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Indulto presidencial: Bolsonaro dá presente de Natal a criminosos de farda

A um mês da posse, Jair Bolsonaro fez um anúncio solene aos brasileiros. “Garanto a vocês, se houver indulto para criminosos neste ano, certamente será o último”, assegurou.

O Supremo Tribunal Federal julgava a validade do perdão concedido por Michel Temer. Pelo Twitter, o presidente eleito avisou que a Corte não precisaria mais se preocupar com o assunto. A partir de 2019, o tradicional indulto natalino viraria coisa do passado.

Qualquer criminoso tem que cumprir sua pena de maneira integral. Essa é a nossa política”, reforçou, no dia seguinte. Após uma formatura militar, Bolsonaro repetiu que não assinaria novos atos de perdão. “Minha caneta continuará com a mesma quantidade de tinta até o final do mandato em 2022. Sem indulto”, sentenciou.

Se a vida no Brasil vale pouco, a palavra do presidente vale menos ainda. Bolsonaro não esperou nem um ano para descumprir o que prometeu.

Ontem ele editou o indulto mais generoso dos últimos tempos. Anistiou policiais condenados por homicídio culposo, que agiram fora das hipóteses de legítima defesa.

O decreto beneficia até os agentes de segurança que mataram em dias de folga.

É um presente de Natal para milícias e esquadrões da morte, que sempre contaram com a simpatia do clã presidencial.

O decreto beneficia até os agentes de segurança que mataram em dias de folga. É um presente de Natal para milícias e esquadrões da morte, que sempre contaram com a simpatia do clã presidencial.

A família Bolsonaro costuma reservar um lugar na ceia para criminosos de farda.

O ex-sargento Fabrício Queiroz, que assinava cheques para a primeira-dama, era campeão de “autos de resistência” na Cidade de Deus.

O ex-capitão Adriano da Nóbrega, condecorado na cadeia pelo primeiro-filho, é apontado como chefe de um grupo de extermínio.

O indulto será concedido ao fim de um ano em que a polícia bateu recordes de letalidade. Só no Estado do Rio, foram registradas 1.546 mortes de janeiro a outubro.

É o maior número desde o início da série histórica, em 1998.

Agora a matança tende a aumentar com incentivo presidencial.

 

 

 *Bernardo Mello Franco/O Globo

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Bolsonaro, desesperado com o escândalo Queiroz, pensa em tirar a PF do controle de Moro

O avanço das investigações sobre o esquema de corrupção no gabinete de Flávio Bolsonaro levou o governo de Jair Bolsonaro a cogitar uma ideia que pode levar à demissão de Sérgio Moro; trata-se do plano para retirar a Polícia Federal da alçada do Ministério da Justiça, esvaziando ainda mais o papel do ex-juiz, segundo informa a jornalista Vera Magalhães.

O fechamento do cerco em torno das relações financeiras entre Fabrício Queiroz, o ex-assessor que gerenciava os gabinetes da família Bolsonaro, o senador Flávio e familiares da segunda ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, Ana Cristina, fez com que ganhasse corpo a ideia de tirar a Polícia Federal da alçada do ministro Sérgio Moro.

É isso que explica a discussão, extemporânea aparentemente, de se recriar o Ministério de Segurança Pública, que existia sob Michel Temer e foi extinto justamente para concentrar atribuições e poderes em torno de Moro”, informa a jornalista Vera Magalhães, do site BR Político, do grupo Estado de S. Paulo.

“A possibilidade de que o caso Queiroz atinja Bolsonaro e a família, o que levaria a PF a ser acionada, explica a pressa em tirá-la da alçada de Moro e colocá-la sob o comando de alguém mais próximo de Bolsonaro, além de político“, informa ainda Vera Magalhães.

 

 

*Com informações do 247

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Moro já sabia de acusação que levou ex-presidente de Braskem à prisão nos EUA desde 2016

O ex-presidente da Braskem José Carlos Grubisich, que foi preso na semana passada, em Nova York, sob a acusação de ter criado caixa dois na empresa, já havia sido delatado pelo mesmo motivo para o MPF (Ministério Público Federal brasileiro).

Essa informação, porém, não chegou a gerar denúncia contra ele no Brasil.

A Braskem, controlada pelo grupo Odebrecht, é uma das maiores petroquímicas das Américas e tem capital aberto em Bolsa. Hoje, a Odebrecht tem 38,3% da Braskem, enquanto a Petrobras tem 36,1%. Os 25,5% restantes estão nas mãos de minoritários.

PS: Para entender a história, é necessário considerar que a omissão da Lava Jato em relação a Grubisich tem a ver com a ofensiva sobre Marcelo Odebrecht, cuja prisão foi usada para avançar sobre Lula.

Marcelo Odebrecht, ao que parece, não tem relação com as propinas pagas pela Brasken.

Na narrativa da Lava Jato, porém, Marcelo Odebrecht era o responsável por todos os crimes na empresa, e acossando Marcelo se chegou aos vídeos colhidos pelos procuradores em que o ex-presidente da empresa, mesmo sem ter relação com Lula, o acusa fortemente.

Outra hipótese é que a Lava Jato fez vista grossa para Grubisich, por razões que devem ser apuradas. Já se sabe que a Lava Jato poupou alvos, como o próprio ministro Paulo Guedes, flagrado com um depósito de R$ 500 mil na conta de propina do governador do Paraná, Beto Richa.

Ignorou também outras citações, como a de Michel Temer na época do impeachment de Dilma Rousseff e a do senador Álvaro Dias, líder do Podemos.

Com Grubisich, mais uma vez a Lava Jato aparece como uma operação seletiva, com dois pesos e duas medidas, sempre mirando alvos de acordo com a conveniência política.

