Categorias
Uncategorized

Elio Gaspari: A covardia do governo Bolsonaro com os desempregados

Um país em que o banqueiro do Itaú diz que é salutar para a economia ter mais de 12 milhões de desempregados e um número sem fim de trabalhadores que vivem sem bico, dizendo que, por conta disso, nunca teve tanta esperança no país, ver Elio Gaspari, um dos queridinhos dos neoliberais nativos ridicularizar Paulo Guedes por sua brilhante ideia de proteger os milionários e taxar os desempregados para criar empregos, realmente não tem preço.

“Tinha razão o poeta Augusto dos Anjos, “a mão que afaga é a mesma que apedreja”, mas Paulo Guedes afaga para cima e apedreja para baixo

O doutor Paulo Guedes garantiu a sua presença nos anais da ciência econômica: propôs a taxação dos desempregados para financiar um programa de estímulo ao emprego. Não se conhece iniciativa igual no mundo, nos séculos afora.

Pela proposta da ekipekonômica, os brasileiros que recebem o seguro-desemprego, que vai de R$ 998 a R$ 1.735, pagarão de R$ 75 a R$ 130 como contribuição previdenciária. O sujeito perdeu o emprego, não tem outra renda, pede o benefício, que dura até cinco meses, e querem mordê-lo em 7,5% do que é pouco mais que uma esmola.

Se isso fosse pouco, no mesmo pacote a ekipekonômika desonerou os empregadores que aderirem ao programa do pagamento de sua cota previdenciária de 20%. Tinha razão o poeta Augusto dos Anjos, “a mão que afaga é a mesma que apedreja”, mas o doutor Paulo Guedes afaga para cima e apedreja para baixo.

Tomar dinheiro dos miseráveis era coisa comum no tempo da escravidão. Em 1734, para combater “a ociosidade dos negros forros e dos vadios em geral” a Coroa cobrava quatro oitavas de ouro a cada bípede livre que vivia na região das minas. Em 1835 a Assembleia da Bahia tomava dez mil réis de todos os negros libertos nascidos na África. Esse imposto rendia um bom dinheiro, algo como 7,6% do orçamento da província. Eram tungas de outra época.

No século XXI, a ekipekonômica de Guedes quer arrecadar R$ 11 bilhões em cinco anos com argumentos mais refinados e cosmopolitas. Como o programa de estímulo ao emprego (e à propaganda oficial) gera despesa, deve-se indicar uma fonte de receita para custeá-lo. Sob o céu de anil deste grande Brasil, os doutores miraram no bolso dos desempregados que conseguem acesso ao seguro, um benefício restrito aos trabalhadores do mercado formal. Em julho, 11,7 milhões de pessoas trabalhavam sem carteira assinada.

O argumento dos doutores pode ser uma girafa social, mas parece matematicamente correto. É intelectualmente desonesto porque o programa de estímulo ao emprego dos jovens durará só até 2022, enquanto a tunga do seguro dos desempregados ficará para sempre.

Há três semanas, neste espaço, Eremildo, o Idiota, propôs que, junto com a discussão do fim dos incentivos à energia solar, se pensasse também na cobrança de um imposto aos desempregados, pois eles usam os serviços públicos e não contribuem para a caixa da Viúva.

Eremildo é um cretino assumido e se orgulha disso.”

Categorias
Uncategorized

Pesquisa revela que, com Lula livre, cresce a imagem negativa de Bolsonaro e Moro

A libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve um efeito positivo para sua imagem. A rejeição à sua prisão subiu, segundo pesquisa da consultoria Atlas, feita na Internet entre os dias 10 e 11 de novembro — dois dias após sua soltura — com 2.000 pessoas de todas as regiões do Brasil. Na comparação com o levantamento feito em julho, houve uma alta de sete pontos percentuais no índice de rejeição ao cárcere do ex-presidente, que passou de 37,4%% para 44,4%, respectivamente. Ao mesmo tempo, a percepção da imagem de Lula melhorou. Na pergunta “Você tem uma imagem positiva ou negativa de Lula”, 40,7% pontuaram como positiva, enquanto que em agosto o índice era de 34%. Ainda assim, uma maioria de 53% ainda possui uma imagem negativa do líder petista.

Ainda sobre a condenação que levou Lula à cadeia por 580 dias, a pesquisa mostra alguns resultados aparentemente contraditórios. Enquanto 47,8% se mostram a favor de sua prisão e 44,4% contra, 52,2% dizem que ela foi justa, ao passo que 42,3% acreditam que foi injusta. “Isso sugere que uma parcela chave da população considera que Lula já pagou o suficiente pelos erros que consideram tê-lo levado a sua condenação”, explica o cientista político Andrei Roman, fundador da Atlas. Roman observa que esse grupo se mostra “disposto a perdoar” o líder petista.

O Atlas traz ainda mostra que a maioria dos entrevistados, ou 56,5%, rejeita a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que derrubou na última quinta-feira a execução de uma pena condenatória logo após o julgamento em segunda instância e que resultou, no dia seguinte, na soltura do ex-presidente e outros condenados da Operação Lava Jato. Apenas 29,4% se disseram a favor, enquanto que 14,1% não souberam opinar. Isso indica uma discrepância entre a rejeição da decisão do STF e a rejeição à prisão do ex-presidente. Roman opina que “boa parte dos eleitores do Lula esperaria que o STF fosse decidir por sua inocência, ao invés de adotar essa solução, que essencialmente deixa o petista refém no futuro, e faz dele um bode expiatório para a libertação de outros personagens, muitos deles bem controversos”.

Porém, o cientista político não sabe dizer se esse assunto abordado pelo Supremo e toda sua natureza complexa ficou articulada com tanta clareza na cabeça do eleitorado lulista. “De qualquer forma, a dinâmica do STF dos últimos anos foi de muitas contradições em relação a sua própria jurisprudência. Apesar de guiado muito pela opinião pública, as reviravoltas e a fragmentação da Corte deixou ela bastante desacreditada, tanto com os eleitores mais à esquerda, como mais à direita. A população enxerga essas contradições como oportunismo ou briga pelo poder, o que talvez explique por que a decisão não tem um apoio popular semelhante à rejeição da prisão de Lula”, argumenta.

Popularidade de Moro e Bolsonaro

A pesquisa Atlas também mediu a popularidade do Governo Bolsonaro. As percepções pouco mudaram e se moveram dentro da margem de erro desde agosto, mês da última pesquisa. O índice de eleitores que acha a gestão ruim ou péssima subiu de 39,8% para 42,1%. Já a taxa daqueles que acreditam que o Executivo é ótimo ou bom caiu de 28,2% para 27,4%. Os que opinam que o desempenho do ultradireitista é regular passaram de 28,7% para 29,6% dos entrevistados.

Ainda assim, a imagem de Moro e Bolsonaro continuam ligeiramente melhores que a de Lula: 40,7% dos entrevistados enxergam o petista de maneira positiva, enquanto que 53% o veem de forma negativa. Com Bolsonaro, as taxas ficam em 42,6% (positiva) e 51,6% (negativa). Os melhores números são para o ex-juiz da Lava Jato: 48,4% (positiva) e 45,6% (negativa). Porém, a Atlas destaca que é a primeira vez que a aprovação pessoal do ministro da Justiça se encontra abaixo dos 50%. Ele já havia perdido 10 pontos de apoio — de 60% para 50,4% — logo após a série de reportagens sobre a Lava Jato do site The Intercept Brasil.

Atrás de Moro, Bolsonaro e Lula estão, nesta ordem, o ministro da Economia Paulo Guedes, o ex-prefeito Fernando Haddad, o ex-candidato Ciro Gomes (PDT), o apresentador Luciano Huck, o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) e, por último, o governador de São Paulo João Doria (PSDB). A rejeição a Doria tem avançado de modo acentuado. Em julho 42,5% diziam ter imagem negativa dele, índice que chegou aos 62% em novembro. “O centro sofre muito por conta da polarização, e qualquer candidato de centro que consiga chegar num segundo turno ganha a eleição. Mas chegar lá é quase impossível. É a história de Geraldo Alckmin ou Marina Silva nas eleições passadas no Brasil”, explica Roman.

O especialista ainda enxerga a possibilidade de que tanto Lula como Bolsonaro façam sinais em direção ao eleitorado mais indeciso e de centro. “No momento em que Lula consiga se posicionar como candidato com chances efetivas para ganhar, isso deveria servir como um incentivo de moderação para Bolsonaro, na busca do centro político”, argumenta. “Por outro lado, Bolsonaro nunca foi um político tradicional que atua de forma estratégica para construir o seu eleitorado. É disso que veio também sua aparente autenticidade, algo que acabou se transformando em sua maior fortaleza”, pondera.

