Em entrevista à BBC, como exemplo das estratégias equivocadas do “hegemonismo petista”, Ciro Gomes disse que Marcia Tiburi teve um desempenho pífio nas eleições no Rio de Janeiro porque ela “faz apologia do cu na televisão”:
“Quantos votos teve a candidata a governadora do Rio de Janeiro nas eleições passadas? Você tem ideia? Rio de Janeiro é a maior concentração de artista por metro quadrado, intelectuais, engenheiros, do Brasil. É a sede da Globo, da ABI, enfim, de tudo o que é progressista. Sabe quantos porcento PT tirou lá? Dois por cento. Porque a Marcia Tiburi, que é uma figura respeitável, queridíssima e tal, faz apologia do cu na televisão. Eu tenho até vergonha de citar e isso não quer dizer que não haja uma grande interessante questão nesta tese da Marcia Tiburi, mas foi o que dominou o debate no Rio de Janeiro. Você quer uma governadora que faz apologia?”.
É esse tipo de “crítica [que] permite uma boa discussão sobre a viabilidade de um projeto nacional dentro de um modelo democrático brasileiro”? É isso um polemista nato? Para mim, Ciro de muito já não passa mais de um boquirroto amargurado que abriu mão de seu compromisso com a democracia. Agora parece querer disputar espaço com Olavo de Carvalho.
Na entrevista com Lula, Mino Carta afirmou que cultivou um “ódio sublime” de Haddad quando esse, numa entrevista cheia de cascas de banana para ele escorregar, elogiou a Lava Jato. Mas não me lembro dessa indignação quando Ciro diz que Lula não é um preso político, além de um caudilho latino-americano corrupto e traidor.
“Até quando eu vou ter que engolir em nome de uma pseudounidade que essa gente se aproprie o país, roube feito um condenado, se acostume com a vida e as frivolidades da burguesia? O que aconteceu com o Lula? O Lula se corrompeu. Desculpa, é doído dizer isso, mas o Lula se corrompeu. Ele virou sabe o quê? Um caudilho sul-americano. É o culto à personalidade. Toda a agenda do país agora é refém do egoísmo do Lula.” (leia a entrevista aqui).
Sei lá… Não entendo como jornalistas tarimbados, tão críticos com relação ao PT e sua direção, fechem os olhos para estes comportamentos nada dignificantes de Ciro Gomes. Sinceramente.
O que tem de revelador no artigo de Elio Gaspari, neste domingo (15) no Globo, intitulado, “Moro desculpou-se, mas não se arrependeu”, não são as trocas de mensagens da Lava Jato, pois como ele mesmo diz, a Folha já havia feito essa revelação.
O que Gaspari faz com perfeição é mostrar com detalhes as filigranas de uma operação moldada por Moro e os procuradores da Lava Jato para derrubar o governo Dilma.
O interessante é que esse artigo é publicado um dia depois da revelação assombrosa de Janaína Paschoal em seu twitter, quando confessa que Dilma sofreu um golpe, com uma única frase “alguém acha que a Dilma caiu por problema contábil?”.
Gaspari soube em seu artigo traduzir com precisão a manobra macabra que estava por trás daquele vazamento que Moro fez para a Globo da conversa entre a presidenta Dilma e Lula, que resultou no impedimento da posse de Lula como Ministro-chefe da Casa Civil e, seis meses depois, a derrubada de um governo legitimamente eleito nas urnas.
Mais do que valer a pena ler o artigo, ele indica um caminho. Na verdade, o caminho natural das coisas, buscar os efeitos concretos da Lava jato na fonte para se entender não só o golpe em Dilma, mas a prisão de Lula e como a Lava Jato mergulhou o país nessa coisa abominável que se chama governo Bolsonaro, da qual Moro é parte.
Quem esperaria posicionamento diferente diante do mais grave crime cometido pelo aparelho judiciário do Estado brasileiro?
Lógico que os valores, a democracia enviesada e todo o processo criminoso que levou Lula à cadeia, abandonando as leis para construir um conjunto de falácias que tirassem Lula da disputa à Presidência da República seria defendida pelo presidente do TRF-4, Victor Laus.
