do Lula”, afirma Laura.
Em abril passado, em entrevista ao jornal El País e à Folha de S.Paulo, Lula disse que “Marisa morreu por conta do que fizeram com ela e com os filhos dela. Dona Marisa perdeu motivação de vida, não saía mais de casa, não queria mais conversar nada”. O ex-presidente respondia à pergunta sobre a possibilidade de a saúde da mulher ter sido afetada pelas investigações.
Na mesma conversa, o procurador Januário Paludo, que também integra a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, coloca sob suspeita as circunstâncias da morte de Marisa Letícia. “A propósito, sempre tive uma pulga atrás da orelha com esse aneurisma. Não me cheirou bem. E a segunda morte em sequência”, diz ele, sem especificar à qual outra morte se referia.
A suspeição em relação às circunstâncias da morte da ex-primeira-dama já havia sido exposta por Paludo em 24 de janeiro, quando Marisa Letícia fora internada. Na ocasião, o chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, afirma que Marisa havia chegado debilitada ao hospital.
“Um amigo de um amigo de uma prima disse que Marisa chegou ao atendimento sem resposta, como vegetal”, afirma Deltan. Paludo reage à frase dizendo: “Estão eliminando as testemunhas”.
Em 4 de fevereiro, o corpo de Marisa Letícia foi velado em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. A fala de Lula na despedida da mulher é compartilhada pela procuradora Laura Tessler no chat. Na ocasião, Lula afirmou: “Eles que têm que provar que as mentiras que estão contando são verdade. Então, Marisa, descanse em paz porque esse Lulinha paz e amor vai continuar brigando muito”.
Deltan define a manifestação de Lula como “uma bobagem”. “Bobagem total… nguém mais dá ouvidos a esse cara”, diz.
O tema volta ao grupo no dia seguinte, quando o procurador Antônio Carlos Welter diz que “a morte da Marisa fez uma martir [sic] petista e ainda liberou ele pra gandaia sem culpa ou consequência politica”.
A morte de Marisa também foi comentada por outros integrantes do MPF em chats no Telegram. Ainda em 4 de fevereiro, a procuradora da República Thaméa Danelon, da força-tarefa da Lava Jato em São Paulo, critica a participação da procuradora Eugênia Augusta Gonzaga no velório da ex-primeira-dama, o que, para ela, equivaleria a ir ao enterro da “esposa do líder de uma facção do PCC”.
“Olhem quem estava no velório da Ré Marisa Leticia”, escreve às 14h07 no grupo Parceiros/MPF – 10 Medidas, ao citar fotografia de Eugênia na cerimônia. Outros procuradores questionam qual seria o problema da presença no velório de Eugênia Gonzaga, que chefiou a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos de 2014 até o começo de agosto.
“Acho um desrespeito ao Janot e a todos os colegas envolvidos na LJ. Além disso, demonstra partidarismo. Algo q temos q evitar Apenas isso. Abraços”, responde Thaméa às 15h16. Ela se referia a Rodrigo Janot, então procurador-geral da República. “É como um colega ir ai enterro da esposa do líder de uma facção do PCC. No mínimo inapropriado”, compara.
“O safado só queria passear”, diz procurador sobre pedido de Lula para ir a enterro de irmão.
A maneira com que Lula externou a perda de parentes e eventuais manifestações públicas de apoio ao ex-presidente nesses momentos foram debatidas por procuradores em ao menos outros dois episódios em 2019: em 29 de janeiro, ocasião em que o irmão Vavá morreu em decorrência de um câncer, e, a partir de 1º março, quando foi confirmada a morte do neto Arthur.
Em 29 de janeiro, o procurador Athayde Ribeiro Costa compartilha no grupo Filhos do Januário 3 a notícia de que Vavá havia morrido. A resposta de Deltan à informação já indicava o debate que se iniciaria no chat. “Ele vai pedir para ir ao enterro. Se for, será um tumulto imenso”, diz.
As consequências de uma eventual saída de Lula da superintendência da PF em Curitiba e a legalidade da liberação provisória dividem opiniões no chat. Parte dos procuradores defende o direito de Lula ir ao enterro de Vavá, enquanto outros sustentam que o ex-presidente não é um “preso comum” e se posicionam contra a ida de Lula ao sepultamento do irmão.
