Queiroz o personagem central de uma gigantesca trama de corrupção ligada ao clã Bolsonaro esquecido pela Globo, parece que tem mais força política do que qualquer um no governo, inclusive o presidente.
Bolsonaro move terras e mares para que ninguém chegue perto de Queiroz, porque isso significa chegar perto de seu próprio pescoço.
Como bem disse José Simão: “Bolsonaro intervém na PF para não achar Queiroz! Quem achar o Queiroz tá demitido!…interveio na Receita, na PF e na Coaf! Macaco em loja de louça!”
A indicação pra ocupar a cadeira da PGR, ficou por conta de Flávio Bolsonaro, o elo mais estreito entre o clã Bolsonaro, Queiroz e esse a milícia, os fantasmas, laranjas e sabe Deus mais o quê?
O problema é que Bolsonaro não está interessado em saber da desmoralização do seu governo está no Brasil ou exterior, sobretudo por seu descarado envolvimento com todo tipo de negociata. O que ele quer agora é livrar a cara dele e de seus filhos, que são laranjas do próprio nas parcerias sinistras com o mundo do crime.
Por isso, todos os caminhos absurdos tomados por Bolsonaro levam a Queiroz. Melhor dizendo, levam a desaparecer com o Queiroz, contando sempre com o silêncio obsequioso de Moro, seu ministro da Justiça e Segurança Pública.
Aparentemente, a maneira de parar a Lava Jato era fazê-la de otária. Nada dessa coisa da esquerda confrontá-la abertamente. Nada de tentar desmontá-la em silêncio, como tentou Temer: o negócio era se eleger como campeão da luta contra os corruptos, colocar Moro no Ministério da Justiça, prometer-lhe uma vaga no STF, convocar passeata todo domingo contra a corrupção e, enquanto isso, aparelhar os tribunais, a Polícia, a Receita, o Coaf, todos os órgãos que foram responsáveis pelas investigações de corrupção da última década.
Bolsonaro conseguiu que Toffoli neutralizasse o Coaf e não deixou que Moro nomeasse gente sua para o órgão. Fez tudo isso enquanto convocava manifestações dizendo que o Coaf era a coisa mais importante de todos os tempos, que se o Coaf ficasse com Moro, o mundo acabaria. No fim, quem tirou o poder de Moro sobre o Coaf foi o próprio Bolsonaro.
Bolsonaro já deixou claro que só nomeará para Procurador-Geral da República quem aceitar ser submisso ao presidente. A tradição de escolher o mais votado da lista tríplice, defendida pela turma da Lava Jato, acabou, não tem mais, morreu, vai ver era comunismo aquilo.
E qual vai ser a desculpa para descartar qualquer nome que não aceite acobertar esquemas? A moral, é claro.
Cada vez que um candidato der sinais de que tem alguma mínima restrição às picaretagens de Bolsonaristas, eles vão inventar algum esquerdismo para o sujeito. Lembrem-se: o perfil oficial do Presidente da República compartilhou um texto que diz que Deltan Dallagnol é tão de esquerda quanto o PSOL. Se você for honesto, não se candidate à PGR sob Bolsonaro: em 15 minutos sua tia vai receber mensagem no Whatsapp dizendo que você defende distribuir mamadeira de pinto em creche.
E deixo aqui meus parabéns para quem foi domingo protestar contra o STF: começou a dar certo, o Toffoli já parou a investigação do Flávio.
Na semana passada o desmonte se acelerou na Receita e na Polícia federal. O superintendente da Receita no Rio de Janeiro, Mário Dehon, foi atacado por autoridades investigadas e prontamente afastado por Bolsonaro, que também declarou que a Receita persegue sua família.
O superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Ricardo Saadi, foi afastado por não interferir nas investigações sobre Flávio Bolsonaro. Bolsonaro achou que houve abusos na investigação, foi lá, e afastou o cara – Tudo isso enquanto seus apoiadores estão nas redes sociais pedindo para fechar o Congresso por causa da lei de abuso de autoridade.
E o Moro? Essa é a jogada mais impressionante, pela ousadia. Vários políticos tentaram neutralizar Moro, Mas só Bolsonaro foi arrojado o suficiente para neutralizá-lo, dando um cargo.