Uma variável que ele acredita ser bastante importante é o desempenho da economia sob Bolsonaro. Não à toa o ex-presidente vem mirando suas críticas contra o ministro Paulo Guedes, por entender que o desapontamento com a situação econômica pode mudar a equação política. “Ninguém ilustrou isso melhor que Dilma Rousseff. A expectativa de Lula é que a economia não irá decolar e que isso irá afundar um governo Bolsonaro já bastante enfraquecido”, explica Roman. Ele ainda opina que pode-se esperar bastante moderação do petista. “‘Lula paz e amor’ foi uma fórmula que virou quase hegemônica. Certamente o ex-presidente entende isso e buscará isso. A tentativa de reconciliação com Ciro Gomes e os braços abertos para Marcelo Freixo e o PSOL são os primeiros exemplos”, completa.
Cenários para as eleições

Apesar da melhora significativa na imagem de Lula, 53,5% dos entrevistados não votariam no petista em umas eleições presidenciais, contra 43,3% com possibilidades de votar no petista. Deste total, 34% dizem que votariam “com certeza” no ex-presidente, o que indica a fidelização de parte significativa do eleitorado — o suficiente para levá-lo a um segundo turno. Além disso, 46,4% dos entrevistados acreditam que o petista venceria as eleições, enquanto que 45,8% disseram não acreditar em sua vitória.

Em dados concretos: 45,6% votariam no atual mandatário, de extrema direita; 41,3% votariam em alguém apoiado pelo petista; e 13,1% não sabem dizer, anulariam ou votariam em branco. Seguindo a mesma tendência, 47,6% votariam em Moro; 40,2% escolheriam o candidato de Lula; 12,2% não sabem dizer, anulariam ou votariam em branco. No entanto, o questionário da Atlas não considerou como cenário uma candidatura de Lula — que seria possível caso suas condenações sejam anuladas — e sua ida para o segundo turno. Ou seja, não foi possível saber qual seria o desempenho do próprio ex-presidente contra Bolsonaro e Moro.

Roman aponta para a contradição com os dados do Datafolha de 2 de setembro. Na ocasião, ainda que a imagem do ex-presidente Lula estivesse pior, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad venceria com 42% dos votos em um segundo turno contra Bolsonaro, que ficaria com 36%. Outros 18% votariam nulo ou branco e 4% não souberam responder, ainda segundo o instituto — que escutou 2.878 pessoas acima de 16 anos em 175 municípios do país nos dias 29 e 30 de agosto.

O cientista político pondera que muita coisa pode acontecer até 2022, de modo que há possibilidades de que o cenário sofra mais alterações. Foi o que aconteceu recentemente na Argentina. “Uma ampla maioria da opinião pública era cristalizada contra Cristina Kirchner. Até hoje existe uma maioria a favor de sua prisão. Mesmo assim ela conseguiu eleger-se e eleger o próximo presidente”, explica. “No Brasil, como em tantas outras democracias, estamos vendo uma intensificação muito forte da polarização. Isso faz com que a rejeição de uma figura seja relativizada pela intensidade da rejeição de outra figura. Lula pode não ter uma maioria natural para eleger-se ou eleger o seu candidato. Mas contra o Bolsonaro, isso pode ficar viável”. E vice-versa.
Apoio a ditadura

A Atlas também mediu a opinião do eleitorado em outros assuntos. Por exemplo, 74,7% se dizem contrários a uma ditadura, enquanto que 14% são favoráveis e 11,3% não souberam opinar. Além disso, 52,1% acreditam que a corrupção está aumentando. Nesta mesma linha, 56,6% sentem que a criminalidade também está subindo, apesar de os dados de 2018 e deste ano indicarem o contrário. A pesquisa da Atlas Político foi feita online entre os dias 10 e 11 de novembro com 2.000 pessoas de todas as regiões do país. A margem de erro é de 2% e o índice de confiança é de 95%.

 

 

*Do El País

 

 

Categorias
Uncategorized

Um dia após Paulo Guedes dizer que ‘rico capitaliza e pobre consome tudo’, grande mídia cai de amores por ele

Tudo muito antigo, tudo muito atual.

A proposta básica de Paulo Guedes de culpar o pobre por sua pobreza e de enaltecer o rico por sua riqueza, existe desde o Brasil colônia, antes mesmo de se falar em república. Não seria diferente no Brasil milícia.

Guedes deixou um recado claro, que não quer saber de oportunidade de promoção social aos mais pobres, porque o miserável, o pobre é um gastador. E se assim não fosse, seria tão próspero quanto um banqueiro que cobra 500 % no cartão de crédito e 600% no especial e coloca na inadimplência aproximadamente 70% dos que se aventuraram a tomar empréstimo nessa verdadeira milícia financeira que se pratica no Brasil. O pobre, segundo Paulo Guedes, que fica aí disputando comida nos lixões, sobretudo as crianças, poderia também ser um rentista que não precisa trabalhar, apenas especular na bolsa.

Essa gente pobre, segundo Guedes, que teima em trabalhar de sol a sol e consumir tudo o que encontra pela frente, vai se manter pobre assim. Nunca terá uma saúde financeira como os milionaríssimos banqueiros do Bradesco, Santander, Itaú e etc.

Para Paulo Guedes, os pobres escolheram ser pobres e os ricos escolheram ser ricos. É esse o grau de entendimento do homem que está entregando todo o patrimônio dos brasileiros pobres, que são a grande maioria da população, aos grandes milionários brasileiros e estrangeiros.

O Globo e a Folha abriram seus editoriais se derretendo de amores pela economia elitista de Paulo Guedes. A instrução da xaropada em prol do mercado como “novo modelo econômico do Brasil” só agrava o quadro de degradação social deixado por Temer, pois não oferece qualquer perspectiva de futuro ao pobre no Brasil, que ele viva com a sua dura realidade socioeconômica.

A palavra integração, para essa gente, é sinônimo de palavrão, insulto.

A serviço das grandes corporações financeiras e do rentismo que corre nas veias do empresariado brasileiro, a mídia, assim como Paulo Guedes, que considera os pobres como seres inferiores, defende essa lógica estrutural cumulativa, porque tudo não passa da ideia de que o rico é rico por seus méritos e o pobre por seus defeitos, consagrando a ideia de uma sociedade possível apenas pela lei do mais forte.

Essas são as fronteiras entre a miséria e a riqueza no Brasil. Um discurso carregado de desagregação, uma perversidade consagrada pelo mercado. Por isso, o Brasil, depois do golpe em Dilma, deixou de ser uma democracia para se transformar em fantoche do mercado onde se folcloriza um discurso antissocial para privilegiar uma parcela ínfima da sociedade que suga toda a riqueza do país.

Tudo isso com a espetacularização da riqueza em vários anúncios publicitários e nas próprias análises de economistas de mercados convidados pela grande mídia em parceria com o mercado.

Banqueiros fazem hoje templos, enquanto crianças disputam comida no lixo. Agora querem reduzir os custos de produção, encolhendo os impostos para a ampliação dos lucros. Isso, sem dizer que o debate político no Brasil nunca foi tão censurado na mídia para que a aceitação da sociedade brasileira seja plena, sem obstáculos, sem pensamento e que a sorte dos pobres seja resolvida por eles mesmos, nada de ideias, de valores humanos, o que interessa ao mercado e, consequentemente à mídia, é o resultado em termos de lucros.

A enorme riqueza que se acumulou no país entre o 1% milionário em relação ao restante da população é única no planeta. O número crescente do desemprego, do trabalho residual, da precarização da mão de obra e dos bicos apontam para um desastre nunca visto na história do país.

Quando se abre um jornal como a Folha, O Globo, os discursos ornamentais dão conta de que o pensamento mais adequado para a realidade brasileira é esse mesmo de Paulo Guedes. É ele que dará dinâmica para que os ricos fiquem cada vez mais ricos e que a miséria se torne cada vez maior, mais aguda e mais perversa em um país que já enfrenta um cotidiano de hecatombe econômica em que os pobres são as principais vítimas para que os ricos fiquem ainda mais ricos na base do roubo do patrimônio do povo, da agiotagem desmedida, no rentismo especulativo e no super lucro.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

Categorias
Uncategorized

Leandro Fortes: Pós-mentira

Imersa em um sentimento cada vez mais profundo de impunidade, a família Bolsonaro decidiu abandonar, por completo, o senso de ridículo e, mais grave, o vínculo com a realidade factual.

Bolsonaro, que declarou publicamente, em entrevista gravada por jornalistas, ter roubado os registros da portaria do Condomínio Vivendas da Barra, agora, nega o que disse. Assim, na cara dura.

O fato de ter confessado um crime de obstrução de justiça referente à investigação de um duplo assassinato talvez tenha pesado nesse recuo. A gravidade não está na covardia do presidente, no entanto, mas na apatia das instituições e da mídia.