Athayde Ribeiro Costa faz uma ressalva em relação à possível repercussão internacional negativa que a proibição traria. “Mas se nao for, vai ser uma gritaria. e um prato cheio para o caso da ONU [Organização das Nações Unidas]”, diz em referência à manifestação que a defesa de Lula apresentaria dias depois ao Comitê de Direitos Humanos do órgão.
No texto, os advogados de Lula diziam que a prisão se devia a uma “perseguição política” e citavam que o tratamento dado a ele era “carregado de cruel mesquinhez”. Meses antes, durante a corrida eleitoral, a ONU já havia recomendado ao Estado brasileiro “garantir ao ex-presidente o exercício de todos os direitos políticos mesmo que na prisão”.
O procurador Orlando Martello diz achar “uma temeridade ele sair. Não é um preso comum. Vai acontecer o q aconteceu na prisão” e conclui: “A militância vai abraçá-lo e não o deixaram voltar. Se houver insistência em trazê-lo de volta , vai dar ruim!!”.
O procurador Diogo Castor pondera que “todos presos em regime fechado tem este direito”, e Orlando Martello retoma o argumento do risco à segurança: “3, 4, 10 agentes não o trarão de volta. Aí q mora o perigo caso insistam em fazer cumprir a lei”.
Em abril de 2018, Lula se entregou à PF após ficar dois dias na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo. Manifestantes tentaram impedir que o ex-presidente fosse levado à prisão e dificultaram o trabalho dos policiais federais.
Depois desta troca de mensagens, Januário Paludo encaminha aos colegas uma manifestação que seria entregue à juíza responsável por avaliar o pedido de liberação. Trata-se de um parecer da força-tarefa da Lava Jato pelo indeferimento da saída solicitada pela defesa de Lula. Ao ler o texto, Athayde Ribeiro Costa pondera: “Simplesmente indefirir estamos agindo como pilatos e deixando a juiza em situaca difícil”.
Minutos depois, os procuradores têm acesso a parecer da Polícia Federal que disse não ter condições de atender ao pedido de Lula. O relatório levou em consideração três situações de risco: “Fuga ou resgate do ex-presidente Lula, atentado contra a vida do ex-presidente e comprometimento da ordem pública”. A PF também considerou que as aeronaves que poderiam estar disponíveis para levar o petista ao enterro, naquele momento, estavam realocadas para dar apoio às autoridades em Brumadinho (MG), onde o rompimento de uma barragem, dias antes, deixou aos menos 248 mortos.
Anteriormente, a Justiça Federal, na primeira e na segunda instâncias, já havia se posicionado contra a solicitação dos advogados do ex-presidente. Minutos depois da manifestação da PF, a Procuradoria da República do Paraná também se posicionou contra o pedido de Lula.
No chat, Antônio Carlos Welter concorda com a PF, mas diz acreditar que Lula tinha o direito de ir ao enterro do irmão. “Eu acho que ele tem direito a ir. Mas não tem como”. Januário Paludo responde: “O safado só queria passear e o Welter com pena”.
Laura Tessler comenta: “O foco tá em Brumadinho…logo passa…muito mimimi”.
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Dias Toffoli, permitiu contudo que Lula fosse levado a São Paulo e se encontrasse com familiares em unidade militar da região. A decisão foi publicada no momento em que Vavá estava sendo sepultado em São Bernardo do Campo, e Lula acabou não deixando a carceragem da PF.
“Fez discurso político em pleno enterro do neto”, diz procuradora.
Em 1º de março, o grupo Filhos de Januário 4 foi surpreendido com o compartilhamento de notícia sobre a morte de Arthur. Dias depois, o laudo da necropsia confirmaria a morte do neto de Lula por infecção generalizada provocada por uma bactéria.
A procuradora Jerusa Viecili diz: “Preparem para nova novela ida ao velório”.
Deltan opina com base na decisão de Dias Toffoli no dia do enterro do irmão de Lula. “Tem q fazer igual o Toffoli deu”, diz.
Após autorização judicial, Lula foi ao enterro do neto em uma aeronave cedida pelo governo do Paraná. Deltan encaminha aos colegas notícia sobre um contato telefônico feito entre Lula e o ministro do STF Gilmar Mendes em que o ex-presidente teria se emocionado.
O procurador Roberson Pozzobon comenta: “Estratégia para se ‘humanizar’, como se isso fosse possível no caso dele rsrs”.
