Não se viu e nem se verá Moro, Ministro da Justiça e da Segurança Pública, criticar o motim miliciano no Ceará

Mais do que Bolsonaro, o que marca hoje as relações entre governo e milícia é a adesão de Moro ao projeto miliciano que, naturalmente inclui, principalmente o comando da família Bolsonaro.

Ninguém esperava outra atitude do presidente ligado às milícias que não fosse criticar Cid Gomes em apoio descarado ao motim dos bandidos mascarados que fizeram da população cearense refém da violência, de parte da estrutura do estado pela milícia.

O que assombra não é o bolsonarismo doido apoiar qualquer sandice, mesmo contra si, vinda da língua de trapo de Bolsonaro, essa gente está amarga de ódio desde que Aécio sofreu a quarta derrota tucana.

Sim, porque o bolsonarismo não existe, o que existe é uma xepa tucana em estado de putrefação moral que, de tão podre de ódio, optou por Bolsonaro depois que Aécio caiu em desgraça pública a partir das revelações, em áudio e vídeo, de corrupção envolvendo a JBS.

Assim, o fel que essa gente traz aceita qualquer produção de ódio contra o PT ou contra a esquerda, porque ela entende política como um torcedor fanático entende a lógica do futebol, desses que se engalfinham e se matam em torcidas organizadas por seu time. Ou seja, é doença e não tem cura. Para piorar, são pessoas incultas e incapazes de frear o próprio impulso de ignorância.

A questão aqui é outra e de complexidade muito maior e mais aguda. Afirmar que Moro se transformou em capanga da milícia não é retórica de Glauber Braga, é síntese, tanto que ele mesmo prova, poucos dias depois de ser espinafrado pelo deputado do Psol, calando-se e se escondendo sob a atitude criminosa de PMs armados e mascarados infiltrados na corporação do Ceará pela milícia para trazer terror à sociedade com os aplausos do Palácio do Planalto.

Moro pode não acreditar, mas está assinando a sua sentença de morte política, porque o judiciário inteiro, que apoiou todas as suas trapaças na Lava Jato, sobretudo contra Lula, não vai querer posar ao lado de um Adriano da Nóbrega, de um Ronnie Lessa, de um Élcio de Queiroz envolvidos no assassinato de Marielle, que é hoje uma personalidade mundial. Essa gente não vai querer se indispor com a comunidade jurídica internacional em defesa de um ex-herói do judiciário que se transformou em cão de guarda de assassinos.

Na verdade, Moro tem cumprido um ótimo papel a serviço de Lula, mostrando o que ele verdadeiramente é e não como parecia ser, revelando sua ambição política, sua lógica de ética enviesada e sua total falta de compromisso com a justiça e com a constituição.

Por isso o silêncio de Moro sobre o motim do Ceará, promovido pela família Bolsonaro, fala muito mais de si do que qualquer outra retórica, porque esse silêncio obsequioso de Moro transborda submissão ao comando do levante miliciano convocado pelos ratos que habitam os porões do Palácio do Planalto depois da chegada de Bolsonaro ao poder.

O detalhe que engrossa ainda mais essa trama que envolve Moro e as milícias, é que hora nenhuma a Globo, que vivia dando holofotes a Moro, sequer indagou seu comportamento e, muito menos lhe cobrou respostas concretas sobre a insubordinação criminosa da milícia infiltrada na PM do Ceará.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

Fantástico fala meias verdades sobre a morte do miliciano de Bolsonaro, insinuando queima de arquivo e esquerda morde a isca

A Globo, neste domingo, no Fantástico, fez o que melhor sabe fazer, editar uma matéria que liga nada a lugar nenhum.

Se a matéria fosse séria, não pinçaria fatos para construir suspense e teoria da conspiração, ela iria direto na fonte do comando da operação, que são o Ministério Público e Polícia Civil do Rio. Fosse queima de arquivo, como muitos da esquerda estão caindo na esparrela de Bolsonaro e Moro, porque foi ele quem começou com essa história de que a PM da Bahia é que matou o miliciano ligado a Bolsonaro e a sua família, sendo que Moro, mais do que ninguém, sabe, porque foi avisado oficialmente de que toda a operação foi coordenada pelo MP e Polícia Civil do Rio em mais uma etapa da Operação Os Intocáveis, que fez um verdadeiro estrago na milícia de Rio das Pedras no último dia 30, prendendo a cúpula dessa milícia.

O Fantástico fez questão de construir uma narrativa não do que aconteceu de fato, mas daquilo que a Globo quis fazer parecer que aconteceu.

Sobre os telefones celulares, o Fantástico diz que Adriano fazia ligações e se desfazia dos chips ou dos aparelhos, sem dizer duas coisas fundamentais, primeiro, foi através de ligações com a família, mesmo tendo desfeito do chip, que a polícia descobriu que ele estava na Bahia livre, leve e solto, fazendo negócios como quem toma um suco, tranquilo porque tinha a proteção do próprio Moro que não o incluiu na lista dos criminosos procurados.

Aqui, abre-se um parênteses: como Moro, descaradamente não incluiu o miliciano, comparsa de Bolsonaro na lista dos criminosos mais procurados?

É simples, para protegê-lo, já que Adriano estava na lista Interpol, mas não ena lista do Ministério da Justiça e Segurança Pública comandado pelo super Sergio Moro, o herói mandraque desmoralizado por Glauber Braga e Marcelo Freixo, com apuração da Folha de que Moro escreveu com todas as letras em seu projeto “anticrime” que miliciano desses que são vizinhos de Bolsonaro e condecorados pelo clã ao longo de décadas, deveriam ter pena reduzida em relação aos traficantes, mesmo Moro sabendo de inúmeras parcerias entre a milícia e o tráfico de drogas, a milícia e o tráfico de armas, que acaba sendo no final das contas, um caldo só de banditismo com interesses trançados.

O próprio Adriano da Nóbrega, com seu empreendedorismo no escritório do crime, assassinou pessoas a mando de várias milícias, ou seja, esse sujeito que fazia parte, junto com sua família do esquema de rachadinha do clã Bolsonaro, era uma espécie de coringa no universo da milícia carioca e, com isso, costurou várias alianças entre facções ou cartéis, dando a ele o status de patrãozão, fazendo lembrar o nome que Bolsonaro tinha no exército, cavalão.

Assim, de cara, Adriano e Bolsonaro se confundem pela ótica de Rosângela Moro que disse que Bolsonaro e Moro são uma só pessoa, eu incluiria aí o próprio Adriano e diria que Moro, Bolsonaro e Adriano são uma pessoa só.

Então, quem poderia ter interesse em queimar arquivo, senão Bolsonaro e Moro? Por isso, não por acaso, Adriano foi morto na casa de um vereador do PSL. E não importa se ele entrou no partido antes ou depois de Bolsonaro, pois ninguém faz essa avaliação quando quer desconstruir a imagem do PT, é do PT e pronto. A mesma medida tem que ser adotada para esse vereador, é do PSL, partido que elegeu Bolsonaro que é comparsa de longa data de Adriano da Nóbrega que, por sua vez, era comparsa de Ronnie Lessa, de Queiroz e do verdadeiro Palácio do Planalto de Bolsonaro, Rio das Pedras, o mesmo onde teve início a operação que pegou os tubarões da maior milícia do Rio, somando 33 presos, incluindo delegados, policiais civis e militares.

Segunda questão: Ainda sobre os celulares, o Fantástico fez questão de deixar no ar a história da destruição dos chips, sem mencionar que 13 celulares estão nas mãos da Polícia Civil e do Ministério Público que acreditam que esses telefones vão falar muito do que eles precisam saber, como souberam muita coisa sobre Rio das Pedras quando periciaram os telefones de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz.

À esquerda cabe buscar as informações diretamente na fonte, com quem está de fato comandando a operação Os Intocáveis II, que prendeu os chefões da milícia da Zona Oeste do Rio, a mais violenta e perigosa, assim como encontraram na Bahia o miliciano Adriano da Nóbrega.