 

 

*Com informações do DCM

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O pacote fatal de Bolsonaro e Guedes é o mesmo que fez o Chile explodir

Ao descer o machado sobre o pescoço de sua vítima, o verdugo o faz seguindo ritos e formalidades, que fazem parte do “espetáculo” do qual ele é personagem central, visto ser o sujeito da ação por todos observada, a execução.

Na última terça-feira (05/11), o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Fazenda, Paulo Guedes, levaram ao Congresso seus projetos para ajuste fiscal recessivo.

Neoliberalismo radical com traços de fascismo.

Com pompa e circunstância, discursaram sobre seus supostos objetivos técnicos de “diminuir gastos desnecessários” e que, sem isso, o país não terá alternativa.

Argumentos desse tipo temos ouvido desde a reforma trabalhista do governo Michel Temer, em 2017.

O governo Bolsonaro repetiu-o para aprovar a reforma da previdência. E agora o repete de novo para atacar outros direitos sociais garantidos pela Constituição Federal, como saúde e educação.

Entre as propostas apresentadas no pacote de perversidades está o fim das vinculações orçamentárias para saúde e educação, hoje asseguradas pela Constituição Federal de 1988.

Os pisos constitucionais previstos para as duas áreas, com recursos próprios de municípios, estados e União foram vitórias da cidadania com vistas a assegurar valores mínimos para sustentação dos serviços absolutamente necessários do SUS e da educação.

Sem essas garantias constitucionais de financiamento, os sistemas de saúde e educação estarão sob grave ameaça, deixando a população à mercê da desassistência.

O projeto prevê juntar os percentuais de saúde e educação, hoje separados, não mais garantindo os valores mínimos para cada área.

A pretexto de dar maior “autonomia” a prefeitos e governadores para executar seus orçamentos, o bolsonarismo vai, de fato, desidratar os recursos de políticas públicas essenciais. Em consequência, jogar saúde contra educação na disputa por recursos públicos mínimos para suas atividades básicas.

Na proposta, é flagrante o desprezo pela educação e aos professores, alunos e livros.

O mesmo acontece com a saúde, médicos, enfermeiros, dentistas, psicólogos, vacinas, medicamentos, etc, que já sofrem com o descaso governamental nesses primeiros dez meses de governo.

Não bastassem esses absurdos, o governo Bolsonaro quer outro: incluir os pagamentos de aposentados nas despesas com saúde e educação!!!

Isso fará desabar o financiamento existente para saúde e educação, já que no governo Temer foi aprovada a EC 95 que congelou os recursos para essas políticas públicas nas próximas duas décadas.

O ataque aos vínculos constitucionais é velha posição dos teóricos neoliberais.

Eles associam tais garantias à “vagabundagem” e à “falta de iniciativa” dessas áreas.

Só que, na verdade, a argumentação diversionista esconde outras e reais intenções.

Explico. Os recursos orçamentários dividem-se em custeio e investimento.

Os de investimento se destinam à compra de equipamentos e insumos perenes, material permanente, como computadores, veículos, construções, etc.

Já os de custeio são para o financiamento de ações diárias e não perenes, material de consumo e, principalmente, a pagamento de pessoal.

Como podem perceber, não há neutralidade na ciência contábil, assim como inexiste nas demais.

Ela classifica como investimento produtos e insumos que apenas o capital pode dispor.

Ou seja, para os neoliberais, o “bom” é investimento, que somente pode ser disponibilizado pelo capital que constrói pontes, escolas, hospitais, vende veículos, computadores, etc.

Já o “ruim” é o custeio, que deve ser reduzido, pois representa a gastança, o modelo perdulário a ser combatido.

Ele diz respeito principalmente ao pagamento da força de trabalho.

Acontece que nos orçamentos de municípios, estados e União os recursos para o SUS, são, em sua ampla maioria, de custeio.

Ou seja, destina-se ao pagamento de toda a força de trabalho do SUS: médicos, enfermeiros, agentes comunitários de saúde, dentistas, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, veterinários, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, biólogos, biomédicos, farmacêuticos, motoristas, entre outros profissionais.

O destino final do dinheiro é a conta bancária desses trabalhadores.

Esse dinheiro, por sua vez, faz girar a economia de seus municípios. Afinal, invariavelmente, educação e saúde são as áreas com maiores secretarias municipais em qualquer ponto do Brasil.

Portanto, além do aspecto assistencial — que é fundamental — existe também o econômico.

O SUS e a educação são políticas públicas que, devidamente financiadas, contribuem significativamente para a movimentação da economia local, gerando empregos formais, já que seus trabalhadores usam salários no comércio e serviços do município.

No caso do SUS, especificamente, o devido financiamento assegura acesso democratizado a tecnologias que seriam inacessíveis à esmagadora maioria do povo brasileiro.

Isso se dá na forma de medicamentos, insumos e procedimentos de áreas médicas, odontológicas, enfermagem, fisioterapia, nutrição, entre outras.

Acabar com os vínculos orçamentários constitucionais como querem Paulo Guedes — ele acusa população pobre de não poupar!– e Bolsonaro, vai desfigurar a seguridade social brasileira.

A intenção deles é algo nos moldes feitos pelo ditador chileno Augusto Pinochet, de quem são fãs.

E exatamente o que está levando o Chile a convulsionar, pois ampla parcela da população está na miséria enquanto os pouquíssimos rentistas festejam lucros cada vez maiores.

Na prática, minguarão as economias municipais, já mortalmente atacadas pela reforma da previdência, que levará à diminuição dos proventos dos aposentados, essenciais para fazer girar a economia local.

É concentrar renda, em escala ainda maior do que a atual.

Além da velha cantilena de reduzir gastos, o que o pacotaço de Bolsonaro e Guedes busca é fazer transferência brutal de renda às avessas.

Isso significa tirar dos pobres e engordar os ricos, deixando-os cada vez mais ricos, enquanto jogam milhões de pessoas na miséria e na absoluta insegurança social.