No chat Winter is Coming, na mesma data, a procuradora Monique Cheker, que atua em Petrópolis (RJ), comenta a fala de Lula durante a despedida do neto. O grupo é composto por integrantes do MPF de diferentes estados.
No enterro, Lula afirmou que Arthur havia sofrido bullying na escola por ser seu neto e prometeu provar que não havia cometido irregularidades.
“Fez discurso político (travestido de despedida) em pleno enterro do neto, gastos públicos altíssimos para o translado, reclamação do policial que fez a escolta… vão vendo”, diz Monique Cheker.
Outro lado Procurada, a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba disse que não poderia se manifestar sem ter acesso integral às conversas. O espaço continua aberto a manifestações de seus procuradores.
As procuradoras da República Thaméa Danelon e Monique Cheker responderam, por meio das assessorias de imprensa do MPF em São Paulo e,no Rio de Janeiro, respectivamente, que não iriam se manifestar sobre as mensagens citadas na reportagem.
Procuradores realizavam consultas “informais” para saber até se seguranças de Lula compraram geladeira e fogão para o sítio de Atibaia.
Além de incentivar secretamente investigações de ministros do Supremo Tribunal Federal, colaborar de forma proibida com então juiz Sergio Moro, usar partido político e grupos da sociedade civil como lobistas para emplacar suas pautas políticas, tramar o vazamento de uma delação para interferir na política de outro país e se encontrar secretamente com banqueiros em pleno ano eleitoral, os procuradores da operação Lava Jato também usaram o Telegram para obter informalmente dados sigilosos da Receita Federal – ou seja, sem nenhum controle da Justiça.
O coordenador da força-tarefa, Deltan Dallagnol, e seus colegas em Curitiba recorreram em diversas ocasiões a um informante graduado dentro da Receita para levantar o sigilo fiscal de cidadãos sem que a Justiça tivesse autorizado a quebra. As investigações clandestinas são reveladas agora pelo Intercept em parceria com a Folha de S.Paulo, graças ao arquivo da Vaza Jato.
Para obter os dados sigilosos, os procuradores recorreram ao auditor fiscal Roberto Leonel, que chefiava a área de inteligência da Receita em Curitiba, onde trabalhava. Leonel é hoje presidente do Coaf foi levado ao governo de Jair Bolsonaro por Sergio Moro.
A relação entre Leonel e a força-tarefa era tão próxima que eles pediram para o auditor informações sigilosas de contribuintes até mesmo para verificar hipóteses sem indícios mínimos. A Lava Jato, como o Intercept mostrou em parceria com o El País, já se movimentou contra seus inimigos declarados motivada apenas por boatos.
A obsessão Lula: ‘tipo pescador de pesque e pague rsrsrs’
Três dos casos encontrados nos diálogos envolvem a maior obsessão dos procuradores em todos os anos de conversas pelo Telegram, o nome mais citado entre todos: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em agosto de 2015, diante das notícias de que um sobrinho de Lula fizera negócios em Angola com ajuda do político e da Odebrecht, a primeira coisa que ocorreu ao procurador Roberson Pozzobon foi chamar Leonel. “Quero pedir via Leonel para não dar muito na cara, tipo pescador de pesque e pague rsrsrs”, disse numa mensagem a Dallagnol no grupo Chat FT MPF Curitiba 2.
No ano seguinte, entre janeiro e março, a força-tarefa pediu a Leonel que levantasse informações sobre uma nora de Lula e sobre o caseiro do sítio de Atibaia, propriedade à época registrada em nome de Fernando Bittar e Jonas Leite, e que era frequentada pelo ex-presidente. O caso levou à sua segunda condenação.
18 de janeiro de 2016 – grupo 3Plex
Januário Paludo – 15:18:31 – estou pedindo para roberto leonel verificar se o aluguel é pago para a marlene araujo, cnpj SUPRIMIDO pelo restaurante SUPRIMIDO. Ja pedi todos os registros de imóveis do terminal 3 de guarulhos. Paludo – 15:18:37 – CNPJ SUPRIMIDO Nome fantasia: SUPRIMIDO Razão Social: SUPRIMIDO LTDA 06/11/2013 end: Rod Helio Smidt, S/N, Terminal de Passageiros 3; 1º piso, Aeroporto de Guarulhos Julio Noronha – 15:19:02 – emoji sinal positivo
A investigação informal contra Lula e pessoas que o cercavam também incluiu o pedido, feito pelos procuradores, a informações sobre o patrimônio dos antigos donos do sítio, antes da propriedade ser comprada por Bittar e Leite. Na mesma época, os procuradores também solicitaram ao auditor informações sobre compras que a ex-primeira dama Marisa Letícia e os seguranças do casal teriam feito.