Assim como o filho Eduardo, deputado federal que ressuscitou a ideia de um AI-5 e depois disse que não disse, Bolsonaro aposta na paralisia social imposta pela onda conservadora que o levou ao poder, nas eleições de 2018.

Sobrevive, mesmo sendo a pessoa deplorável que é, graças ao veneno do antipetismo inoculado na população pela mesma mídia que, hoje, é sistematicamente desqualificada por ele.

Mídia que aceita todo tipo de abuso para se manter, pelo menos por ora, conectada à agenda econômica de privatizações e retirada de direitos tocada pelo ministro Paulo Guedes.

Ou seja, se cala e se humilha, com a ajuda luxuosa de seus jornalistas, enquanto um sociopata destrói o patrimônio nacional e a democracia.

 

 

Categorias
Uncategorized

Bebianno: Ou Bolsonaro renuncia, cai ou tenta um golpe

Há exatamente um ano o advogado Gustavo Bebianno devolvia a presidência do PSL ao deputado Luciano Bivar, após ter comandado o partido durante a vitoriosa campanha de Jair Bolsonaro, a pedido do próprio presidente. De lá para cá, porém, muita coisa mudou.

Demitido pouco mais de um mês após assumir a Secretaria-Geral da Presidência, Bebianno avalia que Bolsonaro deixou o poder subir à cabeça, abandonou suas promessas de campanha para proteger e favorecer os filhos, cercou-se de “loucos” e faz uma gestão marcada pelo autoritarismo, pelo “desarranjo mental”, pela irresponsabilidade e pelo “desgoverno”.

Nesta entrevista ao Congresso em Foco (veja a íntegra abaixo), Bebianno anuncia que vai se filiar ao PSDB a convite do governador de São Paulo, João Doria, e indica que vai trabalhar por sua candidatura presidencial em 2022. Quanto ao governo que ajudou a eleger no ano passado, suas apostas são as mais pessimistas possíveis.

Bebianno acredita que o desfecho da passagem de Bolsonaro pelo Palácio do Planalto será mais uma página triste da história política brasileira: ou ele renunciará, ou sofrerá impeachment ou, na hipótese mais grave, tentará uma ruptura institucional, um golpe de Estado.

“Não acredito que ele conseguiria consolidar uma ruptura institucional, mas tudo indica que ele vai tentar. É muito preocupante. Uma simples tentativa pode gerar muito derramamento de sangue. O Brasil não precisa disso. É um risco real”, afirmou. Segundo ele, o presidente dificilmente teria o apoio das Forças Armadas para levar o plano adiante por não gozar da confiança dos militares.

O ex-ministro também dispara contra integrantes do chamado núcleo duro do governo e sugere ao presidente que afaste do poder seus filhos Eduardo e Carlos Bolsonaro, a quem acusa de “destruir” o governo com suas “palhaçadas” e sua “beligerância”.

Bebianno acredita que o desfecho da passagem de Bolsonaro pelo Palácio do Planalto será mais uma página triste da história política brasileira: ou ele renunciará, ou sofrerá impeachment ou, na hipótese mais grave, tentará uma ruptura institucional, um golpe de Estado.

“Não acredito que ele conseguiria consolidar uma ruptura institucional, mas tudo indica que ele vai tentar. É muito preocupante. Uma simples tentativa pode gerar muito derramamento de sangue. O Brasil não precisa disso. É um risco real”, afirmou. Segundo ele, o presidente dificilmente teria o apoio das Forças Armadas para levar o plano adiante por não gozar da confiança dos militares.

O ex-ministro também dispara contra integrantes do chamado núcleo duro do governo e sugere ao presidente que afaste do poder seus filhos Eduardo e Carlos Bolsonaro, a quem acusa de “destruir” o governo com suas “palhaçadas” e sua “beligerância”.

“A primeira coisa é afastar os filhos. Em segundo lugar, mudar o núcleo duro todo. Tem de afastar esse Filipe Martins [assessor especial da Presidência], trocar o ministro das Relações Exteriores [Ernesto Araújo], cortar relações com o Olavo de Carvalho, tem de ouvir pessoas normais. E não loucos. Ou ele muda radicalmente seu comportamento, afasta os filhos e passa a ouvir pessoas racionais e adultas, ou ele não vai terminar bem. Ou vai renunciar, dar uma de Jânio Quadros, ou vai sofrer impeachment ou ele próprio vai tentar ruptura institucional”, considera.

Na avaliação de Bebianno, a divulgação do vídeo em que Bolsonaro é tratado como um leão cercado por hienas como o Supremo Tribunal Federal, partidos de oposição, imprensa e outras organizações, é mais um indicativo de que os filhos e o núcleo duro do presidente desejam uma ruptura institucional. Bolsonaro pediu desculpas nesta terça-feira e classificou o episódio como um “erro”.

“Sim, é um indicativo, assim como a fala do Olavo e do Filipe Martins sugerindo um novo AI-5, o extermínio de partidos de oposição. Isso tudo claramente. O Eduardo disse que bastava um cabo e um soldado, não precisava nem de jipe, para fechar o Supremo. Outro dia o Carlos disse que as coisas são muito lentas na democracia. Não são sinais que precisam ser traduzidos. As falas deles são explícitas. Só estou observando o que eles próprios estão dizendo”, diz. Filipe Martins é um dos assessores da Presidência convocados pela CPI das Fake News.

Para ele, a situação do governo só não é pior graças aos “presidentes” – palavras dele – Sergio Moro e Paulo Guedes. Bebianno também vê aí potenciais novos riscos de conflito com Bolsonaro. “Moro é visto com desconfiança, o presidente teme que Moro será candidato. Eu acho que, no fim da linha, Paulo Guedes também será candidato.”

Bebianno foi demitido por Bolsonaro em fevereiro após ser bombardeado internamente e nas redes sociais por Carlos, seu desafeto desde a campanha eleitoral.

Veja a íntegra da entrevista de Gustavo Bebianno ao Congresso em Foco:

Congresso em Foco – O senhor recebeu convite do governador João Doria para se filiar ao PSDB?
Recebi o convite sim. Acho que o Brasil precisa hoje de eficiência de gestão e de seriedade no trabalho. Infelizmente a gente não observa isso no atual governo. Hoje existem dois ou três governos. Destacaria o governo do presidente Paulo Guedes, que é uma cabeça que pensa num novo Brasil. Há o governo do presidente Sergio Moro, que também pensa num Brasil diferente do que é hoje. Já o governo do presidente Jair Bolsonaro é uma decepção para todos os brasileiros que pensam, raciocinam e que querem não uma dinastia, um sistema ditatorial, personalíssimo, baseado numa entidade suprema, num mito.

Do que o Brasil precisa?
O Brasil precisa de um gestor. De um presidente que saiba exercer as suas funções em benefício do país. Infelizmente as promessas de campanha foram todas deixadas de lado, seja para proteger e favorecer os próprios filhos, seja porque infelizmente ele só olha para as eleições de 2022. É com muita perplexidade que eu e a maioria dos brasileiros assistimos a esse show de palhaçadas promovido principalmente por Carlos Bolsonaro. De uma maneira inconcebível, ele tem acesso exclusivo às redes sociais do presidente. Faz publicações cotidianas de forma infantiloide e irresponsável. Está destruindo o governo do pai. Afinal, num sistema democrático ninguém gere sozinho um país. É preciso que haja conjugação de esforços e o mínimo de boas relações com o Congresso, o poder Judiciário, a imprensa, a classe empresarial, os seus adversários políticos.

Quais os desdobramentos que o senhor antevê para esses problemas?
Infelizmente, o que vejo hoje me preocupa. Não vejo como o governo dele possa chegar ao final de uma maneira normal, pacífica, porque ele e os filhos alimentam essa beligerância. Veja agora o episódio com o PSL e o vídeo do leão e das hienas. É um negócio tão beligerante e personalista, mesquinho, egoísta e tão burro, sem estratégia, sem nada. Se não fossem os presidentes Paulo Guedes e Sergio Moro – pode botar ipsis litteris –, o Brasil já estaria mais no fundo do poço que já está. Vejo a gestão Jair Bolsonaro como irresponsável e desgovernada. Por conta disso, tudo, essa grande decepção, enxergo hoje que o Brasil não precisa de ideologias extremas para ser governado, mas de eficiência de gestão e seriedade. Precisa de uma pessoa que acorde cedo, durma tarde, tenha agenda de trabalho diferente da de Bolsonaro. Se pegar a agenda presidencial, você vai ver que não tem trabalho nenhum em benefício do Brasil, zero. Por conta desse quadro muito preocupante, não vejo como ele possa chegar ao fim de maneira pacífica.