O resto é fantasia construída por teorias da conspiração calcada em retalhos de reportagens, picotadas, muito mais para confundir do que para explicar.

É bom parte da esquerda se munir do velho ditado, “caldo de galinha e prudência não fazem mal a ninguém”, para que a esquerda não ecoe o discurso que interessa aos vigaristas Bolsonaro e Moro de que foi queima de arquivo executada pela PM da Bahia sob o comando do governador do PT, Rui Costa.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

 

Bolsonaro mirou na PM da Bahia e no PT para tentar acertar o MP e a Polícia Civil do Rio

Alguém viu Moro ou qualquer um dos Bolsonaro elogiando a prisão de 33 milicianos de Rio das Pedras, o forte apache de Queiroz, no último dia 30 numa operação deflagrada pela Polícia Civil e Ministério Público do Rio? Não, nem poderia.

Bolsonaro não está interessado em construir uma narrativa que jogue no colo do PT, através da PM da Bahia, sob o comando do governador do PT, Rui Costa, a suposta queima de arquivo com a morte de Adriano da Nóbrega.

Se tem alguém que sabe que não foi queima de arquivo, é Bolsonaro e Moro.

O que Bolsonaro não falou e tem que se repetir aqui, é que a operação que fez o cerco para prender Adriano da Nóbrega na Bahia que culminou na sua morte, é a continuação da Operação os Intocáveis II que, no último dia 30 prendeu 33 peixes graúdos do núcleo econômico das milícias de Rio das Pedras, Muzema.

Pois bem, não se viu Bolsonaro elogiar a ação da polícia, assim como nenhum dos três delinquentes do clã, Flávio, Carlos e Eduardo.

O mesmo pode se dizer de Sergio Moro, o Ministro da Segurança Pública que vive tietando PMs e policiais bolsonaristas, de olho na eleição de 2022, que não fez qualquer comentário sobre essa operação que fez um grande estrago na principal milícia carioca.

A mesma coisa eles fizeram, tanto Bolsonaro e filhos, quanto Moro, jamais aplaudiram o trabalho da Polícia Civil e do MP-RJ que desembocou não só na prisão de Ronnie Lessa, vizinho de Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra, sua esposa e Élcio de Queiroz, como a maior apreensão de armas da história do Rio, 117 fuzis encontrados com Ronnie Lessa.

Mas os fatos continuam e é bom que os céticos, que adoram uma teoria da conspiração, leiam isso. Foi através dos celulares de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz que o MP e a polícia conseguiram mapear toda a zona de atuação da milícia em Rio das Pedras e fazer uma mega operação que resultou na prisão de 33 milicianos.

Então, quando o Agente Federal, Marcelo Pasqualetti, no programa Painel, da Globonews, no último sábado, disse que os 13 celulares encontrados com Adriano da Nóbrega na Bahia, certamente, falariam mais do que se Adriano estivesse vivo, não tem como não dar crédito de total confiança a ele.

Lembrando também que, tanto a família de Marielle quanto Marcelo Freixo, que tem profundo conhecimento de como operam as milícias no Rio, que eles não deixaram Moro tirar das mãos do MP-RJ e da Polícia Civil do Rio o caso Marielle, porque sabem que eles estão fazendo um trabalho sério e avançando muito nas investigações de todos os envolvidos na morte de Marielle e Anderson.

Daí o silêncio de Moro e da família Bolsonaro sobre essas operações extremamente exitosas e a malandragem de Bolsonaro fingindo atacar a PM da Bahia e o governo de Rui Costa quando, na verdade, o alvo de Bolsonaro é o comando da operação, que é do Ministério Público e da Polícia Civil do Rio que, certamente, estão bem mais perto do cangote de todos do clã Bolsonaro. Por isso, Bolsonaro tenta desqualificar e desacreditar toda a operação, como fez neste sábado (15).

 

*Carlos Henrique machado Freitas

Luiz Eduardo Soares: ‘As instituições estão sendo corroídas pelo fascismo’

Para ex-secretário Nacional de Segurança Pública, “ultradireita no poder” destruiu autonomia dos órgãos de investigação, como as polícias e o Ministério Público.

Para o ex-secretário de Segurança, órgãos têm atritos internos causados pela ascensão conservadora.

Até que ponto as instituições, como Polícia Federal e Ministério Público, estão livres para investigar no Brasil presidido por Jair Bolsonaro (sem partido)? A pergunta surge após a morte de Adriano Magalhães da Nóbrega, acusado de chefiar a milícia Escritório do Crime e de ter ligações com a família Bolsonaro, em ação conjunta das polícias da Bahia e do Rio de Janeiro.

Para o ex-secretário nacional de Segurança Pública, o antropólogo Luiz Eduardo Soares, há um boicote principalmente interno. Nóbrega era considerado peça fundamental para entender a ligação da família Bolsonaro com as milícias. A relação envolveu inclusive emprego de sua esposa e mãe no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro. O ex-secretário vê indícios de queima de arquivo ou, então, “um nível de incompetência tremendo” alguém procurado nacionalmente acabar morto.

Segundo Soares, não é possível dizer que “as instituições estão funcionando” enquanto existe uma onda fascista e integralista nestes ambientes, que combatem quem pensa diferente, segundo o ex-secretário. “Saíram do armário não só os conservadores, que sempre existiram e predominaram essas instituições, mas saíram as adesões que beiram o fascismo, com declarações de ultradireita”, define.

Em setembro do ano passado, Bolsonaro ignorou a lista tríplice ao indicar Augusto Aras como novo procurador-geral da República em substituição a Raquel Dodge. Pela tradição, três nomes são indicados pela ANPR (Associação Nacional de Procuradores da República), mas o presidente decidiu escolher uma pessoa de perfil conservador e que seria mais alinhado às ideias dele.

Apesar disso, para o secretário, atacar a autonomia das instituições que têm como prerrogativa investigar nem precisa de influência direta do presidente. “Dado o atual quadro que estamos vendo, nem seria preciso que houvesse grandes operações do Executivo para pressionar”, afirma Luiz Eduardo.

Confira a entrevista:

Ponte – O quanto o presidente Jair Bolsonaro tem influenciado na autonomia de investigação, seja da Polícia Federal, seja do Ministério Público?

Luiz Eduardo Soares – É difícil precisar. Em primeiro lugar, não podemos idealizar a autonomia como algo real, que tenha se realizado em algum momento e agora esteja sendo reduzido. Por exemplo, é claro e indiscutível que no período da Dilma [Rousseff, ex-presidenta], houve uma autonomia jamais vista. Isso constatamos pelo que aconteceu, não é preciso uma reflexão sofisticada para deduzir isso. A PF agiu e não houve qualquer tipo de perseguição. Sabemos que naquele período isso efetivamente aconteceu em larga escala, mas a situação usual, mais costumeira, não é aquela indicada na Constituição. É a de restrição, de pressões. Se baixarmos a bola e entendermos que a realidade é muito complicada e se dá em um espécie contínua de tensões, produzindo resultado que variam para lá ou para cá, já começamos a pensar de maneira mais interessante, real. O segundo ponto: veja como as próprias instituições vão se amoldando ao momento político conjuntural nas suas guerras internas. É importante salientar que se evite a pensar a instituição e o que lhe está exterior, o poder do Executivo, por exemplo, porque no interior dessas instituições há conflitos.

Como identificar isso?

