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Política

Aparece outra empresa da família de Aécio Neves em paraíso fiscal que a Lava Jato não viu

Em matéria da revista Piauí, documentos inéditos revelam outra empresa da família de Aécio Neves em paraíso fiscal.

A beneficiária é a própria mãe de Aécio, numa holding em Luxemburgo, desde 2018.

Além do elo com duas offshores já conhecidas da Lava Jato, sua mãe é beneficiária, no exterior, de uma terceira empresa, cujos ativos chegam perto de R$ 4 milhões, em Luxemburgo, paraíso fiscal europeu.

Ao contrário das outras duas offshores, sediadas em Liechtenstein e no Panamá, a empresa em Luxemburgo nunca apareceu nas apurações do Ministério Público Federal sobre Aécio, que vem sendo investigado por corrupção em um inquérito e responde a uma ação penal, também por corrupção.

Detalhe, não foi a Lava Jato de Moro, mesmo com seus braços fora do país, que descobriu isso. Os dados foram obtidos pelo jornal francês Le Monde e pelo do Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP), consórcio internacional de jornalismo investigativo.

O motivo da Lava Jato não descobrir nada de Aécio fora do país, a foto em destaque explica.

*Da redação

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Polícia Federal conclui inquérito e acusa Aécio de receber R$ 65 milhões em propina

A Polícia Federal concluiu um dos inquéritos contra o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) e apontou ter rastreado o pagamento de R$ 65 milhões em propina da Odebrecht e da Andrade Gutierrez ao golpista em troca de “ajuda” nas obras das hidrelétricas do Rio Madeira. A informação foi revelada nesta quarta-feira pelo jornal O Globo. De acordo com o veículo, o relatório final da investigação foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) na segunda-feira 16/III. Caberá à Procuradoria-Geral da República (PGR) decidir sobre o oferecimento de denúncia neste caso.

No curso da investigação, doleiros confirmaram ter viabilizado recursos para operadores de Aécio, por meio do esquema de Dario Messer, o “doleiro dos doleiros” preso pela Operação Lava Jato. A PF acusa Aécio pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Também são acusados desses mesmos crimes o empresário Alexandre Accioly, amigo do tucano, e o ex-diretor de Furnas Dimas Toledo.

“Estão presentes indícios suficientes de autoria e de materialidade de que o deputado federal Aécio Neves da Cunha, ao receber valores indevidos no total de R$ 64.990.324,00 (sessenta e quatro milhões, novecentos e noventa mil, trezentos e vinte e quatro reais) do grupo Odebrecht e da construtora Andrade Gutierrez entre os anos de 2008 e 2011, praticou a conduta tipificada no art. 317 do Código Penal, e portanto, praticou o delito de corrupção passiva, com pena de 2 a 12 anos”, escreveu o delegado Bernardo Guidali Amaral na conclusão do relatório.

No relatório, Guidali Amaral escreve que os repasses “ocorreram em contrapartida pelo exercício de influência a sobre o andamento dos negócios da área de energia desenvolvidos em parceria pelas respectivas construtoras, como os Projetos do Rio Madeira, as Usinas Hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no Estado de Rondônia, notadamente sobre a Cemig, companhia de capital aberto controlada pelo Governo do Estado de Minas Gerais, e Furnas, empresa de economia mista, subsidiária da Eletrobras”.

 

 

*Com informações do Conversa Afiada

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Dia do foda-se bolsonarista é o dia do ‘Somos todos milícia’

Quem acha que o bolsonarismo é somente ódio, está errado, os caras são bons de humor.

Agora, vendo Bolsonaro enterrado até o pescoço nas denúncias de suas relações em várias frentes com a milícia, sem ter como explicar o que não tem explicação, os bolsonaristas, convocados por algum gênio do escritório do ódio, dizem que vão às ruas contra o Congresso por conta do orçamento da União, o que faz qualquer criança parar de chorar e gargalhar quando ouve essa comédia protagonizada pelo gado.

Ora, o foda-se, neste caso, é para qualquer senso de ridículo ou para assumir de vez que nasceu para ser manada de Aécio, Cunha, Temer na base do “todos, menos o PT”.

Na verdade, dizem que se inspiraram na fala de Augusto Heleno que reclamou do Congresso e, no final, soltou um foda-se.

Mas, na realidade, todos sabem que estão indo para as ruas tentar reduzir um pouco o impacto desastroso para o governo do pibinho de Guedes, da disparada do dólar, mas principalmente do mar de contravenção que a sociedade vai descortinando, do qual o clã Bolsonaro é protagonista.

Não duvidem de aparecer um cartaz com os dizeres, “somos todos Rio das Pedras”, “Queiroz, o herói nacional”, “corrupção de rachadinha não é crime”, “Moro perdoou Flávio Bolsonaro”,  e por aí vai.

O fato é que, se essa gente, que nunca deixou de votar na direita, seja malufista ou tucana, ficou muito mais enfezada com a esquerda depois que o líder da manada anticorrupção de 2015, Aécio Neves, foi pego, com áudio e vídeo, pedindo e recebendo propina da JBS, quando toda a ação foi registrada por câmeras e microfones, sem dar chances para qualquer apelo para o contraditório.

Poderiam ter ido para as ruas por Aécio, por recontagem de votos, como foram, por qualquer outro motivo, mas foram contra Dilma e a suposta corrupção em seu governo e, depois, viram-se completamente ridicularizados com as imagens mostradas por toda a mídia, com aquele desavergonhado capítulo de Aécio pedindo e recebendo propina de Joesley.

A partir de então, num surto psicótico, todo bolsonarista que foi para as ruas, passou a ver comunista em qualquer gozador que lhe esfregasse na cara o mico histórico de ter ido às manifestações contra a corrupção convocadas por um dos maiores corruptos do país.

Agora, convocam para o dia 15 de março uma outra manifestação, desta vez contra o Congresso, usando a tática dos punguistas, apoiando bandidos do clã Bolsonaro, das milícias e todo o lixo do entorno, gritando “fora Congresso!”.

A pergunta é: teremos a repetição desse ato cívico que fez o planeta cair na gargalhada, vendo bolsominions marchando e cantando a canção do soldado?

https://youtu.be/m_hYmL0TCv8?t=17

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Bolsonaro se recusa a falar da morte do miliciano e expõe seu clã e todos os cidadãos de bem que também se calaram

Nada como um dia após o outro, ou melhor, um ano após o outro. Aonde está aquela gente que se diz “povo”, mas que era na verdade eleitora ferida de Aécio, que foi para as ruas e avalizou o pedido de impeachment de Dilma elaborado por janaína Paschoal, a pedido e pago por Aécio Neves?

Ora, essa gente que ficou envergonhada depois da olimpíada da mala de dinheiro entre os assessores, primo de Aécio e Loures, de Temer, filmada, gravada, carimbada e com firma reconhecida, migrou para o bolsonarismo.

E o que é o bolsonarismo? É a “nova política”. Mas o que é essa “nova política”?

É aquela que diz que Bolsonaro, o maior parasita da história do Congresso, que ficou três décadas sem ter um único projeto aprovado, montando esquemas junto com Queiroz, de assalto aos cofres públicos com suas buchas de canhão que alguns chamam carinhosamente de “rachadinha”, quando, na verdade, o nome é esquemão, que envolveu, por exemplo, durante uma década, a família do miliciano Adriano da Nóbrega, o caveira, morto no domingo (9), o mais temido dos temidos milicianos do Rio de Janeiro e, certamente, do Brasil, já que, além de ser um pistoleiro de aluguel, era um empreendedor do terror, da emboscada, da morte por encomenda com nota fiscal em três vias em que uma delas, certamente, ia parar nas mãos do clã, este que conta com, nada mais, nada menos, com os três filhos que Bolsonaro enxertou na política para abarcar no esquema do rachadão quatro vezes o valor que o pai arrecadava junto com seu PC Farias, o Fabrício Queiroz, mais conhecido pela população como “cadê o Queiroz?”.

Esse insulto à inteligência brasileira de um sujeito como esse estar livre, leve e solto, é a régua que baliza que as nossas instituições não estão falidas, elas inexistem, quando não são parte de um esquema criminosamente fascista que envolve não só a contravenção, como o próprio desmonte da República. Nada do que já se teve notícia na história da bandidagem brasileira.

É bom lembrar que a milícia nasceu no Brasil no período da ditadura militar com o esquadrão da morte e criou metástase pelo país inteiro, mas principalmente no Rio de Janeiro, fazendo populações inteiras suas reféns, porque lá é o QG do principal fã do maior criminoso, assassino, torturador, estuprador da ditadura militar, Brilhante Ustra, a quem Bolsonaro, na votação do golpe do impeachment contra Dilma, bancado por Aécio, em parceria com Cunha e Temer, fez questão de exaltar, junto com um dos seus filhos delinquentes, Eduardo Bolsonaro.