Como assim?
Ou ele vai buscar a ruptura institucional, ou vai renunciar ou vai acabar recebendo processo de impeachment, porque é impossível se manter mais três anos nesse ritmo. Ele entrou numa maratona de 40 e tantos km e está correndo como se fossem 100 m rasos. Ninguém aguenta isso. Nenhum lutador aguenta lutar 100 rounds. Lutador consegue lutar, três, dez. É impossível. Ou ele muda radicalmente sua postura…

O que ele deveria fazer?
A primeira coisa é afastar os filhos. Em seguindo lugar, mudar o núcleo duro todo. Tem de afastar esse Filipe Martins [assessor especial da Presidência], trocar o ministro das Relações Exteriores [Ernesto Araújo], cortar relações com o Olavo de Carvalho, tem de ouvir pessoas normais. E não loucos. Ou ele muda radicalmente seu comportamento, afasta os filhos e passa a ouvir pessoas racionais e adultas, ou ele não vai terminar bem. Ou vai renunciar, dar uma de Jânio Quadros, ou vai sofrer impeachment ou ele próprio vai tentar ruptura institucional.

O senhor acredita que possa haver uma ruptura institucional, um golpe?
É o que o núcleo duro dele fala, é o que ele fala. Não é que eu acredite ou não. As pessoas vinculadas diretamente a ele falam isso. Ele não diz o contrário. Esse Filipe Martins fala em ruptura institucional. O Olavo fala em ruptura. O Eduardo e o Carlos falam em ruptura institucional. O presidente em algum momento desdisse? Deu alguma manifestação contrária a isso? Não, ele silencia. O Brasil está caminhando para um lugar muito pantanoso, escuro e perigoso. Do jeito que esse núcleo duro do presidente se manifesta, vão fazer uma guerra civil? Olavo diz que tem de eliminar toda a oposição. O que significa eliminar a oposição? Diz que tem de fechar os partidos de esquerda. Como seria no mundo prático a operação disso? Eu aceitei o convite do João Doria porque enxergo nele hoje uma pessoa que é extremamente trabalhadora, que trabalha das 6h às 2h, todo santo dia, não tem fim de semana, feriado.

Enxergo nele um bom gestor e um gestor que tem uma fórmula que é praticamente novidade na gestão pública brasileira, que são as parcerias com a iniciativa privada. O Estado brasileiro quebrou depois de mais de uma década de PT. Não tem condições de fazer investimento. O João Doria tem capacidade muito grande de unir pontas. Enxergo nele uma luz no fim do túnel para o futuro do Brasil de maneira democrática. Acho que tem perfil de estadista e gestor de forma democrática. O Brasil não pode abrir mão da sua democracia. Não quero uma ditadura bolsonarista para ser governado por Eduardo e Carlos Bolsonaro, deus me livre. Por isso aceitei esse convite [de filiação ao PSDB].

Quando o senhor se filiará? O senhor mora no Rio. Vai para o PSDB de São Paulo?
Será em breve. Será no PSDB de São Paulo. Pretendo ficar boa parte do tempo em São Paulo ajudando no que eu puder.

O senhor será o coordenador do projeto presidencial de João Doria?
É um projeto pró-Doria, pensando no Brasil.

O senhor pretende se candidatar a algum cargo em São Paulo?
Por ora não tenho essa preocupação. Minha preocupação, assim desde o Jair, é pensar o Brasil. O que eu não podia imaginar é que com ele seria esse desarranjo mental o tempo inteiro. Não podia imaginar que o Brasil seria gerido de maneira tão irresponsável.

O senhor reconhece como um erro ou se arrepende do apoio dado a Bolsonaro?
Naquela época os filhos dele pouco participavam. Eram contatos esporádicos. Depois que ele chegou ao poder, os filhos Eduardo e Carlos grudaram de modo que não sobra espaço para nenhuma cabeça mais preparada, racional, ninguém mais, influenciar o presidente. O Brasil hoje é governado de fato por Carlos e Eduardo Bolsonaro. Quem votou em Jair esperava outra coisa. O poder acabou subindo à cabeça dele, que começou a mostrar um perfil muito autoritário. Eu esperava uma coisa completamente diferente, esperava que depois da vitória ele tivesse uma postura mais nobre, mais conciliadora e apaziguadora. Metade do Brasil tem uma cabeça diferente da dele. Faz o que com essas pessoas? Elimina? Mata? Joga dentro do mar? Não é assim, não é com agressão, briga e hostilidade que o Brasil vai ser unido. O Brasil é de todos, tem lugar para todo mundo. Precisamos de um movimento de conciliação. Vejo no João Doria essa disposição. Como os próximos três anos vão passar voando, a gente tem de pensar numa solução para o Brasil que não seja o PT e muito menos o Jair Bolsonaro. É preciso que a população brasileira enxergue que, entre esses extremos que fazem mal para o país, há uma avenida gigantesca a ser percorrida. Acho que o Doria faz esse caminho.

Quanto a uma eventual tentativa de ruptura democrática, o senhor acredita que haveria apoio nas Forças Armadas?
É difícil dizer. Houve ali uma quebra de confiança no início da gestão. O que é até bom. Por conta desses mesmos filhos, o general Mourão foi muito agredido, o general Santos Cruz e o general Eduardo Villas-Boas também. As Forças Armadas também olham com muita desconfiança para ele. Não acredito que ele conseguiria consolidar uma ruptura institucional, mas tudo indica que ele vai tentar. É muito preocupante. Uma simples tentativa pode gerar muito derramamento de sangue. O Brasil não precisa disso. É um risco real. É difícil precisar o momento, mas que essa hipótese é cogitada na cabeça dos filhos, dele, do entorno, isso é.

O senhor vê no vídeo em que o STF e outras instituições são tratados como hienas que atacam um leão, o presidente, um indício disso?
Sim, é um indicativo, assim como a fala do Olavo e do Filipe Martins sugerindo um novo AI-5, o extermínio de partidos de oposição. Isso tudo claramente. O Eduardo disse que bastava um cabo e um soldado, não precisava nem de jipe, para fechar o Supremo. Outro dia o Carlos disse que as coisas são muito lentas na democracia. Não são sinais que precisam ser traduzidos. As falas deles são explícitas. Só estou observando o que eles próprios estão dizendo.

O senhor presidiu o PSL durante a campanha eleitoral. Quem tem razão nessa briga entre Bolsonaro e Bivar?
Isso é uma loucura. Quem definiu bem a situação foi o Major Olimpio. [Bolsonaro querer deixar o PSL] É como uma pessoa morar sozinha e fugir de casa. Quem mandava no partido era ele, Bolsonaro. Como o poder subiu à cabeça e ele é muito mal assessorado, há advogados em redor dele que não têm habilidade política, ele briga com todo mundo. Se não tiver com quem brigar, ele briga com ele mesmo no espelho. É muito complicado.

O senhor acredita na possibilidade de ele tentar criar novo partido?
Não sei o que ele vai fazer. Vai levar cinco anos para criar um novo partido? Vai migrar para o Patriotas? A situação do Patriotas é muito pior que a do PSL.

O presidente do Patriotas não quis ceder a ele todo o controle partidário…

Lógico que não. Ele vive daquele dinheiro. Como vai ceder? Bivar foi correto, deu tudo que foi combinado e foi até além. É uma briga totalmente desnecessária.

O que Bivar prometeu?
Para fazer tudo em todos os aspectos. Não tem motivo para essa briga. O motivo da briga foi a ganância do Eduardo Bolsonaro e de assessores dele em tomar o partido do sujeito, de olho no poder político e no fundo partidário e eleitoral. Ele não vai entregar o partido assim.

O senhor vê chance de o presidente se recuperar?

Se continuar nesse ritmo, nenhuma. Salvo se o presidente Paulo Guedes e o presidente Sergio Moro fizerem uma gestão excepcional. Mas o presidente Jair Bolsonaro atrapalha tanto os outros dois.

Moro e Guedes estão indo bem, na sua avaliação?
Paulo Guedes está tentando, existem dificuldades a serem superadas. Mas olhando a distância me parece que está indo bem. O ministro Moro é visto com desconfiança, o presidente teme que Moro será candidato. Eu acho que, no fim da linha, Paulo Guedes também será candidato.

 

 

*Do Congresso em Foco

 

Categorias
Uncategorized

A derrota de Macri é a derrota do Bolsonaro

Depois de sua inútil viagem gastando monumentais recursos públicos sem trazer resultado positivo nenhum de integração com o Japão, China e países árabes, Bolsonaro ainda tem que engolir o resultado das urnas na Argentina, que condena o neoliberalismo de Paulo Guedes, assim como o povo chileno impõe uma derrota a um sistema que faz com que os ricos fiquem mais ricos e pobres mais pobres.