Seria realmente difícil nesse momento em que assistimos o desabamento de uma farsa como a Lava Jato que quem foi parte dela não se refugiasse em cinismo tão pernicioso quanto a trama armada entre Moro e o TRF-4 para alcançar os objetivos políticos almejados.
Ora, reina na opinião pública o que tanto Gilmar Mendes quanto Jânio de Freitas disseram hoje. Gilmar em entrevista e Jânio em sua coluna na Folha, que obrigatoriamente o Brasil precisará passar a limpo todas as mazelas produzidas por Moro e seu bando, declarações dadas a partir das revelações das mensagens vazadas pelo Intercept. Mas Victor Laus, comentando a série de vazamentos, diz que a justiça não pode se basear em material hackeado, ou seja, ele quer que tudo seja ignorado, mesmo que confrontado com a realidade apresentada pela Uol de que o pedido de desculpas de uma procuradora a Lula já bastaria para confirmar a autenticidade das mensagens.
Seu discurso, que é o mesmo de Dallagnol, Moro e Carlos Fernando, não poderia ser diferente, convenhamos, porque dentro dessa história toda o próprio desembargador é parte do crime, assim como os outros desembargadores que participaram do julgamento relâmpago de Lula.
Comove à distância qualquer sentido minimamente razoável a grotesca farsa da Lava Jato que se transformou em um golpe em Dilma e, depois, o golpe do golpe com a prisão de Lula.
Bastaria analisar a frase que tanto Moro quanto Dallagnol e Carlos Fernando dos Santos Lima traziam na ponta da língua, que Lula comandou o maior esquema de corrupção do planeta e compará-la aos benefícios chulés que acusam Lula de ter recebido tanto no caso do triplex do Guarujá quanto no caso do sítio de Atibaia, sem provas, para colocar um saco de risadas gritando na cara desses três cretinos.
O delito de Lula, segundo eles, era favorecer com bilhões de recursos públicos empresas que prestaram serviços à Petrobras e, em troca desses bilhões, Lula teria recebido a fortuna incalculável de um apartamentozinho merda com uma piscininha que sequer serve como aquário de guarú e uma reforma que o MTST escancarou que nunca existiu, um apartamento já provado que nunca esteve no seu nome e que nunca usou e que não há qualquer nota fiscal de penico em seu nome. E o sítio que sequer acusado de proprietário Lula é, mas de ter trocado um contrato bilionário na Petrobras por uma reformazinha de R$ 160 mil.
Cabe na cabeça de quem que essas duas somas ridículas se constituiriam no maior esquema de corrupção do mundo comandado por Lula? Nem o mais estúpido, o mais palerma, o mais abestalhado ser humano cairia num conto tão grotesco, num enredo tão medíocre, numa falácia tão porca como a que os procuradores e juiz envolvidos no caso de Lula defendem como se verdade fosse. E fizeram isso porque acreditavam piamente que bastaria essa frase ser repetida milhões de vezes nos holofotes da Globo que a fatura estaria liquidada, como se o Brasil fosse um país formado não por cidadãos, mas por zumbis que não conseguem juntar lé com cré.
Basta isso, esse raciocínio primitivo semibárbaro de tão medieval para, imediatamente, desnudar todos os vigaristas envolvidos na farsa da Lava Jato e prendê-los por flagrante delito, porque tudo, absolutamente tudo do que eles acusaram Lula e o mantém preso há 1 ano e meio, está aí vivo, registrado, filmado, fora o que o Glenn Greenwald vem denunciando, em parceria com vários veículos de mídia, à luz do sol sobre a trama clandestina dos procuradores e policiais federais que eram fantoches que seguiam as ordens do Moro.
E, diante de um crime tão dantescamente primário praticado por agentes públicos tão ricamente remunerados com o suor do trabalhador brasileiro que, na maioria dos casos, passará a vida inteira sem conseguir ganhar o que eles ganham e apenas alguns meses de trabalho, a única saída para as três instituições, MP, PF e judiciário, é imediatamente libertar Lula, pedir-lhe perdão publicamente e encarcerar todos os envolvidos com a Força-tarefa da Lava Jato que tinham ciência de que tudo não passou de uma grande mentira, de um grande crime em busca de um ambicionado poder político que levasse essa corja ao poder executivo.
É até razoável que se pense assim, afinal de contas, com o auxílio dessa mesma quadrilha da Lava Jato, a milícia chegou ao poder de mãos dadas com os militares sob o comando de Bolsonaro.