Esse objetivo se explicita ainda mais quando observamos todo o pacote de PECs — propostas de emendas constitucionais.

Não há uma única proposta de estímulo à economia.

Muito pelo contrário. Há apenas cortes, com efeito mais depressor sobre a economia.

Recursos de fundos públicos que existem há décadas serão usados para “pagar serviços de juros da dívida pública”.

Ou seja, bilhões de reais serão torrados para pagar juros da dívida pública.

Isso é ruim? Péssimo!

Explico.

Primeiro: porque é jogar bilhões de reais em recursos públicos em área morta da economia.

Esses bilhões não gerarão um único emprego nem fomentarão setores estratégicos da economia.

Apenas alimentarão a voracidade insaciável do mercado financeiro, o “capital vadio”, que não gera empregos mas deixa mais ricos os poucos extremamente ricos. Logo, estarão com suas bocarras escancaradas exigindo mais sacrifícios humanos e ambientais.

Segundo:porque não se fomenta economia queimando recursos de forma inútil. Seria muito mais eficiente usar esses recursos para ações que visassem à diminuição do desemprego e, consequentemente, aumento de arrecadação.

Não contente com tudo isso, o governo federal ainda prevê no pacote outra imensa perversidade. Havendo excesso de arrecadação, esse excedente não será utilizado em benefício da população, mas para — de novo– pagar serviços da dívida.

Ou seja, caso o Brasil consiga produzir e criar excedente, o País não gozará do resultado de seu trabalho.

É o vampirismo parasitário do capitalismo rentista, que quer transformar o Brasil num gigantesco campo de concentração para trabalho escravo.

Quando em 25 de outubro, Bolsonaro afirmou que colocaria o exército na rua, caso ocorresse no Brasil o mesmo que está acontecendo no Chile, ele já sabia o que enviaria ao Congresso dias depois.

Da mesma forma, seu filho Eduardo Bolsonaro ao dizer que “se a esquerda radicalizar, vamos reeditar o AI-5”.

As ameaças pareciam soltas, mas agora com o pacote apresentado, sabemos os motivos.

Ambos acenaram que as liberdades do mercado rentista serão garantidas às custas da democracia e dos direitos do povo.

Afinal, como defende o neoliberalismo, a democracia não é um valor absoluto se não tiver antes a liberdade dos capitais.

E é justamente isso que o governo está priorizando.

Bolsonaro se elegeu com discurso antissistema, mas, na verdade, é o candidato do sistema, como demonstram seus projetos.

As medidas adotadas do pacote de perversidades deprimirão ainda mais a economia, restringindo acesso da população aos serviços de saúde e educação, fragilizando a seguridade social e torrando bilhões de reais para alimentar a voracidade bulímica do mercado financeiro que arruína economias nacionais.

Cumprirão o script racista e genocida do neoliberalismo radical com traços de fascismo ao usarem seu machado sobre os pescoços da população, sob os aplausos do capital rentista e da grande mídia, sua caixa de ressonância.

Por isso fizeram o golpe de 2016. Ele não foi contra a Dilma, o PT e o Lula.

Foi contra o povo e contra a democracia.

Por isso, prenderam o o Lula. Do contrário, não conseguiriam avançar nessa agenda da morte. Agora querem receber suas partes no butim.

O caminho é pressionar parlamentares, mobilizar a sociedade civil e desmascarar o governo atolado em crimes até o pescoço.

O verdugo não pode ser apenas observado, deve ser derrotado.

 

 

* Luís Carlos Bolzan/Viomundo

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Vaza Jato: Às vésperas do afastamento de Dilma, Lava Jato rejeitou delação que prenderia Temer em 2019

Conversas no Telegram mostram que procuradoria não viu interesse público nas acusações contra então vice em 2016. “Você acha que o Supremo ia me autorizar?”, se defende Janot.

Duas semanas antes de Michel Temer assumir a presidência interinamente devido ao afastamento de Dilma Rousseff pelo processo de impeachment na Câmara em 17 abril de 2016, a Operação Lava Jato recebeu um “anexo-bomba” de uma delação premiada que, se aceito, poderia ter mudado os rumos da história recente do país. Conversas entre procuradores da Lava Jato no Telegram, obtidas pelo The Intercept e analisadas em conjunto com o EL PAÍS, permitem rastrear o momento exato em que a procuradoria teve em mãos informações que poderiam levar a uma investigação do então vice-presidente por suspeita de corrupção. Na época, porém, os procuradores consideraram que as declarações não atendiam ao “interesse público” e não aceitaram a proposta de delação. Mas, três anos depois, essa mesma delação foi utilizada pela Lava Jato para uma ação penal contra Temer e para pedir a prisão preventiva dele, já na condição de ex-presidente.

A delação, rejeitada em abril 2016 com anuência do Procuradoria Geral, mas que deu suporte à prisão de Temer em março de 2019, foi feita pelo empresário José Antunes Sobrinho, sócio da construtora Engevix, que relatou um pagamento de propina para Temer. As conversas no chat “Acordos Engevix” no Telegram mostram que os procuradores de Curitiba, Rio e Brasília receberam a proposta de Antunes em 4 de abril de 2016. O menção a Temer, que viria a ser batizada de “anexo-bomba” mais tarde, dizia que Antunes fez um pagamento de 1 milhão de reais para atender a interesses de Temer, como compensação por um contrato na usina nuclear Angra 3, da estatal de energia Eletronuclear.

O pagamento, segundo Antunes, foi entregue a um amigo do ex-presidente, o coronel João Baptista Lima Filho, o coronel Lima. O dinheiro não saiu direto dos cofres da Engevix para Temer, mas de uma companhia prestadora de serviço do Aeroporto de Brasília, que era controlado pela Engevix. A empresa em questão era a Alúmi. O relato não convenceu os procuradores.

