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1ª prisão do miliciano herói de Bolsonaro teve comandante detido e fuzis do tráfico achados em batalhão

Em 27 de novembro de 2003, oito PMs do 16º BPM (Olaria) foram presos em flagrante pelo homicídio do flanelinha Leandro dos Santos Silva, em Parada de Lucas, na Zona Norte do Rio.

O homem foi assassinado um dia depois de denunciar que havia sido torturado e extorquido pela patrulha.

Um dos agentes detidos era o então tenente Adriano da Nóbrega — morto numa operação da PM na Bahia, há duas semanas.

Uma investigação da PM aberta após as prisões escancarou o descontrole no batalhão de Adriano à época: agentes faziam operações clandestinas, fuzis do tráfico foram encontrados dentro da unidade e até o comandante acabou preso acusado de tentar coagir testemunhas.

Essa foi a primeira prisão da carreira de Adriano — que recebeu, na cadeia, a Medalha Tiradentes do então deputado estadual Flávio Bolsonaro.

O EXTRA teve acesso ao relatório final da investigação, que apontou irregularidades cometidas por 51 policiais e determinou a abertura de processos administrativos para a exclusão de dois oficiais da PM — um deles, Adriano.

A investigação descobriu falhas no controle das viaturas usadas pelos agentes e nas escalas de serviço, o que possibilitava que PMs, mesmo fora de serviço ou à paisana, fizessem operações.

No mesmo dia das prisões, foram encontrados, no batalhão, dois fuzis — fabricados na China e na Rússia — que não faziam parte do armamento utilizado pela PM à época. As armas haviam sido apreendidas com traficantes e deveriam estar acautelados, mas eram usados pelos agentes do batalhão.

Torturas em série

Os oito PMs foram presos e denunciados pelo homicídio do flanelinha, mas nunca chegaram a responder pelas acusações de tortura feita por outros dois moradores de Parada de Lucas. Um deles alegou ter sido capturado em casa no dia 11 de outubro, levado para um terreno baldio na favela e liberado após pagar R$ 1 mil aos PMs. Outra vítima relatou ter passado o mesmo no dia 11 de novembro.

O GPS da viatura usada pelo grupo apontou que ela esteve no local apontado como o cativeiro. Seguranças que trabalhavam numa empresa próxima confirmaram que viram PMs lá nos dois dias. Um par de sandálias de uma das vítimas foi apreendido no local. A terceira vítima foi Leandro, o guardador de carros, em 21 de novembro. Exame de corpo de delito feito antes do assassinato apontou sinais de asfixia.

Comandante acabou preso

No dia em que a patrulha foi presa, o então comandante do batalhão, tenente-coronel Lourenço Pacheco Martins, foi exonerado pelo secretário de Segurança Anthony Garotinho. O oficial acompanhou os oito PMs até a delegacia e, no local, chegou a ameaçar fotógrafos caso fossem registradas imagens dos agentes.

No ano seguinte, já fora do cargo, Martins foi preso acusado de tentar coagir testemunhas que acusavam a patrulha de tortura. A prisão do oficial aconteceu um dia depois de um depoimento do traficante José Roberto da Silva Filho, o Robertinho de Lucas. O criminoso alegou que teria sido forçado por Martins a convencer testemunhas da morte do guardador a mudar o depoimento na Justiça. A acusação nunca foi comprovada, e Martins acabou solto meses depois.

Impunidade

Adriano da Nóbrega foi condenado em primeira instância a 19 anos e seis meses de prisão. Após a condenação, foi defendido na tribuna da Câmara pelo então deputado federal Jair Bolsonaro. Ao recorrer da sentença, o então capitão conseguiu ser absolvido por decisão da 4ª Câmara Criminal do TJ do Rio, em setembro de 2006.

Nenhum dos oito PMs da patrulha acabou condenado pelo homicídio. Todos foram soltos após serem absolvidos em segunda instância. Em 2014, já capitão, Adriano foi expulso da PM por envolvimento com bicheiros.

Casado, pai de dois filhos e sem antecedentes criminais, Leandro começou a trabalhar como autônomo registrado na CET-Rio em 18 de setembro de 1999. Ele trabalhava no sistema Vaga Certa na Avenida Atlântica, próximo ao hotel Copacabana Palace.

 

 

*Com informações do Extra

 

 

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Marcelo Freixo: Bolsonaro está acuado

“Bolsonaro usa a Presidência para repetir mentiras à exaustão até que elas ganhem status de verdade”

Jair Bolsonaro está acuado. O presidente sempre defendeu milicianos, mas essas relações ganharam nova dimensão após a morte de Adriano da Nóbrega, cuja ex-mulher e mãe foram assessoras do ex-deputado estadual Flávio Bolsonaro.

Para tentar tirar o foco de si, Bolsonaro dobrou a aposta e transformou fake news em política de governo. Em vez de alimentar clandestinamente os discursos de ódio nos subterrâneos dos grupos de Whatsapp, presidente e ministros assumiram a ofensiva, passando a usar canais oficiais para disseminar mentiras contra opositores e jornalistas.

Bolsonaro usou o perfil da Presidência no Twitter para afirmar que a oposição é a verdadeira interessada em eliminar Adriano. A inversão da narrativa parece estapafúrdia, mas é preciso lembrar que o campo de batalha bolsonarista não é o da razão, é o da emoção — mais precisamente do ódio. Ele sabe que nesse embate os fatos importam menos do que o engajamento que uma determinada versão é capaz de gerar. O objetivo é manter coesas e insuflar suas hostes nas redes para tentar se manter em pé.

O ministro da Justiça, Sergio Moro, usou a mesma estratégia. No Twitter, o ex-juiz acusou a mim, que há mais de dez anos vivo sob ameaça de morte por ter enfrentado as milícias, de defender milicianos. Mas o fato é que Moro propôs que esses bandos deixassem de ser enquadrados no Código Penal e passassem para a Lei das Organizações Criminosas, o que reduziria a pena dos bandidos. Nós mantivemos a regra mais dura. O ministro sabe disso, mas preferiu mentir para incitar seguidores.

O recrudescimento contra a imprensa faz parte dessa artilharia: Bolsonaro usa a Presidência para repetir mentiras à exaustão até que elas ganhem status de verdade ou pelo menos façam barulho suficiente para bagunçar o jogo. Por isso, tenta deslegitimar profissionais e métodos reconhecidos de produção de informação.

 

*Do Globo

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Psol vai pedir cassação de Flávio Bolsonaro por ligação com milícia

O Psol decidiu entrar com uma representação no Conselho de Ética do Senado, pedindo a cassação do mandato do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), nesta quarta-feira (19). De acordo com o presidente do partido, Juliano Medeiros, Flávio não tem condições de exercer o mandato por suas ligações com as milícias.

“É um crime continuado. Ele também é acusado de peculato, lavagem de dinheiro, corrupção e associação criminosa. Não é possível conviver com um senador que tenha tido essas práticas no seu currículo como deputado estadual”, disse Juliano ao Congresso em Foco. “Ele não tem decoro nem é ético”, acrescentou. Ele participará, com outros representantes da bancada do Psol, de reunião amanhã, às 9 horas, com o presidente do Conselho de Ética, senador Jayme Campos (DEM-MT).

Relação com a milícia

Em 2005, quando Flávio Bolsonaro era deputado estadual, ele homenageou o ex-policial militar e miliciano Adriano da Nóbrega com a medalha Tiradentes, a maior honraria da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). A medalha foi entregue ao policial na cadeia, onde aguardava seu julgamento por homicídio.

Rachadinha

O nome dele reapareceu nas investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro sobre a chamada “rachadinha” no gabinete de Flávio na Alerj. Por essa prática, disseminada em vários legislativos, o parlamentar ou um subordinado se apropria de parte dos salários dos funcionários do gabinete. O MP do Rio identificou contas de Adriano usadas para transferir dinheiro a Fabrício Queiroz, então assessor de Flávio e suspeito de comandar o esquema de devolução de salários.

Fabrício Queiroz e Adriano de Nóbrega atuaram juntos no 18º Batalhão da PM. Com a ajuda de Queiroz, o gabinete de Flávio empregou a mulher do ex-capitão, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, de 2007 até novembro de 2018, e a mãe dele, Raimunda Veras Magalhães, de abril de 2016 a novembro de 2018.

Flávio minimizou a homenagem feita a Adriano: “Homenageei centenas e centenas de policiais militares e vou continuar defendendo, não adianta querer me vincular com a milícia, não tem absolutamente nada com milícia. Condecorei o Adriano há mais de 15 anos”. Flávio afirmou que pediu, esta semana, para que o corpo do seu homenageado não fosse cremado porque tem indícios de tortura. “Pelo que soube, ele foi torturado. Para falar o quê? Com certeza nada contra nós. Porque não tem o que falar contra nós. Não tem envolvimento nenhum com milícia”.

 

 

*Com informações do Congresso em Foco

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Desmascarado: Flávio Bolsonaro pede para não cremarem o corpo de Adriano depois que juíza proibiu cremação

Pois então, 27 minutos separam a notícia do Portal G1 da postagem de Flávio Bolsonaro sobre a cremação do corpo do miliciano. Às 11:30 era esta: “Justiça do RJ proíbe cremação do corpo do miliciano Adriano da Nóbrega. Pedido de cremação havia sido feito pela família do ex-policial. Em sua decisão, juíza afirma que não constam no pedido documentos imprescindíveis como a cópia da Guia de Remoção de Cadáver e o Registro de Ocorrência.”

Como pode ser verificado no link abaixo:

https://g1.globo.com/google/amp/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/02/12/justica-do-rio-proibe-cremacao-do-corpo-do-miliciano-adriano-da-nobrega.ghtml?__twitter_impression=true

Exatos 27 minutos depois, como pode ser observado no twitter de Flávio Bolsonaro, ele diz, na maior cara dura, que é contra a cremação e pede para as autoridades competentes não deixarem isso acontecer, logicamente, esquecendo-se do registro da hora.

Como se pode ver, Flávio, que até então estava mudo sobre a morte do miliciano que de condecorar e empregar a família em seu gabinete, resolveu, de uma hora para outra, falar e ir contra a decisão da família de Adriano da Nóbrega de cremar o corpo do miliciano.

Está mais do que na cara que sua posição contra a cremação é uma gigantesca mentira. Mas, vê-se que, em plena era digital, Flávio, imaginando-se na época em que os telegramas eram uma revolução, não se deu contra de que sua mensagem, assim como a notícia do Portal G1, têm registro de hora. Deu nisso, foi pego na mentira publicada e se jogou ainda mais dentro de um verdadeiro turbilhão de acusações de que ele e o resto da família estão diretamente envolvidos na queima de arquivo chamada Adriano da Nóbrega.

A internet não tem sido muito parceira desses vigaristas. Nesta terça-feira (11) foi a malandragem do Hans River, que contou um monte de mentiras na CPMI da fake news e, agora, corre o risco de ser preso.

Hoje, foi a vez de Flávio Bolsonaro, que bancou o esperto, mas se deu mal. Desta vez não deu tempo de Carluxo alterar o horário do seu twitter, como fez no registro da portaria do Vivendas da Barra.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Imagens mostram ex-assessores, investigados por corrupção, no gabinete de Carlos Bolsonaro

Imagens revelam visitas em um único dia de ex-funcionários que prestaram depoimentos sobre rachadinha ao MP do Rio.

As câmeras da portaria da Câmara Municipal do Rio de Janeiro mostram que quatro ex-assessores do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), investigados pelo Ministério Público do estado, estiveram no gabinete do filho do presidente Jair Bolsonaro em 30 de outubro do ano passado. As imagens foram obtidas pelo jornal O Globo, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).

No mesmo período, os ex-funcionários prestaram depoimentos no âmbito do procedimento de investigação sobre as suspeitas de “rachadinha” ligadas ao gabinete de Carlos, que estava na Câmara no dia das visitas. Um ex-auxiliar do hoje senador e ex-deputado estadual Flávio Bolsonaro, também investigado, esteve no gabinete de Carlos no mesmo dia.

“Flávio, Carlos e os ex-assessores são alvos do MP-RJ em procedimentos sobre suspeitas de uso de funcionários fantasmas para devolução de salários, a prática conhecida como “rachadinha”. As visitas desses ex-auxiliares do vereador, filho do presidente Jair Bolsonaro, são incomuns. Dois deles, que são irmãos, constaram como assessores de Carlos entre 2001 e 2008, e a Câmara não tem registro de visita dos dois ao gabinete desde 2015. Entre os assessores estão três integrantes da família Góes, com vínculo com os Bolsonaro. Rafael de Carvalho Góes, Rodrigo de Carvalho Góes e Neula de Carvalho Góes, mãe dos dois”.

Os dados e fotografias da Câmara Municipal mostram que, em 30 de outubro, Carlos Bolsonaro registrou presença no plenário da Casa às 14h15. No entanto, a sessão daquele dia ficou suspensa até as 15h40m. Ele só surgiu nas imagens da sessão no plenário às 16h12m quando votou pela primeira vez. Carlos esteve no plenário até as 17h36, quando votou pela última vez naquela tarde.

 

 

*Com informações do Metrópoles

*Foto destaque: O Globo

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Luiz Eduardo Soares: ‘As instituições estão sendo corroídas pelo fascismo’

Para ex-secretário Nacional de Segurança Pública, “ultradireita no poder” destruiu autonomia dos órgãos de investigação, como as polícias e o Ministério Público.

Para o ex-secretário de Segurança, órgãos têm atritos internos causados pela ascensão conservadora.

Até que ponto as instituições, como Polícia Federal e Ministério Público, estão livres para investigar no Brasil presidido por Jair Bolsonaro (sem partido)? A pergunta surge após a morte de Adriano Magalhães da Nóbrega, acusado de chefiar a milícia Escritório do Crime e de ter ligações com a família Bolsonaro, em ação conjunta das polícias da Bahia e do Rio de Janeiro.

Para o ex-secretário nacional de Segurança Pública, o antropólogo Luiz Eduardo Soares, há um boicote principalmente interno. Nóbrega era considerado peça fundamental para entender a ligação da família Bolsonaro com as milícias. A relação envolveu inclusive emprego de sua esposa e mãe no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro. O ex-secretário vê indícios de queima de arquivo ou, então, “um nível de incompetência tremendo” alguém procurado nacionalmente acabar morto.

Segundo Soares, não é possível dizer que “as instituições estão funcionando” enquanto existe uma onda fascista e integralista nestes ambientes, que combatem quem pensa diferente, segundo o ex-secretário. “Saíram do armário não só os conservadores, que sempre existiram e predominaram essas instituições, mas saíram as adesões que beiram o fascismo, com declarações de ultradireita”, define.

Em setembro do ano passado, Bolsonaro ignorou a lista tríplice ao indicar Augusto Aras como novo procurador-geral da República em substituição a Raquel Dodge. Pela tradição, três nomes são indicados pela ANPR (Associação Nacional de Procuradores da República), mas o presidente decidiu escolher uma pessoa de perfil conservador e que seria mais alinhado às ideias dele.

Apesar disso, para o secretário, atacar a autonomia das instituições que têm como prerrogativa investigar nem precisa de influência direta do presidente. “Dado o atual quadro que estamos vendo, nem seria preciso que houvesse grandes operações do Executivo para pressionar”, afirma Luiz Eduardo.

Confira a entrevista:

Ponte – O quanto o presidente Jair Bolsonaro tem influenciado na autonomia de investigação, seja da Polícia Federal, seja do Ministério Público?

Luiz Eduardo Soares – É difícil precisar. Em primeiro lugar, não podemos idealizar a autonomia como algo real, que tenha se realizado em algum momento e agora esteja sendo reduzido. Por exemplo, é claro e indiscutível que no período da Dilma [Rousseff, ex-presidenta], houve uma autonomia jamais vista. Isso constatamos pelo que aconteceu, não é preciso uma reflexão sofisticada para deduzir isso. A PF agiu e não houve qualquer tipo de perseguição. Sabemos que naquele período isso efetivamente aconteceu em larga escala, mas a situação usual, mais costumeira, não é aquela indicada na Constituição. É a de restrição, de pressões. Se baixarmos a bola e entendermos que a realidade é muito complicada e se dá em um espécie contínua de tensões, produzindo resultado que variam para lá ou para cá, já começamos a pensar de maneira mais interessante, real. O segundo ponto: veja como as próprias instituições vão se amoldando ao momento político conjuntural nas suas guerras internas. É importante salientar que se evite a pensar a instituição e o que lhe está exterior, o poder do Executivo, por exemplo, porque no interior dessas instituições há conflitos.

Como identificar isso?

Luiz Eduardo Soares – Veja o caso do MP: no Rio de Janeiro, uma promotora foi afastada depois de fazer uma perícia apressada, depois de poucas horas, sem tê-lo feito antecipadamente, logo depois de matéria da Rede Globo, Jornal Nacional, que indicava que um porteiro tinha dito, depois negou…[Soares se refere à informação de que no dia da morte de Marielle Franco, Élcio de Queiroz, apontado como um dos assassinos da vereadora, teria ido ao condomínio do presidente e chamado por ele]. A promotora se apressou [Simone Sibilio afirmou que a versão do porteiro era mentirosa], depois se descobriu que ela fizera campanha para o Bolsonaro. E não são poucas as referências que tenho de amigos no interior do Ministério Público e do Judiciário do RJ que são impressionantes. Saíram do armário não só os conservadores, que sempre existiram e predominaram essas instituições, mas saíram as adesões que beiram o fascismo, com declarações de ultra direita.

Isso gera atropelos?

Luiz Eduardo Soares – Claro! E aí você tem: se entre eles há uma exposição tão clara, nítida, já não mascaram, não têm pudor, tem um grupo do MP pela Sociedade, movimento Promotores e Procuradores pela Sociedade, o manifesto deles após vitória do Bolsonaro, ano passado, com uma plataforma dizendo os pontos que eles lutariam e eram os que o próprio governo federal defende. Então não é preciso nenhuma pressão externa. O MP tem a característica de ser muito fragmentado e individualizado, isso é até uma virtude porque garante liberdade dos profissionais, mas não significa que espontaneamente eles não assumam ideologia e, no caso hoje do Brasil, o que é assustador é que dentro do MP há valores a serem cultuados explicitamente ligados à tradição fascista ou integralista, se quisermos tornar mais nacional o debate. O mesmo acontece no Judiciário. Estava conversando com amigos juízes e eles estão assombrados como isso está acontecendo sem qualquer pudor. Dado esse quadro, nem seria preciso que houvesse grandes operações do executivo para pressionar.

 É a influência dessa onda ultra conservadora?

Luiz Eduardo Soares – As máquinas institucionais estão sendo corroídas e degradadas pelo fascismo. É uma coisa impressionante. Quando as pessoas dizem “as instituições estão funcionando”, eu me pergunto ao que elas se referem, se a algumas providências que são tomadas, mas não se percebe que sob as providências eventualmente positivas que aparecem e indicariam o pleno funcionamento democrático das instituições, por dentro, há guerras gravíssimas. E se há alguma decisão positivas, há por outro lado outras tantas, talvez nem tão visíveis, que são chocantes, perturbadoras. Isso está acontecendo. Não podemos dizer que as instituições deixaram de existir e estão conduzidas pelo fascismo, nem que estão firmes e fortes, funcionando. Há uma conflagração ideológica. Para saber para onde isso pende seria preciso uma bola de cristal. Não sabemos o que vai acontecer. Hoje é o clima de grande tensão e disputa no interior da Polícia Federal, o que sempre houve.

Ocorria no passado?

Luiz Eduardo Soares – No caso da PF, era menos marcado pela ideologia e mais pelo corporativismo. Por exemplo, até início de 2019, e depois de alguma maneira isso arrefeceu porque as bandeiras ideológicas bolsonaristas se impuseram, porque havia suposição comum de que haveria grandes trunfos corporativos, ganhos seriam grandes. Uma expectativa que saciou essa voracidade. Até início de 2019, ouvi de amigos que poderia haver tragédia, clima entre agentes e delegados que se cruzam em corredores armados, com nível de ódio entre eles imenso. Isso tudo, de alguma forma, foi adiado porque houve tendência de apoio em comum ao Bolsonaro que criou uma expectativa favorável do ponto de vista corporativo. No fundo, o que predomina é uma ideologia em comum ultradireitista. E vemos que essas instituições estão tomadas por esse viés. Temos um MP diluído e uma predominância hard-conservadora. O Judiciário do mesmo jeito e a PF, que é mais difícil dizer, mas muito marcada por esses valores. Como isso tudo impacta? A ver.

Entre todos esses órgãos, a PF virou alvo de ameaças ao longo de 2019 por parte do presidente. Como isso interfere no trabalho?

Luiz Eduardo Soares – Mas é claro que afeta. “Posso mexer nisso? Não, deixa para lá porque senão minha carreira está em xeque”. Evidente que se cria um clima de instabilidade, incerteza e de terror. Se algum momento houve um sentido de proteção, “faça o seu trabalho e der o que der vai haver proteção, pode ir adiante, cumpriremos nosso papel de instituição da República”. Se em algum momento isso teve próximo de acontecer, nós estamos distante desse momento. Não quer dizer que não haja grandes profissionais, mas claro que isso acua até os bons profissionais.

É a sensação de que não se tem uma sombra protetora.

Luiz Eduardo Soares – Exato, agora é o contrário. Posso imaginar a situação sobretudo dos responsáveis, delegados, superintendentes. Quem vai ousar?

Como encara toda a situação envolvendo o Adriano Magalhães da Nóbrega, ligado à família Bolsonaro, desde as investigações, de ter ficado fora da lista de mais procurados até a sua morte?

Luiz Eduardo Soares – É claro que não podemos cravar com certeza absoluta, isso só seria possível com um tipo de investigação que eu não tenho nem ideia para fazer, então não posso dizer com certeza absoluta. A imensa probabilidade, de acordo com experiência que tenho, de quem acompanha a saga, é de que há elementos de queima de arquivo. É impossível você ser obrigado a matar uma pessoa numa situação dessas. O que um equipe faz se você sabe que precisa capturar um indivíduo com vida? Deixa essa pessoa esgotar a munição, esgotar utilização de arma, estar sozinha, impedir que haja canais que viabilizem reprodução da situação, luz, água, etc. Com cerco no interior, em duas semanas não seria preciso isso. Em dez dias, uma semana… Quando o sujeito diz que não tem mesmo alternativa acabaria se entregando. Essa história de “ele resistiu” é uma coisa completamente inverosímel. É absurdo. Ou é um nível de incompetência tremendo e não seria de se esperar em um caso assim como esse, tão grave, tão importante para o país todo. Ou então é, de fato, uma oportunidade de queimar arquivo. Isso acontece todos os dias no Brasil.

Qual ligação o Adriano tinha com o caso da Marielle Franco e com a família Bolsonaro?

Luiz Eduardo Soares – Com o caso Marielle, não tenho informação. Em relação à família [Bolsonaro], tudo. Ele está sendo buscado como um pivô, figura chave na história. Quais são as relações da família Bolsonaro com as milícias? Sabemos que há inúmeras no discurso, na prática de premiação, nas alianças, na criação de nichos eleitorais, nos gabinetes, são inúmeras. Esse sujeito é um dos líderes desse processo de formação de milícias e sempre esteve ligado à família. É uma história comum. Estávamos no fio da meada da potencialmente biografia criminosa familiar. Essa é uma peça absolutamente chave. Só o fato de ele ter fugido naquelas circunstâncias já é muito suspeito. É muito evidente que havia alguma proteção, informação privilegiada. Quando o Lessa [Ronnie Lessa, PM da reserva e integrante de milícia], assassino que está preso acusado de atirar na Marielle [Franco], foi preso às 5h, estava preparando a fuga. Ou seja, tinha sido informado sobre a prisão. Aquilo é a prova que foi por um triz que não fugiu. Há elementos infiltrados, há divisões aí. Os milicianos são policiais, as milícias não são desassociadas da polícia, a política não é desassociável disso tudo… É muito difícil isolar um núcleo a ponto de que não haja vazamento, de que haja efetivamente independência, autonomia.

 

 

*Da Ponte

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Moro sabia da operação na Bahia: Por que não colocou o nome do miliciano Adriano da Nóbrega na lista de procurados pela PF?

Ministro não colocou o nome de Nóbrega em lista dos procurados da PF, mas sabia de operação na Bahia.

No último domingo (9), Adriano Magalhães de Nóbrega, ex-capitão do Bope, foi assassinado em Esplanada, na Bahia, após uma operação policial que devia prendê-lo, mas que teria terminado em uma troca de tiros, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA).

O jornal Folha de S. Paulo informou nesta segunda-feira (10), que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, sabia da operação. Segundo o jornal, a pasta comandada pelo ministro cogitou a possibilidade de enviar um helicóptero para dar suporte à polícia baiana, responsável pela operação.

Acusado de comandar milícias em Rio das Ostras, no Rio de Janeiro, Nóbrega era procurado pela Justiça brasileira desde janeiro de 2019, mas ficou de fora da lista com os criminosos mais procurados do país, divulgada por Moro no dia 30 de janeiro.

No dia seguinte à divulgação da lista, a ausência do miliciano levou o PSOL a anunciar que convocaria o ministro Sérgio Moro para que ele prestasse esclarecimentos ao Congresso.

Relação com Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz

O ex-policial militar estava escondido na fazenda de Gilsinho da Dedé, vereador do PSL em Esplanada (BA). O partido é peça-chave para entender o caso que culminou em uma mandado de prisão expedido contra Nóbrega em janeiro de 2019.

Até novembro de 2018 quando ainda era filiado ao PSL – partido do qual se desligou em outubro de 2019 – o senador Flávio Bolsonaro (sem partido), empregava a mãe e a esposa de Adriano de Nóbrega em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), pois era deputado estadual.

O Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro (MPE-RJ) aponta Nóbrega como um dos responsáveis pelo chamado “Escritório do crime”, de onde teria partido o plano para assassinar a vereadora Marielle Franco.

Homenageado por Flávio Bolsonaro na Alerj em 2003, oportunidade em que recebeu a medalha Tiradentes, mais alta honraria fluminense, Nóbrega é amigo de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador, acusado de recolher parte dos salários dos funcionários do gabinete do político, prática conhecida como “rachadinha.” Os dois trabalharam juntos no 18 Batalhão da Polícia Militar.

Ainda de acordo com a investigação do Ministério Público, as contas de Nóbrega teriam sido utilizadas por Queiroz para fazer depósitos das rachadinhas.

Paulo Emílio Catta Preta, advogado de Nóbrega, anunciou que seu cliente tinha medo de ser assassinado. Seria, segundo o ex-militar, uma “queima de arquivo”. “Ele falou que estava temendo pela vida dele, porque ele tinha certeza, segundo ele me disse, que esta operação para prendê-lo verdadeiramente, mas era para matá-lo”, explicou o defensor, em entrevista ao portal G1.

 

 

*Igor Carvalho/Brasil de Fato

 

 

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O silêncio covarde de Moro sobre a morte de Adriano da Nóbrega, o miliciano ligado ao clã Bolsonaro

Do vovô ao cachorrinho, todo mundo da família de Adriano da Nóbrega se empregou no gabinete de Flavio Bolsonaro.

Bolsonaro e o seu primogênito, Flávio, foram as pessoas que mais deram Oscar para um dos criminosos mais frios do Brasil, que diziam gostar de matar suas vítimas à facada.

Caveira, como era conhecido pelo seu Escritório do Crime, estava na lista da Interpol, mas não estava na de Moro.

Agora, o super-Ministro da Justiça e Segurança Pública, que passou 5 anos latindo e babando raiva de petistas, está de focinheira colocada pelo seu dono ligado umbilicalmente ao miliciano morto no domingo (9), na Bahia.

Ninguém espera que a família Bolsonaro abra a boca sobre o caso, nem mesmo Eduardo, que estava na Bahia na hora da morte de Adriano, está sendo cobrado pela mídia que dê uma declaração que justifique sua estadia lá durante dois dias.

Mas Moro, que vive agora dependurado no twitter elogiando ações policiais em todo o Brasil em busca de apoio para a sua candidatura, não abrir o bico sobre a ação conjunta entre a polícia carioca e a baiana que culminou na queima de arquivo do personagem principal que liga Bolsonaro à morte de Marielle é, no mínimo, passar recibo de que o Ministro, que defendia total transparência das autoridades públicas contra o PT, aceita e abana o rabinho para a mordaça que lhe impuseram.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Em nome do projeto neoliberal que arrasa o Brasil, Globo esconde a relação de Bolsonaro com o miliciano Adriano da Nóbrega

Quem assiste à Globonews nesta segunda-feira, acredita que assiste ao programa do Datena, porque todas as equipes de jornalismo da emissora estão focadas no projeto enche linguiça com a chuva de São Paulo para fugir do assunto Bolsonaro e o miliciano Adriano da Nóbrega.

É nítida a intenção da Globo de ganhar tempo a favor do Presidente da República para não associá-lo ao principal assunto do país, a queima de arquivo do nome efetivamente ligado ao assassinato de Marielle e à família de Bolsonaro.

Fosse Lula e seus filhos envolvidos com a milícia e com as mortes de possíveis testemunhas do assassinato de Marielle, a Globo inventaria um dia de 48 horas e passaria a narrar, a seu modo e gosto, o episódio da morte do miliciano para escandalizar o país.