Então, o que temos aí é isso, a desmoralização total das instituições de controle no Brasil que, primeiro, trataram a instituição Presidência da República como uma coisa qualquer que podia ser chutada por qualquer um e, depois, a própria constituição que, junto com o golpe em Dilma, foi alvo de vandalismo da Lava Jato na prisão de Lula.
Ou se pune exemplarmente esses marginais ou o Brasil seguirá sendo visto cada vez mais como uma republiqueta de fundo de quintal, aonde a insegurança jurídica é a sua principal característica, e a corrupção dos próprios agentes do Estado é a marca d’água da moeda brasileira.
O ministro ainda lembrou: “quem defendia o uso de prova ilícita até ontem eram os lavajatistas. Nas dez medidas [de combate à corrupção], estava lá que a prova ilícita de boa-fé deveria ser utilizada”.
No dia seguinte da abertura da CPI da Lava Jato, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, deu entrevista ao UOL, com diversas declarações importantes sobre a Lava Jato, que pode dar um vislumbre de como votará nos processos que devem nortear o destino da operação da República de Curitiba. Na entrevista, Mendes de mostrou contrário à CPI da Lava Toga, por ser considerada inconstitucional, já que seria um ingerência de um poder da República sobre outro. Segundo ele, certamente cairia no STF.
Com relação a Moro, Deltan Dallagnol e as denúncias do The Intercept, Mendes advertiu: “as pessoas percebem que esse promotor não está atuando de maneira devida. Esse juiz não está atuando de maneira devida. Se nós viermos a anular ou não esses julgamentos, o juízo que está se formando é o de que não é assim que a Justiça deve funcionar. Que isso é errado, que essas pessoas estavam usando as funções para outra coisa. Isso ficou cada vez mais evidente”, concluiu.
“Nós aprendemos, vendo esse submundo, o que é que eles faziam. Delações submetidas a contingência, ironizavam as pessoas, perseguiam os familiares para obter o resultado em relação ao verdadeiro investigado, tudo isso que nada tem a ver com o Estado de Direito. Vamos imaginar que essa gente estivesse no poder Executivo, o que que eles fariam? Certamente fechariam o Congresso, fechariam o Supremo”, afirmou Mendes.
Para Mendes, “devemos estar atentos e, a cada sinal, especialmente partindo de pessoas com responsabilidade institucional, devemos criticar ou mesmo reprimir. Clamar pela restauração do regime militar é um crime contra a democracia, contra a segurança nacional”.
Ao admitir o uso de provas ilícitas, se referindo às revelações do The Intercept, o ministro lembrou: “quem defendia o uso de prova ilícita até ontem eram os lavajatistas. Nas dez medidas [de combate à corrupção], estava lá que a prova ilícita de boa-fé deveria ser utilizada”, encerrou.
Hasselmann apoiou CPIs para investigar o Mais Médicos, a União Nacional do Estudantes (UNE) e a Comissão Nacional da Verdade (CNV). Agora foge.
A deputada federal, Joice Hasselmann (PSL-SP), que iniciou o seu primeiro mandato, em janeiro deste ano, estabelecendo como estratégia a criação de várias CPIs, apareceu neste sábado (14), no Twitter, querendo enterrar a CPI da Lava Jato. Segundo ela, deputados “assinaram a CPI da Lava Jato sem saber do que se tratava”, o que provocou críticas e ironias dos internautas.
Mtos deputados alegam q foram enganados, q assinaram a CPI da Lava Jato sem saber do q se tratava. Estou com minha equipe da Liderança do Gov no Congresso buscando medidas regimentais e jurídicas p/ enterrar essa aberração q quer transformar o mocinho em bandido. Sempre @SF_Moro
“Muitos deputados alegam que foram enganados, que assinaram a CPI da Lava Jato sem saber do que se tratava. Estou com minha equipe da Liderança do Governo no Congresso buscando medidas regimentais e jurídicas para enterrar essa aberração que quer transformar o mocinho em bandido. Sempre Moro.”