No dia seguinte, 5 de abril de 2016, eles comunicaram aos advogados de Antunes que as negociações da delação estavam encerradas. “Pessoal de BSB e Lauro, o Antunes apresentou, neste momento, mais 2 anexos. Eles estão forçando a barra aqui. Informo que a opinião de CWB é contrária ao acordo”, afirmou o procurador Athayde Ribeiro, da força-tarefa de Curitiba no dia 5 de abril de 2016. Em resposta, o procurador Lauro Coelho, da então incipiente força-tarefa do Rio de Janeiro, respondeu apenas: “Ciente do teor”.

No exato dia em que procuradores do Paraná receberam o documento da delação contra Temer, em 2016, o então advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, fazia a defesa de Dilma Rousseff na comissão do impeachment da Câmara dos Deputados. Marcelo Odebrecht já havia sido condenado pela Lava Jato e o ex-presidente Lula também fora alvo de um mandado de condução coercitiva. Temer, por sua vez, era apontado como um dos articuladores do impeachment. Neste cenário, a acusação contra ele não era um evento trivial. Naquele ano, a Lava Jato fechou pelo menos 108 acordos de delação, segundo a planilha Colaboração_Todos (19.12.2017) compartilhada no Telegram pelos procuradores. Isso sem contar os acordos de leniência com empresas.

Imagem do "anexo-bomba" da delação de José Antunes Sobrinho, sócio da Engevix, de 2016

Era um momento peculiar, o auge da operação, como relata o ex-procurador-geral Rodrigo Janot em suas memórias recém lançadas Nada mais que Tudo. “Eu só não diria que éramos mais populares que Jesus Cristo porque não quero cometer o mesmo erro de um dos Beatles, que ousou tocar em um mito religioso, sem se dar conta do peso da religião”, escreveu Janot, no livro. “O fato é que nós, procuradores, juízes e policiais, experimentávamos uma popularidade nunca vista antes no meio jurídico”, acrescentou.

Em 21 de junho de 2017, e com Temer já no poder e enfrentando problemas com Janot, o procurador Athayde Ribeiro disse nas conversas de Telegram que a menção ao então vice feita um ano antes era um “anexo-bomba”. Àquela altura, Temer já era presidente oficial desde agosto de 2016, quando o Senado confirmou o impeachment de Dilma. “Leo, so rememorando q Rj, PR e BSB ja haviam negado acordos pra Engevix e executivos. Os anexos da epoca nao se mostraram interessantes; e tb pq nao se mostraram confiaveis, tentando jogar c “anexos bomba” aos 45 do segundo tempo, tentando nos intimidar c a Veja e por n ter apresentado provas de corroboracao”, disse o procurador Athayde Ribeiro ao procurador Leonardo Cardoso de Freitas no Telegram —a grafia original usada nos chats foi preservada. A menção à Veja parece remeter, na verdade, a uma reportagem da revista Época (semanal que concorre com a Veja) que publicou em abril de 2016 as revelações que Antunes tinha em sua proposta de delação.

Do “não” documentado à volta por cima em 2018

Diante da postura de procuradores da Lava Jato de Curitiba, Brasília e do Rio de Janeiro de rejeitar insistentemente o acordo de delação premiada com Antunes em 2016, seus advogados protocolaram ainda naquele ano uma petição no Ministério Público Federal no Paraná para reiterar que o empreiteiro continuava interessado no acordo. Em resumo, os advogados de Antunes pediram que, caso a proposta fosse rejeitada definitivamente, os procuradores assumissem por escrito que essa recusa partiu deles e prometessem que eles não usariam as informações em nenhuma investigação contra o empreiteiro.

Cópia do depoimento de José Antunes Sobrinho, da Engevix, em 2018, no inquérito dos Portos.

Em 24 de junho de 2016, o procurador Paulo Galvão compartilhou com os colegas o texto da certidão que foi entregue aos advogados. “Cumpre, preliminarmente, certificar que as negociações para eventual acordo de colaboração premiada com o réu José Antunes Sobrinho foram formalmente encerradas, consoante informado aos causídicos em reunião realizada em 5 de abril de 2016, na sede da Polícia Federal de Curitiba”, diz um trecho da certidão, que alegou genericamente “ausência de interesse público na continuidade das negociações”.

A delação de Antunes acabou retomada e homologada em 2018 por um caminho tortuoso. Temer foi delatado numa operação de enorme apelo midiático pelo empresário Joesley Batista, sócio da JBS, em maio de 2017, quando vieram à tona as conversas gravadas por Joesley em que Temer disse “tem que manter isso, viu?” depois de o empresário relatar que estava com as “pendências zeradas” com o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB), ex-presidente da Câmara e aliado de Temer que deflagrou o processo de impeachment contra Dilma.

Nessa conversa gravada, Temer também recomendou a Joesley que procurasse o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, para resolver problemas da JBS no governo. Após combinações com o empresário, Rocha Loures recebeu uma mala de propina de 500 mil reais, que, segundo Joesley e investigações da Lava Jato, eram destinados a Temer. Essa mala de dinheiro motivou a primeira ação penal apresentada contra Temer A ação penal acabou tendo a tramitação suspensa pela Câmara dos Deputados em agosto de 2017.

As conversas de Rocha Loures com representantes da JBS, no entanto, também levantaram suspeitas sobre outro assunto, de que uma nova lei para a gestão de portos brasileiros, sancionada por Temer em 2017, visava uma troca de propinas de empresas do setor portuário. Foi então que a delação da Engevix ganhou uma nova chance num inquérito sobre portos, que investigou, ao longo de 2017 e 2018, a atuação de Temer na sanção dessa nova lei do setor. A PF argumentou que o coronel Lima tinha recolhido propinas para Temer de empresas do setor portuário, da JBS e também no caso da Engevix. Antunes finalmente assinou acordo de colaboração com a Polícia Federal —e não com os procuradores diretamente— em junho de 2018, quando faltavam seis meses para Temer deixar o poder.