Em 15 de fevereiro daquele 2016, Dallagnol sugeriu aos colegas no grupo 3Plex que pesquisassem as declarações anuais de imposto de renda do caseiro Elcio Pereira Vieira, conhecido como Maradona. “Vcs checaram o IR de Maradona? Não me surpreenderia se ele fosse funcionário fantasma de algum órgão público (comissionado)”, disse. “Pede pro Roberto Leonel dar uma olhada informal”.
Uma semana depois, Moro autorizou a quebra do sigilo fiscal do caseiro. No processo que trata do sítio, no entanto, não há nenhuma informação do Fisco sobre ele, nem sinal de que a hipótese de Dallagnol tenha sido checada.
15 de fevereiro de 2016 – grupo 3Plex
Deltan Dallagnol – 15:53:20 – Vcs checaram o IR de Maradona? Não me surpreenderia se ele fosse funcionário fantasma de algum órgão público Dallagnol – 15:53:24 – (comissionado) Julio Noronha – 15:55:00 – Não olhamos… Vou colocar na lista de pendências Dallagnol – 15:56:32 – Pede pro Roberto Leonel dar uma olhada informal Noronha – 15:56:39 – Ok!
Em 6 de setembro de 2016, o procurador Athayde Ribeiro Costa informou aos colegas no grupo 3Plex que pediu a Leonel para averiguar se os seguranças de Lula tinham adquirido uma geladeira e um fogão, dois anos antes, para equipar o triplex que a empreiteira OAS diz ter reformado para o petista no Guarujá. Costa enviou ao auditor sem autorização judicial, os nomes de oito seguranças que trabalhavam para o ex-presidente, além do nome de duas lojas. Não há confirmação, nos chats, se Leonel verificou as informações, mas no processo do triplex, que levou Lula à prisão, a OAS é indicada como responsável pela compra dos eletrodomésticos, e não os seguranças.
Athayde Ribeiro Costa – 20:18:43 – Pessoal, fiz esse pedido ao LEONEL em relacao ao fogao e geladeira Costa – 20:18:53 – Leonel, boa noite. Se possível, tentar ver dps se os seguranças do LULA adquiriram geladeira e fogao da marca BRASTEMP no ano de 2014 que foram parar no apartamento. Os fornecedores devem ter sido a SUPRIMIDO ou SUPRIMIDO. Será que conseguimos ver isso? Costa – 20:18:53 – O nome deles Costa – 20:18:53 – SUPRIMIDO, SUPRIMIDO, SUPRIMIDO, SUPRIMIDO, SUPRIMIDO, SUPRIMIDO, SUPRIMIDO e SUPRIMIDO. Jerusa Viecilli – 21:37:12 – sinal positivo
As mensagens não permitem saber se Leonel atendeu a todos os pedidos clandestinos dos procuradores, mas há ao menos um caso em que fica claro que o auditor repassou informações sobre pessoas que sequer eram investigadas em Curitiba.
‘Por favor delete este assunto por enquanto’
Em maio de 2017, Leonel informou a Dallagnol, em um chat privado, que fizera uma representaçãocontra os pais do ex-deputado do PMDB Rodrigo Rocha Loures, e que preparava outra contra sua ex-mulher, que acabara de declarar uma conta milionária na Suíça.
O deputado da mala, aliado do então presidente Michel Temer, tinha sido afastado de seu mandato pelo STF poucos dias antes daquela conversa. Ele foi filmado pela Polícia Federal recebendo R$ 500 mil de um executivo da J&F. Na época, a Procuradoria-Geral da República acusou Temer de ser o destinatário final do dinheiro. A denúncia contra Temer foi suspensa pela Câmara dos Deputados.