Desde então, Moro só perdeu poder, teve que silenciar sobre o caso Queiroz e é ridicularizado pelo Presidente da República sempre que possível. Pare de prestar atenção no Lula, Moro, esqueça o Greenwald: quem está te derrubando é o Jair.
Ainda não se sabe se o aparelhamento bolsonarista será bem-sucedido. A Polícia Federal, a Receita, os procuradores vão reagir. E parece cada vez menos provável que Moro termine o ano no cardo de ministro. Mas em termos de popularidade presidencial talvez não dê em nada: talvez a indignação toda tenha sido só mesmo cinismo.
*Por Celso Rocha de Barros – Folha – Servidor Federal e Doutor em Sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra)
O Intercept tem mostrado que o figurão da Lava Jato, Sergio Moro é, como disse Glauber Braga, “um juiz corrupto e ladrão”, isso em pouco mais de dois meses de revelações. Tudo rigorosamente provado, ou seja, Moro foi apanhado com a boca na botija de forma inconteste, cometendo uma série de crimes que assombraram juristas no Brasil e os mais renomados do mundo, para condenar Lula e receber de presente a cadeira do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
O mesmo Moro, na sombra, utilizou todas as formas possíveis de ilícitos para revirar a vida de Lula e de sua família, incluindo netos, em parceria com o massacre que a Globo promovia com fuzilamentos diários contra Lula e seus familiares, de uma forma como nunca se viu a Globo fazer. Tudo alimentado pelos vazamentos criminosos promovidos por Moro que, instantaneamente viravam manchetes com matérias extensas no Jornal Nacional, com o intuito de assassinar a reputação de Lula e condená-lo sem provas na base do linchamento público, como tramaram Dallagnol e Moro.
Se Moro não está aguentando dois meses de revelações do Intercept, imagina uma devassa de apenas um mês no clã Bolsonaro. Na verdade, nem precisa imaginar, é só ver o aparelhamento desesperado que Bolsonaro está promovendo na Receita Federal, na Polícia Federal, no Coaf, na PGR, além do Ministério da Justiça do seu cão de guarda, Sergio Moro, para livrar a cara do seu clã que corre o risco de virar picadinho se toda a sujeira de seu bando vier à tona.
Por isso entregou nas mãos do filho, Flávio Bolsonaro, a indicação do PGR para blindá-lo no caso Queiroz, mesmo diante dos olhos da sociedade. Ou seja, o nível de desespero de Bolsonaro é o de sobrevivência, pois ele corre o risco não de sair do Palácio do Planalto debaixo de impeachment, mas algemado.
Dallagnol usou o prestígio obtido como coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba para tentar emplacar nos bastidores o procurador regional da República Vladimir Aras, seu aliado no MPF (Ministério Público Federal), como o novo comandante da PGR (Procuradoria-Geral da República). Para isso, fez lobby com ministros do governo Jair Bolsonaro (PSL), senadores e ao menos três ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
É o que mostram conversas privadas enviadas por fonte anônima ao site The Intercept Brasil e analisadas em parceria com o UOL. Os diálogos entre Deltan e Aras revelam que o coordenador da Lava Jato se engajou pessoalmente na campanha do aliado, articulando diariamente com ele estratégias para que fosse recebido por autoridades. Deltan mostra, em diversos momentos, receio de que sua interferência na disputa viesse a público: “bom ficamros [sic] na sombra”, disse a Aras em diálogo pelo aplicativo Telegram no dia 21 de fevereiro.
Vladimir Aras já ocupou postos-chave: foi secretário de Cooperação Jurídica Internacional da PGR na gestão do ex-PGR Rodrigo Janot e fez parte dos GTs (Grupos de Trabalho) de Crime Organizado e de Lavagem de Dinheiro e Crimes Financeiros da PGR. Atualmente, é coordenador do Grupo de Apoio ao Tribunal do Júri Federal da 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF.
Sergio Moro, que ainda era juiz federal àquela altura, já é tachado como alguém próximo do grupo de Bolsonaro. “Fala com Moro sobre minha candidatura a PGR”, escreveu Vladimir Aras às 13h22 de 11 de outubro de 2018 –quatro dias após o primeiro turno da eleição presidencial. “Com bolsonaro eleito, vou me candidatar”, completou às 13h23.
Nas conversas, Deltan diz, em mais de uma oportunidade, que havia tratado da candidatura de Vladimir Aras com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. No dia 14 de abril, às 15h33, dá um retorno:
“Peço reserva, mas Moro confirmou pra mim que Vc é o candidato que ele vai defender”.
Deltan Dallagnol em mensagem para Vladimir Aras Deltan e Aras passaram a acelerar as articulações em fevereiro. No dia 19, o candidato pediu explicitamente a ajuda do coordenador da Lava Jato para ter acesso à cúpula do Judiciário:
“Vc poderia me apresentar a Barroso e Fachin?”, questionou. “Preciso de aliados no STF”
Os ministros citados por Aras formam a linha de frente da Lava Jato no Supremo: Edson Fachin é relator dos processos ligados à operação na Corte, enquanto Luís Roberto Barroso é tido como o principal defensor das investigações. Além dos dois, Deltan faria contato em abril com Luiz Fux, outro ministro alinhado com a Lava Jato.
Deltan avaliou de que forma poderiam abordar a candidatura junto ao ministro Fachin.
Após saber que Barroso seria a estrela de um evento organizado pelo jornal O Estado de S. Paulo e pelo CDPP (Centro de Debates de Políticas Públicas) em São Paulo, no dia 1º de abril, Deltan conseguiu uma entrada para Aras, que não havia sido convidado. “Seria uma boa oportunidade para apresentar pro Barroso”, disse em 19 de março, às 11h55.
Dificuldades de agenda prejudicaram um encontro privado entre Barroso e Aras na ocasião –Deltan chegou a articular para que o aliado encontrasse o ministro do STF em um jantar na véspera do evento, no dia 31 de março, e no hotel onde Barroso estava hospedado no dia 1º. Quando Aras diz que combinou com a assessoria de Barroso de conversarem durante o evento, Deltan afirma que não considera uma boa ideia: “Vc vai disputar a atenção dele com dezenas de pessoas”.
Parceiro de Dallagnol nas conversas da Vaza Jato, Moro sugeriu a Bolsonaro a indicação do procurador para a sucessão de Raquel Dodge na Procuradoria-Geral da República, que foi prontamente negada.
Apesar de publicamente não falar sobre o procurador Deltan Dallagnol, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, sugeriu para o presidente Jair Bolsonaro a nomeação de Deltan como Procurador-Geral da República, que negou. Moro e Dallagnol aparecem como parceiros na trama de cooperação ilegal revelada pela Vaza Jato.
A informação é do jornalista Kennedy Alencar, da rádio CBN. “O ministro Sérgio Moro, da Justiça, pediu ao presidente jair Bolsonaro para indicar o procurador Deltan Dallagnol para a PGR. O presidente Jair Bolsonaro se recusou. Bolsonaro disse que não vai indicar o Dallagnol”. Alencar ainda destaca que a atual PGR, Rachel Dodge, perdeu força após cobrar explicações sobre a indicação de Eduardo Bolsonaro para a Embaixada do Brasil nos EUA.
O presidente deve definir nas próximas semanas quem vai assumir o posto no lugar de Dodge. Uma lista tríplice foi elaborada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), mas Bolsonaro não tem obrigação de segui-la. Os três procuradores indicados pela ANPR, os mais votados em eleição realizada pela associação, são Mario Bonsaglia, Luiza Frischeisen e Blal Dalloul.
No jogo de engrenagem, as almas nobres costumam se entregar, este é o caso da Exma. Raquel Dodge, Procuradora-Geral da República e seu já conhecido e vigoroso fisiologismo, sacrificando sempre a lei em benefício próprio.
Que país é esse, meu Deus!
Numa apoteose grosseira, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, segurou por mais de 120 dias investigações sobre o presidente Jair Bolsonaro (PSL) ao mesmo tempo em que articulava a recondução ao cargo de chefe do Ministério Público Federal por mais dois anos.
Somente na última terça-feira (6), Dodge desengavetou os papéis e os mandou de volta para a primeira instância. Desde o início da semana passada, seu nome perdeu força na disputa para seguir no posto.
Um dos casos em apuração é o de Wal do Açaí. Moradora de Angra dos Reis (RJ), Walderice Conceição atuou como funcionária fantasma na época em que o hoje presidente era deputado federal, conforme revelou a Folha.
O outro caso envolve Nathalia Queiroz, que estava ligada ao gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara ao mesmo tempo em que atuava como personal trainer, situação também revelada pela Folha. Ela é filha de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) que se tornou estopim de investigações contra o filho do presidente.
Este é o arrivismo hipócrita que diz que está purificando o país numa pujante odisseia de combate à corrupção.
São essas engrenagens cruéis que viraram práticas dos apolos purificadores que estão entre a tragicomédia e o insulto à inteligência do povo.
Bastou Dallagnol falar que queria um laranja pra Bolsonaro dizer que não quer PGR só “contra corrupção” e pede pra ele procurá-lo.
No final de semana, Bolsonaro compartilhou no Facebook mensagem em que chama Deltan de “esquerdista”.
A mensagem foi resposta a uma usuária que sugeria o chefe da Lava Jato para substituir Raquel Dodge, a atual Procuradora-Geral.
Subitamente, depois do Intercept revelar que Dallagnol propôs a procuradora da Lava Jato Thaméa Danelon para ser sua laranja, Bolsonaro respondeu sobre a possibilidade Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, ocupar a PGR. “Manda ele me procurar, por que não me procurou até hoje? É muito simples. A caneta BIC é minha”, disse.
Bolsonaro disse que quer um PGR que não apenas “combata a corrupção”, mas que não seja xiita ambientalista e não fique com ojeriza ambiental e arremata dizendo: “PGR é uma pessoa importantíssima. É o chefe lá do MP, [Ministério Público] fiscal da lei”. E que não pode ter um chefe do MP que não esteja alinhado com o pensamento dele.
É isso. Esse é o Brasil atual, que não tem nada a ver com luta de classes ou de partidos, é picaretagem em estado puro.
Bolsonaro parece querer fazer do seu governo uma sucursal do PCC. Bastou Dallagnol falar que trabalha nas sombras como um miliciano e convoca laranjas, que provocou lágrimas de entusiasmo nele.
É essa gente que veio com slogan da nova política apoiada pela Globo e congêneres, grandes empresários, banqueiros, judiciário, Forças Armadas, Ministério Público e Polícia Federal que está assombrando o mundo e isolando o Brasil da comunidade internacional.
Depois de ser perdoado por Moro, quando confessou ter recebido propina, agora, Onix é festejado por Dallagnol, mesmo sabendo que ele é corrupto.
Novos trechos de mensagens da Vaza Jato, divulgados pelo The Intercept no começo da tarde desta segunda-feira, revelam que o procurador chefe da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, já sabia que o então deputado Onyx Lorenzoni, atual chefe da Casa Civil de Bolsonaro, estava envolvido em esquemas de corrupção, mas fechou os olhos para levar a cabo a sua cruzada no suposto “combate à corrupção”.
Em conversa num grupo de procuradores, Deltan é indagado por Fábio Oliveira: “Vc viu que saiu o nome do Onyx na lista do Fachin hj?”. Ele se refere à decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, que em 4 de dezembro, atendeu pedido feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e determinou a abertura de uma petição autônoma específica para analisar as acusações de caixa dois feitas por delatores da JBS ao na época futuro ministro da Casa Civil.
“Vi… (já sabia, mas tinha que fingir que não sabia, o que foi, na verdade, bom…rsrsrs)”, respondeu Dallagnol. “Não que não quisesse falar, mas se falasse seira até crime rs”, completou.
O procurador admite que seguia trabalhando com Onyx, que era o lobista das 10 Medidas Contra a Corrupção, projeto que criado pela Lava Jatos, mesmo após descobrir denúncias de corrupção.
Onyx é foi “perdoado” por Sergio Moro apenas porque admitiu que errou e pediu desculpas, segundo o próprio ex-juiz e hoje ministro da Justiça.
“Eu já me manifestei anteriormente. É uma questão de Onyx. O que vejo é um grande esforço [do ministro Onyx] para a aprovação das 10 medidas do Ministério Público, razão pela qual foi abandonado por grande parte de seus pares. Ele tem minha confiança pessoal”, disse Moro em dezembro de 2018.
1 – #VazaJato: @deltanmd confessou que já sabia que @onyxlorenzoni, atual chefe da Casa Civil de Bolsonaro, estava envolvido em corrupção. Mesmo assim, o procurador seguia trabalhando com ele – Onyx era o lobista das 10 Medidas Contra a Corrupção, ideia da Lava Jato. 👇🏾 pic.twitter.com/IYhP5tbRe5
O procurador Deltan Dallagnol, chefe da Operação Lava Jato em Curitiba, usou a Rede Sustentabilidade como uma espécie de laranja para extrapolar suas atribuições e propor uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) contra o ministro Gilmar Mendes, segundo revelam mensagens privadas de integrantes da força-tarefa enviadas por fonte anônima ao site The Intercept Brasil e analisadas em parceria com o UOL.
A articulação, que envolveu o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), resultou na apresentação de uma ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) no Supremo para impedir que Gilmar soltasse presos em processos que ele não fosse o juiz da causa.
A negociação foi relatada por Dallagnol a outros integrantes da força-tarefa a partir de 9 de outubro de 2018 –dois dias depois, a Rede de fato protocolou a ADPF.
A manobra tinha como objetivo driblar as limitações de seu cargo: Deltan e seus colegas de Lava Jato são procuradores da República, primeiro estágio da carreira do MPF (Ministério Público Federal) e só podem atuar em causas na primeira instância da Justiça Federal. Por isso, têm atribuição de atuar em processos da 13ª Vara Criminal Federal, comandada até novembro pelo ex-juiz Sergio Moro.
No âmbito do MPF, a atribuição para atuar junto ao STF é exclusivamente da PGR (Procuradoria-Geral da República), comandada por Raquel Dodge. Dessa forma, ao usar um partido para dar sequência à causa, conforme revelam as mensagens, a Lava Jato usurpou a competência da chefe do MPF.
Além de Dodge, um seleto grupo de autoridades e instituições pode propor ADPFs no Supremo: o presidente da República; as mesas diretoras da Câmara e do Senado; as assembleias legislativas, os governadores e a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Também têm essa prerrogativa confederações sindicais e de classe, além de partidos políticos com representação no Congresso – caso da Rede Sustentabilidade.
“Randolfe: super topou”, disse Dallagnol em chat
Desde setembro, os procuradores se queixavam de uma decisão tomada por Gilmar Mendes sem relação direta com as investigações da Lava Jato, segundo revelam as mensagens.
No dia 14, o ministro decidiu de ofício –isto é, sem provocação ao Judiciário– soltar Beto Richa (PSDB-PR), então governador do Paraná, e outros 13 investigados pelo MP-PR (Ministério Público do Paraná) na Operação Rádio Patrulha, deflagrada três dias antes.
O assunto voltou a ser abordado por Dallagnol em 9 de outubro.
A reportagem manteve as grafias das mensagens tal qual constam nos arquivos obtidos pelo Intercept, mesmo que contenham erros ortográficos, gramaticais ou de informação.
“Resumo reunião de hoje: Gilmar provavelmente vai expandir decisões da Integração pra Piloto. Melhor solução alcançada: ADPF da Rede para preservar juiz natural”, escreveu no grupo Filhos do Januário 3 no aplicativo Telegram, composto por membros da força-tarefa, às 14h13.
Duas horas depois, Dallagnol volta à carga, dessa vez já dando um retorno de Randolfe Rodrigues sobre a ideia. Ele indica que o político concordou em patrocinar a ação pretendida pela Lava Jato.
“Randolfe: super topou. Ia passar pra Daniel, assessor jurídico, já ir minutando. Falará hoje com 2 porta-vozes da Rede para encaminhamento, que não depende só dele”, escreveu no mesmo grupo dos procuradores no Telegram às 16h47.
O UOL não identificou quem é o assessor jurídico relatado pelo chefe da Lava Jato em Curitiba, tratado na mensagem apenas pelo primeiro nome.
No dia seguinte, 10 de outubro, o procurador Diogo Castor, então membro da força-tarefa, dá a entender que enviou para um integrante da equipe de Randolfe uma “sugestão” sobre como deveria ser a minuta da ação, mais um indício de que a ADPF, na prática, foi feita pelos procuradores.
“mandei a sugestão da adpf pro assessor do randolfe”, escreveu Castor às 17h42.
Logo depois, às 17h49, completou, errando o nome do senador: “bastidores: assessor do randolfe alves informou que a boca grande de bsb [Brasília] diz que gilmar vai soltar marconi perilo [Marconi Perillo (PSDB-GO), ex-governador de Goiás] pelo mesmo caminho”.
Perillo, que havia renunciado ao governo de Goiás em março de 2018 para se candidatar ao Senado, foi preso em 28 de setembro, quando deflagrada a Operação Cash Delivery pelo MPF e PF.
Em 11 de outubro, Deltan antecipou aos procuradores às 13h58, horas antes que o assunto fosse noticiado pela imprensa ou divulgado pelo senador, que a ADPF havia sido protocolada pela Rede.
“Hoje protocolada ADPF da rede contra GM [Gilmar Mendes]”, relatou em um dos tópicos sobre uma reunião que havia realizado.
Dois subordinados de Randolfe se envolveram diretamente na ADPF. Os advogados Danilo Morais dos Santos e Cristiane Nunes da Silva, que assinam a ADPF da Rede, trabalham no Senado.
Danilo é lotado como analista legislativo na liderança da Minoria da Casa –o posto de líder é ocupado pelo senador da Rede. Já Cristiane é ajudante parlamentar júnior no gabinete de Randolfe. Antes, ela já havia atuado no escritório de apoio do senador no Amapá.
Na ação, a Rede usa como argumento central para tentar cassar a decisão de Gilmar o princípio do juiz natural, o mesmo que já havia sido citado por Dallagnol nos diálogos com os colegas.
O partido argumenta que a ação é necessária “para impedir que o referido Ministro Gilmar Mendes continue a conceder liminares para beneficiar presos de modo absolutamente revel à liturgia do processo penal, convertendo-se numa espécie de ‘Supervisor-Geral’ das prisões cautelares levadas a termo em operações de combate à corrupção no Brasil”.
A ADPF também pedia a revogação da soltura de Beto Richa e dos outros 13 detidos.
Assim que a notícia de que a ADPF tinha sido protocolada chegou, os procuradores começaram a especular sobre quem seria o ministro relator. Às 18h55, Diogo Castor anuncia: “Carmen Lúcia relatora”.
O procurador Athayde Ribeiro Costa, outro integrante da força-tarefa, então dispara: “Frouxa”. Castor então rebate: “Sei não hein”. Ele emenda: “Contra gm [Gilmar Mendes]”, ponderou, “Ela vai crescer”.
Athayde novamente discorda: “Amiguinha”. Dallagnol encerra a discussão, também manifestando uma opinião crítica sobre a ministra: “Ela é amiga da esposa do GM”, escreveu às 19h17.
Em novembro, Cármen Lúcia negou seguimento à ADPF da Rede, arquivando a ação.
Procuradores discutiram usar caso de Paulo Preto, operador do PSDB, para reunir munição contra ministro, mostram mensagens enviadas ao ‘The Intercept’. Diálogos no Telegram mostram o empenho da força-tarefa pelo impeachment do magistrado.
Procuradores da Operação Lava Jato em Curitiba fizeram um esforço de coleta de dados e informações sobre o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, com o objetivo de pedir sua suspeição e até seu impeachment. Liderados por Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa, procuradores e assistentes se mobilizaram para apurar decisões e acórdãos do magistrado para embasar sua ofensiva, mas foram ainda além. Planejaram acionar investigadores na Suíça para tentar reunir munição contra o ministro, ainda que buscar apurar fatos ligados a um integrante da Corte superior extrapolasse suas competências constitucionais, de acordo com especialistas ouvidos pela reportagem. A estratégia contra Gilmar Mendes foi discutida ao longo de meses em conversas de membros da força-tarefa pelo aplicativo Telegram enviadas ao The Intercept por uma fonte anônima e analisadas em conjunto com o EL PAÍS.
Na guerra contra o ministro do Supremo, os procuradores se mostraram particularmente animados em 19 de fevereiro deste ano. “Gente essa história do Gilmar hoje!! (…) “Justo hoje!!! (…) “Que Paulo Preto foi preso”, começa Dallagnol no chat grupo Filhos do Januário 4, que reúne procuradores da força-tarefa. A conversa se desenrola e se revela a ideia de rastrear um possível elo entre o magistrado e Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, preso em Curitiba num desdobramento da Lava Jato e apontado como operador financeiro do PSDB. Uma aposta era que Gilmar Mendes, que já havia concedido dois habeas corpus em favor de Preto, aparecesse como beneficiário de contas e cartões que o operador mantinha na Suíça, um material que já estava sob escrutínio dos investigadores do país europeu.
“Vai que tem um para o Gilmar…hehehe”, diz o procurador Roberson Pozzobon no grupo, em referência aos cartões do investigado ligado aos tucanos. A possibilidade de apurar dados a respeito de um ministro do Supremo sem querer é tratada com ironia. “vc estara investigando ministro do supremo, robinho.. nao pode”, responde o procurador Athayde Ribeiro da Costa. “Ahhhaha”, escreve Pozzobon. “Não que estejamos procurando”, ironiza ele. “Mas vaaaai que”. Dallagnol então reforça, na sequência, que o pedido à Suíça deveria ter um enfoque mais específico: “hummm acho que vale falar com os suíços sobre estratégia e eventualmente aditar pra pedir esse cartão em específico e outros vinculados à mesma conta”, escreve. “Talvez vejam lá como algo separado da conta e por isso não veio” (…) “Afinal diz respeito a OUTRA pessoa”. A força-tarefa de Curitiba tem dito que não reconhece as mensagens que têm sido atribuídas a seus integrantes e repetiu à reportagem que o “material é oriundo de crime cibernético e tem sido usado editado ou fora de contexto, para embasar acusações e distorções que não correspondem à realidade”.
Nas mensagens, tudo começa porque Dallagnol comenta saber de “um boato” vindo da força-tarefa de São Paulo (FT-SP) de que parte do dinheiro mantido por Paulo Preto em contas no exterior pertenceria a Mendes. “Mas esse boato existe mesmo?”, pergunta o procurador Costa. “Pessoal da FT-SP disse que essa info chegou a eles”, responde Julio Noronha, em referência aos colegas paulistas.Procurada, a assessoria de imprensa do FT-SP afirmou que “jamais recebeu qualquer informação sobre suposto envolvimento de Gilmar Mendes com as contas no exterior de Paulo Vieira de Souza”. E também que “se recebesse uma informação a respeito de ministro do STF, essa informação seria encaminhada à PGR [Procuradoria Geral da República]”. E que “jamais passaria pela primeira instância para depois ir para a PGR”.
O artigo 102 da Constituição determina que os ministros do Supremo só podem ser investigados com autorização de seus pares, a não ser que apareçam em uma investigação já em curso, a chamada investigação cruzada. Caso seja este o caso, a competência é necessariamente da PGR. Para o procurador da República Celso Três, que atuou no início do caso Banestado, um marco contra a lavagem de dinheiro, e trabalhou diretamente com o ex-juiz Sergio Moro, os procuradores não cogitam nos diálogos apenas um atalho para chegar a Mendes. “É uma violação grave do devido processo legal”, afirma em entrevista ao EL PAÍS. Ele avalia que, nas conversas, os procuradores de Curitiba demonstraram intenção de desviar a finalidade da investigação, porque tinham autoridade para escrutinar o operador do PSDB, mas planejaram aprofundar essa colaboração com o intuito de atingir o ministro do Supremo. “Não estou defendendo Gilmar, mas está muito claro que estavam em seu encalço”.