O inquérito dos portos motivou uma ação penal contra Temer. Quando ele deixou o Planalto e perdeu a prerrogativa de foro privilegiado, o caso da Engevix e da Eletronuclear foi distribuído para o juiz Marcelo Bretas e a força-tarefa da Lava Jato no Rio. No fim de fevereiro de 2019, já sob o Governo de Jair Bolsonaro, Antunes prestou novo depoimento a procuradores do Rio, como parte de sua delação homologada pelo ministro Roberto Barroso. Repetiu a versão apresentada em abril de 2016 da propina de 1 milhão de reais a Temer, por intermédio do coronel Lima, em troca de contrato na Eletronuclear. Acrescentou que as negociatas também envolveram seu ex-ministro Wellington Moreira Franco e o empresário Rodrigo Castro Neves (ex-sócio do ex-senador Eunício Oliveira).

Um mês depois desse depoimento, Temer foi preso preventivamente com base nesse relato e nas investigações complementares sobre como funcionou um esquema de corrupção da Eletronuclear. Já tinham vindo à tona os comprovantes bancários e e-mails envolvendo o pagamento delatado por Antunes – e os procuradores, então, foram atrás e conseguiram o depoimento espontâneo do empresário Marcelo Castanho, diretor da Alúmi, que fez o repasse de 1 milhão de reais para o coronel Lima. Para prender Temer, os procuradores também argumentaram que o ex-presidente era acusado em ações penais de ter sido beneficiário de propinas e que era investigado em outros inquéritos por corrupção. Temer ficou menos de uma semana na cadeia e hoje responde em liberdade ao processo.

Sem consistência, segundo Janot

Em entrevista ao EL PAÍS, o ex-procurador-geral Rodrigo Janot defende sua decisão, em 2016, de rejeitar a delação de Antunes. Ele diz avaliar que não conseguiria apoio no Supremo Tribunal Federal para abrir uma investigação contra Temer com base no relato. “Você acha que o Supremo ia me autorizar a investigar o vice-presidente da República com algo que não era consistente?”, afirmou. Pelo cargo que ocupava, Janot foi o último responsável por rejeitar a delação da Engevix em 2016. O ex-procurador-geral reconhece que sabia da menção ao então vice-presidente na proposta de delação de Antunes, e que era “informado o tempo todo sobre a delação da Engevix”. Porém, desqualificou o delator como fonte crível, embora o empreiteiro tenha sido considerado fidedigno pela Polícia Federal, em 2018, pela ex-procuradora-geral Raquel Dodge e por procuradores do Rio em 2019.

Janot argumenta que Antunes “titubeava o tempo todo” e que o caso Engevix foi “sem importância”. “Não era acordo relevante para a gente. Tanto foi que quando teve algo concreto, [Temer] caiu. Caiu não, mas foi processado duas vezes”, disse, sem especificar o que seria “algo concreto”.

Em seu livro, Janot afirmou, de maneira errônea, que a prisão do ex-presidente foi motivada pelo caso da mala de dinheiro da JBS entregue ao ex-deputado Rocha Loures (MDB). Mas Temer, na verdade, foi preso por ordem do juiz Bretas, a pedido da força-tarefa da Lava Jato no Rio, pelo pagamento de propina da Engevix e pelas investigações do esquema de corrupção na Eletronuclear. Ao EL PAÍS, Janot admitiu que a informação em seu livro, sobre o motivo da prisão de Temer, foi um erro e que será corrigido.

Questionada sobre a razão de a delação envolvendo Temer não despertar o “interesse público” em 2016, a força-tarefa do Paraná disse que “houve consenso entre mais de 20 procuradores” a respeito”. A procuradoria não respondeu por que procuradores do Rio de Janeiro usaram a mesma delação em 2019 para prender Temer. “Relatos de colaboradores avaliados como inconsistentes, incompletos ou desprovidos de provas podem ser recusados”, afirmou o MPF do Paraná em nota enviada ao EL PAÍS. Afirmaram ainda que “as forças-tarefas participam das negociações e opinam, mas a palavra final é do procurador-geral.”

Procurado, o advogado Antonio Figueiredo Basto, que atende Antunes, também afirmou que não pode comentar sobre como se deu a negociação da delação de seu cliente, pois o caso está sob sigilo. Os procuradores do Rio não quiseram comentar o assunto.

Michel Temer é réu em seis processos criminais. Ele foi absolvido sumariamente nesta semana, sem julgamento, em um desses processos, por obstrução de Justiça, justamente o que analisava isoladamente se o ex-presidente causou embaraço à Justiça quando falou “tem que manter isso” ao empresário Joesley Batista. A assessoria de Temer também foi questionada a respeito do conteúdo desta reportagem, mas até a publicação não havia respondido.

A íntegra a resposta da força-tarefa da Lava Jato

“Na Lava Jato, a negociação de acordos de colaboração que envolvem fatos de diversas jurisdições e implicam agentes com foro privilegiado é feita por procuradores da República designados pelo procurador-geral que integram o Grupo de Trabalho vinculado ao seu gabinete, além de membros das diferentes forças-tarefas, todos com ampla experiência no assunto. As forças-tarefas participam das negociações e opinam, mas a palavra final é do procurador-geral. Em relação ao caso que é objeto de questionamento, houve consenso entre mais de 20 procuradores no sentido de que o acordo não atendia o interesse público. Relatos de colaboradores avaliados como inconsistentes, incompletos ou desprovidos de provas podem ser recusados. Eles podem ainda ser reavaliados em nova negociação de acordo, se o colaborador trouxer provas e informações complementares ou o desenvolvimento das investigações resulte na descoberta de novas evidências capazes de dar subsistência aos relatos. Em relação à notícia de pagamento a advogados de colaboradores, não comentamos sobre investigações em curso. O El País prejudica o direito de resposta ao omitir da força-tarefa o material que diz usar nas reportagens. Esse material é oriundo de um crime e tem sido usado fora de contexto e com edições para fazer falsas acusações contra a Lava Jato.”