24 de maio de 2017 – Chat privado
Roberto Leonel – 16:28:27 – Deltan Posso te falar daquele outro assunto de ontem Gersonme deu mais bronca Leonel – 16:29:26 – Fiz hj representação para srrf08 contra os pais do Rodrigo copiando Gerson normalmente Ele quis saber pq fiz etc e se tinha passado está inf a vcs Leonel – 16:30:11 – Disse q NUNCA passei pois não tem origem ilícita suspeita !!! Por favor delete este assunto por enquanto Deltan Dallagnol – 16:30:20 – Vc fez bem Por que ele quer saber se passou pra nós? Dallagnol – 16:30:31 – claro Leonel – 16:34:38 – Pior Leonel – 16:36:43 – Confidencial A ex cônjuge do dep fed Rodrigo entregou dirpf retificadora incluindo conta no banco pictet suica Não menciona na dirpf se fez ou não dercat. Mas aproveitou o embalo e inseriu saldo de 1 milhão em cc na suica aem lastro Dallagnol – 16:39:21 – ta brincando!! Leonel – 16:39:48 – Agora estou fazendo outra representação Leonel – 16:40:06 – Banco pictet Conhecido de vcs? Leonel – 16:40:37 – Esta Inv está na pgr ou descerá para vcs? Leonel – 16:40:54 – Acho q ficará lá mas sei lá como vou fazer Dallagnol – 16:44:14 – Com a PGR. Estou sugerindo eles fazerem checagens Dallagnol – 16:44:28 – Quem está com isso é a colega clara, do gt-pgr da lava jato Dallagnol – 16:44:34 – se quiser te coloco em contato com ela
O Papa Francisco escreveu carta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso político há mais de um ano. No texto, Francisco diz que ora por Lula e pede que o ex-presidente ‘não deixe de rezar por mim’.
A informação é da coluna da jornalista Mônica Bergamo na Folha de S.Paulo. O Papa Francisco lamenta “as duras provas que o senhor viveu ultimamente” e cita a morte de dona Marisa, do irmão de Lula, Genival Inácio, e do neto dele, Arthur.
“Não deixe de rezar por mim”, pede Francisco a Lula, dizendo que também ora pelo líder brasileiro. De acordo com Mônica Bergamo, “a correspondência é uma resposta a uma carta que o ex-presidente enviou ao santo padre em março”.
O texto traz reflexões religiosas e filosóficas. Diz que graças ao “triunfo de Jesus sobre a morte”, é possível acreditar “que, no final, o bem vencerá o mal, a verdade vencerá a mentira e a Salvação vencerá a condenação”.
A advogada Carol Proner, que faz parte de um grupo de estudos no Vaticano e teve acesso à correspondência, diz que “é uma carta que carrega muitas mensagens, além daquelas de afeto”.
Leia a íntegra da carta:
Estimado Luiz Inácio,
Recebi sua atenciosa carta do passado 29 de março, com a qual, além de agradecer a minha contribuição para defesa dos direitos dos mais pobres e desfavorecidos dessa nobre nação, me confidenciava seu estado e ânimo e comunicava sua avaliação sobre o contexto sócio-político brasileiro, o que me será de grande utilidade.
Como assinalei na mensagem para o 52 Dia Mundial da Paz, celebrado no passado 1 de janeiro, a responsabilidade política constitui um desafio para todos aqueles que recebem o mandato de servir ao seu País, de proteger as pessoas que habitam nele e de trabalhar para criar as condições de um futuro digno e justo. Tal como meus antecessores, estou convencido de que a política pode tornar-se uma forma eminente de caridade, se for implementada no respeito fundamental pela vida, liberdade e dignidade das pessoas.
Nesses dias, estamos celebrando a ressurreição do senhor. O triunfo de Jesus Cristo sobre a morte é a esperança da humanidade. A sua Páscoa, sua passagem da morte à vida, é também a nossa Páscoa. Graças a ele, podemos passar da escuridão para luz, das escravidões desse mundo para liberdade da terra prometida. Do pecado que nos separa de Deus e dos irmãos para a amizade que nos une a ele. Da incredulidade e do desespero para alegria serena e profunda de quem acredita, no final, o bem vencerá o mal, a verdade vencerá a mentira e salvação vencerá a condenação.
Tenho presente das duras provas que o senhor viveu ultimamente, especialmente da perda de alguns entes queridos, sua esposa Marisa Letícia, seu irmão Genival Inácio e, mais recentemente, seu neto Arthur de somente sete anos- quero lhe manifestar a minha proximidade espiritual e lhe encorajar pedindo para não desanimar e continuar confiando em Deus.
Ao assegurar-lhe minha oração a fim de que, neste tempo pascal de Júbilo, a luz de cristo ressuscitado o cumule de esperança, peço-lhe que não deixe de rezar por mim.