Luiz Eduardo Soares – Veja o caso do MP: no Rio de Janeiro, uma promotora foi afastada depois de fazer uma perícia apressada, depois de poucas horas, sem tê-lo feito antecipadamente, logo depois de matéria da Rede Globo, Jornal Nacional, que indicava que um porteiro tinha dito, depois negou…[Soares se refere à informação de que no dia da morte de Marielle Franco, Élcio de Queiroz, apontado como um dos assassinos da vereadora, teria ido ao condomínio do presidente e chamado por ele]. A promotora se apressou [Simone Sibilio afirmou que a versão do porteiro era mentirosa], depois se descobriu que ela fizera campanha para o Bolsonaro. E não são poucas as referências que tenho de amigos no interior do Ministério Público e do Judiciário do RJ que são impressionantes. Saíram do armário não só os conservadores, que sempre existiram e predominaram essas instituições, mas saíram as adesões que beiram o fascismo, com declarações de ultra direita.

Isso gera atropelos?

Luiz Eduardo Soares – Claro! E aí você tem: se entre eles há uma exposição tão clara, nítida, já não mascaram, não têm pudor, tem um grupo do MP pela Sociedade, movimento Promotores e Procuradores pela Sociedade, o manifesto deles após vitória do Bolsonaro, ano passado, com uma plataforma dizendo os pontos que eles lutariam e eram os que o próprio governo federal defende. Então não é preciso nenhuma pressão externa. O MP tem a característica de ser muito fragmentado e individualizado, isso é até uma virtude porque garante liberdade dos profissionais, mas não significa que espontaneamente eles não assumam ideologia e, no caso hoje do Brasil, o que é assustador é que dentro do MP há valores a serem cultuados explicitamente ligados à tradição fascista ou integralista, se quisermos tornar mais nacional o debate. O mesmo acontece no Judiciário. Estava conversando com amigos juízes e eles estão assombrados como isso está acontecendo sem qualquer pudor. Dado esse quadro, nem seria preciso que houvesse grandes operações do executivo para pressionar.

 É a influência dessa onda ultra conservadora?

Luiz Eduardo Soares – As máquinas institucionais estão sendo corroídas e degradadas pelo fascismo. É uma coisa impressionante. Quando as pessoas dizem “as instituições estão funcionando”, eu me pergunto ao que elas se referem, se a algumas providências que são tomadas, mas não se percebe que sob as providências eventualmente positivas que aparecem e indicariam o pleno funcionamento democrático das instituições, por dentro, há guerras gravíssimas. E se há alguma decisão positivas, há por outro lado outras tantas, talvez nem tão visíveis, que são chocantes, perturbadoras. Isso está acontecendo. Não podemos dizer que as instituições deixaram de existir e estão conduzidas pelo fascismo, nem que estão firmes e fortes, funcionando. Há uma conflagração ideológica. Para saber para onde isso pende seria preciso uma bola de cristal. Não sabemos o que vai acontecer. Hoje é o clima de grande tensão e disputa no interior da Polícia Federal, o que sempre houve.

Ocorria no passado?

Luiz Eduardo Soares – No caso da PF, era menos marcado pela ideologia e mais pelo corporativismo. Por exemplo, até início de 2019, e depois de alguma maneira isso arrefeceu porque as bandeiras ideológicas bolsonaristas se impuseram, porque havia suposição comum de que haveria grandes trunfos corporativos, ganhos seriam grandes. Uma expectativa que saciou essa voracidade. Até início de 2019, ouvi de amigos que poderia haver tragédia, clima entre agentes e delegados que se cruzam em corredores armados, com nível de ódio entre eles imenso. Isso tudo, de alguma forma, foi adiado porque houve tendência de apoio em comum ao Bolsonaro que criou uma expectativa favorável do ponto de vista corporativo. No fundo, o que predomina é uma ideologia em comum ultradireitista. E vemos que essas instituições estão tomadas por esse viés. Temos um MP diluído e uma predominância hard-conservadora. O Judiciário do mesmo jeito e a PF, que é mais difícil dizer, mas muito marcada por esses valores. Como isso tudo impacta? A ver.

Entre todos esses órgãos, a PF virou alvo de ameaças ao longo de 2019 por parte do presidente. Como isso interfere no trabalho?

Luiz Eduardo Soares – Mas é claro que afeta. “Posso mexer nisso? Não, deixa para lá porque senão minha carreira está em xeque”. Evidente que se cria um clima de instabilidade, incerteza e de terror. Se algum momento houve um sentido de proteção, “faça o seu trabalho e der o que der vai haver proteção, pode ir adiante, cumpriremos nosso papel de instituição da República”. Se em algum momento isso teve próximo de acontecer, nós estamos distante desse momento. Não quer dizer que não haja grandes profissionais, mas claro que isso acua até os bons profissionais.

É a sensação de que não se tem uma sombra protetora.

Luiz Eduardo Soares – Exato, agora é o contrário. Posso imaginar a situação sobretudo dos responsáveis, delegados, superintendentes. Quem vai ousar?

Como encara toda a situação envolvendo o Adriano Magalhães da Nóbrega, ligado à família Bolsonaro, desde as investigações, de ter ficado fora da lista de mais procurados até a sua morte?

Luiz Eduardo Soares – É claro que não podemos cravar com certeza absoluta, isso só seria possível com um tipo de investigação que eu não tenho nem ideia para fazer, então não posso dizer com certeza absoluta. A imensa probabilidade, de acordo com experiência que tenho, de quem acompanha a saga, é de que há elementos de queima de arquivo. É impossível você ser obrigado a matar uma pessoa numa situação dessas. O que um equipe faz se você sabe que precisa capturar um indivíduo com vida? Deixa essa pessoa esgotar a munição, esgotar utilização de arma, estar sozinha, impedir que haja canais que viabilizem reprodução da situação, luz, água, etc. Com cerco no interior, em duas semanas não seria preciso isso. Em dez dias, uma semana… Quando o sujeito diz que não tem mesmo alternativa acabaria se entregando. Essa história de “ele resistiu” é uma coisa completamente inverosímel. É absurdo. Ou é um nível de incompetência tremendo e não seria de se esperar em um caso assim como esse, tão grave, tão importante para o país todo. Ou então é, de fato, uma oportunidade de queimar arquivo. Isso acontece todos os dias no Brasil.

Qual ligação o Adriano tinha com o caso da Marielle Franco e com a família Bolsonaro?

Luiz Eduardo Soares – Com o caso Marielle, não tenho informação. Em relação à família [Bolsonaro], tudo. Ele está sendo buscado como um pivô, figura chave na história. Quais são as relações da família Bolsonaro com as milícias? Sabemos que há inúmeras no discurso, na prática de premiação, nas alianças, na criação de nichos eleitorais, nos gabinetes, são inúmeras. Esse sujeito é um dos líderes desse processo de formação de milícias e sempre esteve ligado à família. É uma história comum. Estávamos no fio da meada da potencialmente biografia criminosa familiar. Essa é uma peça absolutamente chave. Só o fato de ele ter fugido naquelas circunstâncias já é muito suspeito. É muito evidente que havia alguma proteção, informação privilegiada. Quando o Lessa [Ronnie Lessa, PM da reserva e integrante de milícia], assassino que está preso acusado de atirar na Marielle [Franco], foi preso às 5h, estava preparando a fuga. Ou seja, tinha sido informado sobre a prisão. Aquilo é a prova que foi por um triz que não fugiu. Há elementos infiltrados, há divisões aí. Os milicianos são policiais, as milícias não são desassociadas da polícia, a política não é desassociável disso tudo… É muito difícil isolar um núcleo a ponto de que não haja vazamento, de que haja efetivamente independência, autonomia.

 

 

*Da Ponte

O envolvimento óbvio da família Bolsonaro com as milícias que mataram Marielle

Xadrez de Bolsonaro, Marielle e de como está sendo sua blindagem, por Luis Nassif

Juntando todos os pontos, chega-se ao envolvimento dos Bolsonaro. Mas a cobertura hesita em ir até o fim.

Ponto 1 – o envolvimento óbvio da família Bolsonaro com as milícias que mataram Marielle.