Sete CPIs
É sempre bom lembrar que, no início do seu mandato, Hasselmann propôs a criação de várias CPIs para, segundo ela, “deixar o PT de fora”. “O PSL vai apresentar as primeiras CPIs, é uma estratégia para deixar o PT de fora e não deixar eles ficarem enchendo a nossa paciência e a paciência do governo nos próximos anos. Serão sete CPIs ao todo”, afirmou.
Entre os assuntos que Joice e seu partido tentavam em vão investigar estavam o Mais Médicos, programa do governo Dilma Rousseff, a União Nacional do Estudantes (UNE), organização estudantil ligada a partidos como o PCdoB, e também a Comissão Nacional da Verdade (CNV), que investigou as violações cometidas por militares e agentes do Estado durante a ditadura militar.
Se a segunda instância atender ao pedido da defesa do filho do presidente, medida abre caminho para que todas as decisões tomadas pela Vara sejam anuladas.
O filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PSL), já obteve uma vitória no processo do caso Queiroz. O Ministério Público do Rio deu um parecer favorável a um pedido de Flavio para declarar o juiz da 27ª Vara Criminal incompetente para julgar o caso. A medida abre caminho para que todas as decisões tomadas pela Vara sejam anuladas.
Isso porque o MP do Rio concordou com o pedido de Flavio Bolsonaro para declarar Flávio Itabaiana incompetente no processo que envolve o ex-assessor do atual senador e mais 94 pessoas físicas e jurídicas investigadas pela Vara Criminal. O magistrado, por exemplo, foi quem autorizou a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Flavio Bolsonaro.
Se a segunda instância atender ao pedido da defesa do filho do presidente, que agora conta com parecer favorável dos procuradores do Rio, a quebra do sigilo e outras determinações e avanços já feitos na investigação podem ser anulados.
A informação divulgada pelo jornal O Dia, deste sábado, é que o MP entendeu que como Flavio Bolsonaro era deputado estadual no período em que os supostos crimes foram cometidos, ele deveria ser julgado por Órgão Especial, e não pela primeira instância.
Entendimento recente do Supremo Tribunal Federal (STF), entretanto, contradiz essa defesa do MP e estabelece que caso o cargo político ocupado no período do suposto delito não seja o mesmo atualmente, a primeira instância pode julgar os crimes. Ainda assim, o parecer dos procuradores mostra uma vitória ao filho do presidente do caso Queiroz.
Ministro, que quando juiz liberou grampo ilegal de uma presidenta e um ex-presidente para Globo, agora critica reportagem sobre curso de coach.
O ex-juiz e atual Ministro da Justiça, Sérgio Moro, usou seu perfil no Twitter para criticar a imprensa e defender a família Bolsonaro neste sábado (14). A postagem foi feita para comentar a matéria da revista Época sobre o curso de coach oferecido por Heloísa Bolsonaro, esposa de Eduardo Bolsonaro, filho mais novo do presidente.
A reportagem, feita pelo jornalista João Paulo Saconi, dá detalhes sobre um mês de sessões de coaching online sobre autoconhecimento feitos com Heloísa. Citando Olavo de Carvalho e outros nomes amados pela direita, Heloísa apresenta Eduardo como um de seus “cases de sucesso”.
Moro se denominou como um “grande defensor da liberdade de expressão e da imprensa” antes de criticar a reportagem. Em seu Twitter, ele disse que a matéria “ultrapassou certos limites éticos” e prestou “solidariedade” para Eduardo e Heloísa Bolsonaro.
A postagem foi em resposta a um tweet de General Heleno, o qual dizia: “Matéria da Época com esposa do Dep Eduardo Bolsonaro é exemplo vivo da desonestidade intelectual de parte da mídia. Meu apoio ao casal. Esse repórter e seus chefes coniventes deveriam rever os conceitos de ética e dignidade profissional.”
Sou um grande defensor da liberdade de expressão e de imprensa, fundamentais para a democracia, mas a matéria em questão realmente ultrapassou certos limites éticos. Minha solidariedade ao Deputado Eduardo Bolsonaro e a sua esposa. https://t.co/daSQ5zS386
Quando ainda atuava como juiz, Moro divulgou áudios da então presidenta Dilma e do ex-presidente Lula obtidos com grampo ilegal. O vazamento foi realizado para a TV Globo em 2016.
Início da comissão mostra presidente da CPI com mão de ferro e tem convocação do WhatsApp.
O vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSL), ghost writer do pai presidente nas redes sociais, está na mira da CPI das Fake News, a investigação parlamentar da rede de mentiras via web. A convocação dele para depor está sendo preparada discretamente pela relatora da CPI, a deputada baiana Lídice da Mata (PSB), com congressistas da oposição ao governo.
Convocar, e não convidar, deverá ser uma regra na comissão, conforme acerto feito na primeira reunião da CPI, em 10 de setembro. Foi uma sugestão do senador por Sergipe Alessandro Vieira, do ex-PPS. Delegado de polícia, ele disse que sua experiência profissional sugere que convidar depoentes não adianta.
Ele fez a observação quando a comissão discutia se convocaria representantes no Brasil das empresas WhatsApp, Facebook, Instagram, Google, Youtube e Twitter. A convocação foi proposta pela deputada Luizianne Lins, PT do Ceará. E foi aprovada. A petista quer saber das empresas como são feitos, e quem paga, disparos maciços de conteúdo.
Numa demonstração do apuro que o governismo sente na CPI, Flavio Bolsonaro, o irmão senador de Carlos, quis proteger o WhatsApp da convocação. Claro: a campanha de seu pai deitou e rolou nessa rede social na eleição de 2018, na opinião de Lídice da Mata, que diz: “Não tenho dúvida de que a eleição brasileira foi muito influenciada por fake news. Como é que nasceu o kit gay?”.
Flavio é da CPI. Outros membros do PSL, o partido bolsonarista, são os deputados Filipe Barros (PR), Caroline de Toni (SC) e Carla Zambelli (SP). A bancada pesselista tentou impedir a votação das convocações dos representantes das empresas de rede sociais, mas foi atropelada pelo presidente da comissão, o senador Ângelo Coronel, do PSD da Bahia.
O senador tem de fato “coronel” no nome, mas sua postura na primeira reunião pareceu a de alguém com tal “patente”. Foi linha mais do que dura e inquietou gente interessada em que a CPI “pegue” Jair Bolsonaro: será que Ângelo foi uma boa escolha para presidir a comissão? Se insistir em agir com mão muito pesada, suas decisões serão passíveis de anulação judicial ou congressual.
Ângelo requereu o apoio à CPI de um delegado e de um agente da Polícia Federal. Também esteve com a presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Rosa Weber, e recebeu um resumo do grupo de trabalho que o TSE montou sobre fake news em 2018. As atas das reuniões do grupo foram tachadas de secretas por cinco anos e só virão a público em 2023, decisão do antecessor de Rosa, Luiz Fux.
No TSE há quatro ações de cassação da chapa presidencial eleita em 2018, Jair Bolsonaro-Hamilton Mourão, movidas pelos advogados de Fernando Haddad. Duas tratam de algum modo de notícias mentirosas e podem ser abastecidas por descobertas da CPI. Um dia após a primeira reunião da CPI, alguns membros da comissão foram buscar informações sobre as ações com os advogados petistas.
Membro da CPI e um dos vice-líderes do governo no Senado, Eduardo Gomes, do MDB do Tocantins, deu uns conselhos à bancada do PSL no dia da primeira reunião da comissão. Carta Capital testemunhou: mais do que brigar a cada votação na comissão, o bolsonarismo deveria tentar enquadrar Ângelo Coronel via PSD, partido meio governista, e tentar derrubar a CPI na Justiça.
Felipe Barros já havia tentado, em vão, um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a instalação da CPI. O juiz Ricardo Lewandowski negou a liminar no início de agosto. O próprio Eduardo Gomes tinha tentado coisa parecida perante o presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre, do DEM do Amapá, igualmente sem sucesso.
Um romance policial diria que o personagem principal estava no local do fato quando tudo aconteceu. O mesmo pode ser dito do protagonista do “ItaipuGate” no “Dia D” da trama: no 11 de abril, a data-chave do escândalo que envolve os governos de Brasil e Paraguai, o Major Olímpio, senador pelo PSL-SP, estava em Assunção. É o que mostram os documentos obtidos pela reportagem através da Lei de Acesso à Informação.