Pois bem, depois da morte de Adriano da Nóbrega, o miliciano sócio de Ronnie Lessa, vizinho de Bolsonaro no Vivendas da Barra, com o olhar parcimonioso do super, hiper, magnânimo, semideus Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, não há mais o que explicar. Ou quem sustenta, nas entranhas do poder se fantasiando de palhaço verde e amarelo nas ruas, ergue uma estátua patriarca com todas as luzes e holofotes voltados a ela, como o herói da patifaria tropical, mostrando a afinidade de índole entre ele e essa gente ou fim de linha para Bolsonaro ou, pior, decreta-se a falência múltipla dos órgãos da República.

Toda essa gente não podia imaginar que os brasileiros ficariam apopléticos diante de uma situação em que Bolsonaro se transformou em um espantalho do mercado, sustentando-se no poder por transferir bilionárias cifras dos pobres para os ricos, como se soube hoje do novo lucro recorde do Itaú de R$ 28,4 bilhões somente com as contas correntes. Lucro este, diga-se de passagem, nominal, porque o efetivo, praticamente dobra.

Não se pode esquecer também dos militares do governo que fazem um cordão de isolamento no mandato mafioso de Bolsonaro. A notícia, veiculada nesta terça-feira pela mídia em geral, dá conta que os militares se negam a apresentar a infinita lista de filhas de militares que se beneficiam das pensões parasitas do Estado brasileiro que, além de desobedecer a uma ordem do TCU, mostra que essa ponta do iceberg esconde em seu corpo privilégios e mamatas do mundo verde oliva que até Deus duvida, num país em que, na gestão Bolsonaro, aumentou enormemente o número de pobres, miseráveis, moradores sem teto que perambulam pelas ruas sem ter para onde ir e nem como sobreviver.

É sobre isso que falamos, desse lado podre do país, escancarado em praça pública em pleno sol do meio dia, produzindo um odor insuportável.

Que silêncio Bolsonaro e seus devotos vão conseguir manter diante desse mar de lama que já explodiu todas as barragens?

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

 

 

 

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Eike Batista vai delatar banqueiros e Aécio. Se vai dar certo, são outros quinhentos

Delação sem combinação com Moro, costuma dar em nada.
Eike, pode até tentar arrumar alguma coisa delatando compadres de Moro, mas as chances de ter êxito, são quase nulas.

Mas o efeito pode efetivamente dar numa complicada pra Eike.

Moro é irmão de fé de Aécio, como mostrou a Lava Jato. Banqueiros são patrões de Moro.

Lauro Jardim, de o Globo, diz que Aécio Neves (PSDB-MG), quando foi governador de Minas Gerais e senador teria recebido vantagens em troca de favores ao grupo EBX.

Disso não se duvida, mas daí a virar maré contra um tucano de patente de general no partido, vai uma enorme distância.

É improvável que o possível candidato à presidência pelo PSDB, que Moro certamente será, permita que a imagem do partido seja ainda mais emporcalhada com essa delação.

A conferir.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

 

 

 

 

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Revista Veja em vertigem

A Veja foi o principal veículo da mídia corporativa de combate sistemático e de golpes baixos que o PT enfrentou em 13 anos de governo.

Dito isso, ninguém vai esperar que, em uma reportagem sua sobre o documentário Democracia em Vertigem estar entre os concorrentes ao Oscar, ela seja minimamente honesta, já que foi uma das principais protagonistas do golpe na associação com Moro e sua Lava Jato e, sobretudo por ter lado na disputa presidencial, e o lado que ela escolheu foi o de Aécio Neves na eleição em que foi derrotado por Dilma Roussef.

 

Por isso, certamente, a Veja não quis lembrar, numa suposta polarização política no país, que Aécio também era o presidente do PSDB que recebeu, em sua campanha, quantias maiores do que a campanha de Dilma, isso das mesmas empreiteiras que Moro diz terem corrompido o PT. Como se diz por aí, no caso da doação para o PSDB, o dinheiro não era sujo, era santo, tanto que a Veja não toca nesse assunto.

No embalo da ocultação, ela acrescenta uma outra prática, a de excluir a realidade fingindo não saber que foi o candidato derrotado, Aécio Neves que pagou R$ 45 mil para Janaína Paschoal elaborar, junto com o tucano Miguel Reale Júnior, o pedido de impeachment de Dilma entregue nas mãos de, ninguém menos, que Eduardo Cunha, o político mais corrupto de todos os tempos.

Então, quando se omite isso, como fez a Veja, de cara ela deixa de dizer que os eleitores de Aécio, que eram a imensa maior parte dos manifestantes que foram às ruas por não aceitarem a derrota, alegando que eram contra a corrupção, que ali há uma fusão entre dois grandes corruptos comprovadamente pegos de forma documental com filmagens, documentos na Suíça, contas bancárias abarrotadas em quatro países, derrubando uma presidenta que não tem qualquer acusação de corrupção.

É lógico que a Veja finge não saber que Moro, o herói da Lava Jato, que impulsionou tanto as manifestações como o próprio processo de impeachment, jamais incomodou um único político corrupto do PSDB, e olha que aqui se fala de corruptos de peso como FHC, Serra, Alckmin e o próprio Aécio.

Viu-se através dos vazamentos do Intercept que Moro disse a Dallagnol para não incomodar FHC por verbas recebidas por seu Instituto para não melindrar um aliado estratégico. Quanto a Aécio e Serra, sobram fotos de encontros amistosos deles com o xerife de Curitiba.

Para piorar, a Veja omite em seu panfleto tardio contra o documentário, que Moro, numa manobra ainda mais espúria, mais à frente, condena e prende Lula sem provas para Bolsonaro ganhar a eleição e ele se transformar no super ministro.

Todo esse pedaço da história do qual a Veja, em certa medida, também participou como protagonista ou como elenco de apoio, foi suprimida não se importando em deixar um enorme vácuo na sua narrativa sobre o golpe do impeachment.

Para desclassificar o documentário, ela se lambuzou dos clichês, muitos que ela própria havia criado para perseguir politicamente o PT, clichês estes famosos como corrupção sistêmica, organização criminosa, entre outros ataques baixos que a revista utilizou suando a camisa para tirar um governo de origem popular para que os conservadores, através de um golpe de Estado, liderado por Temer, um dos maiores corruptos do país, que participou do golpe como sabotador, assumisse e fizesse o que a oligarquia que comanda a revista queria, tirar direitos dos trabalhadores, privatizar empresas estatais e produzir uma massa de desempregados e trabalhadores precários.

Assim, a Veja fez uma matéria que fala muito mais de si do que do documentário Democracia em Vertigem que, merecidamente, foi indicado ao Oscar.

O que certamente irrita a Veja, e ela declara de forma explícita, é que a história do golpe contra Dilma, mas principalmente contra a democracia brasileira, cruzou as fronteiras e ganhou o mundo. E isso era tudo o que os patrões e financiadores da Veja não queriam.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

 

 

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Temer mata a fatura: “Governo Bolsonaro é a continuidade do meu”

Cara de um, focinho do outro.

Em última análise, Temer é Bolsonaro e Bolsonaro é Temer.

Não só porque Sérgio Etchegoyen, o mais golpista dos generais, é o garante ou o cartola dos dois, como também sempre fez vista grossa para o mar de corrupção que cerca a biografia de Temer e Bolsonaro.

Temer assumiu o programa econômico do golpista candidato derrotado por Dilma, Aécio Neves e Bolsonaro dá continuidade à máquina de aniquilar as estatais, a indústria nacional, empregos e a economia.

Não foi isso que assistimos nos anos FHC?

Então, o que temos nessa tríade corporativa é um filarmônica neoliberal e o resultado totalmente desafinado e descompassado com a realidade social do país, não poderia ser outro.

Temer repetiu o fracasso de FHC e Bolsonaro repete o de Temer.

Os três se alimentaram da mesma alfafa para alavancar o progresso dos ricos, do lado luxuoso do país.

Digamos que FHC seja um preposto de Collor que, não obstante, seguiu o mesmo curso do rio neoliberal do caçador de poupança, mas também de Menem, na Argentina. Deu no que deu, nos três falidos governos.

A diferença é que FHC era um festejado homem das letras.

Bolsonaro é o último capítulo da ditadura militar que entregou o país em frangalhos a Sarney que, por sua vez, entregou o país ainda pior nas mãos de Collor.