Ponto 2 – o jogo de acomodamento da mídia. Vai até determinado ponto, para mostrar alguma independência. Mas recua imediatamente, quando percebe que bateu em matéria sólida, capaz de afundar o barco Bolsonaro.

É o caso, agora, da surpresa com a morte do ex-capitão Adriano Nóbrega, chefe do escritório do crime, depois de ter ignorado solenemente indícios veementes da ligação dos Bolsonaro com o crime e de ter se calado com a blindagem de Queiroz, o elo explícito dos Bolsonaro com as milícias.

Tema – o Coitus Interruptus da Globo

No dia 29 de outubro de 2019, o Jornal Nacional divulga a informação bombástica sobre a entrada, no condomínio de Bolsonaro, de Élcio Queiroz, o motorista que guiou o carro que conduziu Ronnie Lessa, o assassino de Marielle.

A reportagem dizia que o porteiro admitiu duas vezes que a autorização foi dada pela casa 58, de Bolsonaro. Depois de entrar, o carro rumou para a casa 66, de Ronnie Lessa.

A reportagem dava a dica para o álibi de Bolsonaro: naquele dia ele estava em Brasília e, portanto, não poderia ter recebido a ligação. Nem se preocupou em analisar as características do sistema de telefonia do condomínio, para saber se permitia ou não transferência para celulares.

Naquela madrugada, Bolsonaro fez um live com ataques pesados e ameaças à Globo.

Logo depois, seu filho Carlos Bolsonaro divulgou um vídeo mostrando o sistema de telefonia do condomínio e uma gravação no horário de entrada do carro de Élcio, na qual o porteiro supostamente liga para a casa de Ronnie, não para a casa 58.

A Globo recua, solta uma nota se explicando e não volta mais ao tema, ignorando todas as informações que surgiram posteriormente, reforçando sua tese.

As ligações da família Bolsonaro com as milícias do Rio não se resumem apenas a votos de louvor na Assembleia Legislativa. É uma ligação umbilical, que passa pelas rachadinhas, e pela ampla defesa política das milícias pelo então deputado federal Jair Bolsonaro.

Em entrevista à BBC internacional, declarou: “Elas oferecem segurança e, desta forma, conseguem manter a ordem e a disciplina nas comunidades. É o que se chama de milícia. O governo deveria apoiá-las, já que não consegue combater os traficantes de drogas. E, talvez, no futuro, deveria legalizá-las”.

Peça 2 – hipóteses iniciais sobre os Bolsonaro e Marielle

Havia as seguintes coincidências, que apontei no artigo “Juntando as peças do dia 14/03/2018 na vida de Bolsonaro”

Primeiro, vamos aos fatos objetivos:

1 – Um twitter de uma jornalista respeitável, Thais Bilenky, no dia 14 de março, informando que Bolsonaro seguiria para o Rio por estar com problemas de intoxicação.
2 – O depoimento do porteiro do Condomínio Vivendas da Barra, dizendo ligou para Bolsonaro para obter autorização para a entrada de Elcio Queiroz no condomínio. E a anotação no papel indicando a casa de Bolsonaro como destino.
3 – A sessão da Câmara mostrando que, naquele dia, Bolsonaro estava lá, participando das sessões.
4 – O sistema de telefonia do condomínio, que permite transferir ligações para celulares.
5 – Posteriormente, vazamentos aos Bolsonaro de trechos da investigação de interesse deles, mais a identificação de dois promotores como bolsonaristas ativos, mostrando acesso da família às investigações.

Teoria do fato

Em cima desses dados, formulei uma hipótese – repito, hipótese – sobre o que teria ocorrido naquele dia.

Bolsonaro articulou uma reunião com Ronnie Lessa (do Escritório de Crime) e Elcio Queiroz para o dia 14, no Condomínio Vivendas da Barra.

Preparou um álibi para faltar à sessão daquele dia na Câmara Federal. A jornalista Thais Belinski foi informada de que ele iria voltar para o Rio de Janeiro por um problema de intoxicação alimentar. Era um álibi curioso: viajar intoxicado, podendo descansar e ser tratado em Brasilia.

Naquele dia, trocando ideias com assessores, Bolsonaro se deu conta de que a ida para o Rio de Janeiro poderia expô-lo. Assim, decidiu ficar na sessão da Câmara, onde apareceu sem nenhum sinal de quem estava intoxicado. A reunião no Condomínio foi mantida com os demais participantes.

Ao chegar ao condomínio, Élcio deu o número da casa de Bolsonaro. O porteiro ligou para o celular anexado ao número, Bolsonaro atendeu em Brasília e autorizou a entrada. E Élcio rumou para a casa de Ronnie Lessa, que fica na mesma rua da casa de Bolsonaro, cerca de duas ou três casas depois.
Quando a reunião foi identificada, após perícia no celular de Ronnie Lessa, os Bolsonaro foram informados por aliados infiltrados nas investigações, que atrasaram a perícia a fim de permitir que as provas fossem alteradas.

Peça 3 – as evidências que surgiram

Nos dias seguintes, outros indícios começaram a aparecer, fortalecendo as hipóteses apresentadas, implicando fortemente os Bolsonaro, e sendo solenemente ignorados pelas investigações e pela própria mídia.
As postagens apagadas de Bolsonaro

No dia da morte de Marielle, Bolsonaro pai almoçou na residência do deputado Carlos Manato, correligionário do Espírito Santo. Comentários no post do almoço comprovam que, naquele dia, foram apagados todos as postagens de Jair Bolsonaro no Facebook.

A presença de Carlos no condomínio

Mais que isso, quando foi divulgado o depoimento do porteiro, sobre a entrada no condomínio do motorista que conduziu Ronnie Lessa para o assassinato de Marielle, a primeira reação de Carlos Bolsonaro foi dizer que não estava no condomínio naquela hora. Apresentou, inclusive, publicação do Diário Oficial do Município, para comprovar que estava em sessão.

Pouco depois, no entanto, admitiu, por descuido, que estava no condomínio na hora em que os assassinos de Mariella estavam reunidos. A confissão involuntária ocorreu quando mostrava o vídeo com as chamadas recebidas pelos porteiros do condomínio. Uma das chamadas era para sua casa, às 17 horas. Para mostrar que a chamada era inócua, Carlos clicou o arquivo e apareceu a voz do porteiro informando que havia chegado um Uber para levá-lo. Estava ali a comprovação, que foi amplamente ignorada pela imprensa.

Nos dias seguintes, Carlos foi obrigado a apagar todas as suas postagens e aceitou-se passivamente a explicação de que a razão foi a irritação do pai com um comentário dele sobre a administração.

O sistema de telefonia que ligava para celular

O principal álibi de Bolsonaro, para rebater a versão do porteiro, de que o motorista tinha pedido autorização na casa de Bolsonaro, é que estava em Brasília naquele momento. Logo em seguida, mostramos aqui (com base no depoimento de um visitante do condomínio) que o sistema interno não tinha interfone. As chamadas eram remetidas para os telefones fixo ou celular dos moradores.

Logo depois, um blog do Rio de Janeiro comprovou que o sistema de telefonia do condomínio permitia essas transferências de ligação.

As informações foram completamente ignoradas pela imprensa. As investigações sequer procuraram levantar as chamadas para celular e os registros do sistema.

Peça 4 – as interferências nas investigações

Em nenhum momento o MPE do Rio de Janeiro solicitou uma perícia real no equipamento de telefonia do condomínio.

Logo após a matéria da Globo com o depoimento do porteiro, o Ministério Público Estadual convoca uma coletiva e informa sobre uma falsa perícia, feita em tempo recorde, que teria desmentido o porteiro. Não houve perícia alguma no equipamento, mas apenas a constatação de que o áudio divulgado por Carlos Bolsonaro (com o porteiro ligando para a casa de Ronnie Lessa, e não a de Bolsonaro), era verdadeiro. Não foi periciado se foi incluído no sistema depois.