No citado 11 de abril, o “Dia D” de todo o “ItaipuGate”, foi realizada na capital paraguaia a reunião que definiu o novo modelo de negócio para o acordo bilateral de compra de energia entre os dois governos. Onde se definiu o que viria a se transformar em um escândalo conjunto envolvendo os dois governos e cujo potencial de danos ainda não pode ser totalmente medido.
No novo modelo de acordo bilateral que a reunião do dia 11 de abril envolvendo os dois países consolidou, foi retirada uma cláusula que proibia o Brasil de comprar energia excedente da empresa paraguaia na hidrelétrica de Itaipu por preço subsidiado para revender aqui por preço de mercado, muito mais alto e tendo lucros exorbitantes, em acordo que lesava o Paraguai e beneficiava uma empresa.
A empresa beneficiada é a Leros, dos empresários Kléber Ferreira da Silva e Adriano Tadeu Deguirmendjian. Uma série de reportagens de autoria de Mabel Rehnfeldt, do jornal paraguaio ABC, mostrou que a dupla tinha por trás deles Alexandre Giordano, filiado ao PSL e suplente do senador Major Olímpio, do PSL-SP.
O Major Olímpio é muito próximo a Jair Bolsonaro e família. Foi presidente do PSL paulista e também coordenador da campanha presidencial. De acordo com documentos obtidos pelas reportagens do ABC, os empresários brasileiros que sairiam com vantagem no negócio se apresentavam nas negociações como representantes da família Bolsonaro. Até aqui o Major Olímpio negou qualquer proximidade com o episódio.
A presença do Major Olímpio no Paraguai no dia da reunião que selou o modelo de negócio beneficiando a empresa brasileira está citada no relatório do então embaixador do Brasil no Paraguai, Carlos Alberto Simas Magalhães, escrito em 29 de março último, quando relata a viagem marcada do senador Major Olímpio para Assunção no período de 10 a 12 de abril. A reportagem confirmou com o Ministério das Relações Exteriores brasileiro que a ida do senador ocorreu, e forneceu a agenda nos dias 11 e 12 de abril, como está no “outro lado”, ao fim desta reportagem, sem mencionar qualquer reunião sobre Itaipu. O Itamaraty só pode confirmar a agenda oficial do senador no Paraguai.
A Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo tentou contato com o Major Olímpio através de sua assessoria no senado para saber se, além da programação oficial, teve algum encontro com participantes da reunião do dia 11 de abril em Assunção onde se definiram os rumos do acordo bilateral. Sem resposta até aqui.
O elo entre o acordo beneficiando a empresa brasileira, o PSL do Major Olímpio e a participação de seu suplente Alexandre Giordano foi revelado por Joselo Rodriguez, assessor do vice-presidente paraguaio Hugo Velásquez. Em mensagens obtidas pela reportagem do ABC Jornal, a estatal de energia do país vizinho foi pressionada pelos brasileiros que diziam representar a família presidencial brasileira. O interlocutor do lado de cá era Alexandre Giordano.
Na véspera da decisiva reunião de 11 de abril, data em que o Major Olímpio estava no Paraguai, o representante da Léros também foi ao país. No dia 9 de abril, em voo privado, o suplente de senador do PSL, Alexandre Giordano lá esteve, acompanhado de Adriano Tadeu Deguirmendijian, sócio da Léros.
CRONOLOGIA:
6 de abril de 2018: Alexandre Giordano se filia ao PSL
7 de abril de 2018: encerra o prazo de filiações para a eleição
16 de abril de 2018: Os registros da Junta Comercial de SP apontam a saída de Giordano da empresa “Enfermade”
16 de abril de 2018: No mesmo dia, o filho de Giordano, Lucca, de apenas 17 anos, aparece como único sócio
3 de outubro de 2018: os sócios do Grupo Léros abrem uma offshore no paraíso fiscal do Panamá
7 de outubro de 2018: o Major Olímpio é eleito senador por São Paulo e Alexandre Giordano fica com a suplência
28 de outubro de 2018: Jair Bolsonaro (PSL) ganha a eleição presidencial
12 de março de 2019: Jair Bolsonaro se encontra com o presidente paraguaio Mario Abdo Benitez para discutirem a revisão do “Acordo Bilateral” entre os dois países. O Brasil pressiona para que cláusula que impede a venda de energia para uma empresa privada brasileira a preço de custo seja retirada. Para essa empresa depois revender a preço de mercado no Brasil.