Isso seria fatal. O neoliberalismo é a semente da degeneração no mundo e o resultado na Argentina é somente o reflexo disso.

A vitória de Alberto Fernandez atinge diretamente um governo em crise permanente como o de Bolsonaro, até porque tanto a Argentina quanto o Chile foram explorados como referência pela grande mídia nativa. Com a derrota de Macri na Argentina e a insurreição popular no Chile contra o governo neoliberal de Sebastián Piñera, campanhas e movimentos neoliberais na América Latina perdem muito de sua consistência e espaço, o que consequentemente refletirá na chegada de uma onda que abarcará o Brasil.

Assim, acelera ainda mais a putrefação de um governo fascista que dependeu do adormecimento da classe média ludibriada pelo neoliberalismo e o ódio aos pobres que, se não percebeu ainda a precariedade que isso está causando ao país, também não verá a propaganda dos Chicago Boys derrotados na América Latina que passaram a ser símbolos do bolsonarismo.

Mas estes não são os únicos fatos que despertam a possibilidade de uma outra consciência oposta à pretendida pelos neoliberais, a de que somente um sistema solidário cultivado dentro da sociedade brasileira em que vivem todos os brasileiros, não apenas alguns privilegiados, é que tem futuro.

Cada um de nós, que repudia o que se assiste hoje no Brasil de Bolsonaro, tem que comemorar junto com o povo argentino a vitória da solidariedade contra o egoísmo.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

Categorias
Uncategorized

General Santos Cruz diz que vai à CPI das fake news e critica a “gangue digital” bolsonarista

Em rara entrevista concedida após sua saída do governo, o general e ex-ministro da Secretaria de Governo Santos Cruz criticou uma ala de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro que tem presença ativa nas redes sociais. Santos Cruz virou alvo da militância bolsonarista desde que defendeu a adoção de critérios técnicos para distribuição de recursos públicos entre veículos de comunicação. Atacado nas redes, acabou demitido do cargo pelo presidente Jair Bolsonaro em junho.

“Uma milícia digital, uma gangue de rua que se transfere para dentro da internet. Não me impressiono com isso, aquilo ali não me afeta em nada, já tive muito tiroteio real na vida, não vai ser tiroteio de internet que vai me fazer ficar preocupado”, disse o general da reserva em entrevista ao Congresso em Foco.

O deputado Marcelo Ramos (PL-AM) apresentou requerimento na CPI mista que investiga a divulgação de notícias falsas para convidar Santos Cruz. O general afirmou que, assim que for notificado, aceitará o convite para prestar depoimento.

“Sempre fui de boa vontade porque acho que o Legislativo tem que ser esclarecido das coisas e é até uma honra a pessoa ser chamada para falar. Eu fui duas ou três vezes quando era ministro, é excelente o trabalho ali, tem uns que são mais radicais que outros nas questões, mas normalmente esse tipo de trabalho é de bom nível”, disse.

Reportagem publicada pela revista digital Crusoé no dia 11 de outubro mostra que existe um grupo consolidado com a participação de alguns assessores ligados ao governo federal que age na internet para fabricar notícias falsas.

De acordo com reportagem, o ex-ministro foi alvo dessas pessoas com a fabricação de um diálogo falso no qual Santos Cruz falava mal de Bolsonaro e dos filhos.

Em maio deste ano, quando ainda era ministro, o militar foi alvo desse grupo, que compartilhou uma entrevista de Santos Cruz à rádio Jovem Pan na qual ele afirma que as redes sociais precisam de um controle.

O fim de semana dos dias 4 e 5 de maio foi o auge dos ataques sofridos pelo então ministro da Secretaria de Governo. No fim da tarde do dia 5 daquele mês, Santos Cruz foi ao Palácio da Alvorada falar com o presidente da República.

“Eu fui conversar com o presidente, não era exatamente sobre isso, outros assuntos também. É normal, você pode ver que vários ministros vão no fim de semana falar com o presidente. A função de presidente você não tem o fim de semana livre como um funcionário qualquer, está sempre ocupado. Devo ter falado várias coisas com ele”, relatou o general.

Pouco mais de um mês depois, no dia 13 de junho, o general foi demitido por Jair Bolsonaro. Os dois não se falam desde essa data.

De acordo com Santos Cruz, o modo de agir do grupo que ele classifica como “milícia digital” é algo que dá para ser rastreado:

“Você percebe que é uma coisa planejada. Um lança porque tem não sei quantos mil que seguem ele e os outros seguem. Se der para um técnico, ele monta a pirâmide para você. Naquele caso foi uma coisa medíocre, pegaram um pedaço de uma entrevista, um apresentador [Danilo Gentilli] que é mais famoso, que tem muita gente que segue e deram para ele para lançar”.

Crise no PSL

Sobre a crise entre o presidente Bolsonaro e o PSL, partido pelo qual o mandatário e seu grupo político no Congresso Nacional foram eleitos, Santos Cruz minimiza o impacto para a população e diz que as discussões ficam restritas ao mundo político e empresarial.

“A população brasileira não quer saber se Joãozinho saiu do PSL e foi para o DEM, se tinha 25 de um lado e 26 de outro, a população brasileira votou para ter governo e resultados. Essa confusão é uma coisa que interessa só à parte política, mas ela também consegue às vezes gerar uma instabilidade com o empresariado, para quem está observando o mercado econômico, acaba algumas vezes dando um efeito ruim também”, afirmou.

A Secretaria de Governo, que era comandado por Santos Cruz, tinha entre algumas de suas funções fazer a interlocução do governo com o Congresso. O general falou sobre a dificuldade de fazer isso quando o partido do presidente não é estruturado.

“O partido do presidente sempre é um partido muito importante. Quando ele está bem unido, os outros olham para ele e se juntam ou não, mas quando o próprio partido do presidente está esfacelado, os outros também se julgam no direito de não votar, se nem o partido do presidente está alinhado, eu também tenho a liberdade de não votar. Isso não é bom politicamente”, declarou.

Governadores do Nordeste

Quando comandava a Secretaria de Governo, o general tinha o costume de receber governadores em seu gabinete no Palácio do Planalto.

No dia 29 de maio chegou a se reunir com dois petistas, os governadores do Piauí, Wellington Dias, e do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra.

Também acompanhou a reunião de Bolsonaro com todos os governadores nordestinos no Palácio do Planalto no dia 9 de maio.

Ele minimiza os atritos dos últimos meses meses entre Bolsonaro e os governadores da região e diz que isso faz parte do comportamento político entre governo e oposição que é mostrado para a sociedade, mas que há diálogo entre os dois lados.

“O Nordeste é todo de oposição, a postura pública de todos eles é de oposição, seguem linha do partido, discurso de campanha e tudo isso, mas isso não impede que se tenha diálogo produtivo, acho que tem diálogo produtivo mesmo sabendo que na parte mais externa, na superfície, a coisa vai ficar meio pelo show político, interesse político, cada um tem seu interesse, compromisso partidário, da campanha, interesse em reeleição, valorizar o partido, essa coisa toda”, disse.

E completou: “na essência dá para conversar e tirar boas conclusões. Acho que eles não se negam a isso, nem o presidente se nega, nem os governadores. Uma coisa é essa exteriorização, que é mais política, ela não é a essência do negócio”.

Macron e Amazônia

O general defendeu a reação inicial inicial de seu ex-chefe no embate com o presidente francês, Emmanuel Macron, sobre o aumento das queimadas na floresta Amazônica.

No entanto, Santos Cruz repudia ataques pessoais que partiram do governo federal. Bolsonaro fez piada nas redes sociais com a primeira-dama da França, Brigitte Macron, insinuando que ela é feia.

A atitude foi replicada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, durante evento para empresários em Fortaleza (CE).

“O presidente da França foi infeliz ali na maneira como se expressou e eu acho que uma resposta à altura era o correto, mas tem que parar por aí, não pode ampliar, tem que saber o limite desse tipo de conflito. Não pode ampliar o conflito, muito menos para questões pessoais e até para outros setores porque a França é um parceiro, deve ter hoje em torno de 500 empresas francesas, se não for mais, empresas grandes no Brasil”, declarou o general.

Sobre o discurso de Bolsonaro na assembleia geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o militar disse que foi uma fala razoável, mas que não tinha necessidade de discorrer sobre assuntos muito específicos ao Brasil:

“Achei que tinha grandes linhas que tinham que ser tocadas, como foi tocado o caso do combate à corrupção, dos absurdos que foram feitos pelos governos de esquerda. Alguns casos eram mais internos e ele aproveitou e colocou no discurso também, tem coisas que são mais internas aqui, o caso dos Mais Médicos”.