Posteriormente, descobriu-se que a promotora chefe das investigações era bolsonarista ativa.

A Polícia Federal empreendeu uma ofensiva inédita de intimidação do porteiro, para que mudasse seu depoimento, mostrando a face mais ostensiva do estado policial.

O Ministro da Justiça Sérgio Moro não incluiu o chefe do Escritório do Crime, Adriano Nóbrega, na lista de criminosos procurados, alegando que seu caso não demandava cooperação com outros estados.

No mesmo momento, uma cooperação da Polícia Civil do Rio com a da Bahia cercava e calava Adriano para sempre.

Depois de ter consagrado a condução coercitiva, de ter levado coercitivamente até 32 funcionários sérios de um banco público, nem Ministério Público, nem Polícia, conseguiram, até agora, um depoimento de Queiroz, o elo maior de ligação dos Bolsonaro com as milícias.

Ontem, foi assassinado Adriano Nóbrega que, antes de morrer, afirmava que seria alvo de “queima de arquivos”.

Peça 5 – as explicações para o descaso

Não é pouca coisa. É um presidente da República – e seu grupo – suspeito de participação no assassinato de uma vereadora. Mais que isso, com um conjunto de medidas visando facilitar o comércio de armas, o enfraquecimento das alfândegas, a cooptação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, a compra da mídia.

O recuo dos grupos de mídia do 1º time se deve ou à intimidação ou à lógica de permitir o fortalecimento de Bolsonaro, para que ele entregue as tais reformas.

Em qualquer caso, uma clara marcha para a insensatez.

 

 

*Luis Nassif/GGN

Clã Bolsonaro: Polícia faz uma megaoperação para prender milicianos que atuam em Rio das Pedras

A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio fazem uma megaoperação, na manhã desta quinta-feira, em vários bairros da Zona Oeste do Rio para prender milicianos que atuam em Rio das Pedras, Muzema e localidades próximas, naquela região. São 45 mandados de prisão preventiva a serem cumpridos.

Agentes estão em diversos bairros, como Jacarepaguá, Pechincha e Barra da Tijuca. Até as 8h, 25 pessoas haviam sido presas.

Um dos presos é o policial civil Jorge Luiz Camillo Alves. De acodo com o MP, foi flagrado em uma “intensa sequência de diálogos” com Ronnie Lessa, (vizinho de Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra) acusado de executar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes junto com Élcio de Queiroz.

O MP diz que “em vários trechos dos diálogos se refere a ele (Jorge Luiz) como o ‘Amigo da 16’, numa referência à delegacia (16ª DP, na Barra da Tijuca) onde o mesmo está lotado”.

Além de Camilo, outros policiais civis e militares são procurados por dar apoio ao bando paramilitar.

O MP chegou a esse policial civil graças à análise de um telefone celular apreendido na Operação Lume, durante a qual Lessa e Queiroz foram presos.

Os presos na operação serão levados para a Cidade da Polícia, no Jacarezinho, na Zona Norte da capital.

A ação desta quinta foi batizada de Os Intocáveis II e é um desdobramento da operação Os Intocáveis, realizada em 22 de janeiro de 2018. Naquela ocasião, treze pessoas foram denunciadas por organização criminosa e foram apreendidos documentos e aparelhos eletrônicos.

Esse material foi analisado e, então, foram identificados novos suspeitos de participação na milícia.

Participação de policiais

Os policiais alvos da operação são lotados na 16ª DP (Barra da Tijuca), no 18º BPM (Jacarepaguá) e no 31º BPM (Recreio dos Bandeirantes). Independentemente do pedido de prisão preventiva, foi pedida a medida cautelar de suspensão do porte de arma de fogo e do exercício da função dos agentes.

Segundo as investigações, desde 5 de junho de 2014, os denunciados, chefiados por Dalmir Pereira Barbosa, Paulo Eduardo da Silva Azevedo e Epaminondas Queiroz de Medeiros Júnior, o Capitão Queiroz, praticam vários crimes.

Entre os delitos estão grilagem; construção, venda e locação ilegais de imóveis; posse e porte ilegal de arma de fogo; extorsão de dinheiro de moradores e comerciantes com a cobrança de taxas; ocultação de bens por meio de “laranjas”; pagamento de propina a agentes públicos; agiotagem; e utilização de ligações clandestinas de água e energia em imóveis construídos ilegalmente.

Um funcionário da Fundação Parques e Jardins também está entre os denunciados. Joailton de Oliveira Guimarães é acusado de ter pedido “ajuda financeira” para seguir com um procedimento administrativo de interesse de Murad Muhamad, também denunciado.

Na denúncia, o MP lista a conduta dos 45 denunciados. eles estão distribuídos entre diferentes núcleos de atuação na quadrilha: liderança, auxiliares diretos da liderança, policial, segurança, financeiro, “laranjas” e imobiliário.

 

 

*Com informações do Extra

Bolsonaro não combate a corrupção porque não vai produzir provas de crimes contra sua própria família

Aquele presidente que tinha em seu cardápio eleitoral o combate à corrupção, é uma mentira com o rabo de fora. Como combater a corrupção se você participa dela? Como definir os papeis do Ministério Público e da Polícia Federal a partir disso, usando-os para proteger o próprio lombo? É exatamente isso que Bolsonaro está fazendo e que o General Santos Cruz se esquece de dizer quando afirma que Bolsonaro não combate a corrupção.

Faltou ao General também coragem para dizer que Moro é cúmplice disso, num pacto escancarado entre o Ministério da justiça que comanda a PF e o clã Bolsonaro.

A pressão exercida por Moro sobre o porteiro do Vivendas da Barra que denunciou que Jair Bolsonaro deu ordem para que o miliciano Élcio de Queiroz, assassino de Marielle, entrasse no condomínio, é exemplar. Moro construiu uma circunstância aliada a Bolsonaro, dizendo que o porteiro se enganou ao dizer que a central da milícia do condomínio Vivendas da Barra era a casa 58.

A imprensa obsequiosa e lacaia do mercado para quem Bolsonaro governa, calou-se e nunca mais tocou no assunto, passando para a sociedade que o coitado do porteiro cometeu crime de calúnia.

É certo que o General Santos Cruz apresentou questões técnicas, como o desmanche do Coaf e a manipulação do comando da Polícia Federal, mas não disse que o motivo principal é a busca desesperada de Bolsonaro para livrar a sua cara e a de sua família envolvidos com o miliciano Queiroz e o esquema de corrupção que envolve fantasmas, laranjas e milicianos, o que levaria Bolsonaro não só à destituição do cargo de presidente, mas à cadeia. Faltou no General coragem para dizer isso, mesmo que tenha feito isso implicitamente.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

As investigações que sangram capital político e podem enterrar o clã Bolsonaro em 2020

Este site tem dito seguidamente que a testemunha-chave dos escândalos envolvendo o clã Bolsonaro é o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega.

Homenageado por Flávio Bolsonaro duas vezes na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Adriano contou com a presença do então deputado federal Jair Bolsonaro no julgamento em que foi condenado por homicídio em primeira instância (pena depois revertida).

Quantas vezes um deputado deixa seu gabinete em Brasília para ver o julgamento de um policial — tenente PM, na época –, a não ser que tenha um interesse pessoal extraordinário no futuro daquela pessoa?

Adriano empregou mãe e filha no gabinete de Flávio Bolsonaro.

É suspeito de comandar a milícia da zona Oeste à qual se atribui o assassinato da vereadora Marielle Franco.

Adriano pode ser, ao lado de Fabrício Queiroz, a peça-chave na articulação do clã Bolsonaro com as milícias de Rio das Pedras e o assim chamado Escritório do Crime.

Foragido, Adriano está na lista da Interpol.

Qual será o empenho do ministro da Justiça Sergio Moro para prender Adriano?

Será que este verdadeiro arquivo vivo já foi queimado?

Cenas do próximo capítulo em 2020.