9 de abril de 2019: em voo privado, o suplente de senador do PSL, Alexandre Luiz Giordano chega ao Paraguai acompanhado de Adriano Tadeu Deguirmendijian, sócio da Léros e mais dois
11 de abril de 2019: Dia D: data da reunião que definiu os termos do Acordo Bilateral. O Major Olímpio estava no Paraguai.
10 de maio de 2019: exatas duas semanas antes da assinatura do Acordo Bilateral, Alexandre Luiz Giordano (PSL) se encontra na Tríplice Fronteira com Pedro Ferreira (então presidente da ANDE, a estatal de energia paraguaia) e com Joselo Rodriguez (asessor jurídico do vice-presidente Hugo Velásquez)
24 de maio de 2019: O Acordo Bilateral é assinado pelos dois presidentes
25 de junho de 2019: Nova viagem em voo fretado de Alexandre Giordano junto com Adriano Tadeu Deguirmendijan, da Léros, para encontrar os representantes paraguaios
24 de julho de 2019: Pedro Ferreira, presidente da Administração Nacional de Eletricidade (Ande, a estatal paraguaia do setor), renuncia por discordar dos termos e se recusar a assinar acordo
27 de julho de 2019: O Grupo Léros oficializa em documento proposta de compra de energia ao governo paraguaio:
29 de julho de 2019: outras autoridades paraguaias ligadas ao “Itaipu Gate” renunciam
31 de julho de 2019: os partidos de oposição anunciam o pedido de impeachment do presidente paraguaio.
1º de agosto: para escapar do impeachment, o presidente do Paraguai anula o acordo. Contrariando o que deveria se esperar do chefe de estado brasileiro diante de decisão unilateral prejudicial ao país, Bolsonaro aceita a anulação
Reportagem da Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo publicada no último dia 15 de agosto mostrou que Giordano e os sócios da Léros, Kléber Ferreira e Adriano Tadeu Deguirmendijian realizaram movimentações societárias em épocas próximas e sempre paralelas ao calendário eleitoral.
Alexandre Giordano se desincompatibilizou da participação em uma empresa que tinha entre as atividades registradas na Receita Federal o “comércio atacadista de energia elétrica”. A retirada do nome na sociedade ocorre em 16 de abril de 2018, dez dias depois da filiação no PSL, onde viria a ocupar o lugar em que segue, suplente de senador do Major Olímpio(PSL-SP). A filiação é feita na véspera do 7 de abril, último dia permitido no pleito que passou. No lugar de Alexandre Giordano na “Enfermade Empresa Brasileira de Bioenergia” ficou como único sócio o filho Lucca Giordano, então com 17 anos, emancipado pelo pai em registro no cartório. O endereço da empresa é o mesmo do diretório do PSL na capital paulista.
As outras peças fundamentais na engrenagem do “Itaipu Gate” são os empresários Kléber Ferreira da Silva e Adriano Tadeu Deguirmendjian, sócios do Grupo Léros, que comercializa energia. Teoricamente, seriam concorrentes do negócio do qual Alexandre Giordano se retirou e deixou o filho. Mas estão inseparavelmente unidos na empreitada paraguaia.
A reportagem de 15 de agosto revelou ainda que os sócios da Léros abriram offshore no Panamá faltando 4 dias antes do primeiro turno de 2018, quando o Major Olímpio foi eleito senador por São Paulo e carregou na primeira suplência Alexandre Giordano.
Outro lado:
Ministério das Relações Exteriores:
“Na viagem que o Senador Major Olímpio fez a Assunção nos dias 11 e 12 de abril, o parlamentar reuniu-se com o ministro da Justiça do Paraguai, Julio Javier Ríos, com quem tratou da cooperação paraguaio-brasileira em temas penitenciários. Participou, ainda, do “Encontro de católicos com responsabilidades políticas a serviço dos povos latino-americanos” e assistiu a cerimônia em homenagem ao Dia do Exército Brasileiro, realizada no Centro Cultural da Embaixada. A embaixada do Brasil em Assunção acompanhou o parlamentar em sua programação oficial”.
Major Olímpio: A reportagem enviou questões para o Major Olímpio através do gabinete do senador mas não obteve resposta. Caso sejam enviadas, serão aqui publicadas.