O general de reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz tem 67 anos. É formado em engenharia química pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (SP) e pela Academia Militar dos Agulhas Negras (Aman).

Natural de Rio Grande (RS), ele comandou a missão de paz no Haiti de 2006 a 2009.

Em 2017, na gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB) e do ex-ministro da Justiça Torquato Jardim, Santos Cruz chefiou a Secretaria Nacional de Segurança Pública.

Leia a seguir a íntegra da entrevista:

Congresso em Foco – O que o senhor tem feito desde quando saiu do governo há quatro meses?

Santos Cruz – Tenho cuidado da minha vida particular e dado uma série de entrevistas, palestras, tenho mantido minha vida bastante ativa. Eu viajei, depois que eu saí viajei para os Estado Unidos, estive em Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Ceará, Espírito Santo, tenho tido uma intensidade boa de atividades. Palestras dos mais diversos assuntos e fora as entrevistas também, como essa aqui, que são inúmeras. Não tem uma semana que tenha realmente os cinco dias livres. Sempre procuro atender porque é bom para se manter atualizado.

Como vê o papel do Exército nessa crise sobre a Amazônia?

O Exército sempre desempenha um bom papel. Nesse caso da Amazônia, o Exército com a GLO [Garantia da Lei e Ordem] para auxiliar no combate aos incêndios da Amazônia, na realidade quem apaga fogo é o bombeiro, o Exército ajuda com seus meios. Pessoal ajuda, você tem o elemento técnico no caso do bombeiro, especialista em apagar fogo florestal, e as Forças Armadas, não só o Exército, entram com os recursos de helicóptero, logística, viatura, transporte, caminhão-tanque, embarcações… Então as Forças Armadas são muito importantes porque elas têm uma estrutura de material e pessoal muito forte. É só direcionar através do elemento técnico. Por isso que as Forças Armadas são sempre importantes, esse potencial que elas têm de atender diversas coisas orientada tecnicamente.

O que acha do discurso do presidente de querer culpar Organizações Não Governamentais, de querer falar que está exagerado o dado sobre desmatamento, mudar a metodologia do Inpe [Instituto de Pesquisas Aeroespaciais]?

Se você quer mexer na metodologia do Inpe é uma questão técnica , tem que estudar para ver se a metodologia do Inpe está certa ou não. O Inpe é um instituto que tem prestígio, prestígio internacional, mas pode ser que tenha que se discutir diferentes metodologias, não tenho conhecimento. Mas é um instituto de prestígio, então qualquer modificação passa por avaliação técnica. O problema da presença de ONGs na Amazônia, não só na Amazônia, o que a gente chama de ONGs são todas as OS, Organizações Sociais, fundações e uma série de títulos que tem que a gente chama tudo de ONG. Na verdade ONG não é um termo, é um termo brasileiro. Essas ONGs todas não adianta também você criticar sem saber o que elas estão fazendo e sem saber quem é bom e quem é ruim, tem que abrir uma CPI, mandar a Polícia Federal, ou o Ministério do Meio Ambiente fazer uma avaliação, uma investigação para ver quais os resultados que essas organizações estão tendo. Aquelas que são boas você pode até direcionar em proveito da ação governamental e as outras que são ruins você pode desviar daquela atividade. Se algumas organizações estão lá na Amazônia, ou qualquer lugar do Brasil, operando sem controle, a responsabilidade é do Estado que está ausente, a ausência do Estado faz com que você tenha organizações que trabalhem sem direcionamento.

Acha que as críticas do presidente da França, Emannuel Macron, são corretas ou exageradas?

O presidente da França foi infeliz ali na maneira como se expressou e eu acho que uma resposta a altura era o correto, mas tem que parar por aí, não pode ampliar, tem que saber o limite desse tipo de conflito. Não pode ampliar o conflito, muito menos para questões pessoais e até para outros setores porque a França é um parceiro, deve ter hoje em torno de 500 empresas francesas, se não for mais, empresas grandes no Brasil, a França tem parceria com iniciativas como construção de submarino, tudo isso. O país tem centenas de grandes empresas no Brasil, Total, Michelin e por aí vai. Aquele ali foi um caso infeliz do presidente da França, a resposta foi dada a altura, mas depois acho que passou do ponto e estragou tudo.

Quando passou do ponto? Foi quando Bolsonaro ofendeu esposa do presidente francês, Briggite Macron?

Quando você parte para assuntos pessoais, não pode levar nada nessa área para a questão pessoal.

Acompanhou o discurso do presidente da ONU? O que achou?

Achei que tinha grandes linhas que tinham que ser tocadas, como foi tocado o caso do combate à corrupção, dos absurdos que foram feitos pelos governos de esquerda. Alguns casos eram mais internos e ele aproveitou e colocou no discurso também, tem coisas que são mais internas aqui, o caso dos Mais Médicos etc, uma coisa muito interna que aquele público de embaixadores do mundo inteiro não têm participação, só aqueles do entorno da América Latina, ficou um pouco mais setorizado. No geral foi um discurso no qual foram tocados os pontos que precisam ser tocados e outros não precisavam ser, um discurso razoável.

Faltou falar mais das reformas econômicas?

Talvez, é fácil criticar assim, mas o que interessava para nós era enfatizar bastante que o Brasil está aberto para investimento externo, tem pessoal qualificado para trabalhar com as empresa que querem entrar no Brasil. Você pode até dar mais ênfase em alguns assuntos, mas quase todos eles foram tocados. Tinha alguns assuntos internos que o presidente fez a opção de falar, acabou diluindo um pouco, mas tinha três, quatro grande pontos possíveis de ser bem reforçados.

Quando o senhor era ministro costumava receber alguns governadores em seu gabinete, como vê esse atrito de Bolsonaro com os governadores do Nordeste?

O Nordeste é todo de oposição, a postura pública de todos eles é de oposição, seguem linha do partido, discurso de campanha e tudo isso, mas isso não impede que se tenha diálogo produtivo, acho que tem diálogo produtivo mesmo sabendo que na parte mais externa, na superfície, a coisa vai ficar meio pelo show político, interesse político, cada um tem seu interesse, compromisso partidário, da campanha, interesse em reeleição, valorizar o partido, essa coisa toda. Na essência dá para conversar e tirar boas conclusões. Acho que eles não se negam a isso, nem o presidente se nega, nem os governadores. Uma coisa é essa exteriorização, que é mais política, ela não é a essência do negócio.

Como foi o convite do presidente para o senhor ser ministro? Na época esperava as dificuldades que acabaram acontecendo?

Na época [em novembro de 2018] estava em Bangladesh, recebi um telefonema normal, aceitei, tranquilo, vamos trabalhar e ajudar no projeto. Você vem trabalhar de peito aberto, não vem trabalhar com um pé atrás, se não melhor não ir. Você vai trabalhar com um projeto que acredita, tem que ser alguém de bom gosto, bom grado, trabalhar para ajudar. Fiquei satisfeito durante o período que eu trabalhei, acho que fui honesto e assessorei com honestidade e lealdade. Você assessorar com honestidade e lealdade é uma obrigação e toda vez que não for honesto e leal com a autoridade, você vai deixar que autoridade fique em risco, tem que alertar a autoridade para os riscos que ela tem. Claro que nem sempre isso é uma coisa agradável, principalmente para quem está escutando, mas eu acredito nisso.

Em maio uma ala de apoiadores de Bolsonaro e Olavo de Carvalho na internet reviveu uma entrevista antiga do senhor para a Jovem Pan na qual fala sobre as desvantagens das redes sociais. Foi um fim de semana que o senhor foi muito atacado e no fim do domingo esteve com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, como foi a conversa?

Aquilo ali é um grupo que se comporta como uma gangue, uma gangue de rua, uma milícia digital, uma gangue de rua que se transfere para dentro da internet. Não me impressiono com isso, aquilo ali não me afeta em nada, já tive muito tiroteio real na vida, não vai ser tiroteio de internet que vai me fazer ficar preocupado. Eu fui conversar com o presidente, não era exatamente sobre isso, outros assuntos também. É normal, você pode ver que vários ministros vão no fim de semana falar com o presidente. A função de presidente não tem o fim de semana livre como um funcionário qualquer, está sempre ocupado. Devo ter falado várias coisas com ele. Lembro que quando eu saí, uma hora depois depois saiu na imprensa que foi uma conversa tensa, não foi nada disso, não sei de onde a imprensa pegou aquilo. Você para o carro, diz uma coisa, se você passa direto, é no domingo você tem que ir para casa, “ah passou reto porque está tenso”. Não é nada disso, foi uma conversa normal. Isso que acontecia, esse trabalho de gangues digitais, aquilo é bem perceptível, você percebe que é uma coisa planejada. Um lança porque tem não sei quantos mil que seguem ele e os outros seguem. Se der para um técnico ele monta a pirâmide para você. Naquele caso foi uma coisa medíocre, pegaram um pedaço de uma entrevista, um apresentador [Danilo Gentili] que é mais famoso, que tem muita gente que segue e deram para ele para lançar. Uma bobajada, a gente está vivendo uma época que essa tecnologia pode ser explorada por qualquer um e aí você tem coisas sem qualidade também, tem uma ferramenta fantástica para divulgação, para discussão de ideias e tem para esse tipo de trabalho de gente de baixo nível.