Abaixo, no balanço da BBC, as seis investigações que sangram capital político do clã Bolsonaro.

As 6 frentes de investigação que envolvem a família Bolsonaro

da BBC

Desde as eleições de 2018, o presidente Jair Bolsonaro e três filhos dele se tornaram alvos de seis frentes de investigação.

Há acusações de prática de rachadinha — quando funcionários do gabinete devolvem parte dos salários para políticos —, de disseminação de notícias falsas, de uso de funcionários fantasmas, de quebra de decoro parlamentar e de ligação com suspeitos do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

O caso mais rumoroso envolve Fabrício Queiroz, amigo do presidente e ex-assessor do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. A investigação sobre movimentações financeiras atípicas, a exemplo de um cheque de R$ 24 mil para a primeira-dama da República, deu origem a um imbróglio jurídico que chegou a paralisar temporariamente centenas de investigações no país.

Para a Promotoria, Flávio Bolsonaro comanda a organização criminosa abastecida por salários devolvidos de assessores e usa uma loja de chocolate da qual é sócio para lavar dinheiro.

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Bolsonaro e seus filhos negam veementemente todas as acusações. Para eles, as investigações são baseadas em fake news e perseguições políticas orquestradas por adversários.

Veja abaixo as principais investigações que envolvem a família Bolsonaro, em que pé elas estão e o que os acusados dizem sobre cada uma delas.

Caso Queiroz

O caso gira em torno de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio e amigo de Jair Bolsonaro desde a década de 1980.

Ele passou a ser investigado em 2018 depois que o Coaf (atual Unidade de Inteligência Financeira), órgão que atua na prevenção e combate à lavagem de dinheiro, identificou diversas transações suspeitas suas.

Segundo o órgão, Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, valor que seria incompatível com seu patrimônio e ocupação, e recebeu transferências em sua conta de sete servidores que passaram pelo gabinete.

Caso Flávio Bolsonaro

O filho do presidente passou a ser investigado depois de relatório do Coaf

Essas movimentações atípicas, que vieram à tona num braço da Operação Lava Jato, levaram a uma investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro.

Mas a apuração teve desdobramentos inesperados. Flávio Bolsonaro recorreu ao Supremo Tribunal Federal para barrar a apuração, e o caso deu origem a um debate na Corte sobre o compartilhamento de informações financeiras sem autorização judicial prévia. Centenas de investigações ficaram em suspenso.

Após meses de espera, a tese do filho do presidente acabou derrotada por 9 votos a 2 no Supremo no fim de novembro e as investigações foram retomadas por decisão do ministro Gilmar Mendes.

Semanas depois, a Promotoria deflagrou uma operação de busca e apreensão contra pessoas ligadas ao gabinete do filho do presidente, a exemplo de familiares de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher de Bolsonaro e mãe de um dos filhos dele.

Para os investigadores, Flávio Bolsonaro é chefe de uma organização criminosa que atuou em seu gabinete na Assembleia Legislativa entre 2007 e 2018, e parte dos recursos movimentados no esquema foi lavada em uma franquia de chocolate da qual ele é sócio.

Flávio é investigado sob suspeita de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Não há informações detalhadas sobre os próximos passos nem previsão de conclusão porque os processos correm sob sigilo.

Ele nega ter cometido qualquer ilegalidade no caso.

“Fabricio Queiroz trabalhou comigo por mais de dez anos e sempre foi da minha confiança. Nunca soube de algo que desabonasse sua conduta”, disse, no Twitter, quando o caso veio à tona.

“Tenho meu passado limpo e jamais cometi qualquer irregularidade em minha vida. Tudo será provado em momento oportuno dentro do processo legal”, afirmou Flávio em nota.

Bolsonaro também foi à público à época para dar sua versão sobre o cheque de R$ 24 mil destinado à mulher, Michelle Bolsonaro. Segundo ele, o dinheiro era o pagamento parcial de um empréstimo de R$ 40 mil concedido ao amigo e ex-assessor do filho.

Queiroz, por sua vez, disse sempre ter agido de “forma lícita”. Segundo ele, funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro depositavam parte de seus salários em sua conta a fim de ampliar, informalmente e sem o conhecimento do parlamentar, a base de funcionários ligados ao então deputado estadual.

Ele também negou ter se “beneficiado de qualquer recurso público para si ou terceiro”. Segundo sua defesa, a investigação do Ministério Público não conseguiu encontrar nenhuma irregularidade cometida por ele

CPMI das Fake News

Depoimentos em uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito em andamento (a chamada CPMI das Fake News) apontaram a participação de dois filhos do presidente da República e de assessores próximos à família Bolsonaro em campanhas na internet para atacar adversários com uso frequente de notícias falsas.

Alvo de ataques em sites e redes sociais, a deputada federal e ex-líder do governo Joice Hasselmann (PSL-SP) apresentou um dossiê à comissão em que aponta “milícias digitais” em torno de Bolsonaro que praticam ataques orquestrados a críticos de sua gestão.

Segundo ela, as ofensivas são impulsionadas por robôs, pelos filhos Carlos e Eduardo Bolsonaro e por assessores do Poder Executivo e de parlamentares aliados do governo.

Outro deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP), também alvo de ataques e outro ex-aliado, fez acusações semelhantes.

Para a deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA), relatora da CPMI, “é muito difícil imaginar que exista um gabinete atuando ali e que ele (Bolsonaro) não saiba o que acontece ali”.

Ela ressalta que o presidente não foi implicado diretamente em nenhum depoimento, mas sim seus familiares e auxiliares.

Segundo Da Mata, há três núcleos sob investigação: “o operacional, que conta com assessores de deputados estaduais e federais; o distribuidor, que envolve sites e blogs; e o núcleo econômico, que todos queremos identificar”. Um dos próximos passos da CPMI é “seguir o caminho do dinheiro”.

Na CPMI, Eduardo Bolsonaro afirmou que não iria fazer perguntas a Frota por “ter mais o que fazer”.

“Tenho que trabalhar, em vez de ficar aqui ouvindo baboseiras e ilações sem qualquer conexão com a verdade.”

As acusações de Frota e Joice foram rebatidas por deputados da base governista e aliados do presidente, que as classificaram de “falsas”, “fruto de vingança”, “sem provas” e “conto de fadas”.

A CPMI das Fake News foi apelidada por eles de CPI da Censura.

Para o deputado federal Eduardo Bolsonaro, acusações são ilações sem conexão com a realidade

A comissão, que vai até abril de 2020, mas pode ser estendida, surgiu para investigar suspeitas de ataques na internet e utilização de perfis falsos para influenciar as eleições 2018 e já se espalhou para o possível uso dessas práticas depois do pleito.

Os próximos passos da CPMI devem incluir pedidos de informações de plataformas de redes sociais (quem são os detentores das contas, por exemplo), especialistas e assessores parlamentares acusados, entre outros.

O relatório final pode sugerir indiciamentos e mudanças da lei.
Joice Hasselmann também depôs no inquérito que corre no Supremo sobre notícias falsas, mas não há informações sobre o caso conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes porque ele corre sob sigilo.

Suspeita de uso de assessores-fantasmas por Carlos Bolsonaro

O vereador Carlos Bolsonaro passou a ser investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro após reportagens apontarem que assessores nomeados em seu gabinete nunca exerceram de fato essas funções.

Na investigação, que corre sob sigilo, promotores suspeitam da existência de um esquema de rachadinha, semelhante ao do irmão Flávio.

Ou seja, funcionários devolveriam o salário, parcial ou integralmente, para o parlamentar.

Um dos casos apontados pela revista Época envolve Marta Valle, cunhada de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente da República. Marta passou sete anos e quatro meses lotada no gabinete de Carlos Bolsonaro, mas afirmou ao veículo: “Não trabalhei em nenhum gabinete não”.