Essa corrente, que sofreu um intervalo nos governos Lula e Dilma, é uma coisa só. De Figueiredo a Bolsonaro passando por Sarney, Collor, FHC, Temer e agora Bolsonaro é uma massa falida que insiste em destruir o Brasil na base de golpes e fraudes.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Cuidado!: Luciano Huck tem lado, é o direito, é o da Globo

Parece que a candidatura de Luciano Huck à presidência da República é mesmo pra valer. O apresentador vem conversando com lideranças partidárias, participando de palestras e dando entrevistas com frequência. Na última eleição, ele esteve muito perto de concorrer, mas desistiu após a revelação de que comprou um avião com milhões emprestados do BNDES com juros subsidiados. Não foi fácil abandonar o sonho de ser presidente. “Vou ali chorar um pouquinho e já volto”, disse para amigos ao anunciar a desistência. Huck só adiou o seu projeto político de conquistar o Planalto.

Desta vez parece que Huck está disposto a enfrentar tudo por esse grande sonho. Angélica, sua esposa, vê a candidatura como uma realidade da qual ele “não tem mais controle”. É uma “espécie de chamado”, segunda ela. A apresentadora conferiu um ar messiânico ao projeto do marido. É um mau começo. A última candidatura que se apresentou com essa aura mística, como se estivesse numa missão divina para salvar o país, foi a do chimpanzé presidencial que nos governa.

Huck tem aproveitado as viagens para as gravações do programa Caldeirão do Huck para se reunir com políticos e influenciadores. Além de chegar a visitar três estados por semana, desfruta da visibilidade da rede Globo, o maior palanque do país. É um trunfo que nenhum outro presidenciável terá. Semanalmente, o apresentador se utiliza de uma concessão pública para vender seu bom mocismo.

Em 19 anos de Caldeirão, Huck faturou muitos milhões em cima da exposição da miséria na TV. Histórias dramáticas de famílias pobres eram exploradas em troca de assistencialismo barato patrocinado por grandes marcas. Ajudar pobre na TV sempre foi um negócio lucrativo. Hoje, o Caldeirão mudou um pouco o perfil. Huck agora aparece menos como um assistencialista e mais como o empreendedor social que aposta em ideias transformadoras. Deixou de dar o peixe para ensinar o pobre a ensinar a pescar. É essa a imagem de bom samaritano que Huck construiu durante a carreira.

Ainda é cedo, mas já é possível dizer que tudo isso faz de Huck um candidato fortíssimo da direita para 2019. Ele é muito conhecido no Brasil (inclusive no Nordeste), tem fortes conexões na política e no alto empresariado e a Globo a seu favor. Além de ser, diferentemente de Doria e Bolsonaro, um outsider que não sofreu os inevitáveis danos de imagem resultantes da prática da política partidária.

Huck desfruta ainda de uma falsa imagem de imparcialidade. Muita gente tem dificuldade para posicioná-lo dentro do espectro político. Com sua habilidade em ficar atrás da moita em questões espinhosas, Huck se mostra sempre avesso à polarização e às ideologias. Ele faz questão de permanecer nessa zona confortável do isentismo de fachada, onde ele pode ficar em cima do muro cumprindo o papel do cidadão comum indignado com os dois lados.

Mas Luciano Huck tem lado na política. O lado da direita. Apesar de defender algumas pautas geralmente identificadas com os progressistas como a legalização da maconha e direitos LGBTs, o apresentador tem um histórico de apoiar políticos de direita, como o seu amigo Aécio Neves. Nada disso mudou. Basta notar com quais políticos ele se reuniu há poucos dias para conversar sobre a candidatura: o tucano FHC — o grande fiador da candidatura junto à classe política —, Armínio Fraga, Rodrigo Maia, ACM Neto, do Democratas , Raul Jungmann e Roberto Freire, do Cidadania. Luciano Huck começa a construir sua candidatura com parte mais importante da base de apoio dos governos FHC e da chapa Aécio Neves. É um privilégio que o tucano João Doria não terá.

Apesar desse background político, parte da população não o identifica como um homem ligado à direita. Muita gente não sabe, por exemplo, que Huck votou no projeto fascistoide de Bolsonaro no segundo turno por temer a volta do PT. O jovem rapaz de consciência social acreditou que os planos autoritários da extrema-direita para o Brasil poderiam ser uma boa. O defensor das pautas LGBTs não viu problema em votar em um candidato assumidamente homofóbico.

Nas vésperas do segundo turno, o apresentador gravou um vídeo explicando o que guiaria seu voto: “No PT eu jamais votei e nunca vou votar. No Bolsonaro, levantei os problemas (dele) e acho que as pessoas podem amadurecer. Ele tem uma chance de ouro de ressignificar a política do Brasil. Vamos ver.” Ou seja, Huck acreditava no amadurecimento de um fascistoide que passou quase 30 anos parasitando na Câmara, empregando funcionários fantasmas, exaltando torturadores da ditadura militar e atacando sistematicamente gays, índios e negros. Para Huck, o problema de Bolsonaro não é moral, mas de maturidade. Mesmo com um projeto que declaradamente ameaçava a democracia, a extrema-direita contou com o voto do apresentador global para iniciar a tragédia anunciada. É esse o progressismo de Luciano Huck.

Agora, com o desastre em curso, Huck tem feito críticas moderadas ao presidente, mas sempre em questões mais genéricas que não comprometam a confortável posição de quem não quer ser identificado com nenhum lado da política. Como várias celebridades internacionais fizeram, Huck criticou as políticas devastadoras de Bolsonaro para Amazônia — um script muito fácil de seguir.

Mas quais são as opiniões desse presidenciável sobre as ligações da família Bolsonaro com as milícias? O que ele acha das políticas públicas assassinas do governador do estado onde mora? Qual é a opinião dele sobre o projeto anticrime de Sergio Moro que facilita a matança de pretos e pobres? O que ele pensa sobre a Lava Jato depois da Vaza Jato? São temas sobre os quais Huck não se debruça. A pergunta que deve ser feita é: que raio de presidenciável é esse que ninguém sabe o que pensa sobre os principais assuntos do país?

O que nos resta é tentar interpretá-lo a partir de seu histórico. Sobre segurança pública, Huck parece estar alinhado a Moro, Witzel e Bolsonaro. Sempre foi um entusiasta do Bope, o batalhão de operações especiais que nenhum morador de favela ousaria chamar de “séria e competente”.

Há 12 anos, dois bandidos armados roubaram o rolex de Huck em São Paulo, o que o levou escrever uma coluna revoltada para a Folha de São Paulo. É um texto ruim, carregado de clichês bolsonaristas, que poderia ter sido escrito por qualquer filho do Bolsonaro: “Onde está a polícia? Onde está a “Elite da Tropa”? Quem sabe até a “Tropa de Elite”! Chamem o comandante Nascimento! Está na hora de discutirmos segurança pública de verdade.” O datenismo tomou conta de Luciano, que evocou até o capitão Nascimento, o policial torturador do filme Tropa de Elite.

E sobre Sergio Moro? O que Huck tem a dizer sobre o ministro após as revelações da Vaza Jato? Absolutamente nada. Quando Moro foi nomeado, o apresentador considerou ser “um passo importante na moralização do sistema e combate ao crime organizado”. Agora que comprovadamente se sabe que o juiz atuou em conluio com procuradores em favor de um projeto político, Huck está calado. Ele ainda é um lavajatista? Ninguém sabe.

Trata-se de um político que só opina em temas que não prejudiquem sua imagem de moço equilibrado avesso às paixões partidárias. Mas, se levarmos em conta o que pensa o seu mentor político, FHC — que foi protegido pela Lava Jato e até é seu defensor — podemos dizer que, sim, Huck ainda é um lavajatista.

Na economia, Huck também parece estar alinhado às ideias do governo Bolsonaro. É um adepto da velha cartilha neoliberal. Antes de migrar para a candidatura do PSL, Paulo Guedes trabalhava para ser o homem forte da área econômica da candidatura do apresentador para 2018. Segundo Huck, a ideia de fazê-lo sonhar com o Planalto nasceu na cabeça de Guedes.

Huck nem entrou na política e já conta com aliados que ajudou a eleger. Ele patrocina também dois grandes movimentos políticos como o Renova e o Agora, que buscam incentivar candidaturas que representam uma renovação na política. O projeto de “renovação” do Renova conseguiu eleger 16 políticos, sendo que metade deles foram eleitos pelo partido Novo. A outra metade se divide entre PDT, PSB, DEM, PPS e até o PSL. Como se vê, é uma renovação que até se esforça para não parecer que tem viés ideológico, mas tem.

O movimento Agora, que tem em Huck o seu principal apoiador financeiro, também poderá ser usado como plataforma eleitoral, o que tem irritado alguns dos seus integrantes. No segundo turno de 2018, a maioria do movimento decidiu prestar um apoio crítico a Haddad e rejeitar a eleição de Bolsonaro. Huck contrariou a decisão da maioria e bateu o pé. Não quis se posicionar contra o avanço da extrema -direita e a sua decisão prevaleceu sobre a vontade da maioria. No fim das contas, a decisão do grande patrocinador é a que valeu e o movimento permaneceu neutro diante do avanço do autoritarismo bolsonarista. Essas são as credenciais democráticas do presidenciável.

Apesar dessa pretensa necessidade de renovar a política, Huck sempre esteve bastante próximo de grandes figuras associadas à velha política. Já vendeu uma mansão para os irmãos Batista da JBS, que eram considerados grandes amigos. Foi sócio de Alexandre Accioly, acusado pela Lava Jato de ser o operador das propinas de Aécio Neves, numa empresa que foi investigada pela operação. A amizade com Aécio era tão grande que Huck se sentia à vontade para usar as aeronaves do estado de Minas Gerais para as gravações do Caldeirão do Huck. Por duas vezes em 2004, o então governador Aécio emprestou os aviões públicos para gravar quadros do seu programa da Globo. Ele aceitou de bom grado e, em uma dessas oportunidades, foi curtir altas aventuras com Sandy & Junior no interior mineiro com passagens na faixa. O bom mocismo de Huck não resiste a uma googlada.

Pense no seguinte cenário: 2022, Brasil devastado pelo bolsonarismo. Um jovem branco rico, que construiu carreira na TV ajudando os pobres, irá largar uma carreira de sucesso na iniciativa privada para atender a um “chamado”divino: salvar uma população das garras da velha política e do bolsonarismo. É um apelo eleitoral que nenhum outro candidato hoje tem. Huck vai surfar nos ressentimentos da política e se apresentar ao mesmo tempo como o candidato antipetista e antibolsonarista.

A direita se articula para 2022 com dois nomes fortes, Huck e Doria, que vão buscar o eleitorado de centro com um discurso mais moderado que o de Bolsonaro. Os dois já estão em campanha, enquanto a esquerda ainda não faz a menor ideia de como chegará lá. É cedo para fazer projeções, mas não custa fazer os alertas.

Aliando Globo e Quebrando Tabu num grande acordo nacional, Huck pode ser um produto perfeito para o pós-bolsonarismo. Se a esquerda não acordar e construir uma candidatura que também busque ocupar o centro, o novo queridinho das elites pode ocupá-lo com seu verniz progressista.

 

 

*Do Intercept Brasil

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Luis Nassif: Janot e o vazamento da capa de Veja na véspera das eleições

Pelo livro fica-se sabendo que Janot sabia o que a torcida do Flamengo inteiro sabia, que o vazamento foi providenciado pela Lava Jato, exclusivamente pelo impacto político.

No livro “Nada Menos Que Tudo”, o ex-Procurador Geral da República Rodrigo Janot admite que a capa da Veja na véspera das eleições de 2014, com a suposta delação de Alberto Yousseff, dizendo que “Lula e Dilma sabiam de tudo”, expôs o viés político da Lava Jato.

É curioso! No jantar de posse de Dilma Rousseff, compartilhei uma mesa com Janot. Na ocasião, depois de algumas pinicadas recíprocas, provoquei-o em relação a dois temas.

Um deles, o vazamento com a tal delação de Yousseff, que quase decide as eleições. Ele disse que nada podia fazer porque fora feito por advogados do réu. Insisti: se vazamentos são ilegais, você não vai fazer nada?

Pelo livro fica-se sabendo que Janot sabia o que a torcida do Flamengo inteiro sabia, que o vazamento foi providenciado pela Lava Jato, exclusivamente pelo impacto político. Como Janot admite no livro, “eram destituída de qualquer valor jurídico”, por Yousseff sequer compartilhava da intimidade do Palácio do Planalto e não tinha provas do que dizia.

No momento oportuno, Janot calou-se, como deve ter se calado em vários episódios nos quais, de acordo com sua versão, teria explodido, reagido, gritado.

O segundo fato foi um inquérito sobre Aécio Neves que mofa desde 2010 na gaveta do PGR, referente à Operação Norbert, que identificou contas de Aécio no exterior, em nome de offshores abertas em paraísos fiscais.

É por aí que não se aceitam as explicações dele, sobre as razões de não ter incluído Aécio na primeira lista de Janot. Na ocasião, uma fonte com contato direto com o filho de Teori Zavaski, relatou sua surpresa de Janot ter indiciado Lindbergh e poupado Aécio, segundo que os indícios contra Aécio eram muito mais evidentes – versavam sobre as mesadas de Furnas.

A alegação de Janot foi que duas testemunhas do caso já tinham morrido. Ora, não consta que, com sua morte, sumiu a contabilidade ou os registros bancários da empresa. Além disso, se a PGR já possuía um inquérito com indicações das contas de Aécio na Suiça, o quadro ficava muito mais completo do que meras delações ao vento.

 

 

*Luis Nassif/GGN

 

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Vídeo – Lula: “Não sou pombo-correio para usar tornozleira, se quiserem coloquem uma corrente no pescoço do Moro”

“O duro é que estou aqui e o povo, que está em suposta liberdade, é vítima da maior canalhice jamais vista neste país. Um bando de incompetentes governa o Brasil”

Confiante em uma absolvição, Lula diz não aceitar piedade e que o estado terá de se responsabilizar pelos erros cometidos em seus processos.

Lembra Ricardo Stuckert, eterno retratista do ex-presidente, que eu, Mino Carta, visitei Lula preso em maio de 1980. Estava ele na carceragem do Dops, aos cuidados do delegado Romeu Tuma, que cuidava de trazer à presença do então sindicalista a mulher e os filhos, sem contar que lhe servia frequentemente lulas fritas. Fui visitá-lo em companhia de Raymundo Faoro e, recebidos fidalgamente, tivemos a possibilidade de uma conversa direta com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo no próprio gabinete de Tuma, do qual o titular se retirou para nos deixar à vontade.

Passaram-se pouco mais de 39 anos e começamos a conversar, agora na Superintendência da PF em Curitiba, a partir dessa lembrança. No fundo, desde então, tudo piorou bastante, com o intervalo de um governo do próprio Lula, de esperanças hoje perdidas. Mas não pelo entrevistado, capaz de crer que, em prazo a ser definido pelo destino, ainda será reconhecido como vítima de um golpe que pretendeu impedir a sua participação nas eleições de 2018 e demonizá-lo, bem como ao seu partido. “A maior canalhice da história deste País”, conforme o injustiçado. A partir deste momento, as perguntas serão, independentemente de quem as fez, de CartaCapital. E o entrevistado receberá o tratamento de senhor, em sinal de respeito.

CartaCapital: Em todas as provas, a essa altura, mostram que você foi atingido como primeiro objetivo do golpe. O golpe começa pela Lava Jato, em 2014, e atingiu o alvo, pra impedir a sua eleição e demonizar você e o seu partido.

Lula: Em dezembro de 2013, logo depois da vitória da Dilma, e eu alertei a direção de que era importante que o PT começasse a dar-se conta do processo de criminalização do partido. O objetivo era tentar, em qualquer hipótese, evitar que houvesse 2018 com uma candidatura do Lula. Nunca consegui compreender por que a Operação Lava Jato, com mais de 200 que já houve, se transformou em uma instituição. Eles esqueceram que era uma operação policial para investigar um determinado tipo de crime e transformaram em uma instituição com o objetivo veementemente político. E está claro o papel preponderante da Secretaria de Justiça dos Estados Unidos. O objetivo final era não me deixar ser candidato, era quebrar as empresas de engenharia no Brasil, quebrar a indústria de gás e óleo, quebrar indústria naval, para que, tal como aconteceu no Iraque, as indústrias americanas e outras indústrias europeias viessem fazer aqui o que as brasileiras faziam. Isso está acontecendo nesse instante.

CC: Nós estamos aí, há quase três meses de revelações do Intercept. Todo dia aparecem novas. Dallagnol poupou uma empresária em troca de uma contribuição para um instituto ligado à Lava Jato. E ele mesmo pretendia ser candidato a senador. Mas até agora ninguém foi punido. A ação contra o Dallagnol foi suspensa no Conselho do Ministério Público. Ainda queríamos que o senhor comentasse o seguinte fato: em todas as pesquisas feitas recentemente, a maioria da população vê erros da Lava Jato, denuncia sua politização, mas acha que está tudo bem o senhor estar preso e o Moro continuar como ministro.