“Concorrência” de delações que não daria em nada

Além do empresário José Antunes Sobrinho, sócio da construtora Engevix, seu sócio Gerson Almada também competiu para denunciar Temer. Ambos passaram a negociar os acordos depois de serem presos. No Telegram, as conversas entre os procuradores mostram que os sócios apresentaram diversos anexos ao longo de meses. Almada, por exemplo, começou entregando uma proposta com oito anexos, cada um com supostos crimes cometidos por alguma pessoa ou grupo político. Ao longo da negociação, foi expondo mais as cartas de que dispunha, e terminou por entregar 30 anexos para a força-tarefa.

Foi, inclusive, Almada quem envolveu pela primeira vez, em 29 de março de 2016, o nome de Temer em supostos crimes. Porém, quando isso ocorreu, o arquivo de texto de sua proposta de delação, compartilhada no Telegram, não trouxe detalhes. Prometia apenas que posteriormente daria mais informações. Almada se limitou a dizer que manteve uma reunião com Michel Temer, “no escritório deste, para tratar de interesses da Engevix em áreas diversas da Petrobras” e que narraria “a participação do coronel Lima nos fatos”.

Na época, os procuradores comemoraram a competição. “Viva a livre concorrencia!”, escreveu Andrey Mendonça no chat Acordos Engevix, em 30 de março de 2016, após informação de que Antunes entregaria uma nova versão dos anexos. Cinco dias depois da primeira menção a Temer, em 4 de abril de 2016, Antunes revelaria os detalhes envolvendo o ex-presidente. Sua proposta de delação foi entregue à força-tarefa de Curitiba quando faltavam apenas duas semanas para Eduardo Cunha comandar na Câmara dos Deputados a sessão que afastaria Dilma Rousseff da presidência. O relato de Antunes poderia tumultuar a vida de Temer, mas acabou na gaveta e não atrapalhou nada.

 

*Do El País

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Policiais denunciam: Projeto de Flávio Bolsonaro incentiva ações de milícia

Projeto prevê que mortes praticadas por policiais sejam classificadas como suicídios.

Argumento é que, ao se colocar em confronto, suspeito se põe em risco de morrer.

Policiais afirmam que, caso seja aprovado, PL incentivará ações de grupos de extermínio.

Em tramitação no Senado, o PL (Projeto de Lei) nº 4640, de 2019, proposto pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), um dos filhos do presidente da República, tem como objetivo transformar mortes decorrentes de intervenções policiais em “suicídios” e retirar a responsabilidade sobre essas mortes dos policiais do país.

Segundo anuário do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), enquanto o número de mortes violentas caíram 10,4% entre 2017 e 2018, durante o governo do presidente Michel Temer (MDB), o número de mortos pelas polícias subiu 20%. Esses casos, atualmente, geram inquérito e podem ser apreciados por corregedorias e justiças militares e comuns de cada estado.

O PL de Flávio Bolsonaro (veja os pontos ao final do texto) prevê que, ao se colocar em uma situação de confronto, um criminoso assume o risco de morte, retirando, assim, a responsabilização do policial.

Policiais que poderiam ser agraciados com o PL, no entanto, criticam a proposta e apontam que, caso seja aprovada, incentivará “maus policiais”, grupos de extermínio e milícias.

Os profissionais de segurança pública formam a base eleitoral do senador.

“Vai favorecer policiais que agem de forma ilegal dentro da instituição. Isso tende a proteger milícias, a favorecer policiais que possam agir na ilegalidade. Não vejo como valorização policial. É algo que está na linha do discurso ao ódio, do policiamento sem medida. Polícia tem que prestar contas. Se está lidando com o direito à vida das pessoas, você tem que prestar contas”, afirma Alexandre Rocha, delegado no Distrito Federal.

“O que me chama a atenção é ver que até parte das polícias acham que isso é uma valorização. Os políticos deviam revisar condições de trabalho e estrutura da polícia. Essa ideia de que polícia entra o tempo todo em confronto é algo mais palatável nesse discurso atual. Na prática, o confronto é mais esporádico”, complementou o delegado.

A opinião é corroborada pela tenente-coronel da reserva Cristiane Socorro Loureiro Lima, da Polícia Militar do Pará. Ela é doutora em ciências sociais e professora da Universidade da Amazônia, na capital paraense.

“É uma total aberração jurídica”, afirmou. Ela diz acreditar que, caso seja posta em prática, a medida pode aumentar a letalidade policial, além de impulsionar práticas de grupos de extermínio e de milícias. “Armas devem ser usadas apenas para preservar vidas.”.

Se no Brasil se comemora uma ocorrência policial com resultado de morte, isso é um total reforço dessas ações. Cristiane Lima, tenente-coronel da PM-PA.

O tenente-coronel Adilson Paes de Souza, da reserva da PM de São Paulo, vai além. Segundo ele, apenas o fator de existir essa proposição já é um incentivo para grupos de extermínio e milicianos. “Essa proposta faz com que se sintam amparados, no sentido de que suas ações ficarão impunes. Porque nem seriam processados por homicídio”, afirmou.

“Se esse projeto foi aprovado em alguma comissão do Senado, já é um absurdo. Porque não tem nenhuma base. Mas vamos supor que seja aprovado e vire lei: é totalmente inconstitucional. Fere princípios constitucionais”, complementou. No artigo 5º, a Constituição Federal garante a inviolabilidade do direito à vida.

Já o sargento Elisandro Lotin de Souza, da Polícia Militar de Santa Catarina, afirmou que o projeto “não resolve nem sequer minimiza os problemas da área e, propositadamente, desvia a atenção dos reais e necessários debates, seja na perspectiva dos policiais ou mesmo da maioria da população”.