Carlos se licenciou na Câmara Municipal do Rio de Janeiro para se dedicar à campanha do pai à Presidência

Ao longo de 18 anos de mandato na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, Carlos empregou Ana Cristina e sete familiares dela.

Na Assembleia Legislativa fluminense, Flávio deu emprego a nove familiares da então mulher de seu pai. Na Câmara dos Deputados, Bolsonaro nomeou seis membros da família dela.

Em abril deste ano, o jornal Folha de S.Paulo também encontrou uma mulher alocada no gabinete de Carlos Bolsonaro que afirmou à reportagem nunca ter trabalhado na função que lhe renderia R$ 4.271 por mês.

O chefe de gabinete do vereador, Jorge Luiz Fernandes, negou à Folha que essa assessora recebesse salário sem prestar serviços, e que ela entregava mala direta em um reduto eleitoral de Carlos e anotava reivindicações de eleitores.

No Twitter, Carlos Bolsonaro rebateu as acusações, sem citá-las diretamente: “Imprensa lixo, não adianta me chamar para a briga, com desinformações que vocês sempre fomentaram, que não vou cair na armadilha. Qualquer um sabe o motivo disso tudo e qual o objetivo. Tranquilo e despreocupado! Bom dia a todos”.

WhatsApp na eleição de 2018

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) passou a investigar a campanha presidencial de Jair Bolsonaro depois que uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo apontou que empresas compraram, sem declarar à Justiça Eleitoral, pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT no WhatsApp.

Esta e outras reportagens serviram de base para diversas ações na Justiça eleitoral (chamadas de ação de investigação judicial eleitoral), ainda em tramitação, movidas por partidos como o PT e o PDT. A campanha do petista Fernando Haddad, inclusive, também passou a ser alvo de apurações.

Segundo a lei eleitoral, um candidato pode divulgar conteúdo e repassar a seus eleitores se respeitar os termos de uso das plataformas digitais, e pagar a essas redes sociais para alcançar fatias específicas do eleitorado.

Mas esse dinheiro deve vir dos recursos do partido ou de doações de pessoas físicas, e não de empresas.

A legislação eleitoral tampouco permite a utilização de bases de dados de terceiros (como números de telefones e emails) para o envio de conteúdo, exceto para quem autorizar o recebimento desse material.

Segundo Datafolha, 7 em 10 eleitores usaram WhatsApp para se informar sobre o pleito em 2018

Para a Justiça brasileira, o impulsionamento de conteúdo, ou seja, as estratégias automáticas adotadas para tornar o alcance maior que o compartilhamento natural entre usuários, pode ser desequilíbrio irregular da disputa eleitoral.

O envio massivo ilegal associado à disseminação de informações falsas pode levar, em última instância, à perda do mandato, pagamento de multa e exclusão do conteúdo falso.

Não declarar esses gastos à Justiça Eleitoral pode ser também considerado caixa dois.

Os principais candidatos do pleito negaram diversas vezes qualquer envolvimento com essa prática, e mesmo a existência dela no WhatsApp, plataforma usada por 7 em cada 10 eleitores durante o pleito de 2018, segundo o Datafolha.

Mas em outubro deste ano, o WhatsApp admitiu pela primeira vez a existência de envios de disparos em massa durante a campanha eleitoral de 2018.

Entre 15 de agosto e 28 de outubro de 2018, a plataforma que pertence ao Facebook afirmou ter banido mais de 400 mil contas no Brasil por práticas que violam os termos de uso, a exemplo do uso de robôs para disseminar informações e criação automatizada de grupos.

Ao longo do processo principal que corre no TSE, o ministro Og Fernandes pediu a dez empresas de telefonia informações sobre números de telefone ligados às agências as quais a Folha de S.Paulo apontou envolvimento com disparo de mensagens.

Ainda não houve decisão sobre o caso e não há previsão de conclusão do processo.

Novo AI-5

Após ter levantado a possibilidade de um “novo AI-5” (ato institucional decretado pela ditadura militar em 1968 dando ao governo mais poderes autoritários) no país, o deputado federal Eduardo Bolsonaro passou a ser alvo de processos na Câmara e no STF.

A fala de Eduardo ocorreu em entrevista ao canal da jornalista Leda Nagle no YouTube, após uma pergunta sobre os protestos que estão ocorrendo no Chile.

“Se a esquerda radicalizar a esse ponto, a gente vai precisar ter uma resposta. E uma resposta pode ser via um novo AI-5, pode ser via uma legislação aprovada através de um plebiscito como ocorreu na Itália. Alguma resposta vai ter que ser dada”, afirmou.

Depois da forte reação negativa e de ser repreendido até pelo pai, o deputado disse ter sido mal interpretado e pediu desculpas.

“Eu peço desculpas a quem porventura tenha entendido que estou estudando o retorno do AI-5 ou achando que o governo, de alguma maneira, estaria estudando qualquer medida nesse sentido. Essa possibilidade não existe. Agora, muito disso é uma interpretação deturpada do que eu falei”, disse ao apresentador José Luiz Datena.

A declaração de Eduardo sobre a possibilidade de um novo AI-5 gerou reação de partidos de esquerda, centro e direita e até mesmo uma nota de repúdio da Executiva Nacional de sua sigla, o PSL.

Em 26 de novembro, o Conselho de Ética da Câmara decidiu abrir processos contra o deputado, a partir de pedidos de Psol, PT, PC do B e Rede.

O conselho geralmente chega a uma decisão em até 90 dias sobre casos abertos. Se houver punição, ela pode ir de uma censura verbal à perda do mandato.

A decisão final cabe ao Plenário da Câmara e depende de uma maioria absoluta (metade dos votos mais um).

Para Eduardo, o processo visa censura e intimidação.

Caso Marielle

A família Bolsonaro se viu envolvida na investigação sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes depois que um porteiro afirmou à polícia que um dos acusados do crime se dirigiu à casa do hoje presidente horas antes do homicídio.

O depoimento à Polícia Civil do Rio de Janeiro veio à tona depois de uma reportagem do Jornal Nacional no dia 29 de outubro. Segundo a emissora, um porteiro do condomínio Vivendas da Barra disse que Élcio Queiroz afirmou que iria à casa que pertence ao presidente.

A testemunha relatou ter ligado, ao receber Queiroz na guarita, para casa 58 para confirmar se o visitante poderia entrar, e alguém na residência autorizou. Em dois depoimentos, o porteiro disse ter reconhecido a voz de quem atendeu como sendo a do “Seu Jair”.

O então deputado federal Bolsonaro estava em Brasília no dia dos assassinatos, e o depoimento do porteiro gerou reação inflamada de membros e aliados do governo Bolsonaro.

O procurador-geral da República, Augusto Aras, afirmou que o episódio era um “factoide”.

Para Sergio Moro, ministro da Justiça e da Segurança Pública, o envolvimento do nome do presidente na investigação foi “um total disparate”.

A Polícia Federal foi designada para ouvir o porteiro, e este recuou do depoimento.

Segundo o jornal O Globo, ele disse à Polícia Federal ter anotado errado o número da casa na planilha e que inventou o relato sobre “Seu Jair” para justificar o erro no registro do acesso.

Carlos Bolsonaro, filho do presidente, gravou e publicou um vídeo nas redes sociais no qual acessa o sistema de gravações da portaria a fim de mostrar que não havia nenhum registro de ligação para a casa de seu pai no momento apontado pelo porteiro.

O caso levou a acusações de obstrução de justiça contra Jair e Carlos, mas em meados de dezembro o ministro do STF Alexandre Moraes arquivou os pedidos de investigação porque a PGR não viu elementos a serem apurados.
Bolsonaro afirmou que “alguns” querem “jogar para cima de mim a possibilidade de eu ser um dos mandantes do crime da Marielle”.

E acusa nominalmente o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, de manipular a investigação do assassinato de Marielle para tentar destruir sua reputação.