Tem uma CPMI hoje no Congresso para investigar Fake News e o deputado Marcello Ramos disse que ia convidar o senhor. Prestaria depoimento lá?

Se ele me convidar eu vou. Sempre fui, quando era ministro fui convidado. A CPI pode convidar ou convocar, você é obrigado a ir. Sempre fui de boa vontade porque acho que o Legislativo tem que ser esclarecido das coisas e é até uma honra a pessoa ser chamada para falar. Eu fui duas ou três vezes quando era ministro, é excelente o trabalho ali, tem uns que são mais radicais que outros nas questões, mas normalmente esse tipo de trabalho é de bom nível. Se eu for chamado, convidado, eu vou.

Tem uma reportagem da Crusoé sobre esse grupo bolsonarista na internet. O deputado quer te convidar porque o senhor foi alvo deles.

Houve aquele caso de uma fabricação de um diálogo falso [falando mal do presidente e dos filhos] e provavelmente é por isso que eles têm essa ideia de me convidar. Isso está na imprensa, foi uma coisa medíocre, um crime de falsidade medíocre fabricado inclusive em uma hora que eu estava voando no avião da Força Aérea sem internet, naquele dia fiz um voo de quatro horas. Tão medíocre que não tiveram a ideia de verificar minha agenda, eu estava no ar, nesse dia voei das 22h às 6h para São Miguel da Cachoeira [cidade do Amazonas].

Também teve um embate com a então funcionária da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) Leticia Catelani, que foi demitida após o almirante Sergio Segovia assumir o órgão. Segovia foi sua indicação?

O Segovia não e é indicação minha, é escolha do presidente. Nem conhecia o Segovia, nunca tinha ouvido falar dele, foi o presidente que escolheu.

O que acha da crise entre o presidente o partido?

Isso está uma confusão bastante grande, o partido saiu de dois deputados para 54, 55, então é um partido que falta estrutura, não é sólido porque foi um estouro de repente de dois para cinquenta e pouco. Falta ainda assim filosofia de trabalho firmada, lideranças bem estruturadas. Tem no Brasil dois ou três partidos só. Partidos mesmo, com histórico, liderança, filosofia, você tem aí três, quatro e o PSL não é isso. Agora deu essa confusão, esse estouro da boiada e eu vejo que isso aí para a imprensa é uma grande coisa, isso aí é matéria, imprensa trabalha com os fatos. Agora para a população brasileira ela quer só resultado, a população brasileira não quer saber se Joãozinho saiu do PSL e foi para o DEM, se tinha 25 de um lado e 26 de outro, a população brasileira votou para ter governo e resultados. Essa confusão é uma coisa que interessa só à parte política, mas ela também consegue às vezes gerar uma instabilidade com o empresariado, para quem está observando o mercado econômico, acaba algumas vezes dando um efeito ruim também. O foco nosso tem quer ser a população, que precisa de governo, para essa população isso não interessa nada.

Mas a liderança do governo no Congresso mudou por causa disso.

Tudo bem, mas estou dizendo que o pai de família que está desempregado há dois anos, três, para ele não interessa nada disso, interessa o resultado. A gente tem que olhar, o que disso daí afeta àquelas pessoas que estão precisando. Outra coisa é o contexto político do caso da deputada da Joice que está saindo [da liderança do governo no Congresso], o outro que continua líder [do PSL, delegado Waldir], outro que não conseguiu ser líder [Eduardo Bolsonaro], é um contexto político que pode gerar um pouquinho, uma ondulação no mar de tranquilidade que o empresário precisa, mas para o cidadão que está em necessidade mesmo, não.

Falta disciplina militar no PSL? Os conflitos estão todos expostos e abertos.

Não, você não pode imaginar que uma disciplina militar é interessante em um partido. O partido se orienta basicamente por liderança e filosofia. Quando tem esse tumulto todo é problema de liderança, filosofia, problema de interesse, de briga interna por poder.

Todo partido tem, PT, PSDB, MDB, mas não é exposto igual ao PSL.

Mas eles são mais estáveis, as convenções partidárias são mais sólidas, mais discretas porque são partidos mais antigos. Esse aí, não, foi um estouro da boiada, então parece que se dividiu quase ao meio. Isso pode tumultuar para as votações que tem pela frente, formação de uma base bem definida do governo.

Já era difícil construir uma base no começo do ano antes disso?

É por causa disso, partido muito novo. O partido do presidente sempre é um partido muito importante. Quando ele está bem unido, os outros olham para ele e se juntam ou não, mas quando o próprio partido do presidente está esfacelado, os outros também se julgam no direito de não votar, se nem o partido do presidente está alinhado, eu também tenho a liberdade de não votar. Isso não é bom politicamente.

Quando foi o último contato com o presidente Bolsonaro?

No dia que eu saí.

E com os seus colegas generais Heleno, Mourão e Villas Bôas?

Visitei Villas Bôas há umas duas semanas antes dele fazer a traqueostomia. O pessoal é tudo gente conhecida, o Mourão, vice-presidente, é tudo gente que a gente se conhece desde os 18 anos de idade, são 50 anos de amizade, não tem nada a ver com andamento de governo.

O senhor conhece os filhos do presidente desde quando eram crianças.

Mas aí eles eram crianças. Hoje são parlamentares, níveis diferentes, um é senador, outro deputado federal e outro vereador no Rio. Cada um tem sua vida própria, suas ideias próprias.

Acha que Carlos agiu para atrapalhar o senhor?

Nunca gastei fosfato, nunca gastei tempo de me preocupar esse filho do presidente. Ele tem as características dele, a população tem mais condição de fazer essa avaliação, não sou eu que vou fazer. Nunca me interessei e acho que em termos de Brasil ele é irrelevante e acho até que atrapalha um pouco o pai.

Qual foi o momento mais gratificante e o momento em que pensou que poderia sair do governo?

Gratificante foi o tempo todo, em primeiro lugar porque você tem um quadro de servidores muito bom, excelente. Segundo você entra em contato todo dia com políticos, outras organizações, você aprende muito. Sempre foi muito gratificante, não teve o momento mais gratificante, sempre foi até a hora de sair muito bom. As pessoas com quem eu trabalhava, servidores, tanto os de carreira como os nomeados, pessoas excelentes, foi muito bom. A gente trabalhava todo dia até 20h, 21h e no outro dia estava todo mundo de manhã, alegre, bom ambiente, foi ótimo. O momento que eu vi que, quando começou essa influência de grupo ideológico de baixo nível, aí comecei a pensar em não prosseguir. Você vê que a qualidade daquele grupo ideológico, tem algumas pessoas ali, elas não discutem ideologia, filosofia, não discordam da sua maneira de ser, o nível baixa para ataque pessoal, comportamento de gangue. Isso aí foi a parte que comecei a já vislumbrar que não era minha área ali.

Como foi o processo de reestruturação da EBC [Empresa Brasileira de Comunicações]?

Estava sendo reestruturada e bem reestruturada. Tive uma reunião com todos os funcionários da EBC, fui ao Rio de Janeiro, São Paulo, aqui e mais São Luís. Tem várias opções, ela é uma empresa estatal, para encerrar as atividades tem que passar pelo Congresso, ou você faz algumas adaptações nela e utiliza de boa forma para não ser um uso ideológico como era antes, para não ser um instrumento de projeto de poder, realmente um órgão informativo para o público brasileiro de ações de governo e complementando outras áreas que a mídia privada não tem interesse. Tem que valorizar funcionários, a gente fez um plano de valorização dos funcionários onde eu ia ocupar as funções designadas, comissionadas, com o máximo possível de elementos de carreira da EBC, para valorizar as pessoas, para que elas também tenham a chance de pegar as funções comissionadas, se não, as funções comissionadas sempre são de gente que vem de fora. Algumas você deixa para especialistas que vêm de fora, mas tinha um plano esse ano, acho que era 80%, 85% de completar com pessoal interno. Quando você valoriza, tem que valorizar, não adianta ficar falando mal, você valoriza e diz a direção que quer. Não é política partidária, não é órgão de divulgação de ideologia, é um órgão de transmissão dos valores do que o governo tem e o governo está querendo transmitir para a população e das informações que ele quer transmitir. A EBC está aberta até hoje, tem que valorizar e direcionar ela para um tipo de comunicação que a gente está querendo, a gente está querendo o que? Uma população esclarecida e não uma população manipulada.

A intenção não era privatizar?

Até aquele momento [período como ministro] não era. Mesmo que o presidente tenha prometido na campanha, você vê que ele não fez até agora, não é tão simples assim. Tem 2000 pessoas, quando cheguei tinha mais de 3000, a gente reduziu bastante. O problema não é bem assim, tem 2000 pessoas que são quase todas concursadas, tem que dar um destino para esse pessoal, não é da noite para o dia. Uma coisa é o discurso de campanha, outra coisa na prática é transformar isso em realidade. Uma das opções era diminuir o efetivo, valorizar os quadros e redirecionar, tirar aquela ideologia, aquele ranço ideológico do meio da comunicação. Não sei como está agora, esse era meu objetivo e acho que estava dando certo.

 

 

*Do Congresso em Foco

 

Categorias
Economia

Sem resultados na economia para apresentar, Paulo Guedes cancela participação na reunião anual do FMI

Depois de confirmar presença na reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI), o ministro da Economia, Paulo Guedes, resolveu cancelar a sua participação no encontro, que acontece esta semana em Washington, nos Estados Unidos. A falta de resultados na economia está corroendo rapidamente a sustentação dele no cargo. O fundo prevê um crescimento pífio de 0,9% para o PIB (Produto Interno Bruto) em 2019.

A previsão era de que o ministro chegasse à capital americana na noite desta quarta-feira (16). As reuniões do Fundo de quinta (17) a sábado (19). Membros do governo afirmam que o representante da equipe econômica será agora o secretário de Comércio Exterior, Marcos Troyjo.

De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, aliados do ministro afirmam que ele decidiu se dedicar à articulação política para a aprovação das medidas econômicas. As propostas, porém, já caminham no Congresso há meses e causou estranhamento uma decisão com essa justificativa.

A economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, destacou que as incertezas políticas que envolveram a negociação da reforma da Previdência refletem de forma negativa nos números do país. “Esperamos que, com mais reformas, as perspectivas melhorem”, disse ela em coletiva de imprensa em Washington.

Além de o governo Jair Bolsonaro não gerar empregos, retomar o consumo, atrair investidores e expandir o PIB, as dificuldades de articulação aumentaram nas últimas semanas, principalmente, após o ocupante do Planalto dizer a um apoiador para esquecer o PSL e dizer que o deputado Luciano Bivar, presidente da legenda, está queimado.

Outro detalhe é que, de acordo com o líder do PSL na Câmara dos Deputados, delegado Waldir (GO), a Polícia Federal, que fez operação contra Bivar em Pernambuco, ainda fará investidas contra o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). O parlamentar está envolvido em um esquema de lavagem de dinheiro que ocorria na Assembleia Legislativa do Rio quando era deputado estadual. Fabrício Queiroz, que era assessor dele, movimentou R$ 7 milhões em de 2014 a 2017, de acordo com relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

Se Guedes tivesse números satisfatórios para apresentar, a ida dele ao encontro no FMI seria mais provável. Fazer duas coisas ao mesmo tempo (no caso de Guedes) – articular e tocar a economia – ainda parece uma missão quase impossível num governo em que a crise política contamina ainda mais as pauta econômicas Pior: a gestão não consegue aglutinar a própria legenda, o PSL e os investimentos públicos estão congelados.

 

 

*Com informações do 247

Categorias
Uncategorized

Globo e a manipulação: A ampla cobertura da Primavera Árabe e o silêncio sobre o levante popular no Equador

O que está acontecendo no Equador? Depende. Para a Globo, não está acontecendo absolutamente nada.

O levante popular vitorioso no Equador conseguiu a suspensão dos decretos firmados entre o governo e o FMI. As negociações vão prosseguir medidas pela ONU e pela Igreja Católica. Lideranças indígenas interrompem a mobilização. Manifestantes comemoram. Ou seja, tudo o que a Globo não quer que aconteça no Brasil com as medidas neoliberais de Paulo Guedes em que ela é a principal garota propaganda.

A diferença de cobertura da Globo da primavera árabe, em 2013, para a insurreição indígena que ocorre no Equador, é gritante, é escandalosa.

Se a Globo pretendia contagiar a população brasileira, em 2013, cobrindo as manifestações da primavera árabe, ela conseguiu e ainda pôde estimular, ao vivo, todas as manifestações, aqui no Brasil, manipuladas por ela. As manifestações começaram em função de 0,20 centavos e se alastraram perigosamente para um fascismo tresloucado, na clara tentativa de derrubar Dilma Roussef.

Agora, a Globo se coloca de forma oposta em um silêncio ensurdecedor, repetindo a mesma receita que ela usa para proteger Moro e sua quadrilha nos vazamentos publicados pelo Intercept.

A Globo não dá um pio sequer sobre o levante popular do Equador contra o neoliberalismo de Lenín Moreno, capacho do FMI, para que isso não contagie a população brasileira contra o desastroso governo de Bolsonaro. O que mostra que ela é tão nefasta quando ataca seus alvos para estraçalhar reputações, promover levantes quanto quando se silencia para proteger aliados e consagrar sistemas econômicos que lhe são favoráveis.

Detalhe: a Globo é uma concessão pública que não tem o menor compromisso com esse detalhe, trata a concessão como algo privado que lhe dá o direito à manipulação da opinião pública por interesses próprios, noticiando o que quer, como quer e quando quer, sem ser incomodada por ninguém.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

 

Categorias
Uncategorized

No SPC da política, Ciro, o cachorro louco, disputa holofotes com Damares e Eduardo Bolsonaro

Ainda hoje eu dizia que Damares é o bobo da corte de um governo de palhaços, milicianos, assassinos e corruptos. É metalinguagem que se chama. É a linguagem que descreve sobre ela mesma. Ou seja, ela utiliza o próprio código para explicá-la.

Por isso não me proponho a fazer aqui uma conferência sobre Ciro Gomes e a sua baixaria ao atacar os Jornalistas Paulo Moreira Leite, do Brasil 247 e Kiko Nogueira, do DCM.

Pretendo começar essa conversa fazendo duas perguntas: quem é Ciro Gomes hoje na política brasileira? Quem Ciro representa?

Ciro, hoje, não está em lugar nenhum, além de ser um indivíduo dotado de arrogância que se permite não só confrontar com quem ele elege como inimigo, como afrontar o próprio limite da ética, transformando-se num completo imbecil.

A mim não surpreende em nada o formato político que Ciro usa em suas fantasias, ele sempre representou a si mesmo, aliás, esta é a única especialidade dele, e não perderia a oportunidade de promoção que a Folha lhe deu para produzir labaredas retóricas do mesmo nível de Eduardo Bolsonaro e de Damares Alves, que em sua mais recente declaração pública, num tal Congresso Conservador, disse que naquele ambiente promissor ninguém tinha lhe oferecido droga e que nenhuma menina tinha enfiado um crucifixo na vagina. E Eduardo Bolsonaro, plagiando uma camisa da campanha de Trump, fez o mesmo, mostrando o vira-latismo 2.0 da família que bufou a ajuda de Trump na OCDE e, lógico, tudo não passou de um grande fake news desmentido, em carta, pelo Secretário de Estado Americano, Mike Pompeo.

Essa vulgaridade de Ciro, Damares e Eduardo está em busca de um lugar ao sol. A isso talvez pudéssemos chamar de lugaridade, que é a destreza de cada um de nós dizer mais de nós mesmos do que de quem nós atacamos. Resumindo, até porque não tem muito o que se dizer de Ciro, mas Ciro foi Ciro, o médico e o louco; o criador e a criatura, o cão raivoso mordendo o próprio rabo por propósitos políticos, por falta de capacidade de incluir em seu discurso uma solução para a realidade brasileira.

Ciro vende a sua grosseria bufa como se fosse personalidade forte, quando todos sabemos que Ciro deu garantias ao mercado de que, se eleito fosse, não buliria com o resultado integral da proposta neoliberal que Paulo Guedes, hoje, atocha na sociedade. Até porque outro dado a acrescentar é que Ciro é o homem forte do presidente da CSN, Benjamin Steinbruck, o mesmo que recebeu a CSN de bandeja de FHC num governo do qual Ciro foi parte e que aparece no mesmo Uol dizendo que os trabalhadores no Brasil não deveriam ter hora de almoço, apenas comer um sanduíche com uma das mãos e, com a outra, operar as máquinas, e que isso sim é virtude de um povo.

Assim, exigir de Ciro bom senso, integridade ou qualquer filosofia política que não seja a de um sujeito medíocre, que vive da floração de um pensamento raivoso, é querer demais.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas