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Tereza Cruvinel: Homens da CIA no golpe da Bolívia

Um artigo do site Behind Back Doors, conhecido por suas revelações sobre a ingerência norte-americana na América Latina, apresenta uma lista dos mais importantes agentes da CIA que participaram do golpe contra o ex-presidente da Bolívia, Evo Morales. Anuncia também que a operação na Bolívia continua e que há outros governos “não amigos” nos planos de desestabilização política do continente. O próximo alvo pode ser Manágua.

Em sinal de que a ofensiva contra a esquerda na Bolívia de fato continua, na quinta-feira a Justiça Eleitoral do país barrou a candidatura de Evo ao Senado nas eleições marcadas para maio, alegando que ele não provou residir no distrito eleitoral pelo qual se candidataria.

O artigo “Os mais importantes agentes da CIA em La Paz, Bolívia (parte I)” expõe a identidade de alguns dos principais agentes do golpe, tanto de americanos como de bolivianos cooptados, como o general Willian Kaliman Romero, ex-comandante das Forças Armadas, que gozava da inteira confiança de Evo Morales, que o colocou no cargo em 2018. Foi Kaliman que, no calor do golpe, pediu publicamente a renúncia de Morales em 10 de novembro passado, seguindo as instruções Bruce Williamson, encarregado de negócios dos Estados Unidos na Bolívia. A instrução foi passada a Kaliman por Luis Fernando Camacho, o líder político de Santa Cruz, devidamente integrado ao grupo conspirador.

Segundo o site, o golpe começou a ser planejado no território norte-americano, em parceria com políticos bolivianos que vivem nos Estados, como Gonzalo Sánchez de Lozada, Manfred Reyes Villa, Mario Cossio e Carlos Sánchez Berzain, que fizeram a ponte inicial com os militares cooptados para o golpe, criadores da “coodenação nacional militar”, entre eles o general Rumberto Siles e os coronéis Julius Maldonado, Oscar Pacello e Carlos Calderon.

Milhões de dólares teriam sido investidos pelos EUA no golpe. Só a Fernando Camacho, para organizar a insurgência em Santa Cruz de La Sierra, foram entregues dois milhões de dólares.

Já dispondo de quadros baseados na embaixada ou atuando clandestinamente na Bolívia, em setembro, um mês antes da eleição de outubro, mais 38 agentes entraram no país, disfarçados de turistas, empresários ou dirigentes de ONGs.

O golpe teve êxito porque a CIA conseguiu cooptar não apenas os políticos de direita como também militares, dividindo as Forças Armadas. Entre os militares, muitos eram próximos de Evo e o traíram miseravelmente, como o general Kaliman.

Cooptado pela CIA, o general cumpriu duas tarefas decisivas para o golpe. Primeiro, fornecendo informações sensíveis sobre Evo e seu governo aos agentes. E depois, desinformando o então presidente sobre o que estava se passando no país, evitando que pressentisse o golpe e tentasse abortá-lo, quando ele já fora planejado e tudo estava pronto para sua execução dentro das Forças Armadas.

Segundo o artigo, Kaliman foi cooptado ainda antes de assumir o comando das Forças Armadas, a partir da identificação de seus “pontos fracos”, como o fato de que todos os seus filhos vivem nos Estados Unidos e o de sua filha ser casada com um alto oficial do Exército americano. Em La paz, durante todo o tempo, o general manteve contatos com agentes disfarçados que operavam no país. Pouco antes do golpe, ele exigiu que sua esposa fosse tirada do país e levada para os Estados Unidos.

Na fase pré-golpe, ele conseguiu convencer Evo a autorizar a presença de tropas de inteligência do Comando Sul do Exército americano em território boliviano, e que a Bolívia integrasse a Surnet (Rede Sudamericana), um mecanismo regional para intercâmbio de inteligência militar.

Outro cooptado pela CIA, segundo Behind Back Doors, foi o general Vladimir Yuri Calderón, comandante da polícia, que havia servido durante vários anos como Adido Militar da Bolívia nos Estados Unidos. Nos preparativos do golpe, seu interlocutor na embaixada americana era o major Matthew Kenny Thompson, também adido militar. Por sua socialibilidade, Thompson atuou fortemente junto às Forças Armadas bolivianas, cooptando oficiais para o plano golpista.

Até mesmo a partir da Argentina a CIA atuou no golpe, através do adido militar da Bolívia, general Rômulo Delgado, que facilitou a infiltração junto a militares bolivianos. Da Venezuela, teria atuado o coronel Juan Carlos Jaramillo, onde é ligado a Juan Guaidó e tem notória parceria com a CIA em ações contra o governo Maduro, como no ataque ao aeroporto de Carlota, em 2019.

Entre os cooptados o site cita ainda os coronéis Clamente Silva Ruiz, chefe do comando de La Paz, e Erick Millares Luna, da área de inteligência.

Outro que traiu Evo foi seu amigo (ex-amigo) Panchito, apelido de Ramiro Flores Montano, cooptado pela CIA quando servia, indicado por Evo, como adido militar no Chile. Voltou para participar ativamente dos preparativos e da execução do golpe, fornecendo armas e treinamento militar ao grupo Yunga Cocaleros, um dos que tomou as ruas.

Traidor notável foi também o empresário Edwin Saavedra, que era muito amigo do então vice-presidente Álvaro Garcia Linera, através de quem obtinha informações que passava à CIA.

Entre os americanos, um dos mais importantes algozes de Evo Morales foi Rolf Olson, agenda CIA disfarçado de conselheiro econômico da embaixada. Outra agente citada é Annette Dorothy Blakeslee, que atuou no “golpe suave” na Nicarágua como médica da USAID. O Olson é atribuído o completo “manejo” do principal líder político boliviano no golpe, Luiz Fernando Camacho Vaca, orientado a criar o tal “Comitê Cívico de Santa Cruz de La Sierra”, plataforma civil que atuava em sintonia com a “Coordenação Militar Nacional”.

A embaixada americana entregou a Camacho, segundo o artigo do site, dois milhões de dólares para ele organizar a insurgência em Santa Cruz. O site diz que Brasil e Argentina (ainda governada por Macri) teriam ajudado no repasse do dinheiro mas não fornece detalhes.

Camacho comandou as ações mais violentas contra a população civil antes do golpe. Durante meses, sob supervisão da CIA, ele teria recrutado, organizado e treinado os membros da organização neofascista Unión Juvenil Crucenista, que teve atuação agressiva nos conflitos.

Ele teria participado de várias reuniões com George Eli Birnbaum, agente americano que chegou antes de outros 38 americanos que entraram no país disfarçados, em setembro, um mês antes das eleições de outubro, fazendo-se passar por turistas, empresários e dirigentes de ONGs. Com eles foram planejadas as ações para incitar protestos contra supostas fraudes no processo eleitoral em que Evo disputava a quarta reeleição. Estes 38 agentes integram as Tropas Operacionais Especiais do Comando Sul dos EUA. Três destes 38 agentes incógnitos, segundo o site, foram Cason Benham, Luis Manuel Ribero Ibatta e Diego Santos Sardone, que se fizeram passar por advogados.

A estação da CIA na Bolívia valeu-se também, segundo o site, da colaboração de José Sánchez, chefe da AFI, a Agência Federal de Inteligência argentina, no levantamento de dados sobre membros do governo Evo e também sobre todos os funcionários cubanos, venezuelanos e nicaraguenses residentes na Bolívia, incluindo os diplomatas, buscando associá-los ao narcotráfico e à corrupção.

Outro argentino, Gerardo Morales, governador da província de Jujuy, no norte do país, teria tido participação importante na triangulação do dinheiro injetado no golpe pela embaixada norte-americana. Em setembro de 2019, um mês antes do pleito, a filha de Donald Trump, Ivanka, fez uma visita relâmpago à província, onde se reuniu com Fernando Camacho e com o governador Morales.

As revelações de Behind Back Doors soam rocambolescas, e alguns fatos parecem incríveis, como esta visita de Ivanka a um cafundó da Argentina. Mas os golpes são assim mesmo: inverossímeis mas acontecem.

Para nós que vivemos num país em trepidação constante, onde se louva a ditadura e se fala em volta do AI-5, é bom aprender um pouco sobre eles acontecem.

 

 

*Tereza Cruvinel – Brasil 247

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Para apoiar o golpe na Bolívia, mais de 68 mil contas falsas foram criadas no Twitter

Só a conta de Luis Fernando Camacho – um dos líderes do movimento golpista – passou, nos últimos 16 dias, de 3.000 para 130.000 seguidores, dos quais mais de 50.000 são de perfis criados em novembro de 2019.

Mais de 68 mil contas falsas, recém-criadas no Twitter, operaram na última semana acompanhando o golpe de Estado na Bolívia, segundo uma investigação realizada por Julián Macías, responsável pelas redes sociais do partido Unidas Podemos, da Espanha.

O estudo aponta evidências do uso de táticas militares em grande escala a fim de inundar de propaganda as redes sociais, em uma atividade que parece obedecer a uma estratégia prévia e que ainda está em operação.

A maioria dessas contas foi criada antes do dia 10 de novembro, dia em que os militares “sugeriram” que o então presidente Evo Morales renunciasse, consumando um golpe de Estado com violenta repressão na Bolívia, que já deixou mais de 20 mortos e 700 feridos.

Trata-se de um volume anormal de contas, com origens similares e que sem comportamento orgânico. Elas têm entre zero e um seguidor, e divulgam notícias falsas com possível apoio logístico internacional.

Com hashtags como #EvoAssassino, #EvoDitador, #EvoÉFraide ou #NãoHáGolpedeEstadonaBolívia, as mensagens vindas das contas falsas intoxicaram o debate na rede, com mensagens como “Evo Morales é um corrupto” e acusações de que ele teria “roubado” as eleições. Mas, com a autoproclamação de Jeanine Áñez, estes perfis passaram a comemorar “a democracia e a liberdade” do povo boliviano.

ABI
Conta da autoproclamada presidente Jeanine Áñez foi de 8.000 para quase 150 mil seguidores, com 40 mil falsos

De acordo com Macías, só a conta de Luis Fernando Camacho – um dos líderes do movimento golpista – passou, nos últimos 16 dias, de 3.000 para 130.000 seguidores, dos quais mais de 50.000 são de perfis criados em novembro de 2019.

A conta da autoproclamada presidente Jeanine Áñez também sofreu um crescimento exponencial, indo de 8.000 para quase 150 mil seguidores – 40 mil dos quais contas falsas recém-criadas.

Há, segundo Macías, contas curiosas: uma, norte-americana, que simula ser o perfil do ator Robert de Niro, apresenta um vídeo de um manifestante ferido. “Pode ser uma produção simulada, já que não se vê a origem. O mais curioso é a resposta: um agradecimento a de Niro por atacar Evo Morales”, diz – e com um inglês praticamente nativo.

Apesar de o uso de robôs para amplificar mensagens violar as políticas de uso do Twitter, e em que pesem outras denúncias, as contas continuam ativas.

 

 

*Com informações do Viomundo

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Vídeo: Almirante dos EUA parabeniza golpe na Bolívia que teve seu apoio

‘Há pressão econômica, pressão diplomática e a dos militares; nossa força militar tem apoiado essa pressão’, afirmou Craig Stephen Faller, responsável pelo Comando Sul, que inclui a IV Frota.

O almirante norte-americano Craig Stephen Faller disse na última sexta-feira (15/11) que o Comando Sul do país acompanhou de perto os últimos acontecimentos da Bolívia e parabenizou o “profissionalismo” das Forças Armadas bolivianas na “defesa da democracia” no país.

Na sequência da mesma entrevista, a um rede de TV digital da oposição venezuelana, a VPI TV, Faller pediu para que outras “forças armadas sejam profissionais, porque sei que há profissionais que fazem o correto”.

O Comando Sul reúne um conjunto de forças militares norte-americanas responsável pelo planejamento de contingência, pelas operações e pela cooperação militar com países da América Central, do Sul e Caribe. Uma das forças sob o comando de Faller é a chamada IV Frota, recriada recentemente. O Comando Sul dispõe de até 4.000 homens para atuação imediata na América do Sul. O símbolo das tropas sob o comando de Faller é um escudo com uma águia ao alto, representando os Estados Unidos, e o mapa da América Central e do Sul abaixo.

A entrevista configura um verdadeiro chamado para uma intervenção militar na Venezuela. A jornalista que entrevista Craig pergunta diversas vezes quais são as ações e planos do Comando Sul e dos Estados Unidos para a Venezuela.

As declarações do almirante aconteceram um dia antes de uma grande manifestação em apoio ao governo de Nicolás Maduro e do fracasso quase que total de um protesto de apoiadores da oposição e do presidente autoproclamado Juan Guaidó. A fala de Faller incitava ainda que os militares da Venezuela “considerem seu juramento e façam a coisa certa”, numa insinuação bastante explícita de que eles receberiam apoio dos EUA no caso de atuarem de forma semelhante ao que ocorreu na Bolívia.

“Nosso enfoque aqui é trabalhar junto as verdadeiras, boas e profissionais forças de seguranças de Colômbia e Brasil. E outras [forças] regionais que são muito efetivas, que ajudam a compartilhar informações e compreendem a gravidade da situação e tentam encontrar formas de ajudar. Nosso governo, dos Estados Unidos, segue fazendo pressão no governo de Maduro e assim desenvolvemos um papel de assistência aqui”, afirmou.

Em outra ocasião, Faller já havia comparado o governo do presidente Maduro ao da Síria de Bashar al-Assad, dizendo que a Venezuela se aproximaria de uma situação similar se o mandatário venezuelano não deixasse o poder.

Questionado sobre uma possível intervenção militar na Venezuela, o almirante afirmou que já há “pressão” de países e que isso é um “fator importante”, pois, segundo ele, Maduro “está cada vez mais isolado”.

“A comunidade internacional está aplicando muita pressão, são mais de 50 nações unidas. E esse é um fator importante na pressão que está sendo aplicada. Então, há pressão econômica, pressão diplomática e a dos militares. Nossa força militar tem apoiado essa pressão”, disse.

Faller ainda afirma, sem se preocupar minimamente em oferecer qualquer tipo de comprovação, que “há uma conexão do narcotráfico e o governo de Maduro”, sendo o presidente um “narcotraficante que agora tem um livre reinado para governar junto com outros governos” e que apoia o terrorismo internacional.

Durante a entrevista, Cuba, Rússia e China foram citados como apoiadores de Maduro.

O almirante afirmou ainda que toda a política estratégica do Comando Sul segue as linhas governamentais norte-americanas e disse que deixa aos “responsáveis políticos” as decisões e, assim, se “mantêm focado no papel militar”. “Nosso trabalho deve ser estarmos prontos para cooperar com nossos sócios compartilhando informações e inteligências”, afirmou.

Veja a entrevista completa (em espanhol) abaixo:

 

 

*Com informações do Ópera Mundi

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Vídeo: O golpe na Bolívia e as ilusões republicanas

Concessões à direita não impediram que Morales sofresse um golpe violento

Quando Dilma foi golpeada em 2016, o impeachment foi chamado por alguns de “golpe branco”, levando em conta que a tomada do poder do Estado não ocorreu pelos meios convencionais, violentos, mas por malabarismos institucionais que tinham o intuito de lhe conferir a aparência de legalidade.

Dizia-se que não havia mais espaço para golpes “old school” na América Latina, com militares acossando governos democraticamente eleitos. A era das repúblicas bananeiras já estaria há algum tempo no retrovisor.

Ledo engano.

Evo Morales, presidente da Bolívia, foi deposto no domingo, dia 10 de novembro, após motins e ultimatos das forças militares bolivianas em conluio com lideranças golpistas. Seus opositores não hesitaram em adotar ações terroristas para pressioná-lo, com depredações, linchamentos, perseguições e sequestros de apoiadores, partidários e seus familiares.

Uma prefeita situacionista foi submetida à tortura e humilhação públicas, sendo obrigada a caminhar meio à multidão hostil após ter os cabelos cortados e o corpo sujo de tinta. Prédios e casas foram incendiados – incluindo a casa da irmã de Evo – e o editor chefe de um meio de comunicação sindical chegou a ser amarrado a uma árvore.

Ainda, a chefe da justiça eleitoral foi presa, ficando sob a custódia de encapuzados, e ministros e parlamentares do MAS, partido de Evo, tiveram que se abrigar na embaixada do México para se proteger de ameaças após também terem suas casas queimadas. Em uma rede social, o presidente denunciou a intenção da polícia em prendê-lo. Enquanto rumava para o México na condição de asilado, sua casa era saqueada.

Evo, reeleito recentemente, fez todas as concessões possíveis aos detratores de sua vitória: chamou novas eleições; acatou as orientações da OEA acerca do novo pleito, permitindo e legitimando sua intervenção; informou que renovaria a composição do Tribunal Supremo Eleitoral; convidou Carlos Mesa, seu adversário na eleição presidencial, para conversar (o convite foi negado) e cedeu à pressão da oposição, mostrando tolerância – ou mesmo temor – à violência com que pautou suas ações.

Não foi suficiente.

A estratégia de Mesa, do líder opositor Luis Fernando Camacho e das forças militares amotinadas era a reivindicação da democracia como tática, e não como princípio. Camacho, um fundamentalista cristão, faz eco aos racistas de Santa Cruz de La Sierra, reduto anti-Evo, estimulando a violência contra indígenas e a queima de bandeiras Whipala, símbolo dos povos andinos originários. Não é surpresa, portanto, que operem de acordo com a ritualística nazista.

“Os meus opositores só sabem repetir que é preciso derrubar esse índio de mierda. Como se pode chegar a um acordo com esse tipo de gente?”, reclamou o então presidente em relato publicado ainda em 2007 pela Piauí.

Até 1952, a Bolívia viveu sob um apartheid entre brancos e indígenas, que não tinham direito a voto, a identidade e mesmo a frequentar alguns lugares públicos. A chegada de Evo ao poder mexeu com os brios da elite branca, disposta a partir para o vale-tudo para retomar privilégios. Provavelmente foi com risadas que os facínoras receberam a juvenil estratégia governista de reagir ao golpismo com iniciativas legalistas e conciliatórias. A boia da institucionalidade, antes de ser uma salvação, é uma armadilha quando o adversário está disposto a bater abaixo da cintura.

O Estado Plurinacional criado por Evo, importante para o reconhecimento histórico dos povos indígenas, mostrou-se insuficiente para, por si só, conter levantes golpistas historicamente irrigados pelos EUA e seus associados do poder econômico. Entre os séculos XIX e XX, a Bolívia passou por quase duzentos golpes de Estado.

O republicanismo que fez o presidente abrir mão de combater fogo com fogo foi o sinal que os sequestradores da democracia precisavam para restaurar essa tradição.

“Os militares estão conosco. Eles não querem a divisão do país”, disse Evo em 2007 como uma espécie de garantia às incursões golpistas da mesma direita que o golpeou hoje. Na Comuna de Paris, em 1871, o controle das forças militares foi um ponto inegociável para os communards. O golpe seguido do massacre de junho de 1848 contra os operários – um morticínio apoiado pela burguesia francesa, com quem se aliara em fevereiro para depor o rei Luís Felipe – os vacinou quanto aos limites da democracia burguesa, que prende, arrebenta e mata quando o conteúdo se sobrepõe à forma e alguém que não estava no roteiro chega onde não deveria chegar. Os golpes encabeçados por militares na América Latina no século XX mostram que fazia sentido a preocupação dos revoltosos de Paris.

Tomara que o golpe na Bolívia sirva para que a esquerda latino-americana sepulte suas ilusões republicanas e feche enfim as veias do continente.

 

 

*Gustavo Freire Barbosa/Carta Capital

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Camacho, o miliciano que comandou o golpe na Bolívia, confessa que Bolsonaro sabia de cada um dos seus passos

Basta digitar no google a palavra “milícia” para, imediatamente, aparecer o nome de Bolsonaro, como se fosse um nome originalmente composto. E esse sujeito é o presidente do Brasil. Pior, para chegar ao poder, teve uma ajuda significativa das Forças Armadas, da grande mídia, dos milionários, do judiciário e do Ministério Público. Tudo misericordiosamente confessado. O que mostra que a escória de apoio ao capitão é pior do que o próprio.

As declarações de Luis Fernando Camacho, na Istoé, o golpista boliviano que comandou a insurreição das milícias contra Evo Morales, dão conta de forma generalizada que Bolsonaro foi praticamente o maestro de um golpe em que Camacho foi o spalla.

Alguma surpresa? Não. Bolsonaro sempre postulou comandar o império das milícias no Brasil e na América Latina, tanto que reconheceu o autodeclarado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, que tem relações com traficantes de toda ordem e milicianos da região, assim como foi o primeiro a reconhecer o golpe em Evo Morales como democrático e também a autodeclarada presidente da Bolívia, Jeanine Áñez.

Parece que a palavra milícia é um código de guerra para Bolsonaro. Aliás, a mídia não cobra punição aos milicianos que invadiram a embaixada da Venezuela no Brasil.

O que se tem de concreto com a declaração de Camacho é que Bolsonaro e seus filhos, que sempre mantiveram relação estreita com a milícia carioca, abriram uma picada na Bolívia, assim como tentam fazer o mesmo na Venezuela, numa interfecundação das milícias latino-americanas unificadas em busca do poder nesses países.

Isso, sem falar que o caso Marielle e a milícia que a assassinou, para Bolsonaro, estão cada vez mais próximos dele e de seus filhos, por uma corrente de fatos que ganham novos elos a cada momento.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

 

 

 

 

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Bolsonaro acaba de legitimar oficialmente a invasão de milicianos de Guaidó a embaixada da Venezuela

Representante do Itamaraty, Maurício Correia, que acabou de chegar à embaixada da Venezuela, afirma que Brasil reconhece Guaidó como presidente e não Maduro. Governo Bolsonaro legitima a invasão. Qual é a ideia? Implodir o Brics a mando de Trump e dos EUA?

Vassalo dos Estados Unidos e Israel, Bolsonaro opera na Presidência da República como um lacaio a serviço da política mais espúria dos dois países, buscando isolar o Brasil e afrontar parceiros comerciais que vão custar muito às empresas e à população brasileira.

Não bastasse as denúncias que o aproximam do caso Marielle e da milícia carioca, Bolsonaro parece dobrar a aposta em um governo pirata que pretende caminhar fora da lei para produzir um confronto no Brasil de proporções perigosas.

Sua agressão pública a Mourão humilhando-o de forma inacreditável e sua guerra com ex-aliados do PSL, demonstram que Bolsonaro está sofrendo um surto de cólera, pois, além de apoiar o golpe na Bolívia ainda reconheceu a autoproclamada, senadora Jeanine Áñez, como presidente da Bolívia.

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URGENTE! – vídeo: Embaixada da Venezuela é invadida em Brasília pelo bando de Guaidó

Os ânimos estão acirrados na América do Sul, desta vez, até no Brasil.

Depois que Bolsonaro reconheceu o golpe na Bolívia e a posse de uma golpista que se autoproclamou presidente da Bolívia, a Embaixada da Venezuela é invadida em Brasília por uma milícia ligada a Guaidó.

O território venezuelano está sendo invadido dentro do Brasil por milicianos de Juan Guaidó, autoproclamado presidente do país, pulando o muro e invadindo a representação diplomática da Venezuela no Brasil.

Presidentes e ministros da China, Rússia, Índia e África do Sul estão ou chegam nas próximas horas a Brasília para a reunião dos Brics.

Uma invasão dessas com nítida permissão do planalto tem todos os sintomas de afronta sobretudo a Rússia e China que são aliados de Maduro.

Segundo o deputado Paulo Pimenta, às 8h30 um grupo de cerca de 20 milicianos brasileiros e venezuelanos ainda estavam na embaixada e agrediram diversas pessoas, afirmando ter apoio de Guaidó e Bolsonaro.

As notícias que chegam, relatam que houve agressão física e que a PM de Brasília deu cobertura aos milicianos, o que mostra mais um traço comum entre o golpe na Bolívia, as milícias do clã Bolsonaro com o que ocorre com a embaixada da Venezuela no Brasil.

Tudo indica que Bolsonaro está até o pescoço nessa chocante atitude que coloca o Brasil em rota de colisão com a Rússia e a China, com Putin e Xi Jinping.

Os próprios milicianos que invadiram a embaixada dizem que seguiram as ordens do berrante de Bolsonaro em parceria com Guaidó. Ou seja, o Brasil está a mercê de uma milícia carioca muito mais perigosa do que se imagina e que se alastra rapidamente pelos quatro cantos da América Latina e coloca o Brasil numa posição perigosa diante da comunidade internacional.

 

*Da redação

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Participação de igrejas evangélicas no golpe da Bolívia é denunciada por pastor

“Um dos primeiros gestos dos golpistas foi retirar a bandeira Wiphala, dos povos indígenas, da Assembleia Legislativa, o que revela o seu caráter racista e fascista”

Lamento profundamente o envolvimento de igrejas evangélicas brasileiras no golpe de estado promovido na Bolívia e que culminou na renúncia de seu presidente democraticamente eleito Evo Morales, primeiro presidente indígena de um país latino-americano. Todavia, confesso que não me surpreendo por saber que muitas destas igrejas estão à serviço da agenda norte-americana que tem como objetivo consolidar a América Latina como seu quintal.

Um dos primeiros gestos dos golpistas foi retirar a bandeira Wiphala, dos povos indígenas da Bolívia, da Assembleia Legislativa, o que revela o seu caráter racista e fascista.

Em pronunciamento oficial, Evo Morales renunciou para evitar um banho de sangue em seu país. Algumas horas antes, as casas da irmã do presidente e de dois governadores de seu partido foram incendiadas.

A renúncia foi anunciada pouco depois das Forças Armadas e da Defensoria Pública boliviana aderirem ao golpismo promovido pela oposição, capitaneada por Luis Fernando Camacho e Carlos Mesa, segundo colocado nas eleições de 20 de novembro. O pleito, rejeitado pela direita, garantiu um quarto mandato ao ex-líder sindical indígena.

Fernando Camacho entrou no Palácio do governo munido de uma Bíblia pouco antes da declaração oficial de Morales, demonstrando ser um dos principais artífices do golpe. De joelhos dobrados, numa cena que claramente visava agradar a seus apoiadores fundamentalistas, Camacho colocou a Bíblia aberta sobre a bandeira do país, depois já haver afirmado que traria Deus de volta ao palácio.

Triste mesmo foi ver os líderes evangélicos brasileiros celebrando o atentado contra a democracia. É justamente por associar-se à agenda neoliberal e ao imperialismo norte-americano que as igrejas evangélicas sofrem tantas perseguições mundo afora. Uma coisa é ser perseguido por amor a Cristo e ao evangelho. Outra totalmente diferente é ser perseguido justamente por opor-se aos direitos das minorias e aliar-se a interesses escusos contrários aos princípios pregados por Jesus.

Depois do ocorrido na Venezuela e na Bolívia, o Brasil deveria colocar as barbas de molho. As forças contrárias à democracia e à ascensão das classes trabalhadoras não vão deixar barato o ocorrido na Argentina e no Chile. A Bolívia é só um recado.

 

 

*Com informações do Ópera Mundi

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Como Bolsonaro e golpistas da Bolívia, em parceria, usaram robôs e milícias digitais para derrubar Evo

Esta matéria é fundamental para entender o que está em jogo e como a direita opera com milícia digital e milícia tradicional. Não por acaso, depois que começaram a pipocar as denúncias, com provas, do envolvimento do clã Bolsonaro no golpe da Bolívia, usando milícia digital para apoiar os milicianos que deram o golpe, Carlos Bolsonaro correu para excluir suas contas no Twitter e em outras redes sociais.

A matéria que segue é bem elucidativa e vale muito a pena a leitura para o entendimento de como os golpistas estão atuando em rede na América Latina.

“Eles estão divulgando propaganda em inglês, seus nomes de contas são geralmente @ nomenúmeros e foram criados em novembro”, diz jornalista.

O golpe de estado contra o ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, fez uso de milícias digitais nas redes sociais como um de seu métodos de ataque ao governo do ex-líder sindical. Uma série de contas criadas em novembro tem atacado aqueles que denunciam o golpe e espalhado notícias falsas.

“Há milhares de contas obviamente robôs atacando qualquer pessoa que tuíta sobre o golpe de direita na Bolívia. Eles estão divulgando propaganda em inglês, seus nomes de contas são geralmente @ nomenúmeros e foram criados em novembro. Há uma grande operação em andamento aqui”, denunciou o jornalista Benjamin Norton, do Grayzone Project.

Tercer Mundi
Policiais realizaram motim e, com o respaldo das Forças Armadas, apoiaram o golpe contra Evo Morales

Após a consideração, o comunicador foi vítima de ataques direcionados. Uma série de contas criadas logo após a postagem respondiam diretamente ao jornalista. “Hahaha, outra conta de bot do golpe na Bolívia que tem apenas 4 tweets, todos me atacando. Foi criado há 3 horas e segue uma pessoa: o líder do golpe de extrema direita boliviano Camacho. Esta campanha de desinformação pró-golpe de bot é tão óbvia”, criticou.

Um tuíte da agência de notícias Findes também mostra o ataque coordenado desses robôs, como expõe o usuário Bruno Silveira (@bslvra). “Entrei nos comentários desse tweet e todos os que estão acusando Evo e apoiadores de seu partido têm menos de dez seguidores e são contas criadas em novembro/2019”, diz.

Alguns usuários ainda denunciaram um possível elo do exército de milícias digitais do bolsonarismo do Brasil com os ataques virtuais na Bolívia. “Lotaram o twitter de bot de oposição ao Evo Morales, todos mais ou menos têm o mesmo perfil, são moças, bonitas, universitárias ou com emprego razoável, todos são de novembro, acabaram de entrar no twitter, guerra híbrida como no Brasil, à la Steve Bannon”, postou a usuária Renata (@Ondasmares).

Camacho e Bolsonaro

Apontado como comandante dos ataques, o líder opositor de extrema direita Luis Fernando Camacho já esteve no Brasil em conversa com o chanceler Ernesto Araújo, que afirma que não houve golpe na Bolívia. “Conseguimos o compromisso pessoal e governamental do chanceler Ernesto Fraga Araújo de elevar como estado brasileiro e garante da CPE [Constituição Plurinacional do Estado] a encomenda de interpretação da convenção sobre a reeleição indefinida para a CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos]. O Chanceler instruiu de forma imediata e na mesma reunião que se realize a consulta”, relatou Camacho, após encontrar o ministro brasileiro.

Em áudio filtrado pelo jornal boliviano El Periódico, um interlocutor golpista revela o apoio “das igrejas evangélicas e do governo brasileiro” ao golpe, e fala de um suposto “homem de confiança de Jair Bolsonaro, que assessora um candidato presidencial”. “Temos que começar a nos organizar para falar de política nas igrejas, como já se faz há muito tempo no Brasil, que já tem deputados, prefeitos e até governadores da igreja (evangélica)”, diz.

 

 

*Com informações do Diálogos do Sul

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Vídeos: Após golpe, povo boliviano reage e constitucionalista alerta: “É fundamental que Evo Morales continue vivo”

No dia seguinte à renúncia do presidente boliviano, o povo reage nas ruas e La Paz amanhece com manifestações.

O dia seguinte ao golpe da direita na Bolívia, que levou à saída de Evo Morales da Presidência do país, foi de protestos nas ruas e apreensão. A capital La Paz amanheceu com barricadas e manifestações. Em Cochabamba, milhares de manifestantes marcharam pedindo a volta do líder indígena e campesino. O futuro do ex-presidente preocupa os bolivianos e também o doutor em Direito Constitucional, Gladstone Leonel, que teme pela vida de Evo.

“É muito difícil imaginar o que acontecerá com o Evo. É fundamental que ele continue vivo. É fundamental que se preze pela segurança do Evo”, afirma Leonel, que é professor do programa de Pós-Graduação de Direito Constitucional na Universidade Federal Fluminense (UFF) e que estudou a Bolívia em seu doutorado.

Para Leonel, o futuro da Bolívia será decidido nos próximos dias e Evo Morales deve ter um papel preponderante. “O povo está sofrendo e toma um susto com o que está acontecendo, mas a capacidade desse povo de reagir nos surpreenderá. Haverá muita reação. Os grupos políticos, obviamente, querem afastar o Evo, da mesma forma que fizeram com o Lula aqui no Brasil”, explicou.

Confira a entrevista na íntegra:

Brasil de Fato – Como o Evo Morales, que conduz a Bolívia a um crescimento de 5% ao ano, pode ser alvo de um golpe?

Gladstone Leonel – O governo de Evo não é impopular, tanto que foi eleito em primeiro turno, o que não é fácil para um governo que foi eleito [pela primeira vez] em 2006 e tem todo o desgaste político de uma exposição por tanto período. Recentemente, vimos isso com o PT no Brasil, também um golpe de Estado, mas, sobretudo, com um desgaste de governo, porque o PT estava no poder desde 2002. No entanto, o fato de o governo estar desgastado não pode ser motivo para um golpe de Estado.

Em 2019, se tumultuou o cenário eleitoral porque a diferença do Evo ficou pequena e eles estavam esperando ainda os votos da zona rural. Até chegar, a direita conseguiu se articular e tumultuou o ambiente político. Tanto que a OEA [Organização dos Estados Americanos] dá o ultimato para a auditoria. A meu ver o Evo erra ao aceitar a auditoria da OEA. O organismo enfrenta frontalmente as políticas da Bolívia. Ele dá a possibilidade para que a OEA legitime uma postura política, que foi o pedido de novas eleições. A partir desse momento, os golpistas ficam à vontade para derrubar o governo e derrubar as lideranças populares da Bolívia.

Qual a influência do episódio do plebiscito, que avaliava a possibilidade de um quarto mandato de Evo Morales, no golpe na Bolívia?

Esse episódio já indica um desgaste dentro de um contexto político que mostra que a liderança política não foi renovada. Isso é um problema? Sim, é um problema. Porém, não podemos esquecer que o Evo recorreu a um poder independente, que é o Judiciário. Recorreu ao Tribunal Constitucional Plurinacional, que é um poder separado e independente, que reconheceu a possibilidade de uma candidatura. A partir do momento que foi reconhecida a possibilidade da candidatura, há legitimidade para haver o pleito. Lembrando que diferentemente do Brasil, na Bolívia, os representantes dos tribunais superiores são eleitos pelo povo, há um fluxo democrático muito maior que no Brasil, por exemplo. Então, era um indício de desgaste, mas que não pode haver um rompimento com o Estado Democrático de Direito.

Qual o papel que a região de Santa Cruz de La Sierra exerce nesse golpe?

Precisamos retomar os passos históricos para compreender aquela região. Primeiro, no que diz respeito à própria geografia da Bolívia. Santa Cruz não faz parte do Altiplano Andino, que é a região associada aos indígenas. É uma região diferente, de desenvolvimento agrícola, com influência do latifúndio. Santa Cruz tem uma importância econômica, mas também é onde há a maior resistência aos processos de transformação social. Em 2008, sob a liderança dos latifundiários, há uma tentativa de golpe na Bolívia, rádios e emissoras de TV foram queimadas, mas essa tentativa foi fracassada. Com o passar do tempo, o governo faz algumas concessões à essa região, o que gerou popularidade para Evo lá, mas também gerou críticas ao então presidente, porque passou a estimular o agronegócio local. Essa elite cruzcenha ficou ali, adormecida, esperando o melhor momento para golpear. Parece-me que o momento foi agora.

Como serão os próximos dias na Bolívia?

É importante chamarmos a atenção que, no caso da Bolívia, é importante olhar para a história recente desse povo e do sujeito transformador ali, que foi o sujeito responsável pela Constituinte que eles têm. Essa Constituinte só foi possível porque teve a revolta da água em Cochabamba, quando os bolivianos expulsaram a transnacional que queria privatizar a água; teve também a guerra do gás em El Alto. O povo está sofrendo e tomou um susto com o que está acontecendo, mas a capacidade desse povo de reagir nos surpreenderá. Haverá muita reação. Os grupos políticos, obviamente, querem afastar o Evo, da mesma forma que fizeram com o Lula aqui no Brasil. No entanto, me parece que o destino da Bolívia pode ser decidido nos próximos dias.

Então você aposta em uma resistência ao golpe?

Eu acho que será difícil ter tranquilidade em curto prazo. Foi um golpe à moda antiga, o Evo foi eleito em primeiro turno. Por mais que parte das Forças Armadas tenha apoiado o golpe, outra parte tem laços estreitos com ele. Mas não é só isso, os grupos rurais e indígenas reconhecem o Evo como sua principal liderança e vão sustentar essa resistência. Porém, me parece que houve uma surpresa com o golpe e esses grupos precisam de tempo para se organizar, mas não deve demorar. Nessa madrugada mesmo, o povo de El Alto já fechou as principais vias da cidade.

Sobre o futuro de Evo, México ofereceu abrigo, mas ele decidiu permanecer em Cochabamba, de onde ele denunciou uma tentativa de prisão contra ele. Qual será o papel de Evo agora?

É muito difícil imaginar o que acontecerá com o Evo. É fundamental que ele continue vivo. É fundamental que se preze pela segurança do Evo. Quando acontece um golpe contra o Hugo Chávez [Venezuela] em 2002, eles retiram o Chávez da Presidência. Logo depois, há uma insurgência e o povo pede a volta do Chávez no Palácio de Miraflores. O maior arrependimento daqueles golpistas naquela época foi ter mantido o Chávez vivo. Essa é uma lição que fica, ele tem que ser mantido vivo e em um lugar seguro. Por quê? Porque ele tem um papel central nos próximos passos, como liderança política.

Edição: Camila Maciel

 

 

*Com informações do Brasil de Fato