Lula: Nós, seres humanos normais, reagimos de acordo com as informações que nós obtemos. Quando você vai conversar comigo, num jantar à noite, você vai conversar comigo normalmente sobre as coisas que aconteceram durante a semana e não as coisas que vão acontecer no futuro. Então, a sociedade reage de acordo com a quantidade de informações que tem. A política foi demonizada, sempre mais, a começar de 2005 com mais força envolvendo a política e de preferência um partido como o PT.

CC: O Mensalão…

Lula: A partir de 2005, do Mensalão, cuidou-se de demonizar o PT. As pesquisas mostram que a sociedade brasileira está começando a enxergar o que está acontecendo. Até agora, esses canalhas dizem que o desemprego é por conta da Dilma. Eles se esquecem de dizer à opinião pública que, em dezembro de 2014, nós tivemos o menor desemprego da história do País. E que o desemprego começou quando eles começaram a boicotar o governo da Dilma, a partir da indicação do Eduardo Cunha para presidente da Câmara, que tinha como objetivo não permitir que nada que a Dilma fizesse pra melhorar fosse aprovado. Eles se esquecem disso, que eles jogaram o Congresso Nacional pra atrapalhar. Eles se esquecem de que o Aécio Neves é o responsável por parte do ódio que está criado nesse País com a alavancagem da Rede Globo de Televisão. Tudo que é da política não presta, tudo que o PT fez foi errado… E ainda hoje há uma doença na cabeça dessa gente de tentar mostrar que, no período do PT, não aconteceu nada. Pois o período do PT foi o de melhor distribuição de renda, aumento do salário mínimo, geração de emprego. A sociedade vai descobrindo isso. O problema é que a gente, às vezes, tem pressa. Eu, aqui, na minha celinha, fico sempre pensando: a democracia tem um problema, de vez em quando você perde. E quando você perde, quatro anos é muito pouco pra quem ganha, mas muito pra quem perde. Esperar quatro anos pra disputar outra eleição é muito difícil, e pra quem ganha, acaba logo. O PT tem que ter paciência, e ir mostrando para o Brasil que o País pode ser melhor. Nós precisamos trabalhar 24 horas por dia para arejar a cabeça da sociedade, primeiro pra diminuir o ódio, segundo, pra mostrar que o Brasil pode ser governado de forma diferenciada, e mostrar claramente quem é bandido nesse País. Por que eu sou agressivo contra o Moro e sou agressivo contra o Dallagnol? Eles construíram uma mentira, inventaram várias histórias. Eles sabiam que estavam errados. Moro é mentiroso, Dallagnol é mentiroso e que essa gente deveria ser exonerada a bem do serviço público.

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CC: As instâncias que poderiam cuidar disso, principalmente o STF, nada fizeram. Agora, o senhor ainda tem esperança de que o Supremo irá avaliar o caso do senhor com a isenção necessária?

Lula: O dia em que eu perder a esperança, eu pego uma caneta dessa e me dou um tiro de tinta na cabeça. Eu me alimento de esperança, e também da certeza absoluta de que a sociedade brasileira ainda vai ouvir: eu fui vítima da maior canalhice política já cometida no País. Agora tudo isso, Lirio, na minha cabeça, é secundário se o sacrifício que eu estivesse fazendo hoje pudesse resolver o problema do povo brasileiro. Se eu estivesse aqui e o povo estivesse com pleno emprego, tendo aumento de ganhos salariais, estivesse comendo melhor, passeando melhor, morando melhor, estudando melhor… Era um sofrimento pessoal, mas o povo estava bem. Duro é que eu estou aqui e o povo que está em suposta liberdade é prisioneiro de uma canalhice jamais vista nesse País. Com um bando de incompetentes que não conhecem o Brasil, que não sabem o que é governar, porque até agora – oito meses de governo as únicas palavras que eles decoraram no dicionário são “corte” e “ajuste”. E Bolsonaro foi criado assim, ele acredita em toda asneira que fala, em toda bobagem, fala “não, ele está falando bobagem”, nada! Ele acredita naquilo e acha que aquilo é um charme.

CC: Por que o Haddad, na véspera da eleição, se pôs a fazer o elogio do Moro?

Lula: Eu não sei qual foi o contexto e qual foi a pergunta feita pro Haddad. Eu tenho consciência de que tem vários interesses em jogo no momento nesse País. Tem os interesses militares, interesses político empresariais, financeiros, e os interesses políticos. Acho que o interesse maior do chamado setor financeiro e setor empresarial é permitir que o Bolsonaro consiga desmontar os direitos que levamos décadas para conquistar.

CC: Mas por que o Haddad estava elogiando o Moro?

Lula: Repito, eu não sei qual é o contexto em que o Haddad falou. A verdade é que outro dia eu dei uma entrevista para uma moça aqui da BBC brasileira e ela perguntou da Lava Jato. E eu disse que a Lava Jato, enquanto operação, é igual a qualquer outra. Na hora em que virou uma instituição política, ela deixou de ser uma operação de apuração de corrupção pra ser uma operação política com objetivo definido. E aí eu falo pelo meu processo, eu não posso falar pelo processo que eu não conheço. Se tem um canalha que chegou aqui e resolveu se vender e fazer delação e diz que roubou, ele que seja preso pro resto da vida! Agora, o que eu quero saber é o seguinte: todas as pessoas têm direito a um julgamento decente. Toda pessoa tem direito a mostrar provas de crime ou de inocência, então eu pego o meu caso. No meu caso, a Lava Jato mentiu do começo ao fim e ela foi deformada, porque eu acho que muito dinheiro que os empresários falam que foi propina, na verdade era evasão fiscal. Isso, Mino, vai ter que ser apurado.

CC: Vamos lembrar que recentemente o presidente do Supremo, Dias Toffoli, deu uma entrevista à Veja e admitiu que houve um acordo entre militares e empresários com a participação dele e políticos com dois objetivos: impedir que o Bolsonaro fosse derrubado já com quatro meses de governo, e que o senhor fosse mantido preso. Como o senhor avalia uma declaração dessas, ou pelo menos a admissão de que “ele não desmentiu o conteúdo”?

Lula: Faz mais de 30 anos que não leio a Veja. Não acredito em nada que a Veja fala. Nada! Nem se ela falar que o “Lulinha” é santo eu acredito. Vamos analisar a pressão para que eu não fosse candidato. Essa gente não quer que o povo pobre tenha ascensão. Essa gente não quer que os mais pobres frequentem o Parque do Ibirapuera lá em São Paulo. Essa gente não gosta que o povo mais pobre viaje de avião, que tenha acesso a um teatro, à universidade, a um restaurante.

O Brasil está jogando fora a sua soberania, está batendo continência para a bandeira dos EUA. Esse é o mal maior

CC: A casa-grande precisa da senzala.

Lula: Acho que isso fez com que essa gente fosse alimentada desse ódio, só pode ser. Quando deixei a Presidência da República, eu brincava “vou sair com mais de 100% de aprovação”. Porque a última pesquisa do Censo mostrava que eu tinha 87% de bom e ótimo, 10% de regular, se somasse já dava 97%, e 3% de ruim e péssimo, que deve ter sido feito na minha casa, porque os filhos e a Marisa deviam estar de mal comigo. Ou feito lá no comitê do PSDB. Eu lembro que, quando eu deixei a Presidência, em São Paulo eu tinha 88% de bom e ótimo. Esse ódio foi alimentado desde que eu saí da Presidência. Eles sempre tentaram criar uma intriga entre a Dilma e eu, sempre. Não criou porque a Dilma tem uma cabeça boa e não se permitiu criar. Depois, eles começaram a negar a existência do sucesso do nosso governo. Não sei se vocês viram o Jornal Nacional, eu não vi, mas me contaram. Eles falaram do ProUni, das cotas… sem citar o meu nome. Obras de pai desconhecido!

CC: Claramente a deterioração da imagem do apoio ao Bolsonaro é a mais impressionante de qualquer presidente, desde o fim da ditadura. Ele está caindo em todas as áreas, em todos os campos, mas tem uma faixa entre 2 e 5 salários mínimos que ele ainda consegue o maior percentual de apoio. E é uma faixa que justamente teve uma melhora significativa de vida sobre os governos do PT. O que o senhor acha que aconteceu?

Lula: Ele cresce mais entre os mais ricos, é onde ele tem a maior força, no setor médio.

CC: Mas ele perdeu apoio nesse segmento.

Lula: Qualquer coisa que você perguntar vai ter entre 8 e 9%. Eu quando fui reeleito presidente do Sindicato em 98, tive 92% dos votos. Os meus adversários exploravam o fato de que 8% que votaram contra mim. Numa sociedade de 210 milhões de habitantes, você ter 10% que gosta de um fanático sempre vai acontecer. A maioria da sociedade começa a se dar conta do desastre que aconteceu em 2018. Quando Bolsonaro não tem um nome, ele chama um general como se ser general fosse símbolo de competência. O general não é formado pra dirigir a Fazenda ou a Educação. O general é formado pra dirigir as Forças Armadas em proteção à nossa soberania. E a nossa soberania tá sendo jogada fora. O Brasil está batendo continência para a bandeira americana. Esse é o mal maior. Não sei se você lembra, quando há uma guerra no Iraque, ou seja, as empresas que foram reconstruir Iraque eram empresas americanas, e só ia lá quem tinha participado da guerra do lado dos americanos. Pois bem, quem é que está entrando agora para ocupar o lugar das empresas que foram destruídas neste país? Empresas americanas.

CC: O golpe foi dado pelos Poderes da República.

Lula: Eu às vezes fico me perguntando por que nós do PT, em vez de fazer uma ação privilegiada na Câmara e no Senado em relação ao impeachment, não fomos primeiro ao STF. Como eu não sou advogado, não tenho certeza. Eu acho que nós fizemos uma aposta imaginando que tinha maioria no Congresso e nunca tivemos. Quem sabe se a gente tivesse ido à Suprema Corte, o debate fosse em outro nível… e a gente não ficaria se esgarçando como ficamos. Depois que a gente começou, só perdemos votos. Não ganhamos nenhum. Outra coisa, Mino, foi construída neste País a partir de junho de 2013, no começo das grandes manifestações e com a campanha do Aécio Neves, a radicalização. Outro dia eu estava dizendo aqui em uma entrevista que era preciso fazer uma comparação. Em 1999, o Fernando Henrique estava na mesma situação da Dilma em 2015. Ele estava com 8% nas pesquisas da opinião pública, a economia já tinha quebrado duas vezes. Mas o que salvou o Fernando Henrique Cardoso foi que o Temer entrou na presidência da Câmara facilitou a aprovação de todas as reformas que o FHC tentou fazer. O que aconteceu com a Dilma foi o contrário. Ela tinha o Eduardo Cunha, que trabalhou o tempo inteiro com a aprovação de pauta-bomba para dificultar a ação do governo. Então, tudo que a Dilma tentou fazer para reverter a situação, ela não conseguiu. Terminamos 2014 com 4,3% de desemprego.

CC: Mas o senhor acha que o que aconteceu com a Dilma foi só a sabotagem ou foram opções erradas? O ajuste que a Dilma propôs a fazer a partir de 2015 não é um ajuste errado?

Lula: O ajuste da Dilma começou a criar um problema na nossa base. Tudo isso já faz cinco anos, meu caro. O que não pode é essa canalhice ficar… “o Brasil queimou por conta da Dilma”, “o Brasil não sei o que lá por conta da Dilma”, não. Eu, quando ganhei as eleições do FHC, descobri a herança maldita e não fiquei xingando o FHC, fui consertar o Brasil. Quem é eleito é eleito para governar, não é eleito para diagnosticar. O bom médico não é aquele que descobre a doença, o bom médico é aquele que dá o remédio que cura.

CC: O senhor acha que o Bolsonaro completa o mandato? O PT ingressou com um processo de cassação no TSE. Seria um caminho?

Lula: Eu não fico torcendo para a desgraça ser maior do que já é. O meu problema não é o Bolsonaro, o meu problema é o projeto que ele representa. O Bolsonaro cai, com todas as sandices que ele fala, e entra o Mourão. Vai mudar o projeto? Eu estou vendo o Rodrigo Maia tentar se apresentar como primeiro-ministro, mas tudo o que a elite brasileira quer ele aprova na Câmara. O projeto está equivocado, não pensa o Brasil para os brasileiros. Não pensa em 210 milhões de seres humanos. Pensa o sistema financeiro… A Petrobras vai contratar sondas de exploração de petróleo. Vamos gastar 30 bilhões de reais para importar 12 ou 13 sondas, quando a gente poderia fazer aqui no Brasil, gerando emprego, salário, renda, impostos e alegria e orgulho para os brasileiros. Se quem governa é o Bolsonaro, é o Mourão, não importa. Nós não questionamos a vitória logo depois das eleições, deveríamos ter questionado, mas não o fizemos. O cara agora tem um mandato para cumprir. Em nenhum momento ele disse que ia ser eleito para destruir o Brasil. Ele deveria começar a mudar de comportamento e pedir para a sua Polícia Federal, para o seu Ministério Público entregar o Queiroz. Por que o Queiroz está escondido?

CC: Ele mora no Morumbi.

Lula: Se é o Lula, estaria lá o endereço do filho, do neto, do bisneto. O Queiroz foi se esconder aonde? Na Favela da Maré? Em Heliópolis? Não, ele foi se esconder no Morumbi, no antro que protege ele. Então, o meu problema não é pessoal. Eu não tenho problema com o Bolsonaro. Aliás, nem sei se algum dia ele fez algum discurso contra mim na Câmara quando era deputado. Se ele for honesto, ele terá de admitir que fui o presidente que melhor cuidou das Forças Armadas. E não cuidei por medo. Fiz, pois me pergunto: “Para que é que serve as Forças Armadas se não tem uniforme? Se não tem coturno? Se não tem arma? Se não tem preparo? Se não tem inteligência?” Era para defender quase 16 mil quilômetros de fronteira seca, quase 8 mil quilômetros de fronteira marítima, mais o pré-sal, que está na divisa, no limite da divisa marítima do Brasil. Os americanos têm a Quarta Frota e os militares brasileiros, de forma subserviente, aceitam indicar um general para integrá-la. A que ponto chegamos…

CC: O senhor citou a Polícia Federal e o Ministério Público. Hoje, em uma entrevista, o Bolsonaro deixa claro que o atual diretor da Polícia Federal vai ser trocado. E promete nomear um procurador-geral da República “alinhado”. O FHC fez a mesma coisa. Tinha um diretor da PF “alinhado”. Tinha um procurador-geral “alinhado”. Os governos do PT fizeram diferente. Respeitava-se a lista tríplice, deu estrutura e independência. O senhor se arrepende desse republicanismo?

Lula: A gente não pode ser criticado pelas coisas boas. Sou republicano porque eu acho que o Estado não é meu. Ser presidente não é uma profissão, é cumprir uma tarefa. Fui eleito com data para tomar posse e com data para sair. E eu tinha que governar pensando no povo brasileiro e não em mim. Eu falava para o presidente Chávez: “No Brasil, a gente não pode fazer o que você faz”, porque o Brasil não é meu. Não posso indicar para a Suprema Corte um amigo meu. Não posso indicar um procurador amigo. A minha formação política não permitia que eu agisse assim. Tenho falado aqui na sede da Polícia Federal, onde estou detido: “… a Polícia Federal vai se arrepender da bobagem que fez trabalhando para o Collor… Desculpa, Collor… Para o Bolsonaro. O Ministério Público também vai se arrepender”. Quanto mais republicano for o presidente da República, mais autonomia essas instituições vão ter para exercer a sua função. E, quanto mais autonomia tiverem, mais precisam ser responsáveis. Eu não quero um delegado meu amigo. Eu não quero um procurador meu amigo. Eu quero um procurador que seja procurador, que tenha respeito pelo povo, que tenha a capacidade de investigar e de acusar com seriedade, que cumpra o papel constitucional a ele determinado na Constituição. Não é uma República de amigos. Se um dia você, Lirio, ganhar um cargo público, nunca indique para trabalhar com você alguém que não possa mandar embora.

CC: O Bolsonaro pode demitir o Moro?

Lula: O Moro não serve para ser ministro da Justiça. Ele fez um curso de Direito, passou em um concurso, pegou uma toga e só. Esse cara não tem experiência de vida para exercer um cargo político.

“Não torço para a desgraça ser maior do que é. Meu problema não é o Bolsonaro, mas o projeto que ele representa. Se ele cai, entra o Mourão. E daí?”

CC: Mas o senhor acha que o Bolsonaro tem condições políticas, dados os arranjos feitos, para demitir o Moro?

Lula: Eu não sei. Não vou julgar, pois mandar ministro embora é uma questão unicamente do presidente da República. Não vou dar palpite no governo do Bolsonaro.

CC: Gleisi Hoffmann disse que a eleição de 2022 será uma disputa entre Bolsonaro e o PT. O senhor concorda?

Lula: Há um incômodo no meio político. Virou moda agora falar “precisamos acabar com essa polarização entre o PT e não sei quem”. Entre o PT e o Bolsonaro. É engraçado. Quando eram os tucanos que polarizavam conosco, eles não queriam acabar com a polarização. O PT é o maior partido do País. O PT vai ter uma disputa interna agora em 4 mil municípios. São 4 mil diretórios que vão votar na eleição direta para presidente do partido. São quase 2,5 milhões de filiados. O PT não é um amontoado de interesses eleitorais como o PSL. Se o Bolsonaro perder as eleições, o PSL acaba, desmancha que nem farinha. Que nem o PRN do Collor. O Brasil só tem um partido na concepção da palavra, organizado, com decisões nacionais, o PT. Há alguns outros partidos, como o PCdoB, histórico, desde 1922 tem uma briga entre o PCdoB e o PPS para saber quem é mais velho. O restante não passa de siglas eleitorais. Os caras trocam de partido como se trocassem de cueca. Tenho muito orgulho daquilo que o PT fez. E, se o PT errou, pague pelo erro.

CC: Mas o PT não chegou exatamente a criar uma consciência da cidadania em muita gente. Não conseguiu.

Lula: Mino, discuto muito isso com os companheiros. Eu não fui eleito para criar consciência ideológica, mas para governar o Brasil. O PT é que deveria ter tirado proveito das coisas boas que fizemos e conscientizar. Comecei a minha vida política como admirador do PCI. Achava o Partido Comunista Italiano a coisa mais perfeita em termos de organização política. Tive o prazer de sentar à mesa ao lado do Enrico Berlinguer. Eu conheci bem o Partido Comunista Italiano e era muito fã. Depois percebi que ele não passava de 30%, 33%, nas eleições.

“O Zé Alencar como vice foi obra-prima”

CC: Chegou a 36%.

Lula: Eu cheguei à conclusão de que o PCI não queria ganhar as eleições.

CC: Mas havia um projeto de aliança…

Lula: Aconteceu o mesmo com o PT. Quando fui disputar a quarta eleição, tinha a consciência de que não podia ser candidato para ter 30%. Precisava de 50% mais 1. Daí por que eu descobri a minha obra-prima chamada José Alencar. Eu não queria ir a uma festa comemorativa dele. Fui por que o Zé Dirceu me encheu o saco. Aí eu ouvi o discurso do Zé Alencar. Mino, ele falava e eu pensava: “Descobri o meu vice”. Ninguém na história teve um vice da competência do Zé Alencar. Empresário de primeira, ser humano de primeira, alma de primeira. E era de uma honestidade, de uma solidariedade… Mesmo assim, não foi perdoado pela elite. A coisa que mais me deu ódio foi, na campanha da Dilma, ele no estágio final, não aguentava nem ficar em pé por causa do câncer, ver os vizinhos dele, naquele bairro chique em que ele morava, fazer assim (gesto com o polegar para baixo). Sinceramente, tem uma parte da elite que não vale o que come.

CC: Outros tempos.

Lula: Vamos ser francos, a sua geração é um pouquinho mais velha que a minha. Mas a gente é do tempo do Antonio Ermírio de Moraes, do Bardella. Gente que pensava neste País, na indústria. Quem tem hoje? Cite um empresário. Não tem. O Brasil fez uma opção, ainda nos tempo do Collor, de desmontar a indústria. Quando eu cheguei na Presidência, a gente resolveu fazer ferrovia, mas o Brasil não produzia mais trilho. Importava da Polônia, da Itália. Não fazia mais dormente, não tinha mais engenheiro naval, não tinha mais engenheiro ferroviário. Tudo isso nós recriamos. Um país soberano é aquele que toma conta do seu nariz. Não por bravata. A forma de ser importante no mundo é ter conhecimento. Hoje não se é importante por exportar máquinas, por exportar soja, mas por exportar engenharia e conhecimento. Para se transformar em uma nação soberana, o Brasil precisa fazer o contrário do que faz o governo Bolsonaro: acreditar que educação é investimento. Que bolsa para formar gente no exterior não é gasto, é investimento. Que colocar pobre na universidade é investimento. Que fazer os cidadãos comerem três vezes ao dia é investimento. Esses canalhas repetem “aquilo é culpa do PT, o desemprego é culpa do PT”. Devem lavar a boca antes de falar do PT. O Brasil ainda não quebrou por causa dos governos do PT. Se não fosse a nossa decisão de fazer uma reserva cambial de 380 bilhões de dólares, o governo estaria mendigando ao Fundo Monetário Internacional, ao Banco Mundial. O Brasil chegou a ser a sexta economia do mundo e hoje é governado por um presidente orientado por um sujeito que acredita que a Terra é plana. Eu, sinceramente, custo a crer que nos demos esse presente. Ou seja, que o Brasil deu a si próprio um presente tão destruidor. Como se tivesse passado um furacão na Flórida e o Brasil falasse “não, vem para cá”, e trouxe o furacão para cá.

“Haddad tem uma vantagem sobre os outros: estar no maior partido do Brasil”

CC: Esse furacão tem um objetivo. O Paulo Guedes tem manifestado, sempre que pode, a intenção de privatizar a Petrobras. O senhor acha que eles vão conseguir?

Lula: De vez em quando fico nervoso, sabe? O povo brasileiro não sabe ainda os efeitos da Lava Jato na economia brasileira. Tem muitos números sofisticados. Ela precisa destrinchar isso em uma linguagem popular. Nós precisamos dizer para o povo quantos milhões perderam emprego. São quase 50 milhões de brasileiros trabalhando na informalidade, fazendo bico…

CC: Mas isso é uma falha do PT.

Lula: Talvez seja do PT, talvez seja de todo mundo. Temos de informar a sociedade, pois eles recorrem a um discurso fácil. “Ah, na hora que faltou oxigênio, é culpa do PT. Ah, não deu certo, é culpa do PT”. O PT, gostem ou não, produziu a mais extraordinária distribuição de renda no País. Nunca, vou dizer de boca cheia, nunca, em nenhum momento da história, o Brasil viveu um experimento tão extraordinário de ascensão social.

CC: Por que o campo progressista, os partidos ditos de esquerda, não conseguiu capitalizar o descontentamento da sociedade com Bolsonaro?

Lula: Leva um tempo. Tudo é um processo. A vitória de Bolsonaro precisa ser relativizada. Ele teve o apoio de 39% do conjunto da sociedade, 55% dos votos válidos. Ou seja, 61% do povo disseram não ao Bolsonaro. Não é pouca coisa. O que precisamos ter consciência é de que a única coisa que não vale agora é ficar nervoso e dormir todo dia falando “Bolsonaro tem que cair”. Precisamos alertar a sociedade sobre o processo de destruição em andamento e tentar começar a fazer o povo se manifestar para não permitir essa destruição.

“O PCI de Berlinguer era a “mais perfeita organização política”

CC: Quem vai alertar?

Lula: Temos liderança em todos os movimentos. Nós temos gente boa. Foi lançada uma carta ao povo em defesa da soberania. Precisamos dizer para a sociedade que não dá para aceitar um ministro da Educação grosseiro como este. Não dá para aceitar um ministro do Exterior deste naipe. O povo tem de ir para a rua exigir respeito. Não sou contra o Bolsonaro indicar o filho dele. A culpa é do Senado, que vai assumir a responsabilidade. Se o filho fosse um gênio, ao menos um Celso Amorim, tudo bem. Mas indicá-lo porque aprendeu a fritar hambúrguer? Não é possível, precisamos de alguém com um pouco mais de finesse intelectual, de conhecimento de política externa, economia e comércio. A embaixada nos Estados Unidos é a mais importante. Quanto mais independente for o embaixador, melhor. Colocar um serviçal é um erro.

CC: O Haddad desempenha a contento o papel de principal opositor? O senhor está satisfeito com o que ele tem feito?

Lula: O Haddad foi uma surpresa extraordinária para o PT. É um quadro altamente qualificado, como outras lideranças na oposição. O PT tem o Rui Costa, governador na Bahia, estado mais importante do Nordeste, e o Camilo Santana no Ceará. Tem o Flávio Dino, o Ciro Gomes, o companheiro Guilherme Boulos, outros governadores, um monte de gente boa. Qual é a vantagem do Haddad? Ele está no partido mais importante, o que tem mais voto, mais experiência.

CC: Por que o senhor é contra ele assumir a presidência do PT?

Lula: O Haddad saiu fortalecido da eleição presidencial, ele deveria ser alguém com a capacidade de conversar com amplos setores da sociedade, não apenas com o PT. Se ele vira presidente do PT, ficará marcado com a estrela do partido e será mais difícil fazer contato com outras forças políticas. Então, ele tem que ter mais essa facilidade. É isso que eu penso do Haddad. O papel dele é viajar o Brasil, debater com o Brasil, ajudar na formação política, fazer debate no exterior.

“Não sou pombo-correio. Se quiserem colocar uma corrente, coloquem no pescoço do Moro, não na minha canela. Só saio daqui com a minha inocência total”

CC: E elogiar o Moro também, né?

Lula: Sou do tempo em que muita gente elogiava o Moro. Quem criticava eram somente a vítima e os advogados.

CC: CartaCapital também.

Lula: Toda vez que o meu advogado enfrentou o Moro, veio conversar comigo. E a minha decisão foi a seguinte: não tem trégua. Estou aqui há um ano e meio, e isso vai ter um preço quando eu sair daqui. O Estado vai ter de se responsabilizar. Não adianta vir com favor, não estou precisando. Não adianta falar: “Ah, coitado do Lula, ele já tá com 74 anos, deixa ele ir para casa fazer prisão domiciliar”.

CC: O senhor não vai mesmo aceitar?

Lula: Falam “vamos colocar uma tornozeleira nele”. Não sou pombo-correio. Se quiserem colocar uma corrente, coloquem no pescoço do Moro, não na minha canela. Só saio daqui com a minha inocência total. Ou esses canalhas provam que errei ou vou provar que eles são uns canalhas e vão ficar desmoralizados. Fui criado por uma mulher que nasceu e morreu analfabeta, passou fome juntamente com os filhos, mas me deu dignidade e disso eu não abro mão. Dignidade e caráter, Mino, a gente não encontra nos shoppings, aeroportos e supermercados. Dignidade a gente encontra na nossa formação de berço.

O objetivo é dilapidar as nossas riquezas, diz Lula

CC: Se o senhor for inocentado, será candidato em 2022?

Lula: Como é que posso falar? Eu estou com 74 anos. Estou novo. O Mino sabe que eu sou um cara de muita energia. Estou até pensando em casar (risos). Obviamente vai ter gente muito mais nova, com muito mais disposição.

CC: Mais disposição do que você?

Lula: Não sei. Antes eu preciso sair daqui, saber como é que estou, como estão as forças políticas. Obviamente tem um monte de gente de 40, 50, 60 anos que pode ser candidato e eu me contentaria em ser cabo eleitoral, não tem problema. Agora, se não tiver ninguém capaz de derrotar essa podridrão da elite brasileira, pode ficar certo que o Lula estará no jogo.

CC: E será diferente? O senhor sempre foi um conciliador por natureza, até pela história sindical. Acredita ainda em uma conciliação?

Lula: Conciliação haveria se eu tivesse feito uma guerra, matado metade dos adversários e, depois de ganhar, fosse negociar. Mas eu ganhei uma eleição nas circustâncias que aconteceram. De 513 deputados eu tinha 91. De 81 senadores eu tinha 10. Não tem conciliação, você tem de negociar para governar. É assim no mundo inteiro.

“Trump usou os mesmos métodos de Bolsonaro para vencer”

CC: Calma, veja, até a mídia vendeu essa ideia do “Lula é paz e amor”…

Lula: Não, fui eu que vendi essa ideia. O “paz e amor” é uma frase minha, se alguém utilizar indevidamente é plágio. O lado adversário me pintava como demônio. Em 1989, a Igreja Universal fez um jornalzinho com a seguinte manchete: “Lula: o demo”. Se o PT ganhar, se eu ganhar, se a esquerda ganhar, quem ganhar terá de conversar com outras forças políticas. A não ser que faça a maioria na Câmara, no Senado, mude completamente os 11 integrantes da Suprema Corte. Há uma dinastia. Tem uma coisa que a CartaCapital poderia pesquisar: a árvore genealógica dos representantes do Judiciário. Estão aí desde a Independência.

“Se eu fosse chefe da Casa Civil, o Brasil teria dois presidentes”

CC: Mas os governos do senhor e da presidenta Dilma Rousseff tiveram a chance de nomear 13 ministros no Supremo.

Lula: Não tivemos chance… Não é assim que se escolhe. Não se pode fazer indicação de compadrio. Qual foi o critério? Não sou advogado, não conheço os nomes. Consultava gente importante, via o currículo e o histórico. Nunca sentei com alguém para falar: “Olha, você será escolhido, mas terá que votar em mim”. Não tem gente que casa e um mês depois está separado? Não tem time que contrata um jogador por uma fortuna e um mês depois o cara tá fora porque não prestou? Indicamos profissionais da área. Agora, quando o cara bota a toga, ele pode se achar Deus, sabe? Pode pensar “quem é um presidente perto de mim, um governador? Eu sou o fulano de tal”. Tenho o orgulho de nunca ter pedido um favor. Eles não foram indicados para me favorecer, mas para cumprir exatamente o que está escrito na nossa Constituição.

CC: Mas não cumprem.

Lula: Não é culpa minha. O ideal seria que o presidente que indica pudesse destituir em função de um critério. O cara é indicado, tem uma lista de compromissos, se faltar em algum, sai imediatamente.

“O Bolsonaro não vai sobreviver politicamente. Não estou dizendo que ele vai cair hoje ou amanhã, mas não vai sobreviver a uma nova eleição”

CC: O senhor acha que o Trump vai ser reeleito? Qual seria a consequência para para o Brasil e para o Bolsonaro?

Lula: Primeiro vamos ter clareza, o Trump ganhou por ter utilizado a mesma metodologia usada aqui no Brasil em 2018. Ele é resultado do ódio, da discórdia e da mentira. E a Hillary Clinton não era a melhor candidata. Os EUA mereciam algo melhor, como nós. Qualquer um tem a possibilidade de se reeleger se a economia estiver bem. Ou, no caso dos Estados Unidos, se inventar uma guerra, um inimigo externo. O Bolsonaro tenta crescer sobre o Emmanuel Macron para tentar mostrar que é nacionalista. Ele não é nacionalista, é entreguista. Um presidente da República que vai passar para a história por bater continência para a bandeira americana e lambendo as botas do Trump. Não é nacionalista. E os militares que participam desse governo também não são nacionalistas.

CC: O Bolsonaro convocou os brasileiros a saírem de verde no 7 de Setembro para mostrar patriotismo e apoio ao governo. O que o senhor acha?

Lula: Como eu era republicano, eu convidava o povo para ir à rua com a roupa que quisesse. Habitualmente, se você pegar todas as fotografias históricas do 7 de Setembro, tem muita gente de verde e amarelo, com a camisa da Seleção. O povo usa a camisa brasileira com orgulho, não por causa dele. Eles tentaram usurpar o verde-amarelo. A Argentina é uma lição a ser seguida pelos brasileiros. O Macri foi vendido como uma mentira maior do que o Bolsonaro aqui. Aliás, o Bolsonaro se mirava no Macri como espelho do bom governante. Não deu certo. Na minha opinião, o Bolsonaro não vai sobreviver. Não estou dizendo que ele vai cair hoje ou amanhã, mas não vai sobreviver politicamente a uma nova eleição. E acho que os setores progressistas vão retomar vários países, pois seus governos deram certo. Qual é o melhor país da América Latina hoje? A Bolívia.

“Deveríamos imitar a Argentina”

CC: O que o senhor achou da decisão da Cristina Kirchner de, diante da perseguição que vive lá, ter aceitado o posto de vice?

Lula: A Cristina avaliou várias coisas. Acho uma decisão acertada. Muito bem acertada. Espero que dê certo.

“Não fizemos política corretamente. A Dilma, o PT, eu, todos erramos e colhemos o que plantamos. A direita ensadecida agora quer destruir as conquistas sociais”

CC: O senhor se dá conta de que, se tivesse dito para a Dilma quando foi reeleita: “Eu vou ser o seu chefe da Casa Civil”, no lugar de fazer isso quando já era tarde, as coisas seriam diferentes?

Lula: No Palácio do Planalto, em nenhum palácio do mundo, cabem dois presidentes. É preciso saber as circunstâncias que, naquela época, depois da 1 hora da manhã, eu ter dito “sim”. Não achava conveniente politicamente, pois entraria como o salvador da pátria. Mas não vamos discutir isso agora, é desagradável. Se eu tivesse que citar um erro, é o de não ter assumido que eu era candidato em 2014 e não assumi porque gosto da Dilma, respeito ela e democraticamente ela tinha o direito de ser candidata. Depois, querer governar no lugar, não dá, na minha cabeça não dá. Não fizemos política corretamente. A Dilma, o PT, eu, todos erramos e colhemos o que plantamos. A direita ensandecida agora pretende destruir o pouco que tínhamos conquistado na área social.

 

*Da Carta Capital