Segundo o sargento, “até o momento, nenhum projeto de lei tratou das questões que historicamente afligem estes profissionais, como questões atinentes a um piso nacional, mudanças nas carreiras, modernização nos arcaicos regulamentos disciplinares onde, por exemplo, policiais são punidos e presos por questões administrativas internas”.

Como Flávio justifica o projeto de lei Segundo o “suicídio por policial” proposto por Flávio Bolsonaro, “não há crime quando o agente policial ou de segurança pública previne ou repele injusta agressão a sua vida ou a de outrem, utilizando-se de força letal contra o agente que durante ou após o cometimento de infração penal, e impossibilitado de evadir-se, se recusa a negociar ou a se entregar, e demonstra comportamento de que aceita ou assume o risco de que a situação se resolva com sua própria morte”.

 

 

*Com informações do Uol

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Primeira delação de Leo Pinheiro foi rejeitada para não atrapalhar o impeachment

A delação de Léo Pinheiro, revelada hoje pela Folha-The Intercept ainda não chegou no essencial: as razões que levaram a Lava Jato a recusar a primeira tentativa de delação do empresário, em 2016.

Pelos documentos relevados pela Folha, a delação atingia diretamente José Serra e seus operadores – Aloysio Nunes, Sérgio Freitas e Márcio Fortes -, confirmando as suspeitas sobre a rejeição da delação anterior: poderia comprometer o movimento pelo impeachment.

Léo foi preso em junho de 2014. Em junho de 2016 sua delação foi recusada. Sabia-se que atingia diretamente lideranças do PSDB e aliados de Michel Temer. A maneira como se montou a desistência da delação é um dos episódios mais canhestros de toda a Lava Jato

Narramos esse episódio no “Xadrez de Toffoli e o fruto da árvore envenenada”. Foi vazada para a Veja um episódio irrelevante, e que sequer constava da delação. Léo Pinheiro teria dito que orientou uma reforma na casa do Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli. A reforma teria sido feita por terceiros e devidamente paga por Toffoli. Ou seja, não havia crime e, portanto, não deveria merecer matéria, muito menos de capa. Era mais uma “denúncia a favor”, como no episódio do grampo do Supremo.

Mas, com base nesse factoide, o Procurador Geral da República Rodrigo Janot decidiu cancelar a delação. Simples assim. Na mesma época, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima já mostrava desconforto com a delação da OAS, ao afirmar que a Lava Jato só aceitaria uma delação a mais de empreiteiras. Não fazia sentido. A delação depende do conteúdo a ser oferecido. O próprio juiz Sérgio Moro ordenou a suspensão do processo, sem explicar as razões.

Os vazamentos de agora mostram a extrema partidarização da Lava Jato.

A delação ocorria em pleno processo do impeachment. Foi em junho de 2016. A votação final do impeachment foi em 31 de agosto de 2016

Além de implicar notórios conspiradores – e Aloysio Nunes foi peça chave, inclusive correndo a Washington para pedir a bênção para o Partido Republicano, mal se consumou o impeachment -, não apresentava evidências contra Lula.

Certamente sua divulgação enfraqueceria substancialmente o movimento pelo impeachment. Esta foi a razão da grande armação acertada com Janot para impedir a delação.

 

 

*Por Luis Nassif

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Carluxo comanda o ‘gabinete do ódio’ que está por trás da divisão da família Bolsonaro

Quando o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) saiu de férias, em meados de julho, e viajou para a Bahia, auxiliares do presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto ficaram preocupados. A portas fechadas, no segundo andar daquele prédio erguido com colunas “leves como penas pousando no chão”, como gostava de comparar o arquiteto Oscar Niemeyer, um assessor chegou a dizer que, sem Flávio em Brasília, o “gabinete do ódio” ficaria incontrolável.

O comentário reflete a tensão que tomou conta do Planalto. No segundo governo de Dilma Rousseff, pouco antes do impeachment, em 2016, um pedaço daquela construção que abriga o centro do poder ficou conhecida como “Faixa de Gaza”, tamanha era a guerra de nervos entre a petista e seu então vice, Michel Temer. Agora, assessores de Bolsonaro batizaram o grupo responsável pelas mídias digitais do presidente como “gabinete do ódio”.

Nos bastidores, essa “repartição” é vista como responsável pelo afastamento cada vez maior entre Flávio – o primogênito – e seu irmão, o vereador licenciado Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), também conhecido como “Carluxo” ou “zero dois”. Considerado o “pit bull” da família, Carlos é o responsável por criar estratégias para as redes sociais do pai e sempre defendeu a tática do confronto para administrar, em oposição a Flávio, dono de estilo conciliador.

Na prática, mesmo quando não está em Brasília, Carluxo comanda o “núcleo ideológico”, emite opiniões polêmicas, chama a imprensa de “lixo” e lança provocações contra aliados do pai, como o vice-presidente Hamilton Mourão, tido por essa ala como “traidor”.

Segundo a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, “os três [filhos] são da confiança do vereador e também do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ) – o filho “zero três”, que Bolsonaro quer emplacar na Embaixada dos Estados Unidos –, mas Flávio tem horror a eles.”

A matéria ainda avança para a composição do ‘Gabinete do Ódio’: “com carta branca para entrar no Planalto, o assessor parlamentar Leonardo Rodrigues de Jesus, o Leo Índio, primo dos filhos de Bolsonaro, virou uma espécie de “espião voluntário” do governo. Léo Índio já produziu dossiês informais de “infiltrados e comunistas” nas estruturas federais, como revelou o Estado. O então ministro da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, comprou briga com Carlos e com ele. Foi demitido.”