Isso mostra que a Globo é muito mais perigosa, na sua tática de omitir do que de inventar notícias, porque, quando se inventa, naturalmente obriga a uma reação de quem foi acusado, mas a omissão não, ela tem justamente o propósito de calar qualquer assunto relacionado a um fato grave como esse que envolve o chefe do Escritório do Crime, considerada a milícia mais violenta do Brasil, com o Presidente da República e seus filhos, um, o senador Flávio Bolsonaro, o outro, o deputado federal, Eduardo Bolsonaro e, por último, o vereador, Carlos Bolsonaro.

A chuva em São Paulo foi forte e alagou a cidade? Sim, mas com anos e anos de administração tucana, parceira da mídia, São Paulo já sofreu com enchentes inúmeras vezes durante todos esses anos de governo do PSDB, mas a Globo sempre fez questão de esconder para proteger o partido da casa. Hoje, porém, ela faz o oposto, mostra cada poça d’água, narra cada drama familiar, num nítido bate entope jornalístico para o tempo passar e não dar o devido foco ao mais grave acontecimento da história do Brasil, que envolve a Presidência da República e o crime organizado. Ainda assim, não há qualquer crítica aos governos do PSDB.

Para piorar, ainda coloca no ar um dos maiores vigaristas da Globo, Cesar Tralle, o mesmo que armou a farsa dos aloprados contra Lula na eleição de 2006, mostrando que a esquerda deverá ter um foco especial acima de todos os outros com o trabalho imundo que a grande mídia, mas sobretudo a Globo cumprirá para reeleger Bolsonaro, um presidente ligado umbilicalmente à maior rede criminosa do país para sustentar o projeto neoliberal de desmonte da nação.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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A impressionante naturalização da Globo da relação criminosa entre Bolsonaro e Moro com a milícia

Para a Globo, Flávio Bolsonaro não é o primogênito herdeiro do esquema criminoso de corrupção comandado por Queiroz há décadas. Para a Globo, o fato do Presidente da República ter, por inúmeras vezes, elogiado o papel das milícias e seu filho Flávio ter condecorado vários milicianos, inclusive Adriano da Nóbrega e de brinde ainda empregar pessoas de sua família, não altera a sua fala displicente sobre tudo isso, tentando separar Bolsonaro de sua família, de seus três filhos e até mesmo de sua mulher que recebeu o cheque de Queiroz.

Para a Globo, Bolsonaro é um e seu clã, é outro, como se os filhos, a esposa e o próprio Queiroz tivessem autonomia para agirem à margem do Presidente da República. Tudo para não dizer que o Brasil é presidido por uma pessoa envolvida até o último fio de cabelo com os criminosos mais violentos e que mais ganharam espaço na vida política e social no Brasil.

Nos últimos tempos, nada cresceu mais nesse país do que as milícias, a ponto de deixar de ser um Estado paralelo para, no caso do Rio de Janeiro, por exemplo, reduto eleitoral do clã Bolsonaro, ser o próprio Estado.

Mais nefasta ainda a Globo se torna quanto ao papel de Sergio Moro nessa podridão. Neste caso, é como se Moro fosse Ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil independente, sem qualquer vínculo com o governo Bolsonaro, sem que tenha sido colocado na pasta pelo próprio presidente miliciano, como se suas ações em proteção à família fosse algo absolutamente normal, incluindo a vergonhosa pressão que Moro exerceu sobre o porteiro do condomínio de Bolsonaro para que ele invertesse sua versão no depoimento, transformando o coitado de testemunha a réu confesso.

Certamente, a Globo não vê fascismo nisso. Se visse esse fato de maneira minimamente séria, republicana, Bolsonaro, assim como Moro, não aguentaria um dia de Jornal Nacional. Mas, ao contrário, a Globo vai construindo uma narrativa carregada de platitudes que mantém Bolsonaro na rédea curta, até porque é um grande medroso e arrota valentia contra a emissora somente em questões secundárias, num claro combinado entre os Marinho e o Palácio do Planalto para forjar uma independência tosca que não serve como enredo para o pior teatro com os piores atores.

Assim, o Brasil vai vivendo, depois da pantomima contra o crime e contra a corrupção, uma nova era conduzida pela mesma Globo da relativização da corrupção e do crime, mesmo que ele esteja no topo dos mais bárbaros, tudo em nome dos interesses do deus mercado do qual Bolsonaro é 100% devoto.

Se é para o bem do mercado e felicidade geral dos banqueiros, diga ao povo que Bolsonaro e Moro ficam. (Globo)

 

*Carlos Henrique Machado Freitas