Witzel disse que vai processar o presidente pelas “acusações levianas”.

Há também citações na investigação dos homicídios ao nome do filho Carlos Bolsonaro, vereador que mora no mesmo condomínio Vivendas da Barra, por causa de um bate-boca entre ele e um assessor de Marielle Franco.

Carlos já havia prestado depoimento à polícia sobre o episódio em abril de 2018 na condição de testemunha.

Segundo ele, a própria Marielle, com quem disse ter um relacionamento “respeitoso e cordial”, interveio para acalmar os ânimos, encerrando a discussão.

Investigadores da Polícia Civil também tem levantado informações sobre a relação entre a família Bolsonaro e os dois acusados de participação direta no crime: Élcio Queiroz e Ronnie Lessa.

Em agosto de 2018, Queiroz havia publicado uma foto em seu perfil do Facebook na qual aparece com um uniforme da Polícia Militar — à época ele já havia sido expulso da corporação — e abraçado com Bolsonaro.

Em março de 2019, Lessa foi preso na residência onde mora no condomínio Vivendas da Barra, onde Bolsonaro e Carlos têm casas.

À época, o Ministério Público falou em coincidência.

 

 

*BBC/Viomundo

Vídeo: Mídia perfilada, suprime o fato mais grave da denúncia da PF e MP sobre os assassinos de Marielle lotados no gabinete de Flávio

Não se viu, até o presente momento, ninguém da mídia industrial sublinhar e colocar em debate o fato de Adriano Magalhães da Nóbrega, sócio de Ronnie Lessa no Escritório do Crime, ambos acusados de assassinar Marielle, aparecerem nessa denúncia muito mais próximos do clã Bolsonaro do que foi revelado até então.

Ora, nesse caso nem é preciso juntar os fios, porque eles nem estão soltos, ao contrário, estão plugados tanto no gabinete de Flávio Bolsonaro quanto agora no Palácio do Planalto com Bolsonaro.

O fio condutor que faz esse elo é o Queiroz, já que Adriano da Nóbrega recebeu do cartel Bolsonaro parte dos salários do esquema de rachadinha.

Convenhamos, fala-se aqui de um dos acusados de participar do assassinato de Marielle e sócio do Escritório do Crime de, nada mais, nada menos que Ronnie Lessa, o vizinho de Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra que, junto com outros integrantes do mesmo escritório e Élcio de Queiroz, participou da execução da vereadora do Psol, o que gerou também o depoimento do porteiro sobre a casa 58 e a voz do seu Jair que Moro, através de intimidação, conseguiu neutralizar.

Ao contrário de focar nesse ponto, que é o mais grave do que foi revelado até agora, do caso Queiroz e Flávio Bolsonaro, a mídia, rapidamente, conseguiu focar a denúncia apenas em fatos ligados à lavagem de dinheiro envolvendo essa organização criminosa.

Com isso, o caso Marielle foi abafado, pois em hora nenhuma a Globo em seus telejornais, citou sequer o nome de Marielle como vítima fatal desse cartel. Isso sem falar do fumacê que o próprio Bolsonaro e Flávio estão produzindo para que essa questão não seja colocada no centro do debate. Basta observar o vídeo de Flávio para concluir que ele fala de tudo, menos desse que é o fato mais grave, a execução de Marielle por milicianos ligados ao seu gabinete, sócios do vizinho de seu pai na Barra da Tijuca.

Cabe à mídia independente focar nessa questão que, por motivos óbvios, a mídia industrial, historicamente tucana, blinda a família Bolsonaro naquilo que, se confirmado, derruba Bolsonaro instantaneamente.

*Carlos Henrique Machado Freitas

Num condomínio com milicianos, estelionatários, traficantes de armas e assassinos, Moro manda investigar o porteiro

Moro, atual Ministro da Justiça, (pode rir), que anda zanzando pelos corredores do Congresso para ver se consegue prender Lula novamente com a volta da prisão após condenação em 2ª instância, não para de ser esculachado pelos fatos.

Ultimamente, tem sido difícil até destacar um fato que seja mais grave que o outro.

Agora mesmo, a revista Época relata que Moro foi ao TSE tentar salvar a senadora Selma Arruda, a Moro de Saias, cassada por corrupção. O interessante é que a Época é das Organizações Globo e, no entanto, talvez porque Bonner não leia a revista da própria casa, essa notícia não tenha chegado ao Jornal Nacional, o que mostra a gravidade do fato.

A mesma revista, hoje, mostra Moro em uma posição completamente invertida, dizendo que vai dar de ombros ao assassinato de Marielle porque a família da mesma não quis federalizar o caso.

Caso porque Moro só se interessou depois que o nome de Bolsonaro foi citado no depoimento do porteiro, para pressionar o mesmo a mudar de versão, mas acabou mudando também de condição, a de testemunha para investigado.

Esse rapaz é uma sumidade. Imagina alguém do PT, na época da Lava Jato, fazendo lobby no TRF-4 pela absolvição de Lula. Aliás, confirmada a denúncia da ida de Moro ao TSE, Ivan Valente, do Psol, já cobrou explicações da justiça pela nítida tentativa de obstrução da justiça do, veja só, Ministro da Justiça, cometendo crime de responsabilidade por lobby dentro do próprio TSE.

O que, convenhamos, abre imediatamente um enorme caminho para que se indague se ele não fez o mesmo com os desembargadores do TRF-4 pela condenação de Lula, inclusive pela inexplicável sentença unânime nos dois julgamentos, parecendo o que realmente é, missa encomendada pelo ex-juiz da Lava Jato.

é intrigante como, com vários agentes da Polícia Federal dentro do condomínio de Bolsonaro para dar segurança ao Presidente e à sua família, esses agentes da PF, comandados por Moro, não perceberam o perigo que corria Bolsonaro morando a 50 metros da casa de Ronnie Lessa, miliciano assassino de Marielle e traficante internacional de armas pesadas que detinha, no momento de sua prisão, a posse 117 fuzis, explosivos e uma quantidade de munição que dava para fazer uns cem quadros como os que Moro e Bolsonaro foram agraciados por um artista que usou uma espécie de bico de pena para desenhar com cartuchos de balas de alto calibre os rostos dos dois, numa das obras mais macabras de que se tem notícia.

Mas o enredo macabro envolvendo Moro e a família Bolsonaro não se esgota aí. Agora se descobre que um outro morador do condomínio Vivendas da Barra é estelionatário e passou batido pela mesma segurança do Presidente da República.

Lembre-se, estamos falando de um presidente que, segundo consta no folclore político brasileiro, quase morreu no episódio em que Adélio Bispo furou a segurança de uns cinquenta agentes para, sozinho e com um físico minguado, elevar a mão por cima da barreira de segurança que cercava Bolsonaro e desferir uma facada sem sangue.

É muita comilança de mosca dessa gente que zela pela segurança do “mito”. Moro, diante de tantos fatos macabros do condomínio Vivendas da Barra, de onde saíram os assassinos de Marielle para executá-la, desconfiou de quem? Do Carluxo que correu para adulterar o registro da secretária eletrônica? Do seu Jair da casa 58 que atendeu por duas vezes o telefonema do porteiro a pedido do miliciano Élcio de Queiroz? Do estelionatário que comprou sua mansão com o dinheiro roubado de um ganhador da mega-sena? Do traficante internacional de armas que também é o assassino de Marielle? Não. Para Moro, o culpado por todos os fatos macabros, é o porteiro.

E o que fez Moro, além de ter transformado o porteiro em investigado? Sumiu com ele para que ninguém mais da imprensa se aproximasse dele.

Isso explica porque Moro segue sendo o herói dos bolsominions mais aferrados. Tudo isso sem falar das falcatruas de Moro na Lava Jato reveladas pelo Intercept.

Alguém ainda duvida do fim trágico da carreira política de Moro?

 

*Carlos Henrique Machado Freitas