 

 

*Com informações do DCM/247

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Lula: “Moro e Dallagnol são chefes de quadrilha e terão que responder por isso”

Em entrevista exclusiva à Fórum e ao Operamundi, Lula falou de temas recentes, como a confirmação de Michel Temer que houve um golpe para tirar Dilma Rousseff da presidência em 2016.

Em entrevista exclusiva ao editor da Fórum, Renato Rovai, e ao diretor de redação do Operamundi, Haroldo Ceravolo Sereza, nesta quarta-feira (18) na superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR), o ex-presidente Lula afirmou que o ex-juiz e atual ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, Sergio Moro, e o procurador, chefe da Lava Jato, Deltan Dallagnol, agem como chefes de quadrilha.

“Moro e Dallagnol são chefes de quadrilha e terão que responder por isso”, disse Lula, respondendo à pergunta de Rovai.

Segundo o editor da Fórum, Lula falou dos mais diversos assuntos na entrevista, inclusive de temas recentes, como a confirmação de Michel Temer que houve um golpe para tirar Dilma Rousseff (PT) da presidência em 2016.

A entrevista vai ao ar nesta quinta-feira (19) no canal da Fórum no Youtube. Os leitores que se cadastrarem neste link também receberão material exclusivo sobre a entrevista com Lula.

 

 

*Com informações da Forum

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Em cinco anos de Lava Jato, golpe e governo Bolsonaro, Desigualdade no Brasil dispara e pobreza chega a 23,3 milhões de pessoas

O Brasil vive o ciclo mais longo de aumento da desigualdade de sua história . Estudo do economista Marcelo Neri, diretor do FGV Social, mostra que a concentração de renda cresce no país há 17 trimestres, pouco mais de quatro anos.

A piora na desigualdade, segundo Neri, é resultado do aumento do desemprego no país, que ainda aflige 12 milhões de pessoas :

— O principal fator que influencia o aumento da desigualdade é o desemprego, que, embora apresente sinais de alguma recuperação, ainda é grande no país.

O economista pondera que, quando o desemprego aumenta, o mercado de trabalho tende a diferenciar ainda mais os trabalhadores de acordo com o grau de instrução. Os mais capacitados têm mais chance do que os de baixa escolaridade.

A desigualdade é medida pelo índice de Gini, que mostra a concentração de renda e varia de zero a 1. Quanto mais próximo de 1, mais desigual é a distribuição de renda. No Brasil, o indicador segue tendência de alta desde o quarto trimestre de 2014, quando estava em 0,6003, até o segundo trimestre deste ano, quando alcançou 0,6291.

A concentração de renda avançou no período que abrange os governos de Dilma Rousseff, Michel Temer e o primeiro semestre da gestão de Jair Bolsonaro.

Para João Saboia, professor do Instituto de Economia da UFRJ, a precariedade do mercado de trabalho é uma das causas que explicam o aumento da desigualdade no país.

— O que esses números mostram é a disparidade no mercado de trabalho. O índice de Gini abarca todas as fontes de renda, sejam elas formais ou informais. Sendo assim, inclui trabalhadores que têm renda irregular e os registrados, com salário fixo. O mercado ainda não consegue absorver o contingente de trabalhadores disponíveis. E, quando absorve, é de uma maneira muito desigual — explicou Saboia.

Impacto maior para jovens
De acordo com o estudo, nem mesmo em 1989, pico histórico de desigualdade brasileira, alimentada pela inflação galopante, houve um período de concentração de renda por tantos trimestres consecutivos.

Outro indicador do avanço da desigualdade no país é a análise do comportamento dos rendimentos do trabalho de acordo com a faixa de renda. No período de 2014 a 2019, a renda da metade mais pobre da população caiu, como antecipou o colunista do GLOBO Ancelmo Gois. A perda foi de 17,1%. No mesmo período, a renda da parcela que compreende o 1% mais rico avançou 10,11%.

O levantamento tem como base a renda do trabalho per capita familiar, ou seja, considera todos os trabalhos de todos os integrantes da família, divididos pelo número de pessoas do domicílio. O cálculo desconta a inflação do período.

Os mais pobres não foram os únicos que viram seu rendimento encolher no período. Os mais jovens, com idade de 20 a 24 anos, registraram queda de 17,7% no período. As pessoas sem instrução tiveram recuo de 15%.

— Uma das explicações para a queda na renda dos jovens é que eles não conseguem inserção no mercado de trabalho. Com a crise e as demissões de chefes de família, jovens passaram a procurar ainda mais emprego. Os resultados mostram que quem mais perdeu nesta crise foram as pessoas com pouca experiência ou com pouca instrução — destaca Neri.

Segundo o estudo, o desemprego foi o principal responsável pela queda no poder de compra das famílias.

“Desemprego é sinal de desajuste do mercado de trabalho e de frustração. A maioria dos ocupados passa a temer cair no desemprego, e, por precaução, reprime sua demanda por bens e serviços”, diz o o estudo.

23,3 milhões na pobreza
Além da disparidade crescente de renda entre os trabalhadores, o número de pobres no Brasil aumentou. De acordo com o levantamento, entre 2015 e 2017, a população pobre brasileira aumentou de 8,3% para 11,1% do total. Assim, este contingente representa uma parcela de 23,3 milhões de pobres no Brasil, pessoas que vivem com menos de R$ 233 por mês.

Em dois anos, o Brasil passou a ter mais 6,2 milhões de pobres. Uma das causas para esta situação de aumento da pobreza, ressalta o diretor do FGV Social, é a falta de expansão de programas sociais:

— Ao passo que o desemprego aumentou e mais pessoas perderam suas fontes de renda, as políticas públicas não conseguiram incorporar esse novo contingente de desassistidos. Um exemplo é o Bolsa Família. Foram feitas medidas para evitar fraudes e melhorar o cadastramento, mas a expansão do programa não foi suficiente para impedir o aumento significativo na pobreza do Brasil.

 

 

*Com